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1 Identidade Profissional e Ética nas Relações Professor e Aluno no Ensino Superior Profa. Ma. Crisleine da Silva Crispin Profa. Ma. Edna Barberato Genghini CRISPIN, Crisleine da Silva GENGHINI, Edna Barberato Identidade Profissional e Ética nas Relações Professor e Aluno no Ensino Superior (livro-texto) / Crisleine da Silva Crispin; Edna Barberato Genghini. – São Paulo: Pós-Graduação Lato Sensu UNIP, 2019. 123 p.: il. 1. Ética. 2. Identidade Profissional. 3. Docência. 4. Ensino Superior. II. Crispin, Crisleine da Silva. Genghini, Edna Barberato. Pós-Graduação Lato Sensu UNIP. III. Título. Identidade Profissional e Ética nas Relações Professor e Aluno no Ensino Superior Professora conteudista Crisleine da Silva Crispin possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2015). Especialista em teoria histórico--cultural, pela Universidade Estadual de Maringá (2018). Mestra em Educação pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (2018), foi professora substituta na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, ministrando as seguintes disciplinas: Sociologia Geral, Orientação Profissional I, Psicologia e Educação I, Tópicos Avançados em Psicologia e Educação, Estágio Básico Obrigatório I e Estágio Obrigatório IA - Psicologia e Processos Educativos. Atua principalmente nos seguintes temas: psicologia e educação, desenvolvimento humano, relação ensino-desenvolvimento- aprendizagem, formação de professores, precarização do trabalho docente, sofrimento e adoecimento do professor, políticas públicas educacionais, a partir dos pressupostos teórico-metodológicos da psicologia histórico-cultural e do materialismo histórico-dialético. Professora colaboradora/coordenadora Edna Barberato Genghini é professora universitária desde 2002. Atualmente exerce a função de coordenadora de cinco cursos de pós-graduação lato sensu para todo o Brasil: Psicopedagogia e Neurociências, Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino Superior, Formação e Gestão em Educação a Distância e em Formação em Educação a Distância pela UNIP – Universidade Paulista – UNIP/EAD, onde também atua como professora adjunta, nas modalidades SEI e SEPI. É diretora e psicopedagoga da Mentor Orientação Psicopedagógica Ltda. ME desde 1991. Possui graduação em Economia Doméstica - Faculdades Integradas Teresa D’Ávila, de Santo André (1980), graduação em Pedagogia pela Universidade Guarulhos (1985), pós-graduação em Psicopedagogia pela Universidade São Judas (1987), mestrado em Ciências Humanas pela Universidade Guarulhos (2002) e pós- graduação lato sensu em Formação em Educação a Distância pela UNIP – Universidade Paulista (2011). É autora e coautora de livros-texto para os cursos de Pós-Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino Superior e Formação em Educação a Distância da UNIP – EAD. Membro do NAAP – Núcleo de Acessibilidade e Apoio Psicopedagógico da UNIP-EAD. Áreas de interesse: Neurociências – Educação Inclusiva – Psicopedagogia Clínica e Institucional – Formação e Gestão em Educação a Distância – Formação de Docentes para o Ensino Superior. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 05 INTRODUÇÃO 06 Unidade I APONTAMENTOS PARA A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE: O QUE É SER PROFESSOR? 08 1.1 A consolidação da profissão do professor 08 1.2 Debates sobre os constructos formativos: da formação inicial à continuada 18 1.3 Atuação e formação profissional: os saberes pedagógicos 27 Unidade II IDENTIDADE DOCENTE: ASPECTOS NECESSÁRIOS PARA SUA CONSTITUIÇÃO 41 2.1 O papel da identidade do professor no exercício do trabalho educativo 41 2.2 Identidade e profissionalização 48 2.3 Valorização da carreira docente 52 Unidade III AS ESPECIFICIDADES DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 62 3.1 Características básicas da docência universitária 63 3.1.1 O que são as universidades? 64 3.2 A docência universitária na realidade atual do Ensino Superior Brasileiro 75 3.3 Desafios e perspectivas para a atuação docente do ensino superior 83 Unidade IV A INTER-RELAÇÃO DA ÉTICA E DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 95 4.1 Ética da educação e na educação atual, na relação entre professor-aluno 96 4.2 Ética e moral no exercício da docência no ensino superior 104 4.3 A ética e o discurso ético do professor e do aluno 113 REFERÊNCIAS 122 APRESENTAÇÃO Olá, aluno(a)! Bem-vindo(a)! Neste material, você encontrará os conteúdos pertinentes à disciplina de Identidade Profissional e Ética nas Relações Professor e Aluno no Ensino Superior. Abordaremos, nessa disciplina, os seguintes temas: ● O que é ser professor? ● A identidade docente. ● As questões específicas da docência no ensino superior. ● A relação entre ética e docência no ensino superior. Discutiremos a constituição do trabalho docente e sua relação com a formação da identidade profissional do professor. Abordaremos quais são os aspectos centrais para a construção da identidade profissional docente e qual o seu papel no exercício diário da docência. Daremos ênfase às especificidades da docência; em especial, à docência universitária no Brasil e a quais são os desafios principais e as perspectivas para a atuação docente no ensino superior. E, em nossa última unidade, estudaremos as questões acerca da ética e da sua relação com a docência no ensino superior. A problemática da ética e da educação e a da ética e da moral encerram essa unidade. Animado(a)? Então, vamos aos estudos!!! 6 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), o objetivo dessa disciplina é apresentar uma breve retomada histórica acerca da construção da identidade profissional, ou seja: o que é ser professor hoje? Para tanto, vamos pensar acerca da atuação do professor na sociedade em que ele está inserido, a partir dos saberes pedagógicos e de sua atualidade: Quais as características básicas da docência universitária? Quais os desafios e as perspectivas que o futuro professor universitário encontrará em sua atuação? Por fim, discutiremos quais as implicações éticas sobre a docência universitária; em especial, na relação professor-aluno. Para tanto, a disciplina está dividida em quatro unidades, sendo que cada uma aborda com maior profundidade um dos quatro eixos norteadores da disciplina, que são: Unidade Eixo temático norteador 1 O que é ser professor? 2 A identidade docente 3 As questões específicas da docência no ensino superior 4 A relação entre ética e docência no ensino superior Com a elaboração desses eixos que norteiam o debate, temos o seguinte objetivo geral: ● analisar elementos que compõem a formação da identidade docente e sua relação na atuação da docência no ensino superior. Assim, apresentamos, também, os objetivos específicos para a disciplina: ● discutir acerca da constituição do trabalho docente e sua relação com a formação da identidade profissional; ● debater sobre os aspectos necessários para a formação da identidade profissional e do papel desta para o exercício da profissão; ● abordar as especificidades da docência universitária na realidade brasileira; 7 ● tratar as questões éticas no exercício da docência e a relação com os alunos. E aí? Preparado(a)? Vamos aos estudos! 8 UNIDADE I 1. APONTAMENTOS PARA A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE: O QUE É SER PROFESSOR? Nesta unidade, temos, como objetivo principal, compreender alguns elementos preliminares à formação da identidade docente. Para isso, vamos debater de que forma a profissão docente se consolidou ao longo da história,dando destaque especial à particularidade do Brasil. Também vamos discutir sobre a formação de professores, da inicial à continuada, que orienta a pratica do professor, e igualmente é importante à compreensão da formação da identidade docente. Ao final, discutiremos os saberes pedagógicos que orientam a prática docente e fazem parte da relação que constitui a identidade do professor. Para dar início aos nossos estudos, vamos debater sobre a constituição da atividade do professor enquanto profissão, tendo em vista o ato de ensinar, que é o objetivo do trabalho docente. 1.1 Discussões sobre a profissão do professor A subjetividade e a sensibilidade individual de cada ser humano constroem-se, socialmente, à medida que cada sujeito se insere num determinado contexto social. Além disso, para se constituir, cada pessoa precisa aprender o que foi produzido pela própria humanidade, pelas gerações anteriores: valores, cultura, conceitos. Para se estabelecer como professor, ocorre o mesmo! É a partir das relações formativas e especializadas, isto é, a partir da formação inicial e/ou continuada de professores, que você adquire os conhecimentos necessários para o exercício da profissão. Esta formação, por sua vez, é produto do trabalho coletivo acumulado historicamente, por meio do qual os adultos transmitem conhecimentos às gerações mais jovens. Cabe, então, compreendermos como se deu a constituição da profissionalização da atividade de ensino historicamente. Antes disso, é importante dizer que não podemos compreender que se tornar ser humano e se tornar professor são processos que não se relacionam e que são distintos! Muito pelo contrário. Enquanto isso, nós, seres humanos, não possuímos diferentes identidades! Somos uma unidade, uma síntese de todas as relações das quais participamos. Sendo assim, somos uma unidade do diverso. E, no caso de exercermos a profissão docente, cada professor é um ser social, síntese das diversas relações e processos formativos dos quais faz parte nos distintos âmbitos da vida, Conteúdos trabalhados na unidade: apontamentos para a formação da identidade docente: o que é ser professor? Consolidação da profissão do professor; debates sobre os constructos formativos: da formação inicial à continuada; atuação e formação profissional: os saberes pedagógicos. 1.1 1.2 Atuação e formação profissional: os saberes pedagógicos 1.3 . 9 especialmente no que se refere à sua formação científica para exercício da profissão. Assim, vamos compreender como se dá a profissionalização da atividade de ensino? Figura 1: Atividade de ensino Fonte: Google imagens1 A profissão docente é constituída à medida que o Estado intervém e substitui a Igreja que, antes, tinha a tutela do ensino (NÓVOA, 1991). Cabe lembrar que, ao se iniciar, a tarefa de ensinar não foi considerada profissão, pois não tinha especialidade e era secundária. A partir do controle estatal, sob as ações dos professores, ocorreu a profissionalização desta atividade. Isso foi possível pela implantação da primeira Lei Geral do Ensino, em 1827, que tinha como objetivo a organização e a normatização para o exercício da profissão docente. De acordo com Nóvoa (1991), o Ato Adicional de 1834 substituiu o mestre- escola pelo novo professor, de modo que as províncias ficariam responsáveis pela sua formação. As escolas normais estão na origem de uma profunda mudança, de uma verdadeira mutação sociológica, do pessoal docente primário. Sob sua ação, os mestres miseráveis e pouco instruídos do início do século XIX vão, em algumas décadas, ceder lugar a profissionais formados e preparados para a atividade docente (NÓVOA, apud VILLELA, 2000, p. 101). Esse momento histórico é muito importante para a constituição da profissão docente, pois, nele, é reconhecida a necessidade de o professor aprender a ensinar e o que ensinar. Ou seja, o professor deve ser instrumentalizado para exercer a atividade de formar outros! 1Disponível em: http://educacao.salvador.ba.gov.br/adm/wp- content/uploads/2018/10/09_10_2018_Dia-do-Professor_Dejanira-Rainha-Melo_Foto_Jefferson- Peixoto_Secom_Pms-12-1-800x534.jpg. Acesso em: 09 jul. 19. http://educacao.salvador.ba.gov.br/adm/wp-content/uploads/2018/10/09_10_2018_Dia-do-Professor_Dejanira-Rainha-Melo_Foto_Jefferson-Peixoto_Secom_Pms-12-1-800x534.jpg http://educacao.salvador.ba.gov.br/adm/wp-content/uploads/2018/10/09_10_2018_Dia-do-Professor_Dejanira-Rainha-Melo_Foto_Jefferson-Peixoto_Secom_Pms-12-1-800x534.jpg http://educacao.salvador.ba.gov.br/adm/wp-content/uploads/2018/10/09_10_2018_Dia-do-Professor_Dejanira-Rainha-Melo_Foto_Jefferson-Peixoto_Secom_Pms-12-1-800x534.jpg 10 Você sabia que compreender a importância das escolas normais na constituição da história brasileira é fundamental? Consulte o texto para se informar mais sobre esse tema: VILLELA, Heloisa de O. S. O mestre-escola e a professora. In: LOPEZ, Eliane Marta Teixeira (Org.) et al. 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. Acesso em: 19 jul. 2019. Pensar a constituição da profissão docente é, também, pensar o significado do papel do/a professor/a na sociedade. Além disso, não podemos deixar de atentar para as diversas transformações sociais econômicas acontecidas ao longo da história que influenciaram a concepção sobre o papel da escola diante da sociedade e que, igualmente, influenciaram as transformações no exercício da profissão do professor. Quais foram essas transformações? Aumento das exigências em relação ao professor; desenvolvimento de fontes de informação alternativas à escola; ruptura do consenso social sobre a educação; aumento das contradições no exercício da docência; menor valorização social do professor; mudança de conteúdos escolares; escassez de recursos materiais e deficiência nas condições de trabalho; mudanças nas relações professor-aluno; fragmentação do trabalho docente etc. Você, professor, que já exerce a docência, com certeza, já se deparou com alguns dos fatores acima mencionados. E você que está se preparando para iniciar, certamente, vivenciará algumas dessas situações. Todas elas têm influência sobre o modo como você se forma professor. Todas as relações que estabelecemos a partir dessas experiências atravessadas por diversas situações, seja pelas condições de trabalho, relações professor-aluno, currículo ou valorização docente, vão nos constituindo enquanto professores, enquanto seres sociais. Isso porque vamos aprendendo nessas relações. 11 Figura 2: Relação entre ensinar e aprender Fonte: Google imagens2 Deste modo, constituir-se enquanto professor envolve a articulação entre o processo de formação, as instituições onde lecionará os conhecimentos e as condições para o exercício da docência, assim como a relação com o Estado (NÓVOA, 1991). É importante lembrarmos que, no contexto brasileiro, ocorreram diversas lutas e conflitos sobre a definição e a redefinição do papel do professor e da estruturação do seu campo de atuação. Assim, no decorrer do tempo, surgiram distintos modelos de formação de professores, que se adequaram às características de cada momento histórico e que moldaram a constituição do sistema escolar brasileiro. Diante das diversas transformações no contexto da educação, muitos são os dilemas impostos à profissão docente, conforme aponta Nóvoa (2002). Para o autor, são três os dilemas fundamentais: a comunidade, a autonomia e o conhecimento, que não são dilemas recentes, mas adquirem novas características e configurações no presente, e que os professores são chamados a responder. Com isso, o autor aponta três teses que são interligadas aos dilemas acima: saber relacionar e saber relacionar-se (comunidade), saber organizar e saber organizar-se (autonomia), saber analisar e saber analisar-se (conhecimento).Para o autor, essas teses buscam redefinir a essência do ser professor na educação. Isso se aplica tanto para o ensino básico quanto para o ensino superior! 2Disponível em: http://2.bp.blogspot.com/- 8Uzdacosh_g/VWpZ2eidibI/AAAAAAAAAJw/9qcqpcApmkw/s1600/582705_491267957549924_13566 74867_n.jpg. Acesso em: 19 jul. 19. http://2.bp.blogspot.com/-8Uzdacosh_g/VWpZ2eidibI/AAAAAAAAAJw/9qcqpcApmkw/s1600/582705_491267957549924_1356674867_n.jpg http://2.bp.blogspot.com/-8Uzdacosh_g/VWpZ2eidibI/AAAAAAAAAJw/9qcqpcApmkw/s1600/582705_491267957549924_1356674867_n.jpg http://2.bp.blogspot.com/-8Uzdacosh_g/VWpZ2eidibI/AAAAAAAAAJw/9qcqpcApmkw/s1600/582705_491267957549924_1356674867_n.jpg 12 Figura 3: Dilemas da docência Fonte: Google imagens3 Você sabia que os professores têm apresentado muito sofrimento e adoecimento devido aos dilemas da docência? Além disso, cada vez mais, aumenta o número de afastamentos, licenças e readaptações. De acordo com a bibliografia, a maioria desses adoecimentos diz respeito aos diagnósticos psíquicos, tais como: ansiedade, depressão, síndrome de Burnout etc. Ainda há casos de adoecimentos devido a problemas osteomusculares, doenças nas cordas vocais, ente outros. Os estudos apontam que o adoecimento de professores tem relação essencial com as condições de trabalho. É importante compreendermos como se dá esse processo, pois, diante da responsabilidade e da tarefa de ser professor, quando adoecemos, pensamos que a culpa é nossa. Existe uma série de fatores envolvidos e devemos fazer a correta análise para entender esse processo. Para saber mais sobre o assunto, consultar a seguinte referência: https://ufpi.br/arquivos_download/arquivos/EDUFPI/LIVRO_PRECARIZACAO_DO_T RABALHO_04-12.pdf. Nessa perspectiva, Nóvoa propõe a redefinição do sentido social do trabalho docente, numa concepção de escola como espaço aberto, ligado a outras instituições culturais e científicas e com presença das comunidades locais, pois: […] a atividade docente caracteriza-se igualmente por uma grande complexidade do ponto de vista emocional. Os professores vivem num espaço carregado de afetos, de sentimentos e de conflitos. Quantas vezes preferiam não se envolver […] mas sabem que tal distanciamento seria a 3Disponível em:http://1.bp.blogspot.com/- mMs9ZyQOqd0/Tfdo14i_85I/AAAAAAAAAGo/jTpPi4-d0uU/s1600/la-aventura-de-ser-docente.jpg. Acesso em: 22 jul. 19. https://ufpi.br/arquivos_download/arquivos/EDUFPI/LIVRO_PRECARIZACAO_DO_TRABALHO_04-12.pdf https://ufpi.br/arquivos_download/arquivos/EDUFPI/LIVRO_PRECARIZACAO_DO_TRABALHO_04-12.pdf http://1.bp.blogspot.com/-mMs9ZyQOqd0/Tfdo14i_85I/AAAAAAAAAGo/jTpPi4-d0uU/s1600/la-aventura-de-ser-docente.jpg http://1.bp.blogspot.com/-mMs9ZyQOqd0/Tfdo14i_85I/AAAAAAAAAGo/jTpPi4-d0uU/s1600/la-aventura-de-ser-docente.jpg 13 negação do seu próprio trabalho. Que ninguém tenha 2163 ilusões. Ao alargarmos o espaço da escola, para nele incluirmos um conjunto de outros “parceiros”, estamos inevitavelmente a tornar mais difícil este processo. Os professores têm de ser formados, não apenas para uma relação pedagógica com os alunos, mas também para uma relação social com as “comunidades locais” (NÓVOA, 2002, p. 24). Figura 4: Escola como espaço aberto Fonte: Google imagens4 Figura 5: Comunidade Escolar Fonte: Google imagens5 Essa relação entre pais, professores, gestores, família e comunidade é imprescindível para o funcionamento da escola e para a relação pedagógica, pois é a partir do envolvimento de todos que a escola pode, de fato, cumprir com o objetivo de humanização dos seres sociais. Isso compõe o que Nóvoa (2002) chama de ampliação da relação pedagógica para uma relação social. E, para essa ampliação ser efetivada, os professores têm de ser instruídos, por meio de processos formativos com qualidade, que possibilitem a efetividade da relação entre teoria e prática. É por meio dessa relação social que o ser professor vai se constituindo! A educação e a profissão docente, por consequência, têm uma finalidade: possibilitar a apropriação do conhecimento. Mas não é qualquer 4 Disponível em: http://sambio.org.br/wp-content/uploads/2012/10/20121030-2.jpg. Acesso em: 22 jul. 19. 5Disponível em: https://sites.google.com/site/emefdelcelia/_/rsrc/1468737625665/comunidade- escolar/nova%20escola.bmp?height=146&width=204. Acesso em: 22 jun. 19. https://sites.google.com/site/emefdelcelia/_/rsrc/1468737625665/comunidade-escolar/nova%20escola.bmp?height=146&width=204 https://sites.google.com/site/emefdelcelia/_/rsrc/1468737625665/comunidade-escolar/nova%20escola.bmp?height=146&width=204 14 conhecimento! De acordo com Saviani, a escola e o professor devem possibilitar ao aluno a apropriação do conhecimento científico, pois não temos acesso a esse conhecimento nas relações cotidianas fora da escola. É o conhecimento científico que possibilita ao ser humano analisar e compreender a realidade. Portanto, para que o professor cumpra com sua função de ensinar o aluno, ele deve ser formado para tal empreitada. Figura 6: Conhecimento científico Fonte: Google imagens6 De acordo com Saviani (2015, p. 287), podemos dizer que ser professor se dá por meio do ato educativo, que se caracteriza como: […] o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida, histórica e coletivamente, pelo conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana, para que eles se formem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo. Com isso, o autor quer dizer que o professor deve proporcionar aos seres humanos, por meio do processo educativo, o acesso ao conhecimento historicamente acumulado, para que os indivíduos apreendam a realidade. Em outras palavras, o professor deve ensinar os elementos da cultura e da ciência, o saber sistematizado, tais como a leitura, a escrita, o cálculo, a biologia, a geografia, a história, a sociologia, a filosofia etc., para que seu aluno aprenda aquilo que não lhe foi dado ao nascer. Portanto, a aprendizagem, assim como o desenvolvimento, não ocorre de forma espontânea! Ocorre por meio de um processo – o ato educativo – que envolve a intencionalidade e o planejamento daquele que ensina. Portanto, a profissão docente, e igualmente, a “identidade” docente, é um produto das relações entre contexto e sujeitos envolvidos na organização da vida social e nos compõe enquanto seres sociais. Além disso, está em constante mudança e não é mais uma identidade que adquirimos. 6Disponível em: https://www.coladaweb.com/wp-content/uploads/2014/12/20160223- conhecimento-cientifico.jpg. Acesso em: 22 jul. 19. 15 Figura 7: Identidade docente Fonte: Google imagens7 Saviani (2014) afirma que o esforço, o comprometimento e a paixão dos professores com a profissão docente deve se pautar a partir de uma paixão crítica no exercício docente! Assim, para que o professor possa enfrentar os dilemas da docência, é preciso que, entre outras coisas, saiba fazer uma análise crítica da sua profissão, assim como Nóvoa (2002) comenta sobre o saber analisar e o analisar-se. Para isso, o professor deve ensinar e ter ciência de que o ensino é um ato planejado intencionalmente, como afirmado acima. Em outras palavras, o ato de ensinar demanda: a) o planejamento das ações; b) a intencionalidade para escolher os conteúdos escolares; c) a intencionalidade para escolher as formas apropriadas de transmissão. Esse ensino deve partir dosconhecimentos científicos, artísticos e filosóficos! 7Disponível em: https://ufrb.edu.br/portal/components/com_chronoforms5/chronoforms/uploads/evento/201607071658 18_identidadade-docente.jpg. Acesso em: 19 jul. 19 16 Figura 8: Intencionalidade e planejamento do ato educativo Fonte: Google imagens8 Não deixe de ler o texto FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSÃO DOCENTE de Antônio Nóvoa. Nesse estudo, o autor objetiva debater a formação de professor, de modo a superar a perspectiva centrada nas dimensões acadêmicas (áreas, currículos, disciplinas, etc), por meio de uma perspectiva centrada na experiência profissional. Esta é uma leitura imprescindível para compreender os aspectos históricos da profissão docente no contexto de Portugal, mas que tem relação com a forma como a profissão docente também foi se constituindo aqui no Brasil. Segue abaixo o link do texto: https://core.ac.uk/download/pdf/12424596.pdf. 8Disponível em: https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/artigos/a%20importancia%20do%20plano%20de%20a ula.jpg?i=https://brasilescola.uol.com.br/upload/e/a%20importancia%20do%20plano%20de% 20aula.jpg. Acesso em: 22 jul. 19. https://core.ac.uk/download/pdf/12424596.pdf https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/artigos/a%20importancia%20do%20plano%20de%20aula.jpg?i=https://brasilescola.uol.com.br/upload/e/a%20importancia%20do%20plano%20de%20aula.jpg https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/artigos/a%20importancia%20do%20plano%20de%20aula.jpg?i=https://brasilescola.uol.com.br/upload/e/a%20importancia%20do%20plano%20de%20aula.jpg https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/artigos/a%20importancia%20do%20plano%20de%20aula.jpg?i=https://brasilescola.uol.com.br/upload/e/a%20importancia%20do%20plano%20de%20aula.jpg 17 Por fim, como já pontuado ao longo desse item, o professor deve apreender esses conhecimentos para conseguir efetivar o ato educativo, consolidando sua profissão. Isso se dá por meio de relações formativas e especializadas, ou seja, por meio da formação de professores. Esse é um processo que vai desde a formação inicial à continuada, que debateremos no próximo item. Vamos lá? Figura 9: Formação de professores Fonte: Google imagens9 1.2 Debates sobre os constructos formativos: da formação inicial à continuada Com base no que dialogamos a respeito da profissão docente e do ato educativo em si, que interferem na constituição da identidade docente, convém agora conversarmos sobre os constructos formativos. Vejamos: se o ato educativo, como já afirmamos, é o ato de transformar, direta e intencionalmente, a humanidade em cada indivíduo singular, o professor deve aprender a fazê-lo. Pois o mestre não nasce sabendo como planejar suas aulas, quais materiais utilizar, quais conteúdos deve ministrar. Muito pelo contrário! Essas especificidades da docência são apreendidas! Como aprendê-las? Por meio dos processos formativos, que se iniciam na formação inicial e seguem nas formações continuadas. É através do processo de formação de professores, que o professor aprende o conhecimento científico e o modo como ele deve ser ensinado a seu aluno. Por isso, esse processo é essencial para a formação do ser professor! 9 Disponível em: http://ceap.org.br/wp-content/uploads/2016/04/logo-Formacao-de- Professores.png. Acesso em: 08 maio 19. 18 Segundo Cunha, “Refletir a respeito do conceito de formação de professores exige que se recorra à pesquisa, à prática de formação e ao próprio significado do papel do professor na sociedade. A pesquisa acompanha os movimentos político-econômicos e socioculturais que dão forma ao desempenho docente, quer no plano do real, quer no ideal. Já a prática estabelece-se a partir de uma amálgama de condições teórico- contextuais” (CUNHA, 2013, p. 3). De acordo com Pimenta (1995), a centralidade da atividade do professor é o processo de ensino e aprendizagem, como prática social. Ou seja, a atividade docente é uma prática em transformação - práxis. Isso quer dizer que ela não é fixa. Está em constante mudança. Por isso, o processo formativo do professor deve contemplar uma relação de interdependência recíproca entre teoria e prática. Quem já não ouviu a famosa frase? “A gente aprende a teoria, mas na prática é diferente”. Isso acontece porque, muitas vezes, aprendemos teorias que não dialogam com a realidade. Por isso devemos dar uma atenção especial às teorias, pois elas devem explicar a realidade e dar direcionamentos do que devemos fazer. No caso da atividade docente, ocorre o mesmo! É preciso uma teoria que esteja alinhada à prática docente. Uma teoria que, de fato, compreenda a realidade escolar nesta sociedade e nos instrumentalize, enquanto professores, para que possamos lidar com as especificidades em sala de aula, como por exemplo, a ética nas relações professor aluno, que será abordada ao final do nosso módulo. É nesse sentido que afirmamos que a atividade docente deve ser práxis, isto é, prática em transformação; que, à medida que se concretiza, vai sendo transformada, a depender de como isso é requisitado em sala de aula. 19 Figura 10: Teoria e prática indissociáveis como práxis docente Fonte: Google imagens10 Portanto, é preciso uma formação de professores que possibilite a relação de interdependência teórico-prática, em que os fenômenos da educação e da escola devem ser investigados, tendo como base teorias que expliquem a realidade e apontem caminhos de superação das dificuldades encontradas. Sacristán tem partido do pressuposto de que as atuais tendências investigativas na formação de professores caracteriza-se, hoje, por duas tendências: a pós-positivista e a pós-weberiana. Para saber mais sobre o assunto, estude o texto: GIMENO SACRISTÁN, J. Tendências investigativas na formação de professores. In: PIMENTA, S. G.; GHEDIN, E. (Org.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica do conceito. São Paulo: Cortez, 2002. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/interacao/article/download/1697/1667/0. Acesso em: 26 jul. 19. E como se dá a formação de professores? 10Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/328401758/figure/fig2/AS:683631131500544@15400017712 95/Figura-3-Articulacao-teoria-e-pratica-na-APCC.ppm. Acesso em: 05 jun. 19. https://www.researchgate.net/publication/328401758/figure/fig2/AS:683631131500544@1540001771295/Figura-3-Articulacao-teoria-e-pratica-na-APCC.ppm https://www.researchgate.net/publication/328401758/figure/fig2/AS:683631131500544@1540001771295/Figura-3-Articulacao-teoria-e-pratica-na-APCC.ppm 20 Esse processo também se constituiu ao longo da história da educação. O desenvolvimento de professores, tanto na formação inicial quanto na formação continuada, nesse sentido, é um processo de acúmulo histórico com várias transformações. Para Cunha: Em sentido amplo, a formação de professores se faz em um continuum, desde a educação familiar e cultural do professor até a sua trajetória formal e acadêmica, mantendo-se como processo vital, enquanto acontece seu ciclo profissional (CUNHA, 2013, p. 61). A formação inicial pode ser compreendida como os processos institucionais de formação de dada profissão, nos quais possibilita a licença para o exercício profissional e o reconhecimento legal, como, por exemplo, os cursos de licenciatura (CUNHA, 2013). Já a formação continuada refere-se a iniciativas instituídas no período que acompanha o tempo profissional dos professores. Pode ter formatos e duração diferenciados, assumindo a perspectiva da formação como processo (CUNHA, 2013, p. 4). Figura 11: Formação continuada:pós-graduação Fonte: Google imagens11 Um exemplo de formação continuada é esse curso que você realiza agora, de Docência no Ensino Superior! Portanto, os cursos de pós-graduação, assim como os cursos de capacitação, ente outros, são aqueles que realizamos para aperfeiçoar nossos saberes em relação à prática profissional. 11Disponível em: http://www.newlifecursos.com.br/arquivos/cursos/18/large/posunip.jpg. Acesso em: 06 jun. 19. http://www.newlifecursos.com.br/arquivos/cursos/18/large/posunip.jpg 21 Figura 12: Formação continuada Fonte: Google imagens12 A formação inicial e a formação continuada, por muito tempo, foram consideradas processos nos quais o professor aprenderia um conhecimento pensado por outro especialista e apenas reproduziria ao seu aluno. Assim, o professor não era visto como um ser capaz de produzir conhecimentos, pois era visto como um fazedor, repetidor e aplicador de instruções contidas nos manuais. Por meio da formação inicial, o professor estaria pronto para a sala de aula, caso conseguisse acumular os conhecimentos e aprendesse as técnicas necessárias para resolver as dificuldades do cotidiano. Esse modelo de formação se baseava no modelo da racionalidade técnica, no qual o professor deveria seguir e cumprir manuais. O funcionamento da instituição escolar era fundamentado no modo fabril de produção e controle. Por isso, o professor era submetido à mera condição de realizador de tarefas. A formação e, por conseguinte, a prática docente dos professores das décadas de 70 e 80 foram influenciadas pelo tecnicismo, resultando em práticas pedagógicas carregadas de tarefas repetitivas que, muitas vezes, não tinham sentido para o professor nem para o aluno. Esse fato é fundamental para compreendermos como esse processo molda o ser professor, pois, como afirmamos anteriormente, é nas diversas relações, especialmente a partir dos processos formativos, que apreendemos a docência. 12Disponível em: https://espacoeducarsite.files.wordpress.com/2018/08/formac3a7c3a3o- atual-iii.gif. Acesso em: 07 jun.19. https://espacoeducarsite.files.wordpress.com/2018/08/formac3a7c3a3o-atual-iii.gif https://espacoeducarsite.files.wordpress.com/2018/08/formac3a7c3a3o-atual-iii.gif 22 Figura 13: Temáticas da formação de professores Fonte: Google imagens13 Assim como na história da formação inicial, o modelo da racionalidade técnica determinou a prática pedagógica. Na formação continuada, ocorreu um processo similar. Vejamos: […] os programas de formação continuada de professores, vigentes no cenário da educação básica, baseiam-se na perspectiva da “epistemologia da prática”, destacando-se, nesse processo formativo, a abordagem de procedimentos de ensino, roteiros e esquemas para orientar a prática, situações de resolução de problemas diários do cotidiano escolar, modelos de conhecimentos práticos erigidos das interações em sala de aula, dentre outros aspectos, que colaboram para a construção de um perfil de professor ligado ao praticismo, ao individualismo, à banalização da teoria e ao pragmatismo (BRITO, LIMA e SILVA, 2017, p. 160). Nesse sentido, o foco dessa formação se centrava no alcance às metas em avaliações externas, na valorização da prática, na reflexão sobre a prática, na secundarização do referencial teórico e nas contextualizações histórica, econômica e social da educação. Com isso, a formação conduz o professor a se limitar à reflexão apenas do contexto em sala de aula e o restringe a perceber que as problemáticas escolares fazem parte de uma realidade mais complexa e ampla! O reflexo disso é que o professor acaba por assumir uma responsabilidade que foge à sua formação e à sua atuação. Por esse motivo, muitas vezes, o professor é responsabilizado pelo fracasso escolar. Isso traz consequências à sua identidade enquanto ser humano e professor, pois acaba culpando-o por um processo que é mais complexo e envolve uma série de fatores. 13Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/img/0443.jpg. Acesso e 06 jun. 19. http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/img/0443.jpg 23 Figura 14: Professor se sentindo culpado Fonte: Google imagens14 Por isso, é necessária uma formação que nos ensine a refletir para além do contexto em sala! É preciso que aprendamos a refletir sobre o contexto mais amplo e complexo. É fundamental que a formação de professores, inicial e continuada, tenha como objetivo superar a dicotomia entre teoria e prática. Como fazer isso? Em um primeiro passo, é preciso que compreendamos a função social da educação escolar como uma prática social mediadora, que busca promover o processo de humanização dos seres humanos. Assim, para atingir esse objetivo, é preciso um professor qualificado, que ocupará um papel central na relação educativa, pois é ele o portador do conhecimento científico que será objeto de ensino e aprendizagem. E, por fim, os cursos de formação devem ser constituídos de modo a possibilitar que o professor se aproprie dos conhecimentos teóricos e práticos e faça uma análise crítica e coletiva das finalidades a seres atingidas, assim como dos caminhos para selecionar e dosar os conteúdos que devem compor os currículos e suas aulas. Com isso, a formação de professores estará, de fato, contribuindo para que o professor tenha uma prática mais efetiva diante da realidade educativa. 14 Disponível em: http://www.ambientelegal.com.br/wp-content/uploads/Quem-manda-em-sala- de-aula_o-aluno-ou-o-professor.jpg. Acesso em: 22 jun.19. http://www.ambientelegal.com.br/wp-content/uploads/Quem-manda-em-sala-de-aula_o-aluno-ou-o-professor.jpg http://www.ambientelegal.com.br/wp-content/uploads/Quem-manda-em-sala-de-aula_o-aluno-ou-o-professor.jpg 24 Figura 15: Prática docente Fonte: Google imagens15 Cunha (2013) elaborou uma síntese das tendências que se manifestam no campo da formação de professores, na qual marca as rupturas epistemológicas, culturais e políticas nos campos da educação e da formação de professores. Segue, abaixo, a síntese feita de forma esquemática: 15 Disponível em: https://image.slidesharecdn.com/aprticadocentedoensinar-110425225014- phpapp02/95/a-prtica-docente-do-ensinar-1-728.jpg?cb=1303771880. Acesso em: 25 maio 19. https://image.slidesharecdn.com/aprticadocentedoensinar-110425225014-phpapp02/95/a-prtica-docente-do-ensinar-1-728.jpg?cb=1303771880 https://image.slidesharecdn.com/aprticadocentedoensinar-110425225014-phpapp02/95/a-prtica-docente-do-ensinar-1-728.jpg?cb=1303771880 25 Fonte: Retirado de Cunha (p. 620, 2013)16. Agora que debatemos sobre a importância da formação inicial e continuada de professores, para que o professor tenha instrumentos que efetivem a práxis pedagógica com o objetivo de passar o conhecimento historicamente acumulado, precisamos discutir sobre os saberes da docência que atravessam essas formações. Convido você a embarcar nesse conhecimento comigo, vamos lá? 16 CUNHA, Maria Isabel. O tema da formação de professores: trajetórias e tendências do campo na pesquisa e na ação. Educ. Pesqui., São Paulo, n. 3, p. 609-625, jul./set. 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ep/v39n3/aop1096.pdf. Acesso em: 26 jul. 2019. http://www.scielo.br/pdf/ep/v39n3/aop1096.pdf 26 1.3 Atuação e formação profissional: os saberes pedagógicos Falaremos, agora, do processo de atuação do professor e da formação profissional, que envolvem os saberes pedagógicos. Como já discutimosanteriormente nessa apostila, sabemos agora o que é ser professor, ou melhor, qual o papel do docente frente ao processo educativo. O professor deve proporcionar, por meio do processo educativo, o acesso ao conhecimento historicamente acumulado, para que os indivíduos apreendam a realidade. Em outras palavras, o professor deve ensinar os elementos da cultura e da ciência, e o saber sistematizado, tais como a leitura, a escrita, o cálculo etc., para que seu aluno aprenda aquilo que não lhe foi dado ao nascer. Sendo assim, para que o professor conduza o processo educativo, é necessário que, primeiro, ele detenha os conhecimentos referentes à profissão docente, que são conhecidos como os saberes pedagógicos. Ou seja, primeiro, ele precisa aprender; para, depois, ensinar! Segundo Carlinda Leite e Kátia Ramos (2012, s/p.), “é reconhecida a necessidade de um ensino que contribua para superar a fragmentação de funções, de um ensino profissional que, tendo um caráter propedêutico, se articule com a investigação e que esteja em sintonia com o contexto social". Assim, para que os educadores possam fornecer elementos críticos da realidade a seus alunos, é preciso que tenham aprendido tais elementos nos processos formativos, bem como saibam combater a visão que separa, em compartimentos fragmentados, a realidade e o conhecimento científico. Figura 16: Saberes Fonte: Google imagens17 17 Disponível em: http://ivanhuiracocha.blogspot.com/2015/10/cognitivismo.html. Acesso em: 02 jun. 2019. http://ivanhuiracocha.blogspot.com/2015/10/cognitivismo.html 27 Você já deve ter usado a palavra “didática” em alguma aula, ou lido o termo em algum texto, ou, mesmo, teve que ser “didático” em alguma atividade que exerceu, certo? Então, não teremos dificuldades em pensar o que é a didática, correto? Como é possível, para um professor, ser didático? Existem critérios para pensarmos quais os profissionais “didáticos”? Vamos elaborar, junto com você, aluno, essas formulações! Figura 17: Aprendendo os saberes Fonte: Google imagens18 De acordo com Pimenta (1997), os saberes do professor são o conjunto de habilidades e características que compõe o profissional docente. São três os principais saberes do professor: o conhecimento, a experiência e os saberes pedagógicos. Diante de nossa realidade, está colocada uma série de desafios para a atuação do professor, partindo, sempre, da sua prática social. Nesse sentido, as habilidades necessárias para que um profissional docente possa ser, de fato, um bom professor são vastas, porém, não podem ser vistas como motivos para o distanciamento do profissional do constante aprimoramento pessoal. O conhecimento, ou busca por conhecimento, é, portanto, o primeiro dos saberes da docência. 18 Disponível em: https://outrasantonietas.files.wordpress.com/2015/02/leitora2.png?w=300&h=218. Acesso em: 08 jun. 2019. https://outrasantonietas.files.wordpress.com/2015/02/leitora2.png?w=300&h=218 28 A relação indissolúvel entre a teoria que é enriquecida pela prática, esse constante processo de relação entre teoria e prática, dá elementos para enriquecer a didática do professor no processo de ensino. Ou seja, o professor não inicia sua carreira docente dominando todos os aspectos da atividade docente, e sim, enriquece seus conhecimentos sobre a realidade profissional ao se relacionar com o dia a dia da profissão, sempre mantendo firme a relação entre as experiências práticas e a formação teórica, seja nos cursos de formação superior, como esse, ou individualmente, em associações etc. Além disso, a experiência é a parte mais singular de todo o processo dos saberes do docente, porque se constitui pela relação individual, pela trajetória de cada estudante em busca de formação humana. No caminho de se tornar professor, ele é, na maior parte do tempo, estudante. São, então, suas relações com outros professores e estudantes que formam seu conjunto de experiências individuais com o processo educativo. Por último, existem os saberes pedagógicos, que surgem da necessidade de problematizar a realidade onde está inserido o sujeito crítico, ativo, pensante. Tais saberes são parte constituinte do fundamento do pensamento científico, que é crítico em relação ao conhecimento historicamente acumulado, no sentido de que busca, sempre, avançar para além das limitações atuais; e produzem, nesse processo, novas formas de relacionamento com a realidade e de transformação da existência humana: representam a materialização do papel do professor diante do processo educativo. “Do confronto entre as teorias e as práticas, da análise sistemática das práticas à luz das teorias existentes, da construção de novas teorias, constrói-se, também, pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor confere à atividade docente no seu cotidiano a partir de seus valores, de seu modo de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações, de seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida: o ser professor. Assim, como a partir de sua rede de relações com outros professores, nas escolas, nos sindicatos e em outros agrupamentos” (PIMENTA, 1997, p. 7). Em sua prática social, ao ensinar, o professor também vai aprendendo. Com isso, sua identidade carrega as marcas de sua própria atividade e, como afirma Tardiff (2002, p. 57), “uma boa parte de sua existência é caracterizada por sua atuação profissional”. Ao longo do seu tempo de trabalho, o indivíduo vai se tornando um professor, com sua cultura, suas concepções, seus interesses, funções etc. É a partir daí que o professor adquire os saberes necessários à realização de suas tarefas, por meio da aprendizagem de conhecimentos teóricos e técnicos que o preparem para sua atividade pedagógica. Isso ocorre por meio dos processos formativos que estudamos anteriormente. 29 Mas o que é saber? Figura 18: Saber Fonte: Google imagens19 Tardif (2008, p. 199) define o “saber” como: […] os pensamentos, as ideias, os juízos, os discursos, os argumentos que obedeçam a certas exigências de racionalidade. Eu falo ou ajo racionalmente quando sou capaz de justificar, por meio de razões, de declarações, de procedimentos etc., o meu discurso ou a minha ação diante de outro ator que me questiona sobre a pertinência, o valor deles. Portanto, os saberes docentes estão ligados ao trabalho e à pessoa que trabalha, isto é, às funções dos professores! Atualmente o professor é um profissional da educação. Assim, enquanto profissional, ele deve ser munido de saberes distintos para refletir sobre a situação e decidir o melhor encaminhamento. São muitos os estudiosos que têm pesquisado sobre os saberes docentes, entre eles estão: Shulman (1986), Nóvoa (1992), Gauthier (1996), Tardif (1996), Pimenta (1997) e Freire (1996). Não deixe de pesquisar esses autores para saber mais sobre essa temática tão importante! 19 Disponível em: https://blog.maxieduca.com.br/wp-content/uploads/2016/09/Didatica-1- 1024x728.jpg Acesso em: 12 jun. 2019. https://blog.maxieduca.com.br/wp-content/uploads/2016/09/Didatica-1-1024x728.jpg https://blog.maxieduca.com.br/wp-content/uploads/2016/09/Didatica-1-1024x728.jpg 30 Para facilitar seus estudos, segue uma síntese dos saberes docentes abordados por diferentes estudiosos. Tabela: Classificação dos saberes docentes Fonte: Google imagens. 20 Os saberes englobam os conhecimentos, as competências, as habilidades (ou aptidões) e as atitudes dos docentes, que provêm de uma série de fontes, como afirmado por Tardiff (2002). Essas fontes podem ser: as formações iniciais e contínuas dos professores, o currículo e a socializaçãoescolar, a aprendizagem com os demais professores, assim como a própria experiência profissional e a cultura pessoal. Dessa maneira, os saberes são a base para o ensino! Eles não se limitam ao conteúdo de um conhecimento específico e teórico. A experiência também é um saber e fonte importante para o saber-ensinar do professor, 20https://image.slidesharecdn.com/saberesdocentesfinal-140614131119- phpapp01/95/saberes-docentes-final-8-638.jpg?cb=1402751588. Acesso em: 20 jun. 19. https://image.slidesharecdn.com/saberesdocentesfinal-140614131119-phpapp01/95/saberes-docentes-final-8-638.jpg?cb=1402751588 https://image.slidesharecdn.com/saberesdocentesfinal-140614131119-phpapp01/95/saberes-docentes-final-8-638.jpg?cb=1402751588 31 pois é à medida que vai ensinando, que o professor vê o objetivo final da sua atividade ser atingido e, com isso, ele, igualmente, aprende. Além disso, é na participação cotidiana da escola e nas relações com os outros professores que os diversos conhecimentos são compartilhados e coletivizados. Figura 19: Saberes docentes a partir da experiência cotidiana Fonte: Google imagens. 21 Alguns exemplos de experiências cotidianas que envolvem diversos saberes são as horas-atividades coletivas ou conselhos escolares, ou, ainda, as reuniões de pais, reuniões de colegiado, entre outras em que os professores e/ou pais se reúnem para pensar as diversas questões da instituição educativa. Percebemos, então, que os saberes dos professores são heterogêneos e plurais, pois despertam de conhecimentos e manifestações do “saber-fazer” e do “saber-ser”, que são diversificados e advêm de fontes variadas (TARDIF, 2002). A seguir, acompanhe o quadro elaborado pelo estudioso Tardif (2002), no qual ele propõe um modelo tipológico para identificar e classificar os saberes dos professores, evidenciando as fontes de aquisição e os modos de integração no trabalho docente. 21http://www.construirnoticias.com.br/wp- content/uploads/2015/09/15_e_quanto_a_nos_docentes.jpg. Acesso em: 05 jul. 19. http://www.construirnoticias.com.br/wp-content/uploads/2015/09/15_e_quanto_a_nos_docentes.jpg http://www.construirnoticias.com.br/wp-content/uploads/2015/09/15_e_quanto_a_nos_docentes.jpg 32 Quadro: Fontes dos saberes docentes, de acordo com Tardif Fonte: retirado de Tardif (2002).22 Assim, os saberes dos professores são temporais, uma vez que são utilizados e desenvolvidos ao longo de sua carreira e, portanto, em um processo que dura sua vida profissional, permeada por dimensões de identidade e de socialização profissional, composta por fases e mudanças. Antônio Nóvoa, um autor que estuda essa temática da formação de professores dos saberes da docência e da formação da identidade, afirma que há uma separação entre o eu pessoal e o eu profissional advindos de alguns saberes adquiridos nas formações de professores. Por isso, o autor afirma que é importante resgatar a individualidade no desempenho da profissão docente, para que problemas, como a má qualificação, a desvalorização e os salários miseráveis, possam ser enfrentados e solucionados na profissão. 22 TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. 33 Nessa perspectiva, o professor deve ser compreendido como um intelectual em contínuo processo de formação, no qual sua ação deve abarcar a intuição, a emoção, as técnicas e a teoria. Dentre os estudos sobre os saberes da docência, há a discussão acerca da formação reflexiva, na qual o professor deve aprender a refletir sobre sua própria prática. Porém, Pimenta (2002) afirma que essa é apenas uma expressão da moda que não se concretiza em reais transformações que garantam a melhoria das condições escolares e a elevação da profissão de professor. Isso ocorre porque essa formação reflexiva é compreendida como um ato individual. O professor deveria, individualmente, refletir sobre sua prática. A reflexão do professor sobre sua prática tem que fazer parte de um processo coletivo, pois, quanto mais professores pensarem em conjunto, haverá mais possibilidades de resolver as questões, já que há mais saberes envolvidos! Figura 20: Formação reflexiva conjunta Fonte: Google imagens. 23 Assim, essa formação reflexiva dá muita ênfase à prática, e pouca ênfase é dada à formação, à qualidade, às condições de trabalho e à realidade como um todo, em toda sua complexidade. Por isso, devemos lutar por uma formação na qual o professor reflita sobre sua prática a partir de conhecimentos que conduzam a uma consciência crítica da realidade, além de um sistema educativo que tenha como meta a transformação de sua consciência e da consciência de seus alunos em busca de uma sociedade que valorize a educação. 23Disponível em: https://nova-escola- producao.s3.amazonaws.com/abjngbYGe7mt3SXANzGS4hFSVXDHx36yh8jzfzJdxKAzFteRy7GZYrqt Zwec/como-inserir-o-trabalho-em-equipe-entre-os-professores-gettyimages.jpg. Acesso em: 10 jul. 19. https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/abjngbYGe7mt3SXANzGS4hFSVXDHx36yh8jzfzJdxKAzFteRy7GZYrqtZwec/como-inserir-o-trabalho-em-equipe-entre-os-professores-gettyimages.jpg https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/abjngbYGe7mt3SXANzGS4hFSVXDHx36yh8jzfzJdxKAzFteRy7GZYrqtZwec/como-inserir-o-trabalho-em-equipe-entre-os-professores-gettyimages.jpg https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/abjngbYGe7mt3SXANzGS4hFSVXDHx36yh8jzfzJdxKAzFteRy7GZYrqtZwec/como-inserir-o-trabalho-em-equipe-entre-os-professores-gettyimages.jpg 34 Chegamos ao final da primeira unidade da nossa disciplina. Aqui, você estudou alguns elementos iniciais sobre a constituição da identidade docente. Dentre eles, discutimos, brevemente, a constituição da profissão docente e alguns dilemas enfrentados pelos professores no exercício da profissão. Também estudamos sobre o processo formativo pelo qual o professor passa e que é parte constitutiva da identidade docente. Esses processos são a formação inicial e a formação continuada, que devem possibilitar que o professor aprenda o conhecimento (teoria) e saiba compreender a realidade de forma crítica, para poder atuar nela (prática). Por isso, discutimos a importância da prática pedagógica ser práxis, isto é, uma atividade em constante transformação. Vimos, ainda, quais são os saberes docentes que os professores aprendem, tanto nos processos de formação inicial e continuada, como na própria experiência profissional. Todos esses temas compõem o que conhecemos por identidade docente, mas não são somente esses! Na próxima unidade, aprofundaremos a temática. Espero que você tenha aprendido bastante e esteja animado para continuar. Não deixe de ler “Saberes docentes e formação profissional”, de Maurice Tardif, que foi um importante pesquisador e professor universitário no Canadá. Nesse livro, o autor busca compreender quais saberes têm fundamentado o trabalho e a formação de professores. O autor defende a tese de que o saber não é reduzido exclusivamente a processos cognitivos, mas se manifesta nas diversas relações complexas, estabelecidas entre professores e alunos. TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. 35 Atividade de aplicação Convido-o a realizar duas atividades sobre as temáticas que discutimos nessa unidade. 1- Leia o excerto abaixo: […] o saber profissional está, de certo modo, na confluência entre várias fontes de saberes provenientes da história de vida individual, da sociedade, da instituição escolar, dos outros atores educativos, dos lugares de formação, etc. (TARDIF, M. Saberes docentese formação profissional. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2002). Agora, faça uma reflexão sobre a importância dos saberes docentes para a formação e a atuação profissional. Elabore um pequeno texto sobre esse tema, relacionando os saberes que foram discutidos nessa unidade. Justifique e exemplifique como trabalhar com os diversos saberes abordados nessa unidade. ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 36 ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2- Explique por que a prática docente tem que ser uma atividade intencional e planejada e qual o papel da formação de professores para que a prática pedagógica seja práxis docente. Lembre-se de relacionar os conceitos de teoria e prática. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 1. Quais são os dilemas fundamentais impostos atualmente à profissão docente? a) Os estudantes, as mídias digitais, a criminalização. b) A competitividade, a meritocracia, a falta de estímulo. c) A comunidade, a autonomia, o conhecimento. d) O autonomismo, a falta de direção, a moral. 37 e) A competitividade, o autonomismo, a comunidade. 2. Como o ato educativo se caracteriza? a) Em dar respostas práticas para as questões imediatas da vida real. b) Pela realização espontânea, por parte do aluno, da aquisição do conhecimento científico. c) Em produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo, a humanidade produzida, histórica e coletivamente, pelos homens. d) Pelas experiências estarem acima da teoria nesse processo, ou seja, a ideia de que mais vale o trabalho que o estudo. e) Pela ideia de que sempre será livre e sem amarras. 38 UNIDADE II 2. IDENTIDADE DOCENTE: ASPECTOS NECESSÁRIOS PARA SUA CONSTITUIÇÃO Nesta unidade, vamos trabalhar os conteúdos voltados para o processo de constituição da identidade do profissional docente. Vamos abordar os elementos centrais que compõem a identidade do professor ao longo do seu processo formativo, bem como da sua prática profissional. Para que possamos compreender como se forma a identidade profissional no caso dos docentes, discutiremos as relações entre a identidade do professor e a profissionalização da docência. Apresentaremos, também, um breve debate acerca do processo de valorização da carreira docente e da necessidade de maior incentivo a esta categoria. Animado(a) para mais esta unidade? Vamos aos estudos! 2.1 O papel da identidade do professor no exercício do trabalho educativo […] a personalidade dos homens é determinada pelas relações que estabelecem com o mundo, físico e social, por meio da atividade. Assim, as características desse mundo circunscrevem as condições de seu desenvolvimento (MARTINS, 2010, s.p.). Como já afirmado anteriormente, compreendemos que, enquanto seres sociais, não temos várias identidades e nem compreendemos que há uma cisão entre o eu pessoal e o eu profissional. Portanto, compreendemos que, à medida que estabelecemos relações sociais com a realidade objetiva, estabelecemos uma articulação entre indivíduo e condições de existência da vida, o que, por sua vez, possibilita múltiplas possibilidades do processo de personalização. Nesse sentido, é por meio da atividade de cada indivíduo que ele desenvolve sua personalidade, seu modo de compreender a realidade e atuar diante dela. Conteúdos trabalhados na unidade: identidade docente: aspectos necessários para sua constituição. O papel da identidade do professor no exercício do trabalho educativo; identidade e profissionalização; valorização da carreira docente. 1.4 1.5 Atuação e formação profissional: os saberes pedagógicos 1.6 . 39 Tornar-se professor faz parte desse processo de personalização, em que, por meio dos processos formativos e da experiência profissional, cria sua personalidade, enquanto ser social, ao passo que atua diante da realidade. É um processo dialético, pois, à medida que o mestre atua na realidade, por meio do seu trabalho, ele também aprende e se desenvolve. PERSONALIDADE Atividade docente Realidade objetiva De acordo com Basso (1994), o trabalho docente é o produto das relações entre as condições objetivas, que englobam as condições efetivas de trabalho (participação no planejamento escolar, preparação das aulas, remuneração do professor, estrutura e lotação das salas de aula, e as condições subjetivas, isto é, a formação de professores. Figura 21: Condições objetivas do trabalho docente Fonte: Google imagens.24g As diversas experiências que os professores têm, a partir da relação estabelecida com essas condições (objetivas e subjetivas), vão sendo apropriadas subjetivamente, produzindo diversos sentidos pessoais do que é a docência e compondo a personalidade de cada um. Cabe lembrarmos que esse sentido pessoal também se dá a partir do significado social do trabalho docente. 24Disponível em: http://revistacontemporartes.com.br/wp-content/uploads/2018/09/saude- professor-300x248.jpeg. Acesso em: 20 de jul. de 2019. http://revistacontemporartes.com.br/wp-content/uploads/2018/09/saude-professor-300x248.jpeg http://revistacontemporartes.com.br/wp-content/uploads/2018/09/saude-professor-300x248.jpeg 40 O significado deste trabalho é formado pela finalidade da ação de ensinar, ou seja, pelo objetivo do ato educativo e pelas operações a serem realizadas de forma consciente, portanto, planejadas, considerando as condições do processo educativo. Falar do significado do trabalho docente exige falar da mediação feita entre o professor e o aluno, de modo que o aluno possa apropriar-se do conhecimento do professor. Figura 22: Mediação Fonte: Dicio.com.br25 Então quer dizer que o conhecimento faz a mediação entre o professor e o aluno? Exatamente! Conhecimento como mediador da relação professor-aluno Por isso levanta-se a importância de uma formação de professores que possibilite ao professor se apropriar do conhecimento, para que ele possa transmitir esse conhecimento ao aluno! Nessa relação, a personalidade/identidade do professor é requisitada a todo tempo. Isso porque, no ato educativo, o professor deve ensinar (objetivo da docência) 25 Disponível em: https://s.dicio.com.br/mediacao.jpg Acesso em: 20 de jun. 19. Professor Aluno Conhecimento https://s.dicio.com.br/mediacao.jpg 41 aquilo que aprendeu na formação de professores (inicial e continuada), que faz parte do processo de personalização. Ou seja, o professor compreende que seu objetivo (significado social) enquanto docente é o ensino, realiza sua atividade porque (motivo/sentido pessoal) a compreende, e foi formado para tal, e, à medida que realiza essa atividade, ele vai aprendendo e ajustando sua práxis pedagógica! Significado social Sentido pessoal (Objetivo) (Motivo) Atividade docente Nesse sentido, Basso afirma que, quando o significado social é coincidente com o sentido pessoal da atividade docente, o trabalho do professor é menos alienado, dá a ele prazer, e, portanto, é mais efetivo. O professor expressa seus sentimentos, seus conhecimentos, seu modo de ser, seu modo de interpretar a realidade, seu modo de ministrar a aula, seu modo de planejar a aula, ou seja, sua personalidade/identidade! Esta última, sempre em desenvolvimento a partir de todas as relações que o professor estabelece com a realidade objetiva! Figura 22: Professora Fonte: Google imagens. 26 26Disponível em: https://s5.static.brasilescola.uol.com.br/img/2019/04/sugestao- professores.jpg Acesso em: 22 jul. 19 42 Porém, muitas vezes, o sentido da atividade docente não é coincidente com o seu objetivo. Por quê? Vejamos o que afirma Basso (1994, p. 38): Se o sentido do trabalho docente atribuído pelo professor que o realiza for, apenas, o de garantir a sua sobrevivência, trabalhando só pelo salário, haverá a cisão com o significado fixado socialmente, entendido como função mediadora entre o aluno e os instrumentos culturais que serão apropriados, visando ampliar e sistematizar a compreensão da realidade, e possibilitar objetivações em esferas não cotidianas. Como produto dessa cisão, o trabalho do professor se torna alienado, isto é, o que motiva o professor não é o objetivo nem o produto de sua atividade, que é a aprendizagem do aluno. O motivo pode ser qualquer outra coisa. Na maioria das vezes, somente o salário a ser recebido. Com isso, a prática educativa escolar pode ficar descaracterizada. Isso acontece por vários motivos! Elenquemos alguns: a má formação inicial ou continuada, a baixa remuneração, a falta de valorização do professor, as condições de trabalho, a falta de materiais escolares, entre outros. Com isso, o professor vai se desmotivando, entrando em sofrimento, e muitas vezes, adoecendo. Figura 23: Professor em sofrimento Fonte: Google imagens. 27 A identidade/personalidade do professor também vai sendo deteriorada nesse processo de alienação, uma vez que ele não encontra sentido na sua atividade e a exerce porque é obrigado. Por isso, é preciso que existam condições objetivas (remuneração, condições de trabalho, estrutura e lotação das salas de aula etc.) e condições subjetivas 27https://encrypted- tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTxlbZwBAZGpp8G_PFBbZnC6KcfYVLIZMD2vEYPlHMg7mfk i955. Acesso em: 21 jun. 19. https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTxlbZwBAZGpp8G_PFBbZnC6KcfYVLIZMD2vEYPlHMg7mfki955 https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTxlbZwBAZGpp8G_PFBbZnC6KcfYVLIZMD2vEYPlHMg7mfki955 https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTxlbZwBAZGpp8G_PFBbZnC6KcfYVLIZMD2vEYPlHMg7mfki955 43 (formação de professores), dignas de formarem professores que dirijam, ativa e conscientemente, sua atividade-ensino e que tomem para si a tarefa de superação das condições alienantes de trabalho. Destacamos que a principal função social do ato educativo é o acesso ao conhecimento historicamente acumulado, pois é isso (o conhecimento de tudo aquilo que foi produzido ao longo da história da humanidade) que nos torna humanos. Essa é a tarefa dos professores em suas atividades docentes! E sua personalidade/identidade deve ser constituída, também, a partir dessa função. Agora que compreendemos que nossa identidade/personalidade é fundamental para o exercício da atividade de ensino e que deverá, portanto, ser desenvolvida por meio de processos formativos e condições de trabalho de qualidade, passemos a outros aspectos que fundamentam o desenvolvimento da identidade do professor. Dito isso, convido-o(a) a explorar brevemente a relação entre o desenvolvimento da identidade e a profissionalização. Você não pode deixar de ler “A formação social da personalidade do professor: um enfoque vigotskiano”, de Lígia Marcia Martins. Nesse livro, a autora examina a formação da personalidade do professor no capitalismo sob a perspectiva do materialismo histórico-dialético. Para isso, a autora discute as novas abordagens que tratam da formação do professor na atualidade, salientando que tais concepções se fundamentam, prioritariamente, nos aspectos direcionados ao desenvolvimento pessoal do professor. Como exemplo, a autora traz uma análise da teoria do professor reflexivo. A autora também demonstra de qual concepção parte para compreender a personalidade, de modo a contrapor-se às concepções que analisa. Para tanto, recupera o escopo categorial do materialismo histórico-dialético, demonstrando como a personalidade é forjada por meio da atividade social-humana, do trabalho e como ocorre o processo de personalização. MARTINS, L. M. A formação social da personalidade do professor: um enfoque vigotskiano. Campinas: Autores Associados, 2007. 2.2 Identidade e profissionalização Já entendemos que a identidade não é inata e constitui-se por meio das relações que estabelecemos na realidade objetiva, certo?44 Também já compreendemos que é imprescindível uma formação inicial e continuada de qualidade, assim como condições de trabalho que possibilitem ao professor efetivar o que apreendeu com o seu processo formativo, ao passo que, nesse processo, expressa sua identidade e a transforma ao mesmo tempo. No entanto, outros fatores também fazem parte do processo de desenvolvimento da identidade docente. Figura 24: Identidade em formação Fonte: Google imagens.28 Trataremos nesse item sobre a relação entre a identidade e a profissionalização Mas o que é profissionalização? Vejamos algumas conceituações acerca da profissionalização que são recorrentes na literatura especializada. 28 Disponível em: https://www.google.com/search?hl=pt- BR&biw=1366&bih=689&tbm=isch&sa=1&ei=gkBbXcCIIpfD5OUPj6aCoA8&q=identidade+profissional &oq=identidade+pro&gs_l=img.3.0.0l10.6885.7759..9806…0.0..0.107.408.1j3……0….1..gws-wiz- img…….0i67.hVglcerdRHM#imgrc=dQJV8fkPout6FM: Acesso em: 12 jul. 19. https://www.google.com/search?hl=pt-BR&biw=1366&bih=689&tbm=isch&sa=1&ei=gkBbXcCIIpfD5OUPj6aCoA8&q=identidade+profissional&oq=identidade+pro&gs_l=img.3.0.0l10.6885.7759..9806...0.0..0.107.408.1j3......0....1..gws-wiz-img.......0i67.hVglcerdRHM#imgrc=dQJV8fkPout6FM https://www.google.com/search?hl=pt-BR&biw=1366&bih=689&tbm=isch&sa=1&ei=gkBbXcCIIpfD5OUPj6aCoA8&q=identidade+profissional&oq=identidade+pro&gs_l=img.3.0.0l10.6885.7759..9806...0.0..0.107.408.1j3......0....1..gws-wiz-img.......0i67.hVglcerdRHM#imgrc=dQJV8fkPout6FM https://www.google.com/search?hl=pt-BR&biw=1366&bih=689&tbm=isch&sa=1&ei=gkBbXcCIIpfD5OUPj6aCoA8&q=identidade+profissional&oq=identidade+pro&gs_l=img.3.0.0l10.6885.7759..9806...0.0..0.107.408.1j3......0....1..gws-wiz-img.......0i67.hVglcerdRHM#imgrc=dQJV8fkPout6FM https://www.google.com/search?hl=pt-BR&biw=1366&bih=689&tbm=isch&sa=1&ei=gkBbXcCIIpfD5OUPj6aCoA8&q=identidade+profissional&oq=identidade+pro&gs_l=img.3.0.0l10.6885.7759..9806...0.0..0.107.408.1j3......0....1..gws-wiz-img.......0i67.hVglcerdRHM#imgrc=dQJV8fkPout6FM 45 Figura 25: Investigando a literatura científica Fonte: Google imagens29 Enguita (1991), compreende a profissionalização como a competência específica, a vocação, a autorregulação e a independência. Conforme Núñez e Ramalho (2018), a profissionalização se refere à representação da profissão como processo contínuo/descontínuo no decorrer da história da docência. Conforme os autores, a profissionalização é: […] um movimento ideológico, na medida em que repousa em novas representações da educação e do ser do professor no interior do sistema educativo. É um processo de socialização, de comunicação, de reconhecimento, de decisão, de negociação entre os projetos individuais e os dos grupos profissionais. Mas é também um processo político e econômico, porque, no plano das práticas e das organizações, induz novos modos de gestão do trabalho docente e de relações de poder entre os grupos, no seio da instituição escolar e fora dela (NÚÑEZ e RAMALHO, 2018, p. 4). Para Ramalho; Núñez e Gauthier (2004), a profissionalização se constitui da unidade entre dois aspectos: um interno, designado profissionalidade, e outro externo: o profissionalismo. Figura 26: Construindo a identidade docente 29 https://img2.gratispng.com/20180324/zgw/kisspng-france-magnifying-glass-drawing-computer- icons-loupe-5ab62e0642d033.1578637815218887742737.jpg https://img2.gratispng.com/20180324/zgw/kisspng-france-magnifying-glass-drawing-computer-icons-loupe-5ab62e0642d033.1578637815218887742737.jpg https://img2.gratispng.com/20180324/zgw/kisspng-france-magnifying-glass-drawing-computer-icons-loupe-5ab62e0642d033.1578637815218887742737.jpg 46 Fonte: Google imagens. 30 Essas duas dimensões são nucleares à construção da identidade profissional, como afirmado pelos autores. Vamos entender melhor o que são essas duas dimensões? A profissionalidade diz respeito aos conhecimentos, técnicas, saberes e competências necessários ao exercício da profissão. No caso do professor, é por meio da profissionalidade que ele adquire saberes e competências próprios da docência. Já o profissionalismo se relaciona à ética dos valores e normas, às relações no grupo profissional com outros grupos. Essa dimensão se associa à vivência da profissão e às relações estabelecidas com os pares, de modo a desenvolver a atividade docente. Libâneo afirma que o profissionalismo compreende o desempenho competente e compromissado dos deveres e responsabilidades que constituem a especificidade de ser professor e ao comportamento ético e político expresso nas atitudes relacionadas à prática profissional (LIBÂNEO, 2004, p. 75). Libâneo (2004) parte da concepção de que a escola deve ser um espaço de transformação. Deste modo, é essencial que a prática do professor estabeleça uma mediação entre o trabalho que se faz em sala de aula e a realidade que os educandos vivenciam fora da escola e com as diferentes capacidades e aptidões. Nessa perspectiva, objetiva-se promover o respeito à diversidade cultural e as diferenças no contexto escolar. Deste modo, o professor deve fazer a discussão sobre os objetos de estudo nos diferentes enfoques - interdisciplinaridade - permitindo a superação do senso comum. Tais dimensões não podem ser consideradas separadas. Elas se articulam, de modo a culminar na construção da identidade profissional do professor. PROFISSIONALIZAÇÃO PROFISSIONALISMO PROFISSIONALIDADE O processo de profissionalização se insere em um tripé de investimento do qual participam três processos fundamentais à construção da identidade docente: o desenvolvimento pessoal, referente aos processos de produção da vida do professor, o desenvolvimento profissional, que se refere aos aspectos específicos da profissionalização, e o desenvolvimento institucional, compreendido como os 30Disponível em: http://raciocinioclinico.com.br/wp- content/uploads/2018/11/quebracabeca3.jpg 47 investimentos da instituição para o alcance dos objetivos do trabalho pedagógico (NÓVOA, 1992). Assim, para o autor, a identidade docente é um espaço no qual se constroem as maneiras de ser e estar na profissão! Antônio Nóvoa (1992) propõe um conceito de profissão no qual quatro processos se articulam e configuram a profissão docente ou a profissionalização. Esses processos são: 1) a prática de determinada atividade; 2) o suporte legal para o exercício da profissão; 3) os procedimentos para a aquisição de um corpo de saberes e saber-fazer específicos da profissão, por meio de uma formação específica, especializada e longa; 4) a organização de associações de profissionais para definir as normas da profissão, controlar o exercício, defender os interesses socioeconômicos, proteger normas éticas etc. Não deixe de estudar mais sobre esse autor que tanto contribuiu para a temática! Agora que discutimos sobre a relação entre identidade docente e profissionalização, vamos passar ao nosso próximo assunto: a valorização da carreira docente! 2.3 Valorização da carreira docente A temática da valorização da profissão docente tem sido, cada vez mais, presente no debate educacional no Brasil e em outros países. Isso porque o cenário educacional brasileiro tem apresentado fatores preocupantes que afetam a prática docente, como, por exemplo, a carga de trabalho, os baixos salários, a falta de perspectiva na carreira, entre outros. Com isso, ocorre um processo de desvalorização da carreira docente, tanto na educação básica como no ensino superior. 48 Figura 27: Desvalorização do professor Fonte: Google imagens. 31
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