Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 6 PROJETOS E INOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO Profª Oriana Gaio 2 INTRODUÇÃO Desde a primeira aula falamos sobre inovação e educação, principalmente no tocante do entendimento dessa relação com o intuito de melhorar a qualidade do setor educacional. Vimos que o monitoramento de como as práticas pedagógicas se desenvolvem oportuniza a criação de uma base de conhecimento para a educação como um todo. Dessa forma, é importante que todos os envolvidos no processo educacional procurem saber como os professores mudam suas práticas de desenvolvimento profissional e até que ponto a mudança e a inovação estão ligadas a melhores resultados educacionais. Além disso, na segunda aula falamos sobre o relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI para a Unesco, em que Delors (1996) indica que a educação deve envolver quatro aprendizagens essenciais, tidas como a base do conhecimento de cada indivíduo: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Diante disso, é de suma importância que o professor saiba quais são seus principais desafios e principalmente qual é o seu papel no desenvolvimento dessas aprendizagens. Em nossa última aula levantaremos alguns questionamentos acerca da ressignificação do papel do professor, bem como as principais competências dos professores no século XXI. TEMA 1 – PRINCÍPIOS ESSENCIAIS DAS METODOLOGIAS Durante quatro aulas apresentamos as principais metodologias e suas abordagens, as quais podem ser adotadas na prática educacional. Contudo, não tivemos a oportunidade de compará-las e nem de refletir sobre a forma com que cada uma se adequa a realidades ou necessidades diferentes. Diane disso, apresentamos na Figura 1, de forma muito clara e resumida, os princípios essenciais de cada uma das metodologias apresentadas nesta disciplina: ativas, ágeis, imersivas e analíticas. 3 Figura 1 – Princípios essenciais das metodologias ativas, ágeis, imersivas e analíticas Fonte: Cavalcanti e Filatro, 2018, p. 251. Com base no exposto, é possível notar que as metodologias ativas estão ligadas ao protagonismo do aluno sobre a aprendizagem, a colaboração na construção de conhecimento e a ação-reflexão entre teoria e prática. Além disso, podemos acrescentar que as metodologias ativas se referem aos papéis dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, bem como às atividades que cada um realiza. 4 As ágeis, por sua vez, envolvem a economia da atenção para o máximo aproveitamento do tempo, sobretudo com a fragmentação da aprendizagem e mobilidade tecnológica e conexão contínua. Dessa forma, podemos dizer que essas metodologias se preocupam com a duração de cada atividade, principalmente pela divisão dos conteúdos para melhor compreensão do que está sendo estudado. Já as metodologias imersivas consideram o engajamento e a diversão a partir da sensação de vivenciar o momento da aprendizagem, como também a experiência da aprendizagem que ocorre pela imersão e pelas tecnologias imersivas que simulam a realidade. Desse modo, essa metodologia apresenta um novo significado às tecnologias educacionais. Por fim, as metodologias analíticas, as quais procuram trabalhar com a analítica da aprendizagem pela análise de dados educacionais, adaptação e personalização do ensino para se ajustar a cada indivíduo no seu processo de aprendizagem e inteligência humano-computacional que mistura o ser humano e a máquina para o pensamento crítico. Dessa forma, a partir dos dados educacionais gerados, as metodologias analíticas focam no processo de avaliação, que contribuiu principalmente para a toma de decisão. Apesar de cada metodologia possuir características próprias e princípios essenciais, é possível notar que todas versam a respeito de um objetivo em comum: o protagonismo do aluno. Diante disso, como temos falado desde o início da disciplina, o papel do professor passa por uma ressignificação de como atuar em sala de aula para atender às novas formas de aprender e ensinar que são voltadas, cada vez mais, ao aluno. De acordo com Cavalcanti; Filatro (2018, p. 253), “essas várias expressões da ‘centralidade no aluno’ desafiam educadores e especialistas a pensar em formas totalmente novas de planejar, mediar e avaliar a aprendizagem”. TEMA 2 – PROJETOS E INICIATIVAS INOVADORAS Existem muitas escolas e universidades que já adotam projetos pedagógicos inovadores, aderindo a outras estruturas além do tradicional e do convencional e implementando currículos redesenhados e pensados no protagonismo do estudante. Neste momento da aula, abordaremos algumas iniciativas interessantes no Brasil e no mundo. Portanto, se você chegou até esse momento acreditando que 5 apenas países desenvolvidos conseguem sustentar projetos e iniciativas inovadoras, vai verificar que estava errado! 2.1 Projeto Âncora – Brasil A escola Projeto Âncora fica no estado de São Paulo, na cidade de Cotia, e possui um método de ensino que não envolve sala de aula e provas, além de não possuir hierarquias entre gestor, professor e aluno. A escola é integral e gratuita e tem como filosofia as comunidades de aprendizagem em seu objetivo é que os alunos possam estudar e aprender conjuntamente por meio de projetos e pesquisas. Entendemos a escola como um espaço de encontro e de humanização no qual educando e educador são convidados a vivenciar os conhecimentos, as diversas formas de compreender e estar no mundo que nos cerca. A escola é um local que propicia oportunidades para desenvolvimento de habilidades sociais, críticas e da autonomia. Atendemos 160 crianças oferecendo ensino infantil a partir de 5 anos, Educação fundamental I e II e Ensino Médio (Projeto Âncora, 2019). Mesmo possuindo diversos níveis, no Projeto Âncora não existem séries e, sim, ciclos de aprendizagem que estão de acordo com os critérios curriculares nacionais. Saiba mais Para saber conhecer detalhes sobre o Projeto Âncora, acesse: <https://www.youtube.com/watch?v=kE6MlnwML8Y&list=PLNM2T4DNzmq5hxM qb1TpvSm0Qu6QgqbE>. Acesso em: 22 out. 2019. 2.2 Colégio Fontán Capital – Colômbia Outra iniciativa educacional muito interessante é a do Colégio Fontán Capital, que está localizado a 34 quilômetros da capital Bogotá, no município de Chia. A escola possui planos de trabalho personalizados e envolve equipes de trabalho integradas em torno de cada um dos alunos para orientá-los por meio da construção de planos de estudo pessoais e do desenvolvimento de habilidades de autonomia e excelência que promovam uma alta qualidade de vida. O projeto pedagógico possui dois papéis fundamentais: os analistas e os tutores. Os analistas são educadores que acompanham e orientam o trabalho acadêmico de cada área do conhecimento (Matemática, Ciências, Humanidades, Comunicação e Inglês) pela construção de planos de trabalho personalizados e 6 apoio aos alunos em seus processos de pensamento e formas de aprendizado. Os tutores são psicólogos ou psicopedagogos responsáveis por apoiar os alunos em seu desenvolvimento pessoal, acompanhando os processos acadêmicos, sociais e emocionais. A escola destaca a importância do relacionamento do aluno com o conhecimento, com os colegas e com os educadores. As aulas não são ministradas nas salas de aula e são organizadas em oficinas. As oficinas são ambientes de trabalho nos quais os alunos interagem em igualdade de condições com os de diferentes graus e idades; eles trabalham em equipe, colaboram, desenvolvem liderança e solidariedade, são reconhecidos por seus pontos fortes e aprendem a agir em comunidade. Atualmente, a escola está organizada em seis oficinas: Explorador, Pesquisador, Base, Inovador, Autonomia Avançada e Autonomia Superior. Cada oficinatem características próprias para favorecer os processos de aprendizagem dos alunos de acordo com o nível de autonomia de cada um. A escola funciona 12 meses por ano e os estudantes decidem quando preferem tirar suas férias. Saiba mais Para saber mais detalhes sobre o Colégio Fontán Capital, acesse o link: <https://www.youtube.com/watch?v=Z9Vg0T99Olw>. Acesso em: 17 mar. 2021. 2.3 Ørestad Gymnasium – Dinamarca A escola pública Ørestad Gymnasium está situada em Copenhague, na Dinamarca. Uma das suas principais características é a estrutura que envolve uma arquitetura sem paredes e com espaços abertos de aprendizagem. O objetivo da Ørestad Gymnasium é preparar os alunos para a participação em uma sociedade baseada no conhecimento e na experiência da vida real. Para isso, o ensino é organizado com aulas plenárias, ambientes de aprendizagem baseados em grupo, aquisição individual de conhecimento (por exemplo, ensino virtual), casos da vida real ensinados em cooperação com parcerias externas. Outro aspecto interessante é em relação à tecnologia, que está presente nos equipamentos eletrônicos e no fato de que quase não são utilizados livros físicos. 7 2.4 Riverside School – Índia A escola Riverside localizada no estado Gujarat, na Índia, possui desde o ensino infantil até o ensino médio. Também construída sem paredes e com espaços abertos, seu principal é que os alunos aprendam a todo tempo e em todo lugar. Dessa forma, o currículo é centrado no estudante e o processo de aprendizagem ocorre em três estágios: • O estágio 1 atende aos alunos mais jovens e a aprendizagem é predominantemente sensorial e multidimensional. Para os alunos desse estágio, o mundo, as pessoas, os arredores e os eventos são um enorme mosaico complexo; • No estágio 2 os alunos são capazes de se mover entre experiências, fazer conexões e tirar conclusões; eles possuem competências e autogestão suficientes e começam a interagir com o mundo com maior complexidade; • No estágio 3 o aluno já é um aprendiz maduro, com competências e habilidades de comunicação avançadas, é metacognitivo (consciente do processo de aprendizagem) e, portanto, habilitado a resolver problemas do mundo real alinhados às suas competências usadas para efetuar mudanças para si e para o meio ambiente. As famílias dos alunos são convidadas a frequentar o ambiente escolar para fazer parte não só das aulas, mas também de todo o processo de ensino e aprendizagem. Além disso, em cada projeto desenvolvido pelos estudantes, a comunidade é envolvida por meio de palestras e apresentações e também participa com as avaliações do projeto e com a verificação para saber se eles atendem efetivamente seu objetivo. Saiba mais Para saber mais sobre a Riverside School, acesse: <www.youtube.com/watch?v=4otPjgKQktE>. Acesso em: 17 mar. 2021. Com os exemplos citados, é possível perceber que o desenvolvimento do aluno em relação à sua autonomia na própria aprendizagem é a principal busca das escolas. Para isso, elas procuram criar espaços colaborativos e, principalmente, abrem mão das estruturas rígidas de sala de aula e da hierarquia entre professores e alunos. 8 TEMA 3 – PAPEL E DESAFIO DO PROFESSOR Temos por definição que ensino é ação, arte de ensinar, de transmitir conhecimentos; é orientação no sentido de modificar o comportamento da pessoa humana. Diante dessa definição, podemos notar que a palavra ensino está ligada à figura do professor, sendo esse o detentor do conhecimento e o aluno o destinatário desse conhecimento. No entanto, desde a primeira aula temos visto que o ensino envolve características muito mais complexas e que ele deve estar associado intrinsicamente aos processos de aprendizagem. Vimos também que existem muitas possibilidades de metodologias que podem ser adotadas no contexto educacional e observamos como escolas e universidades têm trabalhado projetos e iniciativas inovadores centrados no aluno. Com isso, entendemos que o professor deve assumir inúmeros papéis para se adequar às novas demandas e necessidades dos alunos e, a seguir, elencamos alguns papéis adotados por professores frente a esse novo cenário educacional: • Professor como mediador: alguns autores falam que professores são mediadores e outros aderem à expressão facilitadores, mas o que ambos têm em comum é a questão de que o professor deve assumir um papel de articulador do conhecimento e não mais de transmissor. Dessa forma, deve contribuir para que o aluno aprenda em decorrência das próprias dúvidas e questionamentos e sempre precisa fornecer ajuda diante das principais perguntas para o desenvolvimento do aluno; • Professor como gestor: parece estranho pensarmos que um professor pode assumir um papel de gestor educacional, mas se definirmos gestor como alguém que toma decisões, o professor é, sim, um gestor. Se você lembrar da aula de metodologias analíticas, em que muitos dados são usados para a tomada de decisão, o professor é a pessoa que muitas vezes os utiliza para decidir sobre o processo de ensino, por exemplo. Ademais, talvez você, professor de uma pequena cidade, assuma tarefas que vão além do trabalho didático e envolva atividades pertinentes à gestão e ao funcionamento de uma escola; • Professor como conselheiro: o professor também pode exercer um papel que auxilie nas construções sociais da infância e adolescência. Devemos pensar que com o rápido avanço da tecnologia e acesso às ferramentas 9 por ela disponibilizadas, o professor pode manter um diálogo aberto e aconselhar os alunos, uma vez que esses estão vulneráveis a diversas questões. Logo, existe uma grande necessidade de sensibilizar os alunos sobre como usar a tecnologia. Diante dessa conjuntura, os professores precisam assumir mais responsabilidades com as mudanças do cenário educacional e, principalmente em virtude do avanço tecnológico, devem estar preparados para enfrentar os desafios da sua prática pedagógica. Para Cavalcanti; Filatro (2018, p. 250) a educação é complexa por envolver não apenas aspectos cognitivos, mas também psicológicos, metodológicos, sociais, relacionais, ambientais e emocionais, entre tantos outros. Para enfrentar essa complexidade, que é crescente, só mesmo uma forma nova de fazer educação – uma forma personalizada, relevante e engajadora e que seja acessível a todos aqueles que querem/precisam aprender. Segundo Darling-Hammond (2006), os professores devem estar preparados para atuar em um mundo em constante mudança, que envolve o conhecimento dos alunos e o desenvolvimento em contexto social, o conhecimento do assunto e objetivos curriculares e o conhecimento de ensino, conforme apresentado na Figura 2. Figura 2 – Papel e desafio do professor Fonte: adaptado de Darling-Hammond, 2006, p. 304. 10 Com base na Figura 2, os professores devem considerar os principais conceitos e habilidades para sua prática pedagógica. O primeiro deles envolve o conhecimento dos alunos e como eles aprendem e se desenvolvem em contextos sociais, incluindo o conhecimento do desenvolvimento da linguagem. Além disso, é preciso ter compreensão do conteúdo e das metas curriculares, incluindo o assunto e as habilidades a serem ensinadas em virtude das demandas disciplinares, das necessidades dos alunos e dos propósitos sociais da educação. Da mesma forma, é de suma importância a compreensão e as habilidades para o ensino, incluindo conhecimento pedagógico de conteúdo e conhecimento para ensinar diversos alunos, pois os professores são informados pelo entendimento da avaliação e de como construir e gerenciar uma sala de aula produtiva. TEMA 4 – COMPETÊNCIAS DOS PROFESSORES NO SÉCULO XXI Você já parou para pensar que estamos no século XXI? Isso nos leva a refletir que as competências aqui discutidas fazem parte de um conjunto de práticasnão para um futuro próximo, mas, sim, para o momento atual, revelando, portanto, a grande importância de abordamos este assunto. Segundo Perrenoud (2002), o conceito de competências começou a ser debatido mais amplamente na área educacional a partir da década de 1990, inicialmente incorporado ao ensino das séries iniciais. No entanto, logo se expandiu para o mercado de trabalho por meio de teorias que tratam sobre o gerenciamento de pessoas atrelado à ideia de qualidade total e produtividade. Convido vocês a relembrarem comigo sobre o que seriam as chamadas competências do século XXI. Podemos afirmar que elas são organizadas a partir de um conjunto progressivo de atitudes, habilidades e conhecimentos que preparam não somente o professor para a vida acadêmica, profissional e pessoal, mas também o aluno. Em âmbito educacional, de acordo com a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), tais competências são compreendidas como “mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (Brasil, 2017, p. 8). 11 Se fizermos um comparativo entre a atuação docente no século passado e no atual, perceberemos que com os avanços tecnológicos muita coisa mudou, nossos alunos mudaram, a forma como nos comunicamos e interagimos em sociedade mudou. No entanto, fica evidente um descompasso no que diz respeito ao ambiente educacional, que ainda se mantêm atrasado e refletindo uma lógica que era eficaz no século passado. Neste cenário atual, o professor não pode continuar fazendo mais do mesmo, é preciso inovar, motivar, estimular e formar alunos com capacidade de pensamento crítico, conscientes de sua atuação na sociedade e capazes de articular seus argumentos. Uma das grandes dificuldades neste processo se refere ao modo de desenvolver essas competências, sobretudo nos casos em que o docente permanece reproduzindo práticas pedagógicas que não atendem mais às necessidades do mundo moderno. Neste sentido, é necessário um olhar atencioso para a nossa atuação profissional a fim de avaliarmos o que precisa ser desenvolvido e o que deve ser reforçado por meio da formação continuada. Freire (1997) explica que ensinar exige pesquisa, método, criticidade e diálogo com os estudantes, e para isso é preciso reorganizar os saberes e planejar as aulas, integrando-as a metodologias e tecnologias capazes de potencializar a aprendizagem e contribuir com o cumprimento dos objetivos. De acordo com Dácio Guimarães (2014) podemos dizer que práticas pedagógicas intencionalmente pensadas a partir de metodologias ativas são aquelas que apresentam as seguintes características: • Demandam e estimulam a participação do aluno envolvendo-o em todas as suas dimensões humanas: sensório-motor, afetivo-emocional, mental- cognitiva; • Respeitam e estimulam a liberdade de escolha do aluno diante dos estudos e das atividades a serem desenvolvidas, possibilitando a consideração de múltiplos interesses e objetivos; • Valorizam e se apoiam na contextualização do conhecimento imprimindo um sentido de realidade e utilidade nos estudos e nas atividades desenvolvidas; • Estimulam as atividades em grupos possibilitando as contribuições formativas do trabalho em equipe; 12 • Promovem a utilização de múltiplos recursos culturais, científicos e tecnológicos que podem ser providenciados pelos próprios alunos no mundo em que vivemos; • Promovem a competência de socialização do conhecimento e dos resultados obtidos nas atividades desenvolvidas. Assim, concluímos nosso tema entendendo que as competências necessárias para a atuação profissional do professor nos dias atuais são aquelas que permitem o desenvolvimento da aprendizagem colaborativa – seja com o apoio tecnológico ou com os alunos –, que entendem a importância de saber ouvir, de desenvolver projetos que contemplem a interdisciplinaridade e, sobretudo, de se manter como pesquisador ativo. Agora chegou sua vez de refletir: Quais são suas principais competências? Quais são as competências necessárias em seu dia a dia e que precisam ser desenvolvidas em você? Que pressupostos e metodologias se encaixam na sua sala de aula, ou, no seu ambiente profissional? Quais são suas metas profissionais e o que você precisa fazer para atingi-las? Pense nisso! TEMA 5 – E O FUTURO? Estamos chegando ao fim da nossa disciplina! Espero que você tenha conseguido assimilar as principais metodologias que podem ser adotadas para promoção do ensino e da aprendizagem na sua escola, universidade ou qualquer contexto em que você atue como professor. No entanto, devemos ter em mente que as tecnologias e sua evolução são dinâmicas e que novas formas de aprender e ensinar surgirão nos próximos anos, fazendo com que, possivelmente, algumas abordagens feitas aqui fiquem ultrapassadas. Cabe a você, professor, se manter inteirado diante das tendências e práticas pedagógicas que podem ser adotadas na sala de aula. Talvez você esteja se perguntando como ficar atualizado e saber quais serão as projeções para a educação nos próximos anos. A Educause é uma associação sem fins lucrativos que ajuda o ensino a aumentar o impacto da tecnologia da informação. Ela conta com líderes e profissionais de TI que têm por objetivo entender os desafios e as oportunidades que estão em constante evolução no ensino. Anualmente, a associação publica o relatório NMC Horizon Report trazendo as principais tendências e os desafios para o cenário 13 educacional. E é falando sobre os principais pontos relatados no relatório de 2019 que terminaremos nossa aula. Em 2019, a NMC Horizon Report indicou um resumo das principais tendências com a adoção de tecnologia no ensino em curto, médio e longo prazo, conforme pode ser verificado na seguir. Figura 3 – Principais tendências para adoção de tecnologia no ensino Fonte: adaptado de Alexander, 2019, p. 5. Com base nos dados expostos na Figura 3, é possível notar que em curto prazo, considerando a adoção da tecnologia no ensino pelos próximos um a dois anos, o relatório indica o redesenhamento dos espaços de aprendizagem e projetos de aprendizagem combinados, questões trabalhadas e discutidas em toda a nossa disciplina. A médio prazo, no que diz respeito à adoção da tecnologia pelos próximos três a cinco anos, estão as culturas avançadas de inovação, que vão além das inovações relacionadas às operações institucionais, como também à criação de parcerias empresariais com a escola ou a universidade, por exemplo com laboratórios de risco e incubadoras. O objetivo é oferecer aos alunos a oportunidade de aprender habilidades além do convencional da sala de aula, se concentrar na preparação da força laboral e, considerando o contexto universitário, permitir que os graduados tenham uma vantagem quando entrarem no mercado de trabalho. Sobre a tendência no foco crescente na medição da aprendizagem, está relacionada a possibilidade que as instituições têm de reunir e medir o progresso da aprendizagem dos alunos, como também outros indicadores. Dessa forma, a quantidade de dados gerados no contexto educacional oportuniza às instituições novas formas de avaliar, medir e documentar o aprendizado de seus alunos. No entanto, mesmo possuindo uma grande quantidade de dados, a maneira como 14 vão aproveitar e utilizar esses dados é o grande desafio, uma vez que compreender como usar a análise de aprendizado para informar o progresso dos alunos pode ser difícil para os professores, já que distinguir entre diferentes tipos de dados é uma habilidade relativamente nova, conforme falamos na aula de metodologias analíticas. Por fim, a adoção da tecnologia no ensino por cinco ou mais anos refere-se aolongo prazo que, segundo o relatório, indica o repensar o funcionamento das instituições a partir de novas estratégias para atender às necessidades acadêmicas e sociais de todos os estudantes. A mudança no aprendizado centrado no aluno exige que professores e orientadores acadêmicos atuem como mediadores e facilitadores do processo. Dessa forma, há necessidade de abordagens que incluam formas de estudos interdisciplinares afim de proporcionar aos alunos experiências que conectam disciplinas, principalmente voltadas às habilidades que serão exigidas futuramente no mercado de trabalho. A outra tendência a longo prazo diz respeito aos graus modularizados e desagregados, que nada mais são do que oferecer aos alunos opções de educação e treinamento que transcendem os caminhos tradicionais em graus. Ou seja, são oportunidades que os alunos têm para mesclar a educação formal com cursos on- line modularizados, a um custo acessível, permitindo que adquiram outras habilidades e tenham maior controle sobre os caminhos da própria aprendizagem. É possível perceber que os principais pontos trazidos pelo relatório da NMC Horizon Report indicam grandes desafios no contexto educacional, isso porque cada um de nós atua em cenários e realidades educacionais completamente diferentes. Alinhado às questões anteriormente apresentadas, Meador (2019) indica mais seis fatores que tornam o ensino tão desafiador. Eles estão listados a seguir: 1) Ambiente com interrupções: as interrupções ocorrem de formas externas e internas. Internamente, questões como problemas de disciplina e assembleias, entre outras situações, interrompem o fluxo escolar. O fato é que algumas interrupções tomarão um tempo valioso para a instrução e poderão impactar negativamente o aprendizado dos alunos. Dessa forma, os professores devem ser hábeis em lidar rapidamente com as interrupções e não permitir que os alunos se distraiam; 15 2) Expectativas no fluxo: falamos desde o início da disciplina sobre como as tecnologias têm impacto no ensino e que as práticas pedagógicas são influenciadas pelo avanço tecnológico, originando novas formas de ensinar. Com isso, os professores acabam trabalhando com uma instabilidade, uma vez que uma grande novidade apresentada hoje pode estar obsoleta até o final de semana. Essa falta de estabilidade poderá desencadear nervosismo e incerteza, e a educação exige estabilidade para maximizar sua eficácia. Dessa forma, os professores devem encontrar uma maneira de trazer alguma estabilidade à sala de aula para dar aos alunos a oportunidade de serem bem-sucedidos; 3) Individualidade dos alunos: os alunos têm personalidades, interesses e habilidades diferentes, e os professores precisam encontrar uma forma de diferenciar e atender todos os alunos de acordo com suas próprias necessidades individuais – uma tarefa difícil e demorada. Dessa forma, é preciso que os professores utilizem dados e observações e encontrem os recursos e metodologias apropriados para atingir todos os alunos; 4) Falta de recursos: sabemos que o Brasil é um país de muitas diferenças sociais e econômicas e as escolas são afetadas com a falta de recursos; em muitas delas as salas de aula são superlotadas e a tecnologia e os livros didáticos, desatualizados. Os alunos acabam perdendo oportunidades de aprendizagem e os professores precisam fazer mais com menos; 5) Tempo limitado: os professores devem maximizar o tempo que têm com seus alunos e esse é um dos aspectos mais difíceis do ensino: o professor tem um curto período de tempo de preparar os alunos para que atinjam os próximos níveis escolares. Possivelmente, muitos professores sentem que não têm tempo suficiente para realizar com seus alunos tudo o que precisavam ou queriam; 6) Níveis variados de envolvimento dos pais: o envolvimento dos pais é um dos maiores indicadores de sucesso acadêmico para os alunos. A maioria dos pais deseja o melhor para seus filhos, mas eles podem não saber como se envolver quando o assunto é educação. Esse é outro obstáculo que os professores devem superar, eles devem ter um papel ativo ao propiciar aos pais a oportunidade de se envolver na educação de seus filhos. 16 Nós, professores, sabemos que a nossa profissão é muito gratificante, já que ela causa impacto em gerações de alunos. Por outro lado, temos consciência de que ela também apresenta momentos difíceis e desafiadores, conforme vimos anteriormente. Além disso, ser professor exige paciência, dedicação, paixão e capacidade de fazer mais com menos. É uma jornada complicada e muitas vezes cheia de altos e baixos, mas os professores comprometidos com a profissão exercem-na simplesmente porque querem fazer diferença! Gostaria, então, de terminar com a seguinte frase: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção [...]. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (Freire, 1996, p. 25). 17 REFERÊNCIAS ALEXANDER, B. et al. Educause Horizon Report: 2019 Higher Education Edition, 23 abr. 2019. Disponível em: <https://library.educause.edu/resources/2019/4/2019-horizon-report>. Acesso em: 23 out. 2019. BARBOSA, E. F.; MOURA, D. G. Metodologias ativas de aprendizagem na educação profissional e tecnológica. Boletim Técnico Senac, Rio de Janeiro, v. 39, n.2, p.48-67, maio/ago. 2013. Disponível em: <http://www.bts.senac.br/index.php/bts/article/view/349/333>. Acesso em: 22 out. 2019. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação Infantil e Ensino Fundamental. Versão final. Brasília: MEC, 2017. DARLING-HAMMOND, l. Constructing 21st-Century Teacher Education. Journal of Teacher Education, 06 MAIO 2006, 57(3), 300–314. DISPONÍVEL EM: <https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0022487105285962>. Acesso em: 28 nov. 2019. DELORS, J. et al. Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Educação um tesouro a descobrir, v. 6, 1996. Disponível em: <https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000109590_por>. Acesso em: 23 out. 2019. FILATRO, A.; CAVALCANTI, C. C. Metodologias Inov-Ativas na educação presencial, a distância e corporativa. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática docente. 19 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 24 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. MEADOR, D. 7 Factors that Make Teaching So Challenging. ThoughtCo, feb. 18, 2019. Disponível em: <thoughtco.com/factors-that-make-teaching- challenging-and-hard-4035989>. Acesso em: 27 out. 2019. PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. PROJETO Âncora. Disponível em: <https://www.projetoancora.org.br/. Acesso em: 31 out. 2019.
Compartilhar