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Farmacologia dos antibacterianos Os antimicrobianos podem ser utilizados no tratamento e na prevenção de doenças infecciosas, tendo como classes antibacterianos, antifúngicos, antivirais e antiparasitários. De modo geral, o fármaco se liga em receptores essenciais para processos bioquímicos e fisiológicos de sobrevivência dos micróbios. Eles devem manifestar toxicidade seletiva para os patógenos, sem influenciar nas células do hospedeiro. Esses fármacos podem ser classificados conforme o seu alvo farmacêutico, como por ação na estrutura da parede celular, no metabolismo do folato, na síntese de proteínas, em enzimas para produção de estruturas do DNA ou do RNA, entre outros. O antibacteriano será administrado e submetido aos processos farmacocinéticos de absorção, distribuição, metabolismo e excreção. Para que seja eficaz ele precisa atingir o local da infecção em uma concentração superior à concentração inibitória mínima do patógeno. Assim, o resultado da ação do fármaco pode ser bacteriostático que inibe o crescimento ou bactericida que promove a morte dos microrganismos. De modo geral, esse fármaco pode ser utilizado como profilático, preventivo, empírico, definitivo ou supressor, tendo como objetivos principais a redução da morbimortalidade e a promoção de uma melhora clínica. Um tratamento profilático trata pacientes sem a infecção ou a doença, com intuito de impedir a contaminação ou o desenvolvimento de complicações em indivíduos já infectados. O tratamento preventivo é aquele dirigido a pacientes de alto risco que já tenham indícios laboratoriais, devendo ser administrado antes do desenvolvimento de sinais e sintomas, devendo ter duração curta e pré-definida. A terapia antibacteriana empírica é iniciada antes do conhecimento do patógeno específico ou de sua sensibilidade ao fármaco, sendo baseada na experiência do prescritor. Ela deve ser iniciada em casos de infecção for grave, dificuldade de obtenção de diagnóstico clínico confiável ou ineficiência de testes de eficácia microbiológica. Antes do início da terapia empírica deve-se ponderar se há consequências em não tratar o paciente, como riscos de morbidade ou mortalidade, além de potenciais agravos para a saúde pública. Se a decisão for de empregar a terapia, o antimicrobiano deve ser escolhido com base na listagem de possíveis patógenos causadores da infecção e em sinais clínicos mesmo sem indícios microbiológicos. Além disso, para escolha do antimicrobiano devem ser considerados fatores do microrganismo, do paciente e do fármaco, a fim de escolher aquele medicamento com mais sensibilidade e menos efeitos colaterais. Fatores para escolha do antibacteriano Fatores do paciente Comorbidades Prejuízo de função hepática ou renal Sinais e sintomas Gravidez Lactação Fatores do fármaco Custo Toxicidade Resistência Penetração tecidual Fatores do patógeno Características do micróbio MIC MBC Depois do conhecimento do patógeno a terapia empírica pode ser mantida, interrompida ou substituída por um fármaco mais eficaz, com base em testes de sensibilidade da bactéria por determinação da concentração inibitória mínima (MIC) ou pela concentração bactericida mínima (MBC). Assim, o tratamento definitivo é direcionado para um patógeno pré-determinado, devendo ter baixa toxicidade, evitar resistência e acelerar a atividade microbicida para ter um tratamento com a menor duração possível. A MIC é a concentração mínima do fármaco para que ele tenha efeito bacteriostático e impeça a proliferação de determinada cepa bacteriana. Ela pode ser determinada por teste de diluição em meio líquido de cultura ou teste de diluição em placas de ágar, mas o resultado geralmente é obtido com utilização do teste de difusão em ágar (Kirby- Bauer). Durante esse teste a bactéria é inoculada em uma placa de ágar e são introduzidos ‘discos’ de antibióticos que se difundem e formam um halo de inibição, determinando a sensibilidade ou a resistência da bactéria ao fármaco. A MIC é a mínima concentração de antibacteriano que im- pede a transformação de uma suspensão límpida com 105 UFC/mL em turva, sendo importante para mensurar a po- tência do antibacteriano. As drogas bactericidas terão MIC=MBC ou MBC até quatro vezes maior que a MIC, enquanto que as bacteriostáticas possuem MBC várias vezes maiores do que a MIC. Isso ocorre pelo fato de que, para que um fármaco bacteriostático ser bactericida ele precisa estar em uma concentração muito alta. O tratamento supressor é aquele mantido com doses mais baixas após o controle da doença inicial, tendo um objetivo de profilaxia secundária para evitar reinfecção e complicações. O desenvolvimento de mecanismos de resistência dos patógenos aos antimicrobianos pode acontecer como consequência de inúmeros fatores. As bactérias gram negativas possuem uma membrana externa que impede a entrada de moléculas polares grandes – as pequenas entram por aquaporinas. Assim, algumas mutações ou a inexistência desses canais pode impedir a penetrância do antibacteriano e promover uma resistência secundária ao acesso reduzido do fármaco ao patógeno. Além disso, os microrganismos podem expressar quantidades aumentadas de bombas de efluxo, essas que expulsam os antibióticos as quais seriam sensíveis normalmente. As bactérias também podem inativar os fármacos para gerar resistência, como por produzirem enzimas modificadoras dos aminoglicosídeos ou da betalactamases. A resistência também pode ser proporcionada pela formação de biofilmes, onde as bactérias se tornam menos ativas e menos vulneráveis aos antibióticos. Além disso, esse complexo de várias colônias protege os patógenos da fagocitose. Alguns microrganismos, além de criarem resistência ao antibiótico, podem também depender dele para sua proliferação, como enterococos resistentes à vancomicina. De modo geral, as mutações não são causadas pelo próprio antimicrobiano, mas são eventos aleatórios que conferem a possibilidade de sobrevivência mesmo com a presença do fármaco. Quando uma dose do fármaco é administrada, ele será absorvido e atingirá a circulação em uma circulação plasmática, idealmente, não tóxica. O antibacteriano será transportado em direção ao local de ação tecidual, onde ele deve atingir uma concentração eficaz para produzir um efeito microbiológico – bactericida ou bacteriostático. De modo geral, para que o fármaco seja sensível, a MIC deve ser inferior à concentração do antimicrobiano. Em uma curva concentração X tempo de um antibacteriano tem-se uma elevação crescente após a administração, atin- gindo um pico máximo de concentração do fármaco no sangue, sendo que depois essa curva decresce conforme metabolização e excreção pelo organismo. A área sob a curva é a quantidade total do fármaco no organismo em função do tempo, desde a administração até sua excreção, podendo medir sua biodisponibilidade. A partir do momento que a concentração sérica do fármaco é superior à MIC tem-se o início do efeito microbiológico, até que o fármaco seja removido do sangue ou tenha quantidades muito baixas. Em um fármaco administrado uma única vez (24/24h), sua concentração ultrapassa a MIC e atinge uma concentração máxima, essa que demora um tempo para diminuir conforme metabolização. Se esse fármaco for administrado em três tomadas diárias (8/8h), a área sob a curva será a mesma, mas a concentração máxima será menor. Todavia, o tempo total em que o fármaco permanece acima da MIC é maior do que se for administrado uma vez por dia. Desse modo, a eficácia dos antibacterianos vai depender do mecanismo de ação de cada um, de modo que a posologia será diferente. Assim, tem-se fármacos: Concentração-dependente: importa a concentração máxima no local da infecção, o que justifica o efeito pós antibiótico, tendo efeito terapêutico em concentrações inferiores à MIC. Como exemplos tem-se aminoglicosídeos,quinolonas, azitromicina, cetolídeos e vancomicina. Tempo-dependente: nesse caso a eficácia desses fármacos é dependente da quantidade tempo que sua concentração sérica permanece acima da MIC – deve exceder cerca de 40 a 50% do intervalo de dosagem – importando a frequência da administração. Como exemplo tem-se os beta-lactâmicos, os macrolídeos e a clindamicina. Beta-lactâmicos Os beta-lactâmicos são subdivididos em quatro subclasses, as cefalosporinas, os monobactâmicos, os carbapenêmicos e as penicilinas. Elas possuem algumas funções em comum, estrutura semelhante e o mesmo mecanismo de ação, principalmente pela presença do anel beta-lactâmico. O mecanismo de ação dessa classe de fármacos é pautado em um efeito bactericida por inibição da biossíntese da parede celular, já que eles podem interromper a formação da ligação cruzada do peptideoglicano e, consequentemente, sua formação. A N T IB A C T E R IA N O Bactericida MIC=MBC ou MBC até 4x > MIC Bacteriostático MBC >>> MIC De modo geral, o peptideoglicano é uma molécula produzida a partir da polimerização dos constituintes de açúcar, processo que culmina na formação de uma ligação que confere resistência para a parede celular bacteriana. O ácido N-acetilmurâmico tem cinco tipos de aminoácidos ligados a ele, sendo que os dois mais distais são moléculas de D- alanina. A ligação cruzada ocorre quando a ligação entre as duas alaninas é quebrada, de modo que a alanina mais distal será liberada e a mais proximal se ligará com a glicina de outro polímero, formando o peptideoglicano. Essa ligação ocorre por ação de uma transpeptidase, de modo que ela reconhece e se liga às moléculas de D- alanina, promovendo a quebra e liberação da molécula mais distal. O anel beta-lactâmico é um análogo da D-alanina, de modo que a enzima se liga a esse anel e fica impedida de promover a ligação cruzada do peptideoglicano, fato que culmina na morte da bactéria. Para esse efeito seja otimizado faz-se necessário que os patógenos estejam em fase de crescimento, período em que a parede celular é sintetizada. Para ser eficaz, o antibacteriano precisa ter acesso à transpeptidase no espaço periplasmático da bactéria, de modo que ele precisa entrar na célula. Assim, a entrada do fármaco em gram negativas é dificultada pela presença de membrana externa, enquanto que as gram positivas apresentam apenas uma ampla camada de peptideoglicano. Os fármacos hidrofílicos – como amoxicilina e ampicilina – podem atravessar a membrana externa com mais facilidade pela utilização das aquaporinas. As bactérias podem desenvolver formas de resistência contra os beta-lactâmicos por alteração das transpeptidases, de modo que essas novas enzimas possuem menos afinidade pelo fármaco. Além disso, elas podem promover a síntese de enzimas betalactamases, essas que degradam o anel beta- lactâmico. Como exemplo tem-se as carbapenemases, cafalosporinases e betalactamases de espectro estendido. 1) Penicilinas As penicilinas foram os primeiros antibióticos modernos descobertos, sendo beta-lactâmicos que apresentam um anel tiazolidina conectado a um anel beta-lactâmico. Mecanismo de ação: é o mesmo dos betalactâmicos, em que o fármaco se liga à transpeptidase e impede a formação do peptideoglicano que compõe a parede celular bacteriana. Farmacocinética: depois da absorção eles se distribuem por todo o corpo, alcançando concentrações terapêuticas rapidamente nos tecidos e nas secreções. Serão rapidamente eliminadas, por filtração glomerular e secreção tubular renal. Mecanismos de resistência: produção de transpeptidases mutadas e com baixa afinidade para o antibiótico, síntese de penicilinases que inativam o anel beta-lactâmico, barreiras físicas que impedem a entrada ou promovem a saída do fármaco das células bacterianas, entre outros. Efeitos adversos: podem ocorrer reações de hipersensibilidade, geralmente causada pela liberação de ácido peniciloico, com risco de anafilaxia, choque anafilático e doença do soro. Além disso, podem causar alterações na flora do trato gastrointestinal, como náuseas, vômitos, diarreia e até um quadro de enterocolite pseudomembranosa por uma superinfecção por Clostridium difficile. Elas podem ser divididas em três grupos: 1.1) Penicilinas clássicas São fármacos hidrofóbicos e possuem atividade principal contra bactérias gram positivas aeróbias com exceção dos Staphylococcus, apesar de também terem ação contra alguns cocos gram negativos – como a Neisseria – e anaeróbicos não produtores de betalactamase. Como exemplos tem-se penicilina G benzatina, penicilina G cristalina, penicilina G procaína e penicilina V. A penicilina G benzatina é administrada via intramuscular e possui uma meia vida longa de 14 a 21 dias, de modo que um nível sérico baixo por um longo período de tempo, não devendo ser usada em patologias agudas que precisem de uma ação rápida e uma grande concentração medicamentosa. Para isso, pode-se utilizar a penicilina G cristalina, que tem meia vida de cerca de 4 horas e boa distribuição aos tecidos. Além disso, consegue atravessas a barreira hematoencefálica e manter uma elevada concentração no líquor – podendo tratar neurossífilis. A penicilina G procaína é feita por injeções de 12/12h com função de anestésico local (vasoconstrição). A penicilina V possui meia vida de 60 minutos é mais resistente ao ácido, de modo que pode ser administrada por via oral, enquanto que a penicilina G deve ser feita via parenteral. Possuem poucos efeitos colaterais e podem ser indicados para gestantes. 1.2) Penicilinas antiestafilocócicas ou resistentes às penicilinases Possuem menor ação sobre os microrganismos sensíveis à penicilina G, são resistentes as enzimas betalactamases e possuem ação predominante em gram positivos por serem hidrofóbicas. Como exemplos de fármacos tem-se meticilina, nafcilina, cloxacilina e oxacilina. Os fármacos oxacilina e a cloxacilina são mais estáveis em meio ácido, podendo ser administrados por via oral ou parenteral, tendo meia vida de 30 a 60 minutos. Enquanto isso, a nafcilina deve ser feita via parenteral, já que possui absorção oral irregular. Podem causar efeitos adversos no trato gastrointestinal. Por serem hidrofóbicas podem tratar infecções de pele e tecidos moles. Por terem espectro de ação curto e muitos efeitos adversos, basicamente são utilizadas para infecções estafilocócicas. Para tratamento de infecções causadas por Staphylococcus resistentes à meticilina ou oxacilina – que produzem mutações nas transpeptidases – pode-se usar vancomicina. 1.3) Penicilinas de espectro ampliado Possuem eficácia contra microrganismos gram positivos e gram negativos, mas serão sensíveis às betalactamases. As aminopenicilinas, como a ampicilina e a amoxicilina, possuem maior difusão pelas aquaporinas, tendo espectro semelhante às penicilinas clássicas. Podem ser utilizadas para tratamento de infecções respiratórias e do trato urinário, febre tifoide e prevenção de endocardite. A amoxicilina é feita por administração via oral, não possui interação com alimentos e não costuma causar diarreia. Em contraposição, a ampicilina também pode ser feita via parenteral, interage com alimentos e pode causar diarreia. As carboxipenicilinas, como carbenicilina e ticarcilina possuem meia vida curta de cerca de 1h e são administradas por infusão. Apresentam cargas negativas na sua estrutura, essas que conferem mais resistência a algumas betalactamases. A piperacilina tem é uma ureidopenicilina feita por via parenteral e possui meia vida de 8h, geralmente associada com Tazobactam. Possui estrutura com carga negativa e positiva, tendo boa penetração em gram negativas e sendo mais potente. Podem ser usadas em pneumonias, infecções pós-queimaduras e do trato urinário. Existem alguns fármacos que consegue inibir as betalactamases, demodo que se pode associar as penicilinas sensíveis a essas enzimas a esses inibidores, como a utilização de amoxicilina com clavulanato ou ampicilina com sulbactam. 2) Cefalosporinas É uma classe de beta-lactâmicos bactericidas com meia-vida mais curta e com menos efeitos adversos. Possuem amplo espectro de ação, cobrindo bactérias gram positivas, gram negativas, anaeróbias e aeróbias. Mecanismo de ação: é o mesmo dos betalactâmicos, em que o fármaco se liga à transpeptidase e impede a formação do peptideoglicano que compõe a parede celular bacteriana. Farmacocinética: são excretados principalmente pelos rins; por isso, suas doses devem ser ajustadas para os pacientes com insuficiência renal. Várias cefalosporinas penetram no LCS em concentração suficiente para serem úteis no tratamento da meningite. As cefalosporinas também atravessam a placenta e são encontradas em altas concentrações nos líquidos sinovial e pericárdico. Mecanismos de resistência: produção de transpeptidases mutadas e com baixa afinidade para o antibiótico, síntese de cefalosporinases que inativam o anel beta-lactâmico, perda das aquaporinas, de modo que impedem a entrada do fármaco das células bacterianas. Efeitos adversos: reações de hipersensibilidade, reação do tipo dissulfiram like e redução da síntese de fatores da coagulação dependentes da vitamina K. Podem ser classificadas em gerações: 2.1) Cefalosporinas de 1º geração Como exemplos tem-se cefalexina, cefadroxila, cefazolina e cefalotina. A cefazolina deve ser administrada por via parenteral, enquanto que a cefalexina é feita por via oral. São mais ativos contra bactérias gram positivas, como Streptococcus e Staphylococcus comunitários. Não são eficazes para tratamento de infecções do SNC, já que não atravessam a barreira hematoencefálica. Poderão ser utilizadas em infecções de pele e tecidos moles e em casos de faringite estreptocócica. Irão atingir grandes concentrações no líquido amniótico. 2.2) Cefalosporinas de 2º geração Como exemplos tem-se cefuroxima, cefaclor e cefoxetina. Possuem uma melhor atividade contra anaeróbios e alguns gram negativos, como enterobactérias e H. influenza, mas são menos efetivas contra Streptococcus e Staphylococcus. Podem tratar infecções intrabdominais e do pé diabético, além de serem profiláticos em cirurgias e terem boa penetração no SNC. Serão fortes indutoras de betalactamases, devendo evitar monoterapia. 2.3) Cefalosporinas de 3º geração Como exemplos tem-se ceftriaxona, cefotaxima e ceftazidima. São mais eficazes contra gram negativos e algumas betalactamases, tendo boa ação em quadros de meningite por ter alta penetração no SNC e agir contra patógenos como S. pneumoniae, H. influenzae e N. meningitidis. Serão importantes no tratamento de infecções graves causadas por Proteus, Klebsiella, Enterobacter, Providencia, Serratia e Haemophilus. A ceftriaxona pode ser utilizada para gonorreia, meningite meningocócica e doença de Lyme. 2.4) Cefalosporina de 4º geração Como exemplo a cefepima, com boa penetração no SNC. Possui espectro ampliado para gram negativo e positivo, além de ser resistente às betalactamases. Pode ser utilizada como tratamento empírico de infecções hospitalares, tendo espectro que atinge Streptococcus (sejam sensíveis ou resistentes), Staphylococcus aureus, Haemophilus, Pseudomonas, Neisseria e enterobactérias (incluindo o grupo PESC –Providencia, Proteus, Enterobacter, Serratia e Citrobacter). Pode ter convulsões como efeito colateral. 3) Monobactâmicos O único disponível é o Aztreonam, tendo ação contra bactérias gram negativas como enterobactérias, P. aeruginosa, H. influenza e gonococos, mas não será eficaz em bactérias gram positivas e anaeróbios. Pode ser administrado de 8/8h via intramuscular ou intravenosa. Sua atividade antimicrobiana é mais semelhante à de um aminoglicosídeo. Será eficaz em pacientes com alergia a penicilina e com infecção gram negativos resistentes. 4) Carbapenêmicos São fármacos beta-lactâmicos que contêm um anel β- lactâmico acoplado e uma estrutura anular de cinco elementos, que difere das penicilinas por ser insaturado e conter um átomo de carbono em lugar do átomo de enxofre. Essa classe de antibióticos possui espectro de atividade mais amplo que a maioria dos outros antibióticos de sua classe, mas são ineficazes contra o Staphylococcus aureus resistente a meticilina, Legionella e gram negativos com carbapenemases. O Imipenem não pode ser absorvido por via oral, possui meia-vida de aproximadamente 1 hora e é degradado por uma enzima no rim, sendo que ele deve ser associado com a cilastatina, que impede essa inibição. Pode ser utilizado para tratamento empírico de infecções hospitalares graves como do trato urinário, ginecológicas, vias respiratórias inferiores, pele e tecidos moles. É muito resistente à hidrólise pela maioria das betalactamases. Podem causar reações adversas como náuseas, vômitos, convulsões e insuficiência renal. O Ertapenem possui meia-vida sérica mais longa que permite uma administração em dose única. Possui espectro contra bactérias gram-positivas, Enterobacteriaceae e anaeróbios, sendo interessante para tratar infecções intra- abdominais e pélvicas adquiridas na comunidade. Todavia, podem ter atividade inferior contra P. aeruginosa e espécies de Acinetobacter. O Meropenem é um derivado da tienamicina. Ele não precisa ser administrado junto com cilastatina, visto que o fármaco não é sensível à dipeptidase renal. Sua equivalência terapêutica e toxicidade assemelha-se à do Imipenem, exceto pelo fato de que pode ter menos tendência a provocar convulsões. Mecanismo de ação: é o mesmo dos betalactâmicos, em que o fármaco se liga à transpeptidase e impede a formação do peptideoglicano que compõe a parede celular bacteriana. Mecanismos de resistência: produção de transpeptidases mutadas e com baixa afinidade para o antibiótico, síntese de betalactamases que inativam o anel beta-lactâmico, barreiras físicas que impedem a entrada ou promovem a saída do fármaco das células bacterianas, entre outros. Vancomicina A vancomicina é classificada como um glicopeptídeo, embora tenha como mecanismo de ação atuar sobre a síntese da parede celular bacteriana. Todavia, diferente dos betalactâmicos ela não atua na ligação cruzada, mas na etapa de polimerização do peptideoglicano. É um fármaco de grande estrutura molecular, de modo que é incapaz de penetrar na membrana externa de bactérias gram negativas. Mecanismo de ação: na síntese do peptideoglicano faz-se necessário sua polimerização com a união dos açucares com auxílio das enzimas transglicosilases, essas que serão alvo da vancomicina. Esse antibiótico então reconhece e se liga as alaninas terminais, de modo que impede a ação das transglicosilases, impedindo a adição dos açúcares na extremidade de crescimento do peptideoglicano e a síntese da parede celular. Uso clínico: atua contra uma gama de bactérias gram positivas, de modo que pode ser utilizada em quadros de osteomielite, sepse e pneumonia causada por Staphylococcus aureus resistente a meticilina (MRSA), endocardite, entre outras patologias. Mecanismos de resistência: existe a transferência de fenótipos de resistência entre enterococos e outras bactérias gram positivas, como por presença de um D-lactato terminal substituindo a D-alanina, fato que não altera a síntese do peptideoglicano, mas reduz a afinidade da vancomicina pela molécula, de modo que as transglicosilases não são inibidas. A resistência dos Staphylococcus aureus à vancomicina – adquirida por Enterococos é uma preocupação clínica, já que é um dos principais fármacos para tratamento desse microrganismo. Farmacocinética: possui baixa absorção via oral, então atua mais localmente no trato gastrointestinal, podendo ser usada em infecções gastrointestinais por essa administração. A via parenteralpode ser utilizada por infusão intravenosa, não tem uma boa distribuição pelo LCR, não garantindo uma boa concentração do fármaco para tratamento de meningite. Será eliminada por via renal em filtração glomerular, tendo que ser feito ajuste de dose em quadros de insuficiência renal. Efeitos adversos: a maioria está relacionada com a velocidade de infusão da vancomicina, como hipotensão, síndrome do homem vermelho, exantema, urticária, ototoxicidade, eritema, calafrios, flebite, entre outras. Tetraciclinas As tetraciclinas são antibacterianos antigos com quatro anéis fundidos (A, B, C e D), em que suas substituições originam as diferentes classes entre esses fármacos, que aumentam a potência antimicrobiana conforme aumento da geração. Mecanismo de ação: elas são inibidoras da síntese proteica por ligação na subunidade 30S do ribossomo bacteriano no lugar aceptor A ribossomal, impedindo a ligação do RNAt. Elas atravessam a membrana plasmática da bactéria por transporte ativo e se acumulam, mas também podem penetrar nas gram negativas por difusão passiva pelas porinas na membrana celular externa. Esse acúmulo promove seletividade para ataque apenas das bactérias. Uso clínico: são antibióticos bacteriostáticos com atividade contra uma ampla gama de bactérias aeróbias e anaeróbias gram negativas e positivas. A doxiciclina pode ser utilizada para por riquétsias, infecções cutâneas e de tecidos moles, clamídia e DIP, infecções por MRSA, pneumonia adquirida na comunidade – H. influenza, S pneumoniae, C. pneumoniae, M. pneumoniae – além de tratamento para acne em doses baixas. As tetraciclinas em geral podem ser usadas para infecções por clamídia, leptospirose, doença de Lyme, esquemas de tratamento para H. pylori, pneumonias adquiridas na comunidade, infecções por MRSA, entre outros. As tetraciclinas de 2º geração possuem maior potência antimicrobiana e menor toxicidade. As tetraciclinas de 3º geração podem ser denominadas de glicilciclinas que possuem maior potência antimicrobiana e atividade contra bactérias resistentes a outros antibióticos. A tigegiclina – administrada apenas por via parenteral – é a única disponível e possui maior afinidade pelo ribossomo e maior atividade inibitória contra gram positivas e negativas, exigindo menor concentração inibitória mínima. Será ativa contra bactérias resistentes as tetraciclinas de primeira e segunda geração, assim como para infecções de pele e tecidos moles. Mecanismos de resistência: podem ocorrer por 1) bombas de efluxo que excretam o antibacteriano para fora da bactéria, 2) proteínas de proteção ribossomal para impedir a ligação do fármaco, 3) genes que codificam enzimas que degradam as tetraciclinas – monooxigenases – perdendo a eficácia antibacteriana do fármaco. Além disso, podem ocorrer mutações na subunidade ribossomal 30S, reduzindo a afinidade das tetraciclinas. Farmacocinética: possui interação e quelação com cátions divalentes e trivalentes se ingeridos concomitantemente, tendo uma absorção reduzida por formar complexos não- absorvíveis. Por essa interação ela consegue se depositar em ossos e dentes em crescimento, sendo contraindicada em crianças e gestantes. Possuem distribuição por todo o organismo, inclusive LCR e placenta. Esses fármacos possuem meia-vida de cerca de 6 a 12 horas, devendo ser administrados cerca de 2 a 4 vezes ao dia. Efeitos adversos: hepatotoxicidade, descoloração e displasia do esmalte dentário, fotossensibilidade, distúrbios gastrointestinais, colite pseudomembranosa, entre outras. Macrolídeos Os macrolídeos são fármacos com um anel de lactona de muitos membros fixados a açúcares que atuam como agentes bacteriostáticos. Como exemplo tem-se a eritromicina e seus derivados semissintéticos, principalmente a claritromicina e a azitromicina – além de espiramicina, roxitromicina e diritromicina. Mecanismo de ação: eles se ligam reversivelmente na subunidade ribossômica 50S e inibem o deslocamento da cadeia polipeptídica em crescimento do local A para o local P, inibindo a síntese de proteínas bacterianas. Uso clínico: são eficazes no tratamento de infecções do trato respiratório causadas por patógenos causadores de pneumonias adquiridas na comunidade. A eritromicina pode ser mais eficaz contra cocos gram positivos anaeróbios e bacilos, incluindo Clostridium perfringens, Corynebacterium diphteriae, Bordetella pertussis, Borrelia spp., Mycobacterium pneumoniae e Listeria monocytogenes, podendo ser utilizada para tratamento de patologias como difteria e coqueluche. A claritromicina é ligeiramente mais potente contra cepas sensíveis de estreptococos e estafilococos, tendo modesta atividade contra Haemophilus influenzae e Neisseria gonorrhoeae. Além disso, pode ter ação contra o Mycobacterium leprae, Chlamydia trachomatis (infecção genital) e Legionella (infecção respiratória). A claritromicina pode ser usada em esquemas para erradicar a H. pylori, associada a omeprazol e amoxicilina. Mecanismos de resistência: pode resultar de 1) efluxo do fármaco por bombas, 2) proteção ribossômica por produção de metilases que modificam o alvo ribossômico e reduzem a afinidade pelo fármaco, 3) hidrólise do fármaco por esterases, 4) mutações cromossômicas que alteram uma proteína ribossômica 50S. Farmacocinética: a eritromicina possui meia vida de cerca de 1,6 horas e é inativada pelo suco gástrico, de modo que os comprimidos para administração oral devem possuir revestimento entérico, sendo que os alimentos também retardam sua absorção. Seus ésteres apresentam melhor estabilidade em ácido, além de terem absorção menos alterada por alimentos. Além disso, pode ser utilizada por via tópica e parenteral com efeito bacteriostático, mas pode se tornar bactericida em altas quantidades. Irá se difundir rapidamente para os tecidos, tendo alcance reduzido no SNC, mas pode ser encontrado no leite e atravessar a placenta. Será concentrado no fígado e excretado pela bile. A azitromicina possui uma rápida absorção via oral, tendo ampla distribuição aos tecidos com lenta eliminação (meia- vida de 3 dias) e penetração intracelular – apesar de pouca penetração sobre a barreira hematoencefálica. Também pode ser administrada via intravenosa e sua posologia é feita em dose única diária. Sofre metabolismo hepático e excreção biliar e uma pequena parcela pela urina. A claritromicina possui rápida absorção via oral, com meia vida de 4 a 6 horas. Se distribui amplamente para os tecidos e secreções em concentrações elevadas. Esse fármaco é metabolizado no fígado em vários metabólitos. Efeitos adversos: febre, eosinofilia e erupções cutâneas, raramente ocorrendo uma hepatite colestática aguda com icterícia e função hepática reduzida. Também podem ocorrer distúrbios gastrointestinais como anorexia, náuseas, vômitos e diarreia, já que a eritromicina atua como um procinético em receptores da motilina. Todos exceto a azitromicina, apresentam interações com fármacos por inibirem as CYPs hepáticas. Podem promover arritmias cardíacas com prolongamento do QT e taquicardia ventricular. Clindamicina A clindamicina é uma lincosamida que atua principalmente no tratamento de infecções anaeróbias. Mecanismo de ação: esse fármaco se ligará exclusivamente nas subunidades 50S do ribossomo bacteriano, de modo que inibe a formação das ligações peptídicas e a síntese proteica. Por atuar em locais semelhantes aos macrolídeos, a ligação de um desses antibióticos poderá inibir a interação dos outros. Uso clínico: age contra cepas sensíveis de pneumococos, S. pyogenes, S. viridans, S. aureus sensíveis a meticilina, B. fragilis, entre outros. Geralmente todos os bacilos gram negativos aeróbios são resistentes. Pode ser utilizada em infecções graves causadas por cocos gram-positivos, bactérias anaeróbias (exceção do SNC pela baixa penetração), osteomielite estafilocócica crônica (boa distribuiçãoóssea), entre outras. Entretanto, a elevada incidência de diarreia e a ocorrência de colite pseudomembranosa limitam o uso desse fármaco para infecções em que ela representa uma evidente vantagem terapêutica. Mecanismos de resistência: pode ser feita por 1) mutação no local de ligação ou modificação por ação de metilases ou 2) inativação enzimática. Farmacocinética: possui absorção quase completa após administração oral, com distribuição para muitos tecidos – mas não no LCR, mesmo quando meninges estão inflamadas. Tem meia-vida de cerca de 3 horas, mas ela irá acumular nos leucócitos polimorfonucleares, macrófagos alveolares e abcessos. Reações adversas: colite pseudomembranosa com presença de febre, diarreia aquosa e contagem de leucócitos periféricos elevados, síndrome que pode ser fatal. Além disso, pode causar erupções cutâneas, Síndrome de Stevens-Johnson (eritema), elevação de enzimas hepáticas, reações anafiláticas, granulocitopenia, trombocitopenia, esofagite (importante ingestão de água para evitar retenção na mucosa esofágica). Sulfonamidas As sulfonamidas são fármacos derivados da sulfanilamida com duas porções amino essenciais para a atividade antibacteriana, em que as substituições nesse grupamento aumentam a potência do fármaco e alteram algumas propriedades farmacológicas. Além disso, são análogos estruturais do ácido para- aminobenzoico (PABA), de modo que possuem mecanismo de ação por inibição da síntese do folato. Mecanismo de ação: para a primeira etapa na síntese do ácido fólico tem-se a participação do PABA que será associado com a pteridina para formação do ácido di- hidropteroico com auxílio da di-hidropteroato sintetase. Essa enzima será inibida competitivamente pelas sulfonamidas, impedindo a síntese de ácido fólico. Assim, aquelas bactérias que não precisam fabricar seu folato não são susceptíveis a esse fármaco. Entretanto, essa toxicidade não atinge as células do indivíduo, já que elas também necessitam do ácido fólico pré-formado. A trimetropima não é uma sulfonamida, mas possui sinergismo com esses fármacos na inibição da primeira e da última etapa na via de síntese do folato, aumentando a eficácia se comparada com a administração do agente isolado. Uso clínico: possui uma ampla faixa de atividade contra gram negativas e positivas, geralmente tendo ação bacteriostática. Podem ser utilizadas contra Streptococcus pyogenes, Streptococcus pneumoniae, Nocardia (algumas espécies), Haemophilus influenzae, Toxoplasma, Chlamydia trachomatis, entre outras. Em casos de infecção por Neisseria meningitidis e Shigella a maioria das cepas é resistentes. O sulfisoxazol possui elevada solubilidade e ótima atividade antibacteriana e meia-vida de cerca de 5 a 6 horas. Os rins excretam 95% de uma dose em 24, de modo que as concentrações urinárias são maiores que as séricas, podendo ser bactericida. O sulfametoxazol é utilizado por via oral para tratar infecções urinárias e sistêmicas. Todavia, nota-se que a resistência dos microrganismos é crescente, sendo que esses fármacos não são os preferidos para tratar infecções do trato urinário. Além disso, devem ser utilizados com cautela em pacientes com disfunção renal, em que os pacientes em geral devem ingerir quantidades adequadas de água para prevenir cristalúria. A sulfassalazina é feita via oral e pouco absorvida pelo trato gastrointestinal, sendo utilizada no tratamento da colite ulcerativa e enterite regional. A sulfacetamida pode ser utilizada em infecções oftalmológicas como soluções do sal sódico. A sulfadiazina de prata é utilizada em infecções das feridas decorrentes de queimaduras, em que a prata também é tóxica para os microrganismos. A sulfadoxina tem meia vida longa e será utilizada em associação com a pirimetamina para profilaxia e tratamento de malária causada pelo P. falciparum resistente a mefloquina. Além disso, as sulfonamidas em geral podem ser eficazes para profilaxia das infecções estreptocócicas e das recidivas da febre reumática nos indivíduos suscetíveis. Mecanismos de resistência: aconteceram por mutação e seleção aleatórias ou transferência por meio de plasmídeo. Como exemplo tem-se 1) bombas de efluxo ou alteração da permeabilidade na bactéria, 2) alteração da enzima di- hidropteroato sintase reduzindo a afinidade do fármaco por ela, 3) produção aumentada do PABA que compete com o fármaco pela ligação na enzima, 4) criação de uma rota alternativa para síntese de folato não convencional, invalidando a eficácia do fármaco. Farmacocinética: possuem absorção rápida via oral, principalmente no intestino delgado e no estômago, e boa distribuição por todos os tecidos do corpo, incluindo LCR e placenta. Se ligam às proteínas plasmáticas em grau variável determinado pela hidrofobicidade e pelo pKa do fármaco. Serão metabolizadas no fígado e eliminadas do organismo na forma inalterada e como produtos metabólicos – que não possuem atividade antibacteriana, mas podem ser tóxicos. Poderão ser classificadas de acordo com a duração da sua ação – quanto mais rápida absorção e excreção, menor a meia vida e menor sua ação. Classe Sulfonamida Meia-vida Absorvidas e excretadas rapidamente Sulfisoxazol 5 a 6h Sulfametoxazol 11h Sulfadiazina 10h Pouco absorvidas e ativas no lúmen intestinal Sulfassalazina - Aplicadas topicamente Sulfacetamida - Sulfadiazina de prata - Ação prolongada Sulfadoxina 100 a 230h Reações adversas: síndrome de Stevens-Johnson, reações de hipersensibilidade na pele, mal estar, prurido, febre, anemia hemolítica, anemia aplástica com redução das funções da medula óssea (granulocitopenia e trombocitopenia), cristalúria, entre outras. Esse fármaco desloca a bilirrubina ligada na albumina plasmática, podendo promover icterícia e encefalopatia em recém nascidos.
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