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1 SANDRA DOBJENSKI – CRIMINALISTA AULA 03 CRIMES CONTRA A PESSOA LESÃO CORPORAL LEVE São os atos agressivos de provocação praticados contra alguém, mas que não deixam marcas ou sequelas no corpo da vítima. Por exemplo: digamos que uma pessoa apanhou bastante, mas os danos foram pequenos, como alguns hematomas que podem sumir em alguns dias. Nesse caso, a lesão corporal se enquadra como nível leve. Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. • Crime comum (via de regra) – qualquer pessoa pode ser sujeito ativo ou passivo da conduta • Elemento subjetivo - Dolo ou culpa • Bem jurídico: integridade física ou saúde • Lesões leves – competência – JECRIM – consideradas de menor potencial ofensivo (crimes com detenção inferior a 2 anos) • Lesões graves ou gravíssimas – competência da justiça comum 2 • No âmbito da Lei Maria da Penha – no caso de violência doméstica não estão sujeitas ao JECRIM mesmo quando se tratarem de lesões corporais leves – competência da Justiça comum. Lesão Leve Residual: Todas as lesões que não se enquadrarem nas demais categorias Lesão grave Art. 129, § 1º Lesão gravíssima Art. 129, § 2º Lesão seguida de morte Art. 129, § 3º Lesão culposa Art. 129, § 6º LESÃO CORPORAL GRAVE Art. 129, § 1º Se resulta: (a lesão) I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; incapacidade para atividades corriqueiras II - perigo de vida; perigo deve ser concreto – deve haver um exame de corpo de delito III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; debilidade de duração longa, não necessariamente irreversível IV - aceleração de parto: não se fala necessariamente em aborto – se se falar de abortamento = lesão corporal gravíssima Pena - reclusão, de um a cinco anos. Qualificadores de lesão corporal – causam um aumento da pena A lesão corporal de natureza grave, como o nome diz, é causada em um contexto onde a outra pessoa tem sequelas que perduram mais de 30 dias. Ou seja, quando há perda da sensibilidade de um membro, de algum sentido ou função do corpo ou quando há aceleração do parto. Lesão corporal grave: exemplos são ações que deixe a vítima incapacitada de realizar tarefas domésticas, de lazer ou de trabalho por mais de 30 dias ou que gerem risco de vida. Também que cause debilidade permanente de membros, olfato ou sentido do corpo, como visão, paladar, respiração, digestão ou locomoção. Debilidade = lesão corporal grave 3 Deformidade – via de regra é permanente – ideia da lesão corporal de natureza gravíssima. LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA A lesão corporal gravíssima acontece quando a outra pessoa perde a capacidade para o trabalho. As agressões foram tão fortes que o outro ficou incapaz de exercer seu trabalho de forma permanente e não só por 30 dias. Ela se configura também quando ocorre alguma enfermidade incurável. Sujeito tem a intenção o objetivo de causar um dano, uma lesão corporal, mas que por motivos alheios a sua vontade, surge dessa intenção de dano, um resultado mais grave do que ele pretendia, um dano de maior extensão, de maior risco para o sujeito doque o sujeito ativo pretendia. Construção doutrinária. Ex.: a pessoa sofreu um ataque tão grande à sua saúde que lhe trouxe uma doença sem cura. Outro exemplo de lesão corporal gravíssima se dá quando a pessoa agredida perde a função de um membro de forma permanente. Por exemplo, amputar dedos, mãos, pernas etc. Art. 129, § 2° Se resulta: (a lesão) I - Incapacidade permanente para o trabalho; doutrina majoritária compreende que essa incapacidade se caracteriza sempre que houver incapacidade para qualquer atividade laboral. Já o posicionamento minoritário acredita que a incapacidade tem que estar relacionada a atividade exercida pelo sujeito anteriormente a lesão. II - enfermidade incurável; situação que o sujeito adquire ou a ele é repassado devido a lesão, que ele jamais conseguirá se curar, não existe comportamento cientificamente comprovado. III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; Ex.: Paulo levou uma facada no abdômen e por consequência deste ato seu intestino ficou completamente comprometido, tendo que ter sido removido, passando ele a utilizar a bolsa de colostomia. IV - deformidade permanente; V - aborto: sujeito não tinha a intenção de praticar o aborto, mas somente de lesionar a vítima Pena - reclusão, de dois a oito anos. Permanente, incurável, perda, aborto (lesão corporal gravíssima) X debilidade, perigo, incapacidade (lesão corporal grave) 4 Julgado – A deformidade permanente prevista no Art. 129, § 2º, IV, do CP é, segundo a doutrina, aquela irreparável, indelével. Assim, a perda de dois dentes, muito embora possa reduzir a capacidade funcional da mastigação, não enseja a deformidade permanente prevista no referido tipo penal, (...), mas sim, a debilidade permanente de membro, sentido ou função, prevista no Art. 129, § 1º, III do CP. Cirurgia plástica – Informativo 562 STJ – Sexta turma - DIREITO PENAL. CRIME DE LESÃO CORPORAL QUALIFICADO PELA DEFORMIDADE PERMANENTE. A qualificadora "deformidade permanente" do crime de lesão corporal (art. 129, § 2º, IV, do CP) não é afastada por posterior cirurgia estética reparadora que elimine ou minimize a deformidade na vítima. Isso porque, o fato criminoso é valorado no momento de sua consumação, não o afetando providências posteriores, notadamente quando não usuais (pelo risco ou pelo custo, como cirurgia plástica ou de tratamentos prolongados, dolorosos ou geradores do risco de vida) e promovidas a critério exclusivo da vítima. HC 306.677-RJ, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ-SP), Rel. para acórdão Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/5/2015, DJe 28/5/2015. O fato de a vítima ter realizado uma cirurgia reparadora não afasta a qualificadora de lesão corporal gravíssima. EXAME DE CORPO DE DELITO Nos crimes que deixam vestígio é necessário o exame de corpo de delito. Art. 158 CPP. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva: (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018) I - violência doméstica e familiar contra mulher; (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018) II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência. (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018) LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE E CAUSAS DE AUMENTO, DIMINUIÇÃO E SUBSTITUIÇÃO DE PENA A lesão corporal seguida de morte é um crime que une as condutas descritas em dois crimes: a lesão corporal (dolosa) e o homicídio culposo. O suspeito quer machucar, e machuca tanto que, sem querer, acaba matando. Art. 129, § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: 5 Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Sujeito tinha a intenção de lesionar a vítima e por circunstâncias alheias a sua intenção a vítima acaba vindo a óbito. Já no crime de homicídio culposo não havia a intenção de causar nenhum tipo de dano a vítima – acontecendo o resultado morte por imprudência, imperícia ou negligência. • Crime de lesão corporal seguido de morte é um crime preterdoloso – há um dolo na ação antecedente (lesionar) e a culpa na ação seguinte (resultado morte) • Se a morte não era previsível – o agente não responderá por esta nem a título de culpa – para que o sujeito responda pela lesão corporal seguida de morte o resultado tem que ser previsível pelo homem médio (pessoa razoavelmenteprudente). Veda-se no sistema brasileiro a existência de um nexo de causalidade entre as condutas. Não ocorre a responsabilização objetiva do sujeito. Ex.: Paulo tem uma encrenca com Carlos e acaba deferindo um soco, e do jeito que ele bate na vítima, inexplicavelmente gerou uma concussão, derrame, uma situação em que a vítima veio a falecer. • Se houver caracterizado o dolo do agente – este responderá por homicídio. • Previsibilidade de culpa • Intenção de matar a vítima – homicídio e não lesão corporal seguida de morte. CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DE PENA Art. 129, § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. SUBSTITUIÇÃO DA PENA Art. 129, § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas. (ambas as partes se lesionam) 6 OBS.: Em caso de violência doméstica (Lei Maria da Penha) não cabe substituição de pena – conforme dispõe o Art. 17 da referida lei, e estará presente a qualificadora da violência doméstica, não cabendo a tipificação de lesão leve. AUMENTO DE PENA Art. 129, § 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012) • Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício. • Se o agente deixa de prestar imediato socorro a vítima. • Se o agente não procura diminuir as consequências do seu ato. • Se o agente foge para evitar a prisão em flagrante. • Sendo dolosa a lesão, a pena é aumentada se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos. • Se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. LESÃO CORPORAL CULPOSA E LESÃO CORPORAL QUALIFICADA POR VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – UM ESTUDO Não há a intenção de causar o dano ao sujeito = lesão culposa. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12720.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12720.htm#art3 7 Condenação – Lesão corporal qualificada - Art. 129, § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) José foi condenado por ter atingido a sua avó – a pena foi suspensa – por ser lesão de natureza leve – por período de 2 anos – dentre as condições foi fixado que José não poderia se ausentar da comarca e que ele tinha que comparecer pessoalmente em um determinado período perante as autoridades. José não concordando com a condenação pediu a desclassificação da lesão qualificada pela violência doméstica para uma lesão corporal culposa. Apelação • Legítima defesa – absolvição (não procedente) • Desclassificação do delito para lesão corporal culposa, eis que não tinha a intenção de ferir a vítima Cenaura, mas apenas tirar a barreira que existia entre ele e Cícero (alternativamente) Lesão corporal culposa Art. 129, § 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena - detenção, de dois meses a um ano. PERDÃO JUDICIAL 8 É a "faculdade concedida ao juiz de, comprovada a prática de uma infração penal, deixar de aplicar a pena imposta pela lei em face de justificadas circunstâncias excepcionais". Segundo parte da doutrina, trata-se de direito público subjetivo de liberdade. O perdão judicial nos casos de homicídio culposo (121, §5º, CP) consiste em causa extintiva de punibilidade, sendo utilizado nas hipóteses em que “as consequências da infração atingem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária”. Vínculo afetivo é requisito para concessão de perdão judicial, decide STJ. Para a concessão de perdão judicial, em caso de crime de trânsito, é necessário que haja uma prévia relação de intimidade entre os envolvidos no acidente. Em regra, o Direito Penal brasileiro prevê o perdão judicial para crimes culposos - exemplos: homicídio culposo, lesão corporal culposa e receptação culposa. Entretanto, também é possível o perdão judicial em crimes dolosos. Art. 129, § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990) Art. 121, § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER • Violência contra a mulher encarcerada • O encarceramento feminino aumentou quase 700% entre os anos de 2000 e 2016. • 2018 – 42 mil presas • Padrão representado pelas internas: 1. Afrodescendência 2. Submissão as formas de violência (sexual, física ou psicológica) 3. Desestrutura familiar 4. Baixo nível de escolaridade 5. Prisão pelo crime de tráfico de drogas • Condições carcerárias • Visita 9 • Maternidade • Gestantes
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