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PARECER TÉCNICO 2 Elaborado por: Roberto Botelho Monteiro Neto Disciplina: Compliance Turma: 0222-2_3 – turma 03 3 Cabeçalho Órgão solicitante: Presidência do Laboratório Remédios & Medicamentos Ltda. Assunto: Análise do caso ocorrido no Laboratório Remédios & Medicamentos Ltda. quanto à legalidade da aquisição de produtos injetáveis próximos ao período de vencimento, bem como a obrigação de transparência à luz dos pressupostos norteadores do compliance e da governança corporativa. 4 Ementa Código do Direito do Consumidor e Anvisa; Obrigações do Auditor, do Compliance Officer e da Governança Corporativa assim como sua autonomia; Atuação da alta direção frente ao compliance e a governança corporativa; Considerações finais com juízo de valor. 5 Relatório Será analisada de maneira objetiva o fato apurado através de um processo de auditoria interna realizado nas dependências do Laboratório Remédios & Medicamentos LTDA., onde fora identificada a aquisição em larga escala de remédios injetáveis para crianças acima de dois anos com vencimento em até 3 meses. Desta feita, o Sr. Cláudio, pessoa responsável pela auditoria, entendeu por comunicar o fato detectado à alta diretoria, no entanto, esta informou que estava ciente da peculiaridade do caso, porém a compra havia sido mantida em decorrência do baixo custo. Além disso, o comprador fora informado quanto a proximidade do vencimento dos produtos. Importante destacar que o ora auditor foi terminantemente orientado a não dar prosseguimento ao assunto. Diante disto, a seguir serão analisadas a legalidade do procedimento de aquisição dos medicamentos próximo ao vencimento, os deveres do auditor que identificou o fato, assim como o procedimento da diretoria que recebeu a comunicação, face os princípios da governança e do compliance. Além disso, serão abordadas as diferenças entre o compliance officer e o auditor interno, bem como suas conexões. 6 Fundamentação Iniciando a análise a partir do cenário narrado acima, necessário se faz definirmos o rol de responsabilidades de um auditor interno, assim como o escopo do Compliance Officer e, por fim, de uma exemplar governança corporativa e suas conexões. Attie, WILLIAM. (1994, p. 29) defende que: “ (…) A auditoria interna é uma função independente de avaliação, criada dentro da empresa para examinar e avaliar suas atividades, Como um serviço a essa mesma organização. A proposta da auditoria interna é auxiliar os membros da administração a desincumbirem- se eficazmente de suas atividades. Para tanto, a auditoria interna lhes fornece análises, avaliações, recomendações, assessoria e informações relativas às atividades examinadas. ” Desta maneira, o auditor realizou a sua tarefa obrigatória ao comunicar à alta gestão quanto à irregularidade ora identificada no tocante aos remédios com datas de vencimento muito próximas. Quanto às funções do Compliance Officer, estas podem ser elencadas e alteradas de acordo com as características da organização, mas, em breve análise, podem ser apresentadas conforme os elementos dispostos por sob a ótica de Colares (2014, p.64): “Garantir a aderência e cumprimento de leis; desenvolver e fomentar princípios éticos e normas de conduta; implementar normas e regulamentos de conduta; criar sistemas de informação; desenvolver planos de contingência; monitorar e eliminar conflitos de interesses; realizar avaliações de risco periódicas; desenvolver treinamentos constantes e estabelecer relacionamento com os órgãos fiscalizadores, auditores internos e externos e associações relacionadas ao setor da companhia. ” Resta evidente que o Compliance Officer no exercício de suas funções possui autonomia superior às funções de um auditor interno, além deste não possuir dever de obediência direito à alta direção, característica primaz do seu cargo. Ocorre que, não obstante a relevância do Compliance Officer, a importância do auditor interno não deve ser desconsiderada. No tocante à Governança Corporativa, a CVM - Comissão de Valores Mobiliários. Cartilha de Governança Corporativa (2008) afirma: “A governança corporativa é o conjunto de práticas que tem por finalidade otimizar o desempenho da organização, protegendo as partes interessadas, tais como investidores, empregados e credores, para a primazia do capital. Envolve principalmente a transparência, equidade de tratamento e prestação de contas. ” 7 Em mesma análise, o professor NEVES, Edmo Colnaghi (2018, p. 479) depreende o seguinte: “A decisão da liderança da empresa em adotar uma postura ética nos negócios deve se materializar em documentos e atitudes visíveis e inequívocas. ” Nota-se, portanto, para que a boa governança corporativa seja eficaz, esta deve manter-se alinhada não só ao compliance officer e as medidas por este implementadas, mas também à auditoria interna frente ao seu papel avaliador, examinador, informativo e gerenciador de riscos. ” Sigamos quanto ao ocorrido fruto da auditoria do Sr. Carlos junto à empresa Laboratório Remédios & Medicamentos LTDA.: A Resolução da Anvisa nº. 44/2009 define em seu art. 51, parágrafos 1º e 2º: “Art. 51. A política da empresa em relação aos produtos com o prazo de validade próximo ao vencimento deve estar clara a todos os funcionários, bem como descrita no Procedimento Operacional Padrão (POP) e prevista no manual de Boas Práticas Farmacêuticas (BPF) do estabelecimento. §1º O usuário deve ser alertado quando for dispensado produto com prazo de validade próximo ao seu vencimento. §2º É vedado dispensar medicamentos cuja posologia para o tratamento não possa ser concluída no prazo de validade. ” Desta feita, como depreendemos, é autorizada a venda de produtos próximos à data de vencimento desde que preenchidos alguns requisitos: obrigatoriedade de alerta ao consumidor quanto à proximidade da data de vencimento; observância do prazo de duração do tratamento patológico (feito dentro do referido prazo). No relato ora analisado, no momento em que informado do fato averiguado, a pessoa diretora respondeu haver agido de maneira diligente quanto à notificação do comprador quanto à proximidade do vencimento dos medicamentos, sendo assim, preenchidos os pressupostos impostos pela legislação. Ocorre que a lei prevê a obrigação de transparência, como visto no caput da lei colacionada acima; a política da organização no que concerne aos produtos próximos à data de validade deve ser/estar evidente a todos os funcionários. Ainda que que não existisse tal dever legal, como forma de redução dos riscos, a transparência se faz essencial, uma vez que comercializar produtos nestas condições, sem a ciência das partes envolvidas, atrairá certamente riscos e consequências. 8 Diante disto, é evidente que a alta gestão ao ordenar o sigilo por parte do auditor Sr. Carlos, infringiu o seu dever de transparência, sendo este um pilar do compliance, violando a instrução normativa, desta maneira, tal prática inviabiliza qualquer possibilidade de mitigação dos riscos no que concerne à negociação dos medicamentos vendidos. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC), nas Normas Brasileiras de Contabilidade, conceitua auditoria como: 12.1.1.1 A Auditoria Interna compreende os exames, as análises, as avaliações, os levantamentos e as comprovações, metodologicamente estruturados para a avaliação da integridade, adequação, eficácia e economicidade dos processos, dos sistemas de informações e de controles internos integrados ao ambiente,e de gerenciamento de riscos, com vistas a assistir à administração da entidade no cumprimento de seus objetivos. (CFC, 2006, p. 24) Cumpre destacar que o exercício da auditoria interna é norteado pelos seguintes princípios: objetividade, integridade, confidencialidade e competência. Quando em face à uma inconteste inconformidade normativa e identificados os riscos para a organização, faz-se imperioso que o auditor diligencie no sentido de que seja comunicado o fato aos diretores, fato este praticado pelo Sr. Cláudio. No entanto, como explicitado acima, a função de auditor interno em que pese possuir grande autonomia e discricionariedade para a sua análise e atuação, este deve subordinação à alta gestão por fazer parte do corpo de funcionários da empresa, logo, sua independência é limitada em certo aspecto. Diferentemente do auditor interno, o Compliance Officer possui independência e está conectado a todas as áreas da empresa, visando construir e efetivar a política de conformidade com a legislação, normas e estatuto da organização. O auditor interno analisa os riscos, apresentando um projeto de ação para que a organização atinja suas metas, neste diapasão: “As atividades desenvolvidas por estas áreas não são idênticas mas sim complementares pois enquanto a Auditoria Interna efetua seus trabalhos de forma aleatória e temporal, por meio de amostragens, a fim de certificar o cumprimento das normas e processos instituídos pela Alta Administração, o Compliance executa suas atividades de forma rotineira e permanente” (CARNEIRO, 2017, p. 101). Assim, a prática adequada da organização deve ser conceder descontos para os seus compradores, de maneira que os medicamentos sejam vendidos de maneira ágil, reduzindo o risco de atingirem o prazo de vencimento antes da comercialização. 9 Na situação em que os produtos atinjam o vencimento e ainda continuem a serem vendidos pela empresa, incidirá o crime previsto Art. 7º, inciso IX, da Lei nº 8.137/90, que relata “constitui crime contra as relações de consumo vender, ter em depósito para vender ou expor à venda, ou de qualquer outra forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo”. 10 Considerações finais Como bem explanado na fundamentação deste parecer, é válida a compra e venda de produtos próximos à validade quando preenchidos os requisitos previstos em lei, devendo ser respeitado o dever da transparência. Logo, ao ser detectado o fato pelo Sr. Carlos, auditor interno, bem como a diretoria haver delegado o sigilo quanto ao fato, resta nítida a afronta ao dever de transparência; tal fato incorre em severo atentado ao bom funcionamento da integridade da organização, vez que o risco gerado pode ocasionar danos irreparáveis à imagem e às finanças da organização. Torna-se cristalina a necessidade de implementação de um programa de compliance na organização através da contratação de um Compliance Officer, a fim de mitigar os riscos de maneira ágil, eficaz e independente, para que possa detectar, prevenir e agir quando dos riscos. Desta forma, é evidente a constatação de que o auditor e o compliance officer são atividades que se complementão, no entanto, não devem ser misuradas, afinal a auditoria promove atividade de forma frequente através de amostras que analisam se as normas são aplicadas de maneira correta, ao passo que o compliance officer age de maneira constante e diligente, fiscalizando todas as áreas da empresa, bem como suas conexões com o exterior à luz da legislação e normativas internacionais. Para concluir, no caso em tela, a atitude do Sr. Carlos frente à sua autonomia dentro da organização, entendo que o mesmo deveria, ainda assim, emitir um relatório ao Conselho de Administração, reportando a ordem que recebeu da diretoria e denunciar aos setores responsáveis para a correção das falhas e infrações diante das violações, a fim de evitar futuras situações como esta que podem causar danos irreparáveis. Compreendo que este possui o dever moral e funcional de conduzir um relatório ao conselho de administração da empresa, tendo por finalidade reportar os fatos ocorridos, bem como levar à denúncia aos setores responsáveis pela correção de erros dentro da organização a fim de evitar futura situação como a abordada neste parecer. 11 Referências bibliográficas ANVISA – RESOLUÇÃO 44/2009 . Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2009/rdc0044_17_08_2009.pdf; acesso em 24.05.2022. Auditor e contraladoria - Disponível em: http://auditoriaecontroladoria.blogspot.com.br. Acesso em 24.05.2022. ATTIE, William. Auditoria interna. 1. ed. São Paulo: Atlas, 1992 CARNEIRO, Cláudio e JUNIOR, Milton de Castro Santos. Compliance. – Material do aluno concedido pela FGV na disciplina de Compliance. COLARES, Wilde. Ética e Compliance nas empresas de outsourcing. Monografia (Pós-graduação Lato Sensu em Direito – LLM). Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, São Paulo, p. 21-192, 2014. CREPALDI, Sílvio Aparecido. Auditoria Contábil. 2.ed. São Paulo: Editora Atlas, 2011. NEVES, Edmo Colnaghi. Compliance empresarial. São Paulo: Trevisan, 2018
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