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Brasília-DF. Toxicologia do doping Elaboração Daniela Bassi Júlio César Conceição Filho Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I REGULAMENTAÇÃO DE DROGAS NOS ESPORTES ................................................................................. 11 CAPÍTULO 1 ÓRGÃOS REGULAMENTADORES – COI E WADA ...................................................................... 13 CAPÍTULO 2 CLASSES DE SUBSTÂNCIAS PROIBIDAS PELO CÓDIGO MUNDIAL DE DOPAGEM ........................ 15 CAPÍTULO 3 VIGILÂNCIA SANITÁRIA ............................................................................................................ 17 UNIDADE II TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES ........................................... 20 CAPÍTULO 1 TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO.......................................................................................... 20 CAPÍTULO 2 DOPAGEM GENÉTICA ............................................................................................................ 24 CAPÍTULO 3 ESTEROIDES ANABOLIZANTES .................................................................................................. 29 CAPÍTULO 4 ESTEROIDES ANDROGÊNICOS ANABOLIZANTES (EAA) ............................................................. 30 CAPÍTULO 5 OUTROS AGENTES ANABÓLICOS ............................................................................................. 36 CAPÍTULO 6 TERAPIA PÓS CICLO (TPC) ...................................................................................................... 39 CAPÍTULO 7 HORMÔNIO DO CRESCIMENTO (GH) ..................................................................................... 42 UNIDADE III ESTIMULANTES E ANOREXÍGENOS ......................................................................................................... 44 CAPÍTULO 1 SIMPATOMIMÉTICOS ............................................................................................................... 44 CAPÍTULO 2 PRODUTOS NATURAIS .............................................................................................................. 50 CAPÍTULO 3 DIURÉTICOS E AGENTES MASCARANTES .................................................................................. 52 CAPÍTULO 4 NARCOANALGÉSICOS ........................................................................................................... 56 UNIDADE IV CONTROLE ANTIDOPING ..................................................................................................................... 59 CAPÍTULO 1 CONTROLE ANTIDOPING ........................................................................................................ 59 CAPÍTULO 2 TÉCNICAS PARA DETECÇÃO DE FÁRMACOS E/OU SEUS PRODUTOS DE BIOTRANSFORMAÇÃO ............................................................................................ 61 PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 69 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 74 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico- tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 7 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução Desde a criação dos jogos olímpicos, provavelmente em 776 a.C. o homem busca a glória de ser considerado o melhor, no caso o melhor atleta em suas modalidades. Há 4 mil anos os chineses tomavam, para trabalhar, um chá de uma planta chamada “machuang” que contem efedrina. Existem também, relatos que desde o início dos jogos olímpicos já haviam casos de doping, onde alguns atletas comiam alguns tipos de cogumelos, tomavam chás e utilizavam óleos, buscando melhorar a performance. Posteriormente, no século XIX, muitos atletas faziam o uso de uma bebida chamada “Vin Mariani”, advindas das folhas de cocaína. Logo após o fim da segunda guerra mundial os atletas começaram a utilizar substâncias que eram disponibilizadas aos soldados com o objetivo de diminuir o cansaço das trincheiras ou das longas marchas.Desde então, diversas formas de doping foram utilizadas com o objetivo de favorecer o atleta e de maneira representativa, a superioridade de sua nação. Foram utilizados desde caronas de carro as mais sofisticadas drogas e técnicas. Após a morte de dois atletas em 1960 e outra em 1964, causadas pelo uso de anfetaminas e outras drogas, o Comitê Olímpico Internacional decidiu criar uma comissão médica para atuar nas olimpíadas de 1968, sendo já em 1967 condenado o uso de doping. Desde então, diversas técnicas foram criadas para identificar substâncias proibidas pelo COI, na tentativa de coibir o uso do doping. Ao mesmo tempo muitas novas técnicas de dopagem e novas substâncias foram criadas por atletas e pesquisadores com o intuito de burlar a detecção destas drogas e permanecer à frente dos outros competidores, mesmo com a criação da (World Anti-Doping Agency). A verdade é que só o tempo poderá dizer se em algum momento da história o doping vai deixar de existir, ou se ele irá por fim deixar de ser proibido e passará a ser regulamentado. Por hora, nos resta apenas discutir como tudo se iniciou e apresentar os métodos mais atuais de dopagem, seus principais efeitos, efeitos colaterais, mecanismos de ação e suas formas de detecção. Objetivos » Aprofundar os conhecimentos teóricos sobre o tema. » Ampliar a compreensão das diversas concepções dobre o tema. » Fornecer ao aluno um maior entendimento sobre os principais métodos de dopagem. 9 » Analisar os diferentes mecanismos de ação das drogas apresentadas. » Compreender a necessidade de um atual controle da utilização de substâncias que melhoram a performace do atleta. 11 UNIDADE I REGULAMENTAÇÃO DE DROGAS NOS ESPORTES Antes de iniciar os estudos sobre o controle antidoping o aluno deve estar ciente que no presente contexto se faz necessário deixar claro que o termo droga utilizado no decorrer desse material, tratar-se-á de qualquer fármaco que seja empregado de modo não terapêutico pelo atleta. O fato da administração não resultar de indicação terapêutica, diz-se que houve abuso no consumo da droga. As substâncias químicas e os métodos que são utilizados na tentativa de melhorar o desempenho em atividades físicas e/ou mentais são conhecidos no mundo do esporte como doping. O Quadro abaixo (Quadro 1) apresenta alguns dados relevantes sobre o doping. Quadro 1. Fatos Importantes. Ano ou período Atividade. 1886 “Tour de France” de ciclismo, Linton morre sob efeito de estresse e speed ball (cocaína + heroína). 1904 Primeiro “susto” nas olimpíadas modernas. Thomas Hicks, maratonista, quase morre devido à mistura de brandy e estricnina. O mais incrível é que ele ficou com a “medalha de ouro”, que foi tirada do vencedor quando se descobriu que este havia feito o percurso de carona em um caminhão! 1930 Síntese das anfetaminas substitui a estricnina. 1952 Nos Jogos de Inverno de Helsinki competidores de corrida sobre patins passaram mal devi- do ao uso de anfetaminas. 1953 Anabolizantes sintéticos entram no mercado. 1956 Abuso de drogas flagrante nas Olimpíadas de Melbourne. 1960 Kurt Jensen, ciclista dinamarquês, morre por overdose de anfetamina nas Olimpíadas de Roma. 1964 Olimpíadas de Tóquio apresentaram atletas com musculatura surpreendente, lançando a suspeita de abuso de anabolizantes. 1967 Morre Tommy Simpson na “Tour de France” de ciclismo devido a estresse e uso de anfetaminas. 1976 Nadadoras alemãs nitidamente “fabricadas” por doping nas Olimpíadas de Montreal. 1980 Novamente as nadadoras alemãs se destacaram. 1988 Ben Johnson é flagrado pelo uso de estanozolol, um anabolizante sintético de última geração. Florence Griffith-Joyner, nitidamente moldada por anabolizantes, não é flagrada. 1990 Internet banaliza o acesso a, e uso de anabolizantes e “complementos nutricionais”. Fonte: Adaptado de Neto, 2001. De acordo com o código da World Anti-Doping Agency (WADA), ou seja, a Agência Mundial Antidoping, as três variáveis em que se baseia a definição moderna de doping são: 12 UNIDADE I │ REGULAMENTAÇÃO DE DROGAS NOS ESPORTES 1. Aumento ilícito do desempenho físico; 2. Prejuízo à saúde do atleta; 3. Contrário ao espírito do esporte. Quando duas destas três variáveis estão presentes, a substância ou método proibido pode ser incluído na lista proibida da WADA. O desafio de coibir a utilização dos métodos de dopagem entre os atletas começou em 1960, nessa época cerca de 30% das pessoas que participavam de eventos desportivos internacionais utilizavam algum tipo de estimulante químico, segundo relatos da época. Mas foi só em 1967 que o Comitê Internacional Olímpico – COI passou a condenar a dopagem de maneira categórica, havendo então a apresentação de uma lista contendo diversas substâncias que deveriam ser consideradas proibidas. Outros autores trazem que controle oficial pelo COI começou somente nos Jogos Olímpicos de Inverno de Grenoble, França, em 1968, mas só era possível comprovar a utilização de apenas alguns estimulantes e narcóticos tendo em vista que na época havia grandes limitações nos métodos de análise, porém nos últimos anos houve grande progresso na metodologia analítica. 13 CAPÍTULO 1 Órgãos regulamentadores – COI e WADA O COI e a WADA são os dois principais comitês internacionais que regulamentam a utilização de drogas no esporte. O papel desses comitês antidoping é: » Regular; » Testar; » Oferecer informações específicas para as diversas modalidades esportivas. A lista da WADA sofre alterações regionais? A lista é mundial e não sofre variações regionais ou locais. As variações ocorrem em relação aos esportes praticados. No tiro ao alvo, por exemplo, se investiga o uso de betabloqueadores, pois estas substâncias interferem diretamente em esportes que requerem redução nos batimentos cardíacos, no momento de sua prática. Atualmente os dois principais comitês internacionais que regulamentam as políticas antidopings são: a WADA e o Comitê Internacional Olímpico - COI. O WADA tem como principais propósitos: » Proteger o direito fundamental dos atletas de participarem de esportes livres de doping e assim, promover a saúde, justiça e igualdade entre atletas em todo o mundo; e » Garantir programas harmonizados, coordenados e eficazes antidoping a nível nacional e internacional no que diz respeito à detecção e prevenção de doping. A lista de substâncias e métodos proibidos considerados doping é revisada anualmente e tem servido de base para a elaboração de regulamentações próprias de outras federações esportivas. 14 UNIDADE I │ REGULAMENTAÇÃO DE DROGAS NOS ESPORTES De acordo com a WADA, as substâncias e os métodos que constam na lista apresentam como características, pelo menos, dois dos três seguintes critérios: » Possibilidade do aumento do desempenho; » Risco à saúde; » Violação do espírito esportivo. 15 CAPÍTULO 2 Classes de substâncias proibidas pelo Código Mundial de Dopagem O Código Mundial de Antidoping foi criado e implementado em 2004, já nos Jogos Olímpicos de Atenas. Este foi criado em conjunto por diferentes organizações esportivas com o intuito de definir e estabelecer quais substâncias deveriam ser consideradas proibidas. Ou seja, caso for detectado alguma dessas substâncias no sangue, urina ou algum outro método de detecção, o atleta será penalizado conforme a regra vigente. Todos os anos são realizadas atualizações no Código Mundial Antidoping com o objetivo de mantê-lo sempre atualizado, considerando que a cada ano são desenvolvidas novas drogas e métodos que podem ou não serem definidos como proibidos por proporcionar alguma vantagem desleal ao atleta ou por representar riscos a saúde do mesmo. Contudo, o Código Mundial Antidoping não tem o status de Lei pública internacional, não sendo necessariamente considerado crime o uso destas substâncias. A seguir, são apresentadas as classes de substâncias proibidas pelo código mundial antidoping válidas para o ano de 2014.Visite o site da World Anti-Doping Agency – WADA. Disponível em: <http:// www.wada-ama.org/>. Cômite Olímpico Internacional - COI . Disponível em: <http://www.olympic. org/>. Nesse site você encontrará a lista completa de medicamentos e drogas proibidas e muito mais informações sobre esportes e doping. Classes de substâncias proibidas pelo Código Mundial de Antidopagem (válida desde 1o de Janeiro de 2014) Estimulantes (Ex.: anfepramona, femoprex) Narcóticos e analgésicos (Ex.: bruprenorfina, diamorfina) Agentes Anabólicos Esteroides Anabólicos Androgênicos (Ex.: Clostebol, Androstenodiol, Testotesrona) Betabloqueadores Hormônios peptídicos, fatores de crescimento e substâncias relacionadas Agentes estimuladores da eritropoiese (Ex.: eritropoietina – EPO) Gonadotrofina coriônica humana (hCG – “anabolizante” Hormônio luteinizante (LH – “anabolizante”) Hormônio do crescimento (GH – “anabolizante” Fator de crescimento semelhante a insulina – 1 (IGF-1 – “anabolizante”) Eritropoetina (oxigenação) Fator de Crescimento derivado de Plaquetas (PDGF) Fator de Crescimento Endotelial-Vascular (VEGF) 16 UNIDADE I │ REGULAMENTAÇÃO DE DROGAS NOS ESPORTES Moduladores hormonais e metabólicos Inibidores da aromatase Moduladores seletivos de receptores de estogênios (SERMs) Agentes moduladores da função(ões) da miostatina (Ex.: inibidores da miostatina) Insulinas* Agentes com atividade anti-estrogênica** (Ex.: clomifeno, taximofeno) Diuréticos e outros agentes emascarantes*** (Ex.: diuréticos) * Permitido apenas para tratar diabéticos insulino-dependentes. ** Proibido somente para homens. *** Produtos que tem o potencial de dificultar a excreção de substâncias proibidas, diluir sua presença na urina ou em qualquer outra amostra usada no controle antidoping. Fique sempre atualizado! Pesquise na internet informações sobre o código mundial antidoping deste ano e compare se houve ou não alguma alteração, alguma inclusão de substâncias consideradas proibidas. 17 CAPÍTULO 3 Vigilância Sanitária Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA tem como campo de atuação todos os setores relacionados a produtos e serviços que possam afetar a saúde da população brasileira. Sua competência abrange tanto a regulação sanitária quanto a regulação econômica do mercado. A portaria no 344/1998 do Ministério da Saúde determina que haja fiscalização não somente na produção, mas como também no comércio, manipulação e uso de esteroides anabolizantes androgênicos, exercida em conjunto pelas autoridades sanitárias. A prescrição de anabolizantes necessita de Receita de controle especial – utilizada para a prescrição de medicamentos de tarja vermelha, com os dizeres “venda sob prescrição médica – só pode ser vendido com retenção da receita”, como substâncias sujeitas a controle especial, retinóicas de uso tópico, imunossupressoras e antirretrovirais, anabolizantes, antidepressivos etc. A fiscalização sanitária atua sobre o mercado de produtos oferecidos à população de maneira a identificar problemas e tomar ações que evitem ou minimizem os riscos à saúde. A partir da ação fiscalizadora são adotadas medidas sanitárias, como a retirada do mercado de produtos sem registro, produtos falsificados, com desvio de qualidade ou comercializados por empresas sem autorização da Agência. Pouco se tem sobre legislação federal que trata dos esteroides anabolizantes. Conforme a Lei Federal no 9.965 de 27 de abril de 2000, a qual restringe a venda de anabolizantes, traz que as receitas de medicamentos contendo substâncias anabolizantes devem trazer a identificação do profissional, o número de registro no conselho profissional, o número de Cadastro da Pessoa Física (CPF), o endereço e o telefone profissionais, além do nome e endereço do paciente e o Código Internacional de Doenças (CID), conforme reproduzido a seguir: Art. 1o - A dispensação ou a venda de medicamentos do grupo terapêutico dos esteroides ou peptídeos anabolizantes para uso humano estarão restritas à apresentação e retenção, pela farmácia ou drogaria, da cópia carbonada de receita emitida por médico ou dentista devidamente registrados nos respectivos conselhos profissionais. 18 UNIDADE I │ REGULAMENTAÇÃO DE DROGAS NOS ESPORTES Parágrafo único. A receita de que trata este artigo deverá conter a identificação do profissional, o número de registro no respectivo conselho profissional (CRM ou CRO), o número do Cadastro da Pessoa Física (CPF), o endereço e telefone profissionais, além do nome, do endereço do paciente e do número do Código Internacional de Doenças (CID) (...). O controle e a fiscalização da distribuição dos anabolizantes são extremamente complicados, uma vez que as farmácias que normalmente nem exigem receita médica. Além disso, não há dificuldade para comprar anabolizantes e suplementos proibidos sem receita, devido ao grande número de contrabando desse tipo de droga. Os artos 87 e 88 da Portaria no 344 da Anvisa descrevem como devem ser feitos os procedimentos de fiscalização e controle de estabelecimentos comerciais onde são comercializadas as substâncias anabolizantes. Mas os procedimentos realizados são genéricos e abrangentes, não contendo nenhuma especificação quanto à fiscalização e controle de quem realmente está utilizando essas substâncias, nem mesmo se há retenção das receitas. Fica claro que a legislação é insuficiente no que se refere ao uso indiscriminado de substâncias anabolizantes, sendo que a fiscalização e controle da Anvisa sobre os estabelecimentos comerciais que vendem essas substâncias são também restritos. Adicionalmente há a fiscalização por parte do Conselho Federal de Medicina, bem como dos Conselhos Regionais de Medicina e também de outras áreas profissionais, tais como do educador físico. Os respectivos Códigos de ética preveem desde multa até a cassação do registro profissional para os profissionais inscritos. Não existe ilegalidade na receita fundamentada e no uso prescrito de substâncias anabolizantes em geral, uma vez que essas drogas somente são proibidas pela legislação do antidoping esportivo e, portanto de uso ilegal apenas para atletas de competição. Autorização para uso terapêutico de substâncias restritas e proibidas Eventualmente um atleta poderá vir a necessitar de uma medicação que possua na sua formulação uma substância proibida ou restrita, por razões de saúde e por indicação médica. Atletas asmáticos necessitam eventualmente usar Beta-2 agonista ou corticosteroide, atletas hipertensos não podem muitas vezes prescindir de um diurético, e atletas 19 REGULAMENTAÇÃO DE DROGAS NOS ESPORTES │ UNIDADE I diabéticos insulino-dependentes devem continuar usando insulina. Neste e em outros casos, torna-se necessário contatar o Comitê Olímpico Brasileiro – COB ou a respectiva Confederação para solicitar uma permissão especial, que poderá ser concedida após a análise do diagnóstico da indicação apropriada de um determinado medicamento. 20 UNIDADE II TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES CAPÍTULO 1 Transportadores de Oxigênio O oxigênio (O2) é uma substância pouco solúvel no plasma sanguíneo, de todo oxigênio transportado pelo sangue, menos de 2% está solubilizado no plasma, o que tornaria a vida impossível. A presença da hemoglobina aumenta a capacidade do sangue transportar O2 entre 30 a 300 vezes, sendo esta o principal transportador de oxigênio no corpo humano. Como e porque transportadores de oxigênio são utilizados como forma de doping? A hemoglobina, que pode ser representada pelos eritrócitos, é o principal responsável pelo transporte de oxigênio do pulmão até o tecido muscular, o que nos leva então a entender os motivos da utilização de transportadores de oxigênio como método de dopagem, pois com o aumento da massa total dessas células possibilita um maior aporte total de oxigênio no organismo. A hemoglobina também é responsável por transportaraproximadamente 23% do CO2 produzido pelo metabolismo celular e com a massa total aumentada há também uma melhor capacidade da manutenção do pH sanguíneo, além de auxiliar no controle da temperatura corpórea, todas essas variáveis juntas podem levar a uma melhor performance do atleta. E quais são os métodos para aumentar a capacidade carreadora de oxigênio? Atualmente são conhecidos três métodos que podem incrementar a capacidade carreadora de oxigênio, são estes: » Transfusão sanguínea. 21 TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES │ UNIDADE II » Uso de captadores, transportadores e liberadores artificiais de oxigênio. » Uso de estimuladores da síntese de hemácias. Transfusão sanguínea ou Dopagem sanguínea: nada mais é do que uma transfusão de sangue onde, pode ser transfundido o sangue de um doador específico (infusão homóloga) ou do próprio atleta (infusão autóloga). A cada coleta sanguínea é armazenado aproximadamente 450ml de sangue, o mesmo é centrifugado para separar somente as hemácias estas, ficam armazenadas em torno de 4 a 5 semanas ou até que o hematócrito normal seja reestabelecido para que possa haver uma nova coleta ou então as hemácias são reinfundidas alguns dias antes da competição. Isto faz com que o hematócrito aumente rapidamente podendo perdurar por algumas semanas. A utilização desta técnica pode trazer sérios e graves riscos à saúde do atleta, como: trombose venosa, flebite, septicemia e reações alérgicas e/ou hemofílicas. Sem falar que quando o sangue é proveniente de outro doador existe o risco de transmissão de doenças infecciosas. Compreenda melhor o que é o doping sanguíneo. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=9PQgI0B_IWA> Transportadores artificiais de oxigênio: em teoria essas soluções foram desenvolvidas para a terapêutica quando há necessidade de substituição ou reposição de fluidos de sangue humano. Na prática, além disso, são utilizados como forma de doping. Existem duas classes principais dessas soluções: » Perfluorocarbonos (PFC): são substâncias sintéticas e podem dissolver um amplo volume de oxigênio e outros gases respiratórios na corrente circulatória, geralmente é encontrado junto a vitaminas e antibióticos entre outros. Figura 1. Perfluorocarbono disponível no mercado. Fonte: <http://www.moebiusqi.com.ar/site/2012/06/perfluorocarbono-energeria-5-ml/ > Acesso em: 15 set. 2014. 22 UNIDADE II │ TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES » Carregadores de hemoglobina oxigenada: são moléculas de hemoglobina microencapsuladas ou ligadas entre si podendo ser derivadas de humanos ou de bovinos conhecidas também como sangue artificial. Figura 2. Bolsa de sangue artificial. Fonte: <http://www.mindfully.org/GE/Blood-Substitute-Hemopure.htm>. Acesso em: 15 set. 2014. Estimuladores da síntese de hemácias A eritropoietina (EPO) é normalmente produzida pelos rins e estimula a produção de hemácias pela medula óssea. Atualmente, a EPO também é produzida de maneira sintética por laboratórios e comumente prescrita para pacientes com insuficiência renal, traumas, AIDS ou anemia entre outras. A EPO aumenta gradativamente o número de hemácias ao logo das semanas podendo perdurar por varias semanas. Alguns estudos demonstram que administração subcutânea permite a manutenção dos níveis de EPO sendo necessário um número menor de intervenções quando comparado à administração intravenosa. Em outubro de 2012, o então famoso ciclista Lance Armstrong foi banido das competições de ciclismo e perdeu todos os sete títulos como campeão do Tour da França. O motivo foi a descoberta de que em todas as competições o ciclista estava dopado, dentre as técnicas utilizadas e confirmadas pelo atleta em 2013 duas foram relacionadas a facilitação do transporte de oxigênio, infusão de hemácias e uso de EPO. Figura 3. Ampolas contendo EPO para uso terapêutico. Fonte:< http://www.carrovassoura.com/2012/10/o-que-e-afinal-o-doping.html>. Acesso em: 15 set. 2014. 23 TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES │ UNIDADE II As manipulações de amostras merecem atenção especial, pois são realizadas com objetivo de alterar a validade e integridade das amostras fornecidas pelos atletas, as amostras podem ser tanto substituídas como alteradas. 24 CAPÍTULO 2 Dopagem genética Primeiro faz-se necessário compreender que a terapia genética humana envolve a inserção de DNA (ou RNA), nas células somáticas (qualquer célula do corpo exceto gametas) para então produzir o efeito terapêutico desejado. Quando essa técnica surgiu, ela foi tida como um progresso no tratamento de diversas desordens genéticas. Em 2004, a WADA, definiu como doping genético como: o uso não terapêutico de células, genes e elementos gênicos, ou a modulação da expressão gênica, que tenham a capacidade de aumentar o desempenho esportivo. O fato é que a terapia gênica está em um estágio inicial de desenvolvimento e que, teoricamente, os atletas ainda não fazem uso desse tipo de estratégia de doping. Nesse momento nos cabe apenas citar os possíveis genes candidatos importantes ao uso indevido no meio esportivo. São eles: eritropoetina, bloqueadores da miostatina (folistatina e outros), vascular endothelial growth factor (VEFG), insulin-like growth factor (IGF-1), growth hormone (GH), leptina, endorfinas e encefalinas, e peroxissome proliferator actived receptor delta (PPARδ). Como alguns já se apresentam bem conhecidos como é o caso da eritropoetina, IGF-1 e GH, falaremos um pouco sobre os seguintes: Bloqueadores da Miostatina: a miostatina é uma proteína expressa na musculatura esquelética tanto no período embrionário quanto na idade adulta. Sua ação consiste em regular a proliferação dos mioblastos durante o período embrionário e a síntese proteica na musculatura esquelética durante e após o período embrionário. A miostatina inibe tanto a hiperplasia quanto a hipertrofia muscular, sendo que o ganho de massa muscular decorrente do bloqueio da miostatina se dá principalmente pelo aumento no número de fibras muscular. Tendo em vista esse papel da miostatina acredita-se que o bloqueio de sua sinalização, geralmente feito pela folistatina. Seja um dos candidatos de maior potencial de abuso no esporte, já que o ganho de massa muscular pode ser decisivo em diversas modalidades esportivas. A Figura 4 apresenta uma espécie de bovino (Azul Belga Forte), esta raça possui um “defeito” no gene da miostatina, o que faz com que o animal apresente uma massa muscular muito desenvolvida. 25 TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES │ UNIDADE II Figura 4. Espécie de bovino (Azul Belga Forte). Fonte: Retirada e Adaptada do artigo de McPherron A C and Lee J S. 1997. Os atletas que mais se beneficiam ao utilizar bloqueadores da miostatina são atletas que necessitam de grande força ou “explosão” muscular em modalidades onde o sistema anaeróbio é predominante, como levantamento de peso, corridas de velocidade? Arremesso de peso, lançamento dardo, disco e martelo ou em algumas posições em determinados esportes como o quarter back? No futebol americano, tendo em vista uma maior massa muscular e dessa maneira uma maior capacidade de gerar força. VEGF: o fator de crescimento do endotélio vascular, é uma proteína que desempenha importante papel no crescimento do endotélio vascular, na angiogênese e vasculogênese. A terapia gênica com VEGF é uma das poucas já utilizadas em seres humanos. Os atletas utilizam-se do doping genético por inserção vetorial do VEGF para estimular a vasculogênese (aumento do número de capilares no tecido) e dessa forma, aumentar de maneira relevante o fluxo sanguíneo para todos os tecidos. Com uma maior perfusão sanguínea o há um incremento no fornecimento de O2, na remoção de CO2 e outros metabólitos produzidos durante o exercício físico, aumentando assim o desempenho do atleta. De maneira resumida, espera-se que aoutilizar este método ocorra o aumento da produção energética, a diminuição da produção de metabólitos e por fim proporcionando ao indivíduo um retardo da fadiga. Mas quais atletas se beneficiariam mais com essa manobra? Com toda certeza não seriam os mais interessados aos atletas que praticam esportes onde a via predominante é a anaeróbia, nestes casos um melhor aporte sanguíneo 26 UNIDADE II │ TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES local, na melhor da hipóteses servirá para uma regeneração mais rápida do sistema energético. Já os atletas de endurance seriam os mais interessados nessa terapia, pois com um maior aporte sanguíneo no tecido muscular resulta em maior disponibilidade de O2 e outros nutrientes, podendo elevar o volume máximo de oxigênio (VO2máx), dessa maneira o atleta se beneficiará durante a competição, obtendo um maior desempenho. Esse tipo de terapia envolvendo o VEGF tem sido realizado entre os atletas de forma ilícita, por ser difícil determinar quando as alterações genéticas de um indivíduo são inatas ou artificiais. Leptina: trata-se de um hormônio peptídico o qual é produzido principalmente no tecido adiposo. Apresenta como principal ação a relação com o controle da sensação de fome e saciedade, redução do consumo alimentar e consequente perda de peso, também é um candidato para abuso como doping genético. Este pode ser utilizado por atletas que dependam de um maior controle do seu peso, como por exemplo, lutadores de judô onde, as categorias são divididas com base no peso dos atletas. Endorfinas e encefalinas: são peptídeos endógenos que possuem atividade analgésica. O uso desses genes como terapia gênica surge no sentido de melhorar o desempenho esportivo devido à diminuição da sensação de dor associada a algum tipo de lesão, fadiga ou excesso de treinamento. Fato esse que em teoria, permitiria que atletas treinassem mais, ou ainda evitaria seu afastamento mesmo que temporário de treinos e competições por pequenas lesões. PPAR-δ: as proteínas dessa família atuam como fatores de transcrição de genes envolvidos no metabolismo de carboidratos e lipídeos. Wang YX et. al., 2003 em seu estudo com camundongos obesos observou que o PPAR-δ diminui a quantidade de tecido adiposo, reduzindo o peso corporal e aumentando a termogênese. Seria, portanto, umas das justificativas para o interesse de atletas em usar PPAR-δ para doping genético. A melhora na oxidação lipídica, além de reduzir a adiposidade, o que é interesse para boa parte dos atletas, pois, haveria uma preservação nos estoques de glicogênio devido a maior oxidação dos ácidos graxos e consequentemente um aumento do tempo de tolerância ao esforço. Novamente Wang XY em 2008, estudaram o papel do PPAR-δ na conversão de fibras musculares do tipo II em fibras do tipo I(48), sendo este o segundo provável motivo para atletas se utilizarem desse para doping genético. Sendo assim, modalidades que 27 TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES │ UNIDADE II não dependem de força, porém exigem baixo peso e baixo percentual de gordura (como maratonistas, nadadores, patinadores, marchadores e outros) seriam potencialmente os mais interessados na transferência do gene PPAR-δ. Enfim, existem vários genes que teriam a capacidade de promover ganhos no desempenho atlético, o que poderia ser decisivo em muitas modalidades. Toda via os métodos tradicionais de detecção de doping ainda não são capazes de detectar o uso do doping genético. Esse fato faz com que a necessidade de ampliação de conhecimento sobre esse assunto seja intensificada, não só no meio cientifico, mas também no meio esportivo, com o propósito de que novas estratégias de controle e detecção sejam estudadas e colocadas em prática. E como pode ser introduzido um gene no genoma humano in vivo? A introdução de um gene no genoma humano pode ser feito pelos seguintes métodos: » Biológicos à vetor viral, onde vírus são manipulados de maneira a eliminar sua patogenicidade, contudo, sem eliminar sua capacidade de infectar as células do organismo. Em seguida, é colocado no DNA do vírus o gene de interesse, por meio de técnicas de engenharia genética. Assim, quando o vírus infectar uma determinada célula, terá consigo uma cópia do gene que se deseja expressar. » Físicos à injeção direta. Neste caso, é DNA é injetado com o auxílio de micromanipulador, diretamente no núcleo da célula. Porém, um número muito pequeno de células sofre de fato as alterações necessárias, geralmente as células mais próximas da região tratada. Por isso, apesar de ser a maneira mais simples, pois é direta e utiliza uma quantidade muito pequena de DNA em relação aos outros processos, é a menos utilizada. » Químicos à usando lipossomas. Lipossomas são um dos transportes de vetores não virais mais comuns, as esferas lipídicas podem ser um importante meio para a transferência gênica, não sendo necessário a introdução de um vírus, logo não há um risco com o qual se preocupar. O método mais utilizado para realizar essa transferência de material genético para a célula é pelo meio biológico. Os genes responsáveis pela síntese de hormônio do crescimento, do fator de crescimento tipo insulina (IGF-I) e da eritropoietina são exemplos de alguns genes mais específicos e/ou relevantes para o doping e que já se encontram disponíveis. 28 UNIDADE II │ TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES Devido ao fato deste tipo de doping ser relativamente novo, há poucas evidências sobre as consequências dessa prática. Quais são os métodos de dopagem? Como se dá a dopagem genética? 29 CAPÍTULO 3 Esteroides anabolizantes Logo no início da lista de substâncias proibidas pela WADA, já se encontram os esteroides anabolizantes. A lista é bem clara logo em suas primeiras frases quando diz: “Agentes anabolizantes são proibidos”. Contudo, ainda são muito utilizados por muitos atletas e não atletas na busca de melhores resultados. O documentário Bigger, stronger & faster (Maior, mais forte, mais rápido) retrata o uso de esteroides anabolizantes por uma família americana. Este documentário está atualmente disponível na internet. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=h8ADP6C7rKM>. Os hormônios esteroides podem ser agrupados em três categorias: » Estrogênio: hormônios femininos produzidos no ovário e sua ação desencadeia as características sexuais femininas. » Androgênio: hormônios masculinos produzidos principalmente nos testículos e responsável pela produção de características sexuais masculinas como: a massa muscular, a força, os pelos faciais e corporais, o engrossamento da voz e a velocidade de recuperação da musculatura. » Cortisona: produzida por ambos os sexos e tem efeito analgésico e anti- inflamatório. Ambos os sexos produzem os dois hormônios, porém com predominâncias diferentes. Os esteroides anabólicos são um subgrupo dos androgênios. Pelas suas propriedades anabólicas, aumentam a massa muscular e a força. Compreendendo... Exógeno à no contexto desta apostila, exógeno pode ser entendido como uma substância que o corpo não produz naturalmente; Endógeno à se refere a uma substância que pode ser naturalmente produzida pelo corpo. 30 CAPÍTULO 4 Esteroides Androgênicos Anabolizantes (EAA) Definição: São hormônios sexuais, responsáveis pelas características masculinas com alta capacidade de estimular síntese proteica. No homem adulto bem como no adolescente, os hormônios sexuais, os quais são denominados androgênicos ou andrógenos, incluem testosterona, diidrotestosterona e androstenodiona, sendo a principal fonte para a síntese destes hormônios o colesterol onde por meio de diferentes reações bioquímicas, que ocorrem principalmente nas gônadas, promovendo várias alterações na estrutura química da molécula alterando assim sua nomenclatura e principalmente sua ação no organismo. A Figura 5 apresenta de maneira didática como são formadosos hormônios a partir da molécula de colesterol e na figura 6 é possível observar que pequenas alterações na molécula, são capazes de causar grandes alterações na ação final desta. Por exemplo, o colesterol que não exerce diretamente nenhum efeito anabólico, é transformado em testosterona, esta sim com grande capacidade anabólica. E pequenas diferenças nos grupos substituintes dos anéis, por exemplo, hidroxilas (HO) podem alterar completamente a testosterona em desidroepiandrosterona, que é 20 vezes mais potente. No homem, a maior parte da testosterona circulante é produzida pelas células de Leydig (células que se encontram entre os tubos seminíferos, nos testículos, sintetizam a testosterona, quando estimuladas pelo hormônio luteinizante) produzem cerca de 95% do total de testosterona circulante enquanto os outros 5% são produzidos pela glândula suprarrenal. Outros EAA também são sintetizados no organismo como: » Di-hidrotestosterona (DHT): é por volta de 20 vezes mais potente que a testosterona, devido a maior afinidade por receptores androgênicos. Este é formado na próstata, testículos e glândulas adrenais, por meio da enzima 5α-redutase. » Androstenediona: a androstenediona não exerce uma função anabólica de maneira direta, esta é considerada um pré-hormônio, ou seja, um precursor da síntese de testosterona e estradiol. » Desidroepiandrosterona (DHEA): sintetizado pelas gônadas, glândulas adrenais e pele, entre outros. É também um precursor da testosterona. 31 TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES │ UNIDADE II Figura 5. Biossíntese da testosterona. A testosterona é sintetizada a partir do colesterol por uma sequência de cadeias enzimáticas dentro das células de Leydig, localizadas no interstício do testículo maduro. Fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2002001500013%094#figura10>. Acesso em: 29 set. 2014. Figura 6. Estrutura molecular do colesterol, testosterona, androsterona e desidroepiandrosterona. É possível observar a semelhança entre estas moléculas e que pequenas alterações, também alteram sua ação no organismo. Fonte: Próprio autor. 32 UNIDADE II │ TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES Os hormônios esteroides também são produzidos pelo córtex da suprarrenal e pelas gônadas femininas (ovário), porém em quantidade pouco significativa. A testosterona é produzida diariamente, nos homens, a sua concentração plasmática varia entre 0,2 à 1,0 µg/dl no adulto, sendo a produção diária de 2 à 10 mg. A testosterona também está presente no plasma de mulheres em concentrações de cerca de 15 à 65 ng/dL em função do ciclo menstrual. E é derivado em partes aproximadamente iguais dos ovários e glândulas suprarrenais e pela conversão periférica de outros hormônios. Esses hormônios sexuais exercem um papel muito importante no metabolismo basal, aumentando o número de hemácias, o volume de sangue e líquidos extracelulares, a síntese de proteínas e o desenvolvimento muscular a retenção de cálcio e crescimento ósseo, daí então o motivo de sua utilização para fins de dopagem. Os esteroides anabólicos androgênicos sintéticos produzidos pelas indústrias farmacêuticas são apresentados de diversas formas: creme, spray nasal, supositório, selo de fixação na pele (transdermal) e sublingual, porém os mais conhecidos e utilizados são esteroides orais e injetáveis. Os injetáveis são considerados menos nocivos do que os orais, porque não passam pelo processo de alcalinização, o qual pode causar disfunção hepática. Estes esteroides injetáveis passam para a corrente sanguínea via intramuscular. Outra vantagem é que os esteroides injetáveis de base oleosa são liberados aos poucos na circulação visto que o óleo se dissipa lentamente do local da aplicação devido a sua viscosidade. A desvantagem dos injetáveis é que eles apresentam maior nefrotoxidade. A testosterona foi produzida de maneira sintética pela primeira vez no ano de 1935, já em 1939 foi sugerido que sua utilização poderia aumentar o desempenho de atletas e a primeira vez em que seu uso foi detectado em esportes competitivos, ocorreu durante o ano de 1954, na Áustria, utilizado por atletas russos em um campeonato mundial de levantamento de peso. Os esteroides endógenos principalmente a testosterona são os preferidos devido sua dificuldade em ser detectada. Mas esteroides sintéticos como boldenona, nandrolona, metenolona e o estanozolol também são amplamente utilizados. Esses foram desenvolvidos a partir de alterações na estrutura química da testosterona tendo como objetivo a diminuição dos efeitos androgênicos e aumento da capacidade anabolizante. Segundo os autores Henrique M.G. Pereira; Monica C. Padilha e Francisco Radler de Aquino Neto existem alguns fatores que influenciam o perfil de EAA endógenos são eles: » Origem étnica da população; » Variações de gênero e intraindividuais; 33 TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES │ UNIDADE II » Patologias; » Condicionamento físico; » Tempo de coleta da urina; » Ingestão de substâncias (carne contaminada com hormônios, álcool, complementos nutricionais, esteroides anabólicos androgênicos e agentes mascarantes). Para conseguir os efeitos desejados é comum que os atletas frequentemente façam combinações diferentes com dois ou mais compostos em ciclos de semanas ou meses na tentativa de melhorar os efeitos do mesmo, esse empilhamento também é chamado de “stacking” . As doses utilizadas são no mínimo o dobro das doses indicadas na terapêutica, podendo facilmente ultrapassar em 10 vezes ou mais o valor das doses terapêuticas. Vale ressaltar, as quantidades tomadas estão longe de ser as quantidades hormonais endógenas, sendo assim levam a uma retroalimentação negativa (feedback negativo) o que provoca uma inibição da produção destes hormônios de maneira endógena, podendo em alguns casos causar atrofia das gônadas, tornando o indivíduo hipogonadal e um possível usuário da TRT (terapia de reposição hormonal). Especula-se que vários atletas famosos do The Ultimate Fighter (UFC) que fazem uso da TRT, fizeram o uso abusivo de EAA por um longo período. Os EAA são geralmente utilizados em ciclos, ou seja, iniciam com baixas doses que vão aumentando gradualmente até o meio do ciclo e da mesma forma gradual, diminuem até o final desses ciclos, que é chamado de pirâmide. Esses ciclos compreendem 4-18 semanas de utilização dos esteroides com a suspensão do tratamento variando de 1 mês a 1 ano. Já a frequência com que serão administrados irá depender diretamente ao tempo de meia-vida do anabolizante, ou seja, o período necessário para que seja metabolizado 50% da dose inicial, sendo que este é maior para os anabolizantes administrados por via oral. Dos vários tipos de EAA existentes, os mais utilizadas no Brasil, sendo por via oral ou injetáveis são: Oxandrolona (Anavar®), Undecanoato de Testosterona (Androxon®), Decanoato de Nandrolona (Deca-Durabolin®), Propionato de Testosterona, Fenilpropionato de Testosterona, Isocaproato e Caproato de Testosterona (Durateston®), Estanozolol (Winstrol®), Trembolona (Parabolan®) e Hormônio de Crescimento (GH). 1. Quais são as categorias que os hormônios esteroides podem ser agrupados? 2. Quais são os fatores que influenciam o perfil de EAA endógenos? 34 UNIDADE II │ TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES Principais efeitos Esteroides anabólicos quando administrados por longos períodos de tempo podem promover um ganho de massa muscular e concomitantemente um maior ganho de força para o atleta e devem melhorar o desempenho em modalidades que tais propriedades são requeridas. As fibras musculares aumentam tanto em número como em tamanho, devido aos efeitos pronunciados do estímulo de síntese proteica causados pela administração de anabolizantes. Outros efeitos não tão conhecidos são apresentados por do Vale. Se colaboradores, que demonstramque a utilização do DHEA causa uma ação contrária do cortisol no sistema nervoso central levando a um aumento da capacidade de concentração e melhora a memorização. Outros estudos também mostram a utilização do DHEA no tratamento da depressão. Toxicidade e efeitos adversos Vários são os efeitos adversos e indesejados causados por EAA como: depressão; dependência; doenças cardiovasculares (aterosclerose e infarto agudo do miocárdio); anormalidades hepáticas (colestases e tumores) e aumento da secreção das glândulas sebáceas tendo como consequência a formação exagerada de acne, oleosidade da pele e cabelo, alopecia, dermatite seborreica e hepatotoxicidade. Em mulheres que fazem uso desta droga pode ocorrer virilização, anovulação e amenorreia. O uso dos EAA por homens pode levar à atrofia testicular, infertilidade, perda de libido e ginecomastia. Figura 7. Toxicidade e efeitos adversos. Fonte: Retirada da Apostila da Coleção “Química no Cotidiano – Vol. 3” 35 TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES │ UNIDADE II Quando há a interrupção do uso dos EAA, na chamada Terapia Pós-ciclo, que é realizada com o intuito de evitar e minimizar os efeitos colaterais decorrentes a utilização de esteroides, tais como restaurar a produção endógena testosterona por meio do controle hipotalâmico-hipofisário e outros efeitos já descritos anteriormente, os protocolos que são seguidos para tal incluem o uso abusivo de fármacos como Clomifeno, Tamoxifeno e Vitamina E. Muito tem se falado sobre o desenvolvimento de tumores hepáticos Vs utilização de anabolizantes, esse fato pode ser explicado em partes, devido aos distúrbios causados no estado hormonal do organismo, pois após o uso de anabolizantes há uma redução acentuada e importante na produção de hormônios endógenos. Esses distúrbios na regulação hormonal refletem no metabolismo intracelular fazendo com que muitas células tornem-se alvos de substâncias carcinogênicas. A outra hipótese é o possível acúmulo de hepatócitos na veia hepática que prejudicaria a circulação sanguínea, causando acumulo de metabólitos carcinogênicos. 36 CAPÍTULO 5 Outros agentes anabólicos Existem algumas substâncias que não apresentam um mecanismo de ação similar aos esteroides, estas substâncias então, são agrupadas na classe de outros anabólicos, esse é o caso do: » Clembuterol: remédio para pacientes asmáticos. Este remédio é capaz de estimular as células marrons do corpo, inibindo a proteólise, sendo utilizado como um anticatabólico proteico. » Zeranol: um semissintético com atividade estrogênica proibido em vários países como Itália, Alemanha e Brasil. É na verdade um anabolizante utilizado em bovinos. » Zilpaterol: outro anabolizante utilizado em bovinos. Atua como um β-Agonista, estimulando receptores β2. No tecido adiposo ele estimula a lipólise e no tecido muscular a hipertrofia (será melhor explicado adiante). Hormônios como agentes de dopagem Eritropoietina (EPO): hormônio sintetizado principalmente pelos rins e regula a velocidade de síntese dos eritrócitos. Já a epoietina conhecida também como eritropoietina recombinante humana, é um derivado da eritropoietina preparada com técnicas da engenharia genética para tratamentos de doença como a anemia proveniente da falência renal crônica. Desde 2001, é comercializada uma forma modificada de eritropoietina conhecida como darbepoetina, sendo essa 10 vezes mais potente e sua meia vida mais longa quando comparada ao hormônio endógeno. Essas substâncias têm sido utilizadas por atletas na tentativa de estimular a produção de eritrócitos e assim aumentar a capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue, o que poderia assim melhorar o desempenho em esportes de resistência. O Council on Scientific Affairs of American Medical Association afirma que hematócritos acima de 0,55 estão associados com o risco de reações tóxicas como encefalopatias, distensão vascular, diminuição do fluxo sanguíneo e hipóxia. Após seu uso a produção de hemácias continua por 5 a 10 dias podendo atingir níveis perigosos, mas embora os níveis do hormônio administrado diminuam após uma semana, os efeitos biológicos ainda persistem por bastante tempo, pois os eritrócitos que foram produzidos permanecem de 3 a 4 meses na corrente sanguínea. 37 TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES │ UNIDADE II Gonadotrofinas: a gonadotrofina coriônica humana (hCG) é uma glicoproteína produzida em grande quantidade durante a gravidez. Com pico de concentração entre a 8a e a 10a semana seguida de declínio até a 20a semana. Em homens e mulheres não grávidas é secretada em pequenas quantidades. Mas essa glicoproteínas tem sido utilizadas por atletas para estimular a produção de testosterona antes das competições e ainda na prevenção de atrofia testicular, a qual é verificada durante ou após a utilização por tempo prolongado de substâncias androgênicas. Esse hormônio estimula não só a formação da testosterona mas também da epitestosterona sem que haja um aumento na relação existente entre essas substâncias (T/E). Outro efeito “benéfico”, em teoria, seria o estímulo na formação de eritrócitos, pois esse age sobre a produção de eritropoietina. A utilização de hGC pode apresentar alguns efeitos colaterais, efeitos esses que são indesejáveis para os homens: » Ginecomastia. Já em mulheres até o momento não há evidências que o uso de hCG possa melhorar o rendimento esportivo. Insulina: Seu uso se iniciou com o intuito de estimular a gliconeogênese bem como a síntese proteica. Vale ressaltar que essas informações não são comprovadas e adicionalmente o uso de insulina por indivíduos saudáveis pode levar a hipoglicemia letal. Seu uso só é permitido em atletas diabéticos insulino-dependentes. Corticotrofina (ACTH): utilizada como agente de dopagem por causar aumento nos níveis de corticosteroides endógenos no sangue, podendo assim diminuir possíveis inflamações e permitindo que o atleta se recupere mais rapidamente de uma lesão. Contudo, a sua utilização por tempos prolongados pode levar a efeitos negativos para o atleta como, por exemplo, diminuição da síntese proteica e o catabolismo proteico levando a uma perda da massa muscular, visto que corticosteroides têm um efeito proteolítico. Outros efeitos indesejados decorrentes da utilização do ACTH são: hipertensão arterial sistêmica; amenorreia; osteoporose; fraqueza muscular e síndromes psiquiátricas. Agentes com atividade antiestrogênica Inibidores de aromatase: possuem ação antiestrogênica. Foram inicialmente desenvolvidos para serem utilizados por mulheres principalmente na prevenção e no tratamento conjunto em cânceres de mama estrogênio-dependente. 38 UNIDADE II │ TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES A aromatase é uma enzima responsável por metabolizar a testosterona em estrona. A inibição dessa enzima é capaz de aumentar a concentração de testosterona plasmática em homens, sendo assim justificada sua proibição nos esportes. Outra utilização de inibidores de aromatase é para inibir efeitos colaterais como a ginecomastia. Até o presente momento nenhum efeito desta alteração na concentração de testosterona plasmática foi observado em mulheres. O fato é que o uso dos esteroides anabolizantes tem uma finalidade terapêutica muito importante em diversas patologias como é o caso das anemias atípicas, no sentido de estimular a produção de sangue nesses pacientes. Já em pacientes com AIDS, carcinomas são utilizados para estimular o apetite e promover o crescimento da massa corporal. A testosterona é prescrita ainda no sentido de suprir a deficiência da função endócrina dos testículos e aumentar a síntese proteica nos casos de hipogonadismo, puberdade e crescimento retardado. 39 CAPÍTULO 6 Terapia Pós Ciclo (TPC) Trata-se de um regime dietético e medicamentoso que suprime ou bloqueia o estrogênio, atuando diretamente sobre o eixo hipotálamo, pituitária etestículos. A TPC é realizada por usuários de esteroides anabolizantes no intuito de compensar e minimizar os efeitos decorrentes colaterais como ginecosmastia, atrofia dos testículos, perda de libido. Outra necessidade de realizar a TPC vai ao sentido de evitar a perda de massa muscular ao final do período de utilização dos esteroides anabolizantes. Drogas antiestrogênicas e moduladores seletivos do receptor de estrógeno como clomifeno, tomaxifeno, anastrozol e tribulus terrestris são utilizadas na tentativa de diminuir os efeitos resultantes da produção de estrógenos durante a utilização de EAA. Normalmente, deve-se iniciar a TPC após encerrar um ciclo. Abaixo, é apresentado um quadro demonstrando algumas das receitas utilizadas na terapia pós-ciclo. Observe que o intuito é de apresentar ao aluno algumas das loucuras realizadas por alguns indivíduos em busca de um melhor desempenho. Quadro 3. TPC SERMs (Selective Estrogen Receptor Modulators) . Semana 1 Semana 2 Semana 3 Clomifeno: 100mg/dia Clomifeno: 50mg/dia Clomifeno: 50mg/dia Tamoxifeno: 40mg/dia Tamoxifeno: 40mg/dia Tamoxifeno: 40mg/dia Vitamina E: 1.000UI/dia Vitamina E: 1.000UI/dia Vitamina E: 1.000UI/dia Semana 4 Semana 5 Semana 6 Tamoxifeno: 40mg/dia Tamoxifeno: 20mg/dia Tamoxifeno: 20mg/dia Vitamina E: 1.000UI/dia Fonte: Próprio autor. Das drogas prescritas nesta terapia tanto o clomifeno quanto o tamoxifeno exercem a mesma função, modular seletivamente os receptores de estógeno. Já a vitamina E é indicada como antioxidante. Porém, alguns estudos indicam que doses acima de 400UI/dia estão relacionadas com a perda da visão. Outra substância que pode ser utilizada é a gonadotrofina coriônica humana devido aos motivos mencionados anteriormente (aumento da produção de testosterona e epitestosterona). 40 UNIDADE II │ TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES Alguns usuários EAA também utilizam ou indicam o uso de uma erva conhecida como tribulus terrestris, uma erva daninha nativa de regiões quentes comumente conhecida como a “videira da punctura” (picada ou ferimento feito com punção). A tribulus terrestris tem sido usada durante séculos na Europa para tratamento da impotência e como estimulante para ajudar a aumentar o impulso e o desempenho sexual. É utilizado por muitos atletas na TPC ou durante períodos de treinamento, tendo como objetivo aumentar a liberação do hormônio luteinizante para, assim, aumentar a produção de testosterona. Acredita-se que este tem atuação positiva na força física e resistência, bem como na produção de espermatozoides, melhoramento da função erétil, podendo trazer benefícios para homens que desejam melhorar seu desempenho sexual e até mesmo para mulheres que desejam aumentar a libido. As últimas pesquisas sobre TT não foram capazes de demonstrar nenhuma relação entre a ingestão de TT e o aumento na produção de testosterona tornando-o inútil como agente de TPC. Moduladores seletivos de receptores Androgênicos Agonistas β2 Definição Os agonistas de receptores β podem ser utilizados para estimular a frequência cardíaca e a força de contração cardíaca. Alguns exemplos dessas drogas são: salbutamol, atenolol, bisoprolol, carvedilol, metropolol, nadolol, propranolol. Esses fármacos são utilizados no tratamento da asma e cardiopatias. O uso oral desses fármacos pode aumentar a resistência e diminuir a fadiga muscular, porém a dose a ser utilizada visando o aumento da performance tem que ser de 10 a 20 vezes maior que a utilizada para fins terapêuticos. O uso de forma inalatória dessa classe de medicamentos não ocasiona nenhum efeito no desempenho de atletas não asmáticos, muito menos causa algum efeito anabólico, porém torna-se importante sua citação uma vez que ocasiona uma melhora na função pulmonar, devido à broncodilatação, podendo proporcionar uma maior captação e O2 e eliminação de CO2 pelas vias aéreas. 41 TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES │ UNIDADE II É considerado o uso não terapêutico planejado de salbutamol e fomoterol quando a concentração destes na urina for: » Salbutamol: superior a 1000 ng/ml; » Formoterol: superior a 40 ng/ml. Sendo assim, considerado como um resultado analítico adverso, a menos que o atleta prove, por meio de um estudo farmacocinético controlado, que este resultado anormal é consequência do uso da dose terapêutica inalada até o limite máximo exposto acima. 42 CAPÍTULO 7 Hormônio do Crescimento (GH) O GH (growth hormone), também chamado de hormônio do crescimento é secretado pela hipófise anterior e exerce importantes efeitos no crescimento de todos os tecidos. Enquanto o hormônio liberador do hormônio do crescimento (GHrh), que é sintetizado no hipotálamo, estimula a liberação do GH pela hipófise anterior. Há também um hormônio responsável pela a inibição da secreção de GH, chamado de somatostatina. Inicialmente imaginava-se que o GH era o principal responsável pelo crescimento dos tecidos. Porém, há alguns anos descobriu-se que este, ao passar pelo fígado, estimula a liberação hepática de somatomedinas, principalmente a somatomedina C, também conhecida como fator de crescimento do tipo insulina – IgF – 1, esta sim promovendo o crescimento sendo a atividade dessas duas substâncias no músculo, similares, variando a intensidade do efeito. Efeitos desejados » Estimula a síntese proteica e o crescimento; » Aumenta a gliconeogênese hepática; » Bloqueia a entrada de glicose no tecido adiposo a fim de favorecer a mobilização de gordura. Sabe se que o GH aumenta a síntese proteica muscular, mas a proteína do tecido conjuntivo — o colágeno aumenta mais do que a proteína contrátil. Deve-se a isso o fato de muitas vezes o ganho de força não ser proporcional ao ganho de massa muscular. Acredita-se ainda que seu uso reduza os depósitos de gordura, pois, facilita a entrada da gordura na célula muscular na forma de acetilcoenzima A (acetil-CoA) e produz efeitos similares aos dos esteroides anabólicos, sem apresentar os mesmos efeitos adversos. A alta ingestão de aminoácidos associada à realização de exercícios físicos também pode estimular a secreção de GH, sendo assim muitas vezes os atletas aumentam a intensidade de seus treinos e consomem uma dieta rica em proteínas. Toxicidade e efeitos adversos O GH provoca efeitos que influenciam negativamente no metabolismo de carboidratos, são eles: 43 TRANSPORTADORES DE OXIGÊNIO, DOPING GENETICO E ANABOLIZANTES │ UNIDADE II » Diminuição da captação de glicose pelo músculo esquelético e pelas células de gordura. » Aumento da gliconeogênese, processo de síntese de glicose feito pelo fígado. » Aumento na secreção de insulina. Veja que estes efeitos estão relacionados entre si, ou seja, a diminuição da captação de glicose e o aumento da gliconeogênese elevam a concentração de glicose sanguínea o que gera uma maior liberação de insulina. Todos estes efeitos estão relacionados com resistência a insulina, podendo a lingo prazo, ocasionar efeitos como a Diabetes tipo II. Por isso, os efeitos do GH também são conhecidos como diabetogênicos. Figura 8. Efeitos colaterais do uso excessivo de GH. Fonte: Adaptada de Cuneo RC, Wallace JD, Sönken P. Growth hormone abuse in elite athletes. In: Karch SB, editor. Drug abuse handbook. Boca Raton: CRC Press, 1998. 44 UNIDADE IIIESTIMULANTES E ANOREXÍGENOS CAPÍTULO 1 Simpatomiméticos Entre os estimulantes, os simpatomiméticos são os mais utilizados como agentes de dopagem. Estas substâncias mimetizam (imitam) os efeitos causados por um aumento da atividade do sistema nervoso simpático. Quando consumidas em doses terapêuticas, provocam sensação de maior energia e capacidade de concentração, porém estes efeitos irão sempre depender da dose utilizada, da via de administração e padrão de uso. Seus efeitos indesejados incluem: » Taquicardia; » Anorexia; » Insônia; » Irritabilidade; » Hipertensão; » Cefaleia; » Ansiedade;» Tremor. A maioria dos efeitos adversos observados na utilização desses é resultante do excesso de estímulo do SNC (Sistema Nervoso Central) e incluem além dos já citados acima: » Vertigem; » Tremor; » Reflexos hiperativos; 45 ESTIMULANTES E ANOREXÍGENOS │ UNIDADE III » Aumento da libido; » Delírio; » Paranoia; » Alucinações. São observados também efeitos cardiovasculares como: » Palpitações; » Angina; » Arritmias; » Hiper ou hipotensão; » Bradi ou taquicardia; » Colapso cardiovascular. A utilização abusiva de anfetaminas em grande escala ocorreu durante a II Guerra Mundial, época em que foram realizadas pesquisas para sintetizar substâncias na tentativa de retardar o aparecimento de fadiga nos soldados. Uma metanfetamina chamada Pervitin® a qual foi desenvolvida na Alemanha e utilizada de forma ampla por pilotos em voos noturnos e por soldados durante as longas marchas realizadas. A utilização desse fármaco fazia com que aumentasse o tempo necessário para que a exaustão fosse atingida e sendo assim os soldados continuavam a marchar apesar da formação de bolhas nos pés. Anfetaminas Definição Anfetaminas são estimulantes utilizados, sobretudo na recuperação da fadiga e aumento da resistência. É uma amina simpatomimética e uma das mais potentes na estimulação do SNC. Várias mortes de atletas que utilizavam anfetaminas, já foram registradas, mesmo em doses consideradas normais, a utilização das mesmas tem causado a morte de atletas quando em condições de atividade física máxima. Em 1960, o ciclista dinamarquês Knut Jenseh, morreu durante a Olimpíadas de Roma após ingerir anfetaminas. O laudo médico inicial informava que o atleta teria morrido devido à insolação, porém, a autópsia comprovou que o atleta havia ingerido grandes quantidades de anfetaminas. 46 UNIDADE III │ ESTIMULANTES E ANOREXÍGENOS O femproporex e o clobenzorex, que são derivados das anfetaminas, são utilizados amplamente como anorexígenos no Brasil, com indicação médica no tratamento da obesidade. Esses derivados se transformam no organismo por meio de reações bioquímicas, em anfetaminas. Efeitos desejados Seus efeitos mais pronunciados são: » Maior estado de vigília e alerta; » Menor sensação de fadiga; » Maior autoconfiança e capacidade de concentração. A intoxicação por estimulantes leva a uma ativação excessiva do sistema nervoso simpático, tendo como resultantes a taquicardia e a hipertensão os quais podem levar a um infarto agudo do miocárdio. Esse tipo de intoxicação cursa com um importante componente que é a “queda brusca”, que ocorre como uma diminuição do efeito da droga. Alguns sinais e sintomas como a disforia, fadiga, irritabilidade e a depressão ocorrem frequentemente algumas horas após o termino do efeito do estimulante. Toxicidade e efeitos adversos As anfetaminas exercem ações poderosas no Sistema Nervoso Central (SNC). Respostas Cardiovasculares: » Elevação da pressão arterial; » Diminuição da frequência cardíaca (uso crônico). Respostas do SNC » Alteração no controle da temperatura corporal; » Midríase; » Ansiedade; » Crises convulsivas e outros. 47 ESTIMULANTES E ANOREXÍGENOS │ UNIDADE III No filme Requiem for a dream, em português Réquiem para um sonho, de 2000, é retratado o uso de diferentes drogas. Neste a personagem Sara Goldfarb, protagonizado pela atriz Ellen Burstyn, passa a utilizar anfetaminas. O filme retrata nesta personagem como esta droga pode ser prejudicial, apresentando alguns de seus efeitos colaterais. Vale ressaltar que o desempenho de algumas tarefas mentais simples é aprimorado, mas embora o indivíduo possa realizar mais trabalho, o número de erros que o mesmo pode vir a cometer aumenta. Assim, quando falamos de desempenho físico, melhora-se por este motivo que tal fármaco é com frequência utilizado. Seus efeitos tóxicos agudos normalmente são extensões de seus efeitos terapêuticos e em geral resultam de superdosagem. » Efeitos no SNC: inquietação, tontura, tremor, reflexos hiperativos, irritabilidade, fraqueza, insônia, ansiedade, confusão. » Efeitos cardiovasculares: muito comuns e incluem cefaleia, dor anginosa, arritmias cardíacas, hipertensão ou hipotensão e colapso circulatório. Sua dose tóxica pode variar amplamente. Um estudo que avaliou jogadores de futebol americano mostrou que indivíduos que atuam em posições que exigem grande concentração tendem a utilizar doses mais baixas (5-10mg) enquanto jogadores de defesa e ataque, os quais necessitam de maior força e agressividade fazem uso de até 150mg antes das partidas. O uso de anfetaminas voltou a preocupar recentemente devido ao seu consumo por via respiratória. Usuários de droga descobriram que a metanfetamina poderia ser “fumada”, tendo como vantagem que o tempo de duração dos efeitos é muito mais prolongado. Nessa forma, a metanfetamina é conhecida como ice. Outra substância que os atletas têm utilizado é a Efedrina. A qual é um agonista tanto de receptores α quanto β, também intensifica a liberação de norepinefrina dos neurônios simpáticos, sendo, portanto um agente simpatomimético de ação mista. Os alcaloides provenientes da ephedra são utilizados no tratamento de asma e alergias. Mas essa substância tem sido utilizada por atletas de modalidades esportivas que exigem massa muscular desenvolvida e vigor físico acentuado. Como a maioria das drogas, seus efeitos psicomotores são dose-dependentes. Em doses de 75-150mg/70 Kg, pode produzir efeitos similares aos das anfetaminas (em doses de 15-30mg/70 Kg). Quando em doses consideradas terapêuticas, ou seja, 25mg/70 Kg, produz efeitos periféricos, 48 UNIDADE III │ ESTIMULANTES E ANOREXÍGENOS mas em doses acima de 75mg/70 Kg, pode atravessar a barreira hemato encefálica e produzir efeitos no SNC. Alguns simpatomiméticos como a própria efedrina pode ser normalmente encontrada em remédios utilizados para resfriados, gripes e alergias. Sendo assim, é preciso que o atleta receba orientação para não utilizarem tais medicamentos quando em período de competições. Mas vale ressaltar que concentrações urinárias abaixo de 10µg/mL de efedrina são toleradas pela WADA. Apesar de parecer pouco provável o doping por cocaína é bem frequente e preocupante entre os atletas, inclusive atletas consagrados. Diversas mortes foram relatadas devido ao consumo dessa droga, principalmente quando eram combinadas com estimulantes e agentes anabolizantes. Mas na maioria dos casos onde a cocaína é utilizada não fica caracterizado a finalidade do uso, se é o aumento no desempenho atlético ou se era uso “recreativo”. Em doses menores é possível que a cocaína produza efeitos similares aos anfetamínicos no desempenho atlético, porém em provas de longa duração os atletas dão preferência ao uso de anfetaminas, devido à sua meia-vida biológica (7-14h) ser maior que a da cocaína (85 minutos). Inibidores de receptação de Serotonina Os Inibidores de receptação de serotonina (IRS) fazem parte da classe de fármacos usados no tratamento das síndromes depressivas, transtornos de ansiedade e alguns tipos de transtorno de personalidade. Agem bloqueando a recaptura de monoaminas, principalmente norepinefrina (NE) e serotonina (5-HT). São exemplos desses medicamentos: citalopram, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina, sendo que a sertralina e paroxetina são os mais potentes inibidores de recaptação. Os IRS atuam aumentando a concentração extracelular do neurotransmissor serotonina ao inibir a sua recaptação pelo neurônio pré-sináptico, com esse aumento do nível de serotonina disponível para se ligar ao receptor pós-sináptico. Esses medicamentos são utilizados em casos de depressão leve, ataques de ansiedade ou pânico e distúrbio bipolar. Eles são menos perigosos que os tricíclicos e não causam efeitos secundários autônomos, mas são possivelmente menos eficazes em casos de depressão profunda. 49 ESTIMULANTES E ANOREXÍGENOS │ UNIDADEIII Em pessoas saudáveis e nas primeiras semanas em deprimidos os efeitos são: » Sedação; » Confusão; » Perda da coordenação motora precisa. Toxicidade e Efeitos adversos » Náuseas; » Falta de apetite = anorexia (não confundir com anorexia nervosa, que subentende uma distorção mental do próprio corpo por parte do indivíduo); » Insônias; » Diminuição da função sexual; » Possível aumento de hostilidade, violência. 50 CAPÍTULO 2 Produtos naturais Cafeína Existem diversos recursos ergogênicos oriundos de fontes naturais, ou seja, podem ser obtidos por meio da alimentação incluindo bebidas como é o caso da cafeína. A cafeína também proporciona um efeito estimulante do sistema nervoso central. Esta vem sendo utilizada há muitos séculos como estimulante, sendo facilmente encontrada em algumas bebidas como café e chás. Atualmente também é encontrada em refrigerantes, chocolates, outros alimentos e uma infinidade de medicamentos. A utilização de cafeína é considerada um recurso ergogênico, pois, pode aumentar o rendimento esportivo de um atleta. A cafeína pode aumentar o rendimento de um atleta através dos seguintes mecanismos: » Atuando como um estimulante do Sistema Nervoso Central (SNC), onde ocorre um aumento da atividade simpática estimulando também a liberação de adrenalina, noradrenalina, acetilcolina (no músculo) entre outros, estimulando broncodilatação, vasodilatação e aumentando a força de contração muscular podendo assim ser utilizada por atletas que necessitam de “explosão muscular” (halterofilistas, corredores entre outros). » Pode também atuar em co-produtos da musculatura esquelética, causando alterações na concentração de íons e modulando positivamente a liberação do íon cálcio no sarcoplasma. » Aumento no potencial de oxidação dos ácidos graxos, poupando os estoques de glicogênio, dessa maneira prolongar a duração de um exercício, sendo assim, muito utilizada por atletas de endurance, por exemplo, ciclistas de longa distância. Em 1984, a cafeína foi introduzida, pelo Comitê Olímpico Internacional – COI, na lista de substâncias proibidas sendo permitido somente concentrações abaixo de 15mcg/ ml na urina e assim permaneceu. Após a criação da WADA a cafeína foi também introduzida na “lista proibida” em 2003 e logo no ano seguinte, 2004, foi retirada da lista. Os principais motivos eram que a excreção na urina não refletia exatamente a dose utilizada pelo atleta, variando muito entre os atletas. Outra razão, é que era difícil 51 ESTIMULANTES E ANOREXÍGENOS │ UNIDADE III diferenciar a utilização da cafeína ingerida com propósitos sociais da consumida com propósitos ergogênico, já que uma xícara contendo 60ml, dependendo do modo de preparo, do tipo do café, pode conter facilmente 70mg de cafeína. Atualmente a cafeína é considerada pela WADA uma substância que necessita de monitoramento, podendo ou não voltar à lista de substâncias proibidas caso note-se um uso abusivo desta por parte dos atletas. 52 CAPÍTULO 3 Diuréticos e agentes mascarantes Diuréticos Não podemos deixar de falar dos diuréticos quando falamos de doping. Devido ao aumento de substâncias restritas, os atletas passaram a utilizar fármacos que até então não tinham seu uso considerado proibido, mas que poderiam retardar ou diminuir a eliminação dos produtos de dopagem, dificultando assim a detecção nos exames, como é o caso dos diuréticos. Os diuréticos são substâncias com predomínio sintético, atuam diretamente nos rins sobre a função tubular aumentando a formação de urina. A utilização ilícita dos diuréticos nos esportes surgiu na década de 1970, tornou-se bem popular entre os atletas por trazer vantagens mesmo que de forma indireta, na performance dos atletas, bem como por desempenhar a ação de agente mascarante, dificultando assim a identificação de outras substâncias além de também promover a redução do peso corporal, o que é muito muito necessário em modalidades onde a divisão pode ser feita pelo peso do atleta, como no judô. Vale lembrar que no Brasil as especialidades farmacêuticas que contem diuréticos podem ser adquiridas sem prescrição médica nas farmácias. Os diuréticos podem ser divididos em cinco categorias de acordo com seus mecanismos de ação, são elas: 1. Inibidores da anidrase carbônica: o uso desse diurético causa uma maior eliminação de Na+ na urina, o que está diretamente relacionado com o transporte de água, tornando a urina mais diluída e elevando o pH, este tipo de medicamento caiu em desuso, mas ainda pode ser utilizado com o objetivo de mascarar um exame; 2. Diuréticos de alça: atua na diretamente na alça de Henle causando uma maior excreção de água e íons sódio. Um representante conhecido desta classe de diuréticos é o Furosemida, muito utilizado quando o objetivo do atleta é perder peso; 3. Tiazídicos: Assim como os inibidores da anidrase carbônica, este grupo de diuréticos age, aumentando o volume e diminuindo a concentração 53 ESTIMULANTES E ANOREXÍGENOS │ UNIDADE III da urina. Porém, agem de maneira a reduzir a reabsorção tubular tanto proximal quanto distal principalmente dos íons sódio, potássio e magnésio; 4. Poupadores de potássio: são geralmente utilizados para o controle da hipertensão e insuficiência cardíaca congestiva. Estes aumentam a excreção de sódio e cloreto, reduzindo a excreção de potássio. Também são conhecidos como antagonistas da aldosterona, porque atuam de forma antagônica no sistema renina-angiotensina-aldosterona. Tais fármacos são empregados em situações de hipertensão, insuficiência cardíaca, insuficiência renal, síndrome nefrótica e cirrose. A utilização de diuréticos no mundo dos esportes tem por finalidade: » Aumentar o fluxo urinário; » Reduzir rapidamente o peso corpóreo, » Impedir a retenção de água no organismo (o que é muito frequente em usuários de esteroides anabólicos.) A diluição da amostra altera as concentrações urinárias de substâncias proibidas, dificultando assim sua identificação. Os atletas se utilizam dessa substância para reduzir de peso de forma rápida, em intervalos de tempo muito curtos, permitindo assim a inclusão do atleta em determinada categoria, uma vez que a pesagem é realizada no período pré-competição. Após rápida hidratação posterior o coloca em vantagem sobre o adversário de menor peso. Toxicidade e efeitos adversos Os efeitos adversos incluem a desidratação, dores de cabeça, náuseas, câimbras vertigens. Outro efeito adverso no caso dos inibidores da anidrase carbônica é uma acidose sanguínea, ou seja, a redução no pH sanguíneo já que este, causa uma maior retenção de íons H+, por outro lado, os diuréticos tiazídicos por causar uma grande eliminação de sódio sem alterar a eliminação de H+ podem causar uma alcalose metabólica. Em ambos os casos o atleta pode ser fortemente prejudicado devido ao desequilíbrio ácido/base no sangue. Atletas que necessitam deste controle é exigido por muito tempo procuram utilizar diuréticos de outras classes para não prejudicar o seu desempenho. Dentro da família dos tiazídicos vale ressaltar que eles interferem na síntese de insulina e esta interferência pode gerar uma hiperglicemia e agravar as condições de saúde de diabetes mellitus pré-existente. 54 UNIDADE III │ ESTIMULANTES E ANOREXÍGENOS No controle de dopagem nos esportes de diuréticos, ressalta-se que a urina diluída e com pH acima de sete, pode ser um indicativo do uso de diuréticos. No caso dos diuréticos, a metodologia utilizada para a triagem deve ser a mais abrangente possível, deve envolver substâncias ácidas e básicas bem como produtos de biotransformação. Os diuréticos não influenciam diretamente no rendimento do atleta. Então, por que estão na lista de substâncias proibidas da WADA? Os diuréticos são considerados os “agentes mascarantes” e são proibidos, porque podem mascarar a presença de outras substâncias proibidas e que estão na lista da WADA. No controle de dopagem, os diuréticos
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