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Bactérias causadoras de infecções no trato urinário O sistema geniturinário possui estratégias de defesa como tecido mucoso com IgA, liberação de defensinas e peptídeos antimicrobianos, macrófagos, linfócitos, células dendríticas, entre outras que auxiliam na diminuição de infecções. A bactéria primeiramente deve se aderir e posteriormente se multiplicar e colonizar o local infectado, sendo que o fluxo urinário auxilia nessa lavagem mecânica para combater o desenvolvimento dos microrganismos. A infecção no trato urinário, tanto masculino quanto masculino é a presença das bactérias na urina ou estruturas anexas como bexiga, rins e ureteres. Na entrada da uretra tem-se presença de microrganismos da microbiota. Geralmente são causadas por enterobactérias, como Escherichia coli (bacilos Gram negativos geralmente característicos do trato gastrointestinal), mas também podem ter etiologia derivada da Klebsiella pneumoniae (bacilo gram negativo restrito ao ambiente hospitalar), Staphylococcus saprophyticus e Proteus mirabilis (bacilo gram negativo que pode fazer translocação para o canal da uretra). Algumas infecções virais, particularmente adenovírus, também podem ocorrer, causando cistite. Essas infecções podem ser divididas conforme sua localização em: Infecção no trato urinário inferior: são aquelas acometem as partes mais baixas como uretra, epidídimo, bexiga e próstata, desenvolvendo cistites, uretrites, prostatites, entre outras. Infecção no trato urinário superior: também denominadas pielonefrites, tendo ascensão da bactéria até os rins. Também podem se classificadas conforme sua complexidade em: Infecção no trato urinário complicada: exige tratamento, podendo ser prolongado e variado conforme a cepa encontrada. Geralmente em infecções que já atingiram bexiga, indivíduos com alterações anatômicas, homens, crianças ou gestantes. As infecções masculinas são consideradas complicadas pelo fato de os homens possuírem menos chance de infecção urinária, sendo que para ela ocorrer necessita-se de altos níveis de fatores de adesão e colonização por fatores de virulência mais avançados. Infecção no trato urinário não complicada: acometem mulheres adultas, não gestantes e o trato urinário geralmente está sem alterações anatômicas. Existe a bacteriúria assintomática, com nitrito positivo e sem sintomas, essa que deve ser tratada como uma infecção complicada no homem, mas que em mulheres não gestantes pode ser classificada como não complicada. O ureter é liso e sem dobras para facilitar o fluxo de saída da urina e proteger contra a aderência de bactérias. Todavia, existem alguns defeitos anatômicos, geralmente genéticos, que podem promover reentrâncias no tecido, de modo que a proliferação de bactéria é facilitada, fato que aumenta a predisposição a infecções. Fatores e populações de risco: hábitos sexuais sem proteção, hábitos precários de higienização, crianças, gestantes, anatomia pélvica por menor medida da distância uretra/ânus, imunossuprimidos, idosos, baixa ingesta de água, uso de sondas, baixa expressão de receptores para IL- 8 (citocina inflamatória que promove a migração de neutrófilos ao uroepitélio infectado para defesa do organismo), anormalidades urológicas com defeitos anatômicos, diabetes mellitus e injúria cardiovascular. . Exame físico: temperatura axilar (> 38,5 ºC), exame abdominal minucioso com sinal de Giordano, em que a dor geralmente predomina em flancos. Deve ser realizado o exame ginecológico com toque para diagnóstico diferencial para DIP. A urocultura e o antibiograma têm importância na identificação do microrganismo e na determinação do melhor antibiótico para tratamento da cepa. Não é indicado em todos os casos, sendo feito geralmente para grupos de risco e infecções urinárias recorrentes. Deve-se classificar a infecção em sintomática e não sintomática, baixa e alta, complicada e não complicada para facilitar o tratamento conforme quadro clínico. 1) Cistite não complicada É uma infecção do trato urinário inferior que ocorre geralmente em mulheres jovens, saudáveis e não gestantes que possuem defesa imunológica suficiente. Como principais agentes etiológicos tem-se E. coli, S. saprophyticus, Klebsiella e Proteus. Geralmente apenas uma urocultura é necessária, sendo que, se houver persistência ou recorrência dos sintomas em menos de um mês a cistite passa a ser complicada. A identificação da prevalência dos microrganismos regionais e a resistência deles é essencial na escolha da terapia empírica. 2) Cistite recorrente A reinfecção é causada por uma cepa diferente da bactéria que causou a infecção original por seleção bacteriana quando a antibioticoterapia não é feita adequadamente. O relapso ocorre quando a mesma cepa continua causando os sintomas ou até 2 semanas após término da infecção original. Fatores de risco: aumentada susceptibilidade a colonização vaginal bacteriana por modificação da microbiota e baixa concentração de lactobacilos, baixa expressão de IL-8, relações sexuais, uso de espermicidas, histórico familiar de ITU e anormalidades anatômicas. 3) Pielonefrite É a inflamação do trato urinário superior, sendo que os sintomas podem variar conforme o estado imunológico do paciente, se mostrando como uma doença discreta ou até mesmo evolução para sepse. Diagnóstico: fraqueza muscular após infecção crônica, febre, calafrios, dor lombar, sinal de Giordano positivo. Tratamento: as terapias de curto prazo são inadequadas, sendo que se pode iniciar com o tratamento empírico e ajustar para outro mais correto após urocultura. A infecção do trato urinário ocorre em cerca de 7% das gestantes, já que elas possuem maior predisposição pelo relaxamento da musculatura lisa do esfíncter e dilatação uretral provocada pela progesterona e pela baixa imunidade no local que o feto está se desenvolvendo, a fim de evitar rejeição. Como possíveis complicações tem-se parto prematuro, baixo peso e mortalidade, devendo fazer screening para bacteriúria. A presença de bactérias na urina em paciente sem sintomas de ITU deve ser tratada se: Mulher: duas uroculturas com 105 unidades formadoras de colônias (UFC) da mesma bactéria. Homem: uma urocultura com 105 UFC da mesma bactéria. Deve-se tratar apenas gestantes e pacientes para procedimentos urológicos. Não se deve tratar mulheres saudáveis, diabéticos, idosos, pacientes com lesão medular, institucionalizados e cateterizados. A infecção pode ocorrer não só por ascensão, mas também por disseminação da bactéria pela corrente sanguínea, como o Mycobacterium tuberculosis, que pode chegar ao rim e causar tubérculos miliar. Em homens, a infecção sempre deve ser tratada como complicada e no diagnóstico diferencial considera-se possíveis patologias como IST, orquite e epididimite, devendo realizar uma avaliação prostática completa. Staphylococcus saprophyticus São cocos gram positivos agrupados em cachos, que são predominantemente causadores de infecções nas mulheres. Para diagnóstico, faz-se a prova da catalase, que dá positivo. Posteriormente pode-se realizar o da coagulase, dando negativo para epidermidis ou saprophyticus. Assim, esses podem ser diferenciados pelo teste da nova biocina, sendo que o saprophyticus é resistente. Enterobactérias São bacilos gram negativos, sendo divididos em 40 gêneros e 170 espécies que habitam predominantemente os intestinos do homem e dos animais, de modo que constituem a principal causa de infecção intestinal. Dentre os principais gêneros tem-se Escherichia, Klebsiella, Proteus e Morganella, que podem estar na microbiota natural, enquanto que gêneros como Shigella e Salmonella não estão na microbiota normal, podendo causar infecções. Algumas enterobactérias possuem flagelo, sendo que essas conseguem se movimentar e ascender mais facilmente da uretra até segmentos superiores. Além disso, a maioriapossuem fímbrias, que ajudam na adesão e aumentam sua capacidade de virulência. O principal fator de virulência é o LPS, que está presente do lado de fora, sendo também denominado endotoxina ou antígeno O, se diferenciando conforme as cepas. Assim, por sorotipagem pode-se verificar as diferenças de virulência de uma cepa para outra de acordo com as características do antígeno O e antígeno F (proveniente do flagelo, o TLR reconhece a flagelina, sendo uma defesa contra bactérias flageladas). Uma estrutura do LPS é conhecida como lipídio A, tendo ação endotóxica e que ajuda na evolução para sepse com choque, colapso vascular e hemorragia. O LPS é responsável pela produção da febre, reconhecida como resposta pirogênica, além de causar alterações vasculares, ação direta sobre o mecanismo das reações de hipersensibilidade não específica, produção de citocinas, infiltrado leucocitário, entre outros. Dentre os fatores de virulência tem-se a resistência antimicrobiana desenvolvida ao longo do tempo, essa que pode ser por troca de plasmídeo (segmentos de DNA) ou por seleção dada pelo mau uso dos antimicrobianos. Além disso, tem-se a translocação, em que a bactéria sai do local onde não causa doença (como o TGI) e atinge um tecido no qual ela pode causar infecção. A E. coli é a mais importante do grupo dos bacilos gram negativos, possuindo muitas adesinas para se fixar e não ser ‘lavada’ pelo fluxo urinário, já que está acostumada com a motilidade intestinal. A maioria das infecções são endógenas por translocação, sendo que cepas que causam gastroenterite e meningite são adquiridas de forma exógena. Além de ITU podem causar sepse, meningite e gastroenterites. Apresentam antígenos somáticos (O), flagelares (H) e capsulares (K). Tem-se vários tipos de E. coli de acordo com os fatores de virulência a elas associadas: Prova da catalase POSITIVO Teste da coagulase NEGATIVO Teste da nova biocina RESISTENTE Produção de febre Indução da produção de prostaglandinas, alterando o termômetro corporal Citocinas seguem até o hipotálamo Indução da produção de IL-2 e TNF-a pelos macrófagos Ela é degradada em um vacúolo, liberando endotoxinas Macrófago ingere bactéria gram + E. Coli enterotoxigênica (ETEC): Produz e libera toxinas no TGI, essas que provocam alteração nos níveis intracelulares de nucleotídeos cíclicos levando à alteração do equilíbrio hidrossalino do lúmen intestinal, resultando na secreção de eletrólitos e, consequentemente, na redução de absorção de água. Assim, agem causando diarreia aquosa, dores abdominais e risco de desidratação grave. Entre as principais toxinas tem-se a ST (termoestável) e LT (termolábil). E. Coli enteropatogênica (EPEC): Não produzem toxinas, mas causam alterações no TGI por ter forte adesão ao epitélio, condensando os filamentos de actina e miosina e levantando a célula, deixando-a rígida (lesão A/E) e sem microvilosidades. Assim, tem-se redução da absorção de água e do metabolismo dos enterócitos, tendo como sintomas uma diarreia secretora abundante e desprovida de sangue, febre baixa e vômitos. Tratamento: reidratação oral em casos leves e uso de antimicrobianos sensíveis em casos mais graves. A recuperação pode ser lenta, porque depende da completa recuperação das funções intestinais (digestão, absorção e defesa) deterioradas nas lesões causadas por EPEC. E. Coli enteroagregativa (EAEC): Se aderem fortemente, de modo que condensam os filamentos de actina e miosina, formando um pedestal na célula por intensa polimerização de actina. Assim, forma-se uma estrutura rígida em que a bactéria fica aderida (lesão A/E), diminuindo a absorção de água e o metabolismo dos enterócitos. Como sintomas tem-se diarreia com muco (bactérias se multiplicam na camada de muco e aumentam sua secreção para formar um biofilme) e sangue, febre e cólicas abdominais. E. Coli enteroinvasiva (EIEC): Aderem ao epitélio e podem adentrar na mucosa intestinal, de modo que escapam do sistema imune. Se movimentam no enterócito e conseguem atravessar de uma célula para outra. Causa febre, mal-estar, cólica abdominal e diarreia aquosa seguida de disenteria com poucas fezes, muco e sangue. E. Coli enterohemorrágica (EHEC): Pode penetrar dentro dos enterócitos e produzir uma toxina shiga-like, que atua inibindo a síntese proteica e promovendo morte dos enterócitos. Assim, causa hemorragia e pode atingir a corrente sanguínea, cursando sem febre e podendo evoluir também para síndrome urêmica hemolítica. Além disso, tem-se aquelas que podem causar infecções extraintestinais, sendo denominada Escherichia coli patogênica extraintestinal (ExPEC), como as que causam meningite ou infecções no trato urinário (uropatogênica), meningite e septicemia, essas que compõe normalmente a microbiota, mas que podem ser patogênicas se sofrerem translocação. Como manifestações tem-se: Urinárias: 90% dos casos são E. coli das fezes que sofrem translocação até a uretra, colonizando e ascendendo para vias urinárias superiores, geralmente possuindo fímbrias que facilitam a aderência à mucosa das vias urinárias. Podem causar cistites não complicadas (bexiga vesical), as pielonefrites (rins), a bacteriúria assintomática (persistência das bactérias na urina) e a prostatite. Como fatores de virulência das UPEC tem-se fímbrias que facilitam a adesão e formação de biofilmes, flagelo para possibilitar ascensão no trato urinário, alfa-hemolisina com ação sobre células fagocíticas para permitir defesa das células hospedeiras, entre outros. Meningite: diferentes sorogrupos que possuem Ag K1 semelhante ao da Neisseria meningitidis do grupo B, já que confere à E. coli propriedades de inibição da fagocitose por granulócitos/monócitos. Normalmente o recém-nascido adquire a bactéria da mãe. Bacteremias: cerca de 50% das bacteremias gram negativas são derivadas da E. coli, em que as fontes mais comuns são infecções do trato urinário e digestivo, cateteres intravenosos, aparelhos respiratórios e pele. Na sepse, o LPS entra em contato com os macrófagos e promove um pico de TNF-a que promove alterações vasculares, produção de IL-1, ativação de linfócitos e mais macrófagos, perpetuando o ciclo. Tem-se outras enterobactérias, como: Klebsiella pneumoniae: possuem cápsula proeminente, em que as colônias isoladas adquirem aspecto mucoide. Estão relacionadas com as infecções urinárias. Proteus mirabilis (indol negativo) e Proteus vulgaris (indol positivo): promovem infecções das vias urinárias em indivíduos imunocompetentes. Morganella morganii: relacionada a infecções oportunistas no trato respiratório e urinário, podendo também infectar feridas em humanos, sendo rara em imunocompetentes. Enterobacter, Citrobacter e Serratia: rara em imunocompetentes, sendo relacionada a infecções hospitalares, principalmente em neonatos e imunocomprometidos. Vibrio cholerae: é um bastonete gram negativo levemente curvo, promovendo diarreia, vômitos e desidratação severa. As enterobactérias não fermentadoras são aeróbios não esporulados, que apresentam reação positiva de citocromo oxidase e possuem o meio ambiente como habitat natural. São considerados oportunistas e prevalentes em ambientes hospitalares. Como exemplos tem-se: Pseudomonas aeruginosa São bastonetes gram negativos e móveis que estão presentes no solo e água, raramente isolada em pacientes imunocompetentes. Como síndromes clínicas causa infecções pulmonares, infecções primárias de pele, infecções do trato urinário Tem como fatores de virulência flagelo, fímbrias para adesão, cápsula para resistir a ação do sistema imune, formação de biofilme, presença de LPS, proteases que degradam a elastina e provocam destruição celular e lesões teciduais. Acinetobacter É um bastonete ou cocobacilo gram negativo, não esporulado e oxidase negativo. A principal espécie é a baumanni, sendo um patógenooportunista que infecta imunossuprimidos e possui alta resistência a antimicrobianos. Para diagnóstico das infecções causadas por enterobactérias faz-se coleta da amostra (secreção) do local de suspeita da infecção, de modo que a bactéria será isolada e as provas serão feitas. O meio IAL/Rugai foi elaborado para triagem de enterobactérias e consistem em nove provas em apenas um tubo de ensaio: indol, fermentação de sacarose, fermentação de glicose, produção de gás, fenilalanina, ureia, H2S, lisina e mobilidade. Assim, de acordo com as características de metabolismo das bactérias pode-se identificar a espécie. Leptospira interrogans É a bactéria causadora da leptospirose, tendo forma helicoidal e com uma extremidade de gancho. Possui endoflagelos em sua parte interna para sua locomoção e translocação. São aeróbias obrigatórias e fastigiosas, sendo também muito sensíveis as mudanças ambientais. Caracteriza uma zoonose com ampla distribuição e colonizam vários mamíferos (fezes de roedores). Tem como porta de entrada lesões na pele, conjuntiva e aerossol/ingestão, tendo tropismo para os rins, de modo que provoca lesões que rapidamente evoluem para insuficiência renal aguda, além de poder causar nefrite aguda e necrose tubular, dependendo do curso da doença, característica da cepa e estado imunológico do indivíduo. No início da doença tem-se febre, diarreia e um quadro inicial de pneumonia (pode ser confundida com infecção por hantavírus), que desaparece após o tropismo para o rim.
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