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Livro Cancão _ Passei Direto7

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ébrio é tratado como se fosse um aninal e que ninguém conse-
gue perceber o seu valor como ser humano. Vejamos o terceto 
a seguir:
Vive fora de toda humanidade 
Caído às vezes nos bancos da cidade 
Exposto à chuva, a frieza e ao mormaço.
Percebemos que o ébrio é posto fora da humanidade de 
acordo com o primeiro verso, mas é reforçado quando o eu po-
ético afirma que o ébrio reside na rua. De tanto ficar excluído 
da humanidade, ele cai de forma fácil nos bancos de praças da 
cidade e é reforçado quando o eu lírico expõe que o ébrio fica 
“Exposto à chuva, a frieza e ao mormaço”, ou seja, além de ser 
isolado da humanidade, o eu poético denuncia que o ébrio fica 
entregue a desigualdade sócio/econômica. Para confirmar tal 
posicionamento, o eu lírico finaliza o último terceto revelando 
a concecpção pessimista acerca da bondade da humanidade e 
descreve no segundo verso a falta de humanização das pessoas, 
ou seja, o povo não tem o sentimento de compaixão e ternura, 
manifestando que a humanidade não possui amor ao próximo. 
Vejamos o último terceto:
Se levanta, tropeça sem alento. 
Este povo, de menos sentimento 
Zomba e ri o tomando por palhaço.
Como percebemos, mesmo que o sujeito – o ébrio – fique 
literalmente de pé, ele não encontra nenhum tipo de entusiano 
por parte das pessoas que estão a sua volta, muito pelo con-
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tário, “Este povo, de menos sentimento” o tem como oportu-
nidade de humilhá-lo. Pois como afirma o último verso, fica 
claro que o ébrio é tomado por gozação, o riso dos que estão a 
sua volta proporciona humilhação e abatimento moral no em-
briado. Notemos que o vocábulo palhaço, aqui adquire o valor 
de adjetivo, isto é, possui o sentido de bobo, louco, irrisório, 
insignificante. Isso implica dizer que o objetivo do povo é de 
excluir e humilhar o ébrio sem nenhum pudor. Portanto, no 
poema, não existe nenhum compromisso e possibilidade de 
haver uma harmonização, principalmente por parte do povo 
“de menos sentimento”, o que revela o tom pessimista e niilis-
ta do poema. 
5. Considerações Finais
Diante do que foi exposto, é importante notarmos que tan-
to no soneto de Cancão quanto no de Augusto dos Anjos o 
sentimento de amor e de respeito ao próximo é visto como algo 
impossível. Por isso que, embora de modo diferente, ambos 
os poemas apresentem semelhanças com relação à visão pes-
simista sobre a raça humana, que, aliás, como vimos também 
está presente na de Cancão.Décima
Portanto, percebemos que tanto a poesia de Cancão quanto 
a de Augusto dos Anjos encontram-se cada vez mais ecléticas, 
universalizantes e atualizadas. Dessa forma, os poetas não dei-
xam de transparecer em sua poética, o inconformismo diante 
das injustiças praticadas na sociedade, deixando clara uma vi-
são extremamente crítica e pessimista acerca dessa comunida-
de hipócrita.
Importante notar que pelo aspecto social, Augusto dos An-
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jos e Cancão, cada qual a seu modo, vivenciaram problemas 
sociais e pessoal marcados pelo contexto histórico-político-
-econômico do século XX. O primeiro, a falência de sua pró-
pria família, a decadência da monocultura da cana-de-açúcar, a 
perda dos engenhos etc; o segundo, o período negro do golpe 
de estado de 64 e a instauração do regime militar, momento 
histórico de grande perturbação psicológica. Inseridos nesses 
contextos, percebemos nos poemas analisados uma crítica so-
cial muito grande, talvez uma forma de tornar mais clara a im-
portância de se ter uma sociedade menos materialista e com 
mais sentimentos nobres, como amar ao próximo.
Referências
ADORNO, Theodor W. Palestra sobre Lírica e Sociedade. In: 
Notas de Literatura I. São Paulo: Duas Cidades, Ed. 34, 2003.
ANJOS, Augusto dos. Toda a Poesia de Augusto dos Anjos 
e um estudo crítico de Ferreira Gullar. Rio de Janeiro: Paz e 
Terra, 1976.
BEZERRA, Antony C. Da literatura comparada como estudo 
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www.moisesneto.com.br/antony.pdf.> Acesso em: 06 Jun. 2012.
BORGES, Jorge Luis. Esse Ofício do Verso. São Paulo: Com-
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34, 2003.
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CAMPOS, Lindoaldo. Nota do organizador: Sobre Cancão / So-
bre Poesia. In: SIQUEIRA, João Batista de. Palavras ao Pleni-
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CARVALHAL, Tania Franco. . 5. ed. Literatura Comparada
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métodos. Porto Alegre: L&PM/VITAE/AILC, 1997.
COHEN, Jean. Estrutura da Linguagem Poética. São Paulo, 
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COUTINHO, Eduardo F. e CARVALHAL, Tania Franco (Orgs.). 
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DESCAMPS, Chistian [et al]. . São Ideias contemporâneas
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FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia. In: . Obras completas. Ed. 
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LAKOFF, George & JOHNSON, Mark. Metáforas da Vida Co-
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LINHARES, Francisco & BATISTA, Otacílio. Antologia Ilus-
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NITRINI, Sandra. : história, teoria e Literatura Comparada
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PERRONE-MOISÉS, Leyla. : ensaios. Flores da escrivaninha
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RICOEUR, Paul. O processo Metafórico como Cognição, Ima-
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de Textos do Mestrado em Letras – Semiótica Poética. João 
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 . (Org.). O Rosto Escuro de Narciso: ensaios sobre litera-
tura e melancolia. João Pessoa: Idéia, 2004.
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Idealismo
Falas de amor, e eu ouço tudo e calo
O amor na Humanidade é uma mentira.É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.
O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaira,
De Messalina e de Sardanapalo?
Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
— Alavanca desviada do seu fulcro —
E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!
 
 Augusto dos Anjos
Anexos
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O Ébrio
Há um ébrio aqui, parede-e-meia
Que o infortúnio lhe fez um sorteado
Todo sujo, sem pão, esfarrapado
Sendo mais conhecido na cadeia.
Ele chora, sorri e palavreia
Pela voragem do vício deformado
Ninguém olha, não sente o seu estado
Que por sorte ou desdita cambaleia.
Vive fora de toda humanidade
Caído às vezes nos bancos da cidade
Exposto à chuva, a frieza e ao mormaço.
Se levanta, tropeça sem alento.
Este povo, de menos sentimento
Zomba e ri o tomando por palhaço.
 
João Batista de Siqueira – Cancão
Décima
Uma fera endiabrada
Só pode ser como esta
Que uma criatura desta
Merecia ser queimada
Porque, sendo sepultada
Uma fera assim maldita
Sua sepultura grita
Não aguenta o arrojo
E o cemitério, com nojo
Abre a garganta e vomita!
 
João Batista de Siqueira – Cancão
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Cancão, poeta irreverente
Lindoaldo Campos
Nascido e criado na ribeira do Rio Pajeú, no Sítio Queimadas, 
município pernambucano de São José do Egito, Cancão desde 
cedo aprendeu a voejar nas asas da chamada poesia popular1, 
poesia de sua gente, desdantanho vinculada, é sabido, a mode-
los estróficos, rímicos e métricos cujos arquétipos alcançam os 
trovadores provençais do medievo e, por consequência, os des-
bravadores que, dantanho, poetizaram nos sertões nordestinos2.
Mas se é certo que absorveu os eflúvios e modelos tradicio-
nais da poética popular, não menos certo é que Cancão não se 
limitou a copiá-los, pois, na inquietude que acertadamente lhe 
rendeu a alcunha passarinheira, também desde cedo aprendeu 
a voar com asas próprias e por caminhos seus, animado, no 
mais das vezes, pelos melodiosos cantos do Romantismo brasi-
leiro (sobretudo de sua segunda fase), tão afeitos à fisionomia 
poética do vate egipciense, que tem no intimismo e na nostal-
gia algumas de suas mais expressivas características.
E já aí se delineia a irreverência de Cancão, não no sentido de 
desacato: Cancão era absolutamente imune a qualquer atitude de 
menosprezo à sua cultura e, sobretudo, a seus pares. Irreverência 
no sentido de não prestar reverência cega à tradição; melhor: de 
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forma positiva, de pretender-se e efetivamente fazer-se poeta não 
apenas à luz dos padrões poéticos existentes em seu torrão, mas, 
também, a partir doutras luzes dalém mares e terras.
Neste sentido, é preciso que se diga que, à semelhança da 
imensa maioria dos poetas daquela região, Cancão – viola ao peito 
– inicialmente enveredou pela poesia de repente, mas logo abdi-
cou da faina de cantador. Não porque “não dava pro serviço”, mas 
porque sentiu que seu estro sonhoso e buliçoso não se amoldava 
aos parâmetros estilísticos da cantoria, que exige uma postura in-
flexível, austera, metódica, grave, numa palavra, e (como afiança o 
insuspeito Teófanes Leandro) “Cancão cantava se bulindo; os ver-
sos lhe vinham de borbotão”, provocando-lhe uma ânsia tal que 
sua expressão corporal certamente causava (no mínimo) espanto 
às audições mais ciosas do gosto das tradições.
Ciente da força de sua verve, Cancão então ousou voos mais 
longínquos, menos seguros, mais destemidos e sutis, e partiu 
para a “poesia de bancada”, como fizeram poucos de seu chão. 
Nela, na poesia de bancada, Cancão encontrou o solo fértil para 
dar vazão à sua poeticidade: doravante, a escrita lhe ajudaria a 
planar pela arte e através dela pôde enfim alcançar maior liber-
dade em relação aos paradigmas da poética popular.
A partir daí, foram várias e significativas as irreverências de 
Cancão: a uma, quanto aos temas a que se dedicou, expressando 
uma lírica confessional e introspectiva que naquelas plagas quiçá 
só encontre paralelo no estro de um Job Patriota ou de um Roga-
ciano Leite. Aliás, quanto a Job, basta assinalar o profundo lirismo 
canconiano presente em poemas como Abandono, O Poeta, O ébrio. 
No que respeita a Rogaciano, por exemplo (e, via de consequ-
ência, a Castro Alves), diga-se da temática social presente em O 
Agricultor, tão ao gosto do grande condoreiro do Pajeú.
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vive o pobre agricultor enfrenta frio e calor
num sofrimento profundo no seu trabalho diário
pelo desprezo do mundo vive assim nesse calvário
o seu grau não tem valor de sacrifício e de dor
sempre foi um lutador só tem por seu defensor
do outro povo esquecido a ferramenta pesada
além de desprotegido essa gente abandonada
ninguém lhe presta atenção luta lhe faltando o pão
é entre toda a nação visto não ter proteção
o mais desfavorecido vive sem direito a nada
Por outro lado, igualmente emblemática da irreverência de Can-
cão quanto aos moldes poéticos populares é a liberdade na escolha 
de modelos estróficos, em que, diferentemente dos repentistas (que 
utilizam, sobretudo, a sextilha e a décima3), Cancão voeja pela qua-
dra, passa pelo quinteto, pela sextilha, pela oitava, pela décima e, com 
igual maestria, alcança o soneto, paradigma da poesia dita erudita4.
Quadras Cancão as canta em Teus vinte anos e tua beleza, Os 
quatorze anos, A manhã do dia nove, Meditações, A noite, Tardes de 
verão, Flores a Maria, Noite suburbana. E nelas apresenta pecu-
liaridades que apontam o quão era liberto, irreverente, como 
quando as cose a partir de diversos tipos de metro poético e de 
cesura, de que é possível exemplificar:
a) quadras com versos hendecassílabos com cesura na quinta sílaba5:
de todas as terras a tua foi santa
fascina e encanta, feliz palestina
a pátria de Cristo, do santo cordeiro
te olhava primeiro quando eras menina
 ( )Flores a Maria

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