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_______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 1 TEORIA DE ANÁLISE DE IMAGENS http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 2 SUMÁRIO TEORIA DE ANÁLISE DE IMAGENS ........................................................................................ 1 A Semiótica das Imagens ............................................................................................................. 3 LEITURA DE IMAGEM ................................................................................................................. 8 Semiótica ........................................................................................................................................ 9 Semiótica Peirceana ................................................................................................................... 12 Semiótica greimasiana ................................................................................................................ 13 Semiótica russa ............................................................................................................................ 14 As definições de signo para a leitura de imagem ................................................................... 14 Signo – objeto .............................................................................................................................. 15 Signo – objeto interpretante ....................................................................................................... 16 Princípios para uma leitura Peirceana ..................................................................................... 17 Os signos que nos rodeiam ....................................................................................................... 20 Comunicação visual .................................................................................................................... 23 Elementos da comunicação visual ............................................................................................ 24 Signos artísticos ........................................................................................................................... 25 Metáfora ........................................................................................................................................ 26 Código da arte .............................................................................................................................. 26 CARACTERIZANDO A IMAGEM .............................................................................................. 28 EXPLICANDO A IMAGEM DO PONTO DE VISTA SEMIÓTICO ECOGNITIVO .............. 30 ANALISANDO A IMAGEM ......................................................................................................... 36 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 42 http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 3 A Semiótica das Imagens https://conyden.wordpress.com/2013/04/05/la-semiotica-en-el-arte/ Quando refletimos sobre o significado de uma imagem fotográfica, ou seja, quando nos perguntamos quando e onde uma determinada fotografia foi tirada, o que ela mostra, qual tipo de evento e de relação as pessoas e objetos estabelecem entre si, estamos na realidade tentando interpretar e entender o que essa imagem significa para nós. Ao fazermos isso, utilizamos recursos da semiótica tanto para entendê-la, como também para fazer significado (Sturken e Cartwright, 2005:21). Burgin, escritor e artista, defende que “toda comunicação se dá com base em signos” (Burgin, in Evans e Hall, 2005:44). Burgin considera a fotografia um signo, ou melhor, “um http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 4 complexo de signos usados para comunicar uma mensagem” (Burgin, in Evans e Hall, 2005:44). Sendo esse trabalho sobre fotografia em livro didático de inglês como segunda língua, e sobre as representações que podem ser encontradas nessas imagens fotográficas, a teoria semiótica se torna um importante suporte para a compreensão do que vem a ser representação, pois problematiza e focaliza seu estudo no processo da representação. Chandler (2002:14) argumenta que o estudo da semiótica faz com que “nos tornemos mais atentos ao papel mediador dos signos, e dos papéis que todos exercemos para a construção da realidade social”34. Dessa maneira, a realidade que se forma é relativa, pois é a interpretação que damos a ela que a constroem. “O significado não é transmitido, mas criado de acordo com a interação entre o complexo sistema de códigos e as convenções que normalmente ignoramos” defende Chandler (2002:15). Ao entendermos o fato de que o mundo ao nosso redor é composto por signos, e que para compreender esse mundo nós só o poderemos fazer através dos signos e códigos que os organizam, devemos ficar atentos então à importância que esses signos exercem na maneira como os construímos e como interpretamos o mundo ao nosso redor. De acordo com Chandler (2002:15) “vivendo num mundo cada vez mais repleto de signos visuais, precisamos aprender que mesmo os signos mais realísticos não são aquilo que aparentam ser”. Mesmo sendo a fotografia considerada como fiel à realidade que representa, ao investigar a maneira como é construída e de que maneira essa realidade nos é apresentada, estamos revelando quais são essas realidades que nos estão sendo mostradas, e quais ideologias podem estar presentes ou sendo suprimidas na suas representações. Burgin (in Evans e Hall, 2005:45) argumenta que sendo alguns fotógrafos melhores comunicadores do que outros, o objetivo do semiólogo acaba sendo o de investigar as razões do “sucesso ou fracasso http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 5 em termos de signo fotográfico” desses fotógrafos. O trabalho do semiólogo é feito considerando-se que, se há um domínio da arte fotográfica é por que existe algum tipo de sistema de signos que pode ser aprendido e utilizado com sucesso, ou seja, dominado. A teoria semiótica apresenta duas tradições divergentes: uma proposta por C.S. Peirce (1966), no final do séc. XIX nos EUA, e outra proposta por F. de Saussure (1916) no início do séc. XX, na Europa, e mais tarde retomada por Barthes (1964). Essas teorias se revelam de grande importância para o estudo de imagens a que esse estudo se propõe. Chandler se refere à semiótica contemporânea como um estudo de signos que fazem parte de um sistema maior de signos, e que se preocupa com a maneira “como os significados são realizados e como a realidade é representada” (2002:2). Para Sturken e Cartwright (2005:28), ao comentarem as idéias de Peirce, o significado “reside não apenas na percepção e na ação subseqüente que se segue àquela percepção”, ou seja, um pensamento só pode ser interpretado após ter sido seguido de outro pensamento que lhe permitiu tal interpretação, exemplificam as autoras. Dentre os semiólogos, chama a atenção os trabalhos de Charles Sanders Pierce, filósofo, matemático e físico norte-americano que trouxe contribuições importantes no campo da semiótica. Para Peirce (1966) linguagem e pensamento são processos de interpretação do signo. Peirce propôs categorias para o signo que se baseiam nas diferentes relações entre significado esignificante. Sua preocupação era de que os signos não-lingüísticos podiam ser menos arbitrários do que Saussure http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 6 propusera em relação aos signos lingüísticos (Evans, in Evans e Hall, 2005:13). Peirce propõe uma análise dos signos considerando-se três partes: a) o representamen – que se refere à forma que o signo apresenta, b) interpretante – o sentido que o signo tem, e c) o objeto – aquilo ao que o signo se refere. Isso seria uma “tentativa de se pensar na relação entre signos e referentes” (Evans, in Evans e Hall, 2005:13). Enquanto Saussure enfatiza a arbitrariedade do signo, Peirce enfatiza que essa arbitrariedade dos signos é relativa. Kress e van Leeuwen (2000) comentam a utilização de termos e conceitos da semiologia de Peirce como: símbolo, ícone e indicador, para o estudo de imagens. Evans acrescenta ainda que a fotografia: “diferentemente dos desenhos de uma imagem originada por computador, está física ou casualmente ligada ao seu referente, sendo o resultado de uma redistribuição óptica de raios de luz emanados de um objeto em direção a materiais sensíveis à luz.” (Evans, in Evans e Hall, 2005:13) É justamente essa condição da fotografia de estar diretamente conectada de alguma maneira ao significante, que faz com que a imagem fotográfica se apresente presa ao objeto. O lingüista europeu Ferdinand de Saussure (1916, 2005) concebeu em sua teoria da linguagem a noção de que o significado muda “de acordo com o contexto e regras da língua” (Sturken e Cartwright, 2001:28). Seu livro de publicação póstuma Tratado de Lingüística Geral deu início ao estruturalismo europeu. Saussure considera a língua como um sistema de signos mais importantes, localizado em nossa mente, e http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 7 formado por signos, que são arbitrários, frutos de uma convenção. Um signo lingüístico não é “um elo entre uma coisa e um nome, mas entre um conceito – significado - e uma imagem acústica – significante” (Saussure, 1983:66). Os conceitos sobre signos apresentados por Peirce e por Saussure, e mais tarde por Barthes (2003), são fundamentais para o estudo de imagens. Esses conceitos, inclusive, são de grande importância na investigação de significados e interpretações da imagem fotográfica. A abordagem semiótica tem influência, inclusive em outras abordagens de língua e de análise de imagens. Estudiosos como Hasan (1996), Martin (1997) e Kress (1993) apresentam em seus trabalhos abordagens sócio-semióticas utilizando fundamentos da teoria sistêmico-funcional de Michael Halliday (1994). Esses pesquisadores também consideram que o sistema semiótico tem o signo como a noção central (Kress e van Leeuwen, 2000). Para Halliday e Hasan (1989:3), a semiótica é mais do que um estudo de signos, é um estudo do significado dos sistemas de signos, ou seja, “um estudo geral do significado”. A linguagem é um dos diversos sistemas de signos que são usados para a construção de sentido, ou seja, a lingüística é um tipo de semiótica (Hasan,1996). Halliday e Hasan (1989:4) inclusive fazem uso dessa concepção para definir cultura como um “conjunto de sistemas semióticos, um conjunto de sistemas de significados, os quais se relacionam entre si”. Os visuais, assim como a língua, é “um dentre um número de sistemas de significados, que juntos constituem a cultura humana” completam Halliday e Hasan (1989:4) Kress e van Leeuwen (2000:40) consideram que os visuais também são sistemas semióticos, e como qualquer “modo semiótico, devem servir a vários requisitos de comunicação (e de representação) a fim de funcionarem como um sistema completo de comunicação”. Os signos ao serem criados têm um significado http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 8 (signified) que querem expressar, e esse significado é “expresso através de um modo semiótico, que torna disponível a mais plausível subjetividade, a forma mais apta” 47 (Kress e van Leeuwen, 2000:6), ou seja, o significante (signifier). Kress e van Leeuwen vêem o signo como conjunções motivadas de significados e significante. E na semiologia a motivação é definida em termos de uma relação entre significante e significado. Em concordância com essa abordagem, outro pesquisador, Unsworth, confirma a importância da teoria semiótica para a análise de imagens, e comenta que Kress e van Leeuwen reconhecem que a coerência entre as imagens e a composição textual se dá em “diferentes maneiras, e assim realizam a realidade semiótica” (Unsworth, 2001:72). Nesse capítulo, objetivei dar um panorama do que vem a ser a teoria semiótica e de como ela pode ser aplicada ao estudo de imagens fotográficas. Sendo a fotografia um tipo de imagem, todas as vezes que se faz uma interpretação de sua imagem com a finalidade consciente ou não de entendê-la, estamos recorrendo à semiótica. Ao considerarmos que tanto a linguagem quanto os visuais se utilizam da noção do signo para fazer significado, a semiótica passa a ser um recurso importante para o estudo desses diferentes sistemas de comunicação. LEITURA DE IMAGEM Entre os assuntos trazidos aqui, destaca-se na semiótica, o principal precursor desta ciência, Charles Sanders Peirce, que pelo legado deixado, é considerado o pai da semiótica, bem como os demais tipos de semiótica existentes, aos quais se destacam a semiótica greimasiana e a semiótica russa, também conhecida como http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 9 semiótica da cultura. Há ainda tratados do que vêm a ser semiótica, signo e semiose, perpassando por discussões que se referem à forma em que este processo pode afetar o intelecto do espectador a ponto de permitir uma visão mais ampla e possibilitar uma leitura de imagem mais satisfatória. Aborda ainda, os tipos de signo de acordo com Peirce e seus subsídios iniciais, que levam à uma análise completa de uma obra, como no caso de Interior Vermelho, de Henri Matisse, exemplificado ao longo do texto para ilustrar as conceituações apresentadas. Desta forma, contempla ainda a simbologia presente na vida de diversos povos, desde os primórdios da civilização. A partir do desenrolar das teorias sígnicas, o trabalho aponta ainda a evolução na utilização dos signos e de que forma eles afetam o dia a dia das pessoas no tempo atual, através das considerações acerca da ação dos signos nas imagens, considerando a comunicação visual, os elementos que possibilitam a decodificação da mensagem através dos signos ali presentes, até mesmo a construção da linguagem da arte, auxiliando o homem a também se aventurar na capacidade criativa que lhe é nata, criando signos artísticos ainda mais aprimorados. Semiótica A semiótica é a ciência geral dos símbolos e da semiose, que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. De acordo com Santaella (2000), a semiótica tem por objetivo investigar todas as linguagens possíveis e que o signo está relacionado a qualquer coisa, tudo o que está à nossa volta é signo. A semiótica vem da palavra grega semeion, que quer dizer signo. Portanto, semiótica é a ciência que estuda signos. O signo está relacionado a qualquer coisa, que de acordo com seu interpretante, terá um significado direto. Se olharmos uma árvore, vamos identificar http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br10 uma árvore, quando sentimos um cheiro de café, vamos automaticamente saber que alguém está passando café, se estivermos no volante e ouvirmos uma sirene de ambulância, vamos saber sem vê-la que devemos dar espaço, pois esta precisa passar com urgência, então tudo isso são signos que podemos interpretar tanto pela visão, percepção, audição, olfato entre outros. Os signos visuais estão relacionados com o significado e a interpretação direta. Como na imagem a seguir, ao ver a pomba, logo ela nos traz o seu significado: paz. Figura 1. Pomba Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=imagem+de+pomba&espv>. Figura 2. Semáforo Fonte: Disponível em: <http://www.oarquivo.com.br/images/stories/Geral_9/semaforo_ topo.jpg >. http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 11 Na figura 2 (semáforo), nós, como motoristas, ao vermos que o sinal está vermelho, sabemos que devemos esperar o sinal verde para continuar. Tudo isso são signos que nos rodeiam durante todo o dia e que devemos cumprir com os seus significados através da interpretação. Se lermos a palavra casa, vermos o desenho de uma casa, a fotografia de uma casa, uma dobradura de casa, isso tudo são signos de casa, e automaticamente iremos interpretar sobre algum aspecto ou qualidade, para entendermos como sendo esta. Segundo Martins, Picosque e Guerra (1998, p. 39): [...] Tanto a palavra quanto o desenho ou o esquema, a fotografia ou a escultura de um carro não são o próprio carro. São signos dele, um representante. Cada um deles, de um certo modo, representa a realidade do carro. Para que o signo seja utilizado/ manejado por nós como signo de algo, ele tem de ter esse poder de representar, ou seja, estar no lugar do objeto, para torná-lo presente a nós através de uma presença. Já a semiótica está ligada à significação, sendo importante que saibamos perceber e reconhecer para interpretar, se não conhecemos o objeto, o signo, não vamos identificar nem interpretar. É neste momento de interpretação que identificamos como o processo chamado de semiose. A imagem está diretamente atrelada às experiências estéticas de produção ou recepção. Pode-se dizer que a imagem é a percepção na medida em que esta transforma a informação recebida. A partir do momento em que a imagem passa a ser compreendida como signo, passa a incorporar diversos códigos, sua leitura requer o conhecimento e a compreensão destes. http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 12 A semiótica tem por objeto qualquer sistema sígnico, seja ele pertencente às artes visuais, culinária, vestuário, religião, ciências. A seguir um exemplo na área da culinária. Na figura 3, vemos um bolo decorado com vários morangos sobre ele, automaticamente interpretamos que seu recheio seja de morango. Figura 3. Bolo de morango Fonte: Disponível em: <http://culinaria.culturamix.com/receitas/bolo/receita-de-bolo-de-leite-ninho>. A representação é um conteúdo concreto apreendido pelos sentidos, pela imaginação, pela memória ou pelo pensamento. A forma de uma imagem é feita por semelhança com o objeto representado. Semiótica Peirceana Charles Sanders Peirce foi considerado o pai da Semiótica. Segundo Bueno (2011), Peirce embasou sua teoria na noção de signo, entendido como qualquer coisa/elemento que representa algo para alguém. A semiótica de Peirce foca nos signos e nas formas de ação que ele representa. http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 13 Observando a imagem 4, identifica-se uma cadeira, pois esta significa na sua imagem uma cadeira. Figura 4. Cadeira Fonte: Disponível em: <http://www.tokstok.com.br/vitrine/default.jsf?idPagina=1237>. Semiótica greimasiana Greimas, conforme Bueno (2011) procurou aplicar os métodos de pesquisa da linguística estrutural à análise de textos, definida por ele como discurso. Portanto, teve como foco os signos verbais, ou seja, tudo que ouvimos, destacando-se a importância de compreender este discurso de forma mais completa, em seu processo de emissão e recepção das mensagens. Desta forma, o sentido, que é a capacidade de produzir a compreensão e elaborar outras, é construído através da relação que se estabelece entre os significantes, os elementos semióticos intrínsecos neste, levando então à significação pela percepção do todo. http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 14 Semiótica russa Teve início nos países soviéticos, cuja visão semiótica para os pensadores era focada na globalização da cultura. Os estudos começaram tarde, mas foram muito intensos, destacando estudiosos como Bakhtin (1895-1975), Jakobson (1896 – 1982) e Iúri Lotman (1981). Este trabalha a linguagem, a literatura, os fenômenos culturais, o mito e a religião. É considerada a semiótica da cultura. Conforme Santaella (2000), calculam-se que haja cerca de uma centena de definições de signo em toda a obra peirceana. Um dos conceitos de signo para Peirce é que um signo ou representante, é tudo aquilo que, sobre um certo aspecto de medida, está para alguém em lugar de algo. O signo está no lugar de algo, seu objeto, porém, não em todos os seus aspectos, mas apenas com referência a uma espécie de ideia. As definições de signo para a leitura de imagem Ao falar em signos, logo uma gama de possibilidades de definições surge à mente, do que pode ser, de fato, um signo, além da mais simples conceituação de algo que representa alguma coisa para alguém. Sabe-se que, ao longo das 80 mil páginas manuscritas por Peirce, conforme Santaella (2000, p. 11), aparecem mais de 100 defnições diferentes para signo, o que remete à imensa complexidade do tema em questão e, claro, às probabilidades junto à leitura de imagens baseada na semiótica peirceana, esta ciência que estuda o signo. http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 15 Em um processo de semiose, conforme falado anteriormente, um signo vai gerar outro signo, que por sua vez, vai gerar outro e assim infinitamente, ou conforme Peirce, ad infinitum, já que a interpretação será conforme as experiências de vida de cada pessoa. Assim sendo, o interpretante de um signo se formará e será modificado à medida que chegar a um sujeito diferente. Santaella (2000, p. 5), explica que na semiótica peirceana o signo faz parte de uma relação triádica: signo – objeto – interpretante, cujos processos acontecem a partir de fenômenos e suas relações com o mundo, pois foi através da fenomenologia que a semiótica de Peirce foi criada. Desse modo, a teoria semiótica nos permite penetrar no próprio movimento interno das mensagens, no modo como elas são engendradas, nos procedimentos e recursos nelas utilizados. Permite-nos também captar seus vetores de referencialidade não apenas a um contexto mais imediato, como também a um contexto estendido, pois em todo processo de signos ficam marcas deixadas pela história, pelo nível de desenvolvimento das forças produtivas econômicas, pela técnica e pelo sujeito que a produz (SANTAELLA, 2000, p. 5). Diante deste potencial, percebe-se que as classificações do signo propostas por Peirce e que serão faladas adiante, oferecem subsídios para que se chegue a uma análise satisfatória aplicada aos processos sígnicos e às mensagens transmitidas nos mesmos, estejam elas em poemas, música, pintura, fotografias, entre outras fontes de informação,independente de sua natureza. Signo – objeto http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 16 “O signo é algo que vai representar alguma coisa, ou seja, o seu objeto. Todos estes são representações que geram outras e assim por diante, mas que não são o objeto em si e, sim, esquemas que indicam a coisa material” (BUENO, 2011, p. 12). O desenho de uma casa, não é a casa propriamente dita, sendo apenas uma representação daquilo que se tem em mente ser uma casa. Com a finalidade de aclarar mais, toma-se o seguinte exemplo: em uma sala de aula diversificada culturalmente, se a professora pedir para que os alunos desenhem sua casa, se houver um índio, ele pode perfeitamente desenhar uma oca, se esta ainda for a sua representação de casa, diferentemente de outros alunos, que podem desenhar uma casa com diversas configurações, e assim por diante. Signo – objeto interpretante “O signo enquanto objeto interpretante, é aquele que vai gerar outro signo na mente do intérprete, que por sua vez, será o significado do primeiro. O interpretante nada mais é que a imagem mental produzida pelo receptor do signo” (BUENO, 2011, p. 13). Figura 5. Como o signo gera um interpretante http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 17 É importante ressaltar, mais uma vez, que a leitura da imagem é subjetiva, pois seu significado vai depender da vivência, da experiência de vida, conhecimentos diversos, entre outros fatores que compuseram o crescimento intelectual daquele que a observa, para que haja então o processo de semiose (ação do signo). Princípios para uma leitura Peirceana Quando um artista vai criar uma obra, ele tem a liberdade de utilizar recursos diversos em sua criação, para representar algo para si mesmo e, consequentemente, para outrem, pois a partir do momento em que ele expor sua obra, um imenso leque de possibilidades de interpretação surgirá, tornando nítida a utilização de signos para que seus objetivos sejam atingidos. Geralmente, usam-se formas, texturas, cores (ou não), para instigar, através dos signos e mostrar sua intenção de representação. Henri Matisse (1869-1954), por exemplo, pintor fauvista e um dos mais importantes artistas franceses, usava cores quentes e intensas em suas criações, conforme destaca o site Universia (2012), através do projeto “Um pouco de arte para http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 18 sua vida”. A obra Interior Vermelho, Natureza Morta Sobre Mesa Azul (1947), foi uma das últimas pinturas a óleo de Matisse, que preferia representar partes internas de um local, mas sempre com uma janela que propiciava algo interessante do lado de fora, como um jardim. Figura 6. Interior vermelho (1947) de Henri Matisse Fonte:Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/07/02/947505/conheca-interior- vermelho-natureza-morta-mesa-azul-henri-matisse.html>. De acordo com Lucia Santaella (2000, p. 29), o primeiro passo para iniciar uma análise com vistas à semiótia peirceana, é fazer uso da fenomenologia: “contemplar, então discriminar e, por fim, generalizar em correspondência com as categorias da primeiridade, secundidade e terceiridade”. Ao se dedicar à leitura semiótica de alguma coisa, Santaella (2000, p. 86), fala em três fases imprecindíveis. A primeira delas é a “disponibilidade contemplativa”, na qual o espectador deve se abrir sensorialmente, deixar se levar pelas cores, linhas, texturas criadas, da luz e o que mais achar importante. Isto significa que o melhor é não julgar e então, tentar ver o signo em sua http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 19 pureza, sem qualquer interpretação, pois esta vem de forma muito rápida e, muitas vezes, não permite que se enxergue o que está nas “entrelinhas”. É necessário que o receptor se permita sentir o que aquilo nos quer dizer em primeiridade, o signo em si mesmo e seu potencial de apenas significar algo. A segunda fase integra a parte da observação, em que o espectador vai tentar encontrar um primeiro indício comunicativo que a pintura pode apresentar e vai, de certa forma, instigar quem a observa: “a experiência de estar aqui e agora diante de algo que se apresenta na sua singularidade, um existente como todos os traços que lhe são particulares” (SANTAELLA, 2000, p. 86). E, por fim, a última fase, em que a pessoa vai perceber um pouco além das primeiras formas, sendo capaz de perceber as particularidades ali presentes. Assim, após vivenciar esta experiência, com todas as ideias produzidas a partir das fases propostas, pode-se então, conforme Santaella (2000, p. 88), iniciar a análise da obra: [...] Que a pintura é um signo, não deve haver dúvidas. Ela é algo que representa algo, sendo capaz de produzir efeitos interpretativos em mentes reais ou potenciais. Essas condições toda pintura preenche. Essa, não menos do que quaisquer outras. O que importa, no entando, discernir é o modo como essa pintura particularmente representa o que professa representar e, em função disso, quais efeitos está habilitada a produzir em possíveis intérpretes. Desta forma, inicia-se a análise baseada na tríade de Peirce, o que não cabe para o momento do trabalho em questão, mas o mais importante a enfatizar é que as interpretações, por se apresentarem na mente do espectador de forma imediata, podem impedir resultados satisfatórios no que tange a uma leitura de imagem, principalmente em se tratando da semiótica peirceana, cuja tríade sustenta toda a http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 20 teoria de análise, sendo imprescindível dividir todos os elementos que se enquadram na primeiridade (o signo em si mesmo), a secundidade (o signo em referência ao que vai indicar) e a terceiridade (o signo diante dos efeitos que irá produzir no receptor). Seja como for, esta pintura (signo), sempre estará apta a provocar outras interpretações, outros efeitos em quem mais a contemplar. A semiótica lapida o olhar e proporciona experiências enriquecedoras naqueles que estejam abertos a vivenciá- las. Os signos que nos rodeiam Constantemente, somos cercados por signos diversos, e a leitura que podemos fazer desses está intimamente ligada ao repertório individual, conceitos, conjunto de valores, sentimentos, emoções e ideias que vão costurando uma colcha de significações entre si. Rubem Alves esclarece que “a música que me faz rir ou chorar, o alimento que me apetece ou me é indigesto, a carícia que alegra ou entristece: tudo isso está relacionado às minhas próprias raízes culturais” (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998, p. 19 apud DUARTE JR., 1988, p. 49) . O repertório pessoal, fundado nas experiências individuais, e referências culturais nos levam a construir sentidos e significações ao que observamos. Segundo Peirce, “o universo está cheio de signos” (SANTAELLA, 2000) e, para melhor organizá-los, resolveu classificá-los em ícones, índices e símbolos. Os ícones são signos que possuem semelhança com o objeto, têm como significado direto a imagem representada e possui leitura direta. Vejamos os exemplos: http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 21 Figura 7. Exemplos de ícones Fonte: Disponível em: <http://thinkstockphotos.com.pt>. Os índices são signosque sugerem, são indicativos, representam algo que não está presente. Exemplos gráficos: Figura 8. Exemplos de índices http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 22 Fonte: Disponível em: <http://meussonhosnaotemfim.org.br>. Os símbolos representam os objetos por convenção de ideias, através de uma convenção coletiva, ensinada e arbitrária. Exemplos: Figura 9. Exemplos de símbolos Fonte: Disponível em: <http://imagensgratis.blog.br>. Atualmente, a cultura vivida pelos estudantes se caracteriza por um apanhado e, até mesmo, uma saturação de imagens que informam o tempo todo. A questão é http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 23 como levar para a sala de aula esse processo comunicativo. Ana Mae Barbosa menciona que a leitura de imagens prepara os alunos para apreender o que chama de “gramática visual” (BARBOSA, 1995, p.14 apud ROSSI, 2009, p. 9), possibilitando a compreensão de qualquer tipo de imagem, tornando-os atentos à produção humana, preparando-os para avaliar e ter ciência de que aprendem com estes signos. Para tanto, a utilização das categorias sígnicas em sala de aula colabora para a ampliação do repertório dos estudantes, e constrói significados imagéticos e/ou reais. A tudo que percebemos damos ou procuramos dar um significado, esse processo Peirce intitulou de semiose ou fenômeno de significação. A semiose acontece a todo o instante, depende da bagagem intelectual e cultural de cada indivíduo e está intimamente ligado ao signo, o significante (o que se vê) e a criação de significados. Para Eco (2004), C. S. Peirce usou a ideia de signo na construção da sua teoria da Semiótica propondo que o entendimento de algo pela mente ocorre pela semiose, termo definido por ele como processo de significação. A ideia peirceana, então, é que não há lugar vazio de signos. Ao interpretar algo, traduzimos um pensamento ou signo em um outro pensamento ou signo, existe um ir e vir constante de criação de signos. E esses sistemas contínuos e incessantes de sistemas sígnicos compõem as linguagens verbais e não verbais. Comunicação visual A comunicação visual é um importante meio para se apresentar e entender uma mensagem, através de uma transmissão visual de um sistema de signos, o qual pode ser estabelecido por uma linguagem verbal (oral e escrita) ou não verbal (visual, gestual, sonora, tátil e olfativa). http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 24 Martins, Picosque e Guerra (1998) afirmam que este sistema de signos está ao redor de todos e permite uma forma de cada um se expressar, comunicar e perceber através dos sentidos o tipo de linguagem que está sendo transmitida, como, por exemplo, se a comunicação é feita por linguagem oral ou gráfica. Elementos da comunicação visual Para ocorrer a comunicação visual, é necessário que existam alguns elementos importantes para a efetiva transmissão da mensagem. Desta forma, Vanoye (1993) explica sobre o papel de cada um destes elementos da comunicação: • Emissor: é o que produz e emite a mensagem; pode ser emitido por uma pessoa ou grupo. • Receptor: quem recebe a mensagem; pode ser para uma pessoa, um grupo ou uma coletividade. • Mensagem: é constituída pelo conteúdo de informações a serem transmitidas para o receptor; é o objetivo da comunicação. • Canal de comunicação: meio de circulação das mensagens, pode ser físico ou virtual (revista, cordas vocais, TV, internet etc.). • Código: conjunto de signos para transmissão da mensagem, podendo ser gesto, sons, linguagem oral ou escrita etc. É necessário o conhecimento deste código pelo receptor para que a mensagem seja compreendida. • Referente: está ligado ao contexto ou situação a que a mensagem remete. • Ruído: alguma perturbação que possa dificultar a compreensão da mensagem. A seguir, apresenta-se um esquema para melhor visualização dos elementos da comunicação e suas relações: http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 25 Figura 10. Elementos da comunicação Fonte: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/paulacaldeira/comunicao-visual-13467762>. Acesso em: 19 mar. 2016. A partir do conhecimento destes elementos, percebe-se que na comunicação visual a mensagem deve ser bem pensada e organizada para que alcance o seu objetivo final, ou seja, para que o receptor a entenda corretamente. Neste contexto, deve-se tomar cuidado com os ruídos (perturbações) que dificultam a transmissão ou a boa compreensão da mensagem, e ainda, é necessário que o receptor tenha conhecimentos específicos relacionados ao conteúdo da mensagem que recebe, para que o este consiga entendê-la. Signos artísticos Ao longo da história, o homem realizou produções e descobertas em diversas áreas, o que contribuiu para o entendimento sobre a expressão e o desenvolvimento das diversas culturas e seus signos. Martins, Picosque e Guerra (1998, p. 36) explicam que: Como seres simbólicos, nossa autocriação e transformação cultural nos desenvolveram como seres de linguagem. Nós, humanos, somos capazes de http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 26 conceber e manejar linguagens que nos permitem ordenar o mundo e dar lhe sentido. Desde as pinturas das cavernas e as palavras do homem primitivo até as fórmulas e equações que levaram o homem a visitar a Lua e hoje navegar na Internet, há um percurso de invenções que o homem efetuou e vem efetuando por meio de sistemas de representação do mundo, sistemas simbólicos, ou seja, linguagens. Dentre estas descobertas, as autoras afirmam que a arte é uma forma de criação de linguagens, podendo ocorrer por diversas formas, como pela linguagem visual, musical, cênica, dança, entre outras. Estas linguagens artísticas são formas do homem refletir sua existência e relação com o mundo, e ao desenvolver sua arte através de sistema sígnico, ele consegue elevar sua capacidade de criar e ler diversos signos com fins artístico-estéticos. Metáfora A metáfora possibilita estabelecer uma comparação, trata-se de substituir algo ou alguma realidade por outra, as quais possuem certa relação ou semelhança. A linguagem artística permite produzir obras com formas simbólicas sensíveis, na qual o artista pode estabelecer um diálogo de sensibilidades entre os signos artísticos, e, desta forma, a obra de arte se apresenta como metáfora aos sentidos, resgatando pensamentos ou sentimentos no indivíduo que a observa (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998, p. 44). Código da arte http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 27 Cada linguagem da arte possui códigos, ou seja, cada linguagem tem um sistema estruturado de signos. Passos (2011) diz que toda obra de arte possui um meio físico, podendo ser ele visual ou sonoro, e que ela é construída a partir de códigos, como movimentos, ações, gestos, linhas, cores e luz, sendo que estes códigos carregam e transmitem conteúdos que serão recebidos e interpretados pelo público. Sobre esta questão, Passos (2011, s.p.) afirma que: Aquele que fala (ou aquele que escreve, pinta, interpreta, dança, compõe uma obra) deve sempre pressupor que alguém estará recebendo os signos das linguagens utilizadas (através dos órgãos dos sentidos) e percebendo ou interpretando seus conteúdos. Aobra de arte nunca é somente expressão do artista ou criação de formas (do ponto de vista da produção), nem somente comunicação com o público ou apresentação de conteúdos (do ponto de vista da recepção). A obra de arte pode expressar, comunicar, apresentar e criar conteúdos. O artista utiliza estes signos em seu fazer artístico de forma livre e incomum para criar suas obras; e como não há regras ou padrões para desenvolver sua arte, podem combinar linguagens (como cores, formas, sons, cheiros etc.) e inventar novas descobertas simbólicas, desenvolvendo assim sua própria linguagem artística (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998, p. 45). Atuamos no mundo lendo e produzindo linguagens, alinhamos complexos sistemas signícos que resultam em uma diversidade cultural. Com isso, podemos inferir que não existe uma realidade absoluta, mas sim realidades interpretáveis e relativas as quais podemos dizer que ensinar, na sua origem epistemológica, é indicar signos. Manejamos a realidade através dos signos, criamos a possibilidade de falar das coisas que não estão fisicamente presentes. O real e o imaginário nessa dinâmica http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 28 tendem a formar o processo comunicativo a partir das lembranças, das próprias referências e do repertório cultural. Nossos pensamentos traduzem nossas experiências em signos, e toda e qualquer linguagem artística faz o ser humano pensar o seu “estar no mundo”. Quanto mais referências os alunos(as) tiverem, maiores e diferentes as possibilidades e perspectivas para análises e interpretações. Portanto, em sala de aula deve-se escolher “manejar a linguagem das cores, dos sons, do movimento, dos cheiros, das formas e do corpo humano para fins artísticos-estéticos” (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998, p. 34) sempre que possível, pois as aulas de artes devem ser momentos de experimentação, de ação e de transformação e, os estudantes, como pequenos alquimistas, podem manipular as essências da linguagem da arte, criando, recriando ou apreciando, pois assim estaremos efetivamente operando com maestria o que faz essa linguagem ser peculiar: a expressão sensível. CARACTERIZANDO A IMAGEM Há várias formas de se definir a imagem, dependendo do seu foco de estudo. Para Contrera e Hattori (2003, p. 26), a imagem é “um termo que comumente utilizamos para designar representações gráficas ou verbais de algo que existe ou poderia existir”. Em outras palavras, é a representação de algo por semelhança. W. J. T. Mitchell (apud CONTRERA; HATTORI, 2003), um estudioso da Iconologia, ciência que trata do discurso em imagens e sobre imagens, classifica-as, numa abordagem mais didática, como gráficas (pinturas, estátuas e desenhos), ópticas (geradas pelo espelhamento e projeção), perceptuais (as que nos chegam pelos sentidos e reconhecimento de aparência), mentais (realizadas pelos sonhos, pela memória e pelas ideias) e verbais (descritas pelas palavras e sugeridas por metáforas). Esta classificação não exclui, entretanto, a possibilidade de fusão entre http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 29 os conceitos para a compreensão do significado da imagem. Afinal, podemos trabalhar uma imagem verbal, sugerida por uma metáfora, e uma imagem mental, gerando uma ideia ou um pensamento. Indo além de um estudo classificatório, Joly (1996) afirma que a analogia é o ponto comum entre as diferentes significações da imagem. Segundo o autor, uma imagem é, antes de tudo, algo que se assemelha a alguma coisa. Isto se aplica até mesmo quando esta imagem não é concreta: nos sonhos e fantasias, por exemplo, a imagem se parece com a visão natural das coisas. Esta semelhança coloca a imagem na categoria das representações: ela se parece com a coisa, porém não a é, sendo definida, portanto, como signo analógico, que tem na semelhança o seu princípio de funcionamento. Entretanto, o autor ressalta que a imagem não se caracteriza apenas por ser um signo icônico ou figurativo, já que ela pode intercruzar diferentes materiais que a compõem para constituir uma mensagem visual. Nesse sentido, a mensagem visual pode ser construída com signos icônicos, que dão a impressão de semelhança com a realidade, jogando com a analogia perceptiva e com os códigos de representação herdados pela tradição de representação ocidental, e com os signos plásticos, que correspondem aos componentes da imagem como a cor, as formas, a composição e a textura. Para Joly (1996), dentre todas as teorias que podem abordar a imagem (teorias em matemática, em informática, em estética, em psicologia, em retórica, em sociologia, entre outras), a que melhor consegue dar conta do seu conceito, de forma mais geral, “globalizante” e que ultrapassa as suas categorias funcionais, é a teoria semiótica. O autor enfatiza como essencial, para a compreensão da imagem, o fato de ela ser heterogênea, abrangendo, dentro de um limite, diferentes categorias de http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 30 signo: tanto as imagens, no sentido teórico do termo (signos icônicos, analógicos), quanto os signos plásticos e os linguísticos, estes relacionados à linguagem verbal. No presente trabalho, nos referiremos à imagem visual, percebida pela visão e processada inferencialmente para ser compreendida, numa abordagem teórico- cognitiva da comunicação; trata-se, portanto, de um texto, num sentido geral, que carrega e comunica seus próprios significados, dependendo do contexto onde está inserida. EXPLICANDO A IMAGEM DO PONTO DE VISTA SEMIÓTICO ECOGNITIVO Assim como na linguagem verbal a língua é o objeto de estudo, na semiótica é o signo que se encarrega de definir toda e qualquer significação, formando o alicerce da análise da linguagem não-verbal. A semiótica é entendida, em termos gerais, como a ciência que estuda os signos, os quais são sinais que representam algo, podendo ser objetos perceptíveis ou apenas imagináveis. Em outras palavras, segundo Peirce (193851), signo é tudo aquilo que representa algo para alguém. Nos moldes desse autor, Santaella (1983, p. 13) define a semiótica como a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção de significação e de sentido ou, simplesmente, [...] é a ciência dos signos. A semiótica peirceana tem sido amplamente explorada para investigar processos comunicativos, embora não tenha sido sistematizada para modelos comunicacionais específicos. http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 31 Nos estudos dos signos, Peirce apresenta relações triádicas que se traduzem em 10 classes sígnicas, a partir de relações complexas entre signo/ signo, signo/objeto e signo/interpretante. Ao considerar a relação de signo com o objeto que representa, o autor distinguiu três tipos de categorias principais de signos: símbolos (relação convencional entre o signo e sua significação), ícones (termo não arbitrário para signos em sua relação [de semelhança] com o objeto) e índices (relação de contiguidade com o objeto). O ícone, numa relação de similaridade, de comparação, pode ser exemplificado pelo mapa terrestre, que representa a Terra. Como exemplo de índice, poderíamos citar as impressões digitais, que representam quem as fez. E o símbolo, de caráter lógico, convencional, atrelado à cultura pode ser exemplificado pelas palavras, porque representam a língua. Pela sua forteligação com a imagem, o nosso interesse aqui está centrado no ícone. Na verdade, segundo Santaella (2000), a imagem é citada como exemplo de ícone, pois a qualidade de sua aparência é semelhante à qualidade da aparência do objeto que representa. Dizendo de outro modo, o ícone é um signo que tem alguma semelhança com o objeto representado. Dessa forma, a convencionalidade ou arbitrariedade dos símbolos, fundada na consciência ou conhecimento da convenção pelo usuário, contrasta com o que poderia ser chamado de naturalismos dos signos icônicos. Os signos, então, podem ser naturais, que procedem da natureza e que aprendemos a interpretar (nuvens escuras no céu são sinais de chuva), ou convencionais, produzidos por um grupo social, com determinantes culturais, que são diferenciados de sociedade para sociedade, e que decorrem de qualquer interferência do homem na natureza: costumes, crença, língua, alimentos, entre outras. http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 32 Na relação triádica de Peirce (1940), o signo passa por três etapas, até ser definitivamente decodificado por nossa mente ou não: objeto – é a representação do signo; representamen – tem a função de representar o objeto; e interpretante – constitui o efeito mental produzido pelo signo. O interpretante é “ad infinitum”, pois sempre gerará outros e outros signos. Ou, de acordo com a definição do autor, o sentido de um signo seria outro signo pelo qual ele poderia ser traduzido. Como ressalta Eco (1991, p. 60), para Peirce, cada interpretante (expressão que traduz uma expressão anterior) amplia a compreensão do conteúdo do signo: o conteúdo interpretado permite ir além do signo originário e entrever a necessidade da futura ocorrência contextual de um outro signo. Os estudos modernos geralmente atribuem a definição de pragmática como um dos ramos da semiótica a Morris (1938) que, para tentar estabelecer a forma geral de uma ciência de signos, distinguiu três ramos de investigação: sintaxe (relações formais entre signos), semântica (relações entre signos com os objetos do mundo que designam) e pragmática (relações entre signos e seus usuários ou intérpretes.) Esta classificação tríplice, tornada mais explícita e conhecida através de Morris, deve-se, entretanto, a Peirce, cujo trabalho tem influenciado, mesmo que de forma indireta, muitos dos estudos dentro da teoria dos signos ou da significação. O uso do termo pragmática, por outro lado, dentro da filosofia analítica, teve forte influência do filósofo e lógico Carnap, que reinterpretou a tricotomia de Morris da seguinte maneira: Se numa investigação é feita uma referência explícita ao falante, ou, em termos mais gerais, ao usuário da linguagem, então a atribuímos (a investigação) ao campo da pragmática. Se abstraímos do usuário da linguagem e analisamos apenas as expressões e suas denotações, estamos no campo da semântica. E finalmente se http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 33 abstraímos também das abstrações, e analisamos somente as relações entre as expressões, estamos na sintaxe. (CARNAP, 1938, p. 2) O ponto importante aqui é que, tanto Morris quanto Carnap concordam, seja qual for a distinção feita entre semântica pura e pragmática pura, que a análise do significado em linguagens naturais necessariamente envolve considerações pragmáticas. E, da mesma forma, ambos reservam à pragmática, dentro do contexto mais amplo da semiótica, um espaço especial, afirmando que os signos de uma linguagem, para que possam referir os objetos do mundo e organizar-se como estrutura, dependem do uso que deles possa fazer o indivíduo. Então, a pragmática é caracterizada como a disciplina que estuda a relação dos signos com os seus usuários. Esta forma de introduzir a pragmática, via semiótica, definida, em termos clássicos, como o estudo da relação entre os signos e os indivíduos que os interpretam, desenvolveu-se, na filosofia da linguagem, a partir de Grice (1957), Austin (1962) e Searle (1969) – a tradição dos atos de fala. Essa forma de pragmática valorizou o aspecto cognitivo e permitiu que começassem a ser explorados os estudos do uso da linguagem. Assim, enquanto teorias fundamentadas em códigos sustentam uma espécie de pragmática da comunicação bastante modelada pela semântica, tendo no código um elemento indispensável, a teoria inferencial sustenta um processo que privilegia o raciocínio dos interlocutores dentro de um contexto. As teorias inferenciais e dos códigos, embora não se oponham, parecem ser absolutamente distintas em seus propósitos. Uma das formas de abordar as relações e as diferenças entre ambas é o trabalho de Sperber e Wilson (1995) sobre a Teoria http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 34 da Relevância, desenvolvendo uma aproximação entre essas duas abordagens, que não podem ser reduzidas uma à outra. A ideia fundamental desta teoria, como enfatiza Silveira (2002), está no conceito de Relevância, de base cognitiva, numa perspectiva graduada e comparativa, que estabelece uma relação de equilíbrio entre o custo mental despendido e os efeitos contextuais alcançados ao ser processada uma informação. Tal conceito é construído a partir de uma propriedade básica da cognição humana: a de que normalmente prestamos atenção apenas aos fenômenos ou estímulos que nos parecem relevantes, buscando a Relevância máxima de uma informação, ou seja, maiores efeitos com o menor esforço justificável. Essa característica, inerente à compreensão verbal e não-verbal, é chamada por Sperber e Wilson de princípio cognitivo, ao qual integra-se o princípio comunicativo da Relevância: “Todo ato de comunicação ostensiva carrega consigo a presunção de sua Relevância ótima” (1995, p. 158). Em outras palavras, numa visão de comunicação genuína e intencional, o estímulo ostensivo deve ser relevante o suficiente para atrair a atenção do ouvinte, focalizála na intenção do comunicador e revelar essa intenção, desencadeando um processo inferencial no destinatário. A teoria dos autores fundamenta-se, assim, em duas propriedades indissociáveis: ostensão, por parte do comunicador (autor/falante) e inferência, por parte do receptor (leitor/ouvinte). A ostensão é o estímulo (enunciados linguísticos ou estímulos sensório-perceptuais) utilizado para chamar a atenção, a fim de que se desenvolva no receptor um processo inferencial para a compreensão. Para chegar à informação pretendida, é necessário selecionar um contexto – num nível de representações mentais que se tornam disponíveis durante o processo interpretativo – capaz de equilibrar o melhor possível o esforço mental em relação ao http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 35 efeito a ser obtido. Desse modo, a interpretação será consistente com o princípio de Relevância e esse critério garante a interpretação adequada de um estímulo, seja ele de natureza sensório-perceptual ou linguística. Nessa teoria, então, é de fundamental importância o papel do contexto, entendido como um conjunto de suposições (informações) que vêm à mente do indivíduo no processamento inferencial da informação. Tais suposições podem advir do ambiente físico, observável, através do código linguístico ou de estímulos perceptuais, da memória enciclopédica, que armazena as nossas crenças e conhecimentos, e de raciocínios dedutivos. Para Sperber e Wilson (1995), a compreensão no processo comunicativo inferencial implica um raciocínio lógico para derivar conclusões.Segundo os autores, as inferências espontâneas realizadas na comunicação diária, nas quais a dedução é um processo-chave, são caracterizadas como não-demonstrativas, sistemas globais de pensamento, em que há livre acesso à informação conceitualmente representada na memória. Constituindo processos cognitivos que combinam informação advinda dos sistemas de input com informação armazenada na memória para derivar conclusões, através da formação e confirmação de hipóteses, essas inferências seguem um cálculo lógico não trivial, que não pressupõe premissas fixadas para derivar conclusões válidas. Tais conclusões não podem ser provadas, apenas confirmadas pela força das premissas, originada de várias fontes: percepção (através da visão, audição, tato, olfato, paladar), decodificação linguística, suposições fatuais e esquemas de suposições armazenados na memória e dedução. De acordo com Silveira e Feltes (2002, p. 14), nessa abordagem, o cálculo inferencial não-demonstrativo difere das inferências demonstrativas, que sofrem restrições lógicas, sob um formalismo rigoroso, e que são julgadas como válidas ou http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 36 inválidas. A presente proposta caracteriza-se exatamente pela tentativa de fornecer uma descrição explanatoriamente justificada da comunicação humana, sem submeter-se às limitações da lógica padrão no tratamento de fenômenos da linguagem natural. Desse modo, no mecanismo dedutivo humano apresentado por Sperber e WILSON, AS REGRAS (essencialmente de eliminação), ligadas a conceitos, interpretam e analisam o conteúdo das premissas. Em tais raciocínios, as suposições fatuais são interpretadas no contexto específico em que se inscrevem, levando a conclusões válidas, através de julgamentos intuitivos, qualitativos e comparativos. As implicações não-triviais derivadas do mecanismo dedutivo nessa abordagem computacional da comunicação são chamadas de efeitos contextuais, alcançados quando uma informação nova (derivada de sistemas de input) é processada no contexto das informações velhas, armazenadas na memória do ouvinte/leitor, resultando numa suposição relevante se alterar as suas crenças anteriores, o seu conhecimento de mundo Há três tipos de efeitos contextuais, sempre considerados numa relação de equilíbrio com o esforço mental para alcançá-los: implicação contextual, derivando uma nova suposição; fortalecimento, que amplia ou fortalece uma suposição fatual existente; e contradição, que elimina a mais fraca entre duas suposições contraditórias. É nessa perspectiva teórica que passamos a explicar, em linhas gerais, como a imagem comunica, oferecendo algumas evidências do potencial explanatório, psicologicamente plausível, da proposta de Sperber e Wilson. ANALISANDO A IMAGEM http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 37 Tomando, então, por base a Teoria da Relevância, apresentaremos um exemplo de texto constituído por imagens, a fim de ilustrarmos como se processa a compreensão inferencial a partir do estímulo visual. O objetivo é mostrar que o significado para a compreensão é construído essencialmente através de pistas contextuais nas quais a imagem é processada. O exemplo que segue é uma charge publicada no jornal Gazeta do Povo (PR), em 12 de abril de 2004, da autoria de Paixão. Trata-se de uma peça comunicativa que geralmente apresenta um fato cotidiano com pinceladas de humor ou ironia e forte dependência de informações, inseridas num contexto marcado preferencialmente pela atualidade. Ao observarmos a charge, percebemos os estímulos ou inputs visuais: - a caricatura do presidente brasileiro Lula; - a figura de uma tartaruga na frente do presidente; - uma coleira no pescoço da tartaruga; http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 38 - Lula, com uma mão no bolso, segura a coleira com a outra, e seus pés estão em movimento, ou seja, ele está caminhando; - os pés da tartaruga também estão em posição de movimento. Se analisássemos, do ponto de vista da semiótica peirceana, a imagem enquanto código visual, teríamos a caricatura do presidente e o desenho da tartaruga como ícones, representando por semelhança o Lula e o animal, e poderíamos destacar como índices: os pés do presidente, numa posição que indica ele estar caminhando, o mesmo ocorrendo com a tartaruga; a coleira na mão do presidente pode ser índice de que ele está segurando a tartaruga para esta não escapar; a postura de Lula, com a mão no bolso, pode indicar descontração, despreocupação; e também o fato de a tartaruga estar na frente seria um índice de que ela está caminhando mais rápido que o presidente. Além disso, é possível identificar em Lula, como presidente do Brasil, o símbolo de maior autoridade nacional. Entenderíamos, então, que o presidente está passeando com uma tartaruga, levando-a pela coleira, e que o chargista criou as imagens numa analogia com um cachorro quando passeia com seu dono; por outro lado, poderíamos ter uma comparação entre o ritmo da caminhada de Lula e o da tartaruga. No entanto, a charge, compreendida desse modo, não estaria apresentando a sua característica básica, uma crítica, por tratar-se de um texto de opinião que sintetiza um momento da realidade na qual se inscreve. Além disso, essa característica a torna intrinsecamente interpretativa, indo além da imagem, visto que há uma intenção informativa do autor a ser reconhecida como um ato de comunicação. Infere-se, portanto, a partir das imagens, que o comunicador está pretendendo apontar alguma crítica ao desempenho do governo brasileiro. http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 39 Em termos de Relevância, numa complementaridade de código visual e inferências, a partir dos inputs visuais que compõem a charge, podem ser acionadas informações da nossa memória enciclopédica, entre elas: 1) O presidente tem sido criticado por não estar fazendo o que prometeu ao povo brasileiro. 2) A tartaruga representa um animal que se caracteriza pela lentidão ao se locomover. 3) Cachorros costumam estar presos na coleira para não fugirem do dono enquanto passeiam. 4) A tartaruga na frente do presidente significa que está andando mais rápido do que ele. 5) O desempenho de Lula tem sido caracterizado pela morosidade nas ações governamentais. Percebe-se que essas informações, possíveis de estarem armazenadas na memória dos brasileiros, no contexto atual, não foram explicitadas linguisticamente, mas resgatadas, de modo implícito, do conhecimento de mundo. E tornam-se relevantes, já que são efeitos contextuais comunicativos e cognitivos alcançados com o menor esforço de processamento justificável em vista da acessibilidade das informações que formam o ambiente cognitivo do povo brasileiro. Combinando-se as informações novas (visuais) com o contexto de informações mentais, ativado pelas imagens da charge, podemos concluir que: 6) Se a tartaruga, um animal muito lento para caminhar, está na frente do presidente, então está andando mais rápido que ele. 7) Se a tartaruga está andando mais rápido que o presidente, então ele praticamente não está se mexendo. http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 40 8) Se o presidente praticamente não está se mexendo, então as suas ações governamentais estão “paradas”. A construção deste raciocínio inferencial pode ser explicada como segue:(i) uma informação nova – imagens da charge, (ii) processada no conjunto de suposições que constituem o contexto de informações velhas dos indivíduos – advindas do contexto sócio-político brasileiro, (iii) leva à implicação contextual (conclusão): 9) O presidente Lula não está tendo um desempenho satisfatório em suas ações governamentais, pois não está fazendo o que prometeu ao povo brasileiro. Sem as informações contextuais sobre o cenário político-governamental, esse raciocínio não seria construído e a charge não passaria a mensagem pretendida, o que também confirma o argumento de Sperber e Wilson de que o ouvinte usa suas crenças, suposições fatuais e esquemas de suposições na interpretação de informações. Ressalta-se então que, indo além do estímulo visual, as informações contextuais disponíveis aos leitores são necessárias para a compreensão adequada do que o chargista propõe. Ou seja, as informações devem ser contextualizadas como premissas de um raciocínio interpretativo para que se atinja um processo de comunicação bem-sucedida. Assim sendo, e enfatizando-se o papel do contexto como um fato objetivo no enriquecimento inferencial da imagem, as suposições contextuais (1-5), somadas aos inputs visuais criados pelo chargista, transformaram-se em premissas (6-8) e derivaram (9) num cálculo não-trivial. Nesse raciocínio, evidencia-se, portanto, que os http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 41 processos inferenciais centrais integram informação dos sistemas de input, neste caso visuais, com informação armazenada na memória para derivar conclusões. http://www.ibrasuperior.com.br/ _______________________________________ARTES VISUAIS www.ibrasuperior.com.br 42 REFERÊNCIAS BUENO, M. L. A. Leitura de imagem. Indaial: UNIASSELVI, 2011. ECO, U. Os limites da interpretação. Trad. Pérola de Carvalho. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 2004. MARTINS. C. M.; PICOSQUE. G.; GUERRA. M. T. T. Didática do ensino de arte: a língua do mundo. São Paulo: FTD, 1998. PASSOS, J. C. Arte como discurso ou discursividade nas linguagens artísticas. Revista Cena em Movimento, ed. 2, 2011. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/ cenamov/article/view/22824/13225>. Acesso em: 29 abr. 2016. ROSSI, M. H. W. Imagens que falam: leitura da arte na escola. Porto Alegre: Mediação, 2009. SANTAELLA, L. A teoria geral dos signos: como as linguagens significam as coisas. São Paulo: Guazelli, 2000. ______. Semiótica aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. UNIVERSIA. Conheça interior vermelho, natureza morta sobre mesa azul, de Henri Matisse. Projeto: um pouco de arte para sua vida. 2012. Disponível em: <http://noticias.universia. com.br/destaque/noticia/2012/07/02/947505/conheca- interior-vermelho-natureza-morta-mesa-azul-henri-matisse.html>. Acesso em: 21 mar. 2016. VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. 9. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993. Disponível em: <http://sersibardari.com.br/wp- content/uploads/2010/09/Teoria-da-Comunica%C3%A7%C3%A3o.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2016. http://www.ibrasuperior.com.br/
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