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Patologia das infecções do SNC

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Patologia das infecções do 
SNC 
Nas infecções do SNC pode ocorrer por dano microbiano 
direto, por meio da elaboração de toxinas microbianas ou pelo 
efeito das respostas imune do hospedeiro. As formas de 
acesso ao SNC podem ser por: 
Disseminação hematogênica: mais comum, geralmente 
arterial. 
Implantação direta: geralmente traumática. 
Extensão local: de uma infecção estabelecida em seio 
aéreo, que possuem contato íntimo com a caixa encefálica. 
Transporte axonal: ao longo de nervos periféricos (raiva e 
herpes zoster). 
1) Meningite aguda 
É a inflamação das meninges ou meninges e parênquima 
cerebral (meningoencefalite), sendo mais comumente 
causada por infecção. Reações semelhantes podem ocorrer 
devido a irritantes não bacterianos no espaço subaracnóideo 
(meningite química). 
O aspecto do líquor como taxa de glicose, aspecto 
macroscópico, quantidade de proteínas e de ácido lático 
podem servir como auxiliar no diagnóstico das diversas 
causas de meningite. O normal do líquor é aspecto claro, com 
pouca celularidade (até quatro células), com ácido lático 
menor que 3,5 mol/L, proteínas e glicose (2/3 do plasma). 
A clínica da meningite aguda pode conter sintomas iniciais 
como febre, dor de cabeça severa e rigidez do pescoço. 
Conforme a doença progride pode-se ter sinais como 
confusão, coma e convulsões. Em bebês pode-se apresentar 
como estado depressivo, crises apneicas, alterações na 
frequência cardíaca e convulsões atípicas. Tem-se os testes 
de Kernig (dor ao dobrar a perna com o joelho estendido, por 
estiramento das fibras sacrais) e de Brudzinski (dor ao 
dobrar o pescoço, por estiramento das fibras cervicais). 
A meningite aguda piogênica (bacteriana) tem como 
agentes etiológicos tem-se diferenças de acordo com a idade: 
 Neonatos: E. coli e estreptococos do grupo B. 
 Bebês e crianças: Streptococcus pneumoniae e 
Haemophilus influenzae (reduzido com imunização) 
 Adolescentes e adultos jovens: Neisseria meningitidis. 
 Idosos: Streptococcus pneumoniae e Listeria 
monocytogenes. 
No laboratório, o LCR da 
meningite bacteriana é 
purulento com neutrófilos 
e organismos, aumento 
de proteína e diminuição 
da glicose. Tem-se 
morfologia dos vasos 
meníngeos ingurgitados e 
existe um exsudato 
purulento. Os neutrófilos preenchem o espaço 
subaracnóideo, em casos fulminantes, a inflamação pode se 
estender focalmente ao SNC subjacente (cerebrite). Casos 
de flebite pode provocar trombose venosa e infarto 
hemorrágico. A resolução, após o processo inflamatório 
agudo, ode 
levar a fibrose 
leptomeníngea 
e hidrocefalia. 
A morte celular 
direta por 
grânulos tóxicos 
nos neutrófilos 
deixa o parênquima cerebral ‘esfarelado’. Os capilares 
possuem revestimento endotelial com fenestrações entre 
eles. Com um processo inflamatório agudo tem-se o aumento 
das fenestrações, deixando o líquido escapar, escapando 
proteínas e células, gerando edema. 
2) Infecções supurativas focais agudas 
Um abcesso cerebral é a 
contenção do processo 
inflamatório, sendo uma lesão 
destrutiva que surge no contexto 
de endocardite bacteriana, 
cardiopatia congênita (com 
desvio da direita para a 
esquerda), sepse pulmonar 
crônica ou imunossupressão. Ele 
tem que chegar ao parênquima cerebral por via 
hematogênica, sendo estreptococos e estafilococos os 
principais organismos patogênicos. Os pacientes apresentam 
déficits neurológicos focais progressivos e sinais de aumento 
da pressão intracraniana. Se o espaço subdural for infectado, 
a tromboflebite pode se desenvolver, resultando em oclusão 
venosa e infarto cerebral. 
A morfologia conta com uma 
região central de necrose 
liquefativa e uma cápsula 
fibrosa circundada por 
gliose reativa e edema 
vasogênico acentuado. 
Promove efeito de massa, com deslocamento do parênquima 
cerebral, podendo gerar consequências neurológicas 
decorrente dessa compressão. 
O empiema subdural ocorre quando infecções bacterianas 
ou fúngicas do crânio ou dos seios aéreos se espalham para 
o espaço subdural. Grandes coleções podem causar um 
efeito de massa ou tromboflebite de veias em ponte. A 
maioria dos pacientes é febril e tem dores de cabeça e rigidez 
de nuca, com um perfil do LCR semelhante a um abcesso 
cerebral. 
Os abcessos extradurais são comumente associados a 
osteomielites e celulites mais graves, surgindo no quadro de 
sinusite ou após a cirurgia. No espaço epidural da coluna 
vertebral, pode causar compressão da medula espinhal. 
3) Meningoecefalite bacteriana crônica 
A meningite tuberculosa causa dor de cabeça, mal-estar, 
confusão mental e vômitos. Há pleocitose moderada de 
células mononucleares no LCR (ocasionalmente com 
neutrófilos), proteína elevada e glicose moderadamente 
reduzida ou normal. A meningite 
tuberculosa pode causar fibrose 
aracnoide, hidrocefalia e 
endarterite obliterativa. O 
granuloma se expressa como 
sendo sinônimo de 
funcionamento ideal da 
imunidade (imunocompetência). 
Os tuberculomas apresentam-se como típicas lesões de 
ocupação do espaço. Infecções por Mycobacterium avium 
também podem ocorrer em pacientes com AIDS, mas 
geralmente provocam pouca resposta granulomatosa. 
A meningoencefalite difusa é o padrão mais comum de 
doença. Os pacientes com imunidade boa formam muitos 
granulomas (processo mais sólido e uma coleção organizada 
que pode estar dentro do ventrículo), no intuito de conter a 
infecção. O espaço subaracnóideo contém um exsudato 
gelatinoso ou fibrinoso de células inflamatórias crônicas e, 
raramente, granulomas bem formados, mais frequentemente 
na base do cérebro, 
obliterando as cisternas e 
envolvendo os nervos 
cranianos. Artérias que 
atravessam o espaço 
subaracnóideo podem 
mostrar endarterite 
obliterante. Algumas micronodulações na abertura ventricular 
podem se estabelecer no epêndima. 
A neurossífilis é uma manifestação do estágio terciário da 
doença, ocorrendo em 10% dos pacientes com infecções não 
tratadas. Pode se manifestar em três espectros, que se 
manifestam mais em meninges, parênquima cerebral ou 
raízes dorsais nas seguintes formas: 
 Neurossífilis meningovascular: 
é uma meningite crônica, por 
vezes associada à endoarterite 
obliterativa, aparecendo como 
goma sifilítica (concentrado de 
plasmócitos). 
 Neurossífilis parética: resulta da invasão do cérebro por 
espiroquetas, com perda neuronal e proliferação 
microglial. Os pacientes exibem perda insidiosa de 
capacidade mental e física com alterações de humor, 
terminando em demência grave. 
 Tabes dorsalis: resulta de danos causados por 
espiroquetas nos neurônios sensoriais das raízes 
dorsais. Promove ataxia locomotora, perda da sensação 
levando a dano articular e lesões de pele (articulações de 
Charcot) e ausência de reflexos tendinosos profundos. 
 
A neuroborreliose (doença de Lyme) é uma doença 
transmitida por carrapato com manifestações neurológicas 
altamente variáveis, contando com meningite asséptica, 
paralisia do nervo facial e outras polineuropatias, 
encefalopatia, entre outras. Microscopicamente há 
proliferação microglial e organismos dispersos 
(espiroquetas). 
4) Meningocefalite viral 
As infecções parenquimatosas virais do SNC (encefalite) 
estão quase invariavelmente associadas à inflamação 
meníngea e, ocasionalmente, à inflamação da medula 
espinhal (encefalomielite). Os vírus podem exibir tropismos 
celulares específicos ou podem ter uma predileção por 
regiões cerebrais específicas. A latência é uma característica 
comum de várias infecções virais do SNC. Infecções 
sistêmicas não relacionadas ao SNC também pode precipitar 
lesão neurológica imunomediada, como uma infecção viral 
intrauterina (rubéola) pode causar malformações congênitas. 
A clínica é geralmente menos fulminante do que a meningite 
bacteriana e é autolimitada. Ao exame laboratorial tem-se 
pleocitose linfocítica no LCR, com elevação moderada de 
proteínas e glicose normal. O espectro de patógenos que tem 
potencial ação de agente etiológico varia sazonale 
geograficamente e, raramente são identificados (enterovírus 
em 80% dos casos). 
A encefalite viral transmitida por artrópodes é uma 
arbovirose responsável pela maioria das encefalites virais 
epidêmicas (vírus equinos orientais e ocidentais, 
venezuelanos, St, Louis, La Crosse e vírus do Nilo Ocidental). 
Todos têm hospedeiros animais e mosquito ou carrapato 
como vetores. As manifestações clínicas típicas são 
convulsões, confusão, delírio, estupor ou coma. 
Vírus herpes simplex tipo 1 (HSV-1): é mais comum em 
crianças e adultos jovens, em que os pacientes 
classicamente apresentam alterações no afeto, humor, 
memória e comportamento por lesão no lobo frontal. Alguns 
casos seguem um curso maus prolongado com fraqueza, 
letargia, ataxia e convulsões. A morfologia de casos graves 
exibe encefalite necrotizante, hemorrágica dos lobos 
temporais inferomediais e giros orbitais dos lobos frontais. 
Existem infiltrados perivasculares, com corpos de inclusão 
virais intranucleares de Cowdry em neurônios e glia. 
Vírus do herpes simplex tipo 2: causa uma encefalite grave 
e generalizada em 50% dos recém-nascidos que nasceram 
por via vaginal em mulheres com infecção primária por HSV-
2. Pode causar meningite em adultos e uma grave encefalite 
hemorrágica necrosante em indivíduos infectados pelo HIV. 
Vírus varicela-zoster 
(herpes zoster): as 
infecções latentes por 
catapora nos gânglios 
da raiz dorsal podem 
ser reativadas, levando 
a erupções cutâneas 
vesiculares dolorosas 
uma distribuição dermatomal. Geralmente é autolimitada, 
mas os pacientes podem desenvolver uma síndrome de 
neuralgia pós-herpética dolorosa persistente. O herpes zoster 
também pode causar uma arterite granulomatosa ou uma 
encefalite necrosante em pacientes imunossuprimidos. 
Citomegalovírus (CMV): a 
infecção intrauterina leva à 
necrose periventricular, 
microcefalia e calcificação 
periventricular. Em pacientes 
com AIDS, o CMV é um 
patógeno viral oportunista 
comum. Causa encefalite 
subaguda com nódulos 
microgliais ou encefalite necrosante hemorrágica 
periventricular e plexite coroide. Ocorre a presença de 
inclusões nucleares de CMV (citomegalia). 
Poliomielite: causada pelo poliovírus (subtipos 1, 2 e 3), em 
que a poliomielite apresenta irritação meníngea e quadro de 
meningite asséptica no LCR. O envolvimento dos neurônios 
motores inferiores pode causar paralisia flácida com 
hiporreflexia e perda muscular secundária. 
Os pacientes também podem desenvolver miocardite e a 
morte pode resultar da paralisia dos músculos respiratórios. 
A inflamação é geralmente confinada aos cornos anteriores, 
mas pode se estender até os cornos posteriores. A síndrome 
pós-pólio geralmente se desenvolve 25 a 35 anos após a 
doença inicial (fraqueza progressiva associada à dor e 
diminuição da massa muscular). 
Raiva: é uma encefalite grave transmitida pela mordida de 
um animal raivoso ou pela exposição a certas espécies de 
morcegos, mesmo sem uma mordida. Ao longo de 1 a 3 
meses, o vírus sobe do local da ferida para o SNC através 
dos nervos periféricos. Causa extraordinária excitabilidade do 
SNC (alucinações, agitação), hidrofobia (espumando a boca 
por espasmos laríngeos) e paralisia flácida. A morte decorre 
da falha do centro respiratório. A morfologia tem-se necrose 
e inflamação neuronal generalizadas, mais graves nos 
gânglios da base, mesencéfalo e medula. Os corpos de Negri 
são patognomônicos (inclusões eosinofílicas 
intracitoplasmáticas). 
 
Leucoencefalopatia multifocal progressiva: a PML é 
devida à infecção por oligodendrócitos pelo poliomavírus JC, 
tipicamente em pacientes imunossuprimidos. A maioria dos 
adultos tem evidência sorológica de exposição prévia ao JC 
(provavelmente devido à reativação viral). Os pacientes 
desenvolvem manifestações neurológicas progressivas e 
multifocais causadas pela destruição focal da mielina. As 
lesões consistem em manchas desmielinizadas, núcleos de 
oligodendrócitos muito aumentados com inclusões virais e 
astrócitos com núcleos atípicos aumentados. 
 
Panencefalite esclerosante subaguda: é uma síndrome 
progressiva de declínio cognitivo, espasticidade de membros 
e convulsões. Ocorre meses a anos após uma infecção do 
sarampo e representa uma infecção persistente, mas não 
produtiva, do SNC por um vírus do sarampo alterado. 
Morfologicamente tem-se gliose generalizada com 
degeneração da mielina e inclusões nucleares virais em 
oligodendrócitos e neurônios. Há também inflamação variável 
e emaranhados neurofibrilares. 
 
Meningoencefalite fúngica 
São tipicamente encontradas em pacientes 
imunocomprometidos, geralmente no contexto de ampla 
disseminação hematogênica (Candida albicans, Mucor, 
Aspergillus fumigatus e Cryptococcus neoformans). Em áreas 
endêmicas, Histoplasma, Coccidioides e Blastomyces podem 
envolver o SNC após infecções pulmonares ou cutâneas 
primárias. 
A meningite é causada mais frequentemente pelo 
Cryptococcus (pode ser fulminante e fatal em 2 semanas ou 
crônica e indolente, evoluindo ao longo de meses a anos). A 
vasculite ocorre mais frequentemente com Mucor e 
Aspergillus, tendo invasão vascular com trombose associada 
e infarto hemorrágico. O envolvimento parenquimatoso pode 
se manifestar com granulomas ou abscessos e é mais 
comumente encontrado com Candida e Cryptococcus.

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