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Aspectos microbiológicos das doenças periodontais - É tida como a segunda doença mais comum na prática clínica, ficando atrás apenas da cárie. - Alguns indivíduos apresentam certa proteção a uma doença e acabam tendo mais outra, por exemplo, características salivares podem proteger contra a cárie, caso ela apresente precipitação de cálcio maior. Entretanto, se essa precipitação de cálcio é maior, ocasiona mais cálculo, mais inflamação na gengiva e, consequentemente, mais doença periodontal. - A cárie é uma doença multifatorial, dependendo tanto do biofilme quanto da dieta, já na doença periodontal, basta o acúmulo de biofilme para se desenvolver (sendo consequência da falta de higiene). De modo que, alguns fatores podem agravar essa situação (por exemplo: diabéticos, grávidas, doença renal, adolescência/hormônios), pois estes contribuem para uma predisposição a inflamação mais severa, falha na cicatrização e resposta imunológica, podendo apresentar versões diferentes da doença. Doença periodontal = série de complexas e distintas entidades patológicas, causadas pela interação do biofilme dental bacteriano e hospedeiro, resultando em processo inflamatório e destruição dos elementos de suporte do dente. - Geralmente ela inicia pela inflamação no periodonto de proteção e, se não for tratada, resulta em uma periodontite que é no periodonto de sustentação. Periodonto - Definição: é o conjunto de tecidos integrados pela gengiva, osso alveolar, cemento e ligamento periodontal. Sua função é proteger e manter o órgão dental. A gengiva constitui o periodonto de proteção e, as outras estruturas, o periodonto de sustentação É dividido em: 1. Periodonto de proteção: composta pela gengiva marginal livre, papilar, inserida pela união mucogengival e mucosa alveolar (parte visível). A gengivite está relacionada a essa subdivisão. 2. Periodonto de sustentação: ligamento periodontal, osso alveolar e cemento radicular (parte não visível). A periodontite está relacionada a essa subdivisão. - Sua característica mais marcante é a destruição das fibras colágenas, que acarreta o afrouxamento dos feixes transeptais e circulares e a redução do tono da gengiva, favorecendo a formação da bolsa periodontal. As reabsorções ósseas e do cemento acarretam a perda de inserção das fibras colágenas, resultando no aumento gradativo da mobilidade dos dentes afetados, situação decisivamente complicada pela redução da biossíntese de colágeno e consequente impedimento da reparação tecidual. - As fases iniciais da doença parecem estar associadas com a atividade de metabólitos tóxicos (enzimas e toxinas) da placa bacteriana sobre as células e a substância intercelular do epitélio do sulco gengival, que não é queratinizado. O aumento da população de espécies patogênicas resulta em maior elaboração de produtos tóxicos que induzem ao incremento das respostas inflamatória (inespecífica) e imunológica (específica), que geram vários fatores (mediadores pró- inflamatórios) que contribuem decisivamente para a destruição progressiva e dramática que ocorre nos estágios avançados da doença. Periodonto saudável: - Placa esparsa (biofilme); ausência de sangramento à sondagem; profundidade de sondagem de 1 a 3 mm (com exceção apenas dos dentes que estão erupcionando, em que a profundidade chega até 7 mm). Gengiva saudável: - Coloração rosa a rosa pálida; pontilhada (casca de laranja); gengiva marginal com terminação biselada sobre a superfície dentária. Ecossistema periodontal: - Diferente de todas as regiões da boca! - Nem toda periodontite começa a partir de uma gengivite. Mas no caso da periodontite crônica sim! Primeiro teve a gengivite, com a inflamação do periodonto de proteção, não tratou e evoluiu, atingindo o periodonto de sustentação e ocasionando a periodontite. Microbiologia oral - Influenciado pelo fluído gengival (é como se fosse o componente sanguíneo da região subgengival, responsável por levar os nutrientes provenientes do sangue, incluindo as células de defesa. Em sus nível normal o periodonto é saudável, entretanto, caso exceda esse nível, conduz para o ambiente periodontal um aumento considerável de nutrientes essenciais para o desenvolvimento de vários patógenos). - Conta com bactérias caracterizadas por metabolismo predominantemente proteolítico (destroem tecidos); em sua maioria gram-negativa (patogênicas) e anaeróbias obrigatórias; - Essas bactérias são favorecidas por nutrientes sanguíneos (provenientes do fluído gengival) e produtos elaborados por outros constituintes do biofilme. Periodonto saudável - Os Gram-negativos representam aproximadamente 15% da microbiota cultivável e incluem espécies de Fusobacterium, Veillonella e Prevotella.; - Os anaeróbios estritos perfazem 25%, dos quais os bacilos móveis aparecem na proporção média de 4% e os espiroquetas representam apenas 2%. Doença periodontal - Pode ser considerada como um desequilíbrio entre fatores de virulência dos microrganismos e os mecanismos de defesa do hospedeiro; - Resulta das ações diretas e indiretas da microbiota do biofilme dental; - Desequilíbrios: 1. Acúmulo de biofilme (emaranhado de bactérias na placa faz aumentar consideravelmente a atividade metabólica desta; com isto, aumenta expressivamente a quantidade de metabólitos bacterianos tóxicos para os tecidos periodontais, que levam a uma reação inflamatória na gengiva que está no local). 2. A consequência lógica é o aumento da intensidade da resposta inflamatória, que resulta em maior concentração de fluido gengival e maior suprimento de nutrientes como resposta do nosso corpo para tentar combater essa agressão. Entretanto, ao aumentar esse fluído, favorece o desenvolvimento de bactérias proteolíticas, muitas delas Gram-negativas e patogênicas, uma vez que, elas se alimentam de nutrientes que provém do sangue. 3. Essas bactérias gram-negativas apresentam mais fatores de virulência, dentre eles, o mecanismo contra os agentes de defesa, ou seja, apresentam toxinas para destruir essas células de defesa e ainda têm capacidade de se esconder destas, o que dificulta sua destruição. 4. O aumento ao invés de combater a inflamação, disponibiliza nutrientes para as bactérias gram-negativas, que aumentam de número e são patogênicas, e diminuem as gram-positivas. Gengivite Consiste na inflamação da gengiva marginal - Aumento da quantidade total de placa; - Evidência de inflamação, edema, sangramento induzido ou espontâneo; - Não há perda de inserção; - É reversível. - Combatida com remoção da placa, seguida por profilaxia e orientações para melhor higiene oral. - O aumento do número de bactérias faz aumentar a resposta inflamatória defensiva, resultando em maior fluxo de fluido gengival, que favorece o desenvolvimento de várias espécies, com ênfase para as patogênicas anaeróbias proteolíticas, a maioria Gram- negativa. Por isso, nos casos de gengivite, ocorre decréscimo de 85% para cerca de 55% da proporção inicial de Gram-positivos (Streptococcus, Actinomyces, Peptostreptococcus) e considerável aumento da proporção de gram-negativos, de 15% para em torno de 45%. Essa quase equivalência numérica também ocorre em relação ao comportamento respiratório das bactérias, visto que a porcentagem de facultativas reduz de 75% para 55 a 60% e a frequência de anaeróbios obrigatórios aumenta de 25% para 40 a 50%. A proporção de bacilos móveis e treponemas aumenta sensivelmente, para ordens de 16 e 21%, respectivamente. IMPORTANTE: - Na passagem de periodonto normal para gengivite ocorre uma primeira sucessão bacteriana.. Nesse ambiente inicial tinha muita bactéria que usava oxigênio, a quantidade dessas bactérias cresceu muito, o que provoca diminuição na quantidade de oxigênio e favorece o aumento de bactérias que não utilizam oxigênio. É uma sucessão autogênica!- Ou seja, ocorrem duas sucessões microbianas, uma de gram-positivas para gram-negativas e outra de facultativa para obrigatória. - >% Actinomyces; - <% Streptococcus; - Anaeróbios estritos 45%; (Prevotella; Fusobacterium; Peptococcus; Peptostretococcus) Periodontite - Inflamação dos tecidos periodontais com perda de inserção clínica, destruição do ligamento periodontal e reabsorção do osso alveolar; - O aumento gradativo da profundidade da bolsa periodontal fornece maior campo para a instalação de bactérias, principalmente das anaeróbias estritas, que são privilegiadas pela acentuada redução do teor de oxigênio. Por outro lado, a presença de maiores quantidades de fluido gengival determina aumento da afluência de fatores nutritivos para as bactérias proteolíticas, em detrimento das dependentes de carboidratos.; - Perda de inserção clinica (absorção de osso alveolar); - Na doença periodontal o grau de destruição óssea é variável, pois não são apenas as bactérias que causam destruição naquele local, mas também o nosso próprio sistema de defesa, que, ao tentar combater a inflamação, provoca a reabsorção óssea. - Classificação de 1999: dividida em periodontite crônica e agressiva. PERIODONTITE CRÔNICA - Aumento da profundidade de sondagem; - Perda de inserção clínica, reabsorção do osso alveolar; - Acúmulo da placa dental e cálculo; - Sinais clínicos de inflamação, sangramento à sondagem e supuração; - Maioria das bactérias gram-negativos (75%) e anaeróbios estritas (90%); (No periodonto saudável eram apenas 15% e 25%, respectivamente. Esse aumento caracteriza uma sucessão microbiana de gengivite para periodontite) - Treponemas passam a constituir cerca de 30% (na gengivite era apenas 20%) da microbiota associada com a periodontite crônica; - 75% de bactérias gram-negativos com mobilidade; - Microrganismos patogênicos primários: Porphyromonas gingivalis, Provotrlla intermedia e A actinomycetemcomitans. - Presença de espiroquetas e bastonetes móveis. - 20x mais espiroquetas que na saúde; - 90% anaeróbios estritas; SUCESSÕES QUE OCORREM Na passagem de periodonto normal para gengivite ocorre uma primeira sucessão bacteriana e, na passagem de gengivite para periodontite crônica, ocorre uma segunda sucessão, desta vez mais drástica. - Na passagem de gengivite para periodontite crônica, ocorre outra sucessão, desta vez mais drástica. (Favorecimento do desenvolvimento de bactérias proteolíticas no biofilme dental como função da resposta da inflamatória e de fluxo do exsudato gengival). (Favorecimento do desenvolvimento de bactérias anaeróbias estritas na placa, decorrente do grande consumo de oxigênio pelas facultativas). Microbiologia das doenças periodontais - Os complexos amarelo, azul, verde e violeta são constituídos por grupamentos (clusters) de bactérias que têm a capacidade de aderir à superfície dental, constituindo a base da pirâmide do biofilme: são os colonizadores iniciais da superfície dental e não se relacionam com a doença, sendo muitos deles considerados até como benéficos; espécies de Streptococcus constituem 47 a 82% dos colonizadores pioneiros. No complexo amarelo estão S. mitis, S. sanguinis, S. gordonii e S. oralis. No azul estão vá- rias espécies de Actinomyces. O violeta engloba Veillonella parvula e Actinomyces odontolyticus. O complexo verde compreende Capnocytophaga ochraceae, C. sputigena, C. gingivalis e o sorotipo “a” de A. actinomycetemcomitan. - Esses complexos basais fornecem receptores e criam condições ecológicas para a implantação das bactérias do complexo laranja (Streptococcus constellatus, Campylobacter rectus, C. showae, C. gracilis, Prevotella intermedia, P. nigrescens, Peptostreptococcus micros, Fusobacterium nucleatum e F. periodonticum), implicadas com a patogênese das doenças periodontais. O complexo laranja precede e cria condições para a implantação do complexo vermelho (ápice da pirâmide); esteb aglomerado é formado pelas espécies Bacteroides forsythus, Porphyromonas gingivalis e Treponema denticola, aceitas como agentes etiológicos da periodontite crônica, relacionados com o aumento de profundidade de bolsa e com a presença de sangramento à sondagem.. Microrganismos associados - O World Workshop of Periodontology reconheceu as seguintes associações entre microrganismos e doença periodontal: 1. Associação muito forte: Actinobacillus actinomycetemcomitans e Porphyromonas gingivalis 2. Forte: Bacteroides forsythus, Prevotella intermedia, Eubacterium nodatum, Treponema denticola; 3. Moderada: Streptococcus intermedius, Prevotella nigrescens, Fusobacterium nucleatum, Peptostreptococcus micros e Campylobacter rectus. Outros Gengiv ite ulcerativa necrosante (GUN) e Periodontite ulcerativa necrosante (PUN) - As principais bactérias comprovadamente envolvidas na GUN são: gêneros Fusobacterium, Treponema e Selenomonas e as espécies Prevotella intermedia e P. nigrescens. - Considerando-se a peridontite ulcerativa necrosante (PUN). Os principais micro-organismos correlacionados são: Fusobacterium nucleatun, Treponema spp., Prevotella intemedia, Selenomonas spp., Porphyromonas gingivalis e Candida albicans Caracterização dos patógenos - Para ser reconhecido como periodontopatogênicos, o microrganismo deve apresentar os seguintes fatores: 1. Associação com sítios de destruição ativa; - O MO deve ocorrer nos sítios ativos de doença, mais frequentemente e em número muito maior do que nos sítios sadios ou nos inativos. A progressão da doença também varia e nem todos os sítios estão em atividade, ou seja, estão sofrendo destruição num dado momento. É difícil também distinguir entre os patógenos verdadeiros e os microrganismos meramente oportunistas. 2. Eliminação; - A erradicação do(s) patógeno (s) por medidas terapêuticas deve ser acompanhada de cura ou remissão da doença (relação causa × efeito). 3. Resposta imunitária correspondente; - O hospedeiro produz resposta específica contra o agente e seus produtos; assim, deve-se prever aumento do título de anticorpos séricos específicos para patógenos periodontais. 4. Elaboração de fatores de virulência. - os microrganismos periodontopatogênicos devem exibir fatores demonstráveis de virulência que possibilitem sua colonização do hospedeiro, a resistência às defesas locais do hospedeiro e a destruição tecidual de maneira direta ou indireta. Fatores de virulência das bactérias periodontopatogênicas - Fatores de virulência são propriedades que permitem que uma espécie microbiana colonize um tecido-alvo, sobrepuje as defesas do hospedeiro e cause dano para esse tecido. 1. Fatores de colonização; - A colonização num sítio apropriado é essencial para a sobrevivência da bactéria e para sua máxima atividade biológica. A aderência aos tecidos do hospedeiro e/ou a outros microrganismos residentes é o primeiro passo para a colonização e consequente patogenicidade. No caso do ambiente periodontal, se a bactéria não ficar firmemente ligada à superfície do dente ou do epitélio, ela será removida principalmente pelo fluxo de fluido gengival. A colonização dos tecidos do hospedeiro é função de uma variedade de fatores de virulência que incluem fímbrias, ácido lipoteicóico, lipopolissacarídios, exopolissacarídios, proteínas da membrana externa e vesículas de membrana externa. 2. Locomoção e invasão tecidual; - Embora a grande maioria das bactérias consideradas periodontopatogênicas como P. gingivalis, B. forsythus e A. actinomycetemcomitans sejam imóveis, a capacidade de locomoção pode ser considerada um importante fator de invasão tecidual para organismos como Treponema spp. A capacidade de se mover em ambientes com alta viscosidade permite que essas bactérias migrem pelo fluido gengival e penetrem a barreira epitelial, atingindoo tecido conjuntivo gengival. 3. Produção de moléculas com ação antibacteriana; - São substâncias que vão dar, ao patógeno, vantagens competitivas em relação aos microrganismos comensais. Estas moléculas incluem bacteriocinas e produtos finais do metabolismo como ácidos orgânicos, álcoois, bases inorgânicas, compostos sulfurados, amônia etc 4. Produção de enzimas histolíticas; 5. Produtos metabólitos tóxicos; - Muitos dos fatores de virulência das bactérias são exotoxinas (proteínas) exportadas do citoplasma para a superfície bacteriana. Essa toxina é uma substância solúvel que altera o metabolismo normal das células-alvo, com efeitos nocivos para o hospedeiro, sendo importantes fatores de virulência em muitas bactérias patogênicas Essas toxinas podem ter atividade direta sobre as células do hospedeiro causando destruição tecidual, ou agir sobre mecanismos de defesa do hospedeiro. 6. Fatores de evasão das defesas do hospedeiro. - A bactéria que dispõe de mecanismos de resistência às defesas do hospedeiro tem maiores possibilidades de exercer sua patogenicidade. As bactérias periodontopatogênicas apresentam os seguintes recursos para tal: produção de fibrinolisina; localização intracelular; inibição de leucócitos morfonucleares; produção de proteases capazes de clivar moléculas de imuneglobulinas, proteínas bactericidas e proteínas envolvidas na fagocitose como fatores relacionados à fixação do complemento e coagulação; Produção de fatores de depressão ou supressão imunológica. Mecanismos bacterianos diretos e indiretos de reabsorção óssea - Diferentes mecanismos pelos quais as bactérias do biofilme dental, principalmente as patogênicas, provocam ou induzem indiretamente esse fenômeno, com base nas observações de Hausmann (1974). - Mecanismo A — no biofilme dental, existem alguns componentes de superfície e diversos metabolitos bacterianos capazes de induzir diretamente à diferenciação de células ósseas progenitoras em osteoclastos. - Mecanismo B — essas substâncias também têm a capacidade de promover diretamente a reabsorção óssea ou contribuir para sua ocorrência ou impedir o reparo ósseo. - Mecanismo C — vários produtos bacterianos ainda são capazes de ativar células do periodonto inflamado para a produção e secreção de mediadores implicados na destruição do osso, como a colagenase endógena, prostaglandinas, a interleucina-1 α e β e as linfocinas. - Mecanismo D — esses mediadores endógenos, à semelhança dos produtos bacterianos, também podem estimular a diferenciação de osteoclastos. - Mecanismo E — as substâncias endógenas e complexos imunitários (Ag+AC+C), assim como os produtos bacterianos, podem ter atuação deletéria direta sobre o osso. - Mecanismo F — mastócitos e basófilos estimulados pelos produtos bacterianos são desgranuladas no processo inflamatório e liberam heparina, considerada um cofator de reabsorção óssea porque potencializa a ação dos fatores diretamente efetivos.
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