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Módulo 2 Deficiência Intelectual Curso de Especialização UNOPAR – Pós-graduação UNOPAR - Pós-graduação – Deficiência Intelectual - Módulo 2 .............................................................................. Página 2 de 18 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Abordagem Histórico/Cultural Suas Contribuições, No Plano De Trabalho Docente Do Sujeito Com Deficiência Intelectual Continuando nossa aula sobre Deficiência Intelectual devemos estabelecer como professores qual o conceito sobre a deficiência, quais as informações e questionamentos que queremos sobre o aluno e qual a nossa ajuda que permitirá a criança se desenvolver e conhecer mais sobre a realidade física e social. Vygotsky em todo o seu trabalho nos esclarece o comportamento, o processo de aprendizagem e o potencial do sujeito com Deficiência Intelectual. Com o propósito de destacar as abordagens teóricas desenvolvidas no contexto da Educação Especial por meio do desenvolvimento do sujeito e da aprendizagem, elegemos como referencial teórico a abordagem histórico-cultural, que se apoia nas reflexões de Lev Semionovich Vygotsky (1896 - 1934). Enfatizamos a importância desta perspectiva, na medida em que possibilitamos uma nova forma de ver o comportamento do homem, as deficiências, as relações entre homem e natureza; inaugurando muitos conceitos, entre eles: mediação, deficiência primária e secundária e principalmente nosso olhar sobre o fenômeno e características da deficiência, que mesmo em condições patológicas com limitação, existe potencial para melhoria do desenvolvimento, com isso melhorando a aprendizagem para o sujeito. UNOPAR - Pós-graduação – Deficiência Intelectual - Módulo 2 .............................................................................. Página 3 de 18 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Vygotsky vê possibilidades, potencial, caminhos alternativos infindáveis no desenvolvimento da aprendizagem de pessoas com deficiência ao apontarmos a necessidade de valorização das potencialidades, dos processos compensatórios desencadeados pela deficiência; enfatizando a capacidade em detrimento ao déficit. As interações sociais e de aprendizagem beneficiam não somente as pessoas que apresentam algum tipo de deficiência, mas a todos, uma vez que inaugura um novo olhar sobre as deficiências, pois a Abordagem Histórico-cultural, contribui para as transformações de concepções cristalizadas e reducionistas, que ainda hoje fazem parte do contexto educacional de muitas escolas. A argumentação do autor por meio das leis do desenvolvimento, indicando que a partir de seus estudos, as leis do desenvolvimento são iguais para todas as crianças; ressaltando, no entanto, que a criança com deficiência em seu desenvolvimento requer caminhos alternativos e recursos especiais. As ideias de Vygotsky1 fizeram expoentes na história educacional e continuam mostrando e influenciando os diferentes olhares e práticas educativas permitindo visualizar novas intervenções no contexto escolar e principalmente em instituições especiais que carecem de novas referências. A partir da década de 90 a inclusão traz em seu bojo oportunidades adequadas de aprendizagem para aqueles que durante o processo histórico da humanidade foram excluídos. O conhecimento de sua vida e seu contexto biográfico foi resgatado por Leme apud Leme (2008), Lev Semynovitch Vygotsky teve uma vida muito breve, mas sua produção intelectual foi extremamente intensa e relevante. Escreveu 180 trabalhos, dos quais 135 foram publicados. Nasceu em 5 de novembro de1896 em Orsha, uma pequena cidade perto de Mink capital da Bielo Rússia, na ex-União Soviética. Mudou-se para Gomel, onde passou sua infância e juventude e iniciou seus trabalhos intelectuais. Com a colaboração dos pais, aprendeu várias línguas, inclusive o alemão. Era judeu e desde muito cedo, reunia-se para estudar e discutir sobre a história dos judeus e problemas de filosofia. Em 1911 é matriculado pela 1ª vez em uma instituição escolar. Em 1913, inicia seus estudos de Direito na Universidade de Moscou. Em 1916, escreve A trajetória de Hamlet, príncipe da Dinamarca, trabalho de conclusão do curso universitário. Forma-se em Direito em 1917 e posteriormente conclui o curso de Medicina. Lecionou literatura e psicologia em uma Escola de Gomel entre 1917 e 1923. UNOPAR - Pós-graduação – Deficiência Intelectual - Módulo 2 .............................................................................. Página 4 de 18 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Entre 1919 e 1920 contraiu tuberculose e viveu com essa doença durante 14 anos. Em 1925 escreveu o livro "Psicologia da Arte" (publicado na Rússia em 1965) e começou a organizar o laboratório de Psicologia para crianças deficientes. Neste mesmo ano após ter apresentado um trabalho sobre a consciência em um Congresso Científico em Leningrado (atual São Petersburgo) Vygotsky é convidado a trabalhar no Instituto de Psicologia de Moscou. Neste Congresso, suas ideias despertam bastante interesse por parte de Kornilov, diretor do Instituto de Psicologia, que o convida a compor o quadro de pesquisadores, juntamente com Luria, Leontiev e outros estudiosos. Neste Congresso, inicia-se a breve trajetória de um dos grandes personagens da história da psicologia mundial. Em 11 de junho de 1934, morreu de tuberculose aos 37 anos de idade, ano em que, na Rússia, foi publicado seu livro intitulado Pensamento e Linguagem. O livro foi publicado nos Estados Unidos somente em 1962. Esta demora se deve ao fato de que existia uma situação de isolamento na ex-União Soviética em relação aos centros científicos europeus e norte-americanos, em consequência de barreiras políticas, culturais e linguísticas. Entre 1936 e 1956 suas obras foram suspensas pela censura violenta do regime stalinista. Em 1953, Stalin morreu e Kruchev subiu ao poder. Entre 1982-1984 foram publicadas as obras completas (composta de seis volumes) de Vygotsky na URSS. No ano de 1984, foi publicada no Brasil a obra intitulada A Formação Social da Mente; em 1987 o livro Pensamento e linguagem e em 1988, o artigo Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar, na coletânea intitulada Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. Toda a produção escrita de Vygotsky, suas hipóteses, abordagens foi muito grande para uma vida tão curta e suas ideias não se limitaram a uma elaboração individual, sendo multiplicada em obras de seus colaboradores entre os mais conhecidos no Brasil: Lúria e Leontiev. Na introdução do livro de Vygotsky (2007), A formação social da mente3 organizada por Michael Cole e Sylvia Scribiner4, tem sido possível observar a preocupação do autor com o desenvolvimento do indivíduo e sua proposição de percebê-lo como resultado de um processo histórico-social, além de demonstrar o interesse em compreender os diferentes aspectos da conduta humana a partir de informações de campos distintos. OLIVEIRA, Marta Kohl de (p. 72, 2006) afirma que: UNOPAR - Pós-graduação – Deficiência Intelectual - Módulo 2 .............................................................................. Página 5 de 18 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. “As ideias básicas de Vygotsky geraram um programa de pesquisas desenvolvidas por ele próprio e por seus colaboradores, que se ramificaram em vários temas inter- relacionados”. A obra de Vygotsky, seus textos cheios de ideias, marcadas por reflexões filosóficas marxistas, a luta por uma ciência que atenda a necessidade específica do homem, suas relações, seus temas revolucionários, Vygotsky via no materialismo histórico e dialético de Marx e Engels uma atmosfera de conhecimento inquietação e estímulo para respostas de uma sociedade que exigia um processo de transformação. Daí parte a noção de que a atividade mental se constitui nas relaçõessociais, fonte de suas maiores pesquisas, nas quais implicam em aprendizagem social. Para Vygotsky o desenvolvimento é entendido como um processo de internalização de diferentes modos culturais de pensar e agir. Para ele o homem é produto de seu tempo, de seu ambiente, de sua história social e das relações interpessoais. Leme apud Garcia, Rosalba Maria Cardoso (2008), em sua discussão a respeito de desenvolvimento humano, modos culturais de pensar e agir de sujeitos com deficiência afirma: Entendendo que o desenvolvimento humano tem por base as relações sociais, interações dos sujeitos históricos, este autor ressalta que o desenvolvimento está interligado as aprendizagens desde os primeiros dias de vida da criança, que impulsionam e promovem o desenvolvimento. O autor em suas ideias e teorias buscou no materialismo dialético de Marx, nas situações vividas por ele no contexto da Revolução Russa, no cenário de guerra e abandono de jovens e crianças, diante todos esses fatos, Vigotsky buscou formular um modelo amplo de compreensão dos processos de desenvolvimento humano. Devido a estas expectativas, seu ideal revolucionário, buscava soluções para uma sociedade emergente. Leme apud Duarte (1981, p. 24), nos lembra: É um equívoco pretender depurar a psicologia de Vigotsky de sua base marxista. Ao invés de buscar autores que interpretam Vigotsky procurando distanciá-lo de Marx, devemos procurar compreender o que da obra deste fundamenta a obra daquele. Nesta direção, vale ressaltar algumas ideias que influenciaram Vygotsky: o modo de produção da vida material condiciona à vida social, política e espiritual do homem. O homem é compreendido como um ser histórico que se constitui através de suas relações com o mundo natural e social. O processo de trabalho é visto UNOPAR - Pós-graduação – Deficiência Intelectual - Módulo 2 .............................................................................. Página 6 de 18 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. (transformação da natureza) como sendo o processo privilegiado nessas relações homem/mundo. A sociedade humana é vista em sua constante transformação, num sistema dinâmico e contraditório. Em Fundamentos de Defectologia em que abrange em seu tomo V que envolve alguns ensaios de teorias, palestras na tentativa de compreender as necessidades e possibilidades do sujeito com deficiência e como se processa a sua aprendizagem, relata de forma clara hipóteses do atendimento ao sujeito com deficiência. Nesta perspectiva, a aprendizagem da criança é desenvolvida anterior à aprendizagem escolar (VYGOTSKY, 1989, p. 107), pois o encontro da criança com o mundo, desde seu nascimento, já implica em aprendizagem. No universo da aprendizagem o autor defende a importância de outras pessoas no processo de aprendizagem, conforme vídeo citado logo abaixo (6º comentário). Tais mediações são consideradas relevantes para o desenvolvimento da prática pedagógica do professor, sejam estes professores em sistemas comuns ou especiais, percebemos que ao assumirmos a concepção histórico-cultural, deve-se privilegiar caminhos alternativos, acessibilidade curricular para desenvolver o potencial dos sujeitos, enfatizando as interações sociais, reconhecendo que a heterogeneidade nas interações de trabalho: professor/aluno, aluno/aluno, são fundamentais para o processo de aprendizagem, pois criam e ampliam a capacidade cognitiva do sujeito através das trocas; enriquecendo o desenvolvimento. Considerando que Vygotsky considerava crianças com diferentes deficiências rejeitava suas caracterizações descritivas e quantitativas das mesmas, assumindo o enfoque qualitativo, que são pistas para mediar a aprendizagem. Para Vygotsky (1997, p. 11) isso significa: UNOPAR - Pós-graduação – Deficiência Intelectual - Módulo 2 .............................................................................. Página 7 de 18 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Dentre outros aspectos, que o objeto focalizado não era compreendido numericamente, senão o “o outro modo” de desenvolver-se, a “peculiaridade qualitativa” desse desenvolvimento que se traduz pela especificidade da estrutura orgânica e psicológica do indivíduo, e pela especificidade do tipo de desenvolvimento e de personalidade que nesse caso se desenvolve, de maneira qualitativamente distinta. Diante da condição da deficiência é precisar criar possibilidades e caminhos alternativos para o desenvolvimento da aprendizagem que podem ser ampliadas quando buscamos compreender a criança, não ignorando o seu déficit orgânico, mas abrindo possibilidades ilimitadas e recursos especiais para atender suas necessidades de acordo com o seu ritmo e potencial. Seus estudos respaldam em pelo menos duas questões, para as quais Góes e Laplane (2004), chamam a atenção: O desenvolvimento global é igual para todos, até mesmo para o sujeito com deficiência, destacando que o desenvolvimento do deficiente se dá através das interações sociais e também por meio das intervenções pedagógicas. Os autores descrevem atividades pedagógicas no contexto da matemática para o atendimento do sujeito com Deficiência Intelectual, diante de uma abordagem sócio interacionista e/ou histórico social <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2509-8.pdf>. Somos sujeitos graças as intervenções, mediações e interações resultantes do ensino. Podemos evidenciar as indagações do autor acerca do papel desempenhado pelo defeito/insuficiência no desenvolvimento e na formação da personalidade do indivíduo deficiente. Esse papel era duplo: por um lado, o defeito é o menos, a limitação; por outro, precisamente porque cria dificuldade, estimula um desenvolvimento peculiar e distinto do normal que se traduz por um avanço intensificado de alguns dos aspectos do desenvolvimento. Leme apud Góes e Laplane (2004), “comentam que o defeito origina estímulos para formar a compensação, por exemplo: a criança com deficiência visual compensa através da habilidade tátil.” Sublime em sua mente a importância desse princípio Vigotskiano em todo o desenvolvimento do seu trabalho pedagógico. Em linhas gerais, o autor concebia a dinâmica da compensação como uma luta travada, configurando-se em uma peculiar capacidade de reorganização do sistema dado. Trata-se de afirmar a “peculiaridade qualitativa” em termos de plasticidade do desenvolvimento: surgimento de novos processos e operações, como forma de reação ao defeito que impulsiona e distingue todo esse desenvolvimento. Considerando essa luta, Vygotsky explicita: como qualquer processo de superação e luta [...] também a compensação pode ter dois desenlaces extremos: a UNOPAR - Pós-graduação – Deficiência Intelectual - Módulo 2 .............................................................................. Página 8 de 18 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. vitória e a derrota, entre os quais se situam todos os graus possíveis de transição de um polo a outro. (VYGOTSKY, 1997, p.16). Desta forma o funcionamento humano vinculado a alguma deficiência depende das condições concretas oferecidas pelo grupo social que podem ser adequadas ou empobrecidas. E aqui reside a importância do papel do professor, na medida em que não é o déficit em si que traça o destino da criança; este é construído pelo modo como a deficiência é concebida, pelas formas de cuidado e educação que lhe são proporcionadas. Este parágrafo vem reforçar a ideia do autor e a importância do pedagógico sobre o patológico, pois, somente pela mediação, do trabalho pedagógico empurramos a barra do déficit (termo usado por Vygotsky). Devemos acreditar no que diz respeito a compreensão do desenvolvimento das funções cognitivas, sendo mediado socialmente pelos signos culturais (sendo este o papel do professor), na medida em que o homem não tem acesso direto aos objetos, mas as suas representações.Assim, se considerarmos que qualquer coisa que pensamos não é ela própria, mas a sua representação, podemos dizer que os signos culturais enquanto sistemas de representação funcionam como filtro, que confere significados sociais a todos os objetos com os quais nos relacionamos. Muitas vezes devemos ousar, como desejo de transformar o mundo e incluir todo o aluno por meio do nosso trabalho pedagógico. Em todo nosso trabalho podemos perceber a importância do trabalho pedagógico no desenvolvimento da aprendizagem do ser humano. Parafraseando Padilha (2007): “[...] deixar crianças sem atendimento de sua necessidade específica é impedir de forma violenta seu direito de cidadania” UNOPAR - Pós-graduação – Deficiência Intelectual - Módulo 2 .............................................................................. Página 9 de 18 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Podemos considerar que as práticas de aprendizagens envolvem um processo complexo com inúmeros fatores como: o aluno e suas características, o professor e sua mediação, o plano de trabalho docente, os aspectos familiares, a abordagem teórica escolhida pelo Projeto Político Pedagógico, a organização curricular em todas as áreas do conhecimento, as acessibilidades curriculares, a avaliação no contexto; tais proporções fazem parte da ação educativa onde os atores principais deste processo de ensinar e aprender são o aluno e o professor. A organização do trabalho pedagógico e o papel do professor é mediar o processo de aprendizagem e desenvolvimento do aluno, onde este aprende por pertencer e compartilhar um ambiente cultural. Considerando essas ideias, Ferreira (2006, p. 144) afirma que a escola deve exercer seu papel social na formação do indivíduo, oferecendo um espaço privilegiado que atenda a diversidade dos alunos. Segundo Padilha em sua concepção Vygotskiana propõe aos educadores uma compreensão e reflexão de como atender o sujeito com deficiência dentro de suas capacidades e do desenvolvimento de suas possibilidades. O contexto escolar, destacado em todo o texto, em suas possibilidades deve proporcionar e mediar um trabalho que atenda o sujeito em seu ritmo de acordo com seu potencial, ampliando sua relação com o mundo e desenvolvendo sua memória, raciocínio, organização do pensamento, criatividade e outros saberes necessários a aprendizagem do sujeito com deficiência. Podemos concluir parafraseando algumas frases Vygotskianas que nos farão refletir sobre o objetivo fundamental da escola que é a instituição encarregada de possibilitar os conhecimentos acumulados e organizados pela humanidade no decorrer dos séculos: “Todo bom ensino é aquele que adianta o desenvolvimento da criança”. “Devemos impulsionar o aprendizado da criança através de caminhos alternativos”. “No brinquedo e nas atividades lúdicas a criança aprende de uma forma mais avançada as atividades da vida real”. Diante das contribuições de Vygotsky e das práticas pedagógicas desenvolvidas em todo processo contextual abordado podemos através de suporte Vygotskianos afirmar que a escola e o papel do professor através da promoção do bom ensino de uma prática pedagógica coerente diante do aluno estarão contribuindo para o processo inclusivo e democratizando o acesso a escolaridade de todas os sujeitos com o ou sem deficiência. Este desenho defende uma visão Vygotskiana, pois, é por meio de outros, por intermédio do adulto que a criança se envolve em suas atividades. As interações sociais são o ponto de partida para a aprendizagem. UNOPAR - Pós-graduação – Deficiência Intelectual - Módulo 2 .............................................................................. Página 10 de 18 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Aprendizagem e Organização dos Centros de Atendimento Educacional Especializado na perspectiva Vygotskiana Histórico/Cultural A Política Nacional de Educação Inclusiva desde a década de 1990 tem procurado impulsionar o discurso de inclusão que preconiza acesso aos direitos constitucionais, pressupondo que cada indivíduo tem características individuais que podem determinar seu sucesso de acordo com seu potencial (abordagem histórico – cultural). O Brasil foi signatário de documentos internacionais para a elaboração de sua política nacional de educação inclusiva. Leia e reflita sobre a declaração de Salamanca: < http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf >. Estaremos neste texto buscando subsídios na nota técnica – SEESP/GAB/Nº9/2010, dando enfoque aos estudos de Vigotski sobre a Deficiência Intelectual. Para maiores informações sobre a nota técnica Nº9/20105. A Educação Inclusiva, fundamentada em princípios filosóficos, políticos e legais dos direitos humanos, compreende a mudança de concepção pedagógica, de formação docente e de gestão educacional para a efetivação do direito de todos a educação, transformando as estruturas educacionais que reforçam a oposição entre o ensino comum e especial e a organização de espaços segregados para alunos público-alvo da Educação Especial (Nota técnica Nº9/2010) A definição de deficiência mental tem sido conceituada hoje por limitações em seu funcionamento cognitivo, nas adaptações de seu comportamento que são demonstradas nas áreas, práticas, conceituais e nas interações sociais. A acordo com a abordagem histórico – cultural a deficiência é entendida como dificuldade de compreensão nas áreas orgânicas, sociais e psicológicas, mas essas deficiências não poderão assumir por si só o destino dessa criança e sua nomeação: deficiência. De acordo com Góes (2002), a deficiência por si só não vai determinar o destino dessa criança; mas sim o trabalho educacional a ser desenvolvido por ela. Leme (2008) compreende que a deficiência, jamais pode ser estatuto de impedimento para o desenvolvimento da criança, mas precisamos proporcionar a criança alternativas pedagógicas que viabilizem a sua aprendizagem. Diante da condição e dos rótulos que a criança com Deficiência Intelectual recebe, partindo dessas informações negativas de menor valia, podemos afirmar que esta não superará com sucesso o ato de aprender. Neste enfoque a criança com deficiência é avaliada pelas dificuldades como alguém limitado, incapaz de realizar sozinha uma atividade cognitiva ou prática. http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf UNOPAR - Pós-graduação – Deficiência Intelectual - Módulo 2 .............................................................................. Página 11 de 18 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Vygotsky e Lúria apresentam a deficiência em suas possibilidades, habilidades que são manifestadas como forma de compensar suas dificuldades, que são processadas e desenvolvidas por meio de estratégias educacionais que favoreçam a construção de estruturas cognitivas capazes de melhorar seu desenvolvimento. “O comportamento cultural compensatório, sobrepõe-se ao comportamento natural defeituoso” (VYGOTSKY; LURIA, 1996, p. 221) A abordagem histórico-cultural e ou Vygotskiana fornece subsídios pedagógicos que enfatizam o papel fundamental da aprendizagem e das interações, sociais para o desenvolvimento humano. “O aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que a cercam” (VYGOTSKY; 1991, p. 99). Partindo dessa afirmativa reconhecemos a importância da mediação e do seu papel na prática educativa do professor para a aprendizagem e desenvolvimento do aluno. De acordo com Leontiev (1978), podemos dizer que o trabalho docente constitui em um conjunto de ações que são mediados através de um trabalho pedagógico motivador. Nosso trabalho pedagógico no Atendimento Educacional Especializado necessita com urgência de revisão de nossos conceitos sobre: deficiência, atendimento educacional, práticas educativas, encaminhamentosmetodológicos, quais nossos objetivos, para que essas transformações ocorram no interior das escolas, o professor precisa: “Uma Mudança de Olhar” Mudança essa que deverá ocorrer se permitimos conhecer o potencial do aluno com deficiência, quais suas habilidades, como são suas interações sociais, qual o seu conhecimento atual e como trabalhar pedagogicamente para melhoria de sua aprendizagem e desenvolvimento. UNOPAR - Pós-graduação – Deficiência Intelectual - Módulo 2 .............................................................................. Página 12 de 18 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. A nota técnica Nº9/2010, orienta-nos dos centros de AEE (Atendimento Educacional Especializado) que tem como uma de suas funções: organização e disponibilização de recursos e serviços pedagógicos e de acessibilidade para atendimento às necessidades educacionais específicas destes alunos. Apoiado neste objetivo e função, podemos afirmar que devemos assegurar aos alunos as condições de acesso, permanência, sucesso e atendimento educacional que busque compreender a necessidade do aluno para desempenhar uma tarefa. Vygotsky (1991) nos alerta que todo trabalho pedagógico deve buscar compreender o que a criança realiza no momento, sozinha, sem a ajuda do outro, qual o caminho que foi percorrido por ela, quais as características que ela possui para desempenhar aquela atividade. Vygotsky denomina essa capacidade de realizar uma atividade de forma independente de nível de desenvolvimento real; refere-se a etapa já alcançada. Neste momento o papel do professor e de outros mediadores se destacam, pois, estes trabalharão na zona de desenvolvimento proximal, isto é, fornecendo pistas, instruções, demonstrações, atividades, modelos; para que o aluno possa ser beneficiado e ocorra o desenvolvimento de sua aprendizagem. A interferência de outras pessoas afeta significativamente o resultado do desempenho individual, do seu nível de desenvolvimento potencial. Na concepção Vygotskiana (1991), o papel da intervenção pedagógica no atendimento do Deficiente Intelectual, é de fundamental importância, pois, esta trabalha na zona de desenvolvimento proximal, local fundamental, onde o professor prepara o seu plano de trabalho, estabelece forte ligação entre o processo de desenvolvimento e a relação indivíduo com seu ambiente sócio – cultural e com sua situação do organismo que não se desenvolve plenamente sem a ajuda de outros indivíduos. Ignorar esse processo é excluir o aluno. As atribuições do professor do Atendimento Educacional Especializado conforme a nota técnica Nº9/2010, afirma que: é de competência deste professor, elaborar, executar e avaliar o Plano de AEE do aluno, contemplando a identificação das habilidades e necessidades educacionais específicas dos alunos; a definição e a organização das estratégias, serviços e recursos pedagógicos e de acessibilidade; o tipo de atendimento conforme necessidades educacionais e a carga horária, individual ou em pequenos grupos. Jannuzzi apud Padilha (2007), tem se preocupado com questões da Educação Especial, lutando principalmente pelo direito à educação dos deficientes apontam em suas discussões: UNOPAR - Pós-graduação – Deficiência Intelectual - Módulo 2 .............................................................................. Página 13 de 18 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. “[...] a falta de outros critérios que possibilitem uma definição mais precisa da população considerada especial” (p.190). Somos seres multideterminados, dependendo das condições concretas de vida social para nos desenvolvermos e a educação é uma dessas condições. É muito importante... É preciso descobrir a “promessa que reside em cada criança (jovem ou adulto). Promessa de potencialidade para as quais até o momento não se encontrou instrumento adequado de avaliação [...]” (idem, p.219). A proposta histórico – cultural vem de encontro a organização de um trabalho pedagógico a ser oferecido no contexto dos centros de AEE e na execução de seus planos, pois, esta abordagem aponta para a possibilidade de invertemos nosso olhar, muitas vezes reducionistas, baseado na deficiência e seus aspectos negativos, mas sim olharmos para as possibilidades, tendo consciência do biológico do aluno, mas percebendo e permitindo uma atenuação das consequências da deficiência, apresentando ao aluno maiores chances através da prática educativa. Padilha vê possibilidades no deficiente, quando busca superar as dificuldades deste, reconhecendo que as transformações aconteçam nas relações concretas do universo social e no atendimento pedagógico. Para melhor desempenho do nível de desenvolvimento real do aluno (aquilo que ele realiza sozinho) devemos investir na qualidade das relações interpessoais e pedagógicas, produzindo materiais didáticos e pedagógicos que venham de encontro as necessidades específicas de cada aluno, partindo dos objetivos e atividades propostas no currículo. A autora ancorada na concepção Vygotskiana ao descrever, Bianca, uma jovem de 17 anos, que nasceu com agenesia do corpo caloso, com acentuada deficiência intelectual, onde está vislumbrou novas possibilidades para superar as dificuldades desta menina. Constatou que, as possibilidades infindáveis de Bianca estavam apagadas, mas havia marcas; estavam escondidas, mas com indícios de presença; se encontravam limitadas, porque esta é uma condição inerente de todos os seres humanos, inclusive dos deficientes mentais. Seu trabalho pedagógico foi desenvolvido através do gesto (modo de se fazer entender e companheiro da palavra), da narrativa (organização no tempo e no espaço), a dramatização (onde colocamos no lugar do outro), o desenho (significado para o aluno e professor), participação em jogos (vivência do lúdico, lidar com regras, ver o significado dos objetos), uso dos objetos culturais (olhar para as ações humanas e interagir). Em todo momento Padilha (2007), em seu trabalho pedagógico com Bianca, sempre apontou possibilidades para uma melhor compreensão dos aspectos de seu desenvolvimento, pois do ponto de vista neurológico a Deficiência Intelectual, seu biológico, seria limitações, que foram superadas e demonstradas durante três anos UNOPAR - Pós-graduação – Deficiência Intelectual - Módulo 2 .............................................................................. Página 14 de 18 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. de encontros semanais, que revelaram sua compreensão e melhor desempenho cognitivo. O trabalho desenvolvido com Bianca, o planejamento das ações que favoreceram o seu desenvolvimento, a mediação utilizada que promoveu sua aprendizagem mostrou as possibilidades infindáveis e os recursos especiais envolvidos no processo educacional que contribuiu para que Bianca interagisse e participasse do seu universo. A perspectiva de Atendimento Educacional Especializado, necessita de ações e atitudes concretas e significativas que possam permitir a interação social, a participação de todos na apropriação do conhecimento. Podemos ver nos documentos internacionais desde Jomtien na Tailândia, Educação para Todos; Declaração de Salamanca, Espanha, 1994 e em toda nossa legislação, e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 9394/96. Nas Diretrizes Nacionais para Educação Especial, na Educação Básica CNE/CEB Nº2/de02/20018, nos alertam e propõem que é de responsabilidade dos sistemas de ensino oferecer oportunidades para todos, com acesso ao saber elaborado sendo de competência dos profissionais da educação, a busca de caminhos e alternativas que nos subsidiarão a nossa prática educativa. Vygotsky nos chamou a atenção sobre a importância de conhecermos o deficiente e observarmos o seu desenvolvimento e aprendizagem. Com isso percebemos que em toda mudança existe um processo de transformação e uma mudança de paradigma que provocaem cada um de nós medo, ansiedade, resistência, interesse e entusiasmo. Quer este conteúdo mais condensado! Veja o meu resumo: Curso de Especialização - Deficiência Intelectual - Resumo UNOPAR - Pós-graduação – Deficiência Intelectual - Módulo 2 .............................................................................. Página 15 de 18 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. ALMEIDA, J. L. V.; ARNONI, M. E. B.; OLIVEIRA, E. M. Mediação dialética na educação escolar: teoria e prática. São Paulo: Loyola 2007. GARCIA, Rosalba Maria Cardoso. A educação de sujeitos considerados portadores de deficiência: contribuições Vygoskianas. Ponto de Vista, Revista de Educação e Processos Inclusivos, Julho/Dezembro 1999. JANNUZZI, G. – As políticas e os espaços para a criança excepcional. In: FREITAS, M.C. (Org.). História Social da Infância no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002. OLIVEIRA, M. K. et al. Psicologia, educação e as temáticas da vida contemporânea. Editora Moderna, 2002. AMERICAN ASSOCIATION ON MENTAL RETARDITION - A.A.M.R. Retardo mental: definição, classificação e sistemas de apoio. Porto Alegre: Artmed, 2006. BATISTA, Cristina A. M. MANTOAN, Maria T. E. Educação inclusiva: atendimento educacional especializado para a deficiência mental. 2. ed. Brasília: MEC/SEESP, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/defmental.pdf>. 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