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1 DOENÇA PERIODONTAL • Uma série de entidades patológicas complexas e distintas que acometem o periodonto (gengiva, osso alveolar, cemento e ligamento periodontal), causadas pela interação do biofilme dentário subgengival e o hospedeiro. Essas interações podem resultar em destruição do tecido conjuntivo (gengivite) e reabsorção do osso alveolar de suporte (periodontite). • Região entre a gengiva e o dente, há o sulco gengival, área crítica para o desenvolvimento de doença periodontal. O sulco gengival é revestido pelo epitélio juncional (+ fino e permeável, facilitando a passagem de microrganismos para o tecido conjuntivo subjacente). • Epitélio juncional: - Altamente permeável, permite a migração de neutrófilos/células do sistema imune do tecido conjuntivo para essa região, para combater a inflamação. Porém, elas não conseguem sucesso por ter o biofilme subgengival. - Espaços extracelulares são maiores, promovendo uma maior difusão, tendo maior permeabilidade para substâncias. - Possuem menos desmossomos (unem células epiteliais), tendo maior facilidade de permeabilidade de substâncias. OBS: para saber se os tecidos periodontais estão normalizados, faz-se uma sondagem com uma sonda milimetrada inserida na região do sulco gengival. Até 3mm sem sangramento (saúde periodontal). Na periodontite (há reabsorção óssea, na gengivite não tem), há migração da gengiva que geralmente acompanha a reabsorção óssea, principalmente se o quadro for crônico, isto é, sem progressão muito rápida. Os dentes acabam com aspecto de leque. OBS: Presença de cálculo (biofilme mineralizado), não é o agente etiológico da doença periodontal, ele é inerte, não tem vida, porém ele agrava a doença, pois devido a sua rugosidade e irregularidade 2 permite uma adesão muito forte do biofilme nessa estrutura, causando o caso mais grave, já o fluido gengival não consegue remover as bactérias do biofilme.Só é possível reestabelecer a saúde do tecido, quando remove o cálculo. Na periodontite, o sulco gengival passa a ser chamado de bolsa periodontal a partir do momento que não tem mais saúde, tem perda de inserção. E a sonda penetra mais de 3mm na bolsa periodontal. SAÚDE x DOENÇA PERIODONTAL • O sulco gengival se torna bolsa periodontal; • O Eh cai para níveis cada vez mais negativos com o aumento da profundidade (quanto mais profundo, mais negativo, menos oxigênio); • A quantidade de fluido gengival dobra na periodontite, porque há um processo inflamatório que gera a vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular, o que gera aumento do fluído que sai desse tecido; • O aumento do fluido, aumenta o fornecimento de proteínas, substrato para o metabolismo bacteriano do biofilme subgengival; • pH alcalino; • Temperatura mais elevada, o que favorece o crescimento e o desenvolvimento dos periodonto-patógenos. CARACTERÍSTICAS DAS INFECÇÕES PERIODONTAIS • Usualmente anaeróbia estrita, infecção mista e endógena (os microrganismos que causam a doença periodontal estão presentes na saúde); • Causada pelo desequilíbrio entre os fatores de virulência dos microrganismos e os mecanismos de defesa do hospedeiro, uma vez que os microrganismos começam a se multiplicar, resultando em um processo inflamatório. • O biofilme subgengival (bactérias patógenas) agride o tecido (antígenos, LPS – gram -) e o tecido responde com anticorpos e neutrófilos (componentes imunológicos) gerando uma resposta imune inflamatória que altera todo o metabolismo do tecido conjuntivo e do osso alveolar (geralmente os maiores danos deles são pela ação do próprio sistema imune), gerando o quadro de doença. Isso tudo sofre influência do ambiente, fatores genéticos, adquiridos e de risco. O biofilme sozinho, não é suficiente, precisa de outros fatores. É indivíduo-dependente. FATORES DE RISCO E MODIFICADORES • Osteoporose: maior reabsorção que deposição óssea. Como na periodontite tem reabsorção óssea, a pessoa com osteoporose vai ter maior perda óssea; • Tabagismo: o ato de fumar, reduz a Eh, melhor multiplicação dos anaeróbios 3 estritos,ele deprime ou suprime (caso mais intenso) o sistema imune; • Diabetes: alterações no metabolismo tecidual. O paciente com diabetes não controlada pode ter o desenvolvimento da doença periodontal, uma vez que a diabetes altera respostas do metabolismo tecidual do hospedeiro, havendo a formação de um colágeno defeituoso, sendo mais fácil de ser destruído; Obs: a doença periodontal pode atrapalhar nos níveis glicêmicos, tendo dificuldade da entrada de insulina. A inflamação da gengiva também dificulta a absorção de insulina, podendo causar uma descompensação glicêmica nos portadores de diabetes. • Alterações genéticas/neutrófilas: muito vista na periodontite de desenvolvimento rápida, a de grau C/ agressiva com reabsorção óssea muito rápida; • Imunodeficiências: HIV,etc. CARACTERÍSTICAS MICROBIANAS • São bactérias gram negativas, proteolíticas e anaeróbias estritas. (POLIMICROBIANA) • Fatores de virulência: - Precisa conseguir ficar retida no sítio da infecção, ambiente subgengival; - Ter mecanismo para destruir tecido duro e mole do hospedeiro; - Bactérias com potencial para evadir do sistema de defesa do hospedeiro. MICRORGANISMOS ASSOCIADOS COM DOENÇAS PERIODONTAIS ESPECÍFICAS • Gengiva clinicamente saudável: - Streptococcus compreendem cerca de 50%; - Actinomyces viscosus e Actinomyces naeslundii (colonizam raiz); - Veillonella parvula. • Gengivite: - Causada pelo acúmulo de biofilme, acomete o periodonto de proteção – gengiva, é reversível; - Existem gengivites causadas por medicamentos ou gravídica (causada pelas alterações hormonais); - Streptococcus compreendem cerca de 30%; - Actinomyces 25% (passa aumentar porque vai tendo uma mudança do ambiente aeróbio para anaeróbio); - Bastonetes anaeróbios gram negativos 25%; 4 - Espiroquetas (característico em estado de doença, os outros estão presentes tanto em saúde quanto em doença), 2% no sulco gengival. - Não se tem reabsorção óssea. • Periodontite agressiva (GRAU C): - Geralmente associada a um fator genético por alteração neutrófila; - De progressão rápida, inicia-se no início da puberdade, pois os hormônios servem de fator de crescimento para os periodonto- patógenos. Com isso, o mínimo de biofilme, causa uma reabsorção óssea rápida. - Sinais clínicos incompatíveis com a destruição. Reabsorção angular. - Aggregatibacter actinomycetencomitans (Aa) é quase 90% da microbiota cultivável; - Porphyromonas gingivalis, Campylobacter rectus e Tannerella forsythia. - Comum em meninas no início de da puberdade, os hormônios esteroides como estrogênio, progesterona e testosterona servem como fatores de crescimento para os patógenos. • Periodontite Grau A/Grau B (crônica) : - A diferença é na velocidade de progressão da doença, a A não é muito veloz, a B já é mais veloz. Como é crônica desenvolve-se em anos. - Dentes em leque; - Gengiva rósea em fumantes porque o fumo induz a vasoconstricção, compromete a defesa imunológica; • Periodontite necrosante (ceratite necrosante) : 5 - Necrose tecidual com uma película acizentada, odor fétido; - Pacientes imunodeprimidos geralmente ocorrem bastante. Ou quando a depressão imunológica é induzida , por exemplo pelo estresse. - Prevotella intermedia (PI), muitas espiroquetas e Fusobacterium sp. - vermelhos : mais associados a participação no desenvolvimento da doença periodontal.Não aparece o Aa porque ele pegou pacientes com periodontite crônica, o Aa participa, mas nãoé protagonista desse processo. - vermelho – laranja – verde. - Os microrganismos estão presentes tanto na saúde como na doença com exceção da Treponema denticola (espiroqueta). O complexo vermelho no estado de saúde (2%) passou a ser no estado de doença ( 7%). E o complexo azul (representa saúde ) diminui na doença. IMPLICAÇÃO DO MICRORG. NA ETIOLOGIA DA DOENÇA PERIODONTAL • Sabe-se que o microrganismo está presente na doença, quando ele está em maior quantidade na doença e com diminuição/ausência (espiroquetas) na saúde. • Aumento proporcional em bolsa profunda quando comparada a bolsa rasa. • Capacidade de estimular a resposta imune, com o aumento de anticorpos específicos na saliva, fluido sucular e soro. • Tem que ter virulência ( capacidade de causar doença) in vitro (laboratório) e in vivo (organismo vivo). • Pode ter cápsula, que dificulta na fagocitose. PRINCIPAIS PERIODONTOPATÓGENOS • Aggreagatibacter actinomycetemcomitans (Aa): - colônia tipo estrela; - bastonete gram negativo, anaeróbio facultativo (microaerofilo) diferente dos outros que são anaeróbios; - não móvel (sem flagelos) ; - sacarolítico; - relacionada a periodontite grau C. 6 • Porphyromonas gingivalis (Pg) : -relacionado a periodontite grau A e B; - bastonete gram negativo, anaeróbio; - não móvel; - assacarolítico/proteolítico - bacteróides – produtores de pigmentos negros. • Prevotella intermedia: - bastonete gram negativo, anaeróbio; - não-móvel; - assacarolítico/proteolítico; - relacionada a periodontite necrosante; - bacteroide de pigmento negro. • Fusobacterium nucleatum: - bastonete fusiforme, gram negativo, anaeróbio,proteolítico; - importante na co-agregação de outras bactérias gram negativas,melhorando a sobrevivência destas; - aderência a diversos tipos celulares ( ex: epiteliais, fibroblastos,neutrófilos). • Treponema denticola: - espiroquetas móveis ( movimento saca rolha com penetração tecidual), gram negativos e anaeróbios; - aumento do número com a profundidade da bolsa; - associada a periodontites necrosantes. FATORES DE VIRULÊNCIA DOS PERIODONTOPATÓGENOS • O que as bactérias possuem ou fazem para agredir os tecidos; • Aderência dos microrganismos ao ambiente periodontal: + aderir a região do sulco gengival que vira uma bolsa periodontal. Invade o epitélio, podendo chegar no conjuntivo até a crista óssea; + adere ao dente, ao epitélio, ou fica co- agregado com a ajuda do Fusobacterium nucleatum. + P. gingivalis : fímbrias que se ligam na estrutura dentária,células epiteliais e fibroblastos. + A co-agregação entre o S. sanguis e o A. viscosus é de importância primária na colonização do ambiente periodontal. • Invasão ao tecido do hospedeiro: + bactérias gram negativas e positivas, incluindo cocos,bastonetes,filamentos e espiroquetas já foram observados no tecido conjuntivo gengival e nas proximidades do osso alveolar. Por conta da penetração por ulcerações ou penetração direta através de recursos próprios das bactérias; + A.a , P. gingivalis, F.nucleatum e Treponema denticola mostraram em 7 estudos a capacidade de penetração direta por recursos próprios. + importância da penetração: 1- Quando uma bactéria consegue invadir o tecido, pode servir como reservatório para recolonização da bolsa periodontal,fazendo uma invasão mais profunda; 2- As cepas patogênicas estavam associadas a capacidade de invasão tecidual; 3- As bactérias ao invadir podem liberar moléculas e enzimas tóxicas diretamente ás células teciduais. • Evasão bacteriana aos mecanismos de defesa do hospedeiro: + produção de proteases: são degradantes de imunoglobulinas e proteínas do sistema complemento e citocinas (imunossupressão); + o A.a produz uma leucotoxina que lisa neutrófilos,macrófagos,linfócitos e monócitos, induzindo a imunosupressão; + inibição da produção de IL-8 pela P.gingivalis, interleucina resposável pelo recrutamento e extravasamento leucocitário para o local da infecção; • Mecanismos microbianos de lesão do tecido do hospedeiro: + produtos bacterianos alteram o metabolismo das células teciduais do hospedeiro como : indol,amônia,compostos sulfurados voláteis (responsáveis pela halitose) e ácidos graxos; + produção de enzimas: as enzimas produzidas pelos periodontopatogênicos parecem degradar essencialmente todo os tecidos do hospedeiro e moléculas da matriz intercelular: Ex: colagenase,enzimas semelhantes a tripsina,fosfolipase A e enzima degradante de fibronectina • Aspectos imunológicos da interação microrganismos- hospedeiro: o sistema imunológico tem como função utilizar de recursos para evitar que a infecção local se torne sistêmica e ofereça risco á vida,incluindo o sacrifício dos tecidos locais. Na tentativa de eliminar bactérias locais, o sistema imune destrói todo aquele tecido para que as bactérias não caiam na corrente sanguínea e causem uma infecção sistêmica. - O microrganismo entra no tecido e é reconhecido pelo macrófago,ele libera citocinas pró-inflamatórias que induzem alterações endoteliais, como: IL-1, IL-6,IL-8,IL-12,TNF. 1- IL-1 e TNF: - estimulam a produção de proteases como a colagenase ( o próprio sistema imune produz uma enzima que destrói o colágeno); - estimulam a produção de PGE2 (prostaglandina – mediador inflamatório); - ativação de osteoclastos,estimula a reabsorção óssea; 8 - saída ; de células do vaso para os tecidos; - inibem a formação óssea ( inibindo a ativação dos osteoblastos). 2- Prostaglandinas: vasodilatação, recrutamento de células inflamatórias, produção de colagenase e ativação de osteoclastos. Obs: O sistema imune fica descompensado e acaba destruindo o tecido porque ele quer combater algo que por si só ele não consegue, precisa do auxílio do dentista para fazer a retirada do biofilme. O sistema imune acaba destruindo mais que a própria ação bacteriana. - diagnóstico: necessita de conhecimento clínico,microbiológico, dos mecanismos do hospedeiro e o uso do raio-X para ver o nível de reabsorção óssea.
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