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Direito do Consumidor - Flávia Marimpietri 2020.1

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1 
DIREITO DO CONSUMIDOR – FLÁVIA MARIMPIETRI 
RELAÇÃO DE CONSUMO 
O Direito do Consumidor é um microssistema de consumo, no qual todo tipo de relação de 
consumo será disciplinado. Esse âmbito do Direito traz a perspectiva de proteção aos 
desiguais/vulneráveis, sendo o consumidor o vulnerável da relação. 
A relação de consumo é uma relação jurídica onde, necessariamente, tem que haver de um lado o 
polo do consumidor, no polo oposto um fornecedor e servindo de elo entre eles um produto ou um 
serviço. 
Consumidor - É aquele que retira o produto do mercado para consumo próprio (e não insumo), 
sendo o destinatário final. A pessoa jurídica também pode ser consumidora, desde que use o 
produto para consumo próprio. 
A. CONSUMIDOR PADRÃO – É o consumidor por excelência. Aquele que utiliza o produto ou 
serviço como destinatário final. 
Art. 2°, CDC. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire 
ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. 
Adquirir traduz a ideia de contratar a aquisição de um produto ou serviço, enquanto utilizar segue 
a ideia de uma situação fática (contrato social). 
Destinatário final é aquele que retira o produto ou serviço do mercado de consumo e, ao fazê-lo, 
exaure sua vida econômica. 
No momento em que se compra um produto para dar para alguém, a pessoa que recebe a coisa 
torna-se a consumidora, parte da relação de consumo. 
TEORIA FINALISTA/MINIMALISTA X TEORIA MAXIMALISTA 
A corrente finalista defendia que para ser destinatário final na cadeia produtiva era imprescindível 
que o sujeito destinasse uma finalidade àquele produto da relação de consumo, sendo o destinatário 
final. Já a corrente maximalista defendia que todos que compram o produto seriam 
consumidores, pouco importando a finalidade que ao produto será destinada. 
Hodiernamente, no STJ, vigora o finalismo mitigado/aprofundado, na qual a vulnerabilidade 
passa a ser o critério básico para a definição de consumidor. 
 2 
Assim, como regra geral, a teoria finalista é a mais utilizada. Porém, como exceção, quando há uma 
relação entre dois fornecedores, mas um desses fornecedores está em pé de vulnerabilidade, o 
legislador pode transformar esse fornecedor vulnerável em consumidor, para que este seja 
protegido pelo Código de Defesa do Consumidor. 
B. CONSUMIDORES EQUIPARADOS: 
a. COLETIVIDADE – Às vezes o dano recai sobre um grupo de pessoas, que passam a ter 
legitimidade enquanto grupo para propor uma ação coletiva de consumo. 
O código do consumidor reconhece que as pessoas, mesmo sem adquirir ou utilizar produto 
ou serviço como destinatário final, ou que estejam em grupos indetermináveis, podem estar 
em condição de vulnerabilidade às práticas comerciais cometidas pelos fornecedores. 
Art. 2°, parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de 
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações 
de consumo. 
A norma do referido artigo estabelece, portanto, que toda e qualquer pessoa, tão somente 
pela possibilidade de estar exposta a alguma prática comercial, é considerada como 
consumidor. 
b. VÍTIMA DE ACIDENTE DE CONSUMO – O evento/acidente de consumo previsto no artigo 
corresponde a um dano específico (à saúde, à vida ou à segurança). Se o dano for 
exclusivamente material, não se encaixa nesse caso específico. 
Se, por desdobramento de um desses danos, ocorrer um dano patrimonial, não se descaracteriza 
o acidente de consumo. Somente descaracterizará o acidente de consumo se o dano for 
exclusivamente patrimonial. 
Art. 17, CDC. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos 
consumidores todas as vítimas do evento. 
Ex.: O sujeito A compra um celular, que explode atingindo o sujeito B. Apesar de B não ter sido 
o consumidor padrão daquele titular, ainda está protegido pelo CDC por ser considerado um 
consumidor equiparado por acidente de consumo. 
c. EXPOSTO À PRÁTICA ABUSIVA – Crime de perigo é aquele em que o perigo eminente já o 
descaracteriza. Nesse caso, a prática abusiva não precisa, necessariamente, concretizar o 
dano, basta o perigo eminente. 
Busca a proteção do contratante vulnerável, com o objetivo de promover o equilíbrio contratual. 
 3 
Art. 29, CDC. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, 
equiparam-se aos consumidores todas as pessoas 
determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. 
C. FORNECEDOR – É toda pessoa latu sensu que vai ao mercado de consumo ofertar seus 
produtos e serviços mediante remuneração. Não é necessariamente aquele que vende o 
bem, mas aquele que está oferecendo. Não é essencial que o negócio se concretize. 
Deve haver uma habitualidade desse comércio/negócio. É necessário haver a remuneração. A 
pessoa que esporadicamente pratica o comércio não será regida pelo CDC, mas sim pelo Código 
Civil. 
Art. 3º, CDC. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou 
privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes 
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, 
montagem, criação, construção, transformação, importação, 
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação 
de serviços. 
A pessoa física também pode ser fornecedora, a exemplo dos prestadores de serviços autônomos. O 
autônomo, todavia, só é considerado um fornecedor autônomo quando age como autônomo, pois 
quando age como empregado de uma instituição, ele não é mais o fornecedor, mas sim o é a 
instituição. 
“Nacional ou estrangeira” – Hoje em dia, com a internet, fornecedores internacionais é o que se vê 
de mais comum. Se se compra um produto importado, mas essa marca também vende para o Brasil, 
não há problemas, visto que, se tiver algum defeito no produto, o fornecedor que tem filial no país 
pode resolvê-lo. 
“De direito público ou direito privado” – Há relação de consumo com fornecedor de direito público 
quando esse fornecedor atuar na atividade econômica prestando um serviço de caráter “uti singuli”, 
ou seja, prestado e remunerado de forma direta e indivisível (ex.: telefonia móvel, COELBA). 
Quando o ente público resolve se envolver na atividade econômica e concorrer com o fornecedor 
comum, passa a responder como um fornecedor qualquer, sem nenhuma prerrogativa da 
Administração Pública. 
D. PRODUTO – Produto é bem, serviço é atividade. Em ambos deve haver a remuneração. 
A consequência prática de não ser produto ou serviço para o CDC é que não se estabelece a relação 
de consumo, visto que falta uma peça do sistema. 
 4 
Art. 3º, §1°, CDC. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material 
ou imaterial. 
“Remuneração embutida” – Discurso de cortesia. Normalmente o valor do serviço que as empresas 
colocam como cortesia está embutido no valor que o sujeito já teria que pagar no final. 
Ex.: Antigamente, nos shoppings de Salvador, o estacionamento era cortesia. Porém, se houvesse 
qualquer dano ao carro, o shopping não responderia na vara consumerista, mas sim na cível, 
cabendo ao sujeito prejudicado provar a negligência, imprudência ou imperícia do shopping 
(enquanto na vara consumerista a responsabilidade é objetiva). 
Publicidade subliminar nas celebridades – O sujeito acaba se agregando na cadeia produtiva, pois 
se torna responsável por propagar aquele produto ou serviço. Por ser uma publicidade de caráter 
testemunhal, pode ser imputado ao sujeito algum tipo de responsabilidade. 
E. SERVIÇO – Produto é bem, serviço é atividade. Em ambos deve haver a remuneração. 
Art. 3º, §2°, CDC. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado 
de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza 
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das 
relações de caráter trabalhista. 
PRINCÍPIOS DO DIREITO DO CONSUMIDOR 
Servem de base para o sistema criado, assim como de vértice de interpretação para possíveis 
conflitos de regras. Os princípios trabalham com uma harmonização maior do que as regras, não 
havendo hierarquização. 
1. BOA-FÉ OBJETIVA –Boa-fé de conduta/ação/comportamento. Basta que o lesado prove dano 
e nexo causal. Base de criação dos deveres anexos de conduta. 
Teoria/Tutela da Confiança – Veda o comportamento contraditório. Quando um consumidor 
deposita no forncededor, de forma legítima, uma determina expectativa de comportamento e o 
fornecedor, posteriormente, quebra a confiança depositada nele, não está respeitando a Teoria da 
Confiança. 
O STJ já sumulou (súmula 370) que o depósito de cheque pré-datado antes da data prevista abre a 
possibilidade de indenização, por quebra da confiança. 
2. VULNERABILIDADE – É um estado de permanente desigualdade. Todo consumidor é 
vulnerável, mas nem todo consumidor é hipossuficiente. Dessa forma, a vulnerabilidade diz 
 5 
respeito à fragilidade inata do consumidor, enquanto a hipossuficiência é um critério para 
a inversão do ônus da prova, dependendo da situação em que o consumidor se encontra. 
Art. 4º, CDC. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por 
objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito 
à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses 
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a 
transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os 
seguintes princípios: 
I - Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de 
consumo. 
Vulnerabilidade técnica: O consumidor não possui conhecimentos especializados sobre o produto 
ou serviço. Porém, há a presunção ou exigência destes conhecimentos pelo fornecedor. 
Vulnerabilidade jurídica: Falta de conhecimento, pelo consumidor, dos direitos e deveres inerentes 
à relação de consumo. 
Vulnerabilidade fática: A mais comum é a vulnerabilidade econômica. Engloba, também, a 
vulnerabilidade informacional. 
3. VINCULAÇÃO DA OFERTA – Tudo aquilo que o fornecedor anunciar serve como um pré-
contrato, ficando este obrigado a cumprir na mesma forma em que ofertou. 
A proposta, no Direito Civil, é personalíssima e individual/direcionada. Já no Direito do 
Consumidor, a oferta é feita a qualquer pessoa que possa comprar, se tornando obrigatória a partir 
do momento em que é lançada no mercado. 
Quando o erro é capaz de despertar uma dúvida legítima, o fornecedor é obrigado a vender a coisa 
pelo valor ofertado. Já na hipótese de erro material grosseiro, a boa-fé objetiva deve ser considerada 
“em primazia” ao princípio da vinculação da oferta. 
4. INFORMAÇÃO – Não basta simplesmente dar a informação de qualquer jeito, mas de uma 
forma legítima, permitindo a compreensão do outro. 
Art. 31, CDC. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem 
assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua 
portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, 
composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros 
dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança 
dos consumidores. 
 6 
5. TRANSPARÊNCIA – Agir com transparência é agir sem esconder nada da outra parte. 
6. HARMONIZAÇÃO DOS INTERESSES – Existe, na relação de consumo, uma parte vulnerável. 
Todavia, isso não significa que o interesse desta parte deve ser sempre superior ao da outra 
parte. A ideia é de equilíbrio entre os interesses de ambas as partes. 
7. SOLIDARIEDADE – Nova compreensão dos contratos para além dos efeitos tradicionais e 
exclusivos entre contratantes. 
8. INTERVENÇÃO DO ESTADO – O Estado tem o dever de interferir para proteger os direitos 
do consumidor. Nesse sentido, há a possibilidade de limitação da eficácia jurídica da 
declaração de vontade do consumidor, visando a sua própria proteção. 
DIREITOS BÁSICOS 
São direitos irrenunciáveis, não podendo o sujeito deles abrir mão, visto que, em posição de 
vulnerabilidade, o consumidor pode tentar negociar economicamente os seus direitos e acabar 
prejudicado. 
Art. 6º, CDC. São direitos básicos do consumidor: 
I - A proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados 
por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados 
perigosos ou nocivos; 
Direito focado no mercado de consumo. Esse direito dá ao consumidor uma tranquilidade devido 
à presunção relativa de que os produtos não gerarão nenhum tipo de dano à saúde, vida e segurança. 
O objetivo é proteger o consumidor da periculosidade e nocividade excessiva daquele produto. 
Não se pode, como fornecedor, saber que um produto é perigoso e ainda assim colocá-lo no 
mercado. Os produtos, para entrar no mercado de consumo, precisam de autorização do poder 
público. 
Recall – Às vezes o fornecedor faz os devidos testes, mas só descobre a periculosidade depois que o 
produto já está no mercado. Consequentemente, o fornecedor tem a obrigação legal (cível e penal) 
de “chamar de volta” os consumidores, para consertar o produto ou devolver o dinheiro do 
consumidor, além de indenizar aqueles que já sofreram o dano. 
Tem por objetivo impedir que aquele dano se propague, portanto, o fornecedor deve recolher o lote 
do produto. Não há prazo para o recall, este não exclui a responsabilidade e não deve gerar nenhum 
ônus ao consumidor. Por ser uma obrigação legal, não o fazer constitui crime de menor potencial 
ofensivo. 
 7 
II - A educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos 
e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas 
contratações; 
III - A informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e 
serviços, com especificação correta de quantidade, características, 
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre 
os riscos que apresentem; 
A informação deve ser dada de forma a educar o consumidor. Há uma preocupação com o 
entendimento e uma busca pela equidade informacional. Portanto, a informação deve ser 
adequada, de modo a atingir sua finalidade, e veraz. 
IV - A proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos 
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e 
cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e 
serviços; 
Direito geral de proteção, devido a vulnerabilidade do consumidor. 
i. PUBLICIDADE ILÍCITA – Ser protegido sobre qualquer tipo de publicidade considerada 
ilícita (subliminares, enganosas ou abusivas) que, de alguma forma, desrespeita os 
valores da sociedade. Arts. 36 e 37, CDC. 
ii. PRÁTICAS COMERCIAIS ABUSIVAS – Toda atuação do fornecedor em desconformidade 
com padrões de conduta negociais regularmente estabelecidos ou que estejam em 
desacordo com a boa-fé a confiança do consumidor. Art. 39, CDC. 
iii. CLÁUSULAS ABUSIVAS – Imposição unilateral de condições contratuais prejudiciais aos 
interesses legítimos dos consumidores. Art. 51, CDC. 
V - A modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam 
prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos 
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; 
Está relacionada ao equilíbrio contratual. Através da revisão contratual, o vínculo contratual se 
mantém, mas o que é excesso é retirado. Se não puder ser retirado, é permitido ao juiz reescrever a 
cláusula. 
VI - A efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, 
individuais, coletivos e difusos; 
Indica ao Estado e aos fornecedores uma série de deveres conducentes à eliminação ou redução de 
riscos de danos causados aos consumidores, em razão da realidade do mercado de consumo. 
 8 
VII - O acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à 
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, 
coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e 
técnica aos necessitados; 
O direito de acesso à justiça possibilita entender que há vários órgãos, cada qual especializado e 
capaz de conceder acesso a certos direitos. O processo administrativo geralmente visa ressarcir e 
evitar danos coletivos, enquanto o judicial visa ressarcir danos individuais. 
VIII - A facilitação da defesa de seus direitos,inclusive com a inversão 
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do 
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, 
segundo as regras ordinárias de experiências; 
O juiz, ao declarar o consumidor hipossuficiente, permitirá a inversão do ônus da prova. A 
hipossuficiência corresponde à dificuldade ou impossibilidade de fazer prova em juízo. 
Verossimilhança da alegação: Probabilidade alta de veracidade do acontecimento do fato. Às vezes, 
mesmo não sendo hipossuficiente, é possível ter o ônus da prova invertido em razão da 
verossimilhança da alegação. 
O juiz pode, de ofício, inverter o ônus da prova se reconhecer a hipossuficiência do consumidor. O 
STJ, por outro lado, tem um entendimento sumulado que traduz uma exceção a essa regra. 
Súmula 381, STJ - Nos contratos bancários, é vedado ao julgador 
conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas. 
MOMENTO ADEQUADO PARA A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA: 
(1) No primeiro momento que o juiz tiver contato com o processo, deve inverter o ônus da 
prova, ou seja, no despacho inicial. Essa corrente sofre críticas, uma vez que o juiz ainda não 
teve contato com a parte acionada e, portanto, não tem condições de afirmar se há ou não 
elemento para inverter o ônus da prova. 
(2) A corrente majoritária entende que o momento ideal é no despacho saneador, pois as partes 
já se manifestaram e já solicitam as provas pertinentes. Portanto, além de respeitar o 
contraditório, é dada às partes a transparência. 
(3) Orientada por grandes processualistas, como Nelson Nery Jr, essa corrente entende que a 
inversão do ônus da prova deve ocorrer na sentença. Também sofre críticas, visto que a 
prova já foi produzida. 
 9 
X - A adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. 
Uti singuli: Serviços públicos divisíveis, prestados de forma direta e individualizada (ex.: COELBA, 
EMBASA, telefonia, etc.). 
Devem ser prestados de forma adequada (escolher o melhor meio para realizar determinado fim) e 
eficaz (produzir resultados). 
RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR 
SOLIDÁRIA E OBJETIVA – Respondem independente de culpa, como regra geral, todos os 
fornecedores da cadeia produtiva. O consumidor escolhe quem vai acionar no polo passivo, 
podendo ser um único fornecedor ou todos os fornecedores. 
Havendo dano ao consumidor, este tem a obrigação de demonstrar apenar o dano e o nexo causal, 
sem necessária aferição de culpa ou dolo do fornecedor. Essa regra justifica-se no princípio da 
vulnerabilidade com consumidor, e leva o CDC a adotar a Teoria do Risco Integral. 
EXCEÇÃO DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA: Profissionais liberais respondem de forma subjetiva, 
ainda que estejam em uma relação de consumo. Art. 14, parágrafo quarto. 
EXCEÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA: Nomeação da espécie de fornecedor no texto do 
artigo. Ex.: Art. 18, CDC. O texto do artigo tem “fornecedor”, como gênero, todos que estão na cadeia 
produtiva. O art. 12, por outro lado, cita os fornecedores, portanto, todos estes deverão responder 
solidariamente. 
EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE 
Situações que irão desconstituir o nexo causal, e o fornecedor não irá responder. 
1. CASO FORTUITO (ATO URBANO) E FORÇA MAIOR (ATO DA NATUREZA) – Segundo a 
doutrina majoritária, o CDC admite como causa de exclusão da responsabilidade o caso 
fortuito externo, aquele que vai além do risco normal da atividade (ex.: assalto na APAE). 
2. TEORIA DO RISCO DO DESENVOLVIMENTO – Não é recepcionada pelo Direito do 
Consumidor brasileiro. É muito usada na Europa. Se, em um determinado momento 
histórico, foram feitos todos os testes de segurança de um certo produto, e depois de um 
tempo de descobre o risco, a responsabilidade não seria do fornecedor. 
3. ART. 12, PARÁGRAFO 3º - (1) Quando o fornecedor provar que não foi ele quem colocou o 
produto no mercado. Ex.: carga de medicamente roubada enquanto estava sendo descartada 
e é comercializada. (2) Quando o fornecedor prova que, apesar de ter colocado o produto 
 10 
no mercado de consumo, o defeito não existe. (3) Culpa exclusiva do consumidor ou de 
terceiros – O fornecedor dá todas as informações, mas o consumidor não presta atenção. Se 
a culpa for concorrente, a responsabilidade não é excluída. No máximo, pode diminuir o 
quantum indenizatório. 
RESPONSABILIDADE POR FATO DO PRODUTO/SERVIÇO: Fato é quando existe um defeito na 
segurança do produto. Ex.: Soda cáustica no suco em caixa. Art. 12 ao art. 17, CDC. 
Providências: Indenizar o lesado e devolver o dinheiro. Não é possível consertar. Não é possível fato 
do produto somente com efeitos patrimoniais. O bem lesado é a saúde, vida ou segurança. 
Fato do produto (art. 12) – Só respondem produtor, construtor, importador e fabricante. 
Fato do serviço (art. 14) – Todos os fornecedores respondem (inclusive o comerciante) 
RESPONSABILIDADE POR VÍCIO NO PRODUTO/SERVIÇO: Vício é quando existe um defeito na 
qualidade ou quantidade do produto (violação do dever de adequação). Ex.: Na caixa de 1L de suco 
vem somente 800ml. O vício pode ser sanado. O bem lesado é, exclusivamente, patrimonial. Art. 18 
ao art. 21, CDC. 
CLÁUSULA PRAZO: O fornecedor tem 30 dias para consertar o produto e devolver ao consumidor. 
Passados os 30 dias, o consumidor pode escolher se troca o produto, o dinheiro de volta ou o 
abatimento do preço. 
Art. 18, parágrafo terceiro. Situações em que não é necessário esperar os 30 dias. Se o bem for 
essencial (inerente à vida ao humus econômico – geladeira, fogão, cama) ou se o conserto do bem 
resultar em um decaimento do valor de mercado do produto (ex.: trocar a placa mãe de um 
notebook). 
OFERTA E PUBLICIDADE 
Oferta descritiva é aquela que apenas descreve e oferece um negócio jurídico. A publicidade, por 
outro lado, também chamada de oferta publicitária, tem a função de persuadir, de fazer com que o 
consumidor compre aquele produto ou serviço. Em uma sociedade em que os indivíduos compram 
não pela necessidade, mas sim pelo desejo, a publicidade é essencial nesse sentido. 
PUBLICIDADE NÃO LÍCITA: Em países mais desenvolvidos, já existem Códigos que regulamentam a 
publicidade. No Brasil, porém, não há uma codificação específica. O Direito brasileiro busca traçar 
limites mínimos para regular essa publicidade. 
 11 
Art. 30, CDC. Toda informação ou publicidade, suficientemente 
precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com 
relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o 
fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato 
que vier a ser celebrado. 
Princípio da vinculação da oferta – Tudo aquilo que o fornecedor anunciar serve como um pré-
contrato, ficando este obrigado a cumprir na mesma forma em que ofertou. 
Art. 31, CDC. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem 
assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua 
portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, 
composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros 
dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança 
dos consumidores. 
Se a publicidade foge desses requisitos trazidos pelo dispositivo acima, torna-se ilícita. 
Corregulação – Existem leis esparsas que vão traçar diretrizes para a publicidade. Existe um órgão 
– CONAR, que traça normas éticas para que as publicidades ilícitas não aconteçam. 
1. PUBLICIDADE ENGANOSA – É baseada na mentira, sendo que a falsidade da informação pode 
ser total ou parcial, e transmitida na modalidade comissiva (afirma algo que não é 
verdadeiro) ou omissiva. 
Art. 37, CDC. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. 
§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação 
de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer 
outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o 
consumidor a respeito da natureza, características, qualidade,quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados 
sobre produtos e serviços. 
Enquanto na publicidade comissiva afirma-se algo que não é verdadeiro, na publicidade omissiva, 
induz-se ao erro omitindo uma informação importante, que faria diferença na escolha da compra 
do produto ou serviço. 
§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão 
quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. 
2. PUBLICIDADE ABUSIVA – Se aproveita de determinadas situações do cotidiano para vender 
os produtos. Desrespeita os valores médios da sociedade. É a publicidade ardilosa, usada 
para atingir os hipervulneráveis (crianças, idosos, analfabetos, etc.). 
 12 
Pode também ser assim considerada aquela que explora o medo, o preconceito, incita a violência, 
etc. 
§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer 
natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se 
aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, 
desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o 
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua 
saúde ou segurança. 
3. PUBLICIDADE SUBLIMINAR – Aquela publicidade em que não se consegue identificar como 
publicidade, ou seja, não respeita o direito de identificação da publicidade. Traz consigo 
recado publicitário nas entrelinhas. 
Art. 36, CDC. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o 
consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal. 
Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou 
serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos 
interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão 
sustentação à mensagem. 
Princípio do reconhecimento da publicidade – Ao se perceber que se está diante de uma 
publicidade, o indivíduo consegue ativar certos “filtros”. 
Merchandising – Fazer a propaganda do produto através do uso deste produto. É permitido pelo 
ordenamento jurídico brasileiro. Todavia, é importante colocar que faz parte da publicidade. 
Em algumas situações, dentro de um contexto, é fácil confundir merchandising com publicidade 
enganosa. A exemplo de uma publicidade dentro de uma novela. 
Pode-se pedir, judicialmente, que aquela publicidade seja retirada. É possível também denunciar 
aquela propaganda ao PROCON ou ao Ministério Público. 
Inversão ope legis do ônus da prova – O juiz não tem o poder de discricionariedade para inverter o 
ônus da prova (ope iuris), pois a própria lei já o traz. Nessa situação, o ônus já está invertido e o juiz 
simplesmente deve aplicá-lo. 
Art. 38, CDC. O ônus da prova da veracidade e correção da informação 
ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina. 
Essa inversão cai cirurgicamente apenas sobre o que é verdadeiro naquela publicidade específica. 
 13 
A propaganda vende uma ideia, que pode não ser no sentido de persuadir a comprar (ex.: 
propaganda política). Já a publicidade está ligada a essa ideia de comprar algo. Essa diferença não 
é muito importante para o Direito, visto que a legislação traz esses conceitos como sinônimos. 
Papel do CONAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária. É uma instituição 
civil. Na década de 1970, os donos das grandes agências decidiram se autorregular, ou seja, criar 
normas éticas para evitar que uma lei posterior trouxesse essas limitações. 
O CONAR traça normas éticas que, uma vez descumpridas, recomenda que as publicidades sejam 
retiradas ou corrigidas. Não é órgão público, não tem poder de polícia. 
As empresas geralmente obedecem às recomendações do CONAR por uma lógica de mercado, por 
uma concorrência leal entre os próprios donos de grandes agências que formam esse órgão. 
Caso BIC, 2017 – Anúncio da Faber Castel que afirmava a qualidade de seus produtos baseada em 
pesquisa, onde a maioria dos professores indicam a marca. A BIC denunciou como publicidade 
enganosa. 
Segundo a denunciante, a afirmação é enganosa por dar uma ideia de abrangência da pesquisa, 
totalmente descolada da sua extensão. 
O relator propôs a alteração, de forma que os anúncios deixem claro que a recomendação é fruto 
de pesquisa realizada, bem como a correta abrangência da pesquisa. Voto aceito por unanimidade. 
Caso Bob’s, 2020 – Um consumidor reclamou no CONAR de anúncio em televisão do Bob’s, 
divulgando oferta disponível em apenas algumas das lojas da rede. O consumidor queixou-se de 
que não conseguiu acessar a informação de quais seriam as lojas da rede participantes dessa oferta. 
Tampouco a monitoria do CONAR conseguiu obter a informação. 
Em sua defesa, o anunciante alegou que a informação pode ser facilmente acessada no site da 
empresa. O relator não aceitou essa explicação e propôs alteração do site do Bob’s, para dar imediata 
clareza de informação aos consumidores. 
O fato de divulgar uma promoção nesse sentido, é suficiente para o consumidor ter acesso à 
informação? Segundo o art. 31 do CDC, a publicidade deve ser ostensiva, ou seja, não é suficiente 
essa divulgação. 
Responsabilidade civil das celebridades – Os atores, nas propagandas enganosas, poderiam ser 
responsabilizados por estas? O ator pode ser responsabilizado pela publicidade testemunhal (ex.: 
 14 
caso de Pelé, que fazia propaganda testemunhal de uma vitamina). Se a publicidade faz uso de 
valores infungíveis de determinada pessoa, também é possível responsabilizar o sujeito. 
PRÁTICAS COMERCIAIS ABUSIVAS 
A ideia do abuso remete a proporcionalidade. A situação abusiva se configura quando os meios 
destinados para realização dos fins não são apropriados ou são desproporcionais. 
A proteção consumerista existe para proteger o consumidor de qualquer tipo de abuso cometido 
na relação de consumo. Insta ressaltar que este abuso, muitas vezes, nos remete a ideia de abuso de 
direito. 
É bem verdade que a maioria das práticas abusivas ocorrem sob este fundamento, mas é mister 
compreender que o abuso de direito perpetrado na seara consumerista não é concebido nas mesmas 
bases do instituto conforme o art. 187 do Código Civil. Enquanto na esfera civil a coibição ao abuso 
de direito justifica-se na ofensa à boa-fé, no sistema consumerista, vincula-se ao caráter de norma 
de proteção de ordem pública com previsão constitucional e no princípio da vulnerabilidade do 
consumidor. 
No CDC, a conduta abusiva do fornecedor pode ocorrer sempre que haja uma situação de vantagem 
para este, decorrente da desigualdade intrínseca à relação de consumo. O abusividade surge em 
função do que o direito alemão denomina de “posição dominante” do fornecedor, ou seja, o abuso 
de direito consumerista corresponde ao abuso de posição jurídica. 
Art. 39, CDC. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre 
outras práticas abusivas: 
I - Condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao 
fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, 
a limites quantitativos; 
Venda casada – Quando o fornecedor impõe ao consumidor, limites quantitativos, ou a compra de 
um produto/serviço como condição para a aquisição de outro produto/serviço. Ressalte-se que a 
simples sugestão não é contaminada pela abusividade. 
É venda casada se não tiver a opção de comprar os produtos separadamente. 
(1) PRODUTO COM PRODUTO – Ex.: Café e leite, shampoo e condicionador. 
(2) SERVIÇO COM SERVIÇO – Ex.: Cartão em loja de departamento e contrato de seguro. 
(3) PRODUTO COM SERVIÇO – Estipulação de quanto o consumidor vai consumir. Ex.: Cobrança 
de consumação mínima. 
 15 
(4) PRODUTOS IGUAIS – Ex.: Embalagem de três Nescau de caixinha 
II - Recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata 
medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade 
com os usos e costumes; 
Recusa de venda – Muitas vezes, os fornecedores se recusam a vender alguns produtos em estoque, 
por diversos motivos (ex.: estoque reduzido, aumento dopreço posteriormente). 
Retenção de produtos/serviços nos estoques, recusando-se o fornecedor à venda para os 
consumidores, com o intuito de vende-los posteriormente com preço superior. Tal medida ilícita é 
muito comum em épocas de crise ou escassez de certos produtos, e geram reflexos na seara 
consumerista e econômica, como inflação, elevação injustificada dos preços, etc. 
III - Enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, 
qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço; 
Envio sem solicitação – Ex.: Cartão de crédito, muitas vezes com limites muito além das 
possibilidades financeiras de certos consumidores, sem que estes sejam requisitados. 
Tal prática contribui significativamente para o recente fenômeno do superendividamento do 
consumidor, em função da disponibilização irresponsável do crédito fácil. 
Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou 
entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III, 
equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento. 
Mesmo que a pessoa desbloqueie e faça uso desse cartão, já se configura prática abusiva do 
fornecedor. Esta fica obrigada a pagar somente as compras feitas no cartão, mas não a anuidade. 
IV - Prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em 
vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para 
impingir-lhe seus produtos ou serviços; 
Atentado contra os hipervulneráveis (crianças, idosos, pessoas com pouca instrução, etc.) - É 
vedada qualquer prática comercial que seja voltada para atingir tal segmento de consumidores, 
incluindo neste inciso as publicidades abusivas e todos os outros meios de persuasão. 
V - Exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; 
 16 
Verdadeira cláusula aberta. Quando o fornecedor quer repassar para o consumidor os custos do seu 
próprio negócio. Ex.: Mesmo com o plano de saúde pago, o hospital exige que deixe na recepção 
um cheque de caução. 
VI - Executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e 
autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de 
práticas anteriores entre as partes; 
Art. 40, CDC. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao 
consumidor orçamento prévio discriminando o valor da mão-de-obra, 
dos materiais e equipamentos a serem empregados, as condições de 
pagamento, bem como as datas de início e término dos serviços. 
Todo serviço que será prestado ao consumidor demanda um orçamento, que não pode ser feito de 
qualquer forma: deve ser prévio, expressamente autorizado pelo consumidor, detalhado e com 
validade mínima de 30 dias. 
É possível cobrar para fazer orçamento? Quando, para a realização do orçamento, não precisa 
empreender nenhum esforço técnico ou econômico, não é possível cobrar pelo orçamento. Já nas 
situações em que se tem um gasto, é possível cobrar por esse orçamento, desde que informe 
previamente essa cobrança ao consumidor. 
VII - Repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo 
consumidor no exercício de seus direitos; 
Art. 42, CDC. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não 
será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de 
constrangimento ou ameaça. 
Repasse de informações depreciativas do consumidor para terceiros – Quando ele estiver no uso e 
nos limites dos seus direitos. 
VIII - Colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço 
em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais 
competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação 
Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo 
Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade 
Industrial (Conmetro); 
IX - Recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a 
quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, 
ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais; 
 17 
Recusar a venda para quem tenha possibilidade de pagamento – Mais utilizado para elitizar o 
consumo. 
Pratica-se, nesse sentido, a “discriminação de consumidores”, o que é terminalmente proibido pelo 
caráter público da oferta posta no mercado de consumo, bem como ofensa a princípios da boa-fé 
objetiva e dignidade da pessoa humana. 
Pronto pagamento pode ser cheque, dinheiro e cartões (débito ou crédito), nada impedindo o 
fornecedor de não aceitar uma destas modalidades (menos dinheiro) desde que avisado com 
antecedência e de forma clara ao consumidor. 
X - Elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços. 
Ex.: Aumento do valor de máscaras e álcool em gel no período da pandemia. 
XII - Deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação 
ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério. 
XIII - Aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou 
contratualmente estabelecido. 
XIV - Permitir o ingresso em estabelecimentos comerciais ou de 
serviços de um número maior de consumidores que o fixado pela 
autoridade administrativa como máximo. 
A concessão irresponsável de crédito, sem analisar o perfil do consumidor, é uma das causas do 
superendividamento no Brasil. O Projeto de Lei 3.515 busca proibir essa prática comercial. 
CONTRATOS DE CONSUMO 
No polo do contratante encontra-se o consumidor, no polo do contratado o fornecedor (qualidade 
das partes) e o objeto do contrato se encaixa nos conceitos de produto e serviço (finalidade do 
objeto). 
Se o objeto é um insumo, não será contrato de consumo, mas sim civil ou empresarial. Se, entre 
esses dois contratantes, exigir exagerada vulnerabilidade, pode-se, pelo Finalismo Mitigado, traspor 
a relação para uma relação de consumo, considerando o contrato como de consumo, ainda que o 
objeto seja um insumo. 
CONTRATOS DE ADESÃO NO CDC: Contratos no qual uma das partes – fornecedor -, redige um bloco 
de cláusulas sem nenhuma participação do consumidor, e oferece esse bloco para que o consumidor 
adira ao contrato. Ao consumidor não cabe negociar, somente contratar ou não contratar. Para o 
 18 
modelo capitalista de produção de massa, esse é o modelo mais adequado. Todavia, é necessário 
ficar atento às cláusulas abusivas. 
Art. 54, CDC. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido 
aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas 
unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o 
consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu 
conteúdo. 
Se essas regras não forem respeitadas, aplica-se as sanções trazidas pelo próprio artigo. 
Art. 46, CDC. Os contratos que regulam as relações de consumo não 
obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de 
tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos 
instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de 
seu sentido e alcance. 
Em todo contrato de consumo há duas obrigações básicas: (1) redigir de forma básica, de modo que 
o consumidor compreenda seu conteúdo, e (2) fornecer uma análise prévia para ao consumidor 
decidir se vai contratar. 
Art. 47, CDC. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira 
mais favorável ao consumidor. 
Personificação do princípio in dubio pro consumidor. Não vai distorcer as cláusulas contratuais para 
favorecer o consumidor, mas protegê-lo. 
Princípio da conservação dos contratos – O contrato vale pelo que está escrito, exceto se estiver 
configurado algum tipo de abuso. Se existe um abuso no contrato, uma tentativa do fornecedor em 
tirar vantagem do consumidor, o julgador pode retirar o abuso e manter o vínculo entre os 
contraentes. Não é a conservação absoluta trazida pelo pacta sunt servanda, mas sua mitigação. 
Art. 48, CDC. As declarações de vontade constantes de escritos 
particulares, recibos e pré-contratos relativos às relações de consumo 
vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execução específica, nos 
termos do art. 84 e parágrafos. 
Art. 49, CDC. O consumidor pode desistir do contrato, no prazode 7 
dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto 
ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e 
serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por 
telefone ou a domicílio. 
 19 
Para compras feitas fora do estabelecimento comercial (à distância, sem ter contato físico com o 
bem). Serve para evitar a surpresa do consumidor acerca do bem. Compras feitas no 
estabelecimento, mas por catálogo, também é considerado compra à distância. 
A jurisprudência tem adotado os sete dias corridos. Se a pessoa assinou o contrato e recebeu no 
mesmo dia, os sete dias começa a contar desse mesmo dia. Mas se a pessoa assinou o contrato em 
um dia, mas só recebeu o produto depois, começa a contar a partir do recebimento. 
O CDC obriga, nas compras feitas pela internet, que no site tenha o CNPJ e um endereço do 
fornecedor. 
O consumidor deve estar sempre pautado na boa-fé objetiva. O direito de arrependimento é um 
direito imotivado. 
CLÁUSULAS ABUSIVAS 
Tentativa de tirar vantagem do consumidor dentro de um contrato. As cláusulas trazidas no artigo 
51 são meramente exemplificativas, não esgotam as possibilidades. 
Cláusula abusiva é qualquer cláusula que vá de encontro a um dos princípios ou dos direitos básicos 
do consumidor. É possível se verificar nessas cláusulas o abuso de poder do fornecedor sobre o 
consumidor. 
Entra-se com uma ação de revisão contratual (art. 6º, V, CDC), arguindo a abusividade da cláusula, 
pedindo a revisão contratual pedindo que se retire essa cláusula abusiva. 
Art. 51, CDC. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas 
contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: 
I - Impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do 
fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou 
impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de 
consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a 
indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis. 
Retirem ou diminuam responsabilidade do fornecedor. Nenhum acordo particular pode ir contra a 
lei, ainda mais se uma das partes é vulnerável. Ex.: Aviso em estacionamento pago afirmando que 
não se responsabiliza por danos ao veículo. 
II - Subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, 
nos casos previstos neste código. 
 20 
III - Transfiram responsabilidades a terceiros. 
Ex.: Compra um eletrodoméstico, que não foi fabricado pela loja revendedora, mas esta vende uma 
garantia estendida (tem uma seguradora por trás). Mas quando aparece algum problema, a empresa 
revendedora transfere a responsabilidade para essa seguradora. 
IV - Estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que 
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam 
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade. 
Ex.: Contrato que estabelece que a devolução do produto comprado em Salvador, pelo direito de 
arrependimento, seja devolvida em Aracaju. 
VI - Estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do 
consumidor. 
VII - Determinem a utilização compulsória de arbitragem. 
É possível a solução de eventuais conflitos pela Arbitragem, desde que seja convencionado por 
ambas as partes, não por imposição do fornecedor. 
VIII - Imponham representante para concluir ou realizar outro negócio 
jurídico pelo consumidor. 
IX - Deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, 
embora obrigando o consumidor. 
X - Permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do 
preço de maneira unilateral. 
XI - Autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, 
sem que igual direito seja conferido ao consumidor. 
XII - Obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua 
obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor. 
Não é permitido repassar ao consumidor os custos decorrentes do próprio negócio. 
XIII - Autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo 
ou a qualidade do contrato, após sua celebração. 
XIV - Infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais. 
XV - Estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor. 
 
 21 
TEMAS ESPECIAIS DE CONTRATOS DE CONSUMO 
Desvio produtivo do consumidor: Nos contratos de consumo, quando o consumidor gasta seu 
tempo para tentar resolver um problema que não foi causado por ele próprio, é possível pedir 
indenização. 
Lei 9.656/98 – Planos de saúde. A ANS obriga a todas as empresas de plano de saúde a cobrir todos 
os exames de Covid com base em sorologia (não aqueles testes rápidos). 
Transporte Aéreo – Pela Resolução da ANAC, é possível remarcar as viagens sem custo. Mas se 
preferir o reembolso, deverá esperar 12 meses, além de sofrer uma redução do valor. 
SISTEMA NACIONAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR 
Responsável pela fiscalização do cumprimento das normas, elaboração e aplicação de políticas e 
aplicação de sanções na esfera administrativa. Previsão nos artigos 55 ao 60, e 105 e 106 do Código 
de Defesa do Consumidor. 
Art. 55, CDC. A União, os Estados e o Distrito Federal, em caráter 
concorrente e nas suas respectivas áreas de atuação administrativa, 
baixarão normas relativas à produção, industrialização, distribuição e 
consumo de produtos e serviços. 
Composto por agentes do poder público e sociedade civil. A grande diferença é que todos os órgãos 
do poder público podem atuar de uma forma diferenciada (poder de polícia), enquanto as entidades 
civis não podem, sozinhas, aplicar medidas, mas podem fazer denúncias a esses órgãos. 
1. SENACON – Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor. Vinculado ao Ministério da 
Justiça. Recentemente ganhou autonomia de secretaria própria. Órgão federal. 
Responsável por elaborar políticas públicas, ajudar na uniformização dos entendimentos dos órgãos 
que estão a ele vinculados (através de notas técnicas), coordenar os PROCONs e fazer campanhas 
educativas. 
2. PROCON ESTADUAL – O Procon da Bahia é uma superintendência da Secretaria de Justiça, 
Cidadania e Direitos Humanos. 
3. PROCON MUNICIPAL – O Procon de Salvador é chamado de CODECON – Coordenadoria 
da Defesa do Consumidor. Na Bahia, há poucos Procons: em Salvador, Feira de Santana, 
Laura de Freitas e Jequié. 
 22 
Quando a infração for ao CDC, qualquer um desses órgãos pode atuar. Porém, há algumas normas 
de defesa do consumidor que estão restritas às esferas estaduais. 
4. AGÊNCIAS REGULADORAS – Órgão que funciona como regulador das tensões entre os 
fornecedores que compõe o poder público ou estão desempenhando funções do poder 
público, e consumidores. 
Elabora políticas públicas, fiscaliza os órgãos, tem poder de polícia e podem aplicar determinadas 
sanções. 
5. ENTIDADES CIVIS DE DEFESA DO CONSUMIDOR – Faz parte do SNDC, mas não do poder 
público. Atuam no auxílio, podem propor soluções, fazer denúncias e alguns trabalhos como 
propor ação civil pública na esfera coletiva. 
PROCESSO ADMINISTRATIVO 
O processo administrativo pode ser iniciado através da denúncia pelo consumidor ou por meio de 
um auto de infração (de ofício, vai ao lugar, constata a irregularidade e lavra o auto de infração). 
O prazo de defesa do fornecedor é de 10 dias. Não há sentença, mas sim uma decisão do órgão. 
Dessa decisão administrativa cabe recurso administrativo no prazo de 10 dias, que vai para a 
autoridade imediatamente superior. Posteriormente, aplica-se a sanção. 
SANÇÕES 
Art. 56, CDC. As infrações das normas de defesa do consumidor ficam 
sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, sem 
prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas 
específicas: 
I. MULTA ADMINISTRATIVA – Dosimetria da multa. Deve considerar o dano que foi 
causado, o poder econômico do fornecedor, se houve reincidência, que tipo de bem 
jurídico foi lesado, etc. 
Não é a mesma coisa que astreintes. A multa administrativa é transferida para fundos de defesa do 
consumidor,que são revestidos para a sociedade. Pode ser cumulada com as demais sanções. 
II. APREENSÃO DO PRODUTO 
III. INUTILIZAÇÃO DO PRODUTO 
 23 
IV. CASSAÇÃO DE REGISTRO – O fornecedor, para atuar em determinados campos, precisa 
da autorização do poder público. 
V. PROIBIÇÃO/SUSPENSÃO DE FABRICAÇÃO/FORNECIMENTO – Na proibição não se volta 
atrás, enquanto na suspensão há essa possibilidade. 
VI. SUSPENSÃO TEMPORÁRIA DE ATIVIDADE 
VII. REVOGAÇÃO DE CONCESSÃO 
VIII. CASSAÇÃO DE LICENÇA 
IX. INTERDIÇÃO – Por questões de higiene, armazenamento, etc. 
X. CONTRAPROPAGANDA – Vai ferir a imagem. Obriga o fornecedor a desmentir a 
informação veiculada a uma publicidade enganosa ou abusiva.

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