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Obesidade Infantil

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DOCÊNCIA EM 
SAÚDE 
 
 
 
 
 
 
 
OBESIDADE INFANTIL 
 
 
 
1 
Copyright © Portal Educação 
2013 – Portal Educação 
Todos os direitos reservados 
 
R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 
Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 
Internacional: +55 (67) 3303-4520 
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Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil 
 Triagem Organização LTDA ME 
 Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 
 Portal Educação 
P842o Obesidade infantil / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 
2013. 
 193p. : il. 
 
 Inclui bibliografia 
 ISBN 978-85-8241-689-1 
 1. Obesidade infantil. 2. Crianças – nutrição. I. Portal Educação. II. Título. 
 CDD 618.92398 
 
 
 
 
 
2 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 4 
2 DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA OBESIDADE INFANTIL ................................................. 7 
2.1 CURVAS DO NATIONAL CENTER FOR HEALTH STATISTICS (NCHS) ................................. 9 
2.2 CURVAS DA OMS...................................................................................................................... 9 
2.3 OBESIDADE INFANTIL: COMO CLASSIFICAR ....................................................................... 10 
2.4 CASOS CLÍNICOS – EXEMPLOS DE CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL 
PELO IMC ................................................................................................................................. 12 
3 EPIDEMIOLOGIA ...................................................................................................................... 18 
4 DIAGNÓSTICO CLÍNICO .......................................................................................................... 24 
4.1 FATORES RELACIONADOS À OBESIDADE ........................................................................... 24 
4.2 EXAME FÍSICO ......................................................................................................................... 28 
4.3 EXAMES LABORATORIAIS ...................................................................................................... 30 
4.4 SÍNDROMES ASSOCIADAS À OBESIDADE............................................................................ 31 
5 AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA .......................................................................................... 34 
5.1 IMC ............................................................................................................................................ 35 
5.2 DOBRAS CUTÂNEAS ............................................................................................................... 37 
5.3 BIOIMPEDÂNCIA ELÉTRICA .................................................................................................... 44 
5.4 CIRCUNFERÊNCIA DA CINTURA ............................................................................................ 50 
6 ETIOLOGIA DA OBESIDADE .................................................................................................. 53 
6.1 FATORES GENÉTICOS ............................................................................................................ 53 
6.2 FATORES AMBIENTAIS ........................................................................................................... 57 
7 CONTROLE NEURONAL DA FOME E SACIEDADE .............................................................. 60 
8 MORBIDADES ASSOCIADAS À OBESIDADE EM CRIANÇAS ............................................. 66 
8.1 SÍNDROME METABÓLICA ....................................................................................................... 66 
8.2 DIABETES MELLITUS TIPO 2 .................................................................................................. 70 
8.3 HIPERTENSÃO ......................................................................................................................... 78 
8.4 DISLIPIDEMIA ........................................................................................................................... 82 
 
 
3 
8.5 ESTEATOSE HEPÁTICA NÃO ALCOÓLICA ............................................................................ 88 
8.6 OUTRAS ALTERAÇÕES ........................................................................................................... 91 
9 AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR EM CRIANÇAS ................................................... 97 
10 TRATAMENTO DIETÉTICO DA OBESIDADE INFANTIL ....................................................... 108 
11 EDUCAÇÃO NUTRICIONAL ................................................................................................... 120 
12 ASPECTOS PSICOLÓGICOS DA OBESIDADE ..................................................................... 128 
13 COMPULSÃO ALIMENTAR EM CRIANÇAS .......................................................................... 134 
14 ATIVIDADE FÍSICA E MUDANÇAS NO ESTILO DE VIDA ..................................................... 138 
15 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA OBESIDADE INFANTIL .......................................... 142 
16 CIRURGIA BARIÁTRICA EM CRIANÇAS .............................................................................. 150 
17 PREVENÇÃO DA OBESIDADE INFANTIL ............................................................................. 159 
18 ESTUDOS DE CASO ............................................................................................................... 163 
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 179 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
O aumento da prevalência da obesidade em diversos países é tão expressivo que 
pode ser considerada como uma pandemia. Esse aumento da obesidade deve ser compreendido 
como uma resposta a um ambiente altamente obesogênico, predominante na sociedade atual, 
que favorece tanto o consumo de dietas de alta densidade energética, ricas em gordura saturada 
e trans e em açúcar como também a inatividade física (sedentarismo). 
A combinação de aumento do consumo energético e de redução no padrão de 
atividade física ocasiona um balanço energético positivo, levando à obesidade. Estima-se que o 
número de obesos no mundo ultrapasse 300 milhões, incluindo mais de 22 milhões de crianças 
com menos de cinco anos. A projeção é de que, em 2015, metade da população terá obesidade 
ou excesso de peso, o que representará mais de 1,5 bilhões de indivíduos. 
A obesidade é um importante problema de saúde pública e constitui um dos principais 
fatores de risco para doença cardiovascular, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão e câncer. Uma 
série de estudos tem alertado para o aumento da obesidade em crianças, apontando para a 
possibilidade de crianças obesas tornarem-se adultos obesos. Quando um dos pais é obeso, a 
chance de a criança se tornar um adulto obeso é de 40%. Já quando ambos os pais são obesos, 
essa probabilidade aumenta vertiginosamente, passando para 80%. 
Sendo assim, a avaliação precoce do estado nutricional assume grande importância na 
identificação do problema, permitindo a prevenção e o controle de doenças relacionadas ao 
excesso de peso. 
O conceito de transição nutricional envolve grandes mudanças no perfil nutricional de 
populações humanas, diretamente relacionadas a modificações nos padrões de ingestãodietética e de gasto energético, sendo basicamente determinado pela influência de mudanças 
econômicas, demográficas, ambientais e culturais ocorrendo na sociedade. 
As relações entre as mudanças demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas que 
levam à transição nutricional são complexas. De maneira geral, as coortes mais jovens estão 
 
 
5 
mudando mais rapidamente; assim, o predomínio do padrão de dieta chamado “ocidental” (dieta 
rica em gorduras, particularmente de origem animal, açúcar, sódio e alimentos refinados e pobre 
em carboidratos complexos e fibras) e o aumento da obesidade tendem a crescer. Essas 
mudanças, acompanhadas de um estilo de vida sedentário, parecem ocorrer primeiro em áreas 
urbanas, estendendo-se depois aos segmentos de renda mais elevada das áreas rurais. 
Na América Latina, observa-se uma rápida transição demográfica e epidemiológica. Na 
maioria dos países mais favorecidos da América Central e da América do Sul, verifica-se a 
mudança clássica para um padrão de morbimortalidade em que predominam as doenças 
cardiovasculares, o câncer e outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Ao mesmo 
tempo, padrões de fertilidade apontam para um menor número de filhos e para o envelhecimento 
progressivo da população. 
Grandes alterações econômicas e demográficas ocorreram no Brasil nas últimas 
décadas. Nesse período, houve um grande aumento na renda nacional e um incremento 
expressivo na proporção de pessoas residindo em áreas urbanas. Nesse cenário, observa-se a 
evolução do estado nutricional de crianças e adolescentes, caracterizando-se pelo declínio do 
déficit nutricional e pelo aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade. 
Inquéritos populacionais realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
(IBGE) mostram que, no intervalo de aproximadamente 20 anos (1974-1996), a prevalência de 
desnutrição entre crianças com menos de cinco anos de idade praticamente desapareceu, 
passando de 5,1 para 0,2%. No período entre 1974/1975 e 2003, a proporção de adultos 
desnutridos também foi reduzida substancialmente, enquanto a de adultos obesos praticamente 
dobrou (5,7% para 11,1%). 
As principais mudanças no hábito alimentar do brasileiro no decorrer dos anos, 
verificadas a partir da evolução da disponibilidade domiciliar de alimentos, incluem a diminuição 
da participação de cereais e leguminosas (arroz e feijão) e aumento de carnes, leite, açúcar e 
óleos. Entre 1975 e 2003, o aumento da participação de refrigerantes, embutidos, biscoitos e 
alimentos prontos foi muito expressivo, da ordem de 400%. 
Por outro lado, o consumo de frutas e hortaliças não se alterou em 30 anos, mantendo-
se abaixo do recomendado, apesar do crescimento econômico do país. Isso ocorre em razão da 
 
 
6 
falta de um setor econômico forte por trás da venda de frutas e hortaliças, diferente da indústria 
de alimentos, cujos investimentos em marketing são enormes. Esse dado evidencia a 
necessidade de políticas públicas para intervir na economia de mercado, pois, se não houver 
regulamentação da propaganda de alimentos industrializados, seus efeitos indesejáveis 
continuarão predominando. 
Um ponto importante em relação à prevalência de gordura corporal excessiva na 
infância refere-se à precocidade com que podem surgir efeitos danosos à saúde, tais como 
hipertensão arterial sistêmica, resistência à insulina e esteatose hepática, além das relações 
existentes entre a obesidade infantil e sua persistência até a vida adulta, já mencionadas 
anteriormente. 
Outros fatores são determinantes para o estabelecimento da obesidade exógena na 
infância, como a interrupção precoce do aleitamento materno com introdução inapropriada da 
alimentação complementar, o emprego de fórmulas lácteas diluídas de modo incorreto, os 
distúrbios de comportamento alimentar e a inadequada relação ou dinâmica familiar. 
O diagnóstico da obesidade baseia-se na história, no exame físico e em dados 
antropométricos. Os exames subsidiários podem ser utilizados para obtenção de dados mais 
precisos sobre a composição corporal, para a investigação de possíveis causas secundárias e 
para o diagnóstico de repercussões metabólicas da obesidade. O tratamento da obesidade 
envolve abordagem dietética, modificação do estilo de vida, ajustes na dinâmica familiar, 
incentivo à prática de atividade física e apoio psicossocial. Para crianças, o envolvimento de toda 
a família é fundamental para garantir o sucesso do tratamento e permitir a adesão dos pacientes 
à terapia. 
Em situações de obesidade grave ou na presença de comorbidades, deve-se recorrer, 
sempre que possível, ao atendimento por equipe multidisciplinar, composta por médico, 
nutricionista, psicólogo, assistente social, educador físico, dentre outros. Em virtude do caráter 
multifatorial da obesidade, com várias morbidades associadas, a abordagem interdisciplinar é 
extremamente benéfica. 
Durante o curso, serão aprofundados e discutidos vários aspectos relacionados à 
obesidade infantil, incluindo a definição e classificação, epidemiologia, fatores etiológicos, 
 
 
7 
diagnóstico clínico e antropométrico, morbidades associadas, tratamento dietético e 
farmacológico, cirurgia bariátrica e estratégias de prevenção. 
 
 
2 DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA OBESIDADE INFANTIL 
 
 
Geralmente, a obesidade é definida como um acúmulo excessivo de gordura sob a 
forma de tecido adiposo a ponto de causar prejuízos à saúde. Esta é uma definição simples e 
que levanta questões relacionadas à mensuração da gordura corporal e ao uso de pontos de 
corte para definir a obesidade. 
Assim, para a classificação da obesidade é necessário estabelecer a quantidade de 
gordura corporal, denominada adiposidade. A adiposidade pode ser expressa tanto como a 
massa absoluta de gordura corporal (em quilogramas) como a porcentagem de gordura em 
relação ao peso corporal. 
Não somente a quantidade de gordura corporal deve ser levada em consideração, 
como também a sua distribuição. Adultos com obesidade do tipo androide, também chamada de 
central ou visceral, apresentam maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes, 
hipertensão e dislipidemia do que aqueles que depositam gordura corporal nas partes mais 
extremas do corpo, como nos braços, quadris e pernas (obesidade do tipo ginecoide). 
A classificação de adultos segundo a adiposidade é geralmente feita pelo uso do Índice 
de Massa Corporal (IMC), que é a razão entre o peso corporal (kg) e a altura (m) elevada ao 
quadrado. Os pontos de corte estabelecidos para o IMC em adultos baseiam-se no risco de 
mortalidade por doenças crônicas. 
O quadro a seguir apresenta os valores críticos recomendados pela Organização 
Mundial da Saúde (OMS) para a classificação do estado nutricional de adultos, levando em 
consideração tanto o IMC como a medida da circunferência da cintura (CC), que representa o 
 
 
8 
acúmulo de gordura na região central do corpo e também está relacionada com o risco de 
doenças crônicas. 
 
QUADRO 1 – CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL EM ADULTOS COM BASE NO 
IMC E NA CIRCUNFERÊNCIA DA CINTURA E RISCO DE DOENÇAS CRÔNICAS ASSOCIADO 
 IMC (kg/m2) Circunferência da cintura (cm) 
 Estado nutricional H ≤102 ou M≤88 H ≥102 ou M≥88 
Baixo peso < 18,5 - - 
Normal 18,4 a 24,9 - - 
Pré-obesidade 25,0 a 29,9 Aumentado Alto 
Obesidade grau I 30,0 a 34,9 Alto Muito Alto 
Obesidade grau II 35,0 a 39,9 Muito Alto Muito Alto 
Obesidade grau III ≥ 40,0 Extremamente Alto Extremamente Alto 
FONTE: OMS, 2000 (adaptado). 
 
Em crianças, não existem valores críticos estabelecidos para a definição de obesidade 
com base na gordura corporal assim como há para adultos. Isso ocorre em virtude da falta de 
consenso na literatura quanto à validade do IMC como um indicador de gordura corporal em 
crianças, especialmente entre diferentes grupos étnicos. 
Dessa forma, para a classificação da obesidadeinfantil, os valores de medidas 
antropométricas, tais como o IMC, devem ser plotados em gráficos com distribuição em percentil, 
segundo sexo e idade. Como referenciais, podem ser utilizadas, por exemplo, as curvas da 
Organização Mundial da Saúde (OMS) e do National Center for Health Statistics (NCHS). 
 
 
 
9 
2.1 CURVAS DO NATIONAL CENTER FOR HEALTH STATISTICS (NCHS) 
 
 
As curvas do NCHS (2000) foram construídas com base em amostras representativas 
da população americana e utilizando procedimentos estatísticos de ajuste avançados. A 
Organização Mundial de Saúde (OMS) não aceita estas curvas como padrão porque apenas um 
terço das crianças que participaram da coleta de dados dos estudos que originaram as curvas 
receberam aleitamento materno exclusivo (AME). Esta população, não refletiria, portanto, de 
forma adequada o perfil de crescimento e desenvolvimento ideal de crianças, as quais devem, 
como recomenda a OMS, permanecer em AME até os seis meses de vida. 
As curvas do NCHS estão disponíveis em http://cdc.gov/GrowthCharts/ e são 
atualmente utilizadas por muitos profissionais da área da saúde, inclusive em serviços de 
referência no atendimento a crianças e adolescentes obesos. 
 
 
2.2 CURVAS DA OMS 
 
 
As curvas da OMS (2007) foram construídas para representar o crescimento fisiológico 
de crianças em aleitamento materno exclusivo ou predominante, a partir de dados de crianças 
saudáveis e sob condições ambientais ótimas de seis países: Brasil, Gana, Índia, Noruega, Omã 
e Estados Unidos. 
O padrão pode ser utilizado para avaliar crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, de 
qualquer país, independente de etnia, condição socioeconômica e tipo de alimentação. As 
curvas estão disponíveis em http://who.int/childgrowth. 
Por terem sido lançadas recentemente, as curvas da OMS ainda não foram adotadas 
por muitos serviços de saúde e profissionais. Mas, em razão de sua qualidade metodológica e 
http://cdc.gov/GrowthCharts/
http://who.int/childgrowth
 
 
10 
aplicabilidade, é interessante estimular a discussão sobre o uso das novas curvas, a fim de que 
sejam implantadas como referência em ambulatórios, hospitais e consultórios. 
 
 
2.3 OBESIDADE INFANTIL: COMO CLASSIFICAR 
 
 
Em 2005, o Institute of Medicine (IOM) revisou a terminologia até então utilizada e 
definiu para a classificação de obesidade em crianças maiores de dois anos valores de IMC 
iguais ou superiores ao percentil 95 da curva de referência utilizada. Crianças com valores de 
IMC iguais ou superiores ao percentil 85, mas inferiores ao percentil 95 são classificadas como 
apresentando sobrepeso. 
 
QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO DA ADIPOSIDADE EM 
CRIANÇAS SEGUNDO PERCENTIS DO IMC 
Percentil Denominação 
Entre os percentis 85 e 95 
(≥85 P <95) 
Sobrepeso 
Maior ou igual ao percentil 95 (≥P95) Obesidade 
 
 
As curvas do NCHS apresentam o percentil 95 como nível superior, porém nas curvas 
da OMS é possível visualizar o percentil 97 como nível superior. Isso acontece porque a 
Organização Mundial da Saúde recomenda a classificação de obesidade em escore z. O escore 
 
 
11 
z representa o número de desvios-padrão abaixo ou acima da média ou mediana da população 
de referência. 
No caso, para a classificação de obesidade, a OMS recomenda o ponto de corte >2 
desvios-padrão (escore z = +2), que corresponde aproximadamente ao percentil 97 (Tabela 2.1), 
por isso valores correspondentes ao P97 são apresentados na curva de referência. 
O escore z é atualmente mais utilizado em pesquisas científicas, uma vez que permite 
mais facilmente que se veja o resultado de uma intervenção em um grupo de pessoas; o mesmo 
não pode ser feito com o percentil por este não ser uma variável contínua. 
Na prática clínica, porém, a classificação em percentis continua sendo bastante 
utilizada, em razão de sua praticidade e por facilitar a visualização da evolução individual de 
crianças em tratamento para ganho ou perda de peso, sendo por isso de grande utilidade no 
acompanhamento nutricional de crianças obesas. 
De qualquer maneira, na rotina clínica, tanto faz classificar uma criança como acima do 
P95 ou do P97, o importante, em ambos os casos, é saber que essa criança precisa de 
tratamento e acompanhamento visando à redução da obesidade e prevenção de doenças 
crônicas relacionadas. 
Um ponto que deve ser ressaltado em relação às curvas de referência é que, para o 
acompanhamento de crianças obesas, independente da referência escolhida, a mesma curva 
deve ser utilizada desde o início do tratamento, a fim de que os dados da evolução possam ser 
comparados de forma adequada. 
 
TABELA 1 – CORRESPONDÊNCIA ENTRE PERCENTIL E ESCORE Z 
 
Escore z Corresponde ao Percentil 
- 3 0,13 
 
 
12 
- 2 2,3 
+ 2 97,7 
Percentil Corresponde ao Escore Z 
10 - 1,28 
3 - 1,88 
97 + 1,88 
Importante! Retomando o conceito de percentil 
 
 
O percentil é uma medida da posição relativa de uma unidade observacional em 
relação a todas as outras. Para facilitar o entendimento, experimente visualizar 100 crianças 
enfileiradas de acordo com o valor de seu IMC, em ordem crescente. Uma criança que está no 
percentil 85 é aquela que está na posição 85 da fileira, deixando atrás de si 84 crianças com 
valor de IMC inferior ao seu e ficando entre os 15% de maior IMC. Na prática clínica, essa 
criança seria classificada como apresentando sobrepeso. 
Seguindo o mesmo raciocínio, se uma criança encontra-se no percentil 95 da 
distribuição ou acima dele, isso quer dizer que ela se encontra entre os 5% classificados como 
apresentando maior IMC. Se a criança está no percentil 97 ou acima dele, ela está entre os 3% 
que apresentam maior IMC. Na prática clínica, em ambos os casos, isso quer dizer que a criança 
é obesa. 
 
 
2.4 CASOS CLÍNICOS – EXEMPLOS DE CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL 
PELO IMC 
 
 
 
13 
 Caso 1. M.G.S., 5 anos, sexo feminino. 
 
Peso=23,0 kg Altura=110 cm IMC=19,0 kg/m2 
 
Localizando-se o valor na curva de IMC segundo sexo e idade (OMS, 2007), tem-se 
que a criança está acima do percentil 97 (seta), portanto, é classificada como obesa. 
 
FIGURA 1 – PROJEÇÃO NA CURVA DA OMS (2007) DOS DADOS DA CRIANÇA DO CASO 1 
– ESTA CRIANÇA APRESENTA OBESIDADE 
 
 
 Caso 2. L.R.G., 8 anos, sexo masculino. 
 
Peso= 29,0 kg Altura= 127 cm IMC= 18,0 kg/m2 
 
 
 
14 
Localizando-se o valor na curva de IMC segundo sexo e idade (OMS, 2007), tem-se 
que a criança está acima do percentil 85 e abaixo do percentil 97 (seta) e é classificada como 
apresentando sobrepeso. 
FIGURA 2 – PROJEÇÃO NA CURVA DA OMS (2007) DOS DADOS DA CRIANÇA DO CASO 2 
– ESTA CRIANÇA APRESENTA SOBREPESO 
 
 
Uma série de estudos têm relacionado o IMC ao risco de doenças crônicas, como 
hipertensão, dislipidemia, diabetes tipo 2 e lesões ateroscleróticas também em crianças, 
justificando a importância do diagnóstico precoce de crianças com excesso de peso e obesidade 
com a finalidade de implementar ações de intervenção adequadas e eficazes. 
Muitos autores criticam a classificação da obesidade infantil por meio de percentis, 
uma vez que esta escolha dificulta comparações internacionais e aumenta o número aparente de 
crianças com sobrepeso e obesas. Como alternativas ao uso da classificação do IMC em 
 
 
15 
percentis, pode-se citar o padrão de referência recomendado pela International Obesity Task 
Force (IOTF) e a construção de curvas nacionais de referência com base no método LMS. 
A International Obesity Task Force (IOTF) divulgou, em 2000, um padrão de referência 
do IMC para crianças de 2 a 18 anos de idade, com base em seis coletas de dados 
internacionais. A definição dos pontos de corte específicos por idade foi feita em função da 
definição usual de sobrepeso e obesidade utilizada para adultos, com valores de 25 kg/m2 e 30 
kg/m2, respectivamente. Essa ideia implicou em modelar os valores correspondentesa esse 
desfecho ao invés de modelar determinado percentil, como era feito até então. 
O padrão do IOTF tem sido utilizado em muitos países, sobretudo fora dos Estados 
Unidos, para a classificação de sobrepeso e obesidade em crianças. As curvas do IOTF 
fornecem apenas categorias de sobrepeso e obesidade, e não classificações em percentis, como 
as curvas do NCHS ou da OMS. Dessa forma, as curvas do IOTF não são recomendadas para o 
monitoramento da evolução individual do IMC em crianças e, portanto, não devem ser utilizadas 
na prática clínica, sendo apenas utilizadas em estudos científicos. 
Resultados de pesquisas mostram que a sensibilidade e especificidade dos pontos de 
corte do IOTF na identificação das crianças mais obesas e na predição de morbidades na vida 
adulta são similares às das curvas do NCHS. 
A técnica eleita para modelagem da distribuição do IMC no padrão do IOTF foi o 
método LMS, proposto por T.J. Cole (1990). O método LMS apresenta as vantagens de 
converter a distribuição sob modelagem para uma distribuição normal (eliminando desvios-
padrão assimétricos, como no caso da distribuição do IMC), e de propiciar uma interpretação 
simples e direta de seus parâmetros (M de mediana, S de coeficiente de variação e L de 
expoente da transformação utilizada para normalizar a distribuição). 
Em 2006, Conde e Monteiro apresentaram um sistema de referência baseado no IMC 
para avaliação do estado nutricional de crianças e adolescentes brasileiros, incluindo o 
delineamento de uma curva nacional de referência com base no método LMS e o 
estabelecimento de valores críticos para o diagnóstico de desnutrição, excesso de peso e 
obesidade. 
 
 
 
16 
A vantagem do uso de uma curva de referência nacional é a garantia de maior acurácia 
na medida da prevalência de sobrepeso e obesidade do que quando se emprega curvas de 
referência de origem distinta da população analisada. O padrão internacional permanece, 
contudo, sendo de extrema utilidade em estudos comparativos ou em estudos epidemiológicos 
de maior envergadura. 
 
Importante! Retomando os conceitos de sensibilidade e especificidade 
 
Quando se fala de métodos utilizados para diagnóstico, como por exemplo, diagnóstico 
nutricional (IMC, dobras cutâneas, bioimpedância elétrica) ou bioquímico (creatinina, glicemia, 
enzimas hepáticas, anticorpos anti-HCV, entre outros), os conceitos de sensibilidade e 
especificidade são muito utilizados. 
A sensibilidade de um método reflete o quanto este é eficaz em identificar 
corretamente, dentre todos os indivíduos avaliados, aqueles que realmente apresentam a 
característica de interesse. Assim, no caso do IMC, a sensibilidade mede o quanto o método é 
capaz de identificar aqueles que de fato apresentam obesidade. 
Já a especificidade de um método reflete o quanto ele é eficaz em identificar 
corretamente os indivíduos que não apresentam a condição de interesse (no exemplo dado, 
seriam os indivíduos que não são de fato obesos). 
Assim, métodos de diagnóstico de excesso de peso que apresentam baixa 
sensibilidade são aqueles mais propensos a fornecer resultados chamados de falso-negativos 
(quando se deixa de detectar crianças que são realmente obesas) e métodos que apresentam 
baixa especificidade são mais propensos a dar resultados falso-positivos (detectando como 
obesas as crianças que não apresentam obesidade). 
A escolha entre uma maior ou menor sensibilidade do método diagnóstico, e sua 
relação inversa com a especificidade, depende da aplicação a ser dada. Do ponto de vista de 
saúde pública, é especialmente importante que o método diagnóstico da obesidade infantil tenha 
 
 
17 
boa sensibilidade, a fim de identificar o maior número possível (de preferência 100%) das 
crianças que apresentam obesidade. 
Nessa situação, é menos grave classificar algumas crianças que não são obesas como 
apresentando obesidade (as quais não seriam prejudicadas por intervenções de educação 
nutricional, por exemplo) do que deixar de detectar crianças que são realmente obesas, pois 
estas, ficando sem tratamento, apresentam um maior risco de desenvolver doenças na infância e 
permanecer obesas na vida adulta, com grandes prejuízos à saúde. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
3 EPIDEMIOLOGIA 
 
 
A Epidemiologia é o estudo da distribuição e dos determinantes dos estados ou 
acontecimentos relacionados à saúde em populações específicas e a aplicação destes estudos 
para o controle dos problemas de saúde. Outra definição semelhante é a que trata da 
epidemiologia como um conjunto de conceitos, teorias e métodos que permitam estudar, 
conhecer e transformar o processo saúde-doença na dimensão coletiva. 
Em relação à obesidade, um dado epidemiológico de grande importância para o 
desenvolvimento de ações de saúde pública voltadas ao seu controle é a prevalência na 
população. Define-se prevalência como o número ou proporção de casos existentes numa 
determinada população e num determinado momento temporal. 
Dados referentes a países desenvolvidos mostram que, nestes, a prevalência de 
sobrepeso e obesidade vem aumentando não só na população adulta como também em 
crianças e adolescentes. Estudos epidemiológicos recentes sugerem que 31,5% das crianças 
norte-americanas apresentam excesso de gordura corporal. Entre 1973 e 1994, o peso corporal 
já mostrava tendência de aumento da ordem de 0,2 kg/ano. 
O relatório de 2003 da IOTF para a Organização Mundial da Saúde estimava que 
aproximadamente 10% das crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos apresentavam excesso de 
gordura corporal, sendo que de 2% a 3% eram obesos. Isso corresponderia a mais de 155 
milhões de crianças com excesso de peso e de 30 a 45 milhões de crianças obesas em todo o 
mundo. 
Os dados mais recentes sobre a prevalência de obesidade em crianças e adolescentes 
nos Estados Unidos são do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES). De 
acordo com esses dados, 15,8% das crianças entre 6 e 11 anos e 16,1% dos adolescentes entre 
12 e 19 anos apresentam IMC maior ou igual ao percentil 95 para idade e sexo. Além disso, 
indicam que, em duas décadas, a prevalência da obesidade dobrou entre as crianças e triplicou 
entre os adolescentes daquele país. 
 
 
19 
No Brasil, dados antropométricos coletados pela Pesquisa de Orçamentos Familiares 
(POF) 2002-2003 demonstram um aumento considerável na proporção dos adolescentes 
brasileiros com excesso de peso: em 1974-75, estavam acima do peso 3,9% dos garotos e 7,5% 
das garotas entre 10 e 19 anos; já em 2002-03, os percentuais encontrados foram 18 % e 
15,4%, respectivamente. 
Apesar de a prevalência de excesso de peso ser maior em meninos, a obesidade, que 
atinge cerca de 2% dos adolescentes brasileiros, é mais frequente em meninas. Assim, a cada 5 
meninas com excesso de peso, 1 é obesa; para os meninos, essa relação é de 10 para 1. 
Os quadros a seguir mostram a prevalência de sobrepeso e obesidade em estudos 
pontuais realizados no Brasil e em diferentes países. 
 
 
20 
QUADRO 3 – PREVALÊNCIA DE SOBREPESO E 
OBESIDADE EM ESTUDOS BRASILEIROS 
Autores (ano) Estudo 
Prevalência de 
sobrepeso 
Prevalência de 
obesidade 
Motta e Silva 
(2001) 
Crianças de baixa renda na 
região Nordeste 
10,1% 4,6% 
Balaban e Silva 
(2001) 
Crianças e adolescentes de 
escola de classe média e alta 
no Recife (PE) 
26,2% 8,5% 
Leão et al. (2003) 
Escolares da rede pública e 
particular de Salvador (BA) 
- 15,8% 
Anjos et al. (2003) 
Escolares e adolescentes da 
rede municipal de ensino da 
cidade do Rio de Janeiro (RJ) 
18% no sexo feminino e 
14% no sexo masculino 
5% em ambos os 
sexos 
Giuliano e Melo 
(2004) 
Escola de classe média de 
Brasília (DF) 
16,1% no sexo feminino 
e 12,9% no sexo 
masculino 
5,1% no sexo 
feminino e 5,9% no 
sexo masculino 
Sotelo et al. (2004) Escolares de São Paulo (SP) 
13,8% no sexo feminino 
e 10,3%no sexo 
masculino 
16,5% no sexo 
feminino e 13,7% no 
sexo masculino 
Passos (2005) 
Escolas públicas e privadas da 
cidade de São Paulo (SP) 
23% 8% 
Koga (2005) 
Escolares de duas escolas 
públicas da cidade de São 
Paulo (SP) 
15,3% 11% 
 
 
21 
Costa et al. (2006) 
Escolares da cidade de Santos 
(SP) 
15,7% 18% 
Brasil et al. (2007) 
Escolares da rede pública e 
privada de Natal (RN) 
11% 22,6% 
Barreto et al. 
(2007) 
Pré-escolares da rede pública e 
privada de Natal (RN) 
14,1% 12,4% 
FONTE: Sociedade Brasileira de Pediatria, 2008 (adaptado). 
 
QUADRO 4 – PREVALÊNCIA DE SOBREPESO E OBESIDADE EM CRIANÇAS DE 10 A 16 
ANOS PROVENIENTES DE DIFERENTES PAÍSES 
País Prevalência de sobrepeso Prevalência de obesidade 
Lituânia 4,7% 0,4% 
Letônia 5,4% 0,5% 
Rússia 5,3% 0,6% 
Ucrânia 5,5% 0,5% 
Estônia 6,5% 1,0% 
Holanda 7,0% 0,8% 
Polônia 7,4% 1,1% 
Suíça 7,6% 1,3% 
República Tcheca 9,1% 1,0% 
Bélgica 8,6% 1,6% 
Israel 9,3% 1,8% 
 
 
22 
Suécia 9,8% 1,4% 
Alemanha 9,7% 1,7% 
Dinamarca 10,1% 1,3% 
França 10,0% 1,6% 
Croácia 10,6% 1,8% 
Noruega 10,3% 2,2% 
Áustria 10,9% 1,9% 
Macedônia 10,5% 2,4% 
Hungria 10,6% 2,4% 
Irlanda 11,3% 2,4% 
Finlândia 11,8% 2,5% 
Eslovênia 12,9% 2,0% 
Escócia 13,1% 3,0% 
Grécia 14,8% 2,2% 
Itália 14,9% 2,5% 
Portugal 15,0% 3,0% 
Inglaterra 13,3% 5,1% 
Espanha 16,3% 2,5% 
Canadá 15,2% 4,1% 
País de Gales 16,7% 4,8% 
Estados Unidos 18,3% 6,8% 
 
 
23 
Malta 17,5% 7,9% 
FONTE: Janssen et al., 2005 (adaptado). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
4 DIAGNÓSTICO CLÍNICO 
 
 
4.1 FATORES RELACIONADOS À OBESIDADE 
 
 
Uma vez diagnosticada a obesidade, é preciso investigar a presença de síndromes 
específicas (que ocorrem em um número pequeno de crianças) e de morbidades associadas à 
obesidade. A avaliação clínica, realizada pelo médico, deve incluir uma anamnese detalhada 
abrangendo: 
 
 Fatores pré-natais, como a ocorrência de diabetes mellitus gestacional 
 
Em mulheres que apresentam diabetes mellitus gestacional, o aumento da glicose 
plasmática resulta em aumento dos níveis de glicose no feto, o que provoca aumento da 
lipogênese e diminuição da lipólise, aumentando o risco da criança desenvolver obesidade. 
 
 Alimentação da criança no primeiro ano de vida 
 
É importante questionar a mãe sobre a amamentação nos primeiros meses de vida da 
criança, verificando se o aleitamento materno foi exclusivo (apenas leite materno, sem oferecer 
água, sucos ou chás), predominante (leite materno mais água, sucos ou chás) ou artificial 
(fórmulas infantis) e qual a duração do aleitamento materno. 
A introdução precoce de fórmulas infantis e de alimentação complementar em crianças 
pode estar relacionada com a obesidade. Fórmulas muito concentradas podem acarretar em um 
ganho de peso maior do que o desejado no início da infância, assim como podem ser oferecidos 
 
 
25 
alimentos de alta densidade energética, ricos em açúcar e/ou gordura, ultrapassando a 
necessidade energética das crianças. 
Estudos mostram que a criança pequena em aleitamento materno exclusivo em livre 
demanda começa já muito cedo a desenvolver sua capacidade de autocontrole sobre a ingestão 
de alimentos, aprendendo a distinguir as sensações de fome, após o jejum, e de saciedade, 
após uma refeição. Esta capacidade permite à criança, nos primeiros anos de vida, regular o 
volume de alimentos que consome em cada refeição e os intervalos entre as refeições, segundo 
suas necessidades. 
Crianças em aleitamento artificial, por sua vez, não desenvolvem adequadamente a 
percepção de saciedade, o que pode ocasionar hiperfagia e ausência de controle sobre o volume 
de alimentos consumidos e o intervalo entre as refeições, contribuindo para a obesidade. 
 
 Histórico de ganho ponderal 
 
Deve-se perguntar o peso ao nascer, há quanto tempo a criança começou a ganhar 
peso, e investigar o histórico de emagrecimento e recuperação de peso, incluindo as tentativas 
anteriores de tratamento. 
 
 Uso de medicamentos como corticoides, anti-histamínicos, imunossupressores, 
dentre outros 
 
A administração destes medicamentos, que é comum em crianças com doenças 
reumáticas, pulmonares e renais, por exemplo, pode estar associada ao ganho de peso, portanto 
a informação quanto à sua utilização deve constar da avaliação clínica. 
 
 Velocidade de crescimento, idade óssea, idade estatural 
 
 
 
26 
Como algumas síndromes genéticas relacionadas com a obesidade podem estar 
também associadas a retardo do crescimento linear, estes dados são de utilidade para o 
diagnóstico clínico da criança obesa. 
 
 Puberdade 
 
É importante na investigação da obesidade infantil que se faça o estadiamento puberal, 
segundo a classificação de Tanner (1969), uma vez que a puberdade cursa com alterações na 
composição corporal, havendo acréscimo de massa muscular (acompanhando a aceleração da 
velocidade de crescimento estatural) e diminuição na velocidade de ganho de gordura. 
Crianças de 8 a 10 anos de idade de ambos os sexos podem encontrar-se na fase de 
repleção pré-puberal, que antecede o estirão puberal, e é responsável pelo aspecto mais 
“rechonchudo” que muitas crianças apresentam nessa fase. 
 
 Informações referentes ao histórico e estrutura familiar 
 
Deve-se investigar a presença de obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes 
mellitus e câncer na família. Em relação à estrutura familiar, é importante questionar sobre a 
relação dos pais (casados, separados, ausentes), se a criança apresenta irmãos e qual a idade, 
se os pais estudam e/ou trabalham, se passam muito tempo longe da criança e como eles se 
sentem em relação ao excesso de peso de seu filho(a). 
 
 Dieta e comportamento alimentar 
 
Deve ser realizado um histórico alimentar detalhado, incluindo a avaliação da 
alimentação habitual e/ou atual, preferências e aversões, horários das refeições, intervalos, 
 
 
27 
tempo gasto, ingestão concomitante de líquidos, mastigação, alimentação na escola e nos finais 
de semana e/ou festas, hábito de pular refeições e/ou de “beliscar” entre as refeições. 
Deve-se ficar atento para detectar indicadores de compulsão alimentar, como a 
incapacidade de controlar impulsos para comer, o costume de comer escondido e a realização 
de práticas purgativas como a indução de vômitos, laxação ou uso de diuréticos, cada vez mais 
frequentes entre crianças e adolescentes. 
 Sedentarismo 
 
Em relação ao padrão de atividade física, deve-se investigar a prática esportiva na 
escola e fora dela, como a criança vai e volta da escola e o que faz nas horas de lazer. É 
importante também perguntar quantas horas a criança dorme por dia e quantas horas passa em 
frente à televisão, computador e/ou video game. 
Estudos demonstram que crianças que passam mais de três horas por dia em frente à 
televisão apresentam maior risco de desenvolver obesidade. A avaliação do consumo alimentar 
destas crianças que assistem mais televisão mostra que elas tendem a consumir mais doces e 
refrigerantes e menos frutas e hortaliças do que as crianças que assistem menos televisão. 
A Academia Americana de Pediatria recomenda que se limite o tempo que as crianças 
passam em frente à televisão, computador e video game a no máximo duas horas por dia. 
Além dos elementos já citados, são de igual importância os aspectos psicossociais, 
como estado depressivo, relacionamento com os colegas de escola, professores e pais, 
progresso escolar. Bem como a presença de comorbidades, como hipertensão, diabetes 
mellitus, esteatose hepática, apneia do sono, hiperlipidemia e hiperandrogenismo ovariano. 
O diagnóstico e tratamento das morbidades associadas à obesidade na faixa etária 
pediátrica serão discutidos mais adiante (Módulo II). 
 
 
 
 
 
28 
4.2 EXAME FÍSICO 
 
 
Além da pesquisa de dados gerais do exame físico, é importante a pesquisa de sinaisclínicos relacionados a doenças que ocorrem com mais frequência em indivíduos obesos. 
 
 Dermatológicos: acanthosis nigricans, infecções fúngicas, estrias, celulite, acne, 
hirsutismo, furunculose 
 
A acanthosis nigricans é uma condição dermatológica caracterizada por 
espessamento, hiperpigmentação e acentuação das linhas da pele, gerando um aspecto 
grosseiro e aveludado no local afetado. Embora possa ocorrer em qualquer local da superfície 
corpórea, a área mais comumente atingida é a região posterior do pescoço, seguida pelas axilas, 
face lateral do pescoço, superfícies flexoras dos membros, região periumbilical, mucosa oral ou 
mesmo, em casos raros, planta dos pés e palma das mãos. 
As doenças endócrinas são as principais causas de acanthosis nigricans, sendo a 
obesidade o distúrbio mais comum, frequentemente associado à hiperinsulinemia, diabetes 
mellitus e resistência à insulina. Outros distúrbios endócrinos associados à acanthosis nigricans 
são: síndrome de Cushing, ovários policísticos, tireoidopatias, dentre outros, alguns dos quais 
também cursam com resistência à insulina. 
 
 
FIGURA 3 – ACANTHOSIS NIGRICANS EM REGIÃO POSTERIOR DE PESCOÇO 
 
 
 
29 
 
FONTE: Disponível em: dermatology.cdlib.org. Acesso em: 20/05/2009. 
 
 
O hirsutismo é definido, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e 
Metabologia e a Sociedade Brasileira de Dermatologia, como a presença de pelos terminais na 
mulher, em áreas anatômicas características de distribuição masculina. Pode manifestar-se 
como queixa isolada ou como parte de um quadro clínico mais amplo, acompanhado de outros 
sinais de hiperandrogenismo, virilização, distúrbios menstruais e/ou infertilidade. 
 
 Ortopédicos: joelho valgo (geno valgum), epifisiólise da cabeça do fêmur, 
osteocondrites, artrites degenerativas, pé plano. 
 Cardiovasculares: pressão arterial elevada. 
 Respiratórios: asma, síndrome da apneia obstrutiva do sono. 
 Hepáticos: colelitíase, esteatose hepática (doença gordurosa não alcoólica). 
 Gastrointestinais: refluxo gastroesofágico, obstipação intestinal. 
 Geniturinários: síndrome dos ovários policísticos, pubarca precoce, incontinência 
urinária. 
 
 
 
 
30 
4.3 EXAMES LABORATORIAIS 
 
 
No que se refere à avaliação laboratorial, o grau de investigação depende do IMC, do 
histórico familiar, dos achados clínicos e da presença de fatores de risco para hipertensão, 
dislipidemia e doenças cardiovasculares, por exemplo. Os seguintes exames podem ser 
solicitados pelo médico para a investigação de: 
 Doenças cardiovasculares: eletrocardiograma, ecocardiograma. 
 Pressão arterial elevada: monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA). 
 Esteatose hepática: ultrassonografia hepática, aspartato aminotransferase (TGO) 
e alanina aminotransferase (TGP), biópsia hepática. 
 Hipotireoidismo: TSH, T4 livre, anticorpos antitireoglobulina e antiperoxidase. 
 Diabetes mellitus: teste de tolerância à glicose (GTT). 
 Apneia do sono: polissonografia, medida da saturação de oxigênio (O2), avaliação 
da retenção de gás carbônico (CO2). 
 Alterações ortopédicas: radiografias do quadril, joelhos e pés. 
 Síndrome de Cushing: cortisol urinário (urina de 24h) ou medida do cortisol salivar 
à meia-noite. 
 Osteodistrofia Hereditária de Albright (OHA): cálcio e fosfato séricos. 
 Hirsutismo e oligomenorreia (irregularidade menstrual): 17-hidroxiprogesterona 
(17-OHP) plasmática (basal ou estimulada por corticotropina), 
dehidroepiandrosterona (DHEAS) plasmática (basal ou estimulada por 
corticotropina), androstenediona, testosterona, hormônio luteinizante (LH) e 
hormônio folículo-estimulante (FSH). 
 Puberdade precoce: LH e FSH, testosterona (meninos), estradiol (meninas), 
DHEAS. 
 Síndromes específicas: avaliação da atividade do receptor MCR4, hibridização in 
situ fluorescente (para Síndrome de Prader-Willi), avaliação de síndrome do 
cromossomo X frágil (análise cromossômica de alta resolução). 
 
 
 
31 
4.4 SÍNDROMES ASSOCIADAS À OBESIDADE 
 
 
A grande maioria das crianças obesas apresenta obesidade exógena (95%), enquanto 
a obesidade secundária a alguma patologia é responsável por apenas 5% dos casos. A 
obesidade secundária ocorre associada a duas principais condições: doenças endócrinas e 
anormalidades genéticas/ cromossômicas. 
Dentre os problemas endócrinos, estão o hipotireoidismo, a síndrome de Cushing e a 
deficiência de hormônio de crescimento. 
Enquanto em adultos o hipotireoidismo típico está associado a aumento de gordura, 
nas crianças a consequência mais preocupante é o retardo do crescimento linear. Outros 
sintomas são intolerância ao frio, sonolência e obstipação. O diagnóstico é feito pela medida das 
concentrações plasmáticas de hormônios tireoidianos e de TSH (hormônio estimulante da 
tireoide) e o tratamento é feito pela reposição de hormônios tireoidianos. 
Crianças com síndrome de Down, assim como crianças com algum grau de atraso 
mental, apresentam maior chance de desenvolver obesidade, assim como estão mais propensas 
a apresentar hipotireoidismo, geralmente secundário a tireoidite autoimune. É importante que a 
criança com síndrome de Down que apresente exacerbação repentina da obesidade seja 
investigada para hipotireoidismo. 
A síndrome de Cushing em crianças pequenas está geralmente associada à baixa 
estatura. Alguns aspectos característicos da síndrome, como face em lua cheia, vermelhidão na 
face (sobretudo nas bochechas), hursutismo e corcova de búfalo (depósito de gordura na região 
da nuca), podem ser confundidos com a obesidade simples. O que define o diagnóstico da 
síndrome de Cushing é o aumento da concentração de cortisol. Pode-se dosar a concentração 
urinária ou salivar de cortisol, assim como a supressão de sua secreção após dose de 
dexametasona. 
Na deficiência do hormônio de crescimento (GH), o principal aspecto clínico é a baixa 
estatura, muito mais do que a obesidade. Crianças menores com deficiência de GH costumam 
 
 
32 
ser magras e apresentar apetite reduzido, porém crianças mais velhas tendem a desenvolver 
certo grau de obesidade em associação à baixa estatura, idade óssea atrasada e mãos e pés 
pequenos. 
Dentre as síndromes genéticas, a que está mais relacionada com a obesidade é a 
síndrome de Prader-Willi. Cerca de 70-75% dos pacientes com síndrome de Prader-Willi 
apresentam deleção do segmento q11-q13 do cromossomo nº 15. A prevalência estimada dessa 
síndrome varia de 1/10000 a 1/15000 indivíduos. 
 
Os pacientes com síndrome de Prader-Willi apresentam, nos primeiros meses de vida, 
hipotonia grave, com dificuldades de alimentação causada pela ausência dos reflexos de sucção 
e deglutição. Com o passar do tempo, a hipotonia melhora e as dificuldades de alimentação são 
substituídas por polifagia, em razão da ausência da sensação de saciedade, o que resulta em 
obesidade. 
Apresentam ainda olhos amendoados, diâmetro biparietal pequeno, estrabismo, mãos 
e pés pequenos e hipogonadismo (pênis pequeno e criptorquidia, nos de sexo masculino; e 
grandes lábios hipoplásicos e pequenos lábios ausentes, nos de sexo feminino) em razão da 
diminuição da secreção de hormônios gonadotróficos. 
Existem ainda outras síndromes genéticas associadas à obesidade, como a síndrome 
de Bardet-Biedl, síndrome de Laurence-Moon, síndrome de Biemond, síndrome de Alstrom, 
síndrome de Carpenter e síndrome de Cohen. 
Avanços recentes em genética molecular possibilitaram a descoberta de uma série de 
condições nas quais a síntese ou o metabolismo da leptina encontram-se afetados por 
anormalidades monogênicas (alteração em um único gene), levando a um aparecimento precoce 
da obesidade. 
Já foram descritas mutações no gene da leptina, do receptor da leptina, da 
proopiomelanocortina (POMC) e do receptor da melanocortina (MC4R). O metabolismo da 
leptina será descrito mais adiante, na seção do curso que fala sobreo controle neuronal da fome 
e saciedade. 
 
 
33 
FIGURA 4 – PACIENTE COM SÍNDROME DE PRADER-WILLI 
 
FONTE: Otto et al., 2004. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
5 AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA 
 
 
A avaliação do estado nutricional constitui etapa fundamental, na qual se verifica a 
adequação do crescimento e das proporções corporais de indivíduos ou grupos, segundo 
padrões de crescimento esperados. A escolha do método de avaliação do estado nutricional está 
vinculada ao objetivo, ao custo, ao tempo disponível para realização, ao grupo populacional a ser 
estudado, ao nível de dificuldade e de habilidade requeridos, à receptividade por parte da 
população e aos possíveis riscos envolvidos. 
A antropometria tem sido empregada na avaliação do estado nutricional por mais de 
um século e consiste na avaliação das dimensões físicas e da composição do corpo humano, 
sem necessitar do uso de exames laboratoriais. Tem sido amplamente utilizada na infância e 
adolescência, principalmente por aspectos relacionados ao baixo custo, facilidade de execução e 
inocuidade. 
A avaliação do estado nutricional pela antropometria envolve a coleta de dados de 
características corporais tais como peso, estatura, dobras cutâneas e circunferências corporais, 
que irão compor índices antropométricos que serão comparados com populações de referência, 
tais como a de Cole et al. (2000) e a do NCHS (2000). 
O peso e a estatura são essenciais na avaliação do estado nutricional (atual e 
pregresso), devendo ser analisados segundo idade e sexo. Pela aferição do peso e altura pode-
se calcular, entre outros, o Índice de Massa Corporal (IMC) e o índice de estatura para idade. 
O IMC tem sido utilizado para a avaliação do estado nutricional e identificação de 
sobrepeso e obesidade em qualquer faixa etária, sendo de utilidade na estimação da prevalência 
de excesso de peso em populações. 
O índice de estatura para idade reflete o crescimento linear obtido por crianças e seu 
déficit (stunting) e, neste caso, indica crescimento esquelético comprometido em razão das 
inadequadas condições de vida ou saúde, inclusive nutrição, por um longo período de tempo. No 
entanto, um baixo índice de estatura para idade não necessariamente indica um déficit de 
 
 
35 
estatura para idade, podendo ser reflexo do baixo potencial genético de crescimento linear da 
criança. 
Os estudos sobre tendência secular das medidas do crescimento parecem convergir 
para a indicação de que, à exceção de populações asiáticas, o processo de crescimento da 
estatura humana tende a ser muito semelhante entre as várias etnias, especialmente antes dos 
sete anos. 
A análise das tendências temporais do peso e da massa corporal, no entanto, tem 
evidenciado aumentos contínuos do peso corporal e da proporção de tecido gorduroso, mesmo 
em idades precoces. Essa tendência projeta horizonte negativo para uma série de doenças 
crônicas ligadas à presença da obesidade, entre elas diabetes e doenças cardiovasculares. 
A avaliação da composição corporal em crianças pode ser feita com o uso de técnicas 
sofisticadas, tais como a absortometria por dupla emissão de raios-X (DEXA), hidrodensitometria 
e diluição de isótopos. 
Todavia, em estudos epidemiológicos e na prática clínica é mais desejável utilizar 
métodos relativamente mais simples, como a medida da espessura do tecido adiposo 
subcutâneo por meio das pregas cutâneas e a bioimpedância elétrica (BIA). 
Nos tópicos a seguir, serão apresentados e discutidos os principais indicadores e 
medidas antropométricas utilizados para a avaliação de crianças obesas. 
 
 
5.1 IMC 
 
 
 Aspectos gerais 
 
O IMC é calculado dividindo-se o peso (kg) pela altura (m) elevada ao quadrado. 
 
 
36 
IMC = peso(kg) 
 altura2(m2) 
Embora o IMC seja amplamente aceito para a classificação de adultos segundo a 
adiposidade, não existe consenso na literatura sobre sua validade como um indicador de gordura 
corporal em crianças e adolescentes, especialmente entre diferentes grupos étnicos. 
De fato, em nível individual o IMC não está necessariamente associado à quantidade 
de tecido adiposo, uma vez que não fornece informações sobre a composição corporal. No 
entanto, muitos autores defendem a utilização do IMC, e concluem que além se ser um método 
simples e acurado, é válido para medida de gordura em crianças e adolescentes de 2 a 19 anos. 
 
 Aplicação na prática clínica 
 
O uso do IMC para o diagnóstico da obesidade já foi abordado anteriormente, 
mencionando-se o estabelecimento de pontos de corte baseados na classificação em percentis 
para a definição de sobrepeso (entre os percentis 85 e 95) e obesidade (≥ percentil 95). 
Além disso, o IMC pode ser utilizado para a monitoração do tratamento, por meio do 
acompanhamento de sua evolução na curva utilizada como referência. É importante ressaltar 
que a avaliação do sucesso do tratamento não depende só de parâmetros antropométricos, mas 
de sua análise em conjunto com parâmetros clínicos e laboratoriais. 
Um tratamento que não consiga redução de peso ou o ajuste do IMC não significa 
insucesso se, por exemplo, conseguir-se redução expressiva das morbidades associadas à 
obesidade e modificação do estilo de vida, com consequente melhora da qualidade de vida e 
prevenção de danos futuros (desenvolvimento de doenças crônicas relacionadas ao excesso de 
peso). 
O acompanhamento do IMC e dos demais parâmetros antropométricos pode ser 
mensal (no início do tratamento) ou mesmo trimestral, para aqueles pacientes que já se 
 
 
37 
adequaram ou que estão em fase de consolidação de modificação de hábitos alimentares e de 
estilo de vida. 
Cabe ressaltar que nem sempre o objetivo do tratamento é a redução de peso, pois, 
diferentemente dos adultos, as crianças encontram-se em processo de crescimento linear. 
Dessa forma, uma criança que ganha estatura e mantém o peso apresenta redução de IMC e, 
portanto, está evoluindo satisfatoriamente. 
 
 
5.2 DOBRAS CUTÂNEAS 
 
 
 Aspectos gerais 
 
A dobra cutânea é uma medida da espessura de duas camadas de pele e a gordura 
subcutânea adjacente, como mostra a Figura 3. Várias dobras cutâneas podem ser avaliadas 
isoladamente ou em conjunto. Entre essas, podemos citar as dobras cutâneas tricipital, bicipital e 
da panturrilha, indicadoras de gordura periférica, e as dobras subescapular e suprailíaca, 
indicadoras de gordura central. A dobra cutânea mais utilizada em crianças é a tricipital. 
 
 
FIGURA 5 – ANATOMIA DE UMA DOBRA CUTÂNEA 
 
 
38 
 
FONTE: Heyward & Stolarczyk, 2000. 
 
Em razão da existência de uma relação entre gordura subcutânea e gordura corporal 
total, a soma de várias dobras cutâneas pode ser utilizada para estimar a gordura corporal total. 
A validade e confiabilidade das medidas de dobras cutâneas são influenciadas pela 
habilidade do avaliador, pelo tipo de adipômetro, pelos fatores do indivíduo avaliado e pela 
equação utilizada para estimar a gordura corporal. 
A localização imprópria dos locais das dobras cutâneas e a medida feita de forma 
incorreta são as maiores causas da baixa confiabilidade interavaliadores. Para solucionar esse 
problema, foram desenvolvidos procedimentos padronizados de coleta de dados e descrições 
detalhadas para identificação e medida dos locais das dobras cutâneas (Tabela 2). 
 
TABELA 2 – LOCAIS PADRONIZADOS PARA MEDIÇÃO 
DE DOBRAS CUTÂNEAS 
Dobra cutânea 
Direção da 
dobra 
Referência 
anatômica 
Medida 
 
 
39 
Tricipital 
Vertical (linha 
média) 
Processo 
acromial da 
escápula e 
processo 
olecraniano da 
ulna 
A distância entre a projeção lateral do processo 
acromial e a margem inferior do processo 
olecraniano é medida no aspecto lateral do 
braço, com cúbito flexionado a 90° e usando 
uma fita métrica. O ponto médio é marcado na 
lateral do braço. A dobra é tomada 1 cm acima 
da linha marcada noaspecto posterior do braço. 
O adipômetro é aplicado no nível marcado. 
Bicipital 
Vertical (linha 
média) 
Bíceps braquial 
A dobra é destacada sobre o ventre do bíceps 
braquial ao longo da marcação para o tríceps e 
em linha com a borda anterior do processo 
acromial e fossa cubital anterior. O adipômetro é 
aplicado 1 cm abaixo dos dedos. 
Subescapular Diagonal 
Ângulo inferior 
da escápula 
A dobra fica ao longo da linha natural da pele, 
logo abaixo do ângulo inferior da escápula, com 
o adipômetro aplicado 1 cm abaixo dos dedos. 
Suprailíaca Oblíqua Crista ilíaca 
A dobra é destacada posteriormente à linha 
média axilar e sobre a crista ilíaca, ao longo da 
linha natural da pele com o adipômetro aplicado 
1 cm abaixo dos dedos. 
FONTE: Heyward & Stolarczyk, 2000 (adaptado). 
 
A confiabilidade intra-avaliador (consistência das medidas feita por um mesmo 
avaliador de dobras cutâneas) é outra fonte de erro deste método. Medir espessura de dobras 
cutâneas consistentemente é difícil em obesos, porque elas podem exceder a abertura máxima 
do adipômetro. Além disso, em indivíduos obesos com muita massa muscular a gordura 
subcutânea pode não ser facilmente separada do músculo que está abaixo. Assim, a colocação 
apropriada do adipômetro, perpendicular à dobra, não é possível. 
 
 
40 
Para melhorar a confiabilidade dos dados, as medidas devem ser coletadas, no 
mínimo, em duplicata, e então calculada a média. 
Tanto os adipômetros de metal de alta qualidade como os de plástico podem ser 
utilizados para medir dobras cutâneas. O custo dos adipômetros varia segundo o material 
utilizado em sua composição e a precisão e exatidão de sua escala de medida. Instrumentos de 
alta qualidade, como os adipômetros Lange®, Harpenden®, Holtain® e Lafayette® (Figura 4) 
exercem pressão constante durante todo o alcance da sua escala de medida. 
Os adipômetros de plástico não são a melhor escolha para medir dobras cutâneas, 
pois tem menor precisão de escala, tensão inconstante por meio da sua faixa de medida, escala 
de medida menor (cerca de 40 mm) e fornecem menos consistência quando usados por 
avaliadores menos experientes. 
 
FIGURA 6 – EXEMPLOS DE ADIPÔMETROS DISPONÍVEIS NO MERCADO 
 
 
Lange® 
 
Harpender® 
 
 
A variabilidade em medidas de dobras cutâneas entre indivíduos pode ser atribuída 
não apenas à diferença na quantidade de gordura subcutânea no local, mas à diferença na 
espessura da pele, compressibilidade do tecido adiposo e grau de hidratação. 
 
 
41 
Um acúmulo de água extracelular (edema) no tecido subcutâneo, causado por fatores 
como vasodilatação periférica ou certas doenças, pode aumentar a espessura da dobra cutânea. 
Por isso, não se deve realizar medidas de dobras cutâneas imediatamente após o exercício, 
sobretudo em ambientes quentes. 
As equações de predição de gordura corporal total baseadas em dobras cutâneas 
devem ser selecionadas baseadas em idade, sexo, etnia e nível de atividade física. Slaughter et 
al. (1988) desenvolveram equações para estimar a porcentagem de gordura corporal de 
crianças, usando o somatório de duas dobras cutâneas (tríceps + subescapular ou tríceps + 
panturrilha). Essas equações podem ser utilizadas para avaliar a composição corporal de 
meninos e meninas negros e brancos, de oito a 17 anos de idade (Tabela 3). 
 
TABELA 3 – EQUAÇÕES DE PREDIÇÃO DE GORDURA CORPORAL PARA CRIANÇAS 
UTILIZANDO MEDIDAS DE DOBRAS CUTÂNEAS 
Método Equação 
Σ dobra cutânea tricipital + panturrilha %GC = 0,735(ΣDOC) +1,0 (meninos) 
 %GC = 0,610(ΣDOC) +5,1 (meninas) 
 
Σ dobra cutânea tricipital + subescapular 
 Σ > 35 mm %GC= 0,783(ΣDOC) +1,6 (meninos) 
 %GC= 0,546(ΣDOC) +9,7 (meninas) 
 
 Σ < 35 mm %GC= 1,21(ΣDOC) – 0,008 (ΣDOC)
2 + I* (meninos) 
 %GC= 1,33(ΣDOC) – 0,013 (ΣDOC)2 -2,5(meninas) 
%GC = %gordura corporal 
 
 
42 
ΣDOC = somatório de dobras cutâneas 
I* = substituições de constante baseadas na maturação e etnia para meninos 
FONTE: SLAUGHTER et al.,1988. 
 
FIGURA 7 – TÉCNICA DE MEDIDA DA DOBRA CUTÂNEA TRICIPITAL 
 
FONTE: Heyward & Stolarczyk, 2000. 
 
 
Deve-se seguir os seguintes procedimentos padronizados para aumentar a exatidão e 
confiabilidade das medidas de dobras cutâneas: 
 Tomar as medidas do lado direito do corpo; 
 Identificar, medir e marcar cuidadosamente o local da dobra cutânea; 
 Segurar firmemente a dobra entre o polegar e o indicador da mão esquerda. A 
dobra deve ser destacada 1 cm acima do local a ser medido; 
 Destacar a dobra, colocando o polegar e o indicador a uma distância de 8 cm, em 
uma linha perpendicular ao eixo longo da dobra. Para indivíduos com dobras 
extremamente grandes, o polegar e o indicador precisarão se separar por mais de 8 
cm para que se consiga destacá-la; 
 
 
43 
 Manter a dobra pressionada enquanto a medida é realizada; 
 Colocar as hastes do adipômetro perpendiculares à dobra, aproximadamente 1 cm 
abaixo do polegar e do indicador, e soltar a pressão das hastes lentamente; 
 Anotar as medições de dobras cutâneas 4 segundos após a pressão ter sido 
aplicada; 
 Afastar as hastes do adipômetro para removê-lo do local. Fechar as hastes 
lentamente para prevenir danos ou perda da calibragem. 
 Aplicação na prática clínica 
 
A medida de dobras cutâneas tem sido utilizada há muitos anos em estudos de 
nutrição e composição corporal, por ser considerada uma ferramenta atrativa em razão de seu 
caráter não invasivo e específico para avaliar gordura subcutânea. Antigamente, recomendava-
se o uso do método de dobras cutâneas como componente da avaliação clínica a fim de 
distinguir, dentre as crianças com excesso de peso, aquelas que apresentavam excesso de 
gordura corporal. 
Há concordância na literatura quanto ao fato de que as dobras cutâneas predizem 
gordura corporal total em crianças e adolescentes. Mais do que isso, quando medidas de dobras 
cutâneas são incluídas em modelos de regressão, providenciam informações que explicam 
variações em indicadores de risco de doenças, incluindo concentrações plasmáticas de lípides, 
pressão arterial, glicemia, insulinemia, resistência à insulina e inflamação. 
Quando categorias de dobras cutâneas baseadas em pontos de corte de classificações 
em percentis são usadas para identificar os indivíduos com maior quantidade de gordura 
corporal ou aqueles com síndrome metabólica, o desempenho das dobras cutâneas mostra-se 
tão bom quanto o do IMC ou da circunferência da cintura. 
Ainda assim, existem poucas evidências demonstrando que, uma vez que se conheça 
os dados de peso e altura (ou IMC), a medida das dobras cutâneas aumenta a precisão na 
identificação daquelas crianças com maior quantidade de gordura corporal ou outros fatores de 
risco. 
 
 
44 
Dessa forma, especialistas não recomendam o uso de medidas de dobras cutâneas 
para avaliação da obesidade infantil na prática clínica. Essa recomendação baseia-se na falta de 
informações nacionais disponíveis em relação à distribuição de crianças segundo medidas de 
dobras cutâneas, no risco potencial de erros de mensuração por avaliadores inexperientes e sem 
treinamento adequado e a ausência de um critério definido para servir de base para intervenções 
(pontos de corte para classificação das crianças de maior risco). 
Todavia, o método das dobras cutâneas continua sendo de grande utilidade em 
pesquisas, sobretudo naquelas que buscam estabelecer pontos de corte para classificação de 
adiposidade segundo as dobras cutâneas em crianças de diferentes faixas etárias. 
Uma possível aplicação clínica da medida de dobras cutâneas é o acompanhamento 
individual de pacientes, nesse caso utilizando as medidas não para classificar a obesidade ou 
definir os pacientes de maior risco de doenças, e sim para avaliar o progresso da criança no 
tratamento, comparando medidas a fim de observar se houve redução na gordura corporal. Aqui 
também é importante que as medidassejam feitas sempre pelo mesmo avaliador, devidamente 
treinado, para evitar erros de mensuração e permitir que as medidas possam ser 
adequadamente interpretadas. 
 
 
5.3 BIOIMPEDÂNCIA ELÉTRICA 
 
 
 Aspectos gerais 
 
O método da bioimpedância elétrica (BIA) é um método rápido, não invasivo e 
relativamente barato para avaliar a composição corporal em situações de campo (pesquisas) e 
na prática clínica. A BIA tem sido utilizada, principalmente a partir da década de 80, com a 
finalidade de predizer a composição do corpo humano em quantidade total de água e massa livre 
 
 
45 
de gordura. A massa gorda pode ser obtida por diferença e, assim, pode-se estimar o percentual 
de gordura corporal total. 
O método consiste na passagem de uma pequena corrente elétrica através do corpo e 
na medida da oposição ao fluxo dessa corrente, que representa a impedância (Z). A água 
corporal total (ACT) do indivíduo pode ser estimada pela medida de impedância, uma vez que os 
eletrólitos presentes na água corporal são excelentes condutores de corrente elétrica. 
Quando o volume de ACT é grande, a corrente flui mais facilmente através do corpo, 
portanto com menor resistência (R). A resistência ao fluxo da corrente será maior em indivíduos 
com grande quantidade de gordura corporal, pelo fato de o tecido adiposo ser um malcondutor 
de corrente elétrica, em razão de sua quantidade relativamente baixa de água. 
Como o conteúdo de água da massa livre de gordura (MLG) é relativamente grande 
(73% de água), pode-se predizer a MLG por meio de estimativas de água corporal total. 
Indivíduos com grande MLG e ACT têm menos resistência ao fluxo de corrente elétrica através 
de seu corpo, em relação aos que têm menos MLG. 
Vários autores observaram uma forte relação entre as medidas de impedância total do 
corpo e ACT, sugerindo que a BIA pode ser uma ferramenta válida para a análise da composição 
corporal e avaliação da ACT em âmbito clínico. Além dos estudos que reforçam que a ACT pode 
ser estimada pela BIA com um grau moderado de exatidão, outros trabalhos demonstraram que 
a MLG ou porcentagem de gordura corporal (%GC) também poderiam ser estimadas com 
exatidão em crianças e adultos pelo método da BIA. 
Apesar do desempenho da BIA ser semelhante ao do método de dobras cutâneas em 
predizer gordura corporal, a BIA deve ser preferida em algumas situações, pois: não requer um 
alto grau de habilidade do avaliador; geralmente é mais confortável e não invade tanto a 
privacidade do indivíduo; e pode ser usada para estimar a composição corporal de indivíduos 
obesos. 
A impedância (Z) é a razão entre a voltagem e a corrente aplicada. É mensurada pela 
combinação da resistência (R) e da reactância (Xc), fornecidas pelo analisador de BIA. A 
impedância é escrita matematicamente como Z2=R2+Xc2, onde Xc e R podem ser considerados 
como índices do conteúdo intracelular e extracelular, respectivamente. A partir de equações, 
 
 
46 
adotando-se a transformação de circuito eletrofisiológico corporal em série para paralelo, pode-
se estimar a ACT e a MLG. 
Kushner et al. (1992) validaram equações de predição de ACT, segundo sexo, para 
diversas idades, e concluíram que o método da BIA permite boa predição (Tabela 4). 
TABELA 4 – EQUAÇÕES PARA PREDIÇÃO DA ÁGUA CORPORAL TOTAL PELO MÉTODO 
DA BIOIMPEDÂNCIA ELÉTRICA E CÁLCULOS POSTERIORES DA MASSA LIVRE DE 
GORDURA E DA PORCENTAGEM DE GORDURA CORPORAL 
 
Indicador/medidas Classificação Equações 
BIA 
Resistência (R) 
Altura (A) 
Peso (P) 
Variável contínua 
 
% gordura corporal (%GC) 
 
 
 
 
Crianças de 6 a 10 anos: 
 
ACT (água corporal total): 
ACT=0,593(A2/R)+0,065(P)+0,04 
 
Para converter ACT em MLG: 
meninos 5-6 anos: MLG(kg)=ACT/0,77 
meninos 7-8 anos: MLG(kg)=ACT/0,768 
meninos 9-10 anos: MLG(kg)=ACT/0,762 
 
meninas 5-6 anos: MLG(kg)=ACT/0,78 
meninas 7-8 anos: MLG(kg)=ACT/0,776 
meninas 9-10 anos: MLG(kg)=ACT/0,77 
 
 
47 
 
Para estimar a % de gordura corporal: 
%GC=[(P-MLG)/P]X100 
FONTE: Kirshner et al. (1992). 
 
Para a realização da BIA, deve-se estar atento a aspectos metodológicos importantes: 
 
 As medidas devem ser realizadas do lado direito do corpo, com o indivíduo deitado 
em decúbito dorsal sobre uma superfície não condutora, em uma sala com 
temperatura ambiente normal (~22°C). 
 A pele onde serão fixados os eletrodos deve estar íntegra e a fixação dos mesmos 
deve ser precedida de limpeza com álcool, para garantir a adesão. 
 
 Os eletrodos proximais devem ser colocados na superfície dorsal da articulação do 
punho direito, de modo que a borda superior do eletrodo se alinhe à cabeça da 
ulna, e na superfície dorsal do tornozelo direito, de modo que a borda superior do 
eletrodo se alinhe aos maléolos medial e lateral. 
 Os eletrodos distais devem ser posicionados na base da segunda ou terceira 
articulação metacarpofalângica da mão e metatarsofalângica do pé. Deve haver 
pelo menos 5 cm entre os eletrodos proximais e distais. 
 O próximo passo é conectar os cabos de ligação aos eletrodos apropriados. Os 
cabos vermelhos são ligados às articulações do punho e do tornozelo, e os cabos 
pretos à mão e ao pé. 
 É necessário certificar-se de que as pernas e os braços do paciente estejam 
abduzidos aproximadamente 45° um do outro. Não deve haver contato entre as 
coxas e entre os braços e o tronco. 
 
 
48 
 Por fim, deve-se ligar o aparelho e fazer a leitura correspondente às medidas de 
resistência e reactância, para posterior cálculo da ACT, MLG e % GC por meio de 
planilhas ou softwares específicos. 
 
FIGURA 8 – LOCAIS DE POSICIONAMENTO DOS ELETRODOS PARA REALIZAÇÃO DA BIA 
 
FONTE: 
 
 Aplicação na prática clínica 
 
Em razão de seu custo (um aparelho de bioimpedância elétrica de qualidade custa 
cerca de R$ 5.000,00), a BIA não deve ser utilizada como método de rotina para identificação de 
crianças obesas, uma vez que para isso podem ser usados métodos mais práticos e baratos, 
como o IMC (que requer apenas uma balança e um estadiômetro). 
Para a avaliação do risco de doenças cardiovasculares (DCV) segundo a BIA, podem 
ser utilizados os pontos de corte propostos por Lohman (1992), que define percentuais de 
gordura corporal total ≥ 30% para meninas e ≥ 25% para meninos como indicadores de risco 
moderado a alto de DCV. 
 
 
49 
Outra possível utilização da BIA em ambulatórios e consultórios é a avaliação inicial e 
acompanhamento da evolução do tratamento de crianças obesas, visando a observar redução 
de %GC após intervenções dietéticas e incentivo à prática de atividade física. 
É importante que os pacientes avaliados sigam um protocolo antes da realização da 
BIA (Quadro 5), pois uma série de fatores pode afetar o método. Fatores como alimentação, 
bebidas, desidratação e exercícios alteram o estado de hidratação do indivíduo, portanto afetam 
a resistência total do corpo e a estimativa da MLG. 
Exercícios intensos que aumentam a temperatura corporal tendem a diminuir o valor da 
resistência; o frio, assim como a desidratação, tende a aumentá-la. A ingestão de refeições de 2 
a 4 horas antes da realização da BIA também pode diminuir a resistência, em função do 
aumento da quantidade de íons no organismo, podendo superestimar a MLG de um indivíduo em 
quase 1,5 kg, e, portanto, levar a uma subestimação da massa gorda. 
Estas demandas metodológicas podem ser satisfeitas a partir da padronização de 
avaliadores em fase anterior à coleta de dados, assegurando a qualidade dos mesmos. 
 
QUADRO 5 – PROTOCOLO PARA PACIENTES QUE REALIZARÃO A AVALIAÇÃO DA 
COMPOSIÇÃO CORPORAL PELA BIA 
 
 Não comer ou beber a menos de quatro horas do teste; 
 Não fazer exercícios a menos de doze horas do teste; 
 Urinar a menos de 30 minutos do teste; 
 Não consumir álcool a menos de 48 horas do teste; 
 Não tomar medicamentos diuréticos a menos de 7 dias do teste; 
 Pacientes do sexo femininoque percebam que estão retendo água durante aquele 
estágio de seu ciclo menstrual não devem realizar o teste. 
 
 
 
 
50 
5.4 CIRCUNFERÊNCIA DA CINTURA 
 
 
 Aspectos gerais 
 
A circunferência da cintura deve ser medida no ponto médio entre a última costela e a 
crista ilíaca, ao final de uma expiração normal. A circunferência da cintura também pode ser 
medida na parte mais estreita do tronco, ao nível da cintura “natural”. É importante distinguir a 
circunferência da cintura da circunferência abdominal, que é medida na altura do umbigo. 
Independentemente da metodologia escolhida para realizar a medida, o importante é 
sempre fazê-la da mesma forma ao acompanhar um paciente ou um grupo de indivíduos, a fim 
de padronizar a coleta de dados, permitindo maior confiabilidade na análise das informações 
obtidas. 
Recentemente, a circunferência da cintura tem atraído a atenção de muitos 
profissionais e pesquisadores em razão de seu uso como indicador de adiposidade e risco de 
doenças crônicas. Esse interesse provém de pesquisas que relacionam o acúmulo de gordura 
visceral ao aumento do risco de doenças e distúrbios metabólicos em adultos e crianças. 
Comparando-se a circunferência da cintura ao IMC, observa-se que a circunferência da 
cintura reflete melhor a quantidade de tecido adiposo visceral, enquanto o IMC é melhor para 
estimar a quantidade de tecido adiposo subcutâneo. 
A circunferência da cintura é significativamente melhor do que o IMC para predizer 
resistência à insulina, pressão arterial e concentrações séricas de colesterol e triglicérides. 
Consequentemente, a circunferência da cintura é de grande utilidade para fornecer informações 
relacionadas ao risco de doenças crônicas em crianças. 
Além disso, no estudo de Maffeis et al. (2001), a circunferência da cintura aferida aos 8 
anos de idade mostrou-se um excelente preditor da obesidade após 4 anos de seguimento (aos 
12 anos de idade). Este resultado é interessante, uma vez que permite a identificação precoce 
de crianças com maior risco de ficarem obesas na puberdade. 
 
 
51 
 Aplicação na prática clínica 
 
A aplicação da medida da circunferência da cintura na prática clínica é dificultada pela 
ausência de pontos de corte a serem utilizados como padrão para a identificação de crianças 
com risco aumentado de doenças crônicas. Mesmo assim, muitos profissionais têm adicionado a 
medida da circunferência da cintura às suas ferramentas para avaliar risco em crianças, 
geralmente utilizando como ponto de corte percentis altos, como 90 ou 95. 
Tabelas de classificação em percentis da circunferência da cintura já se encontram 
disponíveis para crianças americanas e outras populações. No entanto, seu uso na rotina clínica 
ainda não é recomendado pela falta de mais estudos e diretrizes específicas para a aplicação 
prática. Uma possível abordagem a ser desenvolvida para solucionar esse problema é o 
estabelecimento dos melhores pontos de corte para identificar crianças em risco dentre 
categorias do IMC, assim como é feito para adultos. 
 
TABELA 5 – PERCENTIS DE CIRCUNFERÊNCIA DA CINTURA (CM) SEGUNDO SEXO, 
IDADE E RAÇA, BASEADO EM DADOS DO BOGALUSA HEART STUDY 
 Meninos brancos Meninas brancas Meninos negros Meninas negras 
 Percentis Percentis Percentis Percentis 
Idade (anos) 50 90 50 90 50 90 50 90 
 cm cm cm cm 
5 52 59 51 57 52 56 52 56 
6 54 61 53 60 54 60 53 59 
7 55 61 54 64 56 61 56 67 
8 59 75 58 73 58 67 58 65 
 
 
52 
9 62 77 60 73 60 74 61 78 
10 64 88 63 75 64 79 62 79 
11 68 90 66 83 64 79 67 87 
12 70 89 67 83 68 87 67 84 
13 77 95 69 94 68 87 67 81 
14 73 99 69 96 72 85 68 92 
15 73 99 69 88 72 81 72 85 
16 77 97 68 93 75 91 75 90 
17 79 90 66 86 78 101 71 105 
FONTE: Freedman et al., 1999. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
53 
6 ETIOLOGIA DA OBESIDADE 
 
 
O aumento alarmante da prevalência de obesidade em crianças é largamente atribuído 
ao aumento da densidade energética da dieta e diminuição do padrão de atividade física na 
maioria dos indivíduos. Contudo, a obesidade é uma doença multifatorial, influenciada tanto por 
fatores genéticos como ambientais. Dessa forma, o ganho de peso é causado por escolhas 
alimentares e de estilo de vida inadequadas aliadas à susceptibilidade genética. Estes fatores 
serão detalhados a seguir. 
 
 
6.1 FATORES GENÉTICOS 
 
 
 OBESIDADE MONOGÊNICA 
 
 
A obesidade monogênica é definida como a obesidade resultante da mutação ou 
deficiência de um único gene. As formas monogênicas de obesidade podem ser divididas em 
três grandes categorias. 
A primeira delas é a obesidade causada por mutações em genes que apresentam 
papel fisiológico no sistema de balanço energético hipotalâmico leptina-melanocortina. Dentre 
elas, pode-se citar a deficiência congênita de leptina, a deficiência do receptor de leptina, a 
deficiência completa de POMC (pró-opiomelanocortina) e mutações no receptor tipo 4 de 
melanocortina (MC4R). 
 
 
54 
Esse tipo de obesidade cursa com obesidade muito severa, hiperfagia e outras 
alterações, como hipogonadismo. 
A segunda categoria é a obesidade resultante de mutações nos genes necessários 
para o desenvolvimento do hipotálamo (SIM1, BDNF e NTRK2). As mutações nestes genes 
foram descritas recentemente e também foram implicadas no desenvolvimento de obesidade em 
ratos e em humanos. Os mecanismos pelos quais estes genes regulam o peso corporal ainda 
não são conhecidos. O desenvolvimento anormal do hipotálamo, o prejuízo pós-natal para a 
função destes genes ou ambos os mecanismos podem ser responsáveis pelo fenótipo de 
obesidade. 
A terceira categoria é a obesidade apresentando-se como parte de uma complexa 
síndrome causada por mutações em genes cuja relação funcional com a obesidade ainda não é 
clara (ex: síndromes de Bardet-Biedl, de Alstrom e de Carpenter). 
As causas monogênicas de obesidade identificadas até o presente momento são 
responsáveis por menos de 5% da obesidade severa, e são muito heterogêneas em si. A 
síndrome de Bardet-Biedl, por exemplo, pode resultar da alteração de pelo menos 12 genes 
diferentes, e a obesidade causada por mutações no MC4R podem resultar de diferentes 
mecanismos que alteram a função do receptor. 
Além disso, novos mecanismos estão surgindo como importantes para a etiologia da 
obesidade, como o desenvolvimento hipotalâmico e alterações na plasticidade neuronal. Assim, 
as formas de obesidade monogênica caracterizadas atualmente podem ser vistas como sendo 
apenas “a ponta do iceberg”, trazendo pistas de que os mecanismos patológicos envolvidos na 
etiologia da obesidade comum sejam igualmente heterogêneos. 
O tratamento da deficiência congênita de leptina é um exemplo raro, porém poderoso, 
de sucesso terapêutico advindo da compreensão da patogênese molecular (Figura 6.1). São 
necessários mais estudos para compreender os mecanismos fisiopatológicos da obesidade para 
que sejam definidos tratamentos similarmente eficazes para outros defeitos genéticos. 
Ou seja, embora atualmente os pacientes não se beneficiem em saber a base genética 
de sua doença, as pesquisas que exploram as causas genéticas deste fenótipo devem continuar 
 
 
55 
sendo estimuladas, uma vez que é apenas pela elucidação dos mecanismos moleculares 
envolvidos na obesidade que se conseguirá abordar este problema de forma racional e efetiva. 
 
 OBESIDADE POLIGÊNICA 
 
O fenótipo obeso é um traço multifatorial estabelecido por um somatório dos efeitos 
genéticos e ambientais, sendo rara a obesidade monogênica. Diversos polimorfismos genéticos 
parecem estar associados à obesidade. 
Estudos sobre a obesidade poligênica baseiam-se na análise de polimorfismos de 
nucleotídeos únicos (SNPs) ou repetição de bases localizadas em um gene candidato ou 
próximas a ele. Os genes relacionados à obesidade comum, ou poligênica, estão envolvidos em 
uma ampla variedade de funções biológicas, como

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