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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS DA VIDA CURSO DE MEDICINA Disciplina: Alterações Genéticas e Distúrbios do Ciclo Celular Aluna: Yahanna da Costa Anacleto Estrela TRABALHO AVALIATIVO: RELATO DE CASO 02 – C 1. Fisiopatologia da doença: como a alteração genética leva ao fenótipo observado. A Síndrome de Wolf-Hirschhorn é causada pela deleção na região distal do braço curto do cromossomo 4, mais especificamente a região 4p16.3, incluindo os genes LETM1 e WHSC1, WHSC2, MSX1. Aproximadamente 55% dos indivíduos com WHS exibem a exclusão de 4p16.3 e aproximadamente 40-45% são translocações desequilibradas, acompanhada de trissomia parcial de alguma outra região cromossômica, sendo mais comuns as translocações entre os cromossomos 4 e 8. Rearranjos genômicos complexos, como o cromossomo anel 4, também podem estar presentes em um número menor de casos. Devido ao tamanho variável na extensão das deleções de 4p16.3, o fenótipo dos afetados apresenta ampla variabilidade, dificultando em algumas situações o diagnóstico clínico. A região excluída necessária para expressar o fenótipo SWH foi relatada para abranger duas regiões críticas adjacentes. A primeira região descrita como a região crítica WHS (WHSCR) abrange um tamanho de intervalo de 165 kb em 4p16.3. Dois genes estão presentes nesta região, a parte proximal do WHSC1 e o fator de alongamento negativo membro complexo A (NELFA) ou gene WHSC2. WHSC1 está envolvido no controle da expressão de vários genes e que interage com o fator de transcrição cardíaco NKX2.5. O gene NELFA altera a expressão dos genes-alvo, participando na regulação do alongamento da transcrição de polimerase II do RNA, atrasando a passagem da fase-S para fase-M e alterando a montagem da cromatina.. A segunda região é o WHSCR2, que engloba o gene de proteína transmembrana contendo zíper leucina-EF (LETM), que origina uma proteína envolvida na homeostasia do cálcio cuja deleção levaria a convulsões, e o final de 5′ de WHSC1, o qual também origina uma enzima de remodelação da cromatina cuja deleção estaria envolvida no desenvolvimento da face característica da WHS. Em geral, ambas as regiões 1 e 2 sobrepõem-se, sendo que todos os pacientes com WHS são portadores de deleções no gene WHSC1. Fonte: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/180605/001070340.pdf?sequence=1 O gene FGFRL1 foi associado à WHS, sugerindo que as características craniofaciais desta condição são devidas à haploinsuficiência de mais de um gene. O receptor semelhante do fator de crescimento de fibroblastos FGFRL1 mostra a expressão particularmente pronunciada nos primórdios dos ossos e nos tecidos cartilaginosos permanentes da traqueia e do nariz. Embora o músculo da língua e do diafragma expressem FGFRL1 em quantidades relativamente elevadas, no coração, músculo esquelético, cérebro, pulmão, rim, fígado e intestino a expressão deste gene ocorre em taxas basais. Sugere-se que a deleção clássica levaria a uma dismorfia facial mais leve, enquanto que a deleção de ambos os genes, WHSC1 e FGFRL1 resultaria na apresentação completa das características faciais esperadas nesta síndrome. A deleção do gene C4orf48 estaria associada aos aspectos neuronais da WHS. Embora o domínio funcional deste gene seja desconhecido, seu padrão de expressão sugere um potencial papel na formação de estruturas cerebrais e cerebelares humana, bem como uma função associada à plasticidade de neurônios no cérebro adulto. O gene TACC3 também têm sido relacionado à neurogênese, embora sua função seja ainda desconhecida. Entretanto, sugere-se que esteja envolvido no crescimento e na diferenciação celular. O gene TACC3 estaria envolvido na regulação da dinâmica dos microtúbulos durante a divisão celular. A superexpressão deste em células HeLa resulta em microtúbulos parcialmente desestabilizados levando a defeitos no pareamento cromossômico e no bloqueio do processo mitótico. Tem sido ressaltada a importância da dinâmica dos microtúbulos durante a formação do fuso mitótico para a neurogênese adequada no córtex cerebral. Entretanto, a representação clínica de pacientes com duplicação desta região não é bem entendida. Há evidências de que a proteína expressa por NELF-A, localizado na SRO proposta por este estudo, é necessária para o recrutamento da proteína de ligação de stem- loop (SLBP), na qual regula a síntese de histonas durante a fase S. Portanto, a haploinsuficiência de NELF-A e/ou SLBP pode afetar a progressão do ciclo celular, a replicação do DNA e a montagem da cromatina. Curiosamente, NELF-A está localizado em WHSCR1 e SLBP em WHSCR2, sugerindo uma contribuição independente de ambos os genes, quando excluídos, na patogênese WHS. NAT8L (N-acetiltransferase 8 like) ou CML3, contém uma sequência conservada da superfamília GCN5 ou NAT (N-acetiltransferases). Esta proteína é uma proteína específica para neurónios e é a enzima biossintética de N-acetilaspartato (NAA), catalisando a síntese de NAA a partir de L-aspartato e acetil-CoA. A NAA é uma importante forma de armazenamento e transporte de acetil coenzima A específica para o sistema nervoso. A mutação genética resulta na deficiência de NAA primária (hipoacetilaspartia) O fenótipo observado em indivíduos portadores da WHS mostra o caráter multigênico da condição evidenciando que a haploinsuficiência de genes contíguos está associada com as principais manifestações clínicas da síndrome. As deleções envolvendo a região 4p16.3 apresentaram extensão variável, desde 3,7 Mb a 26 Mb. A determinação da região cromossômica de sobreposição comum (SRO) permitiu a identificação desses genes candidatos. Deleções superiores a 3 Mb parecem estar associadas a um maior risco de defeitos cardíacos e fenda palatina. Deleções cromossômicas maiores de 10Mb, abrangendo a região 4p15.33-16.3 foram descritas em pacientes com atraso de crescimento, características faciais, hipotonia, microcefalia e deficiência intelectual. 2. Epidemiologia: incidência da doença no Brasil e no mundo, quando existirem dados disponíveis. A SWH possui incidência rara, ocorrendo 1 em cada 50.000 nascidos vivos. Além disso, há uma frequência maior em mulheres do que homens, tendo uma proporção de 2 mulheres para cada homem (2:1). Dados de 2008 mostram que mais de 120 casos foram notificados desde a primeira descrição clínica. A maioria dos fetos ou bebês com síndrome de Wolf-Hirschhorn morre antes do nascimento ou antes do primeiro ano de vida, pois as complicações médicas associadas a essa condição podem se tornar muito graves. 3. Patologias relacionadas à doença: outras doenças que são comumente associadas a causa genética principal da doença. 1) Defeitos cardíacos: a. Defeito do septo atrial b. Defeito do septo ventricular c. Insuficiência aórtica d. Persistência do ducto arterial e. Estenose pulmonar 2) Defeitos auditivos e oculares: a. Alterações na condução auditiva atribuíveis à otite média repetida b. Alterações oculares tais como: blefaroptose, Coloboma da íris, estrabismo divergente, estenose lacrimal, fissuras palpebrais antimongolóides. 3) Anormalidades esqueléticas: a. Clinodactilia, escoliose, cifose, idade óssea retardada, crista ilíaca pequena, coxa valga, subluxação dupla da primeira falange, ausência de núcleos de ossificação, ausência de ossificação do osso púbico. 4) Microcefalia. 5) Outros distúrbios neurológicos: a. Epilepsia, afinamento do corpo caloso, diminuição no volume da matéria branca, hipoplasia/agenesia dos lobos posteriores de ambos os hemisférios cerebelares, giroscópio hipoplásico. 6) Defeitos no trato geniturinário: a. Uropatia obstrutiva, infecções crônicas do trato urinário, refluxo vesicouretral, hipospadia, agenesia renal, criptorquismo, hérnia inguinal.7) Imunodeficiência: a. Deficiência de anticorpos IgA e IgG. 4. Sinais e sintomas. Os achados clínicos comumente identificados nos indivíduos com SWH, são hipotonia, dimorfismo facial: “capacete grego”, retardo no crescimento intrauterino e pós natal, déficit neurológico, hipertelorismo ocular, orelhas displásicas de implantação baixa, boca de carpa, testa alta com glabela proeminente, ponte larga do nariz contínua com a testa, sobrancelhas muito arqueadas, fissura palpebral obliqua, fenda palatina, aumento da distância entre os mamilos, implantação anormal do polegar, pele avermelhada, pés tortos, nos homens: hipospadia e criptoquidia. 5. Tratamento da patologia. Sendo uma doença genética, a síndrome de Wolf-Hirschhorn não tem cura, pois suas causas estão profundamente enraizadas nas informações genômicas disponíveis em cada célula. Assim, o tipo de intervenções médicas e psicoeducacionais visa aliviar os sintomas da patologia e favorecer a autonomia dessas pessoas. O tratamento inclui reabilitação, terapia da fala, comunicação e linguagem de sinais. Ácido valpróico para convulsões e técnicas especiais de alimentação como gastrostomia. Tratamento padrão preventivo, como acompanhamento frequente para anomalias esqueléticas, oftalmológicas, defeitos cardíacos congênitos, perda auditiva, distúrbios do sono e adenomas hepáticos também são recomendados. Além disso, é feita a prevenção de complicações secundárias com o uso de antibiótico para refluxo vesicoureteral, antibióticos contínuos para os casos com deficiências de anticorpos e acompanhamento sistemático para monitorar a reabilitação, hemograma completo anual, teste da função renal e ultrassonografia hepática de rotina. As convulsões são tratadas com Drogas Antiepilépticas Convencionais (AEDs), considerando o tipo de convulsão para escolher o AED mais adequado. As dificuldades alimentares podem ser tratadas com terapia alimentar e medidas anti-refluxo nos casos mais leves, até gastrostomia ou aplicação de fundo gastroesofágico na mais grave. Deve- se ainda fazer acompanhamento com médicos geneticista pois os pais devem ter uma sessão de aconselhamento genético. A expectativa de vida é curta, tendo em vista as complicações cardiorrespiratórias. REFERÊNCIAS MEDINA R,et al . Síndrome de Wolf-Hirschhorn: Reporte de un caso clínico y revisión de la literatura. Archivos Venezolanos de Puericultura y Pediatría [Internet]. 2008 Sep 1 [cited 2022 May 27];71(3):91–5. Available from: http://ve.scielo.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-06492008000300006 Cytogenomic Integrative Network Analysis of the Critical Region Associated with Wolf-Hirschhorn Syndrome By Thiago Corrêa, Rafaella Mergener, Júlio César Loguercio Leite, Marcial Francis Galera, Lilia Maria de Azevedo Moreira, José Eduardo Vargas, Mariluce Riegel Year: 2018 Container: BioMed Research International Volume: 2018 Page: e5436187 DOI: 10.1155/2018/5436187 URL: https://www.hindawi.com/journals/bmri/2018/5436187/ MOTOI , et al. Wolf-Hirschhorn (4p-) syndrome with West syndrome. Epilepsy & Behavior Case Reports [Internet]. 2016;6:39–41. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27504263/ DUARTE RCB,et al. Síndrome de Wolf-Hirschhorn (deleção do braço curto do cromossomo 4p): Relato de caso. Revista Paraense de Medicina [Internet]. 2007 Sep 1 [cited 2022 May 27];21(3):53–7. Available from: http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-59072007000300009