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GESTÃO ORÇAMENTÁRIA AULA 1 Prof. Luiz Eduardo Lanzini 2 CONVERSA INICIAL Planejar é a chave da gestão empresarial para pequenas empresas, grandes corporações, agências governamentais, organizações sem fins lucrativos ou simplesmente para a vida pessoal dos indivíduos. Pode-se afirmar, portanto, que todos os gestores fazem algum tipo de planejamento, muito embora em algumas vezes, nas pequenas organizações, os planos não sejam formalizados. O orçamento pode ser uma ferramenta capaz de integrar diversas atividades em um único planejamento. Entre essas atividades, é capaz de suportar a administração por metas, avaliar o desempenho da organização e servir como meio de comunicação entre todos os níveis organizacionais. Considerando as aplicações e os benefícios que o orçamento representa na gestão empresarial, e ainda sua relação com o planejamento estratégico, pode-se atribuir que esta ferramenta está presente em todo o ciclo administrativo. CONTEXTUALIZANDO O planejamento e as decisões relativas à capacidade produtiva são estratégicos e vitais para a empresa, pois exercem forte influência sobre sua rentabilidade. Por exemplo, uma empresa com excesso de capacidade produtiva tem uma demanda inferior à sua capacidade máxima. Por outro lado, uma empresa com limitação de capacidade produtiva apresenta demanda potencial por seus produtos superior à sua capacidade instalada. Tais situações são decorrentes do plano estratégico, cuja finalidade é pôr em prática as decisões a serem tomadas, focando e identificando os pontos de maior importância, sendo esse o principal benefício da implementação do orçamento empresarial. O orçamento empresarial pode ser definido como um plano financeiro capaz de conduzir a empresa aos seus objetivos, servindo como controle das operações a curto e longo prazo. Um orçamento é um plano financeiro que estabelece, da forma mais precisa possível, como se espera que transcorram os negócios de um departamento ou de uma empresa, geralmente no prazo mínimo de um ano. 3 Os gestores possuem um comprometimento com metas a serem atingidas, baseando-se no plano estratégico da organização. Quando esses compromissos não são seguidos, acabam estabelecidos e acompanhados na montagem do orçamento, pois isso facilita que possíveis desvios sejam evitados, tendo os gestores a obrigação de expor suas atividades na empresa. Dessa forma, quando o plano estratégico é bem elaborado, os gestores podem conhecer os resultados e realizar os acompanhamentos necessários para que o planejamento seja alcançado. Pesquise Você já pensou em como a falta de orçamento pode impactar nas empresas? O SEBRAE avalia a cada período a taxa de sobrevivência das empresas brasileiras. Por meio deste levantamento, é possível verificar que muitas empresas fecham suas atividades nos primeiros anos. Tal situação indica que a falta de planejamento pode afetar os negócios. Nesse sentido, os estudos publicados podem nos mostrar alguns indícios importantes. Pesquise sobre esse assunto no site do SEBRAE: TEMA 1 – ORÇAMENTO COMO INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO E CONTROLE A origem da palavra orçamento na língua inglesa remete ao ato simbólico, a partir da Constituição de 1689 na Inglaterra, de o primeiro-ministro levar ao parlamento em uma bolsa de couro (budget) a previsão anual dos gastos de seu governo. A partir de 1800 foi incorporada a palavra budget ao dicionário inglês, com o significado de orçamento (CARNEIRO; MATIAS, 2012). Nas empresas privadas, tem-se o primeiro registro por volta do ano de 1920, na empresa Dupont. Seus controles financeiros desenvolvidos, baseados inclusive em modelos econômicos e estatísticos, foram aplicados posteriormente na companhia General Motors Corporation (GM), então <https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/estudos_pesquisas/taxa-de- sobrevivencia-das-empresas-no-brasildestaque15,01e9f925817b3410VgnVC M2000003c74010aRCRD>. https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/estudos_pesquisas/taxa-de-sobrevivencia-das-empresas-no-brasildestaque15,01e9f925817b3410VgnVCM2000003c74010aRCRD 4 emergente e, posteriormente, uma das mais importantes organizações do século XX, conforme descreveu seu principal executivo, Alfred P. Sloan Jr.1. O orçamento empresarial não deve ser entendido como instrumento limitador e controlador de gastos, mas sim como uma forma de focalizar a atenção nos processos e nas finanças da empresa. Dessa forma, o orçamento torna-se um instrumento que formaliza as metas e os objetivos e funciona como uma orientação para comunicar “de onde” e “para onde” a empresa deveria caminhar, além de permitir traçar o horizonte de curto, médio e longo prazo (Frezatti, 2009). Assim, o orçamento também deve ser entendido como uma sinalização das metas e dos objetivos que necessitem de cuidado por parte dos gestores, contribuindo para a tomada de decisões com vistas ao cumprimento das orientações estratégias das empresas. Nesse sentido, o planejamento é a essência da gestão empresarial para pequenas empresas, grandes corporações, órgãos governamentais, organizações sem fins lucrativos ou simplesmente para a vida pessoal dos indivíduos. De alguma forma, os gestores realizam algum planejamento em determinados momentos. Pode-se perceber também que esses planos nem sempre são formalizados ou que às vezes cumprem somente um procedimento burocrático de determinada instituição. Com o crescimento das atividades empresariais e a necessidade de se otimizarem os recursos disponíveis, os planejamentos informais deixam de ser suficientes, tornando-se necessário um planejamento formal. Também é preciso planejar as diretrizes, as estratégias, as metas, os objetivos e as ações que garantam a continuidade e o aumento da riqueza das organizações. Por esse entendimento é que são considerados os benefícios que o orçamento representa para a gestão empresarial. A relação entre o planejamento estratégico e os procedimentos de controle torna o orçamento uma ferramenta que pode estar presente no chamado ciclo administrativo ou funções administrativas, a saber: 1 A biografia do principal executivo da empresa está narrada no livro Meus anos com a General Motors, publicado pela Editora Negócio, em sua 4. edição. 5 Planejar: definir metas/objetivos (estratégicos, táticos e operacionais). É o meio mais adequado para alcançá-los, como planos de ação, procedimentos, orçamentos, programas, normas e regulamentos; Organizar: organizar, estruturar e integrar os recursos e os diversos setores envolvidos, incluindo objetivos, estrutura, departamentos, cargos e tarefas especializadas; Dirigir: dar instruções sobre como devem ser executadas as atividades previstas para a obtenção dos objetivos e das metas estabelecidos, considerando a estrutura e a hierarquia da organização; Controlar: avaliar os resultados obtidos na busca pela máxima aproximação ao que foi planejado, exigindo critérios de avaliação, medidas corretivas, de manutenção, coercitivas ou de regulação. Figura 1: Ciclo administrativo O orçamento pode ser considerado o elo entre estas funções. A ideia ou percepção de ciclo remete à continuidade permanente destas funções. A sequência ideal sugere que as ações de organizar e dirigir são precedidas pelo planejamento e suas consequências, sendo monitoradas por instrumentos de controle. A avaliação dos resultados apresentados nestes instrumentos orienta o início (planejamento) do novo ciclo. Planejar OrganizarDirigir Controlar 6 TEMA 2 – A ESTRUTURA DO PLANEJAMENTO EMPRESARIAL A estrutura empresarial compreende a disposição das diversas unidades que compõem a empresa (departamentos, divisões, seções etc.) e as relações entre superiores e subordinados. A estrutura não deve envolverapenas o “esqueleto”, mas todo o organismo da empresa, como deveres, responsabilidades, os sistemas de autoridade e de comunicações existentes na organização. A estrutura organizacional atende a três funções básicas: Objetiva atingir as metas organizacionais; Destina-se a minimizar ou pelo menos regulamentar a influência das variações individuais sobre a organização. Impõem-se estruturas para assegurar que os indivíduos se conformem às exigências das organizações, e não o inverso; São os contextos em que o poder é exercido. As estruturas também estabelecem ou determinam quais posições têm poder sobre quais outras. O fluxo de informações que entra numa decisão é basicamente determinado pela estrutura. As estruturas organizacionais podem ser orientadas com base nas seguintes variáveis: 1. análise das atividades; 2. análise das decisões; 3. análise das relações. A análise das relações é indispensável não só para a decisão sobre qual espécie de estrutura é necessária, mas para a tomada de decisão vital sobre como a estrutura deve ser guarnecida de pessoal. Nesse sentido, o planejamento da empresa toma por base três níveis, com processos e hierarquia distintos. São eles: Planejamento estratégico; Planejamento tático; Planejamento operacional. O planejamento estratégico envolve a alta administração e se refere a políticas de longo prazo da organização. Objetivos corporativos e estatutários, além de resultados globais, são vislumbrados entre 2 e 10 anos, conforme sugere Rosseti et al (2010). 7 O planejamento tático visa otimizar o desempenho e os resultados de áreas específicas de uma empresa (Braga, 1995). As decisões táticas são tomadas em um nível hierárquico intermediário. Planos para as áreas de marketing, recursos humanos, produção e financeira são desenvolvidos no plano tático da empresa. Este plano procura traduzir e quantificar os planos estratégicos em um plano orçamentário de cada área, ou simplesmente orçamento. Finalmente o plano operacional é o detalhamento das atividades operacionais de curto prazo. Habitualmente são elaboradas com prazo inferior a doze meses e são definidas conforme desejo de se cumprirem as metas e os objetivos estabelecidos nos planos anteriores. O contexto do planejamento estratégico é projetar cenários sobre tendências futuras. Percebe-se que há diferentes níveis hierárquicos envolvidos no estabelecimento e na execução de tais planos. Independentemente do nível de planejamento, o orçamento empresarial permite sintetizar e comunicar a estratégia estabelecida na orientação estratégica e seu nível operacional. Figura 2: Ilustrações dos níveis hierárquicos tradicionais Em outras palavras, o plano orçamentário permite que todos os envolvidos de alguma forma com a organização consigam perceber e atuar para o alcance do objetivo global da empresa. Plano estratégico Plano tático Plano operacional 8 TEMA 3 – ANÁLISE DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS Com a evolução do mercado consumidor e a intensidade da competição de novos mercados, dadas as condições do efeito global da economia, a combinação de planejar e controlar é reafirmada como eixo fundamental para definir estratégias de enfrentamento da competição nesse mercado. Uma empresa hoje é percebida como um conjunto sistêmico de informações operacionais, financeiras e organizacionais, que dizem respeito às suas condições internas, sendo constantemente influenciadas por fatores denominados de condições externas ou condições do ambiente externo. A literatura sobre estratégia nos ajuda a entender este conjunto. Nesse contexto, a noção de alinhamento estratégico pode ser conceituada como medida de adequação entre a capacidade de interpretação do contexto externo, sua configuração em termos de objetivos e ações estratégicas e a utilização de processos e recursos internos (Bulgacov et al, 2007). Esta condição de análise é conhecida como matriz Fofa (forças, oportunidades, fraquezas e ameaças) ou ainda em seu termo em inglês Swot (strengths – forças), weaknesses – fraquezas, opportunities – oportunidades, threats – ameaças), que consiste em uma metodologia bastante popular no âmbito empresarial. Braga (1988) entende que a qualidade do quadro orçamentário é estabelecida com base nos dados observados na estrutura organizacional da empresa e na leitura dos cenários econômico, político e social. Ou seja, os resultados da análise do ambiente em termos de objetivos e estratégias devem estar alinhados com as metas operacionais. Entendem-se como ambiente externo da organização as condições conjunturais alheias à vontade dos executivos ou colaboradores operacionais da empresa. São fatores que fazem referência às condições sociais, econômicas, políticas, legais, tecnológicas e até mesmo ações fortuitas como uma catástrofe natural. Essas condições estabelecem um nível elevado de incerteza e a possibilidade indesejada de influências em diversas frentes. Tal condição estabelece uma constante análise e atualização das condições ambientais. Assim como essa imprevisibilidade impõe riscos excessivos aos negócios, 9 pode oferecer oportunidades de ganhos em igual nível. Não por acaso alguns autores classificam esses riscos em ameaças e oportunidades. Diferente do estudo do ambiente externo, para o ambiente interno há a possibilidade de atuação dos desejos da cúpula estratégica para corrigir ou explorar determinada condição estabelecida pela empresa. Processos organizacionais, relacionados às pessoas e ao “como” fazer, produtos e serviços competitivos, desenvolvidos sob constante pesquisa, são condições que podem favorecer a empresa e, por consequência, serem uma orientação para a estratégia. Outro aspecto que envolve o ambiente interno da organização são as chamadas barreiras de capital ou capacidade de investimento, que também influenciam nas estratégias organizacionais. Assim, avaliar a capacidade física das instalações ou a possibilidade de buscar boas condições estabelece o chamado “ponto forte” da empresa. Como na análise do ambiente externo, para o ambiente interno também se estabelece o contraponto. Neste caso o “ponto fraco” ou vulnerabilidade específica da empresa. Para contribuir na projeção de tendências do ambiente externo, recomenda-se o apoio de estudos específicos em cada área. Também se recomendam adotar técnicas para levantamento de riscos e forma de se estabelecer uma diretriz consensual, mesmo com opiniões individuais distintas. Uma estimativa para variáveis econômicas, como cotação cambial ou a inflação oficial para um período, é um exemplo. O mesmo raciocínio se dará para análise das condições internas. Também há técnicas e especialistas que auxiliam na avaliação interna. Embora a segregação para análise do ambiente externo e interno contribua para as melhores práticas do planejamento estratégico, devemos considerar que algumas situações internas dependem do contexto externo, como as condições legais ou normativas. A avaliação da capacidade interna está fortemente influenciada pela variável externa. Uma pequena mudança de regulação (externa) pode alterar completamente o viés da força da empresa. Desta forma, devemos entender que o planejamento envolve os estudos, as análises e as decisões visando a um posicionamento empresarial, ao mesmo tempo que também envolve a própria gestão na implementação das metas e na avaliação dos resultados alcançados, como sugere a figura a seguir. 10 Figura 3: Análise de condições ambientais e implementação de estratégias TEMA 4 – ANÁLISES SETORIAIS Qual é o meu negócio? Quem é o meu cliente? Quais necessidades (e desejos) desses clientes serão atendidas pela minha empresa? E como essas necessidades serão atendidas? Estes questionamentos com certeza devem fazer parte das análises dos gestoresatualmente. No início dos anos 1980, Michael Porter, com a premissa de que o mercado econômico é competitivo, criou um conjunto de ferramentas analíticas dedicadas a ajustar a estratégia correta às condições vigentes e, de certa forma, nos ajudar a responder aos questionamentos do início deste tema. Tal proposta é definida por Mintzberg at al (2010) como “Escola do Posicionamento”, dentro dos estudos sobre estratégia empresarial. É importante entender esta definição e sua relação com a boa prática do orçamento empresarial. O modelo de Porter identifica cinco forças que influenciam o ambiente organizacional e sua posição no mercado. São elas: a ameaça dos novos entrantes, o poder de barganha dos fornecedores; o poder de barganha dos clientes; a ameaça dos produtos substitutos e a intensidade da concorrência. A relação destas forças é demonstrada nesta ilustração: Controle e divulgação dos resultados Controle estratégico Análise dos resultados e desempenho Divulgação Implementação Planejamento tático Planejamento operacional Decisões Estratégias (longo prazo) Metas e objetivos Estudos Ambiente interno Ambiente externo 11 Figura 4: Modelo de cinco forças A ameaça de novos entrantes pode ser defendida pela empresa com estratégias que criam barreiras a essas entradas. A escolha e o desenvolvimento de um produto exclusivo, a identidade por meio de uma marca, entre outros fatores, podem dificultar o acesso a novos entrantes e defender a empresa de concorrentes. Assim como a relação contratual saudável com seus fornecedores pode diminuir o poder de barganha deste importante participante da cadeia de negócios, pode estabelecer uma força favorável para a empresa. Estes são alguns exemplos de ações que estabelecem condições melhores de negócios por meio de escolhas estratégicas. Porém, hoje se percebe que o poder de barganha dos clientes é o ponto mais sensível do modelo das cinco forças estabelecidas por Porter. Os acessos facilitados por parte dos clientes às informações alavancam este poder. Neste caso, a sensibilidade ao preço e as especificações de qualidade do produto vendido são alguns dos fatores determinantes desta força. Assim, as estratégias saem deste processo totalmente desenvolvidas para serem articuladas e implementadas e, de fato, a estrutura do mercado dirige as estratégias posicionais deliberadas. Desse modo, as estratégias são entendidas como posições genéricas, especificamente comuns e identificáveis no mercado. Porter (1999) ainda afirmou que existem dois tipos básicos de vantagem competitiva que uma empresa pode possuir: baixo custo ou diferenciação. O autor ainda descreve que a empresa deve saber lançar mão das “estratégias genéricas”. Ser “tudo para todos” não é o ideal, e tal postura poderá prejudicar o desempenho da empresa. Por esse entendimento, as estratégias genéricas sugeridas por Porter são: a liderança em custo, a diferenciação e o foco. O autor ainda define liderança em custo e diferenciação como o “alvo amplo” da vantagem 12 competitiva e o foco como o “alvo estreito”. A matriz da vantagem competitiva fica assim representada: Figura 5: Esquema de posicionamento estratégico Por fim, visando operacionalizar esta análise estratégica, Porter (1999) introduziu uma estrutura chamada de cadeia de valor. Ela sugere que uma empresa pode ser desagregada em atividades primárias e de apoio. As atividades primárias estão diretamente envolvidas no fluxo de produtos até o cliente final. Incluem logística de entrada e saída, processos produtivos e naturalmente as atividades relacionadas às vendas. As atividades de apoio incluem a provisão para a infraestrutura da empresa, que abrange também a estrutura de capital (finanças), o desenvolvimento de pessoas, a coordenação do comando e a execução dos planos estabelecidos. Os estrategistas do alto comando da organização desempenham um papel importante neste processo, passando os resultados de suas análises aos gerentes operacionais que oficialmente controlam as opções de atuação. TEMA 5 – LIMITAÇÕES E PROBLEMAS DO ORÇAMENTO EMPRESARIAL A forma como apresentamos os conceitos do orçamento empresarial e o roteiro de implementação proposto podem impor algumas limitações a esta ferramenta. Primeiramente devemos considerar que o orçamento se baseia em previsibilidade, porém não assertivo em sua totalidade. Existem condições de Alvo amplo 1. Liderança em custo Alvo amplo 2. Diferenciação 3.1 Foco em custo Alvo estreito 3.2 Foco em diferenciação Alvo estreito Vantagem competitiva 13 incertezas e influências que baseiam as estimativas dos planos operacionais. Na possibilidade de erros na avaliação dos cenários, surgem situações críticas para o orçamento. Tais situações podem prejudicar a adoção desta prática em empresas, ou gestores com posturas céticas em relação à capacidade de planejar. Aspectos comportamentais como excesso de pessimismo ou otimismo ingênuo por parte dos gestores também desvirtuam as projeções. Como verificado, a construção do orçamento passa por diversas áreas operacionais da empresa. Neste aspecto, algumas áreas podem estar relacionadas ao perfil cultural da própria empresa. Por exemplo, uma empresa que foi formada com base em oportunidades técnicas, como construção civil, desenvolvedores de softwares, entre outras, e que possua em sua estrutura de colaboradores um corpo técnico destacado tenderá a defender a necessidade de orçamentos para esta área sem margem de risco, podendo prejudicar as demais áreas da empresa. Ou uma empresa com perfil comercial, formada com base em representantes comerciais agressivos em relação ao cumprimento de objetivos comerciais, possui uma condição que pode favorecer, em termos orçamentários, uma área em relação à outra. Como foi demonstrado anteriormente, o orçamento é um instrumento estratégico da empresa, e as ações de cada área devem estar alinhadas com a estratégia da empresa, e não com as condições específicas de cada área. Outra condição desfavorável em relação à ferramenta diz respeito à sua implementação. Pôr em prática as ideias, extrair o planejamento do papel e executá-lo desafiam a prática de qualquer ferramenta de gestão. Para o orçamento não seria diferente. Tal fato pode ser mitigado com metodologia e disciplina. Para esta condição, estabelece-se uma curiosa relação. A proposta do orçamento visa justamente propor esta metodologia. O boicote da ferramenta se dá por ela. A empresa, ou melhor, seus colaborares, não tem disciplina e metodologia, por isso não consegue propor um orçamento empresarial. Neste caso é preciso avançar no que se refere à postura profissional por parte das pessoas envolvidas no negócio da empresa, para a implantação da ferramenta. Para as condições de operacionalização do orçamento, os problemas relacionados a arredondamentos, valores preenchidos e valores totais são 14 recorrentes, e, embora de fácil entendimento e solução, sua negligência pode impactar consideravelmente o orçamento. Para empresas que trabalham com uma escala muito alta, ou seja, que produzem ou vendem grandes volumes, o cuidado com o arredondamento é ainda maior, pois uma aproximação ou arredondamento para um item unitário pode causar um impacto muito grande quando somado ao volume total estimado para um mês ou período orçado. Em relação ao preenchimento de valores, estes devem ser verificados se não foram feitos com base no arredondamento tratado no parágrafo anterior. Quando o orçamento for estipulado, o cuidado com o levantamento deste dado deve ser considerado. Ainda no que diz respeito à operacionalização, observa-se a prática de se elaborar um orçamento com base em uma estimativa anual, por exemplo, e depois distribuir este valor pelos meses que compõem o ano projetado.Fato é que nem sempre a soma mensal é igual ao valor total imaginado. O desejável é que, havendo a possibilidade de se encaminhar um valor “parcelado”, melhor. No exemplo mencionado, é desejável que se tenha um esforço para se projetar mês a mês os números do orçamento para depois totalizar somando cada “parcela”. Finalmente, em relação ao desenvolvimento dos planos operacionais do orçamento, como comentado neste tópico, sabe-se que as empresas apresentam vários problemas avulsos relativos ao processo orçamentário. Em geral, na prática, ao elaborar um relatório especial, uma pessoa que trabalha e possui experiência em determinada área poderá ter a capacidade de distinguir rapidamente quais informações são relevantes e quais são desnecessárias para se ter à disposição. Para fins didáticos, como será percebido, são incluídos nos exemplos e nas rotas específicas diversos dados, talvez irrelevantes para uma solução específica. Cabe a cada estudioso identificar as condições ideais de trabalho em uma empresa. Para as situações de limitação relativa à previsibilidade necessária ao orçamento, serão apresentadas no decorrer desta disciplina técnicas que permitem que as projeções sejam mais assertivas e, portanto, úteis para o planejamento orçamentário. 15 Texto para leitura obrigatória GUINDANI, A. et al. Planejamento estratégico orçamentário. Curitiba: InterSaberes, 2012. Capítulo 1. Saiba mais Sugestão de roteiro disponibilizado pelo SEBRAE para montar uma Para entender melhor o modelo de Porter: <http://www.administradores.com.br/artigos/economia-e-financas/as-cinco- forcas-de-porter/57341/>. TROCANDO IDEIAS Já pensou em fazer uma análise a respeito da atividade ou do negócio em que você está envolvido neste momento? Ou imagine que você está trabalhando em uma empresa de que goste e com a qual se identifique. Algumas informações são importantes. Identifique em qual planejamento estariam as respostas para os questionamentos abaixo: a. Quais são seus objetivos de curto e longo prazo? b. Será possível obter lucro com esse produto/serviço/ideia? c. Qual o valor necessário para colocá-lo no mercado? d. O que acontecerá se o mercado mudar? e. Quais são os piores cenários e como lidar com eles? NA PRÁTICA Com base nas propostas desta rota e com elementos da seção “Trocando ideias”, elabore uma matriz para análise Swot para uma proposta de investimento na modalidade franquia para a área de vestuário e artigos infantis. Siga os exemplos e priorize os pontos de maior atenção conforme o modelo na sequência. Esta estrutura é uma sugestão para você organizar as ideias e iniciar o planejamento do orçamento. matriz Swot: <https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/ ME_Analise-Swot.PDF> https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/ME_Analise-Swot.PDF 16 FINALIZANDO O orçamento é um instrumento de planejamento das atividades de uma empresa. Por meio dele, definem-se os objetivos da empresa para os próximos períodos – aonde se deseja chegar com as atividades da empresa. É importante considerar que o orçamento é utilizado para planejamento das 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Descrição 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Ameaças Descrição 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Descrição Forças - vantagens Fraquezas - vulnerabilidades Oportunidades - forças Ameaças - obstáculos Vantagens Ex. Recursos Próprios Descrição Oportunidades Fraquezas Ex. Experiência Ex. Faixa etária Público alvo infantil Capacidade de Investimento Falta de expeciência para trabalhar no setor Desemprego ou renda abaixo da expectativa do negócioEx. Renda 17 atividades de curto prazo, mas também é necessário realizar planejamento de médio e longo prazo, conhecidos como planejamento estratégico da empresa. Em síntese, o orçamento deve abranger pontos essenciais, como decidir para onde a empresa vai, desenvolver estratégias para se alcançarem os objetivos e avaliar o ambiente em que ela opera. Especificamente para a avaliação do ambiente, algumas técnicas contribuem para a avaliação e são apresentadas neste estudo. Porém, as informações geradas podem ser “grandes” ou extensas para serem manipuladas de uma só vez. O conjunto de decisões não pode ser subdividido de forma independente. Organizar estas análises em grupos ou características similares está associado à atividade prática sugerida nesta rota, em que pontos positivos e negativos e condições de ambiente externo e interno são agrupados em matriz que auxilia na observação e análise dos fatos. O orçamento é o instrumento que permite à administração traçar e monitorar metas e objetivos de forma coordenada, quer seja a curto, médio e longo prazos. 18 REFERÊNCIAS BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Atlas, 1995. BULGACOV, S.; SOUZA, Q. R.; PROHOMANN, J. I. de P.; COSER, C.; BARANIUK, J. Administração estratégica: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2007. CARNEIRO, M.; MATIAS, A. B. Orçamento empresarial: teoria, práticas e novas técnicas. São Paulo: Atlas, 2011. FREZATTI, F. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2009 GUINDANI, A. et al. Planejamento estratégico orçamentário. Curitiba: InterSaberes, 2012. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento. Porto Alegre: Bookman, 2010. PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 2002. ROSSETTI, J. P. et al. Finanças corporativas: teoria e prática empresarial do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.