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XI EPEA – ENCONTRO PARANAENSE DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL – Londrina-PR, 2008 INTERAÇÃO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL POR MEIO DE MATERIAIS INSTRUCIONAIS Maclovia Corrêa da Silva - Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR maclovia@unicamp.br Samira El Ghoz Leme - Universidade Tecnológica Federal do Paraná- UTFPR – samiraleme@yahoo.com.br Resumo Esse artigo discute a produção de materiais instrucionais impressos na Secretaria do Meio Ambiente de Curitiba, centrando-se no diálogo entre Prefeitura, Academia e Sociedade. A partir da contextualização da formação acadêmica em Biologia e políticas públicas de EA reportou-se às idéias de Bornheim para entender as relações entre conhecimentos e saberes que perfazem os conteúdos desses materiais, com pretensão universal e dirigidos a públicos singulares, para a efetivação de projetos locais. Palavras-chave: Materiais instrucionais; Educação ambiental; Tecnologia; Sociedade; Ambiente urbano Introdução Os arranjos que vão se constituindo com as relações mediadas pela Ciência, Tecnologia, Sociedade e Educação Ambiental remetem às questões de adequação de medidas entre as dinâmicas da biosfera e as condições sociais básicas de sobrevivência da humanidade no Planeta Terra. Segue disso impasses que podem ser expressos pelo pensamento de Luzzi (2005), o qual se volta para discutir os caminhos em direção à ruptura do atual comportamento cotidiano que, por um lado, se apóia no estilo de pensamento enraizado nas condutas de valoração e dominação da natureza, e por outro, busca novos significados para a existência humana. O início do século XXI denuncia a necessidade da humanidade rever esse quadro a fim de encontrar meios para reverter os impactos negativos, e potencializar os aspectos positivos. Questionando o estilo de desenvolvimento e o modo de vida contemporâneo. Cutcliffe (2003, p.8) nos diz que o consenso dos benefícios da ciência e da tecnologia até a Segunda Guerra Mundial começou a desmoronar com a instauração de uma nova ordem para as práticas e vivências sociais. Los grupos de activistas, reivindicando hablar en nombre de los intereses públicos en áreas como el consumismo, los derechos civiles y el medio ambiente, junto con las manifestaciones de protesta contra la Guerra de Vietnam, las empresas multinacionales y la energía nuclear, entre otros temas, marcaron gran parte del contexto general de este periodo. Essa postura pró-ativa, individual e coletiva, também aparece nos movimentos ambientais dos anos 60, e na atualidade, com o balanço dos impactos negativos associados aos benefícios da ciência e da tecnologia para a sociedade em geral. Os acontecimentos refletem um aumento de interesse pelas muitas disciplinas acadêmicas em conhecer “no solo de los evidentes beneficios de la tecnología científica, sino también de los frecuentemente ignorados efectos colaterales” (CUTCLIFFE, 2003, p.14) A re-orientação se deu também em outros segmentos da sociedade, de maneira que os avanços técnico-científicos foram fazendo alianças com as mudanças socioculturais. Vale lembrar a existência de posições intermediárias que respondem aos movimentos políticos e intelectuais. Cutcliffe (2003, p. 18) resume que o campo acadêmico de grande convulsão social intitulado Ciência, Tecnologia e Sociedade – CTS na atualidade “concibe la ciencia y la tecnología como proyectos complejos que se dan en contextos históricos y culturales específicos”. Destaca-se a importância da participação ativa do poder público, empresariado e sociedade civil organizada no processo de planejamento, tomada de decisões, execução e avaliação contínua das ações e programas desenvolvidos que viabilizem um “novo padrão de desenvolvimento socialmente justo, economicamente viável, ecologicamente prudente, politicamente participativo e culturalmente eqüitativo” (RATTNER citado por VIEIRA, 1995, p.118; GADOTTI, 2000, p.61). Mackenzie e Wajcman (1996) explicam que precisamos moldar as mudanças tecnológicas de modo a nos mantermos em contato com as discussões públicas, escolhas e políticas. As teorias tecnológicas deterministas contrapõem-se às idéias de modernização enquanto processo inerente à sociedade, pois diferentes circunstâncias geram interpretações diversas de lógicas emergentes. Todavia, como Farias e Freitas afirmam (2007, p. 12), existe um saber hegemônico a ser afrontado para que se construa um saber composto de diversas visões de mundo encerrando a diversidade: “Partindo da idéia de que a diversidade epistêmica é potencialmente infinita, considera-se, portanto, que os conhecimentos sempre são contextuais e particulares mesmo quando arrogam não sê-lo, como é o caso da ciência moderna”. No Paraná, a política de modernização agrícola, iniciada no regime militar, desfez as tendências de urbanização, e essa conjuntura alterou os rumos das atividades rurais. 2 A cidade de Curitiba sofreu a ação dessas mudanças, e a concentração populacional foi se dispersando para áreas consideradas frágeis e de risco, com restrições ambientais para uso e ocupação do solo. Leff (2001, p. 287) descreve o fenômeno urbano como uma aglomeração insustentável, com a “superexploração dos recursos naturais”, “a desestruturação do entorno ecológico”, a interrupção do ciclo de recarga dos lençóis freáticos, e a geração de processo poluidores do ar, da água e do solo. As representações sociais exacerbadas pela modernidade e pelo progresso macularam os estilos de vida rural. Objetivos Em Curitiba avolumam-se os problemas sócio-culturais e ambientais, e medidas políticas se voltam à minimização ou solução das conseqüências dessa dinâmica, especialmente a partir da década de mil novecentos e setenta. Após a criação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente - SMMA, em 1986, ocorreram avanços significativos relacionados ao aspecto corretivo das diferentes fontes poluidoras, aperfeiçoamento de leis específicas, atendimento a denúncias feitas pela comunidade e desenvolvimento de programas e projetos de Educação Ambiental (EA). Estes estão distribuídos pelos seguintes setores da Secretaria: Centro de Educação Ambiental; Museu de História Natural do Capão da Imbuia; Zoológico Municipal; e Museu e Jardim Botânico Municipal. Nesse artigo, em que se discutem aspectos da produção de Material Instrucional Impresso concebido no Centro de Educação Ambiental da SMMA, sustenta-se a relação entre ciência, tecnologia, sociedade e educação ambiental que dialoga com o jogo de forças presente nos processos de desenvolvimento e conservação da natureza. O objetivo é explorar fragmentos das ações que antecedem a produção do material, centrando-se no diálogo entre sociedade civil e poder público, o qual colabora para definir os rumos do Material Instrucional Impresso. Contextualização da discussão proposta A partir de 1999, a instituição da Política Nacional de EA aumentou a necessidade de informações, conhecimentos, metodologias, principalmente com enfoque local, partilhando com a população as contradições e divergências da realidade social. Uma forma de concretizar esse movimento é desenvolver processos educativos por meio de materiais, nos quais as ações possam ultrapassar o caráter de controle ambiental e incluir a mudança de cultura, e a mobilização social. Segundo Toro & Werneck (1997) “mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhado” (p.11). 3 A informação e a comunicação de caráter educativo e preventivo têm sido subsidiadas pela produção de Materiais Instrucionais Impressos de caráter local, tais como cartilhas, folhetos,adesivos, cartazes, banners, entre outros. Estes visam gerar e (re)significar conhecimentos, valores, atitudes, comportamentos e habilidades dirigidos à orientar o estilo de desenvolvimento e modos de vida de comunidades através da “promoção de ensino, capacitação e conscientização pública”(AGENDA 21, capítulo 36, 1992). Além disso, são seguidos os princípios norteadores dos principais documentos de EA, entre eles: a Primeira Conferência Intergovernamental sobre EA (Tbilisi, 1977)1, a Constituição da República Federativa do Brasil (1988)2, a Agenda 21 (Rio de Janeiro, 1992)3, o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (Rio de Janeiro, 1992)4, Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC,1997), o Programa Nacional de EA – PRONEA (MMA/MEC1994) e a Lei 9795/99, que estabeleceu a Política Nacional de EA. Corroboram-se com as idéias que estão desenvolvidas nessa lei quando se conceitua a Educação Ambiental como “os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (BRASIL, 1999). O fundamento teórico-metodológico desse artigo tem por base a discussão de Gerd Bornheim (2005, p.247) que aborda a dicotomia das relações entre o sujeito e a norma, ou seja, entre a sociedade civil e o poder público. Nesse princípio trabalha-se com as idéias do singular e do universal, e nesse dilema, existe o esforço da “norma fixar-se com certa estabilidade, como se seu reino transcendesse as limitações históricas do espaço e do tempo”. O sujeito é uma realidade singular e a norma passa pela idéia do deve-ser que fundamenta as instituições sociais. Parte-se dessas premissas para 1 Conferência Intergovernamental de Tbilisi sobre Educação Ambiental, organizada pela Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (UNESCO) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em 1977 quando foram estabelecidas as diretrizes da educação ambiental. 2 Constituição da República Federativa do Brasil, no seu capítulo VI, Artigo 225 estabelece que “ todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações.” 3 Documento resultado da Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92) representando um consenso alcançado pela comunidade internacional a respeito de questões ambientais em suas diversas facetas. O capítulo 36 refere-se à promoção do ensino, da conscientização pública e do treinamento fundamentado na Declaração da Conferência Intergovernamental de Tbilisi sobre educação ambiental. 4 Documento elaborado pelo Fórum Brasileiro das Organizações Não-governamentais e Movimentos Sociais na Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92), enfatizando orientações às ações de educação ambiental não-formais pela sociedade civil organizada. 4 entender como se relacionam os conhecimentos e os saberes que perfazem os conteúdos do material instrucional impresso, com pretensão universal, a qual se origina na própria norma e se dirige a públicos singulares. As disciplinas dos cursos de Ciências Biológicas e a integração da ciência com a sociedade Quais seriam as competências – conhecimentos, atitudes e habilidades - necessárias ao profissional que trabalha com ciência, tecnologia sociedade e educação ambiental? Para responder essa pergunta, delimitou-se o material de pesquisa ao rol de disciplinas constantes nos cursos de Ciências Biológicas, de modo a poder fazer as relações entre a formação científica e cultural dos profissionais, e a suas posturas enquanto educador ambiental5. Primeiramente, fez-se uma pesquisa virtual6 para levantar as instituições educacionais que atualmente ofertam cursos de Licenciatura e/ou Bacharelado em Ciências Biológicas/Biologia em Curitiba: Universidade Federal do Paraná (UFPR, 1943)7, Pontifícia Universidade Católica (PUC PR, 1955), Universidade Tuiuti do Paraná (UTP, 2003), Universidade Positivo ( UNIPOSITIVO, 2002), Faculdades Integradas Espírita (UNIBEM, 1993) e Faculdades Integradas do Brasil ( UNIBRASIL , 2000). Em seguida, foi feita a leitura das grades curriculares dos cursos, e a priori, pode- se certificar que existe uma interação entre natureza, sociedade, ciência e tecnologia considerando o nome das disciplinas: Bioestatística, Biogeografia, Introdução à Filosofia da Ciência (UFPR); Filosofia, Ética, Ciência do Ambiente I e II, Biologia Econômica e Sanitária I e II, Projeto Comunitário, Bioestatística (PUC PR); Metodologia Científica e Bioestatística I e II, Fundamentos Antropológicos e Sociológicos da Educação, Estudos Interdisciplinares – Programa de Promoção Humana em Saúde I a VI, Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação, Metodologia Científica e Bioestatística I e II, Biologia da Conservação, Biogeografia (UTP); Metodologia Científica, Geologia Geral e Ambiental, Bioética, Fundamentos Sócio-filosóficos da Ciência, Gerenciamento Ambiental, Processos Moleculares e Biotecnológicos, Biogeografia, Bioestatística e Elaboração de Projeto Científico, Biologia da Conservação, Administração e Planejamento Estratégico, Métodos e Técnicas em Educação Ambiental (UNIPOSITIVO); Atividade Acadêmico-Cinetífico-Cultural I – III, Ecologia e Gestão Ambiental , Educação 5 O exercício da profissão de biólogo é regulamentado pela Lei 6.685/1979 e pelo Decreto 88.438/198, que inclui entre suas atribuições profissionais a participação, orientação e coordenação de atividades de educação ambiental. 6 Endereços eletrônicos das instituições educacionais: www.ufpr.br; www.pucpr.br; www.utp.br; www.unipositivo.com.br; www.unibem.br; www.unibrasil.com.br; 7 As datas correspondem à criação dos cursos Licenciatura e/ou Bacharelado em Ciências Biológicas/ Biologia. 5 em Valores Humanos, Introdução à Filosofia e Sociologia, Metodologia de Pesquisa e Estatística, Prática de Ensino com ênfase em Educação Ambiental, Prática de Ensino com ênfase em Saúde Coletiva, Ética Profissional, Administração em Unidades de Conservação, Biogeografia (UNIBEM), Atuação do Biólogo na Sociedade, Redação e Interpretação de Textos Científicos, Bioestatística, Seminário Interdisciplinar em História e Filosofia da Ciência, Metodologia da Pesquisa Científica, Sociologia, Antropologia, Seminário Interdisciplinar em Legislação e Gestão Ambiental, Introdução à Biotecnologia, Seminário Interdisciplinar em Bioética, Cidadania e Responsabilidade Social (UNIBRASIL). Por último, ao estabelecer relações entre disciplinas e as demandas do contexto atual, verificou-se como as instituições de ensino fazem o diálogo com a comunidade externa. A UFPR, que tem uma história centenária, ainda é conservadora e mantém as disciplinas consideradas conteudistas, voltadas para as ciências puras (Introdução à Filosofia da Ciência). Todavia, existem disciplinas que cruzam teorias de diferentes áreas do conhecimento (Bioestatística, Biogeografia). As instituições educacionais criadas mais recentemente incorporam maior número de disciplinas relacionadas às questões ambientais (Gerenciamento Ambiental, Métodos e Técnicas em Educação Ambiental). Porém, segundo o resumo técnico do ENC 2003 (MEC/INEP, 2008) as áreas de conhecimento se confundem com habilitações. Diariamente surgem novas habilitações, decorrentesda especialização do conhecimento, dificultando as questões de administração, pedagogia e avaliação dos cursos. A Educação Ambiental no contexto de políticas públicas O Programa Nacional de EA consiste na implementação de políticas públicas que articulam ações destinadas “a assegurar, no âmbito educativo, a interação e a integração equilibradas das múltiplas dimensões da sustentabilidade ambiental – ecológica, social, ética, cultural, econômica, espacial e política – ao desenvolvimento do país, buscando o envolvimento e a participação social na proteção, recuperação e melhoria das condições ambientais e de qualidade de vida” (MEC/MMA, ProNEA, 2005, p.33). Neste contexto, foram elaborados os conteúdos de EA fundamentados na difusão e apropriação de técnicas, artefatos, conhecimentos e valores voltados para o estabelecimento de novos padrões de atividades humanas, buscando o equilíbrio entre a capacidade de suporte do planeta e o bem-estar e convívio sociais, principalmente no espaço urbano, enquanto habitat humano atual. Segundo o (MEC, 2002) a incorporação da questão ambiental no cotidiano das pessoas através de políticas públicas de educação ambiental relaciona-se com a criação 6 de espaços, metodologias e práticas educativas no âmbito formal e não-formal. A produção e a veiculação dessas idéias ocorrem através de diferentes meios (materiais impressos, rádio, televisão, cinema, websites) e suportes de comunicação (fôlderes, banners, manuais, jornais, revistas, jogos didáticos, vídeos, CD-Rom’s, Internet). Os Materiais Instrucionais Impressos são meios comumente utilizados no desenvolvimento de projetos e ações públicas. Em Curitiba, os programas e ações de EA visando à conscientização pública para a preservação do meio ambiente são amparados pela Lei Orgânica (1990) e pela Política Municipal do Meio Ambiente (Lei 7833/01). Eles têm se caracterizado por ter abordagem sistêmica e interdisciplinar, inter e intra-setorialidade e co-responsabilidade, e por utilizar os recursos midiáticos e conteúdos acadêmicos contextualizados. Os princípios do direito ambiental da precaução8 e prevenção9 também estão presentes nessa dinâmica, fundamentada pela concepção de ambiente, que abrange “a interdependência sistêmica entre o meio natural e o construído, o socioeconômico e o cultural, o físico e o espiritual, sob o enfoque da sustentabilidade” (ProNEA, MEC/MMA, 2004, p.37), e da construção de sociedades sustentáveis. Oliveira (2006) explica que existe uma forte relação entre o gerenciamento do conhecimento local e as formas utilizadas pela governança da administração municipal no que tange às formas de participação dos diferentes segmentos sociais. Para que haja o exercício da cidadania, as diferentes instâncias precisam interagir no sentido de ampliar o acesso ao diálogo e à comunicação. A identificação e conscientização dos problemas resultam em decréscimo de riscos e aplicação dos princípios da precaução. A articulação entre os diferentes setores sociais, e a proximidade com o cotidiano dos cidadãos podem construir uma política de informação que suporte os projetos locais. O ano de 1989, marcado pela inserção simultânea da Educação Ambiental no currículo das escolas municipais de Curitiba, e a implantação de importantes programas ambientais como o Programa de Coleta Seletiva de Resíduos Domiciliares (Programa 8 Princípio da Precaução estabelece a vedação de intervenções no meio ambiente, salvo se houver a certeza que as alterações não causaram reações adversas, já que nem sempre a ciência pode oferecer à sociedade respostas conclusivas sobre a inocuidade de determinados procedimentos. 9 Princípio da Prevenção refere-se aos casos em que os impactos ambientais já são conhecidos, restando certo a obrigatoriedade do licenciamento ambiental e do estudo de impacto ambiental (EIA), estes uns dos principais instrumentos de proteção ao meio ambiente. 7 Lixo que não é Lixo10 e Programa Compra do Lixo11 e o Programa Câmbio Verde12), até hoje vigentes. Porém, os temas expandiram-se com a urbanização acelerada da cidade. Nasceram outros programas e projetos como o Programa Olho d’água13,, Adote uma Árvore14, e o Biocidade15, enfocando temáticas ambientais relevantes para a sustentabilidade urbana. O diálogo entre o Poder Público Executivo Municipal, Academia e Sociedade Curitibana Ao discutir a participação pública na tomada de decisões científico-tecnológicas, Bazzo et al (2003, p. 135) enumeraram um conjunto de argumentos que oscila desde a participação como garantia para “evitar a resistência social e a desconfiança nas instituições”, passa pela incompatibilidade dialógica da tecnocracia com os ideais democráticos até chegar a aproximação integral de juízos de leigos e especialistas. Para os autores, a solução estaria na celebração de contratos, e “os lemas dessa renegociação são bem conhecidos:“participação popular”, ”ciência para o povo”, “tecnologia na democracia”, etc.”. Lidar com interesses não é tarefa simples, “devido à disparidade de pontos de vista, de graus de informação, de nível de consciência e de poder de cada um” (ibid, p. 135). A diversidade de segmentos e grupos sociais demanda a elaboração de critérios de avaliação da participação democrática para decidir quem participa das políticas de gestão científico-tecnológica. Duas teorias da democracia colaboram para essas escolhas: O pluralismo é uma teoria da democracia baseada nas ações dos grupos de interesse organizados voluntariamente. [...] A 10 Programa Lixo que não é Lixo (1989): separação do lixo orgânico do reciclável nas próprias residências possibilitando a reutilização ou reciclagem dos materiais recicláveis descartados. 11 Programa Compra do Lixo (1989): remoção dos resíduos sólidos domésticos em comunidades situadas em áreas de difícil acesso para os caminhões coletores através da troca de sacos de lixo por alimentos hortifrutigranjeiros . Estes resíduos são depositados em caçambas estacionárias fornecidas pela prefeitura às comunidades beneficiadas. 12 Programa Câmbio Verde (1991): separação e entrega do lixo reciclável por frutas e verduras da época e óleo de fritura usado, realizada em pontos de troca situadas em comunidades peri-urbanas, em datas e horários pré-determinados. 13 Programa Olho d’água (1997): educação ambiental através do monitoramento da qualidade da água das microbacias hidrográficas de Curitiba visando desenvolver o sentimento de identidade dos curitibanos em relação aos rios para preservação e conservação dos rios. 14 Adote uma árvore (2006): visa despertar na população o amor pela natureza, pelo equilíbrio do planeta e pelo lugar onde vive através da adoção de árvores no entorno de casa, em jardineiras ou canteiros, nas ruas e praças e margens de rios. 15 Biocidade – Biodiversidade Urbana: (2007): objetiva promover o enriquecimento da biodiversidade urbana, através do conhecimento e da re-introdução da flora nativa regional na cidade; incentivo fiscal para preservação de áreas verdes particulares; entre outras ações. 8 participação direta, em troca, fundamenta-se na noção de que governabilidade democrática implica a intervenção dos indivíduos como tais no estabelecimento das diversas políticas (BAZZO et al., 2003, p.136). Na confecção dos Materiais Instrucionais Impressos, alguns critérios pluralistas são considerados para fazer funcionar o sistema democrático. Existe a participação dos grupos destinatários – comunidades participantes dos programas; comunidades científicas, consumidores dos produtos da ciência e da tecnologia, público interessado por motivos políticos e ideológicos – e de administradores públicos. Iniciativas públicas relacionadas ao tema do meio ambiente, representadaspelas duas Secretarias de Comunicação Social e a do Meio Ambiente, formulam procedimentos administrativos para estabelecer os mecanismos de entendimento entre a sociedade, a natureza, a tecnologia e a ciência. Em 1995, o foi criado o serviço de Pesquisa e Produção de Material Instrucional da Gerência de Educação Ambiental, com a missão de pesquisar e produzir materiais instrucionais de EA para subsidiar e apoiar as atividades educativas desenvolvidas pelos técnicos deste setor. As formas de diálogo começam a florescer no momento em que estes são idealizados, e repercutem-se até o momento de distribuição para a população em geral ou instituições diversas. Para esta análise foram selecionadas situações consideradas representativas de interlocução que interferem na demanda e oferta de Materiais Instrucionais Impressos de EA. A produção desses materiais inicia por demandas que podem ser classificadas da seguinte forma: a) no setor e entre setores da Secretaria, em virtude da EA constituir uma das áreas da atuação da Secretaria, e permear a efetivação dos diferentes programas e ações ambientais de competência da Secretaria tais como: Programa Biocidade, Câmbio Verde, Mutirões de Limpeza16, Eventos Comemorativos Ambientais17; b) entre-setores da Prefeitura como, por exemplo, o Subprograma de EA da implantação da Linha Verde18 e Programas de EA em processos de Regularização Fundiária19; 16 Mutirões de Limpeza: ações concentradas de limpeza em comunidades específicas objetivando a retirada de materiais considerados inservíveis pela comunidade participante existentes em seus terrenos. 17 Eventos Comemorativos Ambientais: Semana do meio ambiente, Dia da árvore, Dia do rio 18 Linha Verde: transformação do trecho urbano da antiga BR 116 em uma avenida que vai integrar as regiões leste e oeste da cidade e abrigar o sexto corredor de transporte; ampliação da capacidade da Rede Integrada de Transporte; aquisição de ônibus; e segurança viária. 19Regularização Fundiária: promove a urbanização e a regularização fundiária em Curitiba, com a finalidade de proporcionar qualidade de vida, cidadania e maior equilíbrio social entre a população. 9 c) parcerias com diferentes instituições públicas e privadas, organizações não- governamentais (ONG’s) e organizações sem fins lucrativos com o objetivo de produção e/ou reprodução de materiais. As solicitações de Materiais Instrucionais Impressos pela população e segmentos organizados da sociedade (Instituições Educacionais e Filantrópicas, Órgãos Governamentais e Não-Governamentais, Empresas, Entidades Representativas) para a realização de ações educativas específicas e campanhas educativas (palestras, eventos, material didático complementar) acontecem por meio de (a) Sistema Integrado de Atendimento ao Cidadão (Central 156); (b) site da prefeitura (www.curitiba.pr.gov.br); (c) por telefone; (d) pessoalmente na Gerência. A articulação dos mecanismos de participação segue um ritual de práticas. A idéia inicial da confecção do material passa por um diálogo entre técnicos de um setor envolvidos no programa ou ação ao qual o material se destina. Após essa etapa, a interação se dá com os autores por meio de pesquisa em livros, exemplares de outras instituições, referências documentais, e consequentemente definem-se a adoção de conceitos teóricos e procedimentos a serem abordados nos mesmos. As falas dos interlocutores expandem-se com a escrita dos materiais. O texto inicial é redigido e submetido à leitura de técnicos da Gerência e de outros setores afins para observações, sugestões e alterações. A partir desse texto, outros profissionais intervêm para dar vida às letras, com a inserção de imagens e a formatação do leiaute. Após a finalização do processo de comunicação visual, os materiais são submetidos à nova leitura pelos técnicos da Gerência, de setores afins e níveis hierárquicos superiores para aprovação e posterior conclusão da arte-final. O encaminhamento dos materiais para a produção gráfica pode ocorrer internamente na Gerência ou em estabelecimentos habilitados por processos de licitação, pregão eletrônico ou empenho. Nos casos de reimpressão de materiais em empresas gráficas procedem-se as medidas administrativas pertinentes. Conclusões O diálogo ambiental na atualidade possibilita reportar-se à relação entre o sujeito e a norma enquanto característica da própria evolução da humanidade, visto que segundo Bornheim “o sujeito é simplesmente uma realidade singular, datada no espaço e no tempo e a norma não passaria de mera convenção social” (2005, p.248). Duarte Jr. ressalta também a característica do ser humano em reagir aos agentes externos e 10 internos, de modo a dar significado para os mesmos, interpretá-los e assim configurar suas ações no mundo (1988). No desenvolvimento de programas de EA em Curitiba, com o uso de materiais instrucionais impressos (cartazes, cartilhas, boletins informativos, folhetos, entre outros) institui-se o diálogo e a participação ativa de entidades civis e poder público. Ciência, natureza, sociedade e tecnologia estão presentes nessa organização e concepção da cidade, na medida em que se fundem conhecimentos disciplinares, metodologias, procedimentos para a mobilização e participação da população. O caráter ativo da produção de Materiais Instrucionais Impressos precisa atender uma pluralidade de perspectivas no sentido estritamente prático: tema, público destinatário, quantidade, tipo, recursos financeiros e/ou materiais necessários e prazo de entrega e de utilização. Por vezes, o resultado acaba gerando a implantação de ações que enfatizam mais o controle ambiental do que a reflexão sobre a conduta diária dos cidadãos, os quais sentem dificuldade de entender que eles fazem parte dos processos. Todavia, o outro lado da moeda apresenta o desafio de se estabelecer canais onde a comunicação é hermética, definir prioridades, e orientar os espaços de negociações. A gestão compartilhada ainda está em construção. O paradigma da tecnologia e ciência como mediador de problemas sociais encobre atitudes e comportamentos que podem ser entendidos como distantes dos problemas ambientais. Cidadãos do mundo social, do Planeta Terra têm diferentes maneiras de ser e estar, e essas posturas sofrem influências de formações acadêmicas, de vivências, e dos estados diferenciados de consciência. Propósitos como assumir responsabilidades, respeitar compromissos, ser sensível e critico formariam o perfil do ser humano desejoso de conservar e preservar o seu espaço habitado por um conjunto de seres vivos. A comunicação, feita pelos materiais instrucionais impressos faz um elo das representações da natureza e com eles se pode fazer a aproximação entre as luzes do sol e da eletricidade, entre o asfalto e a terra, entre os eletrodomésticos e o preparo alimentação. Acontece a imbricação dos sistemas natural e artificial nas práticas cotidianas diminuindo as possibilidades, interrompendo ou acelerando o contraste do urbano e do rural. O processo que envolve a transmissão e a recepção de mensagens pode interferir nas relações entre ciência, tecnologia, sociedade e natureza. Referências BAZZO, W. et al. Os estudos CTS. In: Introdução aos estudos CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade). Espanha: OEI, 2003. 11 BORHNHEIM, G. O sujeito e a norma. In. NOVAES, A. (org). Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm. Acesso em 05.out. 2007. BRASIL. Agenda 21 Brasileira. 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