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Pancreatite Aguda TBL Definição Síndrome clínica caracterizada por inflamação do parenquima pancreatico e elevação das enzimas pancreáticas, gerando um quadro clínico de dor abdominal clássica. • Orgão prévio hígido; • Vários episódios de pancreatite aguda podem gerar pancreatite crônica. Fisiopatologia Ocorre uma ativação intra-acinar das enzimas proteolíticas (produzidas pelo pâncreas e agem na digestão) → lesão autodigestiva. “canibalismo” • O aumento da pressão ductal → aproximação de vacúolos citoplasmáticos ricos em Catepsina β (ativador do tripsinogênio) com as pró-enzimas = Colocalização. • Grande quantidade de tripsina liberada bloqueia os mecanismos de defesa do pâncreas (inibidor de tripsina) e ativa outras enzimas proteolíticas – uma ativa a outra em um ciclo. • Processo inflamatório local → Quimiotaxia de células inflamatórias e liberação de citocinas (na corrente sanguínea desencadeia sintomas sistêmicos). • Ciclo vicioso de autodigestão. Ativação pancreática resulta em: → Injúria microvascular: vasoconstrição, estase, isquemia, aumento da permeabilidade. Figura 39.1 Fisiopatogenia da pancreatite aguda. 1 Danielle Aguiar – Medicina 6º semestre UniFG Danielle Aguiar Med UniFG 6º s - TBL Etiologias 1. Litíase Biliar: (60%), cálculos pequenos (<5mm) tem + risco; 3 a 7% dos cálculos viram pancreatite. 2. Álcool: (30%) sendo que 10% dos alcoólatras. O álcool aumenta a síntese de enzimas células acinares / maior sensibilidade dos ácinos a CCK. 3. Drogas: (5%) Possuem melhor prognóstico em comparação e pode ser por uso em apenas semanas ou meses. Ex.: Azatioprina, Furosemida, Tiazídicos, ácido valpróico, Metronidazol, Sulfas, Enalapril, Codeína, amiodarona, omeprazol Sinvastatina (benefício uso estatina em prevenção 2ª). 4. Infecções virais: caxumba, CMV, varicela- zoster. 5. Pós-CRPE: Iatrogênica. Única indicação terapêutica em cálculos impactados na papila de Vater -icterícia persistente. 6. Traumática: crianças → queda da bicicleta (guidão) e síndrome do tanque (pendurar no tanquinho de roupas). 7. Genética: considera em < 35 anos 8. Hipercalcemia: deposição no ducto pancreático e ativa tripsinogênio. A hipocalcemia é sinal de prognóstico. 9. Hipertrigliceridemia: >1000mg/dL → aumenta ação da lipase pancreática. Outras: obstrução mecânica: tumores, ascaridíase, disfunção do esfíncter de Oddi; Tóxicas: metanol, organofosforados, inseticidas. vasculares (isquemia), malformações congênitas (pancreas divisium), pancreatite idiopática: quando não se consegue definir uma etiologia. Quadro clínico → DOR ABDOMINAL INTENSA Região epigástrica e com irradiação para flancos e dorso, podendo ser disposta “em faixa”. • Em barra/ irradia dorso / “facada” → 50% • Náuseas / vômitos em repetição → 90% Outras manifestações: • Pode apresentar-se febril, desidratado, taquicárdico, taquipneico e hipotenso. • Icterícia, principalmente etiologia biliar, ocasionada devido à obstrução do colédoco por cálculo ou edema da cabeça do pâncreas. • Rebaixamento do nível de consciência → choque (pode ocorrer tanto por hipovolemia da perda sanguínea para o retroperitônio nos casos de pancreatite necro-hemorrágica ou quanto por vasodilatação sistêmica devido à SIRS. ❖ Abdome doloroso à palpação sem sinais de peritonite. Massa abdominal pode ser palpável devido à formação de pseudocisto pancreático. Os sinais de irritação peritoneal não são comuns em apresentações leves. • Posição genupeitoral; • Necrose gordura subcutânea (paniculite) • Distensão abdominal (citocinas inflamatórias e hipovolemia → translocação de bactérias); • Depressão miocárdica • IRA (insuficiência Renal Aguda); 2 Danielle Aguiar Med UniFG 6º s - TBL • Alterações pulmonares: derrame pleural (principalmente à esquerda), atelectasias e estertores. • Casos graves, comprometimento pulmonar pode acarretar síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA - fosfolipase A digere a lectina principal componente do surfactante). SINAL DE CULLEN: → Sangramento retroperitoneal devido a necrose pancreática, hematoma periumbilical, região Central → 3%. SINAL DE GREY-TURNER: → Sangramento com hematoma nos flancos (laterais). ❖ Grey e Cullen podem surgir em casos de pancreatite aguda grave devido à extensão da hemorragia retroperitoneal aos tecidos subcutâneos. Ocasionalmente, ocorre também necrose do tecido adiposo subcutâneo, com formação de nódulos dolorosos e eritematosos nas extremidades. SINAL DE FOX → Equimose na região inguinal ou base do pênis; sangramento retroperitoneal. Diagnóstico Critérios de Atlanta/BANKS: 2 de 3 • Clínica + laboratório + imagem Sintomas clínicos, característicos; Amilase ou Lipase ≥ 3X limite superior; TC (realiza após 72h – contraste/ iodado é nefrotóxico, contraindica disfunção renal) ou RNM compatível com pancreatite aguda. LABORATÓRIO • Leucocitose, ↑ureia, ↑hematócrito (devido a extravasamento do fluido intravascular para o terceiro espaço). • Amilase → Sensível – sobre e cai precoce; meia vida: 10h. Retorna normal em 3-5 dias. VR: <220 UI/L • Lipase → Pico em 24h. Retorna ao normal 8-14 dias (+específica). VR: <190 UI/L • Hiperbilirrubinemia → direta • Hipocalcemia → Deposição pancreática - ligação com ácidos graxos livres. Pior prognóstico. • Hipoabulminemia → direta. • ALT/AST aumentadas. EXAMES DE IMAGEM → USG de abdome - pesquisa etiologia (50% biliar) todos os pacientes. Bom para avaliar vesícula e dilatação de VB (caso colelitíase suspeitar de pancreatite), ruim para ver pâncreas. → TC de abdome e contraste venoso (após 3 dias da dor). Bom para avaliar pâncreas, confirmação. → RNM de abdome – Colangiorressonância. CRITÉRIOS DE BALTHAZAR – PANCREATITE AG. Soma de pontos → Risco de complicação (%): 0 – 3 → 0% 4 – 6 → 35% 7 – 10 → 92% Pontos Grau de Lesão na TC 0 Normal 1 Aumento difuso do pâncreas 2 Alterações intrínsecas do pâncreas + alterações na gordura peri-pancreática 3 Presença de uma coleção mal definida 4 Presença de duas ou mais coleções líquidas mal definidas Pontos Grau de Necrose 0 0% 2 < 30% 4 30 – 50% 6 > 50% 3 Danielle Aguiar Med UniFG 6º s - TBL DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS ➢ Úlcera péptica: em geral dor epigástrico, porém intermitente, não irradiando para dorso. Muitas vezes associada a uso de AINEs ou infecção por Helicobacter pylori. ➢ Coledocolitíase ou colangite: história de cálculo biliar ou manipulação das vias biliares, havendo aumento sérico de bilirrubinas, fosfatase alcalina, gama GT. Em geral, amilase e lipase não se elevam. ➢ Colecistite: dor abdominal, mais comum em hipocôndrio direito, podendo irradiar para escápula ipsilateral ou dorso. Os pacientes com esse quadro apresentam piora da dor à palpação da região, podendo apresentar Sinal de Murphy positivo. ➢ Outros diagnósticos: perfuração de vísceras, obstrução intestinal, isquemia mesentérica, hepatite. COMPLICAÇÕES Infecção: é uma complicação rara em caso de pancreatite edematosa, mas pode ocorrer em 20 a 50% dos pacientes com pancreatite necrotizante. Geralmente, manifesta-se nas primeiras duas semanas da doença e requer tratamento cirúrgico imediato. Pseudocisto: em casos assintomáticos, independentemente do tamanho, não necessita de tratamento. É indicada a monitoração ecográfica a cada três a seis meses. Sintomas novos, como dor abdominal, calafrios ou febre, indicam necessidade de drenagem, que pode ser realizada por método radiológico, endoscópico ou cirúrgico. Abscessos: o aparecimento é mais tardio que o da necrose infectada, ocorrendo pelo menos quatro semanas após o início da pancreatite aguda. Drenagem por cateter transcutâneo ou cirúrgicageralmente são tratamentos efetivos. Classificação Pancreatite aguda edematosa intersticial: Inflamação aguda do parênquima pancreático e dos tecidos peri-pancreáticos. Sem necrose tecidual. Pancreatite aguda necrosante: Inflamação associada à necrose do parênquima pancreático e/ou peri-pancreático. • Critérios de Atlanta, Balthazar, escore de Ranson, Petrov, Marshall, SOFA. CLASSIFICAÇÃO ATLANTA REVISADA 2012 Gravidade da pancreatite aguda Falência orgânica e complicações Pancreatite aguda leve - Sem falência orgânica; - Sem complicações; Moderadamente grave -Falência orgânica transitória (resolve em 48h); Complicações locais ou sistêmicas sem persistência de falência orgânica Grave - Falência orgânica persistente (única ou múltipla) ➢ Queda de Ht >10% → após 48h expressa valor real, mascarado na admissão. 4 Danielle Aguiar Med UniFG 6º s - TBL CRITÉRIOS DE PETROV ~2016 → Leve: ausência de complicações → Moderada: complicações sistêmicas transitórias/necrose estéril; → Grave: falência orgânica permanente ou necrose infectada; → Crítica: falência orgânica permanente e necrose infectada. ❖ Complicações locais: Tem necrose? É infectada ou estéril? AR → TC ❖ Complicações sistêmicas: falência orgânica? Transitória ou permanente? CRITÉRIOS DE MARSHALL APACHE II Na avaliação inicial, o exame clínico deve checar perda precoce de fluidos, falência orgânica (principalmente cardiovascular, respiratória ou renal), realização do escore de APACHE II e do escore de síndrome da resposta inflamatória sistêmica. (SIRS) → 2ou+ dos seguintes critérios: ➢ Temperatura >38.3°C ou <36°C ➢ FC >90bpm ➢ FR >20irpm ou PaCO2 <32mmHg ➢ Leucócitos >12mil células/ml, <4000 células/ml ou >10% bastões INDICAÇÕES DE UTI E MONITORIZAÇÃO • Pacientes com pancreatite aguda grave • Critérios de gravidade são: FC < 40 bpm ou > 150 bpm; pressão sistólica < 80 mmHg ou média < 60 mmHg; FR > 35 irpm; hiponatremia grave ou hipernatremia grave; glicose sérica > 800 mg/dL; cálcio sérico > 15 mg/dL; PaO2 < 50 mmHg; Anúria; coma. • APACHE II > 8 nas primeiras 24h de admissão • SIRS persistente por mais de 48h • HT >44%, BUN >20mg/dL (BUN=ureia x 2,14), ou creatinina >1,8mg/dL • Idade >60 anos • Comorbidade cardíaca, pulmonar ou obesidade. Mortalidade: 3% → pancreatite edematosa intersticial; 17% → pancreatite necrosante. Tratamento Objetivos: reduzir a morbimortalidade, prevenir necrose pancreática e infecções, tratar a inflamação pancreática e corrigir os fatores predisponentes. 1. identificar a etiologia da pancreatite aguda e, se possível, guiar ao tratamento específico da causa. 2. Avaliar gravidade; * PCR (48h da dor) se >150 → tem 80% necrose pancreas. 3. Inicialmente, jejum e após 24 – 36h ou quando permitir o estado clínico, retomar dieta oral hipolipídica - ainda há uso de sonda nasoenteral e dieta parenteral (lembrando de nutrir os enterócitos para evitar translocação bacteriana – pequena quant. dieta por SNE). 5 Danielle Aguiar Med UniFG 6º s - TBL 4. Reposição de fluidos – Hidratação cristaloide 24 – 48h de acordo balanço hídrico. 5. Analgesia: dipirona, Tramadol, podendo ser necessário o uso de opioides. → A meperidina é a mais utilizada por ocasionar menos ação espasmódica sobre o esfíncter de Oddi quando comparada à morfina. MANEJO • Em pancreatite leve (Ranson >3; Marshall < 2): jejum, hidratação e analgesia. • Pancreatite grave → UTI → jejum, analgesia, hidratação; →ATB largo espectro – apenas presença necrose infectada (20%). → Cirurgia/drenagem – apenas necrose infectada, após 14 dias (3-4sem). → CPRE - realizada nas primeiras 24h: apenas se cálculo impactado no ducto com icterícia persistente. → Se causa biliar – colecistectomia antes da alta hospitalar evitar recidiva). • Complicações: → Pseudocisto - surge 4 meses após a pancreatite aguda. → Necrose infectada – após 7 a 10 dias, instabilidade hemodinâmica. 1º ATB carbapenêmicos, 2º quinolona ou cefalosporina. Necrosectomia (tardia). 6
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