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DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL A Faculdade Multivix está presente de norte a sul do Estado do Espírito Santo, com unidades presenciais em Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória, e com a Educação a Distância presente em todo estado do Espírito Santo, e com polos distribuídos por todo o país. Desde 1999 atua no mercado capixaba, destacando-se pela oferta de cursos de graduação, técnico, pós-graduação e extensão, com qualidade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sempre primando pela qualidade de seu ensino e pela formação de profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho. Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo de Instituições de Ensino Superior que possuem conceito de excelência junto ao Ministério da Educação (MEC). Das 2109 instituições avaliadas no Brasil, apenas 15% conquistaram notas 4 e 5, que são consideradas conceitos de excelência em ensino. Estes resultados acadêmicos colocam todas as unidades da Multivix entre as melhores do Estado do Espírito Santo e entre as 50 melhores do país. MISSÃO Formar profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho, com elevado padrão de quali- dade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores. VISÃO Ser uma Instituição de Ensino Superior reconhecida nacionalmente como referência em qualidade educacional. R E I TO R GRUPO MULTIVIX R E I 2 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 3 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 BIBLIOTECA MULTIVIX (Dados de publicação na fonte) Maríllia Rodrigues Mazzola Direito Agrário e Ambiental / MAZZOLA, M. R. - Multivix, 2022 Catalogação: Biblioteca Central Multivix 2022 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. 4 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LISTA DE QUADROS UNIDADE 2 Tabela 1 – Valor da Terra nua tributável 41 UNIDADE 6 Tabela 1 – Definição de sustentabilidade 132 5 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LISTA DE FIGURAS UNIDADE 1 Figura 1 – Direito Agrário 14 Figura 2 – Revolução Industrial 16 Figura 3 – Agenda do Direito Agrário 17 Figura 4 – Constituição Federal 18 Figura 5 – Registro de Imóveis 21 Figura 6 – Cultivo da terra 23 Figura 7 – Atividades de pesquisas 26 Figura 8 – Latifúndios 26 Figura 9 – Edifícios públicos em Brasília 27 Figura 10 – Terra devoluta 27 UNIDADE 2 Figura 1 – Imóvel rural 32 Figura 2 – Constituição 36 Figura 3 – Indenização 38 Figura 4 – Imposto e tributos 39 Figura 5 – Proteção das manifestações de culturas populares. 42 Figura 6 – Índios 43 Figura 7 – Trabalho rural 52 UNIDADE 3 Figura 1 – Estatuto da Terra 55 Figura 2 – Função social 57 Figura 3 – Imóvel rural 60 Figura 4 – Tributação 62 Figura 5 – Desenvolvimento rural 63 Figura 6 – Agricultura 64 Figura 7 – Produtividade agrícola 66 Figura 8 – Política agrária 68 Figura 9 – Fundos e financiamentos 73 6 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 UNIDADE 4 Figura 1 – Amazônia Legal 78 Figura 2 – Desmatamento 79 Figura 3 – Amazônia Legal 81 Figura 4 – Cartório de Títulos de Imóveis. 83 Figura 5 – Indígenas 85 Figura 6 – Alienação ou concessão de direito real de uso 87 Figura 7 – Ocupações 88 Figura 8 – Mapa do Brasil 91 Figura 9 – Desenvolvimento Agrário 93 Figura 10– Cumprimento de condições de regularização de áreas ocupadas 94 UNIDADE 5 Figura 1 – Contratos 97 Figura 2 – Contratos agrários 99 Figura 3 – Acordos e convênios 102 Figura 4 – Parcerias 104 Figura 5 – Função social da terra 107 Figura 6 – Perícia judicial 116 UNIDADE 6 Figura 1 – Direito Ambiental 120 Figura 2 – Meio ambiente 124 Figura 3 – Gerações 125 Figura 4 – Princípios jurídicos ambientais 128 Figura 5 – Sustentabilidade 131 Figura 6 – Sustentabilidade e a participação popular 133 Figura 7 – As responsabilidades do Direito 134 Figura 8 – Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente de 1972 137 7 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 8 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 10 1 DIREITO AGRÁRIO NO BRASIL 13 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 13 1.1 INTRODUÇÃO AO DIREITO AGRÁRIO 13 1.2 INSTITUTOS JURÍDICOS AGRÁRIOS 19 2 PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL DO BRASIL E GRUPOS SOCIAIS AFE- TADOS 31 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 31 2.1 PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL DA PROPRIEDADE 31 2.2 GRUPOS SOCIAIS AFETADOS 41 3 ESTATUTO DA TERRA 55 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 55 3.1 NORMAS DO ESTATUTO DA TERRA 56 3.2 REFORMA AGRÁRIA 65 4 AMAZÔNIA LEGAL 77 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 77 4.1 PRESSUPOSTOS E CONTEXTO 77 4.2 REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA NA AMAZÔNIA LEGAL 84 5 CONTRATOS AGRÁRIOS E PERÍCIA JUDICIAL 97 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 97 5.1 CONTRATOS AGRÁRIOS 97 5.2 DESAPROPRIAÇÃO, USUCAPIÃO E PERÍCIA JUDICIAL 107 6 FUNDAMENTOS DE DIREITO AMBIENTAL 119 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 119 6.1 PRESSUPOSTOS E SISTEMÁTICA DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO 119 6.2 SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE E DIREITO INTERNACIONAL AMBIENTAL 130 1UNIDADE 2UNIDADE 3UNIDADE 4UNIDADE 5UNIDADE 6UNIDADE 9 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ATENÇÃO PARA SABER SAIBA MAIS ONDE PESQUISAR DICAS LEITURA COMPLEMENTAR GLOSSÁRIO ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM CURIOSIDADES QUESTÕES ÁUDIOSMÍDIAS INTEGRADAS ANOTAÇÕES EXEMPLOS CITAÇÕES DOWNLOADS ICONOGRAFIA 10 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2022), a população brasileira já ultrapassa 214 milhões de habitantes. Como fazer para tornar possível a convivência entre tantas pessoas, cada uma pos- suindo suas vontades, suas opiniões, suas necessidades e assim por diante? Desde tempos imemoriais, em que os humanos passaram a viver em comu- nidade, passaram a ser criadas normas que possibilitassem esse convívio. À medida que as comunidades cresciam e as relações se tornavam mais com- plexas, surgiram regras específicas para cada área de relação (comércio, cri- mes, tributos etc.). Em linhas gerais, Direito é a ciência que estuda as normas que regem a con- vivência humana. Conforme a área estudada, subdivide-se em Direito Civil, Direito Penal, Direito Trabalhista e assim por diante. Cada país possui sua es- trutura e suas normas específicas. Portanto, o estudo do Direito deve ocorrer de acordo com elas. Essa estrutura pode ser representada como uma pirâmide, possuindo a nor- ma fundamental do país (a Constituição Federal), que contém as diretrizes gerais que deverão ser observadas e, à medida em que se desce em direção à base, surgem leis complementares (a Constituição), leis ordinárias, decretos, instruções e outras categorias de normas que vão tornando mais explícita “como” esta ou aquela medida será aplicada – observando, sempre, o que foi estabelecido pelas normas hierarquicamente superiores. O objetivo desta disciplina é compreender as normas jurídicas de regência do Di- reito Agrário no Brasil, seus pressupostos e princípios fundamentais. Estudaremos seu principal texto jurídico normativo, que é Lei nº 4.504/1964 (Estatuto da Terra). Por meio de sua análise e de outros documentos que tratam de questões rurais no Brasil, será verificadaa importância dos instrumentos da política agrícola bra- sileira, tendo como parâmetros a economia rural e as atividades agropecuárias. Será ainda averiguado o histórico, o conceito e a tipologia dos contratos agrários no Brasil, especialmente, a partir do Decreto nº 59.566/1966, além de entender a dinâmica da perícia judicial, formulação de quesitos e vistoria sob o aspecto teórico e prático, estabelecendo cotejo com a política de reforma agrária. Por fim, serão estudados os fundamentos do direito ambiental sob o viés con- temporâneo e global, com o intuito de contextualizar os estudos do Direito Agrário e estabelecer conexões entre as grandes áreas do Direito. 11 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL UNIDADE 1 OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: 12 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL > Introduzir, conceituar e contextualizar a disciplina do Direito Agrário. > Compreender os institutos jurídicos agrários e sua importância. 13 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL 1 DIREITO AGRÁRIO NO BRASIL INTRODUÇÃO DA UNIDADE Esta unidade abordará o Direito Agrário no Brasil. As questões agrárias e a ne- cessidade de sua regulamentação remontam à civilização romana e seguem importantes para a sociedade até hoje. Afinal, é da terra que o ser humano garante a sua sobrevivência. Entender que o propósito do Direito Agrário é o atendimento às necessidades da sociedade, levando em conta a justiça social, o trabalho agrário e a respon- sabilidade ambiental estão entre os objetivos desta disciplina. Serão estudadas as origens e o conceito do Direito Agrário. Faremos uma abordagem para conhecer o objeto do Direito Agrário, bem como suas fontes, especialmente o conjunto legislativo brasileiro, que dispõe sobre as questões relacionadas à terra. Depois, passaremos a analisar importantes institutos jurídicos do Direito Agrário. Nesse momento, faremos estudos mais aprofundados e conceituare- mos a posse agrária, a função social da propriedade, os latifúndios e as terras devolutas. Com isso, esperamos que você se contextualize no Direito Agrário e possa desenvolver melhor seus estudos sobre o tema, além de saber a impor- tância de conceitos que te acompanharão ao longo desta disciplina. 1.1 INTRODUÇÃO AO DIREITO AGRÁRIO O Direito Agrário é a disciplina autônoma e especial da área de ciências so- ciais aplicadas que trata de direitos e obrigações relacionados a imóveis ru- rais, além de sua posse e distribuição. É uma disciplina que se relaciona com outros ramos do Direito e ainda com outras ciências, uma vez que a terra é um dos meios indispensáveis para a ob- tenção de bens e exigências humanas de sobrevivência. É da terra e de seus produtos que sobrevive o ser humano. 14 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 FIGURA 1 – DIREITO AGRÁRIO Fonte: Plataforma Deduca (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta os símbolos do direito e da justiça: um martelo, um livro e uma balança. 1.1.1 CONCEITO E ORIGENS Justamente por isso há a necessidade de intervenção estatal para equilíbrio e para encaminhamento de questões relacionadas à atividade rural, tais como o despovoamento rural, existente após a Revolução Industrial e o desenvolvi- mento e aumento da produtividade econômica rural. Isso, se analisarmos as questões agrárias mais contemporâneas. É possível dizer que o tratamento de questões agrárias no Brasil ocorre inspira- do em documentos estrangeiros, que também trataram de questões da área. A influência portuguesa na legislação nacional vem desde as sesmarias. Tra- ta-se de um instituto jurídico presente na legislação desde 1375, cujo objetivo era normatizar a distribuição de terras para produção, respondendo a uma necessidade social do século XIV, quando uma crise agrícola atingiu Portugal. 15 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL Ao longo do desenvolvimento do Direito Agrário brasileiro, houve ainda a in- fluência de outros documentos estrangeiros. Por exemplo, o Estatuto da Terra brasileiro inspira-se no Trade Board Act, do Reino Unido, criado em 1909. O Small Holding and Allotments Act, de 1907, também inglês, foi inspiração para o desenvolvimento da legislação nacional no que tange ao desmembramen- to de propriedade e questões relacionadas a latifúndios. Mas, além disso, as leis buscam dar subsídios legais eficientes para propiciar o desenvolvimento das atividades. Na contemporaneidade, isso se expressa de novas maneiras, como nos ensina Elisabete Maniglia: O Direito Agrário ganha novos rumos no mundo e transforma-se em peça fundamental na Europa para garantir mercados, sobrevivência e seguridade alimentar. A consolidação da União Europeia traz contornos novos para a ciência agrária que, consubstancialmente, converte-se, com o Direito Ambiental, em mola propulsora para a dignidade do cidadão. Os Estados Unidos apoiam a agricultura e, ante seus desastres ecológicos, preocuparam-se em criar políticas econômicas e mecanismos de defesa em face dos órgãos internacionais, a fim de garantir sua alimentação com leis protecionistas. Os países de Terceiro Mundo buscam sua sobrevivência, procurando produzir e vender cada vez mais, e são desejosos por leis agrárias de incentivo, crédito rural e pesquisa. Outra parte da população mundial, deixada de fora dos mercados competitivos, vivendo abaixo da linha da pobreza, fica com os restos dos demais e, orientada – ou não – por organizações não governamentais (ONG) e movimentos sociais luta para garantir seu direito básico à vida, e, para tanto, necessita de leis que a assegurem para continuar vivendo. (MANIGLIA, 2009, p. 18). Pode-se dizer que, hoje, o Direito Agrário define-se, então, pelo conjunto de regras e princípios para disciplinar questões inerentes à atividade agrária, po- rém, levando em conta questões baseadas na função social da propriedade e no respeito aos direitos fundamentais. 1.1.2 HISTÓRICO E OBJETO O Direito Agrário remonta à civilização romana, onde surgiram usos e costu- mes que determinam importantes institutos jurídicos ainda em vigor. 16 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Como contribuição dos agrupamentos romanos, as vilas foram determinantes para o desenvolvimento das questões inerentes à posse, até mesmo no Brasil. Mas as modificações da sociedade, advindas da Revolução Industrial, trouxe- ram novos desafios: industrialização e êxodo rural. Em face de tais questões, modificações no regime de posse e uso da terra rural tiveram que ser pensa- das, para cuidar dos conflitos que surgiram. FIGURA 2 – REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Fonte: Plataforma Deduca (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta o desenho de uma indústria, com torres liberando gases. Na vila romana, as famílias dos cultivadores da terra se estabeleciam pela rotura do solo e semeadura. Cada família possuía um trato de terra para plantar, que era respeitado pelos demais, embora fossem de uso comunal a água, o pasto, os montes e as florestas. Nasce, assim, a chamada propriedade consorcial (ou comunal), que não era pública, mas privada. A “vila” era uma organização econômica agrária de caráter unitário, que nos legou uma estrutura jurídica cujos vestígios se encontram em nossos repertórios legais (OPITZ; OPITZ, 2017). 17 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL Quanto ao histórico do Direito Agrário brasileiro, seu desenvolvimento ocor-reu para promover a colonização das terras por meio do regime de sesmarias, que concedia domínio útil de terras para determinadas pessoas e mediante o pagamento de tributos à Coroa portuguesa. O Direito Agrário objetiva cuidar do regime das terras rurais no Brasil. Por isso, em uma visão mais geral, faz o encaminhamento de questões econômicas, sociais e jurídicas. Em um olhar mais aprofundado, trata questões como contratos, arrendamen- to e parceria, limitações ao direito de propriedade, distribuição de terras, ade- quação as necessidades de produção, amparo aos trabalhadores, exploração agrária e desenvolvimento econômico e social, modernização da produção, ocupação e fixação devida dos espaços. FIGURA 3 – AGENDA DO DIREITO AGRÁRIO Fonte: Plataforma Deduca (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta o escrito “agenda”, com números em sequência que indicam as prioridades. Dentre seus objetivos, pode-se destacar ainda a mecanização da lavoura, a eliminação do latifúndio improdutivo, o impedimento do minifúndio exage- rado (OPITZ; OPITZ, 2017). É importante lembrar que tais objetivos devem estar em concordância com questões ambientais, devendo haver o correto tratamento de questões como condições climáticas, saneamento, utilização de recursos não renováveis, sus- tentabilidade e desenvolvimento sustentável. 18 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Por se tratar de disciplina ampla e complexa, possui regras e princípios pró- prios, que serão tratados no próximo tópico. 1.1.3 FONTES DO DIREITO AGRÁRIO Marques e Marques (2016) nos ensina que, como todo ramo da ciência jurí- dica, as fontes do Direito Agrário podem ser classificadas em imediatas (ou diretas) e em mediatas (ou indiretas). Fontes imediatas são as leis e os costu- mes, enquanto fontes mediatas são doutrina (ideias e ensinamentos que en- contramos na literatura) e a jurisprudência (conjunto das decisões, aplicações e interpretações das normas pelo Poder Judiciário). As fontes legislativas do Direito Agrário remetem à Emenda Constitucional nº 10 de 1964, incluída na Constituição de 1946, dispondo sobre a desapropriação para fins de reforma agrária. Atualmente, os preceitos do Direito Agrário são encontrados no art. 8º, XVII, b da Carta Magna Brasileira de 1988, ao ditar que compete à União legislar so- bre Direito Agrário (BRASIL, 1988). FIGURA 4 – CONSTITUIÇÃO FEDERAL Fonte: Plataforma Deduca (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta um desenho de um livro, onde na capa constam o mapa e a bandeira do Brasil. 19 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL Esse tratamento é verificado, sob o ponto de vista legislativo, por meio dos seguintes instrumentos: Os regulamentos de Direito Agrário serão abordados ao longo desta discipli- na, correlacionando-os aos diversos institutos jurídicos que tratam das ativi- dades agrárias. 1.2 INSTITUTOS JURÍDICOS AGRÁRIOS Antes de nos aprofundarmos em alguns institutos importantes ao Direito Agrário, é fundamental conhecermos os guias orientadores, princípios que dão a base para a legislação de Direito Agrário. São eles: Princípio da justiça social Preza por garantir mínimas condições necessárias à sobrevivência, buscando dar efetividade à dignidade da pessoa humana. Princípio da função social da terra Derivado do art. 2º do Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/1964), preza por assegurar a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social. • Estatuto da Terra, Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, apresenta um conjunto de medidas que visa promover a melhor distribuição da terra. • Regulamentação do Estatuto da Terra, Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973. • Lei nº 4.947, de 6 de abril de 1966 (art. 13). • Estatuto do Trabalhador Rural, Lei nº 5.889/1973 (anteriormente Lei nº 4.214/1963). 20 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Princípio da permanência na terra Tem por objetivo proteger e resguardar a pessoa que tornou a terra produtiva por meio do trabalho e sua família, ou seja, quem exerce o pró-labore. Princípio do acesso à propriedade da terra Por meio do instituto da desapropriação para fins de reforma agrária, o Estado busca dar efetividade a esse princípio, dando o acesso à propriedade aos agricultores que não possuem meios de adquiri-la. Princípio do aumento da produção ou produtividade Positivado nos incisos III, IV, VI e VII do art. 187, da Constituição Federal, preza por investimentos na pesquisa de novas tecnologias para solucionar problemas da agricultura e pecuária e minimizar consequências de fenômenos naturais que comprometem a qualidade e a quantidade dos produtos. 1.2.1 POSSE AGRÁRIA Como já falamos nesta unidade, a origem do Direito Agrário brasileiro remon- ta ao sistema de sesmarias. Tal sistema ficou em vigor até 17 de julho de 1822 e acabou com a Resolução nº 76. Com a promulgação da Lei de Terras e o reconhecimento das sesmarias antigas, o regime de posses foi formalmente ratificado e a partir daí a compra passou a ser a única forma de obtenção de terras. Para que possamos falar sobre a posse agrária, é importante sabermos sobre as teorias jurídicas da posse. Temos duas correntes que tratam do instituto: 21 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL Teoria de Savigny Para a teoria subjetiva de Savigny, posse é o poder que tem a pessoa de dispor fisicamente de uma coisa, com intenção de tê-la para si e de defendê-la contra intervenção de outrem. Segundo essa teoria, são necessários dois elementos constitutivos: (i) o poder físico sobre a coisa, tê-la a sua disposição, deter a coisa; e (ii) a intenção de ter a coisa como sua, exercer sobre ela o direito de propriedade, que é chamado de animus. Teoria de Jhering A segunda teoria da posse é a teoria objetiva de Jhering, que entende que para constituir a posse basta o corpus, não havendo necessidade do animus. Como pudemos ver, o sistema de posse brasileiro, em seus primeiros momen- tos, foi caótico. Somente com a Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, a Lei de Terras, ou, ainda, o Estatuto das Terras Devolutas, é que se criou o sistema de transferência de propriedade imobiliária, com base na alienação. Com essa regulamentação da aquisição das terras, inicia-se a história do Re- gistro de Imóveis no Brasil. FIGURA 5 – REGISTRO DE IMÓVEIS Fonte: Freepik (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta uma mão segurando uma caneta, em cima de um contrato, e outra mão acompanhando a leitura. 22 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 De qualquer forma, o instituto da posse é um instituto estudado pelo direito privado, havendo disposições acerca dele no Código Civil e na sua doutrina. 1.2.2 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE O primeiro diploma legal brasileiro a mencionar “função social da proprie- dade” foi o Estatuto da Terra. A função social da propriedade rural é exercida quando cumpridos os requisitos do art. 186 da Constituição Federal. Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I – aproveitamento racional e adequado; II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. (BRASIL, 1988). A ação da função social reside justamente na tentativa de dar utilização à terra, além de equalizar questões como promoção de justa remuneração, acessode benefícios para o trabalhador, aumento da produtividade, pri- mando também pelo bem-estar coletivo, especialmente de trabalhadores rurais e suas famílias. Em razão de referido princípio, institui-se uma política agrícola, sendo dever do poder público promover e criar as condições de acesso do trabalhador ru- ral à propriedade da terra economicamente útil, de preferência nas regiões em que habita, e estimular planos para a racional utilização da terra. Correla- cionando-se com tais necessidades, foi preciso realizar mudanças no regime das terras rurais no Brasil, em âmbito de posse e uso da terra rural. Assim, ins- titutos como a desapropriação por interesse social surgem como alternativas para dar efetividade à função social. Considera-se adequada a utilização dos recursos naturais disponíveis quando a exploração se faz respeitando a vocação natural da terra, de modo a manter o potencial produtivo da propriedade. 23 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL FIGURA 6 – CULTIVO DA TERRA Fonte: Plataforma Deduca (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta uma mão segurando um punhado de terra da qual brota uma pequena árvore. Dentre os elementos da função social da propriedade rural, segundo o artigo 186 da Carta Magna Brasileira, é importante destacar (CASSETTARI, 2015): 1. Produção destinando o uso adequado e racional da produção e da pro- dutividade. Segundo o art. 6º da Lei nº 8.629/1993, propriedade produtiva é aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultanea- mente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segun- do índices fixados pelo órgão federal competente. 24 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente. § 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo [para ser produtiva], deverá ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável total do imóvel. [Os parâmetros, índices e indicadores que informam o conceito de produtividade são ajustados, periodicamente, e levam em conta o progresso científico e tecnológico da agricultura e o desenvolvimento regional, pelos Ministros de Estado do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura e do Abastecimento, ouvido o Conselho Nacional de Política Agrícola, conforme art. 11.] § 2º O grau de eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e será́ obtido de acordo com a seguinte sistemática: I - Para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada microrregião homogênea; II - Para a exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho pelo índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada microrregião homogênea; III - a soma dos resultados obtidos na forma dos itens I e II acima, dividida pela área efetivamente utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau de eficiência na exploração. (BRASIL, 1993, online). 25 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL 2. Utilização efetiva – considera-se efetivamente utilizadas: I. as áreas plantadas com produtos vegetais; II. as áreas de pastagens nativas e plantadas, observado o índice de lotação por zona de pecuária, fixado pelo Poder Executivo; III. as áreas de exploração extrativa vegetal ou florestal, observados os índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada microrregião homogênea, e a legislação ambiental; IV. as áreas de exploração de florestas nativas, de acordo com plano de exploração e nas condições estabelecidas pelo órgão federal compe- tente; V. as áreas sob processos técnicos de formação ou recuperação de pastagens ou de culturas permanentes, tecnicamente conduzidas e devidamente comprovadas, mediante documentação e anotação de responsabilidade técnica. (BRASIL, 1993, online). É importante lembrar que, no caso de consórcio ou intercalação de culturas, a utilização é considerada efetiva quando utilizada a área total do consórcio ou da intercalação. Mas, havendo mais de um cultivo no ano, com um ou mais produtos, no mesmo espaço, considera-se efetivamente utilizada a maior área usada no ano considerado. O caso fortuito e a força maior não tiram a qualidade de propriedade produti- va do imóvel. O mesmo pode ser dito para o caso de renovação de pastagens tecnicamente conduzida, devidamente comprovados pelo órgão competente. 3. Aproveitamento racional e adequado do imóvel rural será considerado quando há execução de atividades de pesquisa e experimentação ofi- ciais, que objetivem o avanço tecnológico da agricultura. Para essa situa- ção, só serão consideradas propriedades que tenham no mínimo 80% da área total aproveitável do imóvel destinadas a pesquisas. 26 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 FIGURA 7 – ATIVIDADES DE PESQUISAS Fonte: Freepik (2021). #PraCegoVer: A figura apresenta uma tela de um tablet e uma prancheta contendo diferentes modelos de gráficos. Podemos concluir que a função social da propriedade é um elemento central do Direito Agrário, pensando o imóvel rural como um bem de produção de alimentos e de matéria-prima. 1.2.3 LATIFÚNDIO E TERRAS DEVOLUTAS O Estatuto da Terra tem como um de seus objetivos desmembrar os grandes latifúndios, uma vez que a grande propriedade está concentrada. FIGURA 8 – LATIFÚNDIOS Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: A figura representa uma fotografia de uma grande extensão de terra cultivada, com sistema de irrigação em funcionamento. 27 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL Para falar de terras devolutas, devemos primeiro entender que constituem terras públicas. Tal categoria é gênero, sendo consideradas todas as terras pertencentes ao poder público, além de bens determinados ou determiná- veis que integram o patrimônio público. Podemos afirmar que existem duas espécies de terras públicas lato sensu: Terras públicas stricto sensu São os bens determinados que integram o patrimônio público como bem de uso especial ou patrimonial. Por exemplo, uma fazenda de propriedade da administração pública, utilizada para fins de pesquisa. Figura 9 – Edifícios públicos em Brasília Fonte: Plataforma Deduca (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta uma fotografia aérea de Brasília, com vários prédios públicos. Terras devolutas São áreas que não passaram do patrimônio público para o particular de forma legítima (pois no Brasil vigora o princípio da posse histórica das terras, que presume que a propriedade imobiliária tem origem pública). Figura 10 – Terra devoluta Fonte: Plataforma Deduca (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta uma fotografia de uma terra com plantação. Assim, podemos definir terras devolutas como as adquiridas pelo Estado bra- sileiro por sucessão à Coroa portuguesa, levando em conta fatos históricos do descobrimento e da independência do país. 28 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 A definição legal de terras devolutas é encontrada na Lei de Terras (Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850), no art. 3º: Art. 3º São terras devolutas: § 1º As que não se acharemaplicadas a algum uso público nacional, provincial, ou municipal. § 2º As que não se acharem no domínio particular por qualquer título legitimo, nem forem havidas por sesmarias e outras concessões do Governo Geral ou Provincial, não incursas em comisso por falta do cumprimento das condições de medição, confirmação e cultura. § 3º As que não se acharem dadas por sesmarias, ou outras concessões do Governo, que, apesar de incursas em comisso, forem revalidadas por esta Lei. § 4º As que não se acharem ocupadas por posses, que, apesar de não se fundarem em título legal, forem legitimadas por esta Lei. (BRASIL, 1850). Importante destacar que o inciso XVII do art. 49 da Constituição Federal dita que a alienação ou a concessão de terras públicas com área superior a 2.500 hectares depende de aprovação do Congresso Nacional. Ainda são consideradas terras devolutas aquelas adquiridas: por compra ou permuta a outros estados, que não foram alienadas; por qualquer forma admitida à época, aos particulares, ou que não foram adquiridas por usucapião; como as transmitidas aos particulares, e que retornaram ao patrimônio do poder público por terem caído em comisso ou por falta de revalidação ou cultura, não se destinando a algum uso público, encontrando-se, atualmente, indeterminadas. 29 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL CONCLUSÃO Esta unidade objetivou apresentar uma reflexão inicial sobre o Direito Agrário. Trata-se de disciplina secular, com seu nascimento junto com a civilização romana, e segue pertinente na atualidade. Afinal, por meio da terra é que se planta, dá dignidade ao trabalhador e permite-se a manutenção do meio ambiente. Presente em qualquer parte do globo, faz parte da realidade humana e corre- laciona-se com os direitos fundamentais, pois é por meio da terra que se ga- rante a vida e a sobrevivência, seja de maneira direta ou indireta. Desse modo, a Constituição de 1988 decretou a implantação da gestão do Direito Agrário para endereçamento das questões relacionadas à terra. Também estudamos a origem do Direito Agrário e seu desenvolvimento le- gislativo ao longo da história, além de objetivos do Direito Agrário. Começou- -se a compreender também seus princípios e alguns institutos que cercam a questão agrária, tais como posse, função social, latifúndios e terras devolutas. Esses temas serão primordiais para a continuidade dos estudos e dos outros institutos que fazem parte da disciplina de Direito Agrário. UNIDADE 2 OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: 30 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL > Trabalhar o instituto da propriedade na Constituição de 1988 e adentrar outros temas correlatos à propriedade; > Estudar os grupos sociais afetados pelas políticas agrárias, tais como os índios, quilombolas e comunidades tradicionais. 31 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL 2 PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL DO BRASIL E GRUPOS SOCIAIS AFETADOS INTRODUÇÃO DA UNIDADE A propriedade faz parte da própria história da humanidade. Tanto é assim que o instituto é tratado de diversas formas em diferentes regramentos e or- denamentos jurídicos. A evolução conceitual da propriedade, assim como seu reflexo no mundo do direito, passou por diversas fases, tendo sido trazidas em diferentes doutrinas, do entendimento de direito absoluto, garantia fundamental, parâmetro para sistemas econômicos (capitalista e socialista), etc. Nesta unidade, iremos explorar o tratamento dado à propriedade segundo a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que ao tratar da função social busca permitir o desenvolvimento de um sistema agrário que traga efi- ciência e respeito aos mais diversos grupos atuantes nas terras rurais do país. 2.1 PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL DA PROPRIEDADE Desde Duguit (1859 —1928), na França (a concepção de propriedade passou a ser vista como a subsunção de utilidade, um bem deve se subordinar a um determinado fim, ganhando ares de direito objetivo.) e da influência dos ideia católicos (ideia de que a propriedade era, em si, uma função social) há uma correlação da função social com a propriedade. As constituições brasileiras sempre abordaram a correlação, e em 1988 a Cons- tituição Cidadã trouxe o conceito de função social aliada à propriedade. Desde a introdução do princípio da função social, transforma-se o conceito de pro- priedade, integrando-se em seu próprio conteúdo como um elemento estrutural. Isso se torna ainda mais importante em face do próprio papel do imóvel rural, local onde se desenvolvem as atividades agrárias, tão importantes para o de- senvolvimento da humanidade. 32 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 FIGURA 1 – IMÓVEL RURAL Fonte: Freepik (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta uma terra, com plantação de milho. O direito de propriedade garantido pelo ordenamento jurídico, desde a mo- dernidade, é condicionado ao cumprimento da função social. Não há proprie- dade sem função social, não há função social sem propriedade, ou seja, a fun- ção social impõe limite ao direito de propriedade, visando a garantia de que o exercício do direito não prejudique a coletividade. Ao mesmo tempo, e no contexto da contemporaneidade, deve permitir o pleno desenvolvimento, de maneira a garantir não só a propriedade em si, mas o uso, o gozo e a posse, dando-lhe destinação, que no contexto agrário ganha ainda maior relevância, em face da necessidade de proteção ambiental, garantia da segurança ali- mentar, entre outros papéis necessários na sociedade. 2.1.1 PROPRIEDADE NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 A palavra propriedade é mencionada 36 vezes na Constituição Cidadã. Vamos ver quais são essas menções à propriedade na Constituição? Den- tre as menções, trazemos aqui as que se relacionam com o Direito Agrário (BRASIL, 1988, online): 33 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL <INÍCIO SANFONAS> Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: VI - propriedade territorial rural; § 4º O imposto previsto no inciso VI do caput: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas; Art. 158. Pertencem aos Municípios: II - cinqüenta por cento do produto da arrecadação do imposto da União sobre a propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis neles situados, cabendo a totalidade na hipótese da opção a que se refere o art. 153, § 4º, III; 34 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: II - propriedade privada; III - função social da propriedade; Art. 185 São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva. Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social. Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. 35 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL Art. 190. A lei regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de autorização do Congresso Nacional. Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. ADCT: Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos. Podemos perceber que o tema da propriedade é complexo e de grande im- portância, razão pela qual há seu tratamento no mais importante documento legislativo da República Federativa do Brasil. 36 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 FIGURA 2 – CONSTITUIÇÃO Fonte: Freepik (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta um martelo de justiça e livros de direito em segundo plano. Seja em âmbito urbano ou rural, a propriedade faz parte da sociedade e sua re- gulação, especialmente no campo, se faz necessária para os valores supremos que o país busca, assegurando o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça. 2.1.2 TÍTULOS DA DÍVIDA AGRÁRIA Como vimos, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, XXVI, traz a pro- teção à pequena propriedade, ao estabelecer a sua impenhorabilidade em execução de débitos decorrentes da sua atividade produtiva. No que tange ao instituto da desapropriação para fins de reforma agrária (art. 4º, parágrafo único, da Lei no 8.629/93) serão insuscetíveis de desapropriação a pequena e a média propriedade rural, desde que o seu proprietário não pos- sua outra propriedade rural. 37 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL O cumprimento da função social é essencial à sociedade brasileira, assim como garantir a produtividade da terra. Por isso, seu descumprimento no imóvel rural é considerado questão grave, que acarreta punição, a desapropriação. Uma das características da Reforma Agrária no Brasil é a natureza punitiva da desapropriação, posto que a indenização da terra nua é paga com Títulos da Dívida Agrária (TDA), como se verifica no art. 184 da Constituição Federal: Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. § 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. § 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação. § 3º Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação. § 4º O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício. § 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária. (BRASIL, 1988, online) A utilização do instrumento de títulos da dívida pública possui verdadeiro ca- ráter punitivo para o expropriado, pois a forma de se pagar a indenização cor- respondente demonstra a prevalência do interesse público sobre o particular, mesmo demonstrando não haver a intenção de redução patrimonial do indi- víduo. Como apontado por Cassettari (2015, online) a indenização corresponderá à substituição de um bem pelo seu efetivo valor pecuniário ou equivalente, pois a ideia é que o expropriado, com este valor, consiga adquirir outro bem. Ou seja, deve a indenização ser prévia, justa, oportuna, adequada e efetiva, mas a noção de justo preço e a de pagamento prévio não tem correspondi- do plenamente à expectativa, chegando mesmo a suscitar acirradas críticas dos cultores do direito, notadamente nos atos expropriatórios para fins de Reforma Agrária. 38 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 FIGURA 3 – INDENIZAÇÃO Fonte: Freepik (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta uma pessoa conferindo valores de uma planilha em uma calculadora. Não se resolvendo a desapropriação no terreno de maneira amigável, a solu- ção litigiosa para o conflito será solucionada através do procedimento judicial de desapropriação agrária regulada pela Lei Complementar nº 76, de 6.7.93, posteriormente modificada pela Lei Complementar nº 88, de 23.12.96. Ensina Cassettari (2015, online) que a oferta do depósito na ação de desapro- priação agrária será́ o valor declarado pelo proprietário, com a base de cálculo declarada pelo ITR. Porém, se o valor venal do ITR não corresponder com o valor de mercado do imóvel, a jurisprudência brasileira entende que a indeni- zação deve levar em consideração o valor real do imóvel, de modo que a de- sapropriação por valor inferior ao declarado não autorizará a redução do im- posto a ser pago, nem a restituição de quaisquer importâncias já́ recolhidas. 2.1.3 ITR Mantendo a linha de cumprimento à função social da propriedade, trazida pela Constituição Federal, o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) tem por objetivo estimular a propriedade produtiva, através de institutos tributários como variação de alíquotas e imunidade para as pequenas propriedades. Como vimos anteriormente, o art. 158 da Constituição Federal estabelece a divisão das receitas tributárias aferidas com o ITR, entre União e Municípios, na proporção 50/50. 39 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL A administração do tributo é da Secretaria da Receita Federal, responsávelpor arrecadar, tributar e fiscalizar, além de impor penalidades, repetir indébito e compensar o imposto, havendo possibilidade de convenio com o Município para administrar o cadastro, arrecadar o tributo e cobrar as dívidas existentes, permitindo com que este fique com 100% (cem por cento) do valor arrecadado. FIGURA 4 – IMPOSTO E TRIBUTOS Fonte: Freepik (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta uma ilustração de uma pessoa conferindo valores e uma calculadora. O ITR é imposto de competência da União Federal. 40 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Há ainda possibilidade de convênio com o Instituto nacional de Colonização e Reforma Agraria (INCRA), delegando atividades de fiscalização das infor- mações sobre os imóveis rurais, e para isso terão acesso ao imóvel, para le- vantamento de dados e informações. Por sua vez, o INCRA poderá́ celebrar convênios de cooperação com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos naturais Renováveis (IBAMA), Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e Secretarias Estaduais de Agricultura, para exercer essa delegação. Para o referido tributo, a Secretaria da Receita Federal pode celebrar convê- nios com outros órgãos, tais como órgãos da administração tributária das uni- dades federadas, Confederação nacional da Agricultura (CnA) e a Confedera- ção nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). Vamos conhecer os elementos do tributo? Fato gerador Posse, domínio útil ou propriedade de imóvel rural, na data de 1º de janeiro. Base de cálculo Valor da terra nua tributável (VTn). Deve-se retirar da base de cálculo as áreas não aproveitáveis do imóvel (reserva legal). Alíquota Depende da produtividade, variando até o máximo de 20%, sendo menor para terras menores e mais produtivas, e maior para propriedades maiores e menos produtivas. Se o imóvel pertencer a mais de um município, o enquadramento leva em conta a sede do imóvel ou ainda onde se localize a maior parte do imóvel. Como aponta Cassettari (2015, online), “o valor do imposto será́ apurado apli- cando-se sobre o Valor da Terra nua tributável (VTnt) a alíquota correspon- dente, considerados a área total do imóvel e o Grau de Utilização (GU)”. Acom- panhe na tabela abaixo. 41 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL TABELA 1 – VALOR DA TERRA NUA TRIBUTÁVEL Área total do imóvel (em hectares Grau de utilização (em %) maior que 80 maior que 65 até 80 maior que 50 até 65 maior que 30 até 50 até 30 Até 50 0,03 0,20 0,40 0,70 1,00 Maior que 50 até 200 0,07 0,40 0,80 1,40 2,00 Maior que 200 até 500 0,10 0,60 1,30 2,30 3,30 Maior que 500 até 1.000 0,30 1,60 3,40 6,00 8,60 Maior que 1.000 até 5.000 0,30 1,60 3,40 6,00 8,60 Acima de 5.000 0,45 3,00 6,40 12,00 20,00 Fonte: Elaborada pela autora. (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta tabela para cálculo do imposto rural, baseada na área total do imóvel e seu grau de utilização. Devemos destacar que a jurisprudência tem validado a progressividade deste imposto, baseada na produtividade em razão do princípio da função social da propriedade. 2.2 GRUPOS SOCIAIS AFETADOS A Carta Magna traz como obrigação estatal a garantia ao exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, através de apoio e incentivos que permitam a valorização e a difusão das manifestações culturais. No artigo 216 dita-se que o Estado deve proteger manifestações de cultu- ras populares de grupos participantes do processo civilizatório nacional, nelas inclusas indígenas e afro-brasileiras, por se tratar de patrimônio cul- tural brasileiro. 42 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 FIGURA 5 – PROTEÇÃO DAS MANIFESTAÇÕES DE CULTURAS POPULARES. Fonte: Pixabay (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta mãos de diferentes etnias formando um quadrado. O patrimônio cultural brasileiro corresponde à bens (materiais e imateriais, individuais ou em conjunto). Eles se correlacionam à identidade, à ação, à memória e referenciam diferentes grupos formadores da sociedade brasilei- ra. Em razão disso, é dever do Poder Público, juntamente com a comunida- de, promover e proteger tais bens, através de inúmeros institutos (como por exemplo inventários, registros, vigilância, tombamento) dos quais destaca- mos a desapropriação, tema importante do Direito Agrário. 2.2.1 ÍNDIOS O artigo 216, o art. 231 da Constituição Federal reconhece aos índios: “organiza- ção social, costumes, línguas, crenças e tradições, e principalmente direitos ori- ginários sobre as terras que tradicionalmente ocupam” (BRASIL, 1988, online). Tudo que diz respeito a esse grupo social é competência da União Federal, sendo que as terras ocupadas pelos índios são bens inalienáveis da União. Este ente federativo também pode, em qualquer local do território nacio- nal, estabelecer áreas, as quais destinará aos índios, através de posse e ocu- pação, permitindo com que os mesmos ali vivam e obtenham seus meios de subsistência. 43 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL No que tange às terras tradicionalmente ocupadas e habitadas pelos índios, serão consideradas de caráter permanente aquelas que são usadas para 4 fi- nalidades: desenvolvimento de atividades de produção, que sejam essenciais para preservar recursos naturais e ambientais, imprescindíveis para o bem- -estar e reprodução física e cultural desse grupo social, sempre respeitando seus usos, costumes e tradições. FIGURA 6 – ÍNDIOS Fonte: Plataforma Deduca (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta índios em uma aldeia. Considera-se posse do índio ou silvícola a ocupação efetiva da terra, além da detenção, habitação ou exercício de atividade indispensável à sua subsistên- cia ou ainda terra economicamente útil. Para isso eles têm que fazer usos, e desenvolverem seus costumes e tradições tribais nessas terras, no que tange as riquezas naturais e utilidades de uma terra, o usufruto dos índios ou silvíco- las lhes dá direito à posse, uso e percepção desses elementos, além de permi- tir a exploração econômica dos produtos e tais riquezas naturais e utilidades. Ainda no usufruto exclusivo das riquezas do solo, os índios também tem usu- fruto das riquezas de rios e dos lagos das terras que habitam e podem fazer uso dos mananciais, das águas dos rios compreendidos nas terras ocupadas. 44 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 As principais características das terras indígenas é que elas são inalienáveis, e imprescritíveis os direitos sobre elas. Por isso, qualquer ato ou negócio jurídico (e também arrendamento) que restrinja o exercício da posse pela comunida- de indígena ou pelos silvícolas são proibidos. A retirada de grupos indígenas de suas terras também é proibida. Existem exceções, como ad referendum do Congresso nacional. Exemplos deles são as catástrofes, epidemias que podem colocar a população em risco (nesse caso, deve ser garantido, o retorno imediato logo que acabe o risco) ou ain- da interesse da soberania do país. É necessário, entretanto, deliberação do Congresso Nacional. A Lei 6.001/73, conhecida como Estatuto do Índio é que regulamenta a si- tuação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, para preservá-los e preservar sua cultura, em harmonia com a comunhão nacional. O art. 3º do Estatuto do Índio estabelece uma série de definições, que apre- sentamos a seguir (BRASIL, 1973): Como aponta a Constituição Federal, o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só́ podem ser efetivados com autorizaçãodo Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei (BRASIL, 1988). Mas a ocupação, o domínio e a posse das terras, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, que não sejam de relevante interesse público da União, são nulos e extintos, e por isso não produzem efeitos jurídicos. 45 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL Índio ou silvícola Todo individuo de origem e ascendência pré-colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distinguem da sociedade nacional; Comunidade indígena ou grupo tribal Conjunto de famílias ou comunidades índias, vivendo em estado de completo isolamento da comunhão nacional, em contatos intermitentes ou permanentes, sem integração (BRASIL, 1973, online). Índios isolados Vivem em grupos desconhecidos ou de que se possuem poucos e vagas informações, contatos eventuais com a comunhão nacional; Em vias de integração Em contato intermitente ou permanente com grupos estranhos, mas conservando parte das condições de sua vida nativa, e algumas práticas e modos de existência comuns da comunhão nacional, da qual vão necessitando cada vez mais para o próprio sustento (BRASIL, 1973, online). Integrados Incorporados à comunhão nacional e reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis, ainda que conservem usos, costumes e tradições característicos da sua cultura (BRASIL, 1973, online). 46 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Destaquemos agora seus principais pontos (BRASIL, 1973, online): Cumpre à União, aos Estados e aos Municípios, bem como aos órgãos das respectivas administrações indiretas, nos limites de sua competência, para a proteção das comunidades indígenas e a preservação dos seus direitos: Reputam-se terras indígenas: I – As terras ocupadas ou habitadas pelos silvícolas; II – As áreas reservadas (a União poderá́ estabelecer, em qualquer parte do território nacional, áreas destinadas à posse e ocupação pelos índios, onde possam viver e obter meios de subsistência); III – as terras de domínio das comunidades indígenas ou de silvícolas. Nas terras indígenas são vedadas quaisquer pessoas estranhas aos grupos tribais ou comunidades indígenas a prática da caça, pesca ou coleta de frutos, assim como atividade agropecuária ou extrativa. As terras indígenas, por iniciativa e sob orientação do órgão federal de assistência ao índio, serão administrativamente demarcadas, de acordo com o processo estabelecido em decreto do Poder Executivo. A demarcação, homologada pelo Presidente da República, será́ registrada em livro próprio do Serviço do Patrimônio da União (SPU) e do registro imobiliário da comarca da situação das terras. As terras espontânea e definitivamente abandonadas por comunidade indígena ou grupo tribal reverterão, por proposta do órgão federal de assistência ao índio e mediante ato declaratório do Poder Executivo, à posse e ao domínio pleno da União. O reconhecimento do direito dos índios e grupos tribais à posse permanente das terras por eles habitadas independerá de sua demarcação, e será assegurado pelo órgão federal de assistência aos silvícolas, atendendo à situação atual e ao consenso histórico sobre a antiguidade da ocupação, sem prejuízo das medidas cabíveis que, na omissão ou erro do referido órgão, tomar qualquer dos Poderes da República. As áreas reservadas não se confundem com as de posse imemorial das tribos indígenas, podendo organizar-se sob uma das seguintes modalidades: a) reserva indígena – área destinada a servidor de habitat a grupo indígena, com os meios suficientes à sua subsistência; b) parque indígena – área contida em terra na posse de índios, cujo grau de integração permita assistência econômica, educacional e sanitária dos órgãos da União, em que se preservem as reservas de flora e fauna e as belezas naturais da região. Na administração dos parques serão respeitados a liberdade, usos, costumes e tradições dos índios. As medidas de polícia, necessárias à ordem interna e à preservação das riquezas existentes na área do parque, deverão ser tomadas por meios suasórios e de acordo com o interesse dos índios que nela habitem. O loteamento das terras dos parques indígenas obedecerá ao regime de propriedade, usos e costumes tribais, bem como às normas administrativas nacionais, que deverão ajustar-se aos interesses das comunidades indígenas. 47 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL c) colônia agrícola indígena – área destinada à exploração agropecuária, administrada pelo órgão de assistência ao índio, onde convivam tribos aculturadas e membros da comunidade nacional. Território federal indígena é a unidade administrativa subordinada à União, instituída em região na qual pelo me nos um terço da população seja formado por índios. São de propriedade plena do índio ou da comunidade indígena, conforme o caso, as terras havidas por qualquer das formas de aquisição do domínio, nos termos da legislação civil. O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por 10 (dez) anos consecutivos, trecho de terra inferior a 50 (cinquenta) hectares, adquirir- lhe-á a propriedade plena. Tal regra não se aplica às terras do domínio da União, ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas, nem às terras de propriedade coletiva de grupo tribal. O órgão federal de assistência ao índio poderá́ solicitar a colaboração das Forças Armadas e Auxiliares e da Polícia Federal, para assegurar a proteção das terras ocupadas pelos índios e pelas comunidades indígenas. As terras indígenas não estão sujeitas à usucapião e sobre elas não poderá́ recair desapropriação, salvo nas hipóteses previstas em lei que autoriza a intervenção da União. É assegurado o respeito ao patrimônio cultural das comunidades indígenas, seus valores artísticos e meios de expressão. Os bens e rendas do Patrimônio Indígena gozam de plena isenção tributária. São extensivos aos interesses do Patrimônio Indígena os privilégios da Fazenda Pública, quanto à impenhorabilidade de bens, rendas e serviços, ações especiais, prazos processuais, juros e custas. Ficam declaradas a nulidade e a extinção dos efeitos jurídicos dos atos de qualquer natureza que tenham por objeto o domínio, a posse ou a ocupação das terras habitadas pelos índios ou comunidades indígenas. Essa regra será́ aplicável às terras que tenham sido desocupadas pelos índios ou comunidades indígenas em virtude de ato ilegítimo de autoridade e particular. Ninguém terá́ direito a ação ou indenização contra a União, o órgão de assistência ao índio ou os silvícolas em virtude da nulidade e extinção, ou de suas consequências econômicas. Em caráter excepcional e a juízo exclusivo do dirigente do órgão de assistência ao índio, será́ permitida a continuação, por prazo razoável dos efeitos dos contratos de arrendamento em vigor na data do Estatuto do Índio, desde que a sua extinção acarrete graves consequências sociais. Os índios, suas comunidades e organizações são pessoas com legitimidade processual para defensa de seus direitos e interesses, mas ainda assim há in- tervenção do Ministério Público em todos os atos do processo. A tutela é da União, através do órgão federal de assistência aos silvícolas, a FUNAI, respon- sável pela defesa judicial ou extrajudicial. Isso demonstra que deve a União 48 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 adotar medidas administrativas (mas pode também agir através do Ministé- rio Público Federal, sendoque nesse caso a União será litisconsorte) e judiciais para proteger a posse das terras desse grupo social. 2.2.2 QUILOMBOLAS Prosseguindo com a análise das disposições constitucionais que tratam da propriedade, o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, em seu art. 68, dispõe acerca da ocupação de terras por membros remanescentes de co- munidades quilombolas. Estas comunidades terão sua propriedade definiti- va reconhecida, com a emissão, pelo Estado, dos devidos títulos. As comunidades quilombolas são comunidades que se estabelecem em zona urbanas ou rurais, de população predominantemente negra. Trata-se de uma autodefinição, a partir de relações de parentesco, ancestralidade, re- lações com a terra, território, tradições e práticas culturais, com a característi- ca de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão sofrida historicamente. As terras ocupadas por remanescentes das comunidades quilombolas têm grande importância cultural, e são utilizadas para a garantia de sua repro- dução física, social, econômica e cultural. Vários são os critérios levados em consideração para a realização de medição e demarcação das terras quilom- bolas, que são indicados pelos próprios membros remanescentes dos grupos sociais quilombolas. É facultada a apresentação das peças técnicas para a ins- trução procedimental pela comunidade interessada. Identificar, reconhecer, demarcar e titular terras ocupadas por remanescen- tes das comunidades quilombolas é um procedimento delimitado pelo De- creto nº 4.887/03. Inicialmente a competência para a delimitação e titulação das terras dos remanescentes das comunidades quilombolas, bem como a determinação de suas demarcações e titulações era do Ministério da Cultura, mas a partir do Decreto nº 4.883/03, foi transferida para o Ministério do Desen- volvimento Agrário, por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, com o objetivo de garantir a preservação da identidade cul- tural dos remanescentes das comunidades quilombolas. A regularização fundiária para os grupos quilombolas, também pode ser fei- ta pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República, que auxilia e acompanha o Ministério do Desenvol- 49 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL vimento Agrário e o INCRA, para garantir os direitos étnicos e territoriais dos remanescentes das comunidades quilombolas. Esta competência do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do INCRA é exercida sem prejuízo da competência concorrente dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A comunidade autodefinida como remanescente de quilombo deve apresen- tar ao INCRA a Certidão de Registro no Cadastro Geral de Remanescentes de Comunidades de Quilombos, emitida pela Fundação Cultural Palmares para que este inicie o trabalho de reconhecimento. A Fundação Cultural Palmares instruirá o processo para fins de registro ou tombamento, e zelará pelo acau- telamento e preservação do patrimônio cultural brasileiro. Após a apresentação da certidão, na primeira etapa do trabalho o INCRA rea- lizará um estudo da área para a elaboração do Relatório Técnico de Identifica- ção e Delimitação (RTID) do território. Na segunda etapa, o INCRA receberá, analisará e julgará eventuais contesta- ções apresentadas. Após a aprovação definitiva do relatório, o INCRA publica uma portaria que reconhece e declara os limites do território quilombola. Porém, o processo administrativo ainda não foi finalizado. Na próxima fase, ocorrerá a regularização fundiária, que consiste na retirada de ocupantes não quilombolas da área, por meio de desapropriação e/ou pa- gamento de indenização e demarcação do território. O processo finalmente se encerra com a concessão do título de propriedade à comunidade quilom- bola. Este título é coletivo e pro indiviso (espécie de composse, em que os pos- suidores exercem a posse sobre a totalidade do bem de maneira simultânea e indistinta), ou seja, será concedido em nome da associação de moradores da área e registrado no cartório de imóveis sem qualquer obrigação pecuniá- É importante destacar que é a própria comunidade ou grupo que se autodefine como “remanescente de quilombo”. 50 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ria para a comunidade beneficiada, porém, no referido documento constará obrigatoriamente cláusula de inalienabilidade, imprescritibilidade e de impe- nhorabilidade, e o título deverá ser devidamente registrado no Serviço Regis- tral da Comarca onde as áreas se localizam. A participação das comunidades remanescentes dos quilombos é assegura- da em todas as fases do procedimento administrativo, diretamente ou por meio de representantes indicados por eles, para garantir a transparência de todo o processo. O tombamento de todos os documentos e sítios detentores de reminiscên- cias históricas dos antigos quilombos é outro modo de preservação destes grupos sociais. O INCRA, após concluir os trabalhos de campo de identificação, delimitação e o levantamento ocupacional e cartorial, publicará edital por duas vezes consecutivas no Diário Oficial da União e no Diário Oficial da unidade federa- de onde se localiza a área sob estudo, contendo as seguintes informações: I– Denominação do imóvel ocupado pelos remanescentes das comunidades dos quilombos; II –Circunscrição judiciária ou administrativa em que está situado o imóvel; III – limites, confrontações e dimensão constantes do memorial descritivo das terras a serem tituladas IV –títulos, registros e matrículas eventualmente incidentes sobre as terras consideradas suscetíveis de reconhecimento e demarcação. A publicação do edital será́ afixada na sede da prefeitura municipal onde está́ situado o imóvel, e o INCRA notificará os ocupantes e os confinantes da área delimitada. Após os trabalhos de identificação e delimitação, o In- CRA remeterá o relatório técnico aos órgãos e entidades a seguir relacionados, para, no prazo comum de 30 (trinta) dias, opinar sobre as matérias de suas respectivas competências: I–Instituto do Patrimônio Histórico e nacional – IPHAN;II – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos naturais renováveis – IBAMA; III – Secretaria do Patrimônio da União, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; IV - Fundação nacional do Índio – FUNAI; V– Secretaria Executiva do Conselho de Defesa nacional; VI - Fundação Cultural Palmares. Todos os interessados terão o prazo de 90 (noventa) dias, após à publicação e notificações, posteriores à conclusão dos trabalhos de campo de identificação, delimitação e levantamento ocupacional e cartorial, para oferecer contestações ao relatório, juntando as provas pertinentes. não havendo impugnações ou sendo elas rejeitadas, o INCRA concluirá́ o trabalho de titulação da terra ocupada pelos remanescentes das comunidades dos quilombos. Quando as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos 51 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL quilombos incidirem em terrenos de marinha, marginais de rios, ilhas e lagos, o INCRA e a Secretaria do Patrimônio da União tomarão as medidas cabíveis para a expedição do título. Quando as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos estiverem sobrepostas às unidades de conservação constituídas, às áreas de Segurança nacional, à faixa de fronteira e às terras indígenas, o INCRA, o IBAMA, a Secretaria-Executiva do Conselho de Defesa nacional, a FUNAI e a Fundação Cultural Palmares tomarão as medidas cabíveis visando garantir a sustentabilidade destas comunidades, conciliando o interesse do Estado. Em sendo constatado que as terras ocupadas por remanescentes das comunidadesdos quilombos incidem sobre terras de propriedade dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, o INCRA encaminhará os autos para os entes responsáveis pela titulação. Incidindo nos territórios ocupados por remanescentes das comunidades dos quilombos título de domínio particular não invalidado por nulidade, prescrição ou comisso, e nem tornado ineficaz por outros fundamentos, serárealizada vistoria e avaliação do imóvel, objetivando a adoção dos atos necessários à sua desapropriação, quando couber. O INCRAestará́ autorizado a ingressar no imóvel de propriedade particular, operando as publicações editalícias. O INCRA regulamentará as hipóteses suscetíveis de desapropriação, com obrigatória disposição de prévio estudo sobre a autenticidade e legitimidade do título de propriedade, mediante levantamento da cadeia dominial do imóvel até́ a sua origem. Verificada a presença de ocupantes nas terras dos remanescentes das comunidades dos quilombos, o INCRA acionará os dispositivos administrativos e legais para o reassentamento das famílias de agricultores pertencentes à clientela da reforma agrária ou a indenização das benfeitorias de boa-fé́, quando couber. A Fundação Cultural Palmares é responsável pela assistência jurídica no pro- cesso de titulação e reconhecimento de domínio de terras aos remanescen- tes das comunidades quilombolas, especialmente na proteção contra esbu- lhos e turbações de terceiros. Para realizar a demarcação da terra área ocupada por comunidade quilom- bola, foi expedida a Portaria nº 1.101/2003, pelo INCRA. Trata-se de norma Téc- nica para Georreferenciamento de imóveis rurais, em atendimento à Lei no 10.267/2001. Por fim, devemos ressaltar que o título e o registro cadastral das áreas de remanescentes das comunidades de quilombos, que são feitos pela Supe- rintendência Regional do INCRA não possuem custo de nenhuma espécie a esse grupo social. 52 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 2.2.3 TRABALHO RURAL O trabalho rural está intimamente relacionado à própria história da forma- ção territorial brasileira, desde a concessão de faixas de terras por cartas de sesmarias. Apesar da mancha da mão de obra escrava inerente ao trabalho rural, concepções mais humanistas, voltadas à valorização do trabalhador, são marcos das evoluções legislativas nacionais. FIGURA 7 – TRABALHO RURAL Fonte: Freepik (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta um trabalhador rural, cuidando da terra. A CLT, editada em 1943 beneficiou somente os trabalhadores urbanos, dei- xando ao lado os trabalhadores rurais. A conferência de garantias e direitos, como o salário-mínimo, férias anuais remuneradas, aviso prévio e outros ocor- reram em razão de pressões sociais, culminando com a Constituição de 1946, que, por seu art. 157, XII, previu a estabilidade no emprego e a indenização por rescisão contratual, para o empregado rural e também com a promulgação do Estatuto do Trabalhador Rural em 1963 (Lei nº 4.214, de 2.3.63), documento revogado pela Lei nº 5.889/1973 (regulamentada pelo Decreto a. 73.626/1974). Referido documento legal define corretamente as figuras do empregado e do empregador, especifica as peculiaridades do trabalho rural e culmina com a aplicação da Consolidação das Leis do Trabalho ao empregado rural. 53 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL A definição de “empregado rural” agora é esta: “Art. 2º Empregado rural é toda pessoa física que, em propriedade rural ou prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual a empregador rural, sob a dependência deste e me- diante salário” (BRASIL, 1973, online). Não obstante esses avanços, os trabalhadores ainda amargaram grandes in- justiças nas suas relações com a classe patronal, em razão principalmente da expressiva hipossuficiente perante o empregador. CONCLUSÃO Esta unidade objetivou-se a tratar de institutos correlatos à evolução da pro- priedade rural e indivíduos correlatos a ela. Após a verificação da evolução constitucional da propriedade rural, atrelada à função social, foi possível abordar de maneira resumida os títulos da dívida agraria, instituto responsável pela indenização de terras. Foram relatadas legislações especializadas referentes aos diversos grupos so- ciais relacionados à terra e ao ruralismo, tais como trabalhadores rurais, indí- genas e quilombolas, ganhando perspectiva sobre a necessidade de proteção e gestão que respeitem suas individualidades. A conquista mais expressiva foi a inclusão do trabalhador rural no artigo 7º da Constituição Federal de 1988, garantindo-lhe direitos sociais e gerando a tão necessária isonomia para este grupo social. UNIDADE 3 OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: 54 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL > Verificar de modo descritivo as normas do Estatuto da Terra, seus princípios e a Política Agrícola de Desenvolvimento > Analisar a Política de Reforma Agrária, seus objetivos e fundamentos 55 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL 3 ESTATUTO DA TERRA INTRODUÇÃO DA UNIDADE A propriedade é uma constante na vida do homem. Vincula-se à família, tem fundamentos culturais, sociais, econômicos e políticos. A Constituição Federal em diversos momentos dá destaque a esse instituto milenar, determinando a necessidade da sua tratativa legal. Assim, não é à toa a existência de um documento instituído para tratar das terras rurais brasilei- ras. Nesta unidade iremos estudar a Lei 4.504 de 30 de novembro de 1964, o Estatuto da Terra. FIGURA 1 – ESTATUTO DA TERRA Fonte: Plataforma Deduca (2022). #PraCegoVer: A figura apresenta uma criança e um homem plantando uma pequena árvore. 56 DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 3.1 NORMAS DO ESTATUTO DA TERRA O estatuto da terra foi devidamente recepcionado pela Constituição Federal de 1988. Contendo 128 artigos, divididos em 4 capítulos, é responsável por re- gular os direitos e obrigações dos bens imóveis rurais, com enfoque na Refor- ma Agrária e na Política Agrícola, e por isso trata de questões inerentes à terra, como distribuição, tributação, zoneamento, economia rural, dentre outros. Antes de adentramos ao estudo dos institutos trazidos pelo Estatuto da Terra, vamos compreender seu escorço histórico? Vejamos a lição trazida por Bar- bosa ([s.d,.], p. 3 - 4). • A Emenda Constitucional Nº 10, de 9/11/64 é norma agrária de imensa importância para o País, pois ao modificar a CF de 46, no seu art. 50, criando a competência da União para legislar sobre Direito Agrário, institucionalizou o Direito Agrário no Brasil, garantindo a sua autonomia legislativa. • A EC 10/64 introduziu a possibilidade de promover a desapropriação de propriedade territorial rural. • Em 1964, o Brasil começava o regime ditatorial. O caos agrário, que nunca havia sido visto como problema de possível retrocesso socioeconômico passou a ser analisado por intermédio do Estatuto da Terra, Lei n. 4.504 de 1964. Pode-se dizer que o princípio da questão agrária brasileira cristalizou neste momento. * Caracterizado pelo conflito de demarcações, registros incoerentes alicerçados pelo Estatuto e a convivência das sesmarias com posseiros, não havendo caracterização da posse sendo considerada ilegal, A dissonância entre a prática agrária brasileira e as leis fortificou o quadro, que ainda avança. • Notória no texto normativo é a intenção de desenvolvimento e proteção econômica ao regime da agricultura, exteriorizando o pensamento político da época. • A partir desse movimento, e com o golpe
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