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Ensaio História para ninar gente grande Análise sobre o samba enredo da mangueira, 2019

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2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS
Charlesson Bezerra Da Silva
História para ninar gente grande – Análise sobre o samba enredo da mangueira, 2019
Maceió
2021
Charlesson Bezerra Da Silva
História para ninar gente grande – Análise sobre o samba enredo da mangueira, 2019
Trabalho apresentado para a disciplina, Pensamento social brasileiro no curso de Ciências Sociais, da Universidade Federal de Alagoas – UFAL. Professor Dr. Wendell Ficher
Maceió
2021
1- O morro da Mangueira, o começo e a escola
As pessoas trazidas da África pelos europeus para serem escravizadas no Brasil, eram de múltiplas origens e culturas, falavam línguas diferentes, e eram misturadas sem distinção, sendo obrigadas a adotarem religião e nomes cristãos. Ainda assim, persistem em suas raízes culturais, através de subterfúgios como os sincretismos religiosos, em que se utilizavam das representações de santos católicos para corresponder aos seus Orixás (MANGUEIRA, 2019). 
A história tem início com os primeiros barracos que foram levantados dentro das terras do Visconde de Niterói, terras essas, doadas pelo Imperador D. Pedro II. Já em 1850, perto da Quinta da Boa Vista, foi implementado o primeiro telégrafo aéreo do Brasil. A elevação próxima da Quinta era conhecida como Morro Telégrafos.
Anos mais tarde, perto do morro, foi instalada uma indústria com o nome de “Fábrica de Fernandes Braga”, que tinha como nicho a produção de chapéus, em um tempo considerável, seu nome ficou conhecido como “Fábricas das Mangueiras”, já que em seu entorno, a região era uma das principais produtoras de mangas do Rio de Janeiro.
Em um curto período, a Fábrica Fernandes Braga, mudou seu nome para Fábrica de Chapéus Mangueira. Esse nome ficou tão marcante, que a Estrada de Ferro Central do Brasil batizou de “Mangueira” a estação de trem que foi inaugurada em 1889, além disso, a elevação do lado da linha férrea também veio a ser chamada de Mangueira, que por sua vez o antigo nome “Telégrafos” permaneceu apenas para servir como identificação de uma pequena parte do Morro, Hoje em dia, Telégrafos e outros nomes são pequenos núcleos populacionais que formam o complexo do Morro de Mangueira” conta Ricardo Lopes, morador do Morro.
A escola de samba Mangueira, foi fundada no ano de 1928, no Morro da Mangueira, próximo ao Maracanã, pelo Angenor de Oliveira (Cartola), O Saturnino Gonçalves (Seu Saturnino), o Abelardo da Bolinha, o Carlos Moreira de Castro (Carlos Cachaça), o José Gomes da Costa (Zé Espinguela), Euclides Roberto dos Santos (Seu Euclides), o Marcelino José Claudino (Seu Maçu) e Pedro Paquetá.
Até o ano de 2019, a Mangueira conquistou inúmeros títulos de campeã, 19 vezes para ser mais exato e, detém do título especial de supercampeã, pego em 1984, frente à ocasião da inauguração do Sambódromos da Marquês de Sapucaí. É a segunda escola de samba com os maiores títulos ganhos/acumulados, ficando atrás apenas da Portela, com 22 títulos.
Suas tradicionais cores verde e rosa, que teriam sido escolhidas por Cartola, famoso sambista e um dos fundadores da escola, identificam a comunidade em época de carnaval, tendo se tornado a escola de samba parte da identidade dos moradores do complexo do Morro da Mangueira, e importante impulsionador do desenvolvimento cultural local (PEIXE; SANT’ANNA; ALVES, 2017). 
2- História para ninar gente grande, o prólogo da história do nosso país, Brasil
No carnaval de 2019, a Estação Primeira de Mangueira levou a vitória pela 19° vez do carnaval carioca, com o samba enredo “História de ninar gente grande”, foi o samba vencedor composto por: Tomaz Miranda, Tomaz Miranda, Marcio Bola, Ronie Oliveira e Danilo Firmino, e interpretado na voz de Marquinhos Art’Samba.
Quando partimos de uma análise fundo ao início do samba, através do próprio título, vemos a ironia, já que faz uma imersão na construção que infantiliza a versão tradicional da história, onde “histórias de ninar” são contos ditos a crianças para fazê-las adormecer, e “gente grande” serve como um sarcasmo feito para os adultos dormirem, como se fosse uma indiferença por fechar os olhos para os problemas ao redor.
A letra do samba enredo destaca totalmente a história do Brasil contada por pessoas esquecidas, que foram totalmente invalidadas pela sociedade: “Mangueira, tira a poeira dos porões/ Ô, abre alas pros teus heróis de barracões/ Dos Brasis que se faz um país de Lecis, Jamelões/ São verde e rosa, as multidões”. Tirar a poeira dos porões, seria uma alusão direta aos porões dos navios negreiros, que durante o período de escravidão, trouxe diversos africanos que foram escravizados aqui no Brasil (ROMERO,1954). E seguindo o nicho, os “heróis de barracões” fazem prelúdio aos diversos personagens que foram apagados da história e que de fato, representam a população negra, indígena e da periferia, por fim, os barracões onde a música fala, se refere aos barracos dentro das comunidades, dos morros e principalmente das periferias.
É preciso argumentar a respeito do sentido da evolução das nações e sociedades defendendo que este sentido é construído a partir dos fatos e acontecimentos históricos deste povo, “O percurso histórico de cada sociedade é o que determina o sentido que a mesma tem, e seu percurso evolutivo é o que determina a direção que esse percurso toma” (PRADO, 1954). O autor sugere que a “linha mestra” de cada sociedade é definida por seu sentido evolutivo, e fazendo considerações acerca do Brasil, o autor afirma que o sentido da evolução do nosso país perpassa pela colonização de Portugal. Sobre a colonização portuguesa. Caio Prado afirma:
“Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura, bem como as atividades do país. Virá o branco europeu para especular, realizar um negócio; inverterá seus cabedais e recrutará a mão-de-obra que precisa: indígenas ou negros importados. Com tais elementos, articulados numa organização puramente produtora, industrial, se constituirá a colônia brasileira” (p. 32).
Seguindo os versos do samba, “Brasil, meu nego/ Deixa eu te contar/ A história que a história não conta/ O avesso do mesmo lugar/ Na luta é que a gente se encontra”, daí, já vemos que a escola quer tratar conosco acerca das histórias não contadas e omitidas da história que é contada nos museus e escolas. “O avesso do mesmo lugar, faz jus ao outro lado da moeda, a história que nunca é vista, excepcionalmente da população negra e indígena. “Brasil, meu dengo/ A Mangueira chegou/ Com versos que o livro apagou/ Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento/ Tem sangue retinto pisado/ Atrás do herói emoldurado/ Mulheres, tamoios, mulatos/ Eu quero um país que não está no retrato”. A expressão “meu dengo” simboliza afeto e grau de aproximação e ao mesmo tempo, remete um certo modo de apropriação dessa expressão tão usada pelos brasileiros. Seguindo essa linha, Caio Prado Junior (1907- 1990), em seu texto Sentido da colonização (1961), se debruça sobre a colonização portuguesa, contextualizando-a num cenário mais amplo, ele aponta que “[...] todos os grandes acontecimentos desta era, que se convencionou com razão chamar dos “descobrimentos”, articulam-se num conjunto que não é senão um capítulo da história do comércio europeu” (p. 22), e continua: “Não tem outro caráter a exploração da costa africana e o descobrimento e colonização das Ilhas pelos portugueses, o roteiro das Índias, o descobrimento da América, a exploração e ocupação de seus vários setores” (p.22). 
O “sangue retinto pisado”, referência acerca dos homens e mulheres, negros e indígenas presentes nas lutas de resistência”. “O herói emoldurado”, o europeu que é sempre visto como sendo um salvador, que apaga memórias, pessoas, deixa rastros violentos e caminhos ceifados que foram traçados até a abolição da escravatura.
“Mulheres, tamoios e mulatos”; “Brasil, teu nome é Dandara/ E a tua cara é de cariri/ Não veio do céu/ Nem das mãos de Isabel/ A liberdade é um dragão no mar de Aracati”; “Salveos caboclos de julho/ Quem foi de aço nos anos de chumbo/ Brasil, chegou a vez/ De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês”. Dandara, guerreira negra e líder no Quilombo dos Palmares, ao dizer o nome Dandara, honra a luta da mulher negra perante as dificuldades enfrentadas por todas as mulheres negras e que lutaram pelo fim da escravidão. Por sua vez, os índios Cariri, resistiram às diversas invasões dos portugueses na região do Ceará. Os “caboclos de julho”, foram homens e mulheres, índios, negros, escravizados e libertos, agricultores também, foram um povo pobre que eram da Bahia, responsáveis por sua independência.
Luiza Mahin, era da tribo Mahi, da nação africana Nagô, foi trazida ao Brasil e escravizada pelos europeus, mas também, teve participação nas revoltas dos escravos da Província da Bahia no século XIX. Também teve participação na Revolta dos Malês (1835), mãe de Luís Gama (1830-1882), grande poeta e abolicionista brasileiro (GELEDÉS, 2013). Marielle Franco (1979-2018), mulher negra, ativista, socióloga e LGBTQIA+, uma mulher eleita vereadora em 2017 no Rio de Janeiro, lutava abertamente pelos direitos da população LGBTQIA+ e das mulheres negras da periferia, assassinada com cerca de 13 tiros, junto de seu motorista, Anderson Pedro Gomes, no dia 14 de março de 2018, esse crime hediondo segue sem solução, sem culpados, apenas saudades
3- Conclusão
Ao analisar o samba enredo “Histórias para ninar gente grande”, vemos um discurso com histórico longo de opressão e violência, sempre houve tentativas de apagar o nosso passado que sempre será lembrado como luta, resistência, mas também sangue derramado. O samba é um exemplo claro de que através das diversas manifestações culturais e de resistência, podemos dizer, contar a verdade, esclarecer sem subjugar, apontar, validar histórias, conhecer lutas e criticar os erros do passado para que não se repitam no nosso presente.
Referências Bibliográficas
BRITO, Diego e RAINAN, Breno. “SALVE OS CABOCLOS DE JULHO!” Resistência e luta do povo baiano na conquista pela independência. Insurgência, 7 jul. 2020. Cultura, Negritude. Disponível em: https://www.isurgencia.org/blog/salve-oscaboclos-de-julho. Acesso em: 9 jan. 2021.
CASARIN, Rodrigo. Quem são Marias, Mahins e malês, companhias de Marielle na Mangueira?. UOL. c2019. Disponível em: Acesso em 20 de set. de 2021.
DOMENICO et.al, Histórias para ninar gente grande. Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Rio de Janeiro: 2019.
FREYRE, Gilberto. Unidade, diversidade, nação e região. In: Interpretação do Brasil: aspectos da formação social brasileira como processo de amalgamento de raças e culturas. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
HISTÓRIA do morro. Mangueira, 2017. Disponível em: https://www.mangueira.com.br/historiamorro. Acesso em: 20 set. 2021.
LUÍSA Mahin. PORTAL GELEDÉS, 14 mar. 2013. Disponível em: https://www.geledes.org.br/luisa-mahin/. Acesso em: 16 set. 2021.
PEIXE, Fernando Antônio Guerra; SANT’ANNA, Rubens de; ALVES, Heloisa. Mangueira. c2017. A mangueira. História da mangueira. Disponível em: <http://www.mangueira.com.br/historiamangueira>. Acesso em 20 de set. de 2021.
PRADO JUNIOR, Caio. Sentidos da Colonização. In: Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1961. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5294729/mod_resource/content/1/PRADO%2C%20Caio.%20Forma%C3%A7%C3%A3o%20do%20Brasil%20contempor%C3%A2neo.%20S%C3%A3o%20Paulo%20Brasiliense-Publifolha%2C%202000.%20Cap%C3%ADtulo%20O%20sentido%20da%20coloniza%C3%A7%C3%A3o%2C%20pp.%207-21.%20.pdf. Acesso em: 20 set. 2021
ROMERO, Silvio. I – O meio; II – A raça; III – As influências estrangeiras. In: História da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954. Disponível em: https://literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/action=download&id=93052#CONCLUS%C3% 5ESGERAIS. Acesso em: 16 set. 2021.
YUMI, Caroline. Quem foi Marielle Franco? Conheça a sua história. Politize, 6 jul. 2020. Política Nacional. Disponível em: https://www.politize.com.br/quem-foimarielle-franco/. Acesso em: 16 set. 2021.

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