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1 Cirurgia – Pancreatite Aguda Caio Márcio Silva Cruz Pancreatite Aguda Aguda Condição inflamatória do pâncreas, de instalação rápida, com acometimento variável das estruturas peripancreáticas e órgãos à distância, cuja gênese depende da autodigestão tecidual pelas próprias enzimas pancreáticas. “O pâncreas se auto digere”. Geralmente se manifesta com dor abdominal, vômitos e aumento das enzimas pancreáticas no sangue. Nos casos mais graves, comporta-se como uma doença multissistêmica e leva à Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS), com alta letalidade. Libera vários fatores inflamatórios. Após a resolução do quadro desencadeador, não deixa sequelas ao pâncreas (Morfológicas e funcionais). 10% percorre para a forma grave. Classificação PA Leve (Edematosa/Intersticial) 80 a 90% dos casos Edema do pâncreas Sem áreas extensas de necrose Sem complicações locais ou sistêmicas Curso autolimitado em 3-7 dias. PA grave (Necrosante/Necrohemorrágica) 10 a 20% dos casos Extensa necrose parenquimatosa Hemorragia retroperitoneal Quadro sistêmico grave Evolução de 3-6 semanas Letalidade de 30 a 60% Etiologia Mecanismo ainda desconhecido Oclusão do esfíncter de Oddi - É uma válvula muscular que controla o fluxo dos fluidos digestivos (biles e suco pancreático) que passam por dois "canais" que drenam a bile que sai do fígado e do ducto do pâncreas em direção ao intestino (duodeno). Obstrução ao fluxo pancreático Refluxo de bile infectada para dentro do pâncreas. Causas da Pancreatite Aguda Coledocolitíase (microlitiase biliar ) Alcoolismo Hipertrigliceridemia (>1000mg/dL) Hipercalcemia Infecções (caxumba, hepatite A e B) Helmintos Tumores ampulares, pancreáticos Pâncreas divisum (ducto de Wirsung drena na papila menor) Após cirurgia e CPRE Picadas de animais (aranha, escorpião) Inseticidas organofosforados Vasculite Disfunção do esfíncter de Oddi Gravidez Idiopática (lama biliar/ microcálculos) Isquemia prolongada Fármacos 2 Cirurgia – Pancreatite Aguda Caio Márcio Silva Cruz Drogas Associadas Pancreatite por Cálculo Álcool Associação com PC Não Sim Gênero Feminino Masculino Idade 50 - 70 anos Jovens Obesidade Sim Amilase > 4000 U/L AST Fosfatase alcalina > 100 U/L > 300 U/L Pacientes com Colelitíase (3-5% complicam com PA). A Colecistectomia previne as recidivas de PA nesses pacientes. Observada em 5 a 10% dos alcoólatras. Acomete o etilista inveterado: > 25g de álcool/dia (antes>100g/dia) por 5 anos; Desencadeada após libação alcoólica. Causas de Aumento da Amilase e Lipase sérica Amilase Lipase Pancreatite ↑ ↑ Cálculos Biliares ↑ ↑ Lesões da mucosa intestinal ↑ ↑ Insuficiência renal ↑ ↑ Parotidite ↑ Normal Doença tubo- ovariana ↑ Normal Macroamilasemia ↑ Normal Alcoolismo crônico ↑ Normal Patogêneses Litíase Biliar Obstrução transitória da Ampola de Vater (Por um pequeno cálculo ou pelo edema gerado por sua passagem) Aumento súbito da Reflexo biliar para Pressão intraductal o ducto Pancreático Estímulo a ativação enzimática Álcool Estímulo direto à liberação de grande quantidade de enzimas pancreáticas ativadas. Promove contração transitória do esfíncter de Oddi. Lesão tóxica acinar pelo etanol ou metabólitos. Formação de cilindros proteináceos que obstruem os dúctulos. Processo autodigestivo do Pâncreas Estímulo Célula Acinar Fusão dos Zimogênios com as Vesículas contendo a catepsina B Tripsinogênio Tripsina 3 Cirurgia – Pancreatite Aguda Caio Márcio Silva Cruz Ativação da Tripsina Ativação da Cinina- Calicreína Edema Inflamação Ativação da Quimiotripsina Edema Lesão Vascular Ativação da Elastase Lesão Vascular Hemorragias Ativação da Fosfolipase Necrose Coagulação Ativação da Lipase Esteatonecrose Pancreatite Aguda Diagnóstico Clínico (Anamnese, exame físico) Dor abdominal (epigástrico/mesogástrico) Aguda - início súbito - Contínua - Intensa. Difusa se enzimas cai na cavidade. Agravada pela deambulação ou em decúbito dorsal, melhora com os MMII fletidos (posição genupeitoral). Irradiação para: Hipocôndrios (18%) Região dorsal (11%) Em barra-faixa (13%), Para o ombro esquerdo pela irritação do diafragma. Importante: Quando a causa biliar é antecedida pela ingesta de alimentos gordurosos. Sua intensidade não guarda relação com a gravidade da PA. (Além disso, cerca de 5% dos pacientes não apresentam dor) Náuseas e vômitos (74%), Alimentos recém-ingeridos, suco gástrico e bile - melhora a dor. Distensão abdominal Enzimas na cavidade- íleo paralítico (ruídos HA diminuídos) (alças localizadas - sentinela no RX) Icterícia Geralmente as custas da Bilirrubina direta (causa obstrutiva – Coledocolitíase) dependente do edema da cabeça pancreática, da papila de Vater. Choque (5,7%) Hipotensão, sudorese, Taquicardia, fraqueza, desidratação. Extravasamento de enzimas, materiais vasoativos e tóxicos que ganham a circulação sistêmica levando a insuficiência respiratória renal e colapso vascular. Febre O grau depende: o Se edematosa (38-39°C) o Necrótica (39-40°C) o Abscesso pancreático (40- 41°C) 20% não ocorre elevação de temperatura. Exame físico Paciente: Com face de sofrimento, toxemiado. Ictérico ou não Hipotenso ou chocado (necrose tubular e IRA) Reação dolorosa difusamente ou no andar superior do abdome Blumberg positivo na fase de agravamento (defesa e irritação peritoneal) Hemorragia digestiva (pela necrose pancreática, sangra para o D. Wirsung) Espasmos (contrações) musculares abdominais pela irritação peritoneal e hipocalcemia – 7,5 – 8,5 mg/100mL) o Valores abaixo de 7 estão nas PA graves (Sinal de Trousseau e Chvostek) Sinal de Cullen – Fox 4 Cirurgia – Pancreatite Aguda Caio Márcio Silva Cruz Sinal de Grey Turner Se houver formação de pseudocisto - massa palpável. Xantomas palpebrais e cotovelos na pancreatite por hiperlipemia. Nódulos no subcutâneo por necrose gordurosa. Ascite (amilase maior que 500 U/L) Derrame pleural, atelectasia (a esquerda), insuficiência respiratória. Desorientação, alucinação Discrepância entre os sintomas e exame físico (mais ameno) Exames Laboratoriais Hipocalcemia e Hiperglicemia (pela lesão das Ilhotas de Langerhans) Leucocitose Proteinúria Uréia (pode se elevar) Fosfolipase A2 – radioimunoensaio e ELISA para detecção de tripsinogênio e Elastase. Alfa-2 macroglobulina AST/ALT o ALT>150 = 96% de especificidade para pancreatite litiásica. FA/GGT Bilirrubinas Glicosúria (10 – 20% dos casos) Proteína C reativa Atividade Catalítica Exames de Imagem Rx de Abdome Suspeita de abdome agudo Íleo difuso ou localizado - alça em sentinela Interrupção da coluna de líquido/ar no colón-amputação. Calcificações Rx de Tórax Derrame pleural esquerda Atelectasias de bases Infiltrado bilateral (SARA) US de Abdome Não serve para diagnóstico de PA Pesquisa de litíase biliar Avaliar lesões císticas fazendo doppler para descartar pseudoaneurisma. CPRE RM de Abdome (Colangio e Angio) Mais ou menos igual a TC no diagnóstico de PA Mais cara e de acesso mais difícil Útil em gestantes e alérgicos ao contraste. Melhor avaliação da árvore biliar Melhor análise de coleções líquidas Indicação da TC na Pancreatite Aguda Pacientes cujo o diagnóstico é duvidoso Pacientes com hiperamilasemia e critérios clínicos de gravidade como distensão e dor abdominal, hipertermia(> 39ºc) e leucocitose. Pacientes com Ranson > 3 e APACHE ll > 8 5 Cirurgia – Pancreatite Aguda Caio Márcio Silva Cruz Paciente apresentando deterioração clínica a despeito de tratamento conservador inicial por 72h Deterioração clínica aguda após melhora clínica inicial TC de Abdome Contrastada Melhor método de imagem para PA Alta sensibilidade e especificidade (90%) Pode ser normal na PA leve – 15 a 30%. Helicoidal com contraste em bolo Aumento focal ou difuso da glândula Borramento da gordura peripancreática e perirrenal. Avalia melhor a gordura e coleções líquidas peripancreática. Faz a diferença entre pancreatite intersticial e necrosante. Áreas não captantes de contraste (sugestivo de necrose). Aspiração do material necrótico e realização de coloração de gram e cultura são importantes. Obs.: a localização mais frequente de infiltrado extrapancreático é o pararrenal anterior esquerdo. Prognóstico Fatores Servem para guiar conduta e prever tempo de internação: Critérios clínico-laboratoriais Marcadores sorológicos TC de abdome Contrastada Grau de severidade é medido pelos critérios de Ranson Glasgow APACHE II; Critérios clínicos são falência de um ou mais sistemas orgânicos. Classificação de severidade TC - Entre 1963-1988 vários simpósios tentavam definir a classificação de severidade. Em 1992 permanecia a falta de uniformidade, houve um encontro em Atlanta, Geórgia para definir grau de severidade de forma precoce levando em consideração: Ranson (> 3 sinais) e APACHE ll (>8 pontos) nas primeiras 48h Insuficiência orgânica X necrose pancreática Obs.: Pacientes obesos apresentam > probabilidade de insuficiência orgânica e necrose pancreática. Critérios de Glasgow Modificados Idade > 55 anos Leucócitos > 15.000/mm3 DHL > 600 IU/L Glicose > 180mg/dl Albumina < 3,2 mg/dl Cálcio < 8mg/dl PO2 arterial < 60mmHg Uréia > 90mg/dl Apache-II Utilizado em UTI Marcadores sorológicos PCR > 150 mg/dL mau prognóstico IL-6 Peptídeo ativador de tripsinogênio 6 Cirurgia – Pancreatite Aguda Caio Márcio Silva Cruz Elastase específica de neutrófilos TC de abdome Contrastada Padrão-ouro no diagnóstico de necrose pancreática Acurácia - >90% (se houver > 30% de necrose) Sensibilidade ≅ 100% entre o 4º e o 10º dia. Diferenciar PA edematosa de PA necrosante. Usado os Critérios de Baltazar Escore total >/= 6 ⇒ mau prognóstico Critérios de Baltazar » Grau A – E, 0 – 4 pontos A – 0 pontos: Pâncreas com morfologia normal. B – 1 ponto: aumento focal ou difuso do órgão. C – 2 pontos: alteração peripancreática. D – 3 pontos: coleção líquida única. E – 4 pontos: presença de 2 ou mais coleções. » Índice de gravidade: quantificar o grau de necrose pancreática • Sem necrose – 0 pontos; • Até 33% - 2 pontos. • De 33% a 50% - 4 pontos; • Mais de 50% - 6 pontos. » Escore final: • Leve – 0 a 3 pontos. • Moderada – 4 a 6 pontos. • Grave – 7 a 10 pontos. Mortalidade <2% - pancreatite intersticial 10% - na necrose estéril 30% - na necrose infectada Tratamento De Valor não confirmado SNG Inibição do ácido gástrico Glicocorticosteróides Glucagon Calcitonina Somatostatina Lavagem peritoneal Pancreatite aguda Leve Grave Internação Enfermaria ou UCI UTI Dieta Zero até melhora clínica (3º-5º dia), alívio da dor, sem vômitos, peristalse normal Zero + suporte enteral e NPT Reposição volêmica Vigorosa Mínimo de 6L nas primeiras 24h Controle eletrolítico e Ácido- Básico Sim Sim Analgesia Meperidina Evitar morfina (espasmo E. Oddi) Meperidina Evitar morfina (espasmo no E. Oddi) TC de controle Desnecessária necessita Antibióticos IBP Terpenos, quinolonas, cefalosporinas, Metronidazol Sim Com > 30% de necrose Terpenos, quinolonas, Cefalosporinas, metro. (10-21 dias) Sim Abordagem e Tratamento Pancreatite Grave (necrosante) ↓ Falência > ou igual 1 sistema orgânico ↓ UTI ↓ Iminepem ou Cefuroxima profilática ↓ TC dinâmica com aspiração da necrose 7 Cirurgia – Pancreatite Aguda Caio Márcio Silva Cruz ↓ Cultura e/ou coloração por: ↓ Gram-negativo Cuidado de suporte Gram-positivo Desbridamento cirúrgico Complicações Locais e Sistêmicas Hipovolemia Distúrbios Metabólicos / Eletrolíticos Insuficiência Respiratória Insuficiência Renal Alterações SNC Alterações Cardiovasculares Hemorragia Digestiva Disfunção Hepatobiliar Coagulopatias Choque / Coma Hemorragias (aparecem em 3%) Podem acontecer na pancreatite necrosante (artérias esplênica, pancreática e gastroduodenal) ou dentro do pseudocisto podem sangrar para o trato digestivo, intraperitoneal e retroperitoneal. Pode ocorrer Trombose das veias esplênicas levando a sangramento varicoso gástrico, necessitando de esplenectomia. Tratamento: o Embolização angiográfica o Cirurgia com mortalidade em 1/3 dos pacientes. Infecção (presente em 40% na PA necrosante) Abscessos pancreáticos aparecem em torno de 3-7 semanas da evolução da PA. TC helicoidal contrastada com aspiração para diagnóstico de infecção (E. coli e Gram negativo) Drenagem cirúrgica. Mortalidade em torno de 20%-50%. Pseudocistos (Ocorrem em 15%) Complicam em 25% (infecção, hemorragia, perfuração) Tratamento: o Drenagem percutânea guiada por TC o Drenagem endoscópica (para estômago ou duodeno) o Descompressão cirúrgica o Cistogastrostomia o Cistojejunostomia Fístulas Ocorrem por disrupção ductal ou ruptura de pseudocisto levando a ascite, efusões pleurais e drenagem cutânea. Tratamento: o Toracocentese o Paracentese o Octreotida o Colocação de prótese endoscópica intraductal o Cirurgia de drenagem interna ou ressecção pancreática. Paniculite Necrose gordurosa subcutânea Sinal de Grey-Turner Equimose em flancos Sinal de Cullen e FOX Equimose periumbilical e púbis 8 Cirurgia – Pancreatite Aguda Caio Márcio Silva Cruz Ascite Obstrução do tubo digestivo Diagnóstico diferencial Úlcera perfurada Obstrução intestinal Colecistite aguda Trombose mesentérica Apendicite aguda Diverticulite IAM Aneurisma de aorta Cólica nefrética
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