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Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 0 0 www.sanarflix.com.br Resumo Diabetes Mellitus Gestacional Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 1 1 www.sanarflix.com.br 1. Introdução O diabetes mellitus (DM) é um distúrbio metabólico de etiologia múltipla caracterizado por hiperglicemia crônica e alteração do metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas, por defeitos na secreção e/ou ação da insulina. O diabetes mellitus gestacional (DMG) é definido como hiperglicemia detectada pela 1ª vez na gestação, não se considerando gravidade ou evolução, diagnosticado no fim do 2º ou início do 3º trimestre de gestação. Gestação normal caracteriza-se por hipoglicemia no jejum, decorrente da captação de glicose pela placenta, não insulino-dependente, e por hiperglicemia pós-prandial e intolerância aos carboidratos, resultado da ação diabetogênica dos hormônios placentários. O aumento na resistência insulínica permite maior oferta de glicose ao feto e coincide com o aumento da secreção de insulina para manter a homeostasia glicêmica. O aumento é exponencial durante o 2º trimestre e estabiliza no final do 3º trimestre. O DMG está associado a desfechos adversos maternos – aumento do risco de pré- eclâmpsia e hipertensão gestacional – e desfechos perinatais – crescimento fetal excessivo, distócia de ombro e trauma de parto. O DMG é um dos preditores de desenvolvimento futuro de DM II: 50% daquelas com DMG terão DM II em 10 anos. 2. Avaliação Pré-Concepcional em Mulheres com DM Objetiva reduzir a incidência de malformações fetais, abortamentos e mortalidade perinatal através do controle metabólico adequado. Estudos observacionais mostram risco aumentado de embriopatia diabética (anencefalia, microcefalia, cardiopatia congênita e regressão caudal) diretamente proporcional à elevação da hemoglobina glicada (HbA1c) nas 10 primeiras semanas de gestação. DPOC Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 2 2 www.sanarflix.com.br A recomendação é de otimizar o controle glicêmico antes da concepção, mantendo a HbA1c <6,5%, a qual associa-se ao menor risco de anomalia congênita. Métodos contraceptivos seguros devem ser empregados até que o controle glicêmico seja obtido. Automonitorização intensiva da glicose capilar (antes de cada refeição, 1-2h após as refeições e ao deitar-se) associada ao ajuste da dose de insulina é o método mais utilizado. 3. Avaliação das Complicações Crônicas e Morbidades Fundoscopia realizada por oftalmologista Avaliação da função tireoidiana, principalmente se DM I associado Eletrocardiografia em repouso e de esforço Avaliação da função renal com medida da creatinina Avaliação da pressão arterial Avaliação da imunidade contra rubéola, sífilis, toxoplasmose, hepatite, HIV Avaliação do tipo sanguínea e citopatologia do colo de útero Tabela 1: Avaliação das complicações crônicas do DM e morbidades associadas 4. Orientações Terapêuticas Perda de peso naquelas com IMC >27kg/m2 Estímulo à prática de exercício físico Aconselhamento sobre tabagismo (se pertinente) Substituição de antidiabéticos VO por insulina naquelas com DM II* Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 3 3 www.sanarflix.com.br Suspensão ou substituição dos medicamentos em uso** Prescrição de ácido fólico (5g/dia) por, no mínimo, um mês antes da concepção até 12 semanas de gestação Alvo para HbA1c <6,5%, desde que não acarrete hipoglicemia excessiva Tabela 2: Orientações terapêuticas para pacientes com risco para DMG ou com DM instalada. IMC: índice de massa corporal; VO: via oral; HbA1c: hemoglobina glicada. *Com exceção de metformina. **Estatinas, IECAs e BRAs estão contraindicados durante toda a gestação. β- bloqueadores e nifedipino podem ser mantidos. Metildopa é o anti-hipertensivo de escolha. 5. Classificação Etiológica do DM DM Tipo I Destruição das células β-pancreáticas levando à deficiência absoluta de insulina DM Tipo II Redução progressiva da secreção de insulina subjacente a um estado de resistência insulínica DM Gestacional DM diagnosticado no 2º ou 3º trimestre gestacional, sem critérios para DM fora da gestação *DM pré-gestacional determina risco aumentado de desfechos maternos adversos (agravamento de complicações crônicas do DM, desenvolvimento de doença hipertensiva da gestação) e perinatais (abortamento, mortalidade intrauterina, malformações congênitas, prematuridade, macrossomia e disfunção respiratória neonatal). *As taxas de mortalidade perinatal nas gestações com DM são 2-9x maiores que nas gestações sem DM. Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 4 4 www.sanarflix.com.br Outros tipos DM neonatal, MODY, fibrose cística (pâncreas), DM por fármacos etc. Tabela 3: Classificação etiológica da DM DM: diabetes mellitus; MODY: Maurity-onset diabetes of the young. 6. Pré-Diabetes Glicemia de Jejum Alterada Glicemia 100-125mg/dL Maior risco para desenvolvimento de DM ou DCV no futuro. Tolerância à Glicose Diminuída Glicemia 2h pós-TTOG entre 140-199mg/dL Tabela 4: Níveis de glicemia encontrados com pacientes pré-diabéticos. TTOG: teste de tolerância oral à glicose com 75g glicose; DCV: doença cardiovascular. 7. Critérios Diagnósticos Organização Glicemia de Jejum Sobrecarga Oral Glicemia 1ª Hora Glicemia 2ª Hora Glicemia 3ª Hora ACOG* ≥95mg/dL 100g-3h ≥180 ≥155 ≥140 IADPSG** OMS 2013 ADA 2014 FIGO 2015 ≥95mg/dL 75g-2h ≥180 ≥153 Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 5 5 www.sanarflix.com.br ADIPS** ≥92mg/dL 75g-2h ≥180 ≥180 CDA* ≥95mg/dL 75g-2h ≥191 ≥191 NICE** ≥5,6mmol/L 75g-2h ALAD** ≥100mg/dL 75g-2h Tabela 5: Critérios diagnósticos de DMG de acordo com diferentes organizações *≥2 valores são exigidos para o diagnóstico. **Um valor é suficiente para o diagnóstico. ACOG: American Congress of Obstetricians and Gynecologists; ADA: American Diabetes Association; ADIPS: Australasian Diabetes in Pregnancy Society; ALAD: Asociación Latinoamericana de Diabetes; CDA: Canadian Diabetes Association; FIGO: Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia; IADPSG: International Association of the Diabetes and Pregnancy Study Groups; NICE: National Institute for Health and Care Excellence; OMS: Organização Mundial da Saúde. A maior parte das entidades oficiais endossou as recomendações da International Association of the Diabetes and Pregnancy Study Groups (IADPSG) que preconiza: • Realizar medida de glicemia de jejum na 1ª consulta pré-natal para identificar DM preexistente. • Realizar TTOG 75g 2h entre a 24ª e 28ª semana com o objetivo de detectar DMG. Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 6 6 www.sanarflix.com.br Figura 1: Fluxograma para o diagnóstico de DMG. FONTE: Rotinas de Obstetrícia, 7ª Edição. 8. Tratamento Não-Farmacológico Envolve uma abordagem multifatorial: cuidados com alimentação, prática de atividade física, uso de medicamentos e monitorização metabólica e obstétrica continuadas. No que se refere à dieta, o cálculo do valor calórico e ganho de peso durante a gestação é feito com base no peso ideal pré-gestacional. Para o cálculo energético, recomenda-se o valor calórico prescrito para não gestantes acrescidos de 300-450kcal diárias no 3º trimestre – desde que não determine ganho excessivo de peso. A orientação nutricional é o 1º passo terapêutico. Dietas de baixo índice glicêmico foram efetivas na redução da necessidade de insulina em 23%. O valor calórico total da dieta e distribuído em 3 refeições e 2 a 3 lanches: o café da manhã deve conter 10% das necessidades calóricas; almoço e jantar 30% cada; lanches somados também 30%. A quantidade mínima de carboidratos recomendada na gestação éde 175g/dia. Dietas muito restritivas (<1500kcal/dia) podem induzir cetonemia e NÃO são recomendadas. Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 7 7 www.sanarflix.com.br A prática de exercício físico deve ser estimulada. Recomenda-se a realização de exercício de baixo impacto por 25-30min, até 4x/semana. No DMG, recomenda-se 15- 30min de atividade física diária, com automonitorização da atividade fetal e, idealmente, glicemia capilar antes e após a atividade. 9. Contraindicações à Prática de Exercício Físico na Gestação ABSOLUTAS RELATIVAS Ruptura prematura das membranas Aborto espontâneo prévio Trabalho de parto prematuro Parto pré-termo prévio Doença hipertensiva na gestação Doença cardiovascular leve/moderada Incompetência istmocervical Anemia (Hb <10) Restrição de crescimento fetal Doença respiratória leve/moderada Gestação múltipla (≥tripla) Desnutrição ou distúrbio alimentar Placenta prévia >28ª semana Gestação gemelar >28ª semana Sangramento persistente no 2º ou 3º trimestre DM I descompensado Doença tireoidiana, DCV, DR ou sistêmica grave Algumas modalidades de exercício* Tabela 6: Contraindicações absolutas e relativas à pratica de exercício físico durante o período gestacional. Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 8 8 www.sanarflix.com.br DM I: diabetes mellitus tipo I; DCV: doença cardiovascular; DR: doença respiratória; Hb: hemoglobina. *Mergulho com descompressão, exigência de equilíbrio e risco de queda ou trauma abdominal. 10. Tratamento Farmacológico O tratamento farmacológico PADRÃO para o DMG é a insulina. Mais recentemente, medicamentos VO têm sido empregados, como metformina e glibenclamida. Medicamentos Orais A metformina apresenta passagem placentária, mas NÃO há aumento no risco de malformações congênitas quando utilizada durante o 1º trimestre. Tem eficácia e segurança semelhantes às da insulina nos desfechos perinatais e neonatais, apesar de – frequentemente – ser necessária a suplementação insulínica para alcançar o controle glicêmico adequado. Os efeitos adversos principais incluem náuseas e desconforto gastrintestinal. A glibenclamida, utilizada a partir do 2º trimestre da gestação, mostrou pequena passagem placentária e eficácia semelhante à da insulina no controle glicêmico. Estudos, entretanto, sugerem que possa apresentar benefício inferior à insulina e à metformina, por aumentar o risco de macrossomia e hipoglicemia neonatal. O efeito adverso principal é a hipoglicemia. Insulinoterapia Considerado o tratamento PADRÃO na DMG pela eficácia e segurança: o elevado peso molecular da insulina impede a passagem placentária em quantidades significativas. Indicado nas gestantes que não atingem as metas de controle glicêmico por provável falha do tratamento VO – glicemia de jejum >140mg/dL ou TTOG 2h >200g/dL. Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 9 9 www.sanarflix.com.br A dose e tipo dependem do padrão da hiperglicemia: (1) se há predomínio de hiperglicemia de jejum, indica-se insulina de longa ação (NPH), dose de 0,2UI/kg; (2) se há predomínio de hiperglicemia pós-prandial, insulina rápida ou ultrarrápida – iniciar com 1,5UI por 10g de carboidrato no café da manhã e 1UI por 10g de carboidrato no almoço e jantar; contudo, se houver (3) predomínio de hiperglicemia pré e pós-prandial o tratamento é intensivo, com 4 doses diárias de insulina - dose inicial de 0,7UI/kg com aumento progressivo até o controle. Gestantes obesas ou próximas do termo podem necessitar de até 2UI/kg. Administrar 50-60% da dose diária como insulina NPH e 40-50% como insulina rápida. O ajuste das doses deve ter como base a monitorização da glicemia capilar diária. Durante a gravidez, doses insulínicas crescentes são necessárias, especialmente a partir do fim do 2º trimestre, com estabilização ao fim do 3º trimestre. A complicação mais comum é a hipoglicemia. Não há relatos associando hipoglicemia materna (mesmo os episódios graves) a efeitos adversos no feto. INSULINA INÍCIO DA AÇÃO PICO DA AÇÃO DURAÇÃO DA AÇÃO POSOLOGIA Ultrarrápidas* Lispro <5-15min 30-90min 4-5 horas Logo antes ou logo após as refeições Asparte 4-6 horas Glulisina 3-4 horas Rápida Regular 30-60min 2-3 horas 5-8 horas 30min antes das refeições Intermediária Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 10 10 www.sanarflix.com.br NPH 2-4 horas 4-10 horas 10-18 horas Doses fracionadas Ultralentas** Glargina 2-4 horas Sem pico 20-24 horas Conforme o perfil Detemir 1-3 horas 18-22 horas Degludeca 2 horas 25-42 horas Tabela 7: Tipos, atuação e indicação das insulinas. *Lispro e asparte mostraram eficácia semelhante no controle glicêmica à insulina regular. **Glargina, degludeca e glulisina não foram avaliadas e ensaios clínicos randomizados em gestantes. 11. Manejo da Hipoglicemia Glicose capilar <60mg/dL ou 70mg/dL com sintomas. Se consciente: 1 copo de suco de laranja (10-15g de carboidrato de absorção rápida) é suficiente*. Se inconsciente: glucagon subcutâneo ou glicose hipertônica (se em ambiente hospitalar). Tabela 8: Manejo da hipoglicemia em ambiente domiciliar e/ou hospitalar *Resolvido o episódio agudo → ingerir alimentos com mais carboidratos de absorção lenta → prevenir recorrência. Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 11 11 www.sanarflix.com.br 12. Acompanhamento Pré-Natal A avaliação da glicemia de jejum isolada NÃO é capaz de detectar gestantes com controle inadequado. Controle pós-prandial somado à glicemia de jejum mostrou-se mais eficaz em reduzir as taxas de cesariana, macrossomia e hipoglicemia neonatal quando comparada a monitorização isolada da glicemia de jejum. Idealmente, a monitorização deve ser diária. Na impossibilidade de automonitorização domiciliar, medidas seriadas semanais da glicose capilar (pré e pós- prandiais) em regime semelhante a hospital-dia devem ser aplicadas. O intervalo entre os perfis glicêmicos é definido pelo controle: a cada 2 semanas (se controle adequado) ou semanalmente (se ajustes forem necessários). As variações fisiológicas da hemoglobina na gravidez parecem comprometer o desempenho da HbA1c como instrumento principal de monitorização metabólica. Medida rotineira da cetonúria é útil na monitorização de gestantes com dietas restritivas em carboidratos. Em geral, a cetonúria em resposta ao jejum prolongado e/ou à restrição de carboidratos é leve e não indica modificação no tratamento. Por outro lado, gestantes com glicemias >240 mg/dL, sintomas de DM descompensado, intercorrência com doença grave durante a gestação ou perda de peso devem avaliar a cetonúria para a detecção precoce de cetoacidose diabética. Quando um ou mais valores de glicemia capilar estiverem além dos alvos terapêuticos após 2 semanas de tratamento não farmacológico ou quando a avaliação ultrassonográfica mostrar sinais de crescimento fetal excessivo, inicia-se o tratamento farmacológico. Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 12 12 www.sanarflix.com.br 13. Alvos Glicêmicos para o DM na Gestação Instituição Jejum Pré-prandial 1h Pós-prandial 2h Pós-prandial ADA 95mg/dL - 140mg/dL 120mg/dL ACOG 90mg/dL 105mg/dL 130-140mg/dL 120mg/dL NICE 95mg/dL - 140mg/dL 120mg/dL FIGO 95mg/dL - 140mg/dL 120mg/dL Tabela 9: Alvos glicêmicos para a DMG nos diferentes momentos de acordo com as diferentes associações ADA: American Diabetes Association; ACOG: American Congress of Obstetricians and Gynecologists; NICE: National Institute for Health and Care Excellence; FIGO: Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia. 14. Tratamento Modulado pelo Crescimento Fetal O crescimento fetal acompanhado por ultrassonografia (USG) seriada pode servir como orientação da necessidade de controle mais estrito das glicemias. Asmedidas fetais por USG a partir da 26ª a 28ª semana, especificamente a circunferência abdominal (CA), permitem identificar a resposta fetal ao controle metabólico materno. Medida de CA fetal >percentil 75 para a idade gestacional (IG) pode indicar hiperinsulinismo fetal. O controle glicêmico materno mais estrito – glicemia de jejum de 80mg/dL e 2h pós- prandial de 100mg/dL em gestantes com fetos de crescimento excessivo (≥percentil 75) – e controle mais flexível – glicemia de jejum de 100mg/dL e 2h pós-prandial de 140mg/dL em fetos com crescimento >percentil 25 e <percentil 75 – reduziu a incidência de macrossomia, de recém-nascidos grandes para IG (GIG) e também pequenos para IG (PIG). Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 13 13 www.sanarflix.com.br A ecocardiografia (ECC) fetal é solicitada para as gestantes com DM em torno da 26ª semana objetivando o diagnóstico específico de malformações cardíacas (mais frequentes na gestação diabética) e de hipertrofia septal, um dos indicadores indiretos de hiperinsulinismo fetal. O rastreamento para doença hipertensiva da gestação com a medida da pressão arterial (PA) é realizado a cada consulta pré-natal, pois, mesmo no DM leve (sem hiperglicemia de jejum) há aumento de risco de pré-eclâmpsia. O rastreamento trimestral de bacteriúria assintomática é recomendado, visto que infecção urinária e pielonefrite são as causas mais comuns de descompensação metabólica e de cetoacidose na gestação com DM I. Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 14 14 www.sanarflix.com.br Figura 2: Fluxograma de acompanhamento obstétrico. FONTE: Retirado de Rotinas de Obstetrícia, 7ª Edição. CTG: cardiotocografia; MAP: monitorização anteparto; PA: pressão arterial; PBF: perfil biofísico fetal; US: ultrassonografia. 15. Avaliação da Vitalidade Fetal As gestantes são orientadas a observar a movimentação fetal a partir da 28ª semana de gestação e a buscar atendimento obstétrico caso haja movimentação fetal reduzida ou ausente. Após 32 semanas, sugere-se avaliação da vitalidade fetal semanal, que deve ser antecipada na presença de comorbidade. Nas gestantes com bom controle glicêmico, Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 15 15 www.sanarflix.com.br em tratamento não farmacológico e sem comorbidades, a avaliação de vitalidade fetal não é necessária até o termo. Não há procedimento de avaliação de vitalidade fetal específico para a gestação com DM. A cardiotocografia/monitorização eletrônica anteparto (CTG/MAP) e o perfil biofísico fetal (PBF) são os instrumentos mais utilizados para avaliação da condição fetal, apesar dos baixos valores preditivos positivos de ambos. 16. Condições Associadadas à Gestação com DM A hipótese de Peterson e Jovanovic-Peterson estabelece uma associação entre glicose materna e adiposidade fetal, gradiente-dependente, com evidências de que a insulina fetal seja a mediadora dessa relação. O hiperinsulinismo fetal secundário à hiperglicemia materna pode estar implicado no retardo da produção do surfactante pulmonar e na hipoxemia fetal crônica, mesmo na ausência de vasculopatia materna. A produção fetal de surfactante pulmonar parece estar associada ao controle glicêmico materno: quanto maior e mais persistente a descompensação metabólica, maior o retardo. A aplicação de corticoide provoca descompensação glicêmica, a qual pode ser grave. É necessário controle metabólico intensivo com medicação hospitalar. O algoritmo adaptado de Kaushal é utilizado para manter controle intensivo das glicemias capilares até o retorno aos níveis de glicose prévios à corticoterapia, através de infusão contínua de insulina suplementar. O uso da bomba de infusão deve ser mantido enquanto for necessário suplementar a insulina (HGTs fora do alvo) ou até, pelo menos, 12h após a última dose da administração do corticoide. Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 16 16 www.sanarflix.com.br Normalização das glicemias maternas é o fator isolado mais importante na prevenção do hiperinsulinismo fetal. Bomba de Infusão Contínua de Insulina Suplementar – Algoritmo de Kaushal HGT Dose de Insulina/dia <40UI 40-80UI 81-120UI >120UI <108 Interromper temporariamente Interromper temporariamente Interromper temporariamente Interromper temporariamente 109- 126 5mL/h 10mL/h 20mL/h 30mL/h 127- 144 10mL/h 20mL/h 30mL/h 50mL/h 145- 162 15mL/h 30mL/h 40mL/h 70mL/h 163- 180 20mL/h 40mL/h 60mL/h 100mL/h >180 30mL/h 60mL/h 80mL/h 130mL/h Tabela 10: Prescrição das doses de insulina suplementar diárias de acordo com os valores de HGT (Algoritmo de Kaushal) HGT: Hemoglicoteste (glicemia capilar). 17. Momento e Via do Parto Uma publicação oficial da FIGO (2015) recomenda que o peso fetal seja estimado ao redor das 38 semanas: Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 17 17 www.sanarflix.com.br (1) mulheres sem complicações do DM e com peso fetal estimado (PFE) <3800g podem aguardar até 40-41 semanas; (2) mulheres com PFE entre 3800-4000g são candidatas à indução eletiva do parto na ausência de contraindicação obstétrica; (3) aquelas com PFE >4000 g devem ser esclarecidas sobre os riscos da macrossomia fetal, e deve-se oferecer a opção de cesariana eletiva. As recomendações oficiais do NICE indicam interrupção da gestação ao redor das 38 semanas naquelas com DM prévio à gestação. Mulheres com DMG, na ausência de complicações, podem evoluir até 41 semanas. A interrupção eletiva da gestação antes de 38 semanas em mulheres com DM mal compensado deve ser antecedida de avaliação da maturidade pulmonar fetal por amniocentese. 18. Interrupção da Gestação <37 Semanas Corticoterapia antenatal + infusão contínua de insulina por bomba >37 Semanas Não há indicação precisa de determinação de maturidade pulmonar fetal >37 e <38 semanas Se mau controle metabólico → possível amniocentese para determinar MPF >38-40 semanas Interrupção eletiva da gestação por indução do parto ou cesárea* Tabela 11: Condutas relacionadas a interrupção da gestação MPF: maturidade pulmonar fetal. *Avaliar o risco de distócia se peso fetal estimado >4000g Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 18 18 www.sanarflix.com.br 19. Manejo do Trabalho de Parto Hiperglicemia materna durante o parto está associada à hipoglicemia neonatal. O consenso é empregar insulina de curta ação e monitorizar a glicemia capilar a cada 1- 2h, objetivando valores entre 72-126mg/dL. Aqueles <70mg/dL indicam infusão de solução glicosada 5%, e aqueles >120mg/dL indicam aplicação de insulina de ação rápida. Na interrupção por cesárea programada pela manhã, o jejum fisiológico do sono é aproveitado, não se aplica insulina e controla-se a glicemia capilar durante o procedimento. Mulheres com DMG compensado apenas com dieta não precisam de cuidado adicional. Nas situações de trabalho de parto espontâneo em que a gestante já tenha aplicado insulina, a monitorização da glicemia capilar determina a conduta: se <100mg/dL, manter solução glicosada; se >120mg/dL pode-se iniciar infusão contínua ou suplementar com insulina regular a cada hora (se >140mg/dL). No puerpério imediato de mulheres com DM pré-gestacional, mantém-se controle da glicemia capilar a cada 2-4h associado à infusão de soro glicosado 5% para aporte calórico. Insulina de ação rápida deverá ser administrada caso a glicemia capilar ultrapasse 200mg/dL. Mulheres com DM prévio habitualmente não necessitam de insulina nas primeiras 24h, retornando às doses praticadas antes da gestação. Assim que a via oral estiver restabelecida, o controle das glicemias e os ajustes de doses de insulina serão feitos conforme os protocolos para adultos fora da gravidez. Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 19 19 www.sanarflix.com.brFigura 3: Recomendações para uso de bomba de insulina para infusão contínuas. FONTE: Rotinas em Obstetrícia, 7ª Edição. 20. Manejo no Pós-Parto Todas aquelas com diagnóstico de DMG devem ser reavaliadas no puerpério para a reclassificação da condição metabólica. O TTOG com 75g de glicose deve ser realizado 6 a 8 semanas após o parto. Glibenclamida não foi detectada no leite materno e as glicemias dos bebês foram normais, sugerindo que o fármaco seja seguro e compatível com aleitamento, apesar do risco teórico de hipoglicemia no recém-nascido. Metformina é excretada no leite em quantidade <1% da dose materna ajustada pelo peso. Apesar disso, não é recomendada na lactação por alguns autores. No entanto, o guia de referência sobre fármacos na gestação e na lactação relata que esta excreção ocorre em doses compatíveis com a lactação. Clorpropamida e a tolbutamida são excretadas no leite e potencialmente tóxicas para o bebê. Repaglinida pode provocar anormalidades esqueléticas no recém-nascido. Fármacos para o tratamento de complicações do DM que foram suspensos no aconselhamento pré-concepcional ou na gestação, por razões de segurança, NÃO devem ser retomados durante a lactação. Enalapril e nifedipino são considerados Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 20 20 www.sanarflix.com.br compatíveis com a lactação pela American Academy of Pediatrics (AAP) apesar da ausência de evidências robustas. Bloqueadores dos receptores da angiotensina NÃO são considerados compatíveis com aleitamento. Referências Bibliográficas 1. OPPERMANN, Maria Lúcia da Rocha; GENRO, Vanessa K.; REICHELT, Angela Jacob. Diabetes Melito e Gestação. In: MARTINS-COSTA, Sérgio H. et al. Rotinas em Obstetrícia. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Cap. 36. p. 1050-1085. Resumo de Diabetes Mellitus Gestacional 21 21 www.sanarflix.com.br
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