Buscar

Processo Coletivo - Caderno Digitado (2)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Universidade Federal da Bahia 
Docente: Fredie Didier 
Discente: Geórgia Silvina Santana Oliveira 
Componente Curricular: D. P. COLETIVO E P. ESP. CÍVEIS 
Avaliação: 2 provas de 4/5 questões cada. Podemos usar código confrontado com o de 73. E as perguntas podem ser respondidas fora da ordem. 
Bibliografia: 
a) Volume 4 do Curso de Fredie 
b) Daniel Assumpção – Manual de Processo Coletivo 
c) Texto complementares 
Dia 17/04 – reunião do grupo de pesquisa de Processo Coletivo. O tema será tutela coletiva. 
INTRODUÇÃO AO PROCESSO COLETIVO
1) Conceito
Sujeito de direito --> A TGDC vê o sujeito de direito como aquele que titulariza uma situação jurídica, sendo que situação jurídica é tudo que acontece no mundo jurídico, como direitos, deveres, ônus, competências e capacidades, são situações imaginárias. O rol dos sujeitos de direito é quase que um rol infinito, porque todo ser humano tem aptidão para ser sujeito de direito, e além deles temos as pessoas jurídicas e os entes despersonalizados e ainda existem aqueles que acreditam que os animais podem ser sujeitos de direito. 
Essa teoria sobre os sujeitos de direito foi pensada para os sujeitos de direito individual, ou seja, um sujeito de direito que possa ser identificado, essa teoria se desenvolveu para explicar direitos deveres e capacidades levando em consideração um indivíduo. E essa teoria não foi apta a explicar o fenômeno em que o titular do direito não é o indivíduo, se começou a perceber que há direitos que pertencem a grupos e não a um indivíduo específico. O titular do direito é o grupo e não o membro do grupo. A palavra grupo é preferida por Fredie, mas tem autor que prefere classe, categoria, coletividade, mas são palavras variáveis de um mesmo tema. Categoria – perspectiva econômica; Classe – perspectiva sociológica. A nossa educação jurídica sempre nos direciona a entender o titular do direito como o indivíduo.
Exemplo: A lei 12.529 – Lei do CADE - § único do art. 1º dessa Lei diz que “a coletividade é a titular dos bens jurídicos protegidos por essa lei”. Essa lei regula a concorrência, e a proteção da concorrência é um direito da coletividade, o sujeito de direito aqui é coletividade. Não é uma pessoa jurídica, não é um ente despersonalizado (condomínio, massa falida), nem um nascituro, mas sim a coletividade. 
Como alunos da UFBA --> quem tem o direito de exigir dos professores o cumprimento de seus deveres funcionais? Esse direito é dos alunos, do grupo de alunos, independentemente de quem compõe esse grupo, ainda que eu saia da faculdade, esse direito continuará existindo para aquele grupo. Os grupos titularizam direitos, eles são sujeitos de situações jurídicas. 
1ª PREMISSA DO CURSO: GRUPOS SÃO SUJEITOS DE DIREITO. Existem direitos de grupo e deveres do grupo. 
Mas os grupos variam de tamanho, e nada impede que um mesmo grupo contenha outros grupos. Ex: grupo de alunos da FDUFBA que se divide em alunos do noturno e do diurno que em algum momento podem ter direitos diferentes, mesmo estando dentro do mesmo grupo. Grupos não são sempre homogêneos, há grupos compostos por outros grupos. Assim como há grupos compostos por indivíduos, há grupos compostos por grupos. Ex: confederação sindical é um grupão, composta de pelos menos 3 federações. 
Membro do grupo e grupo: Portanto, é preciso saber a diferença entre grupo e membro do grupo. O grupo é o titular da situação jurídica coletiva, ou seja, quem titulariza direitos e deveres coletivos. Membro do grupo não é o titular da situação jurídica coletiva, mas aquele que pode se beneficiar com uma decisão em favor do grupo. O membro do grupo pode ser um grupo, mas no fim das contas o menor grupo será um grupo de indivíduos. 
É importante saber a diferença entre grupo e membro do grupo, porque um processo para ser coletivo deve tutelar direitos do grupo, não pode tutelar direitos dos membros do grupo. 
Condutor do processo coletivo: em regra, aqui no Brasil, o condutor não é o grupo, nem o membro do grupo, mas sim um terceiro autorizado pela lei a discutir em juízo situações do grupo, por isso surge essa figura. Agora, como regra, porque existe um caso em que o próprio grupo pode ir a juízo, que é o caso das comunidades indígenas, que é um grupo que por força da CF/88 pode ir a juízo. É interessante porque a comunidade indígena não tem estatuto social, então quando essa comunidade vai a juízo quem assina o contrato de prestação de serviços advocatícios e quem outorga poderes ao advogado? Um cacique, com base nos costumes e tradições. É dessa forma que ocorre. Esse é um caso raro em que o grupo é o próprio condutor do processo coletivo, porque na maioria das vezes quem vai a juízo é o sindicato que não é o grupo e nem um membro do grupo. 
Agora, é possível conferir interpretação extensiva a essa legitimidade da comunidade indígena? Fredie entende que sim, por exemplo no caso das comunidades quilombolas e qualquer outra comunidade organizada em moldes semelhantes. 
Atenção --> É preciso haver a relação do condutor do processo coletivo com o grupo e os membros do grupo, porque ele serve ao grupo e aos membros do grupo. Quando o grupo puder propor ação quem tem que propor é ele porque esse é o ideal. Agora, porque o membro do grupo não pode propor a ação? NO EUA ele pode, todavia ele será investigado pelo juízo, o qual averiguará se este tem legitimidade e voz suficiente para ser condutor do processo coletivo, caso contrário o processo será entendido como individual. Mas, aqui no Brasil, um membro do grupo não pode conduzir um processo coletivo, em regra, exceto no caso da ação popular que é um processo coletivo instaurado por um membro do grupo. 
Para o processo ser coletivo é preciso que o direito seja do grupo, esse direito costuma ser levado a discussão por um terceiro, mas as vezes é o próprio grupo que leva ou um membro do grupo, mas quando ele leva, ele está defendendo um direito do grupo, ele vai falar pelo grupo, nesse caso estamos diante de um processo coletivo conduzido por um membro do grupo.
Portanto, é muito importante discernir entre MEMBRO DO GRUPO, GRUPO e CONDUTOR DO PROCESSO COLETIVO. 
Agora, vamos definir o que é processo coletivo.
Conceito de Fredie Didier: processo coletivo é aquele em que se postula um direito coletivo ou em que se afirme a existência de uma situação jurídica coletiva passiva. A situação jurídica coletiva é uma situação titularizada por um grupo, ela pode ser ativa (quando for um poder que alguém tem em relação a outrem) ou passiva (alguém numa condição de desvantagem). Sempre que um processo tem por objeto uma afirmação de um direito de um grupo ou a imputação a grupo de uma situação passiva, temos um processo coletivo.
Existem três tipos de processo coletivo: 
1) Grupo X indivíduo --> Processo coletivo ativo: Afirma-se direito de um grupo frente a um indivíduo que lesa o grupo --> esse é o caso mais comum. Ex. MP entra com uma ação para que uma indústria pare de poluir. Trata-se aqui de um processo coletivo ativo. Aqui quando se fala em grupo, estamos nos referindo aos sujeitos da relação discutida e não o condutor do processo, porque o grupo na maioria das vezes é distinto do condutor do processo.
2) Grupo X Grupo --> Processo duplamente coletivo: Afirma-se direito de um grupo contra outro grupo --> o melhor exemplo está no campo trabalhista, como é o caso de um dissídio coletivo trabalhista, um sindicato contra o outro. Todo dissídio coletivo é um processo coletivo nas duas pontas. Trata-se de um processo duplamente coletivo. 
3) Indivíduo X Grupo --> Processo Coletivo passivo: Afirma-se de um direito de um indivíduo em relação a um grupo --> essa é a espécie mais polemica, porque esse tipo de processo coletivo existe na vida real, mas as leis brasileiras não regulam. Esse é o fenômeno do processo coletivo passivo. Nesse caso, o melhor exemplo é o dos litígios possessórios. Ex. alguns anos atrás a reitoria foi ocupada por estudante e a UFBA entrou com uma ação possessória que foi contra o grupo de estudantes, porque não sesabia quem estava lá. Essa é uma ação coletiva passiva. Outro exemplo: imagine que os bancos tenham uma mesma pratica lesiva aos consumidores. O MP não teria que entrar com 30 ação civis públicas, pois ele poderia entra com uma ação coletiva só, da qual se extrairá uma única ordem coletiva. O grande problema nesse caso é saber quem vai falar pelo grupo, porque a lei não regula. O MST até hoje não se formalizou justamente porque isso dificulta que alguém fale em algum tipo de ocupação. O NCPC tem algumas tentativas de resolver isso, por exemplo o art. 75 fala da capacidade processual e em seu inciso IX cuida das sociedades de fato ao lado de quem coloca as associações de fato, e um exemplo clássico de associação de fato é o MST, o qual não pode ser sociedade de fato por não ter objetivos empresariais. Veja abaixo a redação do artigo supramencionado: 
Art. 75.  Serão representados em juízo, ativa e passivamente:
(...)
IX - a sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração de seus bens;
Outro exemplo do CPC art. 565, esse artigo cuida expressamente da ação possessória coletiva passiva. Outro exemplo é o art. 554, §1º, que fala da citação de todos pertencentes ao grupo. 
As ações coletivas passivas ocorrem demais na prática, por exemplo, greve no serviço público, esse tipo de ação é coletiva, mas não está regulada no código.
Existe também a ação coletiva passiva derivada --> por exemplo, o MP propõe ação contra um indivíduo da qual deriva uma sentença. O indivíduo quer rescindir a sentença, essa ação rescisória será proposta contra o MP, essa rescisória é uma ação coletiva passiva derivada. Isso até se admite, o que não se tem admitido é uma ação coletiva passiva originária (indivíduo X grupo). 
Fredie antes entendia que o processo coletivo também teria que ter um regime especial de coisa julgada e sempre se caracterizar por uma legitimação extraordinária, alguém estaria em juízo discutindo direito que não é dele. Ou seja, antes ele entendia que o processo coletivo tinha sempre: 1) discussão de direito coletivo; 2) regime distinto de coisa julgada; 3) legitimação extraordinária. Esse expurgou do conceito esses dois últimos elementos por serem variáveis de acordo com o ordenamento jurídico. Ex. a tutela coletiva pode trabalhar com variadas espécies de coisa julgada e não somente com uma, por exemplo, a coisa julgada resultante de uma ADI é diferente da coisa julgada resultante da ação civil pública. 
2º PREMISSA DO CURSO: Processo coletivo é gênero que envolve duas espécies: 1) ações coletivas; 2) julgamento de casos repetitivos. 
O processo coletivo é um gênero que se subdivide em duas espécies: ações coletivas e julgamento de casos repetitivos. O julgamento de casos repetitivos também é um gênero. Temos 3 espécies de julgamento de casos repetitivos: IRDR, Recursos especiais e extraordinários repetitivos, e Recurso de Revista repetitivo. Podemos ver isso no art. 928 do CPC. Não há consolidação da ideia de que esses incidentes são espécies de processo coletivo, isso porque eles são novos e recentes do ponto de vista histórico. Antes processo coletivo se resumia a ações coletivas. Com o aperfeiçoamento do julgamento de casos repetitivos, e a própria pratica forense desse instituto começou a ter uma relação com as ações coletivas, os doutrinadores eram provocados a testar as premissas e eles começaram a perceber que a noção que se tinha de processo coletivo não funcionava mais, porque se percebia que grupos tinham interesses sendo tutelados não necessariamente por uma ação coletiva. Fredie, por isso, resolveu mudar seu conceito de processo coletivo para nos permitir ver o que acontecia de outra maneira, o universo se amplia. Quando veio o CPC/15 estabelecendo esse gênero, Fredie resolveu estabelecer essa premissa: processo coletivo é um gênero que se subdivide em duas espécies, ações coletivas e julgamento de casos repetitivos. 
Por que julgamento de casos repetitivos é um processo coletivo? O tribunal constata a existência de uma pluralidade de processos em que uma mesma questão de direito aparece para ser resolvida, isso significa que há uma pluralidade de pessoas que estão discutindo uma mesma questão de direito. Essa pluralidade é um grupo formado a partir da constatação de que vários membros foram a juízo para discutir uma mesma questão de direito. Esse é o grupo a ser tutelado. 
Todo julgamento de casos repetitivos tem como alvo dois grupos: o grupo daqueles que estão em juízo discutindo e grupo daqueles que tem aptidão para discutir mas não estão discutindo. Por isso o JCR serve para resolver os casos pendentes e além disso fixa uma tese para os processos futuros. Ou seja, o JCR tutela o grupo dos que estão discutindo em juízo e tutela o grupo dos que podem estar em juízo no futuro fixando uma tese. Há tutela de grupo dessas duas formas. É inegável que estamos diante de grupos que estão tutelados pelo JCR. 
Existem dois grupos que são tutelados pelo JCR:
1) Os que já estão em juízo
2) Os que entrarão com um processo no futuro
Agora, o condutor do JCR o CPC não deixa tão claro. 
Instaurado o JCR, suspende-se os processos e escolhe-se um CASO PILOTO, que é julgado e uma tese é fixada e essa tese é aplicada a todos os processos que estão suspensos e será aplicado em futuros processos. 
Crítica ao nomen iuris JCR: O julgamento de casos repetitivos é o nomem iuris dado pelo CPC, mas esse nome é equivocado porque temos a tendência de achar que os processos devem ser sempre semelhantes. Ex. sempre pensamos “várias vítimas de um mesmo incidente”. Não há dúvida que o JCR é instaurado quando há processos semelhantes, mas há casos em que os processos são heterogêneos e ainda assim podemos instaurar o JCR. Porque o que se exige é que uma questão de direito se repita, não a semelhança de processos. Ex. questões de direito de processual que podem se repetir em diversos processos que são diferentes, por exemplo, greve da polícia é caso de devolução do prazo processual? 
O grupo do JCR não é necessariamente um grupo de quem quer a mesma coisa (Ex. grupo de consumidores ou de segurados da previdência), mas sim o grupo daqueles que discutem a mesma questão de direito, independentemente de seus processos serem homogêneos ou heterogêneos. Por isso seria melhor que nomeássemos de Julgamento de Questões Repetitivas, mas isso ninguém percebeu ao longo da tramitação do CPC. Esse grupo tutelado no JCR é curioso, pois pode ser formado por pessoas que não tem nenhum interesse em comum além de discutir aquela questão de direito. 
Quando falamos que duas espécies pertencem a um mesmo gênero é preciso identificar porque são espécies de um mesmo gênero e como se prova que são espécies de um mesmo gênero. Ou seja, é preciso identificar o que há de comum e o que as especializa. O que é comum permite que estejam num mesmo gênero. E o que as especializa diz porque não podem estar em uma mesma espécie.
Diferenças entre ações coletivas e JCR: 
1) Quanto a legitimidade para provocar a instauração: 
--> Ação coletiva: As ações coletivas podem ser promovidas por aqueles que estão previstos em lei com essa autorização (MP, Defensoria Pública, associações civis). É raríssima a hipótese em que um membro do grupo pode propor uma ação coletiva. 
--> JCR: o JCR pode ser instaurado por provocação do próprio julgador (relator, membro do tribunal, juiz de primeira instância, MP, Defensoria Pública). Pode provocar qualquer parte, de qualquer processo em que se discuta a questão, ou seja, um membro do grupo pode provocar SEMPRE, essa é a grande diferença das ações coletivas. A legitimidade aqui é quase todo universal, porque os próprios membros do grupo podem provocar, além do órgão julgador e também terceiros. 
2) Quanto ao objeto
---> Ação coletiva: O objeto de um ação coletiva é um direito/dever coletivo, ou seja, uma situação jurídica coletiva. É uma situação jurídica coletiva, sendo que a lei em alguns casos proíbe certas ações coletivas.Ex. § único do art. 1º da LACP, proíbe ACP em matéria tributária e FGTS. Ex. não há como propormos uma ACP para problemas processuais, isso só pode ser resolvido por meio do JCR. 
---> JCR: O objeto de JCR é uma questão de direito repetitiva e aí qualquer questão de direito repetitiva, sem restrição. A única condição é ser uma questão repetitiva, não há restrições. Ex. uma indústria está poluindo, mas ninguém instaura um JCR para resolver isso. 
Com essas duas opções o sistema brasileiro é muito completo. É muito pouco provável que haja um problema coletivo que não tenha um instrumento de tutela coletiva para resolver. Mas são instrumento distintos que possuem uma zona de interseção em sua área de atuação, mas que tem área de atuação exclusiva, porque existem casos que só podem ser resolvidos por JCR e outros por meio de ação coletiva. Quando você percebe que o JCR pode envolver processos heterogêneos você encontra a zona de exclusividade de JCR, que se trata das questões processuais. Agora, também temos a possibilidade de se tutelar coletivamente em matéria tributária através do JCR (IRDR). 
OBS: um dos primeiros IRDR que foram julgados, foi aquele diz respeito ao acidente que ocorreu em Mariana. Esse IRDR existiu para resolver uns 50 mil processos. Discutia-se a indenização de pessoas que não tiveram acesso a agua potável durante um período posterior ao acidente. A questão era: a mineradora tinha que indenizar pessoas pela falta de agua? Mas não se decidiu isso apenas, como também se fixou o quantum indenizatório. Esse IRDR não fixou tese jurídica repetitiva, mas sim a indenização que trata de questão de fato. 
Questões de fato repetitivas --> Daí surge uma questão: não devemos nos assustar se o JCR, ao menos aqueles que são instaurados em tribunais de apelação (TJ e TRF), evoluam, na prática, para admitir instauração de questão de fato repetitiva e não questão de direito repetitiva. 
Havia um § no art. 976 do CPC que dizia que cabia IRDR para resolver questão de fato, mas na tramitação foi retirado, mas o mesmo CPC no art. 69, §2º traz um enigmático dispositivo que cuida da cooperação judiciária nacional (atos de cooperação entre os julgadores, para além da carta precatória), que lista possíveis atos de cooperação e um deles é a centralização de processos repetitivos, e alguns doutrinadores entendem que esse dispositivo é a chave para centralizar as questões de fato repetitivas. Por isso, com esse dispositivo, podemos ter JCR em questões de fato. 
3) Quanto ao resultado
---> Ação coletiva: A AC visa a coisa julgada do problema que foi levado para o juiz examinar e como toda CJ pode ser alvo de ação rescisória. 
---> JCR: O resultado que se espera do JCR é a fixação de uma tese que se constituirá num precedente, que não se confunde com CJ. O precedente pode ser revisto a qualquer tempo, diferentemente da CJ. A estabilidade de um precedente é diferente da estabilidade de uma coisa julgada. Exatamente porque o precedente é uma norma geral e a CJ é uma norma individual, no seguinte sentido, é uma norma que serve para uma situação só. Ex. AC proposta por alunas da UFBA, forma coisa julgada contra a UFBA, as alunas da UNEB não podem se valer dessa decisão como coisa julgada somente como precedente. 
4) Quanto aos efeitos
No Brasil, em regra, a ação coletiva somente pode beneficiar membro do grupo, não pode prejudicar. O que faz sentido quando se pensa que um membro do grupo não pode propor ação coletiva. Já no JCR acontece de forma completamente diferente, porque o resultado do JCR afeta a todos pouco importa qual seja, favorável ou desfavorável, o julgamento de casos repetitivos submete os membros ele, e isso é o que gera críticas para quem entende que JCR não é processo coletivo. Mas é preciso entender que é assim porque não é coisa julgada e sim precedente, se resultasse em coisa julgada a legitimidade teria que ser restrita. Por isso, hoje, é interessante para o membro do MP, para o advogado pensar estrategicamente acerca daquilo que vai fazer. Agora, a estratégia é fundamental, porque temos esses dois elementos que podem conviver. Lembrando que o IRDR é algo muito arriscado. 
Semelhanças entre ações coletivas e JCR
Processo é muito parecido --> O processo deles é muito parecido, existem muitos pontos em comum, por exemplo, em ambos 
1) Intervenção do MP: O MP é obrigado a intervir, 
2) Amicus Curiae: em ambos se aceita e se estimula a participação de amicus curiae, 
3) Audiências Públicas: em ambos se aceita e se estimula a realização de audiências públicas, 
4) Suspensão dos processos individuais: ambos tem como consequência a suspensão dos processos individuais à espera da decisão da ACP quanto a decisão do JCR. Mas existe um ponto extremamente importante que é o fato de que no caso de JCR essas suspensão dos processos individuais é uma previsão que decorre da lei, no caso das ações coletivas há um certo ruído porque essa previsão não está na lei, ela resultou de uma construção feita pelo STJ, por meio de um julgado. Em 2009, o STJ diz que se a AC for favorável não há razão para processar as AC e as ações individuais ao mesmo tempo, por isso deve haver a suspensão das ações individuais. 
5) Desistência e abandono: Outro ponto de muita semelhança diz respeito ao regramento da desistência e do abandono: 
---> Ação coletiva. Sucessão processual.na ACP desistência e abandono não levam à extinção do processo, mas sim à sucessão processual, isto é, a troca da parte, e, em alguns casos, a desistência é proibida. 
---> JCR. Desistência do caso piloto não impede o prosseguimento do incidente. No JCR uma vez selecionado o caso que vai servir como PILOTO da discussão sobre a questão a ser resolvida, o CPC diz que a desistência do caso piloto não impede o prosseguimento do incidente. 
A ideia é que instaurado o procedimento da tutela coletiva, seja ACP, seja JCR, ele continue, mesmo se houver desistência. 
STJ pregava a impossibilidade de desistência --> Em 2007, quando começou-se a ser julgados recursos repetitivos, o primeiro foi de um banco, que se assustou com o fato de que a tese pudesse ser aplicada a 5 mil processos e quiseram desistir do recurso, então o STJ disse que essa desistência não seria possível porque a decisão passa a ser coletiva. Fredie defende que é preciso compreender que a desistência do caso piloto só pode existir para o caso e não para a fixação da tese, ele propôs o desmembramento da tese do STJ. Não poderia proibir a desistência, mas ela não impediria a fixação da tese. Isto é essa desistência não seria proibida para o caso piloto, mas ela não impediria a fixação da tese. 
Aspectos relacionais entre ações coletivas e JCR
O CPC silencia acerca das interações entre essas duas formas de processos coletivo, ou seja, como elas se relacionam. É preciso partir da seguinte premissa: essas técnicas convivem, pode haver uma ação coletiva e um IRDR ajuizados ao mesmo tempo. Isso é importante, porque os objetos, finalidades legitimados são distintos, embora haja uma grande intersecção quanto a esses 3 aspectos. Existem áreas exclusivas para cada um deles e áreas de intersecção. 
1ª relação: se houver entre os casos repetitivos uma ação coletiva, ou seja, se um dos processos em que se discute a mesma questão de direito repetitiva for uma ação coletiva ele deve ser escolhido como piloto. O caso piloto preferencialmente será o da ação coletiva, se ela estiver entre os processos que discutem a mesma questão. 
2ª relação: imaginem que o caso piloto seja uma ação coletiva, ou seja, se instaura um IRDR, que não só vai julgar uma ação coletiva como vai fixar uma tese, é um processo coletivo ao quadrado, pois além de fazer julgada vai fixar um precedente. Aqui o próprio caso piloto é coletivo, e a ação coletiva tem um regramento próprio para desistência, o titular do caso piloto aqui não pode desistir, porque haverá a troca do condutor do caso piloto. É preciso conjugar as duas regras, a desistência da ação coletiva e no JCR. Se o recurso for do réu do processo coletivo, ele podedesistir normalmente porque não há prejuízo para a coletividade ---> DÚVIDA. A desistência do caso piloto só não pode acontecer pelo condutor do processo coletivo, nesse caso, ele será substituído. 
3ª relação: o caso piloto foi selecionado e não é uma ação coletiva, o cara quer desistir, mas o procedimento vai prosseguir para fixação da tese, mas o caso vai prosseguir acéfalo. Por que quem vai conduzir a discussão? Por que até sua desistência quem estava conduzindo era o autor do caso piloto? O CPC não resolve. Fredie entende que melhor seria a migração do MP para ser o condutor, este será o condutor não do caso, mas sim da fixação da tese, diferentemente do que ocorre na ação coletiva. 
4ª relação: é uma posição particular de Fredie, ainda muito polêmica. Fredie defende que se tiver pendente uma ação coletiva em 1ª instancia para discutir aquele assunto, o tribunal não pode instaurar o IRDR antes dessa ação coletiva chegar ao tribunal. Só pode instaurar depois que for julgada em 1º grau e subir em grau de recurso para o tribunal. Ele entende dessa forma por causa das suas duas premissas: 1) a ação coletiva leva à suspensão dos processos em 1º grau. 2) A ação coletiva pendente deve ser usada como caso piloto, de acordo com o que ele disse na 1ª relação, por isso é preciso que ela chegue em 2ª instancia para ser escolhida como caso piloto. 
Essas relações potencializam o agir estratégico para os litigantes habituais. Os litigantes habituais são, normalmente, sociedades empresárias e os entes públicos. 
Histórico
Histórico legislativo e histórico doutrinário 
Idade Média --> Todo mundo que estuda processo coletivo remete ao fim da idade média o início dos processos coletivos, faz algum sentido se imaginarmos que o indivíduo era um nada, você era percebido a partir da coletividade. Faz sentido pensar que a ideia de tutela coletiva tenha nascido nesse ambiente. 
Ação Popular e Dissídios coletivos trabalhistas (1930 e 1940) - No Brasil, começa a ter ações coletivas antes de todos saberem o que era uma ação coletivas. Não havia quem conseguisse dizer que aquilo era uma ação coletiva, era uma ação prevista sem maiores reflexões teóricas. A ação popular é da década de 30. Os dissídios coletivos trabalhistas vem da década de 40. Estavam na legislação, sem que ninguém refletisse teoricamente sobre elas. 
1960 - Então, nos anos 60 começa a haver um movimento mundial de estudo dos problemas de acesso à justiça. A sociologia do processo se desenvolve muito nessa época. Foi produzido um estudo chamado de Projeto Florença que é um relatório dos problemas mundiais de acesso à Justiça produzido por Brian G. e Mauro Capeletti. Nesse estudo eles defenderam a ideia de que havia dois problemas, dentre os muitos, muito importantes: 1) problema da fragmentação dos conflitos de pequena monta, que não chegavam ao judiciário pela sua insignificância. Ex: se formos lesados em 10 centavos todos os dias não levaremos ao judiciário. O fato é que esse tipo de conflito é significativo do ponto de vista coletivo. 2) problema relacionado a direitos que pertencem a coletividade, por exemplo, direito ao meio ambiente ou à moral administrativa. A partir desse dois problemas, começou-se a se pensar sobre esses direitos para países que não fossem os EUA ou a Inglaterra. Nos anos 60 começa-se a despertar para o surgimento de uma teoria e uma doutrina do processo coletivo de um lado, e por outro lado de leis. E aí nesse época vem a lei de ação popular sem que houvesse qualquer tipo de diálogo sobre aquilo que está acontecendo no mundo. 
1970 - No início dos anos 70 havia um grupo de processualista italianos resolvem estudar nos Estados Unidos, avisando ao mundo da civil law que existia um processo coletivo para grupos, e os jovens processualistas brasileiros leram esses jovens processualistas que foram estudar nos EUA e que escreviam sobre o que viam nos EUA. E aí 10 anos depois, José Carlos Barbosa Moreira, escreveu um texto que se chama “a ação popular brasileira como instrumento para tutela de direitos difusos”. Nessa época não existia nenhum estudo ou qualquer instrumento para tutela de direitos difusos. E aí Ada Pelegrini Grinover escreve também sobre a tutela de direitos difusos. 
1980 - Então, em 1983, o governo militar aceita constituir uma comissão para criação de uma ação para isso, nessa comissão estão os alunos de Ada, Valdemar Marinho, e essa comissão resultou na Lei de Ação Pública de 1985, essa lei recebeu o nome de Lei da Ação Pública. Recebeu esse nome que era estranho, porque o MP poderia propor uma ação numa época em que o MP tinha a função apenas de opinar e oferecer denúncia de ação penal pública. Ou seja, isso revolucionou o MP porque agora ele poderia propor uma ação civil. E esse nome pública vinha justamente do fato de que era o MP que proporia ação. 
1988 - Com a CF/88 trouxe-se a ACP para a CF e já na CF usar os termos que Barbosa Moreira propôs, ou seja, direitos difusos e direitos coletivos. Aí o tema ganha status constitucional, e isso muda tudo. 
Aí vem o CDC e o ECA, que tratam de processo coletivo. Hoje temos um par que estabelece as regras gerais do processo coletivo no Brasil: CDC e Lei de Ação Civil Pública. 
Em 1992 vem a Lei de Improbidade Administrativa. Então com essas leis todas na década de 90 começa a estudar processo coletivo e a prática do processo coletivo se intensifica. 
Medidas Provisórias anti-tutela coletiva - E aí começam a surgir Medidas Provisórias que tentam impedir a tutela coletiva, principalmente no governo de FHC. Gilmar Mendes foi umas das figuras que trouxe várias estratégias para dificultar tutela coletiva, criando-se uma espécie de doutrina anti-tutela coletiva, de modo que hoje não há mínima possibilidade de termos uma revisão sobre tutela coletiva, o que temos hoje sobre tutela coletiva foi o que construímos nos anos 90, hoje não passa mais nada no Congresso sobre isso. 
Hoje, temos uma boa legislação de processo coletivo, em que pese antiga. E o STJ nos ajudou muito com a sua jurisprudência de processo coletivo. O STJ tenta hoje construir um sistema de processo coletivo com o temos hoje. Na doutrina, além dos doutrinadores acima citados, temos núcleos de estudos em universidades espraiadas pelo país. Antônio Gidi escreveu um livro “coisa julgada e litispendência nas ações coletivas” que foi um marco para o processo coletivo. Existe também Edilson Vitorelli que escreve uma tese transformadora no processo coletivo. 
Os projetos de Código de Processo Coletivo foram abortados, mas foi elaborado um projeto de reforma da Lei de Ação Civil pública. O anteprojeto se tornou projeto de lei, começou a tramitar chegou na CCJ e partir do voto de Jose Carlos Aleluia, o projeto foi arquivado, porque era um projeto feito pela academia sem diálogo com o mundo político. Esse projeto também veio num contexto em que todos já sabiam o que era processo coletivo e não queriam um código. Ademais, a academia se recusou a discutir sobre mudanças nesse anteprojeto. Logo em seguida, veio a discussão para a feitura de um novo CPC, só que em razão do que acontecia na época no congresso, tomou-se a decisão de não trazer um capítulo sobre processo coletivo, porque se sabia que caso se regulasse nele, o CPC não andaria. Então, resolveu-se que não se regularia no CPC processo coletivo, execução fiscal e juizados especiais, porque são assuntos pesados e que se fossem regulados impediriam a tramitação do Código. 
CONJUNTO NORMATIVO DO DIREITO PROCESSUAL COLETIVO BARSILEIRO
Existe um conjunto de normas que disciplinam o processo coletivo no Brasil e esse conjunto de normas forma o microssistema do processo coletivo brasileiro, essa expressão é fundamental. Dizer que há um microssistema significa que esse conjunto de normas deve ser interpretado como um sistema específico e que eventuais lacunas devem ser preenchidas dentro do microssistema. Quando há um conflito, primeiro, é preciso buscar solução no microssistema, essa posição está consagrada no STJ. 
Esse microssistema tem um núcleo eos satélites. O núcleo é composto pela CF/88, Lei de ação civil pública e pelo CDC, sendo que CDC e LACP forma uma espécie de par (combo), um se interpreta junto com o outro, de modo que a soma dos dois produz o que se pode chamar, no Brasil, de Código de Processo Coletivo, esse é o núcleo, em torno do qual todas as outras leis satélites orbitam. Existem leis satélites mais próximas do núcleo, como por exemplo a Lei de Ação Popular, existem também a Lei de Improbidade Administrativa, Lei do Mandado de Segurança que cuida do MS coletivo, Lei do Mandado de Injunção que cuida do MI coletivo, o ECA, O Estatuto do Idoso, todas essas leis cuidam de processo coletivo. 
Há, também, uma lei muito ignorada, mas que é importantíssima do ponto de vista histórico que é a lei 7.913/89, essa lei vem antes do CDC e depois da CF/88, essa lei cuida da tutela coletiva das vítimas em razão de problemas no mercado de valores imobiliário, é uma lei que autoriza uma ação civil pública por conta da corrupção de BR, por exemplo. Ela tem uma importância histórica porque trata de direitos individuais homogêneos antes mesmo do CDC. 
Existe também a lei anticorrupção (lei 12.846) e a lei da colaboração premiada, que é lei das organizações criminosas (lei 12.850), elas se juntam com a lei de improbidade e formam uma espécie de direito processual civil coletivo punitivo e é importante instrumento de proteção coletiva. Lembrando que esse conjunto é resultado das manifestações de 2013. 
Recentemente, vem a lei de regularização fundiária (13.465), que criou o direito de laje, mas reformou o usucapião coletivo, e traz tutela coletiva também, acaba compondo essa constelação normativa. 
Na opinião de Fredie, as leis da ADIN, ADC e ADPF compõe também essa constelação, pois são exemplos de processo coletivo. 
Portanto, podemos dizer que a tutela coletiva brasileira tem um procedimento comum, que é do a Lei de Ação Civil Pública. O procedimento comum do CPC é o procedimento comum brasileiro, e em relação a ele o procedimento da Lei de Ação Civil Pública é um procedimento especial. Mas para o processo coletivo é um procedimento comum, então se não tenho procedimento especial para tutela coletiva eu me valho do procedimento comum que é o da lei de ação civil pública. 
Nessa constelação de leis, onde está o CPC? Qual o papel do CPC para a tutela coletiva? Como o CPC dialoga com o processo coletivo? Essa é uma das questões mais importantes. Para compreender isso é preciso fazer menção ao histórico. O CPC/73 não tratava de processo coletivo, e nem poderia tratar em função da sua época, observe que o texto de Barbosa Moreira, que é o texto fundador, é de 75. Então, nos 40 anos de doutrina brasileira sobre processo coletivo ela tinha que afirmar que o CPC não se aplicava ao processo coletivo, isso se dava para reafirmar o microssistema e também construir as especificidades do processo coletivo, então houve a necessidade de se reafirmar a absoluta inadequação do CPC/73 ao processo coletivo. Mesmo com a existência dos dissídios coletivos de direito do trabalho e a Lei de Ação Popular, ninguém as entendia como algo coletivo, todos entendiam que uma espécie de ação individual. Seria possível elaborar um NCPC ignorando o processo coletivo? Porque em 73 não se concebia acerca da existência de um processo coletivo, mas em 2015 isso não seria possível, porque ele pressupõe o processo coletivo. Então na elaboração do CPC/15 havia duas opções: 1) pressupor para disciplinar e mudar as regras; 2) pressupor sem mexer nas regras. Esse CPC pressupõe o processo coletivo e o faz de maneira expressa, podemos exemplificar 7 momentos do CPC que expressamente se referem ao processo coletivo, isso demonstra que o CPC pressupõe o processo coletivo, portanto, o processo coletivo é uma realidade não ignorada pelo CPC. Exemplos: 
a) Art. 139, X – para propositura de ação coletiva respectiva, estabelece o dever de o juiz comunicar aos legitimados a existência da possibilidade de propor ação coletiva; 
b) Art. 174 -que cuida da criação das chamadas câmaras administrativas de solução de controvérsias, esse artigo diz que umas das competências dessas câmaras é prover a celebração de TAC, que é um instrumento previsto na lei de ação civil pública para a tutela coletiva. 
c) Art. 178 cuida da intervenção do MP, o MP intervirá nos dissídios coletivos nas ações possessórias rurais ou urbanas. 
d) Art. 333, que foi vetado, falava da conversão da ação individual em ação coletiva. Esse artigo, em que pese vetado, pressupõe a existência do processo coletivo, tanto que trazia a possibilidade de transformar ação individual em processo coletivo. 
e) Art. 565- cuida das ações possessórias coletivas
f) Art. 928 – que institui o JCR como gênero, que não é ação coletiva, mas é processo coletivo.
g) Art. 985 – cuida do IRDR diz que julgado o incidente tese será aplicada a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre a questão. 
Portanto, vê-se que o processo coletivo é suposto em todo o CPC. Portanto, não podemos dizer que o CPC é um código de processo individual, porque ele é um código de processo civil que serve para o processo coletivo e individual. Ou seja, o CPC se aplica DIRETAMENTE desde que não seja contrário a lei específica, o CPC se aplica tanto quanto a lei de ação civil pública, naquilo em que não seja contrário a ela. A relação do CPC de 2015 é completamente diferente da relação que o CPC/73 tinha com o processo coletivo. 
A ideia de microssistema vem a partir do código, porque essa ideia vem do fato existem leis para além do Código. Então para Fredie o CPC/15 está dentro do microssistema de processo coletivo, justamente porque pode ser aplicado aos litígios coletivos quando não for contrário ao que as normas processuais coletivas determinem. 
OBS 1: Não se admite ações coletivas em juizados especiais, há previsão expressa na lei 10.259, lei dos juizados especiais federais, art. 3º, §1º, I. 
OBS 2: É possível visualizar tutela coletiva eleitoral, as ações de impugnação de mandato são um exemplo disso. 
OBS3: é possível falar em tutela coletiva penal ou tutela penal de direito difuso. Porque se um grupo é sujeito de direito e ele pode ser vítima de um crime, assim a tutela da vítima, nesse caso, é a tutela coletiva (de um grupo). Ex. quando a vítima é a coletividade e quer buscar reparação, essa tutela será coletiva. Isso reverbera depois em uma ação civil pública, que trata de tutela coletiva. O CDC expressamente menciona a sentença penal no art. 103, §4º, envolvendo crimes cuja vítima é o grupo. 
3º PREMISSA DO CURSO: o CPC tem aplicabilidade ao processo coletivo. 
AS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO COLETIVO
Direitos coletivos em sentido amplo (situação jurídica coletiva ativa)
O Brasil definiu em lei os direitos coletivos em sentido amplo, é uma opção legislativa nossa. Isso aconteceu em 1990 no CDC que traz esses conceitos legais. Ao fazer isso esse diploma ajudou muito no desenvolvimento do processo coletivo no Brasil e serviu como referência para toda América Latina, e isso até hoje não foi alterado. O CDC optou por fazer uma trilogia das situações jurídicas coletivas: 1) direitos difusos; 2) direitos coletivos em sentido estrito; 3) direitos individuais homogêneos. 
Essa trilogia havia estudada antes da lei existir e antes do CDC há um trabalho de Barbosa Moreira em que ele defendia que os direitos coletivos em sentido amplo deveriam ser divididos em direitos essencialmente coletivo e direitos acidentalmente coletivos. Essa terminologia é um clássico, até hoje as pessoas usam essa ideia. A ideia dele é que há direitos que são essencialmente direitos que são titularizados por grupos, por exemplo, direito ao meio ambiente saudável, e há direitos que só são de grupo por opção política, é como se fossem direitos individuais mas foram agrupados para serem tutelados. Essa ideia de Barbosa Moreira foi então renovada por Teori Zavascki, que em um artigo afirmou que era preciso distinguir a defesa de direitos coletivos da defesa coletiva dedireitos, que é a defesa de direitos não coletivos, mas tutelados coletivamente. 
Essa ideia parece ter inspirado o CDC porque ele conceitua a trilogia: difusos, coletivos em sentido estrito e individuais homogêneos. A quase totalidade da doutrina diz que os primeiros são essencialmente coletivos e os individuais homogêneos são acidentalmente coletivos. Essa é a concepção majoritária no conhecimento da tutela coletiva no Brasil. Individuais homogêneos – é uma forma de agrupamento de direitos individuais para que lhes seja dada um tutela coletiva. 
Fredie discorda, pois para ele a tutela de DIH é uma tutela coletiva, para ele o titular da situação jurídica é o grupo dos indivíduos. A ideia de que a ação coletiva para tutela de DIH é uma ação individual travestida de ação coletiva é uma ideia que gera problemas, por exemplo, quanto à legitimidade para realizar acordos. Então para ele a trilogia do CDC é verdadeiramente uma trilogia de direitos coletivos. 
Fredie diz que a trilogia divide os direitos pelos tipos de grupo. A variação das três espécies é uma variação que se dá pelos tipos de grupo que titularizam. O CDC estabelece três tipos de direitos a partir da variedade de grupos. 
Direitos coletivos difusos --> Pessoas indeterminadas não relacionadas entre si, essas pessoas não tem relação. Ex. brasileiros, baianos, consumidores. 
Direitos coletivos em sentido estrito --> trata-se do grupo composto 1) por membros que ou tem uma ligação entre si (Ex. associados de uma associação) ou 2) todos os membros do grupo mantem uma relação com uma outra parte, e mantém a mesma relação jurídica modelo, por exemplo, os alunos da UFBA todos se relacionam com ela a partir de uma mesma relação jurídica. É um grupo, portanto, de pessoas determináveis. 
Direitos individuais homogêneos --> é uma situação jurídica coletiva que é titularizada por um grupo de lesado, vítimas que foram lesadas. Antes da lesão, esse grupo não existia, ele passa a existir depois da lesão. O que leva a existência do grupo é o fato que aquelas pessoas foram lesadas da mesma forma. É um grupo criado para fins de proteção jurídica, é um grupo criado por ficção, para fins de atribuir uma melhor proteção jurídica a seus membros. Mas o fato de ser um grupo por ficção não elimina o fato de ser direito de grupo. Note que as pessoas só se relacionam com um grupo pós-lesão, por isso é sempre um grupo de vítimas, o que faz com que não se possa falar em ação coletiva preventiva para direitos individuais homogêneos, porque a tutela para DIH é sempre tutela repressiva, na medida em que o grupo só passa a existir depois da lesão. Se se pretende prevenir uma lesão, o que se faz é o uso da tutela coletiva difusa. 
O que marca esses três direitos? Como eles são titularizados por grupos, e não por membros do grupo, a tutela deles é uma tutela indivisível, ou o grupo é tutelado ou não é. Isso vale também para o DIH, pois a sua tutela é também indivisível– Ex. o juiz afirmará que o todo o grupo tem direito de ser ressarcido. Agora é claro que quando os indivíduos forem receber seus valores aí sim se divide, na fase de liquidação e execução. Então é uma tutela coletiva na fase de conhecimento, ou seja, na fase de conhecimento a tutela será a mesma para todos, mas na fase executiva a tutela se individualiza. Essa visão dele é uma visão pelo tipo de grupo. É o tipo de grupo que vai dizer se o direito discutido é um ou outro. 
Uma sentença favorável prolatada em ação coletiva sempre beneficia todos os membros do grupo, inclusive os membros do grupo que titularizam direitos individuais homogêneos. 
Art. 81 do CDC – esse artigo fala em direitos e interesses. Por que ainda traz a expressão “interesse”? Isso se dá porque à época em que o CDC foi elaborado ainda existia certa dificuldade em se reconhecer que grupos podiam titularizar direitos. Assim, para não estender a discussão, optou-se por falar em direitos transindividuais ou “interesses”. 
I – neste inciso há um equívoco. Afirma-se que o titular desses direitos seriam pessoas indeterminadas, mas na verdade o titular é um grupo de pessoas indeterminadas. 
III – o legislador aqui não fala em direitos transindividuais justamente porque à época, a ideia que predominava era de que os direitos individuais homogêneos eram direitos essencialmente individuais. 
OBS. – o CDC não fala nas situações jurídicas coletivas passivas, não traz os deveres coletivos, deveres individuais homogêneos. Esse é um sinal de que a legislação não cuida das situações jurídicas coletivas passivas. É preciso pensar essas categorias espelhando as situações coletivas jurídicas ativas. 
OBS. – nada impede que uma ação coletiva discuta todos os direitos coletivos em sentido amplo. Essa divisão se dá para facilitar a compreensão das espécies, para que se possa identificar o grupo e pedir a providência cabível. Muitas vezes, a situação prática permite a tutela de vários grupos diferentes.
Até 2015 a doutrina brasileira parava aqui: listava o art. 81, explicava as diferenças entre os direitos. Em 2015, vem um jovem mineiro, Edilson Vitorelli, e defende uma tese de mestrado na UFPR propondo um modelo muito diferente de compreensão do fenômeno. Vitorelli tenta demonstrar que essa classificação dos direitos coletivos, embora tenha tido uma importância histórica, não consegue dar conta dos processos coletivos na realidade. Ele tenta demonstrar que essa classificação é muito abstrata e não apreende as especificidades que cada causa coletiva tem. E por ser muito abstrata, essa classificação faz com que o processo coletivo acabe sendo o mesmo, qualquer que seja o problema coletivo. O legislador, de forma muito abstrata, criou tipos de direitos coletivos e criou um modelo de processo coletivo que seja o mesmo para qualquer direito coletivo. 
Ex. – imaginemos que um petroleiro, no meio do oceano atlântico, deixe vazar três barris de petróleo, gerando um acidente ambiental. A ação coletiva ajuizada seguirá o procedimento da ação civil pública. A ação ajuizada no caso da Usina de Belo Monte também seguirá o procedimento da ação civil pública. Diante disso, é correto fazer com que essas ações sigam o mesmo procedimento? No caso dos barris de petróleo, dificilmente alguém será atingido pela poluição. No caso da Usina de Belo Monte, teremos várias pessoas afetadas (os marmiteiros, as prostitutas, moradores locais etc.), que precisam ser ouvidas. 
Vitorelli diz que não podemos pensar o processo coletivo pelo tipo de direito porque o tipo de direito nada diz sobre as variáveis que interferem na estrutura do processo. Por isso, ele afirma que é preciso pensar o processo coletivo a partir do litígio e não do direito de direito, ou seja, temos que analisar o tipo de conflito discutido no processo coletivo. O caso coletivo é que vai dizer como se dará o processo coletivo. Vitorelli sai da abstração do art. 81 e mostra que temos de nos preocupar com os litígios coletivos. Ele não está propondo uma nova classificação dos direitos, essa classificação já está posta e tem uma importância pedagógica. O que ele propõe é um estudo do litígio e não mais do direito que se discute, e, assim sendo, ele traz uma classificação dos litígios. 
Atenção: nada impede que uma ação coletiva trate de DD, DC e DIH, todos ao mesmo tempo. No mundo real o que importa é identificar o grupo para pedir a providência, mas não qual é o grupo dentro dessa categorização. 
Em 2015, Edilson Vitorelli propõe uma forma de compreensão diferente. Vitorelli tenta demonstrar que essa classificação dos direitos coletivos não consegue dar conta dos processos coletivos na realidade. Ele tenta demonstrar que essa classificação é muito abstrata e ela não apreende as especificidades que cada causa coletiva tem, e como ela é muito abstrata e não adere a realidade, ela faz com que o processo coletivo acabe sendo o mesmo qualquer que seja o problema coletivo. 
Ex. imagine que um petroleiro no meio do oceano Atlântico vazam três barris de petróleo, ocorre uma acidente ambiental, essa ação vai ser um processode ação civil pública. A ação que tenta parar a construção da usina de Belo Monte vai ser a mesma. Mas esses processos podem ser iguais? É possível encontrar o que há de comum? A condução desses processo vai se dar da mesma forma? Veja que acidente no meio do Oceano pacifico não nos afeta, mas mexer com a usina de Belo Monte é tocar na vida de uma série de grupos afetados como os marmiteiros, prostitutas, moradores, trabalhadores etc. 
Então não podemos pensar o processo coletivo por meio dos direitos, porque isso nada diz quanto as variáveis que interferem no modo como o processo se estrutura, porque os direitos difusos assumem diversas nuances a partir do processo. É preciso, então, pensar o processo coletivo a partir do conflito e não partir do direito. Com isso deslocamos a discussão para o mundo real, o caso coletivo vai dizer como se estrutura o processo coletivo. É preciso ir primeiro para o caso. 
Vitorelli não está propondo uma nova classificação dos direitos. A classificação está posta e ele entende ser ela útil do ponto de vista pedagógico. O que ele propõe é o estudo do processo coletivo a partir do litígios. 
Ele propõe uma coisa nova: a classificação dos litígios. 
Então Edilson Vitorelli estabelece uma tipologia dos conflitos coletivos, mas para compreende-la é preciso partir de três premissas: 
1ª premissa: O TIPO DE CONFLITO SÓ SE CONSTATA CASO A CASO --> o tipo de conflito só se constata caso a caso, só se constata a posteriori, é sempre o caso concreto que deve ser levado em consideração para definir esse tipo de litigio; 
2ª premissa: CONFLITUOSIDADE --> os tipos de conflito variam nos graus de conflituosidade. A conflituosidade significa que tão mais conflituoso é o conflito quanto maior for o número de perspectivas diversas que os membros do grupo tem em relação à lesão. 
Ex. ocorre uma lesão coletiva se os membros do grupo percebem a lesão sob perspectivas diversas, veja que pessoas mais próximas do problema tem uma visão diferente daquela das que estão mais longe do problema. 
Ex. ocorre um evento misógino na UFBA, as alunas da UFBA estão muito próximas e tem uma perspectiva mais intensa sobre isso, pedindo providencias urgentes, as meninas da Faculdade de Medicina também se solidarizam e entendem pela criação de um blog, e assim sucessivamente. 
A ideia de conflituosidade está relacionada com a ideia de que dentro de um mesmo grupo existem subgrupos --> É preciso perceber que aquilo que consideramos como um grupo pode ser composto por vários grupos distintos e que esses pequenos grupos inseridos no grupão podem ter interesses divergentes, por isso é preciso repensar o processo coletivo a partir do litígio, e entender as várias perspectivas envolvidas, porque uma solução única pode não ser a adequada para todos os que compõe o grupo. Essa ideia de conflituosidade como característica ou elemento é relevante porque ela nos ajuda a compreender a existência de subgrupos. Tão mais subgrupos existam tão mais conflituoso é o litígio.
3ª premissa: COMPLEXIDADE --> Além disso, temos como terceira premissa a complexidade do litigio, o litigio será tão mais complexo, quanto maior for o número de possibilidades de solução do litígio. O processo é complexo quando há uma gama de possíveis soluções aceitáveis para o processo. 
Então, a partir disso, Vitorelli identifica três tipos de litígio coletivo, conflitos esses que servirão de base para construção de um processo coletivo mais adequado ao caso. Isso é uma proposta teórica e pode ser que seja insuficiente, pode ser que seja o caso de pensar em 5 ou 6 modelos de processos coletivo. 
1º tipo: Litígio de difusão global --> os membros do grupo sofrem muito pouco ou quase nada com a lesão coletiva, a lesão não atinge de forma significante os membros do grupo. Então os membros do grupo tem pouco interesse no caso e a conflituosidade tende a ser mínima já que a lesão não atinge diretamente os membros do grupo. Haverá tanto mais conflituosidade quanto mais puder haver espaço para o interesse do membro do grupo prevalecer. Como o interesse pessoal do membro do grupo tende a não existir a conflituosidade tende a ser zero. É um litigio que do ponto de vista da complexidade tende a ser simples, a solução tende a ser simples. 
Vamos pegar três institutos do processo coletivo e ver como eles são impactados nesse caso: 
1) legitimidade: saber quem é legitimado é bem fácil porque nesses casos tendem a ser entes públicos ou entidades privadas de finalidade publica com alta representatividade social como por exemplo o greenpeace; 
2) competência: como não há um impacto significativo dessa lesão aos membros do grupo, a competência tende a ser do juízo do local da lesão.
3) autocomposição coletiva: no Brasil, não há como estudar processo coletivo sem atentar para o fato de que boa parte dos litígios coletivos aqui é resolvido por autocomposição. Num litigio como esse a autocomposição tende a ser mais fácil, justamente porque a conflituosidade não é muito alta. Litígios assim, em regra, se resolvem através do pagamento de uma multa. A impressão que temos quando lemos da LACP é que ela foi escrita pensando somente nessa espécie de litígio, como se o litigio coletivo não tivesse uma complexidade maior. O procedimento da LACP, que é o nosso procedimento comum, serve bem para esse tipo de problema. 
Ex. acidente no meio do mar, há pouco interesse pessoal dos membros do grupo. 
2º tipo de litígio: Litigio de difusão local --> a lesão atinge um grupo formado por pessoas que compartilham uma mesma perspectiva social ou uma identidade (percepção de si) semelhante. Ex. mulheres, empregados de uma empresa, alunos da UFBA, comunidade quilombola. Como a lesão atinge esse grupo há um interesse mais próximo do membro do grupo, não há uma difusão global, é uma lesão que atinge um grupo bem identificado com perspectiva social semelhante ou identidade semelhante. E a lesão atinge os membros do grupo de maneira semelhante, essa é uma diferença do global, porque aqui a lesão atinge diretamente os membros do grupo e de maneira semelhante justamente porque eles guardam uma perspectiva social semelhante. 
Agora quanto aos três institutos: 
1) legitimidade: quem vai propor essa ação coletiva? Como o grupo está bem definido por uma perspectiva social ou identitária e mais fácil controlar a legitimidade, por exemplo, o sindicato representante daqueles trabalhadores. Portanto, é mais fácil identificar quem não é o legitimado. O grau de conflituosidade existe, mas não é tem alto, isto é, existem subgrupos, mas o grau de conflituosidade não é tão alto, na medida em que as pessoas tem uma mesma perspectiva social. 
2) competência: tende a ser fácil, porque o grupo é definido, vai ser do local da lesão; 
3) autocomposição: tende a ser fácil porque sabemos facilmente quem é o legitimado e quais são os interesses. É fácil delimitar quais são os interesses em jogo. 
3º tipo de litigio: litígio de difusão irradiada --> é um litigio que atinge diretamente os membros do grupo que são pessoas que tem perspectivas diferentes em relação a lesão e portanto são atingidas de maneira distinta em relação a lesão. Então a lesão lesa diretamente os membros do grupo, mas de forma diferente fazendo com que as pessoas do grupo tenham diferentes perspectivas. Essas pessoas são diferentes, por isso são atingidas de forma diferente o que leva a perspectivas diferentes. Então o grau de conflituosidade e complexidade é muito grande. A lesão atinge muita gente, que é diferente entre si e que, portanto, são atingidas de forma diferente. Dessa forma, a conflituosidade tende a ser maior e, assim sendo, a complexidade do litígio também é maior. É mais conflituoso porque os membros do grupo enxergam a lesão sob uma diferente perspectiva, e é mais complexo porque normalmente existem diversas possibilidades de solução (cada uma atendendo aos interesses de um subgrupo de envolvidos). 
Uma ação civil pública que trate de um litígio desse tipo é uma ação que exigiria uma série de transformações procedimentais.Processos assim tendem a ser ou deveriam ser conduzidos por uma perspectiva multipolar e não bipolar, não deveríamos ter apenas autor e réu. A tendência é que um processo assim envolva diversos interesses.
1) Legitimidade: quem vai ser o legitimado? Quem poderia falar por todos os envolvidos? Quem conseguiria? O direito brasileiro não resolve isso de maneira expressa. A legislação coletiva não resolve essa realidade, é como se o MP pudesse representar todos esses interesses. Como garantir que as diversas perspectivas do litigio estejam vocalizadas em juízo? Porque num mesmo problema há diversos interesses coletivos ali orbitando. O legislador brasileiro não traz solução para isso, mas ignora esse problema completamente. 
Vitorelli propõe que se pense num litisconsórcio para que as mais representativas percepções do conflito possam estar representadas em juízo, muito embora o juiz deva ter acesso a todas as argumentações para formar seu convencimento. Por outro lado, se pensássemos em ajuizar várias pequenas ações, acabaríamos gerando grande risco de decisões conflitantes e no final das contas as ações seriam conexas o que determinaria a reunião dos processos. Então, temos de visualizar que essa ação coletiva representa um feixe de ações coletivas e, por isso, temos de pensar em órgãos legitimados capazes de representar a maior parte dos interesses envolvidos em juízo. Dessa forma, o ideal é que tenhamos vários órgãos de representação atuando ao mesmo tempo, bem como a participação de vários amicus curiae. 
2) Competência: A competência é muito difícil porque a lesão atinge várias pessoas que estão em uma posição do conflito diferente. A tendência é de que a ação coletiva maior seja ajuizada no epicentro do conflito, mas isso não vai ser fácil porque haverá disputa sobre a competência, por exemplo, quem vai ser competente para julgar ação que envolva a transposição do Rio São Francisco? Quem assumiu a competência foi o STF porque se entendeu que há um conflito federativo. E a lei de ação civil pública é inservível para esse tipo, ela traz as mesmas regras para conflitos distintos. 
3) Autocomposição: Temos um imenso problema na autocomposição, as auto composições parciais são inevitáveis. 
Então começamos a pensar o processo coletivo por uma análise do conflito e não do direito. Temos que repensar então a competência, a legitimidade, a coisa julgada. Veja: sabemos que o resultado de uma ação coletiva só se aplica aos membros do grupo se beneficiá-los, mas num caso como esse, quem se encontra beneficiado? 
Pode haver um processo em que esses litígios se combinem, pode haver um grande conflito que um pedaço do problema seja de difusão global, outro de difusão local, outro de difusão irradiada. Vitorelli faz toda a teoria dele para discutir apenas legitimidade. 
* Ler o texto tipologia dos litigios coletivos, Vitorelli. 
NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO COLETIVO
Não iremos recapitular normas fundamentais do processo civil. É certo que elas se aplicam ao processo coletivo (juiz natural, contraditório e ampla defesa etc). Vamos estudar as normas próprias do processo coletivo. 
Norma fundamental é toda norma que cumpre dupla função: 1) define o modelo de processo ou seja estrutura o processo coletivo; 2) serve para a interpretação e aplicação de outras normas, é uma guia para compreender o sistema do processo coletivo. 
1) DEVIDO PROCESSO LEGAL COLETIVO
É importante que reflitamos essa locução “devido processo legal coletivo” porque é algo recente, não é uma expressão tradicional. O que se construiu no mundo relacionado a essa norma levou em consideração o processo individual. É preciso fazer uma serie de adaptações para que o processo coletivo seja um processo coletivo devido. Por isso é importante manter essa expressão “devido processo legal coletivo”. O livro de Vitorelli tem como título “devido processo legal coletivo” o que mostra a importância dessa norma. 
É preciso destacar 5 aspectos que merecem atenção no devido processo legal coletivo. São 5 pontos nervosos do devido processo legal coletivo: 
1.1 - LEGITIMIDADE PARA CONDUÇÃO DO PROCESSO COLETIVO ---> talvez seja o primeiro aspecto do processo coletivo que teve que ser destacado para ser adaptado ao processo coletivo. Toda a teoria da legitimidade foi pensada para litígios envolvendo indivíduos e não grupos. Foi preciso construir uma série de regras para estruturar a legitimação coletiva. 
O Desenvolvimento do regulamento de legitimação coletiva passou por três etapas, no Brasil. 
PRIMEIRA ETAPA --> Legitimidade atribuída pela lei: Na primeira etapa se tomou uma decisão de dar legitimidade pela lei, então a lei traria um rol dos legitimados a tutela coletiva. O que é um opção distinta da americana, que entende ser legitimado a partir do caso concreto. 
SEGUNDA ETAPA --> Verificação da legitimidade, pelo juiz, caso a caso: Com o passar do tempo se percebe que um cardápio legislativo amplo traz problemas de ordem prática, porque a lei criou um rol muito extenso. Nos anos 90 surgiu a pergunta: qualquer dos legitimados previstos em lei podem propor qualquer ação coletiva? Todos são legitimados universais? O MP pode propor ação coletiva para qualquer coisa? Com essas perguntas a doutrina, no final dos anos 90, começa a dizer que a legitimação coletiva teria que passar por um segundo filtro que é o controle caso a caso, uma verificação da legitimidade à luz do caso concreto, cabendo ao juiz fazer o controle dessa legitimação caso a caso. Então se verifica primeiro na lei, depois se constata no caso. 
Então, na segunda etapa surge o controle jurisdicional da adequação da legitimação (“ideia do legitimado adequado”). Existe uma expressão inglesa que fala em “representação adequada”, mas o que essa expressão de fato significa é legitimação adequada. 
Controle caso a caso do legitimado também se aplica ao amicus curiae --> O art. 138 que cuida do amicus curiae tenha a expressão “representatividade adequada”. Essa expressão foi consagrada em lei. O desenvolvimento dessa ideia de que se deve fazer um controle caso a caso do legitimado, também casa com o aparecimento da figura do amicus curiae. É preciso ver se no caso concreto aquela pessoa pode intervir como amicus curiae. 
Foi essa ideia de controle caso a caso, que fez com que o STF desenvolvesse a pertinência temática como critério para aferir legitimidade em ADIN, ADC e ADPF. Existe um rol legal de sujeito que podem propor essas ações, mas não se pode dizer que todos os legitimados podem propor todas as ações. 
Houve uma reação contra essa corrente. Havia aqueles que diziam que se estava na lei o juiz não podia fazer um controle no caso, bem como havia aqueles que defendiam a necessidade desse controle.
O devido processo legal coletivo pressupõe que ele seja proposto por um sujeito que tenha aderência ao caso --> Então, se dizia que o devido processo legal coletivo pressupõe que ele seja proposto por um sujeito que tenha aderência ao caso. 
TERCEIRA ETAPA --> Controle do exercício da legitimidade - Quando, em 2015, vem Vitorelli na sua tese propõe um terceiro momento de verificação da legitimidade que seria o controle do exercício da legitimidade. Nas duas primeiras etapas verificamos se o sujeito pode ser o condutor, é uma análise estática. Mas essas duas etapas nada dizem sobre se a condução do processo coletivo está sendo boa. Na segunda etapa verifica-se se o sujeito está autorizado ou não a figurar como legitimado. Na terceira etapa verifica-se se o sujeito está exercendo bem o seu papel de legitimado. Aquele que tem autorização legal e aderência com o caso e conduz o processo coletivo ao contrário do que o grupo quer, ele pode continuar como legitimado coletivo? É uma espécie de fiscalização. O nosso estudo se limitava a quem tinha legitimação para conduzir o processo coletivo, mas não se questionava acerca da qualidade dessa condução. O grupo não está no processo, tem alguém falando pelo grupo, então é preciso ver se o legitimado está falando bem pelo grupo. 
A percepçãodesse problema traz uma série de perguntas: quem vai fazer essa fiscalização? Em última instancia o juiz pode determinar uma troca do legitimado ao perceber uma inadequação. Mas o que significa exercer mal? Nunca houve uma preocupação no processo brasileiro sobre o que o grupo pensa, e essa é uma perspectiva muito autoritária, porque quem fala pelo grupo nem sempre vai falar o que o grupo quer. 
Vitorelli tenta criar diretrizes para fiscalização do exercício da legitimação. Por isso, no caso dos litígios de difusão irradiada, se defende uma pluralidade de legitimados, cada um deles vocalizando a percepção dos grupos. 
Subrepresentatividade --> Hoje é muito comum que haja subrepresentatividade, é muito comum que o juiz decida o caso sem levar em consideração todas as perspectivas. Existem muitos casos em que o condutor propõe ação e um outro grupo de pessoas aparece frente ao juiz. 
1ª proposta: legitimado demonstre que está expondo em juízo o que o grupo deseja – prestação de contas --> Vitorelli propõe que o legitimado demonstre que está expondo em juízo o que o grupo deseja, isso surge como espécie de prestação de contas. 
2ª proposta: Audiências Públicas -->Outra proposta é a realização de audiências públicas para que juiz tenha a oportunidade de ouvir os membros do grupo e, diante disso, decida se a legitimação está sendo exercida de forma devida. 
A nossa concepção autoritária de processo coletivo está começando a ser repensada.
Essa terceira etapa está em construção e se caracteriza pelo controle em concreto do exercício da legitimidade, esse controle é feito pelo juiz, através de provocação das partes, e pode gerar uma ampliação do rol de legitimados. É preciso ouvir o grupo para ver se existe a conexão entre a voz do legitimado e o que o grupo deseja. 
1.2 COMPETÊNCIA – mais uma vez um embate entre uma acepção formal e uma acepção material da competência. Formal – competente é o juízo tal como a lei estabelece. O problema é que o processo é coletivo, e onde está o grupo? Onde a lesão produz efeitos? Quando se pensa em grupos homogêneos, a coisa é mais fácil e esse problema deixa de existir. Problemático é quando estamos diante de litígios complexos em que se tem diversos grupos lesados, em lugares diferentes e lesados de maneira diferente. Qual será o juízo competente? A lei não diz nada sobre isso, muito pelo contrário, as vezes até dificulta. A lei diz que se o dano é nacional, qualquer capital é competente. 
Imagine um problema no Rio São Francisco. Pela lei um problema como esse é regional, sendo assim a ação coletiva deve ser proposta na capital de um dos estados envolvidos. A ação então é proposta em Salvador, só que as pessoas aqui não tem o menor conhecimento acerca desse rio. Então pela lei isso não faz sentido. 
Competência adequada --> Começou a ser desenvolvida a ideia de competência adequada, ou seja, aderência do juízo com o caso coletivo. É a superação do estudo formal da competência para trazê-la para casos reais, ou seja, saber se o juiz é competente de acordo com o caso real. O CPC/15 não enfrenta esse tema diretamente, mas traz instrumentos que certamente servirão como a base normativa para o desenvolvimento da ideia de competência adequada. Existe o art. 69, §2º que trata dos atos concertados entre juízes. Os juízos podem fazer acordos entre eles dentre várias coisas, inclusive competências. Começa-se a fazer juízo de eficiência acerca da competência, e o rol do §2º do art. 69 é exemplificativo, porque os instrumentos de cooperação judiciária pode ser atípicos. Ex: acidente em Mariana, é preciso se pensar em uma comarca específica para julgar esses casos como uma forma de racionalização, assim como aconteceu com Moro e a lava jato, caso em que por meio de acordos judiciais se decidiu que sua vara só receberia processos da lava jato. 
* Artigo “Competência adequada” – Paula Sarno 
1.3 - INFORMAÇÃO ADEQUADA AOS MEMBROS DO GRUPO
O processo coletivo embora tutele direito de grupo, no fim das contas, a ideia é tutelar os membros do grupo, ainda que de forma mediata. Então, é fundamental que os membros do grupo saibam do processo coletivo, sob pena de boa parte dos objetivos do processo coletivo restar frustrada. 
Ex: imagine que alguns de nós tenhamos alguns diretos individuais e nem saibamos. Se os membros não sabem o seu direito individual não poderá ser tutelado. 
Nos EUA essa informação adequada é muito séria, inclusive um dos deveres do condutor do processo coletivo é promover essa informação, inclusive, no direito norte americano, existe uma expressão para designar isso “fair notes”. Mas, no Brasil, tem uma regulamentação insuficiente e que tem que ser construída de várias formas. 
Temos duas regras expressas: 
1) art. 94 do CDC, que quando cuida da ação para tutela de direitos individuais homogêneos impõe que haja publicação de um edital para dar conhecimento às pessoas, mas essa é uma regra insuficiente. É certo que não podemos desconsiderar que essa é uma tentativa de informar as pessoas que há um ação de direito individual homogêneo; 
2) Art. 979 do CPC, essa é uma regra do JCR. A instauração e julgamento do incidente serão sucedidos da mais ampla e específica divulgação e publicidade por meio do CNJ. E o CNJ tem tentado cumprir esse papel, como se fosse um cartório nacional para divulgar o processo coletivo, seja com o cadastro de IRDR’s de todo o Brasil, seja como o cadastro da ACP e TAC’s, numa plataforma única que é a plataforma do CNJ. 
Há que se ver que essas duas regras são regras que contam muito com a atuação do membro do grupo que deve correr para se informar, existe, portanto, uma espécie de colocação pública da informação e cabe ao membro do grupo buscar se informar. 
Além dessas duas regras expressas, podemos pensar em outras formas para fazer com que o conhecimento do processo coletivo chegue ao membro do grupo. 
Regra sugestiva: Legitimidade das associações --> A própria legitimidade das associação funciona como um meio de divulgação da tutela coletiva, porque há uma tendência de quando uma ação coletiva é proposta por uma associação ela tende a divulgar a seus associados. Portanto, a legitimidade das associações é uma forma de permitir maior divulgação.
Regra sugestiva: Realização das audiências públicas --> Outra técnica de divulgação é a realização de audiências públicas. É interessante que o CPC menciona, porém não regulamenta as audiências públicas. Com o CPC publicado e com a paralela publicação de algumas regras de processo coletivo, a doutrina começa a se atentar mais para uma necessidade de regulamentação das audiências públicas, porque elas podem ser um caos absoluto. A audiência pública hoje não é regulamentada, veja que não existe regramento para obrigar ao juiz analisar todas as informações que foram colhidas em audiência pública. 
Quando o TJ/BA teve que mudar o regulamento interno em razão do NCPC --->Fredie resolveu propor a criação de um dispositivo nesse regulamento que regulamenta as audiências públicas no TJ/BA. Então existe hoje o art. 78-A do regulamento interno do TJ/BA que regulamenta essas audiências públicas. 
Regra sugestiva: Intervenção de amicus curiae --> outra técnica é a intervenção do amicus curiae. Isso faz com que o membro do grupo se insira na discussão do processo coletivo, até porque, em boa parte das vezes, o amicus curiae é o membro do grupo, o qual interfere e ajuda na construção do processo coletivo. 
1.4- INFORMAÇÃO DO PROCESSO COLETIVO AOS ÓRGÃOS COMPETENTES
Essa dimensão do devido processo legal, de dar notícia aos órgãos competentes da existência do processo coletivo é uma coisa peculiar no Brasil, não ocorre muito em outros países. É preciso desmembrar essa informação em três partes. Existem desdobramentos dessa informação: 
1) informar para a propositura do processo coletivo --> existe previsão expressa no art. 7º da LACP, quando juiz tiver notícia de fato que autoriza o ajuizamento de ação coletiva, ele deve intimar o MP para sua propositura; e existe o art. 139, X do CPCque expressamente ratifica a regra da LACP com uma atualização já que não só o MP deve ser intimado, mas também outros legitimados a propositura da ação. Portanto, é informar os órgãos para que eles possam propor a ação coletiva. 
2) informar para acompanhar o processo coletivo --> há algumas regras do sistema que apontam isso. 1ª regra: A primeira, o MP tem que ser intimado obrigatoriamente em qualquer processo coletivo. Instaurado um processo coletivo, o MP deve ser intimado para acompanha-lo, seja no JCR, seja na ação coletiva. 2ª regra: Todo processo no Brasil que discuta questões relativas à concorrência, o CADE tem que ser necessariamente intimado, a sua intervenção é obrigatória, 3ª regra: a mesma coisa quando se trata de processos que discutam mercado de ações, em que a CVN tem que ser obrigatoriamente intimada. Essas três regras nos ajudam a entender o sistema do processo coletivo. 
Não existe uma regra geral de intimação para acompanhar, o que existe são essa três regras aqui ditas, mas a existência dessa três regras, ajuda-nos a pensar numa regra geral ou numa analogia dessas regras para outras situações. Por exemplo, numa ação coletiva que envolve agua você deveria intimar a Agencia Nacional de Água, isso tem acontecido, os juízes em ações coletivas que dizem respeito a regulação tem intimado o ente regulador para que ele acompanhe o processo coletivo, mas isso é feito um pouco “a facão”, sem nenhum verniz dogmático. O verniz dogmático seria esse identificar uma regra no sistema a partir desses três regras mencionadas.
3) informar o ente de que já houve o resultado do processo coletivo --> essa é uma coisa mais nova que veio com CPC. Essa é a informação dada a quem possa fiscalizar o cumprimento do que foi determinado. Informa-se o resultado para que o ente regulador possa dar andamento, o CPC 2015 nos ajuda no em relação a isso, no art. 985, que é um dispositivo do JCR mas que pode ser aplicado a qualquer processo coletivo. A regra do art. 985 é excelente porque ajuda na concretização dessa dimensão do devido processo legal coletivo, faltava isso, porque se estimulava a propor e acompanhar o processo coletivo, mas não se incentivava a fiscalização. Mas curiosamente, esse dispositivo foi impugnado por uma ADIN, mas a principal delas é uma que impugna partindo da ideia de que esse dispositivo cria uma competência nova para o ente regulador, isso significa que a decisão do JCR vincula o ente regulador e não cabe vinculação do ente da administração ao poder judiciário, dando uma espécie de força vinculante extrajudicial que tenta vincular a administração pública. Mas, evidentemente, que esse artigo não vincula as agencias, ele determina apenas a comunicação das agências para que elas cumpram o seu papel de fiscalizar, para verificação de que o sujeito condenado está cumprindo o seu papel. 
1.5- ADEQUADA “CERTIFICAÇÃO” DO PROCESSO COLETIVO
É preciso colocar essa expressão entre aspas porque não se encontrou ainda uma palavra em português que sirva para designar aquilo que se deseja designar. É um aportuguesamento de uma palavra norte americana. A palavra certificação, na América do Norte, está relacionada com um juízo de admissibilidade da ação coletiva. É preciso demonstrar ao julgador que a ação proposta é uma ação coletiva, aqui no Brasil podemos chamar de juízo de admissibilidade, é uma fase de certificação em que se demonstrará que a ação proposta é efetivamente de cunho coletivo. Ao importar o nome “certificação” a tendência é importar de lá para cá o que se tem lá sem que tenhamos uma regra expressa como há nos EUA. Essa dimensão do devido processo legal coletivo é mais fluída, menos concretizada e menos definida. 
Fredie entende que a certificação do processo coletivo no Brasil é diferente da dos EUA. Pois aqui a certificação envolve três aspectos e não apenas admissibilidade: 
--> Admissibilidade – para verificar, por exemplo, se há ou não a legitimidade.
--> Delimitação do grupo – certificar também é deixar claro a que grupo se refere aquele processo coletivo. 
--> Organizar o processo coletivo – por exemplo, organizar as audiência pública, disciplinar as regras de intervenção de amicus curiae.
Há um elemento declaratório, mas há um elemento constitutivo muito forte nessa decisão no sentido de delimitar. 
Exemplo: existem 90 ações civis públicas ajuizadas contra a SAMARCO, então é preciso que o juízes delimitem os grupos, exemplo, essa ação vai tutelar os membros da cidade X, essa outra ação vai tutelar os membros da ação da cidade Y, para que não haja confusão dessas tutelas coletivas. 
Exemplo: um sindicato propôs uma MS coletivo que tentava falar pelas classes que representam e também pelas demais. O tribunal extinguiu o processo afirmando que o sindicato não era legitimado para representar todas aquelas classes. O correto teria sido certificar a ação coletiva e não extingui-la. Bastava que o julgador certificasse e delimitasse o grupo que seria representado pelo sindicato. 
A certificação é importante para resolver os litígios de difusão irradiada porque vamos definir os subgrupos, para conseguir também delimitar quem será o amicus curiae. 
Exemplo: Outro exemplo, é uma decisão de instauração de IRDR que é uma decisão de certificação porque nesse caso o magistrado vai delimitar o grupo e a não delimitação do grupo pode gerar, inclusive, a suspensão errônea de processos, porque os juízes suspendem processos de pessoas que não fazem parte do grupo. 
A ideia é que se saiba exatamente a quem o processo coletivo se refere, até para que se possa fazer um confrontamento entre o grupo que está sendo tutelado no processo e o condutor do processo coletivo. Quando essa delimitação não ocorre a sentença coletiva não consegue entender perfeitamente qual é o grupo que está sendo beneficiado/atingido por ela. 
Art. 357, §3º - Qual a base normativa para a certificação? Art. 357, §3º do CPC. É o artigo que fala do saneamento do processo em causas complexas. É preciso que se desenvolva esse artigo para extrair dele as possibilidades de delimitação e certificação do processo coletivo. O enunciado 676 do Fórum de Processualistas Civis diz que a audiência de saneamento compartilhada é momento para que o juiz e as partes deliberem sobre:
--> as especificidades do litigio coletivo, com isso decidir qual o tipo de litigio se faz com que se defina melhor a competência, a legitimidade e autocomposição 
--> provas necessárias
--> medidas que incrementem a representação do grupo. 
Além disso, não podemos ignorar o que existe na ação de improbidade administrativa, que prevê a necessidade de certificação em momento inicial do processo, que é o momento de recebimento da petição inicial na ação de improbidade (existe uma decisão de recebimento na ação de improbidade administrativa), essa é uma forma de certificação no processo coletivo brasileiro, ainda que presa somente a questão da admissibilidade. 
Isso nos leva a repensar sobre a questão de nos desvencilharmos da ideia norte americana de que a certificação se restringe a uma espécie de juízo de admissibilidade. Ainda pensamos de maneira restrita sobre a certificação no Brasil, quando, na verdade, isso envolve três aspectos. 
2) POSTULADO DO MICROSSISTEMA 
É um postulado do microssistema. Parte-se da ideia de que o conjunto de normas que regula uma parcela da realidade do processo coletivo é um microssistema e isso é muito útil do ponto de vista operacional. Porque quando temos um dúvida em uma questão coletiva iremos buscar dentro do microssistema da tutela coletiva uma solução. Esse postulado é uma norma que regula a aplicação das outras normas. Essa ideia de microssistema vem sendo desenvolvida no Brasil há uns 15 anos, inclusive muitas decisões do STJ partem desse postulado. 
Desvantagem do postulado do microssistema --> Por um lado, esse postulado é bom, mas por outro, ele pode servir como uma “Katchanga”( Ou seja, há uma abuso na utilização retórica dos princípios). O postulado do microssistema pode ser utilizado como uma “katchanga”,

Continue navegando