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PALIATIVOS Coordenação Profa. Ana Lúcia Giaponesi CUIDADOS Realização Abrale Supervisão Merula Steagall Direção Fabio Fedozzi Coordenação Leandro Mião Revisão técnica Sandra Loggetto Design educacional Fernanda Prando Apoio educacional IIEP Albert Eistein Colaboraram nesta apostila Autores Dalva Y. Matsumoto Ana Lúcia Giaponesi Rita Tiziana Débora G. Costa Texto e revisão Denise Barbosa Revisão técnica Ana Lúcia Giaponesi Ilustração Marta Leão Projeto gráfico e diagramação Estúdio Oliver Quinto 100% DE ESFORÇO ONDE HOUVER 1% DE CHANCE CUIDADOS PALIATIVOS 100% DE ESFORÇO ONDE HOUVER 1% DE CHANCE 4 PROJETO Esta apostila é parte do conjunto de recursos instrucionais do curso Cuidados Paliativos, na modalidade ensino à distância do projeto Onco Ensino. Este material foi elaborado para que os participantes dos cur- sos possam revisitar a síntese dos conteúdos, a qualquer tempo e após terem concluído os programas, como instrumento de con- sulta e memorização. A obra foi produzida a partir da prática clínica e vivência acadê- mica de seus autores e baseada nas recentes publicações literá- rias até o momento de sua edição. Em razão da constante evolução da medicina e suas áreas cor- relatas, sugerimos ao aluno certificar-se de que as informações obtidas nesta apostila permaneçam vigentes como melhores prá- ticas e recomendações à época de sua leitura. SOBRE O ONCO ENSINO O Onco Ensino é uma plataforma educacional de apoio às uni- dades de saúde que realizam diagnóstico e tratamento oncológi- co no Brasil, promovida pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia, a ABRALE. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 5 Por meio do Onco Ensino, unidades e centros de assistência podem complementar sua estratégia de educação permanente, disponibilizando cursos de aperfeiçoamento profissional aos seus colaboradores. São cursos de curta duração para profissionais de saúde sobre temas relacionados às modalidades de atendimento, como pro- moção de saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos. Através da capacitação e atualização de médicos e profissionais envolvidos no atendimento oncológico no país, a ABRALE preten- de estimular a prevenção, o diagnóstico precoce e o atendimento multidisciplinar aos pacientes, além de difundir práticas de suces- so no tratamento, na reabilitação e nos cuidados paliativos. Ao promover o projeto Onco Ensino, a ABRALE avança em sua missão de oferecer ajuda e mobilizar parceiros, para que todas as pessoas com câncer do sangue no Brasil tenham acesso ao me- lhor tratamento. Curso Cuidados Paliativos em Oncologia Coordenação Profa. Ana Lúcia Giaponesi OBJETIVOS DO CURSO • Dar ferramentas para o profissional identificar pacientes elegíveis para os cuidados paliativos; • Entender o conceito e a filosofia dessa área de atuação, assim como compreender o seu papel na assistência à saúde; • Mostrar os sintomas mais frequentes em oncologia na termina- lidade; e • Compreender cuidados paliativos em Pediatria. ÍNDICE Aula 1 CONCEITOS DE CUIDADOS PALIATIVOS SEGUNDO A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SÁUDE (OMS) Cuidados Paliativos e a realidade brasileira .............................................................................. 15 Origem dos Cuidados Paliativos: Hospice e Cicely Saunders ....................................... 17 Cuidado Paliativo Moderno: Klüber Ross .................................................................................... 21 Conceito e definições de Cuidados Paliativos .........................................................................23 Equipe multiprofissional .......................................................................................................................26 Aula 2 PRINCÍPIOS DE CUIDADOS PALIATIVOS Promover o alívio da dor total ............................................................................................................ 31 Afirmar a vida e considerar a morte ............................................................................................. 32 Não adiar nem acelerar a morte ..................................................................................................... 33 Integrar aspectos psicológicos e espirituais ............................................................................ 34 Sistemas de suporte ................................................................................................................................. 36 Abordagem multiprofissional e qualidade de vida do paciente .............................. 38 Aula 3 BIOÉTICA E LEGISLAÇÃO EM CUIDADOS PALIATIVOS Leis e Resoluções ........................................................................................................................................ 44 Bioética Principialista - Beauchamp e Childress ................................................................. 48 Bioética do Cotidiano - Diego Garcia ........................................................................................... 49 Aula 4 AVALIAÇÃO INTEGRAL DOS PACIENTES Comunicação: um dos pilares dos Cuidados Paliativos .................................................. 57 Avaliação Integral ....................................................................................................................................... 58 Dados Biográficos ...................................................................................................................................... 59 Cronologia da doença atual .............................................................................................................. 60 PPS – Paliative Performance Scale .................................................................................................. 61 ESAS – Escala de Avaliação de Sintomas de Edmonton ................................................ 62 Plano de Cuidados ..................................................................................................................................... 63 Decisões Terapêuticas ............................................................................................................................. 64 Aula 5 CONCEITOS E PECULIARIDADES DE CUIDADOS PALIATIVOS PEDIÁTRICOS Definição e Princípios de Cuidados Paliativos Pediátricos ........................................... 70 Habilidades necessárias para o trabalho ................................................................................... 72 Especificidade do CPP ........................................................................................................................... 73 Uma história de Cuidados Paliativos ............................................................................................ 75 A família ........................................................................................................................................................... 76 Tríade: criança, família e equipe ..................................................................................................... 78 Aula 6 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO Elegibilidade .................................................................................................................................................. 83 Conceitos gerais de elegibilidade ................................................................................................... 84 Quando indicar CP .................................................................................................................................... 85 Implicações ..................................................................................................................................................... 87 Aula 7 MODALIDADES INTEGRAIS Modelos de assistência ...........................................................................................................................93 Ambientes – Hospitais ............................................................................................................................. 94 Ambientes – Domicílio ............................................................................................................................ 95 Ambientes – Ambulatório ..................................................................................................................... 97 Hóspice ............................................................................................................................................................. 98 Hospedaria ..................................................................................................................................................... 99 Aula 8 INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO Como comunicar notícias difíceis ............................................................................................... 105 Habilidades para o processo de comunicação .................................................................. 106 Comunicação não verbal .................................................................................................................... 107 Comunicação individualizada ........................................................................................................ 108 Conspiração do silêncio ......................................................................................................................... 111 Aula 9 COMUNICAÇÃO COM O PACIENTE Preparar-se para comunicar .............................................................................................................. 118 O quanto o paciente sabe e o quanto aguenta saber ..................................................... 119 Compartilhar a informação ............................................................................................................... 120 Acolher os sentimentos e planejar o seguimento .............................................................. 121 Traçar metas ................................................................................................................................................. 123 Trabalhar a autonomia do paciente ............................................................................................ 124 Aula 10 COMUNICAÇÃO COM A FAMÍLIA Diretiva antecipada de vontade ..................................................................................................... 130 Técnica roleplay para treinar o profissional ........................................................................... 130 A comunicação adaptada para a população assistida ................................................. 132 O luto ................................................................................................................................................................. 133 Aula 11 FASE FINAL DE VIDA: SINTOMAS MAIS FREQUENTES Controle de sintomas e escala PPS .............................................................................................. 139 Sintomas físicos mais comuns ......................................................................................................... 141 Sofrimentos psicossociais desta fase ......................................................................................... 142 Sofrimentos espirituais desta fase ............................................................................................... 143 Depoimento: o cuidado da dor ...................................................................................................... 143 Aula 12 FASE FINAL DE VIDA: SOFRIMENTO TOTAL Como lidar com a dor total ............................................................................................................... 149 Definição de dor total ........................................................................................................................... 150 Futilidade terapêutica ............................................................................................................................ 151 Fase final da vida ....................................................................................................................................... 152 Espiritualidade ........................................................................................................................................... 153 Como encarar o paciente que se despede da vida .......................................................... 154 Luto: o que falar e como falar .......................................................................................................... 155 Aula 1 CUIDADOS CONCEITOS DE Profa. Dalva Y. Matsumoto • Médica oncologista • Coordenadora da Hospedaria do HSPM (São Paulo) • Diretora do Instituto Paliar PALIATIVOS SEGUNDO A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) 14 OBJETIVOS DA AULA Na aula de hoje, a professora traz o conceito e explica o surgimento dos cuidados paliativos, desde as primeiras ini- ciativas que deram origem aos Hospices, o embrião desse atendimento, até a adoção das Normas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde para realizar o trabalho. Tam- bém aborda a importância da equipe multiprofissional. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 15 CONTEÚDO Para dimensionar a importância do atendimento paliativo te- mos que olhar para o contexto em que vivemos: a população do país envelhece progressivamente e, com isso, surgem as doenças crônico degenerativas, entre elas o câncer. Essas doenças trazem a diminuição da funcionalidade e uma maior dependência das pessoas. Quando adquirimos uma doença ameaçadora em nos- sas vidas o nosso sofrimento não é só físico, mas também mental, espiritual, social e familiar, ou seja, sofremos em todas as nossas dimensões. O cuidado paliativo vem para trazer alívio a todo esse sofrimento e esse cuidado é extensivo à família do paciente. CUIDADOS PALIATIVOS E A NOSSA REALIDADE Os cuidados paliativos em nosso país ainda são uma área pouco conhecida. Como muitos profissionais desconhecem as técnicas de paliação, a maioria dos pacientes quando se descobrem porta- dores de uma doença potencialmente mortal não tem seu sofri- mento totalmente paliado. . Isso faz com que os pacientes com doença avançada acabem se acumulando nos hospitais, principalmente nos prontos-socorros, sendo abordados de forma inadequada, invasiva, com muita tec- nologia, mas sem qualidade. Esse tipo de comportamento ignora o sofrimento do paciente e das famílias e muitos sintomas não são corretamente abordados. O sintoma mais dramático talvez seja a dor. Muitos de nós não sabemos tratá-la. 16 Não cultivamos uma atitude contrária à tecnologia médica, mas é importante discutirmos e repensarmos nosso comporta- mento, nossa conduta diante da mortalidade humana, tentando o equilíbrio entre o conhecimento técnico e o humanismo, o sen- tido de resgatar a dignidade de vida e a possibilidade de se morrer em paz. Muitos vivem em situação de abandono. É fundamental mudarmos o panorama atual dos cuidados, adotarmos medidas para melhorar o que já existe, formar grupos de profissionais com conhecimento específico e educação da sociedade em geral. Os cuidados paliativos vêm para preencher essa lacuna da necessida- de de cuidados ativos e integrais desses pacientes. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 17 Historicamente, cuidado paliativo se confunde com o termo Hospice. Nos primórdios da era cristã, essas instituições fize- ram parte da disseminação do cristianismo pela Europa. HISTÓRICO: OS HOSPICES 18 No século V, Fabíola, discípula de São Jerônimo, abrigava peregri- nos e viajantes vindos da Ásia, África e dos países do leste no Hos- pício do Porto de Roma. Outras instituições de caridade surgiram na Europa no século XVII e abrigavam pobres, órfãos e doentes. Essa práticase espalhou com organizações religiosas católicas e protestantes e, no século XIX, passaram a ter características de hospitais. As Irmãs de Caridade Irlandesas fundaram o “Our Lady’s Hospice of Dying” em Dublin, em 1879, e a Ordem de Irmã Mary Aikenheads abriu o “St Joseph’s Hospice” em Londres, em 1905. Our Lady’s Hospice of Dying Dublin, 1879 Our Lady’s H ospice of Dy ing Dublin, 1879 Mary Aikenheads St. Josephs’ HospiceLondres, 1905 ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 19 “Eu serei uma janela na sua casa” O Movimento Hospice Moderno foi introduzido por uma ingle- sa de formação humanística que se tornou médica: Dame Cicely Saunders. Em 1947, ela conheceu David Tasma, um judeu pro- veniente do Gueto de Varsóvia. O pa- ciente recebeu uma colostomia pa- liativa devido a um carcinoma retal inoperável. Cicely o acompanhou até a sua morte, tendo com ele longas conversas. David deixou-lhe uma pe- quena quantia como herança, dizen- do: “Eu serei uma janela na sua casa”. Segundo Cicely Saunders, esse foi o ponto de partida para o com- promisso com uma nova forma de cuidar. Em 1967, ela fundou o “St. Christopher’s Hospice” que não só permitiu a assistência aos doentes mas o desenvolvimento de ensino e pesquisa, recebendo bolsis- tas de vários países. 20 CUIDADO PALIATIVO MODERNO A motivação para que Cicely criasse o cuidado paliativo moder- no foi baseada em um estudo com mais de 1.000 pacientes por- tadores de câncer avançado que tinham muita dor. Nesse estudo, os pacientes foram tratados com opioide, caindo por terra o tabu de que esses medicamentos traziam dependência. Pelo contrário, esses pacientes tiveram grande alívio de seus sofrimentos. Os cuidados paliativos saem do Reino Unido para outros países através de profissionais, principalmente dos Estados Unidos e do Canadá, que fazem estágios no St. Christopher’s Hospice e levam esse conhecimento para seus países de origem. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 21 Na década de 70, Elisabeth Klüber Ross se encontra com Cicely Saunders e leva para o seu país, os EUA, o conhecimento dos cuidados paliativos. Primeira definição da OMS, de 1990 “Cuidado ativo e total para pacientes cuja doença não é responsiva a tratamento de cura. O controle da dor, de outros sintomas e de problemas psicossociais e espirituais é primordial. O objetivo do cuidado paliativo é proporcionar a melhor qualidade de vida possível para pacientes e familiares.” 22 CUIDADOS PALIATIVOS NA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE Em 1982, o comitê de câncer da Organização Mundial de Saúde cria um grupo de trabalho para definir política de tratamento de dor e de cuidados no modelo hospice para pacientes com câncer avançado, que deveriam ser estabelecidos em todos os países. O termo cuidados paliativos foi utilizado pelo Canadá e acolhido pela OMS devido ao fato de que o termo Hospice era de difícil tradução para outras línguas. A OMS publicou sua primeira definição de cuidados paliativos em 1990. Conceito revisto em 2002 pela OMS “Cuidado paliativo é uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares, que enfrentam doenças que ameaçam a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e outros problemas de natureza física psicossocial e espiritual.” ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 23 DEFINIÇÃO Cuidado paliativo: cuidado ativo e total para pacientes cuja do- ença não é responsiva a tratamento de cura. O controle da dor, de outros sintomas e de problemas psicossociais e espirituais é pri- mordial. O objetivo do cuidado paliativo é proporcionar a melhor qualidade de vida possível para pacientes e familiares. Essa definição ainda era muito voltada para pacientes com cân- cer avançado. Em 2002 a OMS reedita esta versão com algumas modificações. Cuidado paliativo: é uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e familiares que enfrentam doenças que ame- acem a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofri- mento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual. Nova definição da OMS (2017) “Cuidado Paliativo é uma abordagem que melhora a qualidade de vida de seus pacientes (adultos e crianças) e famílias que enfrentam problemas associados a doenças que ameaçam a vida. Previne e alivia o sofrimento através da identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas físicos, psicossociais ou espirituais.” – WHO, 2017 24 CUIDADOS PALIATIVOS NO BRASIL No Brasil, o início dos cuidados paliativos se deu na década de 1980, mas somente a partir do ano 2000 é que várias iniciativas começaram a aparecer, principalmente na cidade de São Paulo e no Rio de Janeiro. Em 2005, foi fundada a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), que congrega profissionais que atuam na área. A Academia Nacional de Cuidados Paliativos, jun- tamente com outras associações, compõe a Câmara Técnica de Terminalidade da Vida, do Conselho Federal de Medicina. Esse grupo discute propostas para políticas públicas na área de cui- dados paliativos e terminalidade da vida. Umas das conquistas desse grupo foi a aprovação de cuidados paliativos como área de atuação médica. Esta é a versão mais recente: ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 25 A morte é parte integrante da vida e a Medicina lida com os ex- tremos: vida e morte. A área de cuidados paliativos abre uma ampla discussão envolvendo toda a sociedade sobre conceito de morte e os cuidados que a Medicina deve oferecer aos pacientes terminais. O Conselho Federal de Medicina (CFM) anunciou, no dia 1o de agosto de 2011, a regulamentação da medicina paliativa como área de atuação. Essa área é ligada a oito especialidades médicas, incluindo a onco-hematologia. Em 2011, foi firmado um convênio entre o Conselho Federal de Medicina, a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) de reconhecimento de especialidades médicas para o cuidado paliativo. 26 EQUIPE MULTIPROFISSIONAL É importante ressaltar que, de acordo com a própria definição da OMS, cuidado paliativo não se faz sozinho, e sim com uma equipe multiprofissional. A atuação da equipe multiprofissional deve ser coesa e focada em uma comunicação interpessoal bem estabelecida. Dessa forma, conseguirá oferecer um cuidado que traga dignidade não somente ao paciente e ao familiar, mas tam- bém à própria equipe. Com o aumento dos serviços, observamos a procura de profis- sionais em busca de conhecimento específico na área. Também é importante enfatizarmos a necessidade da abordagem do tema para os alunos de formação na área de Medicina e na área de saú- de de maneira geral. É importante que o médico aprenda desde cedo a focar não na doença, mas na pessoa doente. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 27 Para saber mais PALAVRAS FINAIS DA PROFA. DALVA Y. MATSUMOTO Os profissionais formados poderiam estar mais atentos na comunicação e principalmente na escuta do paciente e família, vivenciar a empatia e o elo terapêutico, funda- mental para a melhora dos sintomas. ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos). Manual de Cuidados Paliativos. São Paulo, 2a ed. Ed Sulina, 2012. TWYCROSS R, Wilcock A. Thorp S. Palliative Care Formulary PCF4. Radcliffe Medical Press, Oxford, 2011. Aula 2 PRINCÍPIOS Profa. Ana Lúcia Giaponesi • Enfermeira • Formada em Cuidados Paliativos pelo Instituto Paliar • Coordenadora do Comitê de CP da ABRALE DE CUIDADOS PALIATIVOS 30 OBJETIVOS DA AULA Nesta aula, a professora descreve os princípios que regem o tra- balho da equipe multiprofissional. Fala sobre a “dor total” que aco- mete os pacientes e da abordagem holística. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 31 CONTEÚDO Os cuidados paliativos baseiam-seem conhecimentos inerentes às diversas especialidades, possibilidade de intervenção clínica e terapêutica nas áreas da Ciência Médica e de estudo específico. Em 1986, a OMS publicou os princípios que regem a atuação da equipe multiprofissional de cuidados paliativos. Esses princípios foram re- afirmados na revisão de 2002 e de 2017. PRINCÍPIO: PROMOVER O ALÍVIO DA DOR E OUTROS SINTOMAS DESAGRADÁVEIS É necessário conhecimento específico para a prescrição de me- dicamentos e também para a adoção de tratamento não farmaco- lógico da dor. Cicely Saunders, precursora de cuidados paliativos, definiu o conceito de dor total. Ou seja, o paciente, além da dor físi- ca, também pode ter dor social, emocional e espiritual, e todos es- ses fatores podem contribuir para a exacerbação ou atenuação dos sintomas, devendo ser levados em consideração na abordagem. 32 PRINCÍPIO: AFIRMAR A VIDA E CONSIDERAR A MORTE COMO UM PROCESSO NATURAL DA VIDA Dr. Bernard Lown, em seu livro “A Arte Perdida de Curar”, afirma: Muito pouco se ensina sobre a arte de ser médico. Os médi- cos aprendem pouquíssimo a lidar com moribundos. A realida- de mais fundamental é que houve uma revolução biotecnológica que possibilita o prolongamento interminável do morrer. O cuida- do paliativo resgata a possibilidade da morte como um evento es- perado e natural aos pacientes que têm uma doença que ameaça a vida, colocando ênfase na vida que ainda pode ser vivida. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 33 PRINCÍPIO: NÃO ADIAR ACELERAR A MORTE É dessa maneira que enfatizamos que cuidado paliativo não pode ser entendido ou confundido como eutanásia, como muitos ainda querem entender. Essa relação causa decisões equivocadas e até mesmo intervenções desnecessárias em pacientes que têm uma doença progressiva e incurável. Como prognosticar esses pacientes e definir uma linha tênue entre o fazer e o não fazer? 34 PRINCÍPIO: INTEGRAR OS ASPECTOS PSICOLÓGICOS E ESPIRITUAIS NO CUIDADO AO PACIENTE A doença, principalmente aquela que ameaça a continuidade da vida, traz perdas com as quais o paciente e a família são obri- gados a conviver, e que nem sempre estão preparados para isso: as perdas da autoimagem, da autonomia, da capacidade física. Sem falar das perdas concretas como emprego, poder aquisitivo e status social. Tudo isso pode levar à depressão, angústia, causando e interferindo, objetivamente, na evolução da doença. E também na intensidade e frequência dos sintomas que podem apresentar maior dificuldade de controle. É fundamental a abordagem des- ses aspectos sob a ótica da psicologia. A novidade é a possibilida- de de abordagem também do ponto de vista da espiritualidade, que se sobrepõe sobre à questão religiosa. A dimensão imaterial do corpo u Segundo o Dr. Luis Saporetti, médico geriatra e estudioso da espiritualidade: “Espírito, do latim spiritus, significa sopro, e se refere a algo que dá ao corpo sua dimensão imaterial, oculta, divina ou sobrenatural, que anima a matéria. O espírito conecta o ser humano à sua dimensão divina ou transcendente.” ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 35 Noventa e cinco por cento (95%) dos americanos creem numa força superior e 93% gostariam que seus médicos abordassem as questões religiosas se ficassem gravemente enfermos. É mais esse significado da transcendência, esse significado da vida, aliado ou não à religião, que você deve estar preparado para abordar com o paciente. Sempre lembrando que o sujeito é o pa- ciente, com suas crenças e seus princípios. Mais vida aos dias u Cicely Saunders dizia: “Podemos acrescentar mais vida aos dias do que dias na vida do nosso paciente.” 36 PRINCÍPIO: OFERECER UM SISTEMA DE SUPORTE QUE POSSIBILITE AO PACIENTE VIVER TÃO ATIVAMENTE QUANTO POSSÍVEL, ATÉ O MOMENTO DA SUA MORTE Este princípio de oferecer um sistema de suporte mostra que não podemos esquecer que qualidade de vida está ligada aos vá- rios aspectos pessoais do paciente. Problemas sociais e de aces- so a medicamentos e a serviços podem causar um sofrimento para o paciente e para a família que tem que ser abordado pela equipe multiprofissional. Viver ativamente não significa viver a qualquer custo. É nosso dever e responsabilidade sermos facilitadores para a resolução dos problemas do nosso paciente. A importância da família u A dra. Marília Pereira Franco descreve: “A unidade de cuidados paciente-família se coloca como una e específica ao mesmo tempo. A célula de identidade do ser humano é a família, respeitadas todas as condições que fazem dela um universo cultural próprio, muitas vezes distante ou até mesmo alheio ao universo cultural dos profissionais da saúde”. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 37 PRINCÍPIO: OFERECER SISTEMA DE SUPORTE PARA AUXILIAR OS FAMILIARES DURANTE A DOENÇA DO PACIENTE E A ENFRENTAR O LUTO Nunca estamos completamente sós, seja uma família biológi- ca, uma família escolhida, nós sempre temos alguém do nosso lado durante o processo da doença. E por muitas vezes a família pode adoecer junto com o paciente. A família também é uma unidade de cuidado. Ninguém conhece o paciente melhor do que a própria família e com isso pode se tornar grande parceira para a equipe. Da mes- ma forma, essas pessoas também sofrem, e esse sofrimento deve ser acolhido e paliado. O cuidado paliativo não se encerra com a morte do paciente, é preciso realizar o acolhimento e o tratamen- to do luto da família. Geralmente esse tratamento é realizado pelo psicólogo, mas todos da equipe podem colaborar. 38 PRINCÍPIO: ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL PARA FOCAR AS NECESSIDADES DOS PACIENTES E SEUS FAMILIARES, INCLUINDO ACOMPANHAMENTO AO LUTO Na prática, você irá se deparar com várias mudanças na resposta terapêutica. Elas podem estar na própria evolução da doença ou na relação paciente-família. Ignorar uma dessas dimensões pode acarretar em uma avaliação incompleta e consequentemente um difícil controle de sintomas. O sujeito da ação é sempre o paciente, respeitando a sua autonomia. Incluir a família no processo do cuidar compreende estender esse cuidado até o luto, mas isso não precisa ser realizado apenas pelo psicólogo, e sim por toda equipe multi- profissional. Essa equipe, com diferentes olhares e uma percepção individual, pode realizar esse trabalho de uma forma abrangente. PRINCÍPIO: MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA E INFLUENCIAR POSITIVAMENTE O CURSO DA DOENÇA Como abordagem holística, é observar o paciente como um ser biográfico e não biológico, respeitando seus desejos e necessida- des. Fazendo um controle impecável de seus sintomas no curso da doença, o paciente pode aumentar a sobrevida. Cuidados paliativos devem ser iniciados o mais precocemen- te possível, juntamente com outras medidas de prolongamento de vida, como a quimioterapia e a radioterapia, e incluir todas as investigações necessárias para melhor compreender e controlar situações clínicas estressantes. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 39 Pela própria definição da OMS, o cuidado paliativo deve ser in- dicado no início do diagnóstico. O que acontece erroneamente, por muitas vezes, quando o cuidado paliativo é ativado na termi- nalidade da vida. Mas, se a equipe for chamada logo no início, po- derá realizar ações paliativas e criar um vínculo com a família, tratando o paciente durante o percurso e em todas as etapas da doença. Uma abordagem precoce também permite uma pre- venção de sintomas e complicações inerentes à doença de base. Todos esses princípios que você acabou de aprender norteiam a prática diária com nosso paciente e sua família. Para saber mais ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos). Manual de Cuidados Paliativos. São Paulo, 2a ed. Ed Sulina, 2012. TWYCROSS R, Wilcock A. Thorp S. Palliative Care Formulary PCF4. Radcliffe Medical Press, Oxford, 2011. Aula 3 BIOÉTICA Profa. Dalva Y. Matsumoto• Médica oncologista • Coordenadora da Hospedaria do HSPM (São Paulo) • Diretora do Instituto Paliar E LEGISLAÇÃO EM CUIDADOS PALIATIVOS 42 OBJETIVOS DA AULA Nesta aula, a professora aborda a grande discussão sobre os li- mites do pensamento tecnicista na assistência em saúde e sobre a validação da voz dos pacientes a familiares. Você vai conhecer as leis e resoluções que norteiam a conduta médica. Aprender sobre Bioética Principialista, Bioética do Cotidiano e a Bioética da Responsabilidade. Entender melhor distanásia e o processo de deliberação moral. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 43 CONTEÚDO Entre as transformações que a humanidade sofreu no decor- rer de sua história, duas concepções permanecem estanques: o ser humano nasce e morre. Simples à primeira vista, e ainda objetivo e aceitável, reflete complexidade, subjetividade e negação. A certeza da morte ain- da é soberana à tecnologia. E é justamente o desconforto das pessoas diante da morte que levou a assistência em saúde a um caminho tão pouco hu- mano e artificial. 44 LEIS E RESOLUÇÕES Documentos descrevem leis e resoluções que defendem o di- reito do paciente, a boa prática em saúde e que colocam o cuida- do paliativo em destaque nas boas práticas em saúde. O primeiro documento importante é a Lei estadual 10.241, de 1999, conhecida como Lei Mário Covas, que “permite que os médicos, perante au- torização da família, suspendam tratamentos que prolonguem a vida de pacientes terminais ou sem chances de cura. Essa lei asse- gura aos usuários dos serviços de saúde no Estado de São Paulo, em seu artigo segundo, o direito de “recusar tratamentos doloro- sos ou extraordinários para tentar prolongar a vida”. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 45 O segundo documento é a resolução número 1.805 de 2006, do Conselho Federal de Medicina, que atesta que, na fase termi- nal de enfermidades graves e incuráveis, é permitido ao médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolon- guem a vida do doente, garantindo-lhe os cuidados necessários para aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, na perspectiva de uma assistência integral, respeitada a vontade do paciente ou de seu representante legal. É importante salientar que essa resolução gerou polêmica em função da má interpretação do texto. Porém, ela foi um passo deci- sivo para novos textos do Novo Código de Ética Médica. 46 O terceiro documento é o novo Código de Ética Médica, capítu- lo V, artigo 41, citado anteriormente, que determina ao médico que, nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sem- pre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal. É importante lembrar que o médico fica com medo da punição por omissão de socorro quando, na realidade, nos casos de doen- ças terminais, empreender procedimentos invasivos, inúteis, que causem sofrimento, é distanásia. E distanásia é um delito ético gra- ve. Esta é uma questão importante para que paciente e familiares não sejam vítimas do abuso do tecnicismo. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 47 O quarto documento são as resolutivas antecipadas de von- tade, cuja resolução 1.995 de 2012 foi publicada pelo Conselho Federal de Medicina. A resolutiva de vontade determina que o paciente tem o direito de estabelecer o seu desejo diante de uma doença terminal. 48 E esse desejo precisa ser respeitado. Não precisa necessariamente ser documentado em cartório. Basta que ele seja descrito em pron- tuário médico, uma vez que o prontuário é um documento formal. BIOÉTICA ATUAL EM CUIDADOS PALIATIVOS Nos anos 1970, dois autores, Beauchamp e Childress, criaram a Bioética Principialista, baseada em 4 princípios: o da Beneficên- cia, o da Não Maleficência, o da Autonomia e o da Justiça. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 49 Atualmente, a Bioética Principialista evoluiu para a Bioética do Cotidiano e a Bioética da Responsabilidade. Diego Gracia, importante psiquiatra espanhol, defende a ideia de que leis e teorias não são absolutas e sim adequáveis às dife- rentes realidades. Considerando os aspectos éticos no cuidados paliativos, é pre- ciso levar em consideração a tomada de decisão ou deliberação moral, ou seja, método deliberativo que consiste na análise de fatos e valores, no sentido de uma tomada de decisão mais prudente. 50 As decisões em cuidados paliativos têm como foco a manuten- ção da qualidade de vida, e não a manutenção da vida a qualquer custo. Fazem parte do processo decisório a opção pelo início e suspensão de determinados tratamentos ou condutas, e isso é sempre difícil. Além do saber técnico dos profissionais médicos, é fundamental levar em conta os valores dos pacientes: seus dese- jos, suas vontades e sua forma de viver. O cuidado paliativo nasce com o conceito de tratar os sintomas, controlar o sofrimento. Mas, para isso, é primordial que o trabalho seja feito com uma comunicação impecável, tirando do paciente aquilo que ele entende como sofrimento, e o sintoma que realmen- te necessita ser paliado. A FUNÇÃO ÉTICA “Na deliberação, a função ética é evitar que as deci- sões sejam imprudentes e não buscar uma unanimida- de. Segundo Diego Gracia isso implica conhecimentos, habilidade e atitudes, como respeito mútuo, humilda- de intelectual, desejo de enriquecer a própria compre- ensão dos fatos pela ótica do outro.” ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 51 Nesse processo de deliberação, devemos observar: • Deliberação sobre os fatos: ou seja, expor o caso, descrever a situação, descrever o caso clínico do paciente. • Deliberação sobre os valores: os valores que estão envolvidos na tomada de decisão. Não somente aqueles do conhecimen- to técnico, mas inclusive os valores do paciente. • Deliberação sobre os deveres: são os deveres do profissional. É o momento do profissional observar as seguintes questões: _ Se eu tivesse mais tempo, tomaria a mesma decisão? _ Essa decisão é legal? _ Tomada essa decisão, posso tornar público o que decidi? • Provas de Consistência: com prudência e responsabilidade para a tomada de decisão definitiva. 52 PALAVRAS FINAIS DA PROFA. DALVA Y. MATSUMOTO Os cuidados paliativos desenvolvem o cuidado ao pa- ciente baseados no princípio bioético de sua autono- mia, através do consentimento informado, possibili- tando que ele tome suas próprias decisões, visando à qualidade de vida e à manutenção da dignidade hu- mana no decorrer da doença, na terminalidade da vida, na morte e no período de luto.” Para saber mais ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos). Manual de Cuidados Paliativos. São Paulo, 2a ed. Ed Sulina, 2012. TWYCROSS R, Wilcock A. Thorp S. Palliative Care Formulary PCF4. Radcliffe Medical Press, Oxford, 2011. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 53 Aula 4 INTEGRAL AVALIAÇÃO DOS PACIENTES Profa. Ana Lúcia Giaponesi • Enfermeira • Formada em Cuidados Paliativos pelo Instituto Paliar • Coordenadora do Comitê de CP da ABRALE 56 OBJETIVOS DA AULA Nesta aula, a professora aborda a necessidade da avaliação inte- gral do paciente para poder controlar os sintomas. Você vai conhe- cer os instrumentos de avaliação, como a PPS e a ESAS. Vai entender como a participação de toda a equipe multiprofissional no plano de cuidados para o paciente e a família é essencial. A professora explica ainda o que é o sintoma total e as decisões terapêuticas. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 57 CONTEÚDO Um adequado controle de sintomas é fundamental em cuidados paliativos. No próprio conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS), justifica essa importância quando profere: • Promover o alívio da dor e de outros sintomas desagradáveis; • Integrar aspectos psicológicos eespirituais no cuidado ao doente. Mais do que um sintoma físico, falamos do “sintoma total”, ou seja, a conjunção de fatores físicos, psicológicos, sociais e espirituais na gênese do sintoma. O desafio é a boa avaliação do doente e a identificação de parâmetros que apoiem, de forma científica e clí- nica, o diagnóstico desse processo. Porém, requer conhecimento técnico aliado à percepção do ser humano, ou seja, devemos co- nhecer não só o doente, mas a doença, a história de vida e o percur- so do adoecer e do morrer. COMUNICAÇÃO É UM DOS PILARES DOS CUIDADOS PALIATIVOS Tudo é valorizado: a história natural da doença, a história de vida do paciente, suas alterações emocionais, físicas e culturais. É im- portante que os familiares participem e compreendam a evolução da doença e as possibilidades até o evento final. 58 A avaliação permite uma comparação em diversos momentos. Você avalia aquele sintoma, prescreve, avalia novamente, para ver como ele está sendo controlado. Uma boa assistência e um bom controle de sintomas são possíveis quando se tem atenção aos de- talhes. Ouvir a família e o paciente requer uma boa comunicação. Por todas essas razões, cuidados paliativos é realizado de forma individualizada, lembrando sempre que se faz por princípios e não por protocolos. AVALIAÇÃO INTEGRAL A avaliação integral só pode ser realizada por uma equipe mul- tiprofissional: médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, farma- cêuticos e qualquer outro profissional da área da saúde. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 59 DADOS BIOGRÁFICOS A avaliação integral começa nas informações dos dados biográfi- cos. Qual o objetivo de ter os dados biográficos? É conhecer quem está em sofrimento. Nós só podemos cuidar e realizar um plano de cuidados quando conhecemos a pessoa. Veja como é a ficha de Dados Biográficos: Uma dica: todos esses dados podem ser coletados em uma con- versa informal, desde que haja um estímulo para que o paciente fale sobre si mesmo. Nem sempre conseguimos todos esses dados na primeira entrevista ou no primeiro encontro com o paciente. 60 CRONOLOGIA DA DOENÇA ATUAL Outro aspecto importante da avaliação integral são as informa- ções atuais da avaliação clínica: o registro da doença com o mês e o ano do diagnóstico, os tratamentos realizados e outras doenças secundárias. Vale lembrar que outras complicações também são importantes no registro do prontuário: complicações liga- das à própria doença atual ou outros diagnósticos não relaciona- dos à doença em questão. Um prontuário em cuidados paliativos deve conter todas as deci- sões terapêuticas tomadas a partir de uma avaliação clínica. Veja como é a ficha de prontuário em cuidados paliativos: ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 61 Dois instrumentos são essenciais na avaliação clínica e diária do paciente em cuidados paliativos: PALLIATIVE PERFORMANCE SCALE (PPS) Palliative Performance Scale (PPS) é uma tabela que informa a funcionalidade do paciente. Ela vai de zero a 100% e mostra o declínio da funcionalidade a partir da progressão da doença. As características são: autocuidado, deambulação, ingesta (alimentar), atividade e evidência da doença, e nível de consciência. O PPS deve ser aplicado diariamente nas unidades em que o paciente esteja in- ternado, em todas as consultas ambulatoriais e visitas domiciliares. 62 ESCALA DE AVALIAÇÃO DE SINTOMAS DE EDMONTON (ESAS) Outro instrumento utilizado é a Escala de Avaliação de Sinto- mas de Edmonton (ESAS). Nessa escala, constam 09 sintomas, que variam em um escore de 0 a 10, além de um sintoma ou pro- blema que o paciente possa relatar e que não conste nessa lista- gem. Por exemplo: uma obstipação, um problema social ou emo- cional. Zero mostra a menor intensidade do sintoma e 10 a maior. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 63 PLANO DE CUIDADOS Após essa avaliação integrada, nós realizamos o plano de cuida- dos. Ele deve ser feito por toda a equipe multiprofissional de ma- neira clara e objetiva. O ideal é que contemple não só o paciente mas também a família. Salientamos que, no plano de cuidados do sintoma total, avaliado pela equipe multiprofissional, deve conter o tratamento não farmacológico também, mas é importante que o sintoma físico esteja controlado. Nós não conseguimos acessar as outras dimensões do paciente se ele estiver apresentando al- gum sintoma físico, principalmente a dor. Mas o plano de cuida- dos em tratamento não farmacológico também ajuda e comple- menta o tratamento da dor física e de outros sintomas físicos. 64 DECISÕES TERAPÊUTICAS A avaliação da família é essencial no plano de cuidados. Ela deve participar e compartilhar das tomadas de decisão. Uma família bem cuidada e bem orientada participa e auxilia muito nos cuida- dos com o paciente. LEMBRETE Lembrar sempre que cada paciente e cada família enfrenta a doença de uma maneira. Cada um traz um recurso de enfrentamento diferenciado e este recurso serve para a equipe como um parâmetro na condução da assistência. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 65 Vivência da equipe Profa. Débora G. Costa, psicóloga hospitalar Na nossa prática diária ao atendimento à família, vivenciamos várias histórias. Tem um caso muito rico em que todas as dimensões da família e do paciente foram abordadas pela equipe de cuidados paliativos. Diferen- temente do que é comum, foi indicado cuidados paliativos no momento do diagnóstico de câncer de uma criança, acometi- da por tumor sólido. A família possuía diversas necessidades: a mãe tinha sobrecarga de trabalho e precisava dar conta de um financiamento da casa própria; o pai estava afastado do traba- lho por questão de saúde; e o irmão da criança portava um mal compulsivo. A família apresentava múltiplas carências físicas, emocionais e sociais. E o cuidado paliativo fez toda a diferença. Conseguimos abordar todas as dimensões. O assistente social ajudou nos benefícios, o psicólogo ajudou no sofrimento, os mé- dicos e enfermeiros, na questão física, e a família conseguiu en- frentar todas as dificuldades do curso da doença graças à assis- tência de uma equipe multidisciplinar que cumpriu seu papel”. Para saber mais ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos). Manual de Cuidados Paliativos. São Paulo, 2a ed. Ed Sulina, 2012. TWYCROSS R, Wilcock A. Thorp S. Palliative Care Formulary PCF4. Radcliffe Medical Press, Oxford, 2011. Aula 5 • Enfermeira • Especialista em Administração Hospitalar e Serviços de Saúde pela Faculdade de Saúde Pública da USP CONCEITOS E PECULIARIDADES DE CUIDADOS PALIATIVOS PEDIÁTRICOS Profa. Rita Tiziana 68 OBJETIVOS DA AULA Embora recente, a especialidade de Pediatria também pode ser inserida em cuidado paliativo. Nessa aula, a professora descreve pa- ciente e família como uma unidade de cuidados. Conta qual é a ori- gem da unidade de Cuidados Paliativos Pediátricos (CPP) e como esse trabalho é de escuta, de criação de vínculo e de cuidar da dor em todas as suas dimensões. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 69 CONTEÚDO Uma boa notícia: o índice de sobrevivência do câncer infanto-ju- venil chega a 70% dos pacientes. Além de curar, o tratamento visa manter a qualidade de vida do paciente e integrá-lo à sociedade. Apesar de todo arsenal terapêutico oferecido, há casos em que a doença progride, sendo considerada fora das possibilidades te- rapêuticas de cura. Ocorre, então, a mudança no enfoque de tra- tamento: passa de curativo para paliativo. Nessa fase, o objetivo principal é o controle de sintomas físicos e psicológicos para levar qualidade de vida para as crianças com câncer avançado. Os Cui- dados Paliativos Pediátricos (CPP) dão suporte à criança e seus familiares visando aliviar expectativas e necessidades físicas, psi- cológicas, sociais e espirituais. Qualquer que seja a fase da doençaa ser enfrentada, é sempre possível oferecer medidas de suporte à criança, cuidador principal e família. Os CPP consideram o pa- ciente e a família como uma unidade de cuidados, e eles devem ser apoiados antes e após a morte da criança. Esse trabalho re- quer uma abordagem multidisciplinar efetiva e ampla que inclua a unidade de cuidados (criança e família) e o uso de recursos dis- poníveis na comunidade. 70 DEFINIÇÃO Cuidados Paliativos Pediátricos (CPP): na pediatria, a expansão dos cuidados paliativos é recente. O primeiro serviço de atendi- mento para crianças surgiu na Inglaterra, no ano de 1982. Nos Es- tados Unidos, o primeiro serviço de cuidados paliativos dentro de uma unidade pediátrica foi o do St. Mary’s Hospital, em Nova York. As necessidades do paciente A abordagem do paciente e seus familiares em cuidados paliativos envolve “estar com” o paciente, ou seja, disponível para atender suas necessidades, compreender suas angústias e respeitar seus direitos. Jean Lugton e Margareth Kindlen publicaram um dos primeiros livros de enfermagem em cuidados paliativos e nele citam que é preciso desenvolver habilidades para o trabalho nesta área. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 71 Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os CPP des- tinam-se à crianças com doenças ameaçadoras da vida, repre- sentando um campo especial, embora próximo dos cuidados paliativos de adultos. PRINCÍPIOS DO CUIDADO PALIATIVO PEDIÁTRICO São os cuidados ativos totais para o corpo, mente e espírito da criança, e envolvem também o suporte à família. Começam quan- do a doença é diagnosticada e continuam independentemente de a criança receber ou não tratamento curativo. Os profissionais de saúde devem avaliar e aliviar os sintomas físico, psicológico e social da criança. Para serem eficazes é necessária uma equipe interdis- ciplinar e multiprofissional capacitada e bem treinada. Podem ser implementados mesmo quando os recursos são limitados e pode- mos atender esses pacientes em Hospitais terciários, nas Unida- des Básicas de Saúde ou no domicílio. 72 HABILIDADES NECESSÁRIAS PARA OS CUIDADOS PALIATIVOS • Respeitar a identidade e integridade do ser humano; • Ser sensível e não julgar; • Saber quando falar e quando ouvir; • Ter conhecimento e habilidades para intervir de modo a pro- mover a melhor qualidade de vida possível, sempre respeitan- do a vontade do paciente. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 73 ESPECIFICIDADE DO CUIDADO PALIATIVO PEDIÁTRICO A Academia Americana de Pediatria descreve que a criança tem inúmeras diferenças em relação ao adulto. Ela apresenta doenças diferentes, peculiares de cada faixa etária e, consequentemente, com necessidades específicas. A criança tem grande dependên- cia afetiva aliada a uma personalidade ainda imatura para enfren- tar as consequências de uma doença grave, limitante e fatal. Os mecanismos fisiológicos de compensação da criança ainda estão em fase de desenvolvimento. E ela reage à dor e à ansiedade de forma diversa do adulto. Outra diferença a ser considerada são as necessidades metabólicas e a farmacocinética específica de cada estágio de desenvolvimento da criança. Sendo assim, as crianças têm necessidades complexas de cuidados paliativos, que são de- terminadas pela idade, a fase da doença, a unidade familiar, o meio cultural e requerem respostas coordenadas dos serviços de saúde, além dos apoios comunitários. 74 O menino que queria ser médico Raquel Vaz da Cunha, mãe de paciente atendido por cuidados paliativos Eu sou Raquel, mãe do Vitor, que faleceu com 14 anos em decorrência de um Linfoma de Hodgkin, em 2015. Cuidados Paliativos foi essencial tanto no final da vida dele quanto na continuação da minha. Vitor era uma menino de 12 anos muito sonhador, inteligente, ativo... tanto que, quando recebeu o diagnóstico, ficou encantado pela Oncologia, e sempre falava que queria ser médico. Ele nunca associou a doença à morte, sempre tinha vida. Um momento em que isso ficou claro foi quando o médico pediu para que Vitor visitasse um outro paciente da mesma idade, tão curioso quanto ele, que pediu ao Vitor que respondesse a uma pergunta que o menino tinha feito para ele. O médico disse: ele me fez uma pergunta que o Vitor nunca fez. Eu, mãe, muito curiosa, perguntei: Qual foi a pergunta? O médico respondeu: ‘O menino me perguntou se essa doença iria matá-lo’. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 75 Fiquei calada. Aí o Vitor ouviu e explicou: “Eu nunca fiz essa pergunta porque eu não acho que o câncer vai me matar.” Ele nunca associou o câncer à morte. O atendimento contou com toda a equipe de Onco-hema- tologia e toda a equipe de enfermagem, que realizou todo o acolhimento. Vitor escolhia a enfermeira e a hemato que o atenderiam em tal dia, além dos médicos que o visitavam. Era liberada a visita dos familiares a qualquer hora, era tudo muito acolhedor. Esse atendimento fez toda a diferença, e acho que é por isso que eu consigo caminhar hoje”. 76 A FAMÍLIA A família é doadora e receptora de cuidados. Quando aborda- mos um paciente gravemente enfermo e em cuidados paliativos, é importante a proximidade, criar um vínculo com a família. Para isso, temos que estabelecer uma boa comunicação: começar con- versando com a família, perguntar sobre as suas necessidades, ver os desejos da criança, atender tudo aquilo que for necessário para que a família seja confortada. Esse período em que a criança está em cuidados paliativos pode estar muito próximo à sua terminali- dade ou não. E é importante dar todo o apoio à família, para que possam entender que a equipe estará do lado deles para atender as necessidades de todos. Todo esse processo deve acontecer du- rante o atendimento. Depois disso, é desejável que a equipe de cui- dados paliativos possa acompanhar essa família no sentido de per- ceber como ela está se comportando depois que a criança morre e ajudar essa família a se reestruturar. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 77 É importante reconhecer a criança e sua família como parceiros dos cuidados e criar entre eles uma verdadeira aliança terapêutica. Ao trabalhar em equipe junto com a família podemos saber de- talhadamente a história dessa criança, conhecer eventualmente os seus medos e preocupações acerca da doença, dor, sintomas e ainda sobre a morte. E é importante estabelecer um vínculo com essa família, uma aliança. O plano terapêutico deve ser muito bem traçado, atendendo à todas essas necessidades. E mais: NÃO PODEMOS ESQUECER DA DOR. Porque esse é o sintoma mais temido por todos os pais e pelas crianças e adolescentes nessa fase paliativa. 78 TRÍADE CRIANÇA, FAMÍLIA E EQUIPE Trabalhar neste prisma da tríade criança, família e equipe é uma excelente alternativa usada no CPP. Ouvir a criança, suas necessida- des, suas angústias, seus desejos e seus medos faz com que a equi- pe possa executar um plano para atender às suas necessidades. A família deve participar ativamente desse cuidado: • Deve ser ouvida em suas necessidades; • Deve participar de suas decisões; • Não esquecer de levar em conta a herança cultural, religião e espiritualidade do paciente e familiares. Tudo isso vai fazer com que se estabeleça um caminho para o atendimento desse paciente. A criança pode se beneficiar desse desfecho e a duração desse cuidado pode se tornar variável ou di- fícil de prever. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 79 PALAVRAS FINAIS DA PROFA. RITA TIZIANA Cuidados Paliativos Pediátricos são de fundamental importância para atender as necessidades da crianças com doenças limitantes da vida ou sem possibilidade terapêutica de cura. Estabelecer planos e estratégias e um atendimento humanizado e individualizado pode ser a grande saída para a finitude dessas crianças. Para saber mais ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos). Manual de Cuidados Paliativos. SãoPaulo, 2a ed. Ed Sulina, 2012. TWYCROSS R, Wilcock A. Thorp S. Palliative Care Formulary PCF4. Radcliffe Medical Press, Oxford, 2011. Profa. Ana Lúcia Giaponesi • Enfermeira • Formada em Cuidados Paliativos pelo Instituto Paliar • Coordenadora do Comitê de CP da ABRALE Aula 6 INCLUSÃO CRITÉRIOS DE E EXCLUSÃO 82 OBJETIVOS DA AULA Esta aula é sobre elegibilidade. A professora mostra quem são os pacientes elegíveis aos cuidados paliativos, quais são as doenças que podem ser indicadas aos cuidados paliativos e quais as dúvidas mais frequentes dos profissionais da área da saúde quando pen- sam em indicar um paciente aos CP. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 83 CONTEÚDO ELEGIBILIDADE Os pacientes elegíveis a cuidados paliativos são aqueles que têm uma doença grave, incurável e que ameaça a continuidade da vida. Dentro dessas doenças nós temos: • Câncer • Doenças cardiovasculares • Doenças pulmonares • Doenças hepáticas • Doenças renais • Demências • Síndromes neurovegetativas Segundo o DATASUS, ocorre 1 milhão de mortes por ano no Brasil. E mais de 50% dessas mortes são passíveis de paliação. Infelizmente, o país não conta com serviços nem com profissio- nais para atender essa demanda. 84 CONCEITOS GERAIS DE ELEGIBILIDADE Os conceitos gerais de elegibilidade têm as seguintes caracte- rísticas: • Diagnóstico bem definido; • Doença que ameace a continuidade da vida ou que esteja em franca progressão; • Necessidade de adequação terapêutica dinâmica; • Grande impacto social e emocional ao paciente e a família. Essas características nos levam a algumas dificuldades, como reconhecer as doenças que ameaçam a vida e identificar a morte e a proximidade dela, ou seja, ter um prognóstico para o paciente. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 85 RECONHECER O MOMENTO DE INDICAR CUIDADOS PALIATIVOS Essa é uma grande dúvida entre os profissionais dentro da área da saúde, porque muitos acreditam que indicar cuidados paliati- vos deve ocorrer na doença terminal. A gente sabe que a Organi- zação Mundial da Saúde (OMS) preconiza que cuidados paliativos têm que ser indicados precocemente, a partir do diagnóstico da doença. Desse jeito, o cuidado paliativo permite que você crie um vínculo com a família, com o paciente, e você pode atuar apenas com ações pontuais até os cuidados paliativos em sua totalidade. A Organização Mundial da Saúde definiu as diversas etapas de atuação dos cuidados paliativos de acordo com a progressão da doença. Veja: 86 Observe que as ações paliativas ocorrem no início do diagnós- tico da doença. E, a partir do momento em que essa doença vai progredindo, a ação do trabalho avança para a totalidade dos cui- dados paliativos. Ele anda junto com o tratamento curador da do- ença. Então, o paciente tem um diagnóstico, começa o tratamento curador, como quimioterapia, radioterapia, e os cuidados paliativos vão ter algumas ações psicossociais, algum controle de sintomas que esse tratamento curador, por exemplo, vai trazer ao paciente. É importante adotar essas ações desde o início porque cria- mos vínculo com a família e com o paciente. E, a partir do mo- mento que a doença progride e o cuidado paliativo se faz mais presente e o curador menos presente, nós podemos obter um controle maior dos sintomas e dar uma melhor qualidade de vida ao paciente. Quando o paciente chega na fase terminal da doença e os cuidados paliativos são adotados na sua totalidade, dificilmente haverá algum tratamento curador. E é necessário lembrar sempre que, após a sua morte, os cuidados paliativos vão acolher a família em seu luto. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 87 IMPLICAÇÕES Algumas implicações são importantes nesse contexto. • Avaliação e controle dos sintomas: precisamos manter nosso paciente com sintomas bem controlados; • Discussão e expectativa de vida: quando possível, o paciente deve participar com sua família dessas discussões; • Discussão de objetivos de tratamento: onde vamos chegar, como podemos chegar para dar uma qualidade melhor de vida a esse paciente e sua família; • Compartilhamento na tomada de decisão: não podemos es- quecer que o paciente é um ser biográfico, que tem uma his- tória antes da doença. E, quando possível e indicado, ele deve participar dessas decisões; 88 • Planejamento do cuidado: qual o objetivo desse cuidado, onde podemos chegar para que o paciente e a família tenham uma qualidade de vida; • Alocação de recursos: apropriados para cada momento do tratamento. Ou seja, do que o paciente e a família precisam para aquele momento do plano de cuidados. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 89 PALAVRAS FINAIS DA PROFA. ANA LÚCIA GIAPONESI As populações elegíveis têm suas características diver- sas e as equipes terão que construir uma formação es- pecífica para avaliação, plano terapêutico e interven- ções necessárias ao cuidado paliativo. E a questão da elegibilidade é um assunto muito delicado que requer uma formação do profissional.” Para saber mais ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos). Manual de Cuidados Paliativos. São Paulo, 2a ed. Ed Sulina, 2012. TWYCROSS R, Wilcock A. Thorp S. Palliative Care Formulary PCF4. Radcliffe Medical Press, Oxford, 2011. Aula 7 Profa. Ana Lúcia Giaponesi • Enfermeira • Formada em Cuidados Paliativos pelo Instituto Paliar • Coordenadora do Comitê de CP da ABRALE INTEGRAIS MODALIDADES 92 OBJETIVOS DA AULA Nesta aula, a professora fala mais um pouco sobre elegibilida- de. Ensina que cuidados paliativos podem ser realizados dentro do âmbito hospitalar com uma equipe de interconsulta ou em uma unidade específica de cuidados paliativos. Também pode ser am- bulatorial, no domicílio, em Hospice ou em uma hospedaria. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 93 CONTEÚDO QUANDO SURGIU Em 1993, a Revista Brasileira de Cancerologia publicou uma ma- téria em que citava, pela primeira vez, a implantação de um serviço de cuidados paliativos no Brasil. A oncologista Magda Rezende, do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e alguns colegas falaram sobre o centro de suporte terapêutico oncológico. A partir daí, ocorreu um maior interesse e houve um crescimento de profissionais na área da saúde em torno de cuidados paliativos no Brasil. MODELOS DE ASSISTÊNCIA EM CUIDADOS PALIATIVOS NO BRASIL As pesquisas nos mostram que, culturalmente, quando o pacien- te chega na fase final da vida, a sua preferência é morrer dentro de um hospital. Constata-se que, nesse momento, começam os cuidados paliativos dentro do ambiente hospitalar. Por conta dessa demanda, as equipes hospitalares vão se formando para realizar cuidados paliativos, mas ocorre que nem sempre é tão vantajoso que sejam realizados dentro do hospital. É bom lembrar que, às vezes, os pacientes ficam sujeitos a procedimentos invasivos como drenos, sondas, e são levados para as unidades de terapias intensi- vas sem ter realmente uma indicação para isso. O que os pacientes com doenças graves, incuráveis, necessitam, é de controle de sinto- mas especializados, de comunicação e ações coordenadas. 94 AMBIENTES ONDE OS CUIDADOS PALIATIVOS PODEM SER REALIZADOS Hospitais: No ambiente hospitalar, os cuidados paliativos são realizados de três maneiras: • Unidade de Cuidados Paliativos: que tem uma equipe treina- da e capacitada. O paciente é transferido para os leitos dessa unidade. • Equipe de interconsulta: é uma equipe mínima formada por um médico, uma enfermeira, um psicólogo e uma assistente social. Quando acionados, vão até o leito do paciente, avaliam, traçam um plano de cuidados e, periodicamente, passam para avaliar e prescrever esse paciente. Geralmente, o médico as- sistente acompanha essa equipe no tratamento e no controle dos sintomas. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 95 • Equipe itinerante: é acionada conforme a necessidade do médico e passa aassumir esse paciente em sua totalidade. Nem sempre o médico assistente continua nos seus cuidados. Domicílio: Outra opção para se realizar cuidados paliativos é no domicílio. Com uma equipe especializada e capacitada, podemos periodica- mente avaliar o paciente em casa, controlando seus sintomas. A vantagem é que as necessidades vão ser atendidas conveniente- mente, o paciente está em seu ambiente, o acesso será mais fácil aos cuidadores e o controle dos sintomas é mais adequado. 96 As desvantagens de não estar em um hospital podem ser um problema se não houver acesso à certidão de óbito, à restrição de drogas e pela própria estrutura da casa. Não podemos esquecer que deve haver uma adequação estrutural para que o atendimen- to ocorra no domicílio. Mas o fato marcante é que o paciente pode estabelecer suas necessidades sem o rigor das normas e horários que existem em hospital, e isso é um grande ganho para a família e para o paciente. Resumindo: para realizar os cuidados paliativos a domicílio, é ne- cessário uma série de condições que garantem um resultado efi- caz. Acompanhe: • Diagnóstico bem definido; • Plano terapêutico feito pela equipe multiprofissional; • Condições mínimas da residência; • Cuidadora responsável e capaz de seguir as orientações dadas pela equipe; • A própria vontade do paciente e da família de permanecer no domicílio. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 97 Ambulatório: No atendimento ambulatorial, a equipe interdisciplinar cuida do paciente e da família. É nesse atendimento que o paciente vai trazer sua emoções, sua dúvidas e vai discutir com toda a equipe sobre ter- minalidade, morte, escolhas e, principalmente, sobre a progressão da doença. Quando uma equipe de cuidados paliativos planeja o atendimento ambulatorial, é muito importante que eles consigam fazer a dispensação do medicamento, principalmente analgésicos, resultando em um controle melhor dos sintomas. Como exemplo, os opióides, que são muito usados em cuidados paliativos. Porém, esse é um grande desafio no Brasil, desde a prescrição ou o arma- zenamento até a dispensação, devido à legislação fortemente con- trolada, de acordo com a portaria no 344 da ANVISA, que normatiza e regula o tema. O paciente precisa receber esses medicamentos mesmo estando em seu domicílio, através da consulta ambulatorial. 98 Hospice: É um termo em inglês utilizado para uma unidade de cuidados paliativos diferente de um hospital geral, pois nesse atendimento o paciente vem com a família. Estando ele na doença terminal ou em um quadro mais mediano de complexidade, terá também o cuidado da equipe multiprofissional. É importante salientar que o paciente pode ficar dias, semanas e até meses, ou mesmo receber alta e seguir o acompanhamento laboratorial. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 99 Hospedaria: Assim como Hospice, a Hospedaria é uma unidade de cuidados paliativos diferente de um hospital geral que recebe os pacientes e familiares para o controle de sintomas. A diferença é que muitas ve- zes o paciente poderia receber esse atendimento em seu domicílio, mas algum empecilho faz com que isso não ocorra. Em relação ao tempo de internação, pode variar entre média e longa permanên- cia. A visita médica é realizada duas ou três vezes por semana ou quando o paciente tem alguma intercorrência. 100 Para saber mais PALAVRAS FINAIS DA PROFA. ANA LÚCIA GIAPONESI Seja qual for a necessidade do serviço de cuidados pa- liativos, alguns parâmetros devem ser respeitados na implantação do modelo. No Brasil, não existem parâ- metros oficiais para o cálculo das necessidades dos cui- dados paliativos, mas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, a necessidade pode ser tomada com base no perfil de mortalidade de uma nação. O mais im- portante é que, segundo a OMS, não é possível realizar cuidados paliativos sem uma equipe multiprofissional. Portanto, nenhum serviço funciona sem uma equipe mí- nima para esses modelos descritos. ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos). Manual de Cuidados Paliativos. São Paulo, 2a ed. Ed Sulina, 2012. TWYCROSS R, Wilcock A. Thorp S. Palliative Care Formulary PCF4. Radcliffe Medical Press, Oxford, 2011. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 101 Aula 8 • Psicóloga Hospitalar • Mestre em Gerontologia • Membro do Instituto Paliar COMUNICAÇÃO INTRODUÇÃO À Débora G. Costa 104 OBJETIVOS DA AULA Nesta aula, a professora aborda a comunicação de notícias difíceis. Define o que é comunicação não verbal, comunicação individualizada e a Conspiração do Silêncio. Explica a prática de uma técnica do psicodrama chamada Role Play, com cenas do cotidiano assistencial de pacientes e familiares onde as no- tícias difíceis estão envolvidas. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 105 CONTEÚDO Desde o momento do diagnóstico de uma doença, seguido por sua evolução, agravo e mudança de perspectiva de tratamento para Cuidados Paliativos Exclusivos, a comunicação de notícias di- fíceis faz-se presente. Cabe ao profissional entender a comunica- ção como aliada para o sucesso da condução dos cuidados. • O objetivo é conhecer a importância e o papel da comunica- ção interpessoal aplicada aos cuidados. • Reconhecer as nuances da comunicação verbal e não verbal na relação com o paciente, família e equipe na prática assis- tencial. COMO SE COMUNICAR SEM CAUSAR TANTO IMPACTO E INSTABILIDADE EMOCIONAL? Exemplos de má comunicação podem se configurar em: • Falta de acolhimento; • Falta de clareza no diagnóstico e tratamento; • Inadequação da própria comunicação. 106 DEFINIÇÃO Comunicação: é o ato ou efeito de emitir, transmitir e receber mensagens. Ato criativo que envolve: conteúdo (fato ou informa- ção) e o sentimento (o que você quer comunicar e como se sen- te a respeito). Não se trata só de transmissão de informação. As mensagens podem ser interpretadas de acordo com a postura, o conteúdo, a circunstância e o sentimento. É um ato de extrema responsabilidade por parte de quem transmite. QUE HABILIDADES O PROFISSIONAL PRECISAR TER PARA CONDUZIR UM BOM PROCESSO DE COMUNICAÇÃO? Além da teoria, a técnica de psicodrama Role Play é uma apren- dizagem prática que orienta qual a postura do profissional no mo- mento da comunicação de notícias difíceis. Cenas do cotidiano as- sistencial de pacientes e familiares onde as notícias difíceis estão envolvidas são reproduzidas. • Movimentos corporais • Expressões faciais • Olhares • Gestos • Entonação ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 107 COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL As pessoas não se comunicam apenas por palavras: Os movimentos corporais, expressões faciais, os gestos, os olha- res e as entonações estão presentes no processo de comunica- ção: são os elementos da comunicação não verbal. Quando ela é utilizada como estratégia de relação interpessoal com o paciente favorece a expressão de sentimentos, angústias, medos e ansieda- des. Desta forma estabelece-se uma relação de confiança entre equipe e paciente. O paciente se sente acolhido e isso representa a essência do cuidado. • Cultura • Crenças • Experiências • Interesses • Ansiedades • Expectativas 108 COMUNICAÇÃO INDIVIDUALIZADA Assim como o cuidado, a comunicação deve ser individualiza- da. Conhecer exatamente o paciente e a família garantem maior assertividade no processo de comunicação. Conhecer sua cultura, suas experiências, seus interesses, suas expectativas, suas ansie- dades e suas crenças é fundamental para esse processo. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 109 O paciente em cuidados paliativos com doença avançada viven- cia inúmeros sentimentos e sofrimentos. É comum apresentar des- conforto físico, conflitos existenciais, necessidades que fármacos ou tecnologia não suprem. Sente ameaça da morte e dificuldade de deixar o que ama. A equipe deve procurar sempre aprimorar sua comunicação poisquem trabalha com o núcleo paciente e família em sofrimento, necessita saber não apenas o que, mas quando e como falar. Em Cuidados Paliativos existe uma máxima de que a verdade deve ser lenta e progressivamente suportável para quem dá e para quem recebe a má notícia. Uma comuni- cação de qualidade não envolve só a fala: é preciso saber ouvir e silenciar. Este é um grande desafio para o profissional. Em meio ao sofrimento muitas vezes palavras não chegam. O silêncio e a presença acolhedora fazem parte da comunicação tanto quanto qualquer fala. Uma das principais habilidades a serem desenvolvidas pelo pro- fissional de saúde é a escuta. Uma escuta reflexiva e empática. Quem dirá o que de fato necessita é o próprio doente. E cabe ao profissional saber ouvir. O que o paciente espera desse profissio- nal é uma postura empática e uma escuta legítima. Gente cui- dando de gente: o profissional precisa se colocar em um patamar igual ao do paciente. Não para sofrer como o paciente, mas para tentar entender todas as suas dimensões e necessidades e dessa forma acessar suas reais necessidades. 110 O PACIENTE PRECISA SER OUVIDO Por uma visão histórica e cultural somada ao avanço tecnológi- co, questões relacionadas à doença, velhice e morte não são abor- dadas: viram tabu para a maior parte das pessoas. A formação do profissional na área da saúde, nesse sentido, é falha. Não são treinados para falar sobre fracasso, quem dirá sobre terminalidade da vida. Isso faz com que, no cotidiano assistencial, assuntos sobre terminalidade da vida sejam evitados por parte do profissional, da família e da equipe. Instaura-se o que chamamos de conspiração ou cerco do silêncio. Para proteger um ao outro, as más notícias não são compartilhadas. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 111 CONSPIRAÇÃO DO SILÊNCIO É um processo que, com o intuito de proteger um ao outro, deixa de compartilhar as más notícias, e se manifesta como um discurso vago, otimista e superficial. É contraditório com a comunicação não verbal que expressa claramente a gravidade da situação. To- dos evitam falar sobre terminalidade e morte, para poupar o pa- ciente, acreditando que vão evitar seu sofrimento ou depressão. O paciente sabe que é portador de uma doença. A família sabe da gravidade da doença, mas não conversa a respeito. Finge, atra- vés de um teatro de má qualidade, que está tudo bem. Isso im- plica em um custo emocional muito grande. Por amor, tentam se proteger. Mas, quando a dificuldade é partilhada, fica mais fácil de enfrentar. Além disso, quando se sabe do desfecho da terminali- dade da vida, o paciente pode planejar suas diretivas antecipadas, suas despedidas e tentar deixar o seu legado. 112 Estudos sugerem que a maior parte dos pacientes deseja: • Ser informada sobre o diagnóstico; • Saber sobre a possibilidade de agravo da doença; • Conhecer a evolução da doença para a terminalidade da vida. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 113 Para saber mais PALAVRAS FINAIS DA PROFA. ANA LÚCIA GIAPONESI Culturalmente, a Medicina salva vidas e busca saúde. O profissional não é formado para lidar com o insucesso das doenças e com a proximidade da morte. Assuntos como: informar ou não um diagnóstico e preservar ou não a autonomia de um doente ainda representam um grande desafio no processo de assistência em saúde. A comunicação é um dos pilares dos cuidados paliativos. ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos). Manual de Cuidados Paliativos. São Paulo, 2a ed. Ed Sulina, 2012. TWYCROSS R, Wilcock A. Thorp S. Palliative Care Formulary PCF4. Radcliffe Medical Press, Oxford, 2011. • Psicóloga Hospitalar • Mestre em Gerontologia • Membro do Instituto Paliar O PACIENTE COMUNICAÇÃO COM Débora G. Costa Aula 9 116 OBJETIVOS DA AULA A professora apresenta dicas e técnicas para a comunicação de notícias difíceis. Fala dos laços importantes para a condução de um bom trabalho. E ensina a utilizar a comunicação como aliada para o sucesso da condução dos cuidados: aprender a identificar sinais de ansiedade extrema ou sofrimento exacerbado, saber ouvir e dar autonomia ao paciente. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 117 CONTEÚDO IDENTIFICAR E ACOLHER Aprendemos que comunicação é um dos pilares de CP. E que toda equipe deve estar preparada e disposta a realizar as ações junto ao paciente e à família. No contexto da doença, há um so- frimento imenso do paciente e familiares devido à doença ame- açar sua vida. E a equipe deve estar preparada para identificar e acolher qualquer tipo de sofrimento, seja ele físico, social, espiri- tual ou emocional. É importante pontuar que as dicas e técnicas na comunica- ção de notícias difíceis não tratam de protocolos. Tratam de dar um norte, um passo a passo para auxiliar na comunicação des- sas notícias. Tudo começa com uma preparação. Acompanhe as etapas nas próximas páginas. 118 ETAPA: PREPARE-SE PARA COMUNICAR Estratégia: • Escolha o local de preferência onde haja acomodações para sentar; • Cuide da privacidade; • Reserve tempo para a conversa. Por exemplo: psicóloga se apresenta como uma das profissionais da equipe de cuidados paliativos e fala: “A proposta é que, a partir de agora, a gente foque nos seus sintomas que tragam desconfor- to. Seria bom saber qualquer sintoma físico, espiritual e emocional que traga desconforto para você. Nossa equipe vai ter condições de cuidar disso.” ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 119 ETAPA: DESCUBRA O QUANTO O PACIENTE SABE, O QUANTO QUER OU AGUENTA SABER Estratégia: • Utilize perguntas abertas: _ O que você sabe sobre sua doença? _ O que você teme sobre sua condição? Atente aos sinais não verbais do paciente durante suas respostas. Identifique: • Sinais de ansiedade extrema ou sofrimento exacerbado, ava- liando as condições emocionais do paciente. Já sabendo o que o paciente conhece ou não sobre sua doença, cabe à equipe compartilhar a informação. 120 ETAPA: COMPARTILHE A INFORMAÇÃO Estratégia: • Informe com tom de voz suave, porém firme, utilizando voca- bulário adequado à compreensão do outro; • Seja claro e faça pausas para que o paciente tenha oportuni- dade de falar. Valide a compreensão, fazendo perguntas curtas. Utilize o toque afetivo e a proximidade física. Verbalize compaixão e solidariedade ao sofrimento do outro. Uma vez transmitida a notícia difícil, recomenda-se acolher os sentimentos. ONCO ENSINO CUIDADOS PALIATIVOS 121 ETAPA: ACOLHA OS SENTIMENTOS Estratégia: • Permaneça junto ao paciente; • Permita e estimule a expressão de sentimentos (de modo ver- bal ou não verbal); • Verbalize disponibilidade para ouvir. É importante que, ao longo da consulta, haja um planejamento do seguimento. ETAPA: PLANEJE O SEGUIMENTO Estratégia: • Fale concisamente sobre os sintomas, possibilidades de trata- mento e prognósticos; • Estabeleça, junto com o paciente, metas a curto e médio pra- zo e ações para atingí-las; • Nunca é demais verbalizar a disponibilidade para o cuidado e o não abandono; • Deixe claro como e onde encontrá-lo, se necessário. Psicóloga fala com paciente e familiares: – Daqui a dois dias eu encontro vocês aqui neste mesmo ambulatório. Se nesse meio tempo algum desconforto predominar, entrem em contato. Vou entregar um folder da equipe com as normas e com todos os contatos. Vocês podem telefonar, na medida do possível, a gente orienta. Eu quero que vocês saibam de verdade que não vai ser um caminho fácil, nunca é, mas vamos trilhar juntos.” 122 Exemplo: TRAÇAR METAS Justamente por ser um momento difícil é essencial que sejam traçadas metas para a comunicação ao final da vida. É preciso conhecer os problemas, anseios e temores e expectativas do pa- ciente. Temos que facilitar o alívio de sintomas de modo a refor- çar a autoestima e a melhorar a qualidade de vida do paciente. É importante que o profissional
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