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Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social Mirian Aparecida Micarelli Struett Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social Mirian Aparecida Micarelli Struett Organizadores: Aline Carneiro Silverol, Eber da Cunha Mendes nead - núcleo de educação a distância coordenador de ead: Patrícia Gonçalves Oliveira direção geral: Carlos Fernando Barbosa direção acadêmica: Eber da Cunha Mendes diretor Financeiro: Renato Gonçalves Oliveira coordenação de curso: Patrícia Gonçalves de Oliveira capa e editoração: Renata Sguissardi; Andresa G. Zam; Diego R. Pinaffo; André Morais Ficha catalográFica - Serviço de BiBlioteca e documentação – FaBra Ficha catalográfica realizada pela bibliotecária Este livro é publicado pelo Programa de Publicações Digitais do Centro de Ensino Superior FABRA S9276r STRUETT, Mirian Aparecida Micarelli. Relações étnico-raciais e responsabilidade social / Mirian Aparecida Micarelli Struett; organização de Aline Carneiro Silverol, Eber da Cunha Mendes. – Serra, ES: Centro de Ensino Superior Fabra, 2017. 189 p. : il.. ISBN: 978-85-92808-11-2 1. Responsabilidade social. 2. Brasil - Relações étnicas. 3. Brasil - Relações raciais. I. Título. II. SILVEROL, Aline Carneiro. III. MENDES, Eber da Cunha. CDD: 658.408 R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç Ã O A A P PRE S REN T EAÇ Ã SO EAPR NES E N TTA AÇÃ O Ç A P ÃRE S OEN TA Ç A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social Mirian Aparecida Micarelli Struett Caro(a) acadêmico(a), é com muita satisfação que apresento a você o livro que fará parte da disciplina Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social. A literatura é vasta, porém não conclusiva, quando o assunto é relacionamento multicultural e responsabilidade social. De maneira que selecionei as melhores referências na área para que esta disciplina venha a somar ainda mais conhecimento ao que você notadamente já possui. Sou a professora Mirian, minha formação é em Administração, tanto na graduação quanto no Mestrado, na área de Gestão de Negócios e pós- graduação em Tecnologias da Educação a Distância. Sou funcionária pública, docente na área de Sustentabilidade e Responsabilidade Social e pesquisadora na área de Gestão Organizacional e, por isso acredito poder contribuir para a discussão sobre esse importante tema. O objetivo principal desta importante disciplina é oportunizar a você as principais discussões acerca do tema proposto, apresentando historicamente, alguns elementos importantes sobre as organizações em sociedade, as relações do capital-trabalho, desenvolvimento sustentável e responsabilidade social, e as relações étnico-raciais, apontando quais foram e serão os próximos desafios em seu campo de atuação. Desta forma, o livro foi organizado pensando em você, prezado(a) estudante, e, para tanto, será necessário também muito empenho da sua parte para que a concretização desse trabalho tenha bons frutos. Por R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E ASE N PTA Ç RÃO EAP R SES E ENT A NÇÃ O T A APR E ÇSE N ÃTAÇ Ã OO A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E NTA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç isso, no decorrer de suas leituras procure interagir com os textos, fazer anotações, responder às atividades de autoestudo, anotar suas dúvidas, ver as indicações de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados, pois não foi intento, desta pesquisadora, esgotar todo o assunto neste livro. Para nortear vosso trabalho, na primeira unidade deste livro, você terá uma visão geral sobre as “Organizações em sociedade”, em seguida, na segunda unidade, você se familiarizará com o tema “Responsabilidade social e sustentabilidade” e, por fim, na terceira e última unidade compreenderá como é importante e fundamental o relacionamento multicultural nas organizações e sociedade, a partir do tema “Relações Étnico-raciais”, um dos principais desafios para a sociedade atual. Uma vez norteado vosso caminho, seguem as etapas que você trilhará! Na primeira unidade, você refletirá sobre a evolução do pensamento sobre o trabalho, quais são as formas de poder e dominação nas organizações, como está a relação entre o capital-trabalho desde os primórdios até os dias atuais nas organizações e na sociedade. A seguir, será apresentado a você, como as inovações e perspectivas nas relações do trabalho e organizações, e principalmente como a sociedade tem se comportado no contexto socioambiental. Neste contexto bastante atual, prezado(a) estudante, você compreenderá como as transformações mundiais e contemplando aqui, nesta unidade, as questões socioambientais, levam às reestruturações na sociedade, influenciando a morfologia da organização e das relações de produção e processos de trabalho. Esta unidade é fundamental para que você compreenda o porquê e como as atividades organizacionais impactam na qualidade de vida da sociedade e servirá de base para você compreender como o desenvolvimento econômico levou as organizações a se tornarem R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç A P R E S E N TA Ç Ã O A A P PRE S REN T EAÇ Ã SO EAPR NES E N TTA AÇÃ O Ç A P ÃRE S OEN TA Ç A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç Ã O A P R E S E N TA Ç agentes de transformação na busca pela sustentabilidade socioambiental a partir do uso da ferramenta da responsabilidade social. Na segunda unidade será apresentado como a sociedade – há algumas décadas – discute sobre o desenvolvimento sustentável do planeta, chamando a atenção para a busca de soluções sustentáveis em nossa atuação enquanto indivíduos e organizações. Como você irá perceber há ainda muitas resistências por parte dos gestores organizacionais ao uso da ferramenta da responsabilidade social que culminam também em graus de envolvimento maiores ou menores de sensibilidade social. Há, entretanto, diversas organizações – como será demonstrado – que preocupados com sua imagem, atuam com responsabilidade social, utilizando também outros instrumentos importantes como o Balanço Social, buscando demonstrar à sociedade que não somente se preocupam com a dimensão econômica, mas, também as dimensões socioambientais. Desta forma, essas organizações utilizam modelos que se traduzem em responsabilidade social empresarial a partir do uso do Triple Botton Line e realizando uma gestão que se traduz em ética e governança corporativa. Compreenderá também, como as organizações e as sociedades têm atuado no contexto da Sustentabilidade econômica, social e ambiental, buscando a sua própria sobrevivência organizacional, porém, corroborando com as dimensões socioambientais. A terceira unidade será de fato muito importante, pois tratará de conceitos sobre etnicidade, racismo, diversidade, ações afirmativas, políticas de compensação e reparação, envolvendo uma discussão sobre os processos produtivos, as ações das empresas e das pessoas e suas relações no processo de desigualdade e exclusão social, bem como se fundamentam essas relações também dentro do sistema capitalista. Nosso objetivo aqui é o de entender o papel das empresas e da sociedade e suas re la çõ e s m u lticu ltu ra is e é tn ico -ra cia is, d e lim ita n d o a q u i o s m a is re le va n te s n o m o m e n to , e , q u e e n se ja m n o ssa a te n çã o , co m o a s re la cio n a d a s a s d e sig u a ld a d e so cia is e e co n ô m ica s. C o m o p ô d e p erce b er po r esta a pre se ntaçã o, preza d o(a) e stu d a nte, h á u m lo n g o ca m in h o p a ra o se u pro cesso d e a pre n diza d o! P or isso, “o use le r e re fle tir” s o b re e s te a s s u n to e , in s tig u e s u a c u rio s id a d e , e x p lo re e s te liv ro a te n ta m e n te ! D e a g o ra e m d ia n te é co m vo cê ! L e m b ra n d o q u e , “A p e rs is tê n c ia é o m e n o r c a m in h o d o ê x ito ” C h a rle s C h a p lin P ortanto, desejo a você, u m a “ó tim a le itu ra ” c o m “e x c e le n te s in te rv a lo s d e re fle x ã o ”! P ro fe sso ra M e . M iria n A p a re cid a M ica re lli S tru e tt RESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTA PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PREASENPTAÇRÃO EAPRSESEENTANÇÃOTAAPREÇSENÃTAÇÃOO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ PRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO APRESENTAÇ UNIDADE 1: ORgANIzAÇõES E SOcIEDADE 11 INTRODUÇÃO.................................................................................. 13 A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO SOBRE O TRABALHO ................ 14 FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ................................. 24 PODER E DOMINAÇÃO NA SOCIEDADE E NO TRABALHO ............ 35 INOVAÇÕES E PERSPECTIVAS NAS RELAÇÕES DE TRABALHO E ORGANIZAÇÕES ............................................................................. 47 A SOCIEDADE GLOBAL E AS QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS ............................................. 56 UNIDADE 2: RESPONSAbIlIDADE SOcIAl E SUSTENTAbIlIDADE 69 INTRODUÇÃO.................................................................................. 71 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, RESPONSABILIDADE SOCIAL E SUSTENTABILIDADE ................... 72 DILEMAS ACERCA DA RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL ......... 81 BALANÇO SOCIAL E OS INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE ................................................................. 94 TRIPLE BOTTOM LINE E 3 P’S (PROFIT, PEOPLE AND PLANET) .... 106 RESPONSABILIDADE SOCIAL: GOVERNANÇA CORPORATIVA E ÉTICA ......................................... 110 UNIDADE 3: RElAÇõES éTNIcO-RAcIAIS 121 INTRODUÇÃO.................................................................................. 123 S U M Á R IO ETNICIDADE ....................................................................................124 CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA E AS QUESTÕES DOS INDÍGENAS ......................................................................................134 A história e cultura Afro-Brasileira e Africana ......................................... 135 A questão indígena no Brasil ................................................................. 142 O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL ..................................................150 CONSCIÊNCIA POLÍTICA, DIVERSIDADE E AÇÕES AFIRMATIVAS ..................................................................156 POLÍTICAS DE REPARAÇÕES E DE RECONHECIMENTO NAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS..........................................................170 cONclUSÃO 185 REFERÊNcIAS 188 S U M Á R IO UNIDADE 1 Organizações e sociedade Mirian Aparecida Micarelli Struett ObjEtIvOs DE AprENDIzAgEm • Compreender como se deu a evolução do pensamento sobre o trabalho. • Discutir as formas de organização do trabalho em contexto. • Entender o significado e as formas de poder e dominação na sociedade e nas organizações. • Verificar as inovações e perspectivas nas relações de trabalho e organizações. • Compreender como a sociedade global tem tratado as questões socioambientais no cotidiano organizacional. plANO DE EstUDO Serão abordados os seguintes tópicos: • A evolução do pensamento sobre o trabalho • Formas de organização do trabalho • Poder e dominação na sociedade e nas organizações • Inovações e Perspectivas nas relações de trabalho e organizações • A sociedade global e as questões socioambientais UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social 13 INTRODUÇÃO Prezado(a) estudante! Você já pensou sobre a influência do trabalho na qualidade de vida humana? E o impacto que as organizações ao longo dos anos têm realizado na sociedade? Para compreender esta relação tão importante, entre o trabalho nas organizações e na sociedade, faz-se mister compreender como foi a evolução do pensamento sobre o trabalho, quais são as formas de poder e dominação nas organizações, como se organizou o trabalho desde os primórdios até os dias atuais. A partir da discussão sobre as inovações e perspectivas nas relações do trabalho e organizações, bem como entender como a sociedade, principalmente as organizações têm se compor- tado no contexto das questões socioambientais podemos inferir sobre qual deve ser a próxima etapa para a atuação do trabalhador e das organizações em sociedade. Como você irá perceber nesta unidade, caro(a) aluno(a), a relação trabalho e orga- nização são compreendidas como um processo de interação entre homem e natu- reza e seu principal objetivo, vai além da criação do valor, de uso, transforma suas relações ao longo dos últimos anos. Ademais, implicam também estas relações de conflitos de interesses que podem ser resolvidos ou atenuados por meio do poder que as organizações em sociedade impõem aos trabalhadores. 14 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social Em um contexto bastante atual, prezado(a) estudante, você compreenderá como as transformações mundiais levam às reestruturações e como as inovações pelas quais a sociedade tem passado são variadas e influenciam a forma de organiza- ção e funcionamento das relações de produção e processos de trabalho. Essas mutações no mundo do trabalho e o momento pela qual a sociedade global está passando, trazem uma nova morfologia ao trabalho, levando ainda mais a precari- zação do trabalhador. Como condição sine qua non, é preciso compreender que a garantia de qualidade de vida e a própria existência humana dependem da cons- ciência socioambiental da sociedade como um todo, envolvendo vários atores, na qual as organizações têm papel fundamental. bons estudos nesta unidade! A EVOlUÇÃO DO PENSAMENTO SObRE O TRAbAlHO Etimologicamente a palavra trabalho significa tortura. O termo vem do latim tripalium. “Ao tripalium, onde os prisioneiros são torturados”. De maneira geral, é o ato ou efeito de trabalhar, seja por exercício, físico ou mental/intelectual (FERREIRA, 2010). Estudando o mundo do trabalho será possível identificar as transformações ocorridas nas últimas décadas, a começar pela inovação tecnológica, a reestruturação produtiva, 15 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Sociala precarização das relações de trabalho, as exigências decorrentes dos modelos de gestão organizacionais, as novas formas de organização e perceber como essas mu- danças do século XX até os dias atuais, muitas delas, ocorridas no ambiente de traba- lho, trouxeram para a vida dos trabalhadores (SOUZA; TOLFO, 2009). De acordo com Souza e Tolfo (2009, p.1): O trabalho ocupa um lugar central na vida de quem o realiza, pois é por meio dele que o ser humano organiza sua vida, seus horários e suas atividades, e até mesmo seus relacionamentos são influenciados pelo trabalho. O trabalho é uma das prin- cipais categorias por meio do qual o homem interage no seu meio social e no seu tempo, seja pelo fato de ser um meio de sobrevivência, seja pelo tempo da vida a ele dedicado, seja pelo fato de ser um meio de realização profissional e pessoal. Em função disso, em casos de desemprego as pessoas são afetadas de diversas for- mas, como a falta de sentido de vida, perda e pontos de referência espaço-tempo- ral, distanciamento cultural, isolamento social, problemas familiares e adoecimento mental e físico, etc. De acordo com Mustafa e Benatti (2010, pp.404-405 ): “O trabalho constitui elemento central na vida dos homens e que por meio dele se busca a satisfação das necessidades humanas”. Seu surgimento assim se resume historicamente: 16 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social • Na história primitiva os homens produziam unicamente para satisfazer suas necessidades imediatas e os instrumentos utilizados, inicialmente ru- dimentares vão aos poucos sendo aperfeiçoados, para garantir a caça e a pesca. A propriedade e a produção eram partilhadas entre todos e a única divisão do trabalho era divisão sexual (papéis diferenciados entre homem e mulher). • Com o surgimento da agricultura, por exemplo, o homem já começava a ter excedentes, dando início a mercadoria e sua comercialização. Daí decorre, a separação entre aqueles que produzem e aqueles que se apropriam da produção excedente. • No Ocidente, anos 3000 a.C até 476 d.C, os escravos advinham das chama- das guerras de conquistas, trabalhando em terras conquistadas pelo Estado, 17 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social dado aos nobres – surge então a divisão dos homens entre proprietários e não proprietários. • No fim do Império Romano, esboça-se nova organização societária – socie- dade feudal – os servos produziam (trabalhavam) nas terras dos senhores para obterem subsistência. Com o excedente, caracterizava-se a exploração do trabalho. • A produção dos pequenos artesãos se destinava à troca, dando origem às corporações. • A produção agora não tinha só valor de uso (produto produzido por tra- balho humano concreto, útil ao homem), mas também valor de troca (re- sultados de trabalhos diversos, incluem o trabalho humano abstrato). Apesar dos diversos significados atribuídos ao trabalho, fundamentalmente e his- toricamente, como podemos perceber, o trabalho se afirma na satisfação de nos- sas necessidades, no sentido de obtermos os bens necessários à sobrevivência, partindo da forma mais elementar, da relação do homem com a natureza. Nesta relação do ser humano com a natureza, há uma transformação para que objetos produzidos possam satisfazer suas necessidades. Para Iasi (2010, p.63) “a 18 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social atividade do trabalho consiste em transformar a natureza, e não apenas na apro- priação de seus elementos tal como se encontram”. O trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla o seu inter- câmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a ao mesmo tempo em que modifica sua própria natureza (MARX, 1988, p.202). Neste sentido, a ação humana que altera a natureza, altera o próprio ser humano, produzindo sempre novas necessidades. Para plantar ou arrancar raízes, ou pre- parar a terra para o plantio, por exemplo, é necessária a criação de instrumentos, chamados “meios de produção”. Considerada de forma simples, os elementos do processo seriam então: 1) Uma atividade orientada a um fim; 2) a matéria a que se aplica o trabalho, ou o objeto do trabalho; e 3) os meios e instrumentos de trabalho. Assim considerado, o processo de trabalho é apenas um processo de produção de valores de uso para satisfazer diretamente, com meios de consumo, ou indiretamente, como meios de produção, necessidades humanas (IASI, 2010, p.64). Para Iasi (2010), os seres humanos não produzem apenas os bens necessários à existência e os meios de produção necessários para isso, produzem também relações sociais, ou ainda, produzem a si mesmos como seres sociais. Visto 19 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social desta maneira, de maneira singular, não haveria nada no trabalho que levasse o homem ao estranhamento, ou melhor, não haveria obstáculo à emancipação, pois o que há de especificamente humano, se dá graças ao trabalho, ou ainda, deste agir humano o que lhe poderia ser hostil ou controlá-lo? O principal objetivo do processo de trabalho é a criação do valor de uso, de forma que a atividade laboral é inerente ao ser humano e a sua existência. O trabalhador em sua essência vende sua força de trabalho e não o trabalho em si, uma vez, que nele, há o dispêndio da força que confere, por sua vez, valor às mercadorias – de- nominado como trabalho abstrato (MARX, 1988). De acordo com Antunes (2010, p.28): No mundo produtivo, o trabalho abstrato cumpre papel decisivo na criação de valores de troca. A redução do tempo físico do trabalho manual direto e a ampliação do traba- lho mais intelectualizado, não negam à lei do valor, quando se considera a totalidade do trabalho, a capacidade do trabalho socialmente combinada, o trabalhador coletivo como expressão de múltiplas atividades combinadas. De acordo com Iasi (2010, p.67), fenômeno do estranhamento ou também cha- mada “alienação” está ligado a “uma forma particular e determinada de trabalho, aquela que pressupõe a produção de mercadorias e que assume seu ponto culmi- nante sob o processo capitalista de produção de mercadorias”. 20 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social REFLITA Mas afinal, “o que há na forma particular do processo de trabalho submisso ao capital que poderia inverter a característica do trabalho, ou seja, de base da sociabilidade humana para fundamento da alienação (estranhamento)?” (IASI, 2010, p.67). O processo de trabalho exige uma atividade orientada para um fim, objetos sob os quais atua a força de trabalho e meios de produção que permitam a mediação en- tre força de trabalho e seus objetos. Produzir mercadorias exige necessariamente produção de valores de uso. O trabalhador submetido a essas relações agora se apresenta como forma de estranhamento ou alienação, determinado pelo capital, e isso sim, é desastroso para a emancipação humana (IASI, 2010). No raciocínio de Marx (2004, p.80 apud IASI, 2010, pp.71-72): O trabalhador torna-se tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador tonar-se uma merca- doria tanto mais barata, quanto mais mercadorias cria. Com a valorização do mundo das coisas aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens. O trabalho não produz apenas mercadorias; produz também a simesmo e ao tra- balhador como mercadoria, e isto na medida em que, de fato, produz mercadorias em geral. 21 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social Como percebemos até agora, a condição humana é transformada em mercadoria, e o aumento da produtividade do trabalho, que em princípio aumenta a quantidade de valores de uso, produz ao mesmo tempo, um efeito inverso que é a desvaloriza- ção da própria mercadoria, a força de trabalho, a qual sofre oscilações do mercado. O trabalho não é só explorado pelo tempo excedente e baixos salários, como pelo ritmo que se impõe à produção, sem alteração de jornada de trabalho. Além da separação entre trabalhador e meios de produção, não existe mais a unidade entre necessidades e produção na era do capital, ou seja, a produção não é mais voltada para o uso, mas principalmente para a troca. Conforme indica Antunes (1999 apud SILVA; SILVA, 2010, p.115): O trabalho é instância de realização do ser social e condição para sua existência e hu- manização [...] Entretanto, no modo de produção capitalista, o que deveria ser finalida- de básica do ser social (no e pelo trabalho) é pervertido e degradado, isto é, o trabalho é subjugado ao capital, tendo em vista que o processo de trabalho é apenas meio de sobrevivência, a força de trabalho é mercadoria que produz outras mercadorias. A condição humana tinha o trabalho como meio de humanização, agora na condi- ção de mercadoria, ocorre a desumanização, porque só se tem acesso ao trabalho, por isso soa externo ao trabalhador, produzindo, na maioria das vezes, sofrimento como aponta Dejours (1992, p.96 apud IASI, 2010, p.73). 22 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social As tarefas repetitivas, os comportamentos condicionados não são unicamente con- sequências da organização do trabalho. Mais que isso, estruturam toda a vida ex- terna ao trabalho, contribuindo desse modo para submeter os trabalhadores aos critérios de produtividade. Este fato é comprovado pela aquisição de hábitos do trabalho que se traduzem em comportamentos, como: assumir aquilo que são hábitos de trabalho em casa mes- mo longe do controle do espaço laboral. Iasi (2010) apresenta alguns exemplos, como: aposentados que seguem acordando na mesma hora em que acordavam 23 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social para ir ao trabalho, ou que se irritam com a desorganização dos filhos, e, tal como qual, resulta em adoecimento. Das contradições entre a relação de trabalho e o capital conduzem ao adoecer do trabalhador, que podem resultar em sofrimento psíquico, físico e emocional. Embora haja muitos estudos sobre as transformações no mundo do trabalho, não nos aprofundaremos nas formas que envolvem a precarização do trabalho e seus aspectos psicossociais. Para isto, sugiro a leitura do livro de Dejours. INDICAÇÃO DE LEITURA DEJOURS, Christophe; ABDOUCHELI Elisabeth; STOCCO, Maria Irene. Maria Irene Stocco Betiol (coord). Psicodinâmica do trabalho: contribuições da escola de- jouriana e análise da relação prazer, sofrimento e traba- lho. 1. ed. São Paulo: Atlas, 1993. A psicopatologia do trabalho tem na obra de Dejours, a sua visão sobre o sofrimento no trabalho, demonstrando que esse sofrimento se constitui em consequências da insistência do ser huma- no em viver em um ambiente que lhe é hostil ou adverso. Dejours afirma que as 24 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social relações de trabalho, frequentemente despojam o trabalhador de sua subjetivida- de, excluindo-o como sujeito e fazendo dele uma vítima do trabalho. A ideia do sofrimento está relacionada à subjugação do trabalho. FORMAS DE ORgANIzAÇÃO DO TRAbAlHO As transformações ocorridas nas organizações proporcionaram grandes mudan- ças no processo de trabalho. No último século, em um passado bem recente a indústria e o processo de trabalho culminado pelo Fordismo com os elementos constitutivos básicos eram dados por: 25 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social [...] produção em massa, por meio da linha de montagem e de produtos homogêne- os; através do controle dos tempos e movimentos pelo cronômetro taylorista e da produção em série fordista; pela existência do trabalho parcelar e pela fragmentação das funções; peça separação entre elaboração e execução no processo de trabalho; pela existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas e pela constituição/ consolidação do operário-mas-sa, do trabalhador coletivo fabril, entre outras dimen- sões. Menos do que um modelo de organização societal, que abrangeria igualmente esferas ampliadas da sociedade, compreendemos o fordismo como processo de trabalho que, junto com o taylorismo, predominou na grande indústria capitalista ao longo deste século (ANTUNES, 2011, pp.24-25). Na década de 80 houve algumas mudanças e transformações relacionadas à tec- nologia, automação, robótica e a microeletrônica. Essas se inseriram na relação de 26 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social trabalho e de produção de capital. Da mesma forma, como no fordismo e o taylo- rismo novos processos emergem, onde “cronômetro e a produção em série e de massa foram substituídos pela flexibilização da produção” (ANTUNES, 2011, p.24). O toyotismo mesclou e substituiu o padrão fordista dominante a partir da aplicação dos Círculos de controle de qualidade (CCQs), da gestão participativa e da busca da qualidade total. O esboço de uma “captura” da subjetividade do trabalhador, que foi sistematizado com o toyotismo, já estava presente em Ford na medida em que “se um operário deseja progredir e conseguir alguma coisa, o apito será um sinal para que comece a repassar no espírito o trabalho feito a fim de descobrir meios de aperfeiçoá-lo” (FORD, 1967, p.41 apud BATISTA, 2008, p.3). [...] Também a preocupação de uma organização descentralizada da produção e redução dos níveis hierárquicos como forma de combate ao poder dos chefes pode ser encontrada no “manual” de Ford, rompendo com a hierarquia da administração científica de Taylor e apontamentos sobre a responsabilização e incitação à competição e gestão por iniciativa e incen- tivo aos trabalhadores. Mesmo um delineamento da gestão participativa com intuito de apropriação do conhecimento tácito do trabalhador e redução de custos já podia ser notado (ANTUNES, 2011, p.24). De acordo com Sabel e Piore (1984 apud ANTUNES, 2011, p.25) “o elemento causal da crise capitalista seria encontrado nos excessos do fordismo e da produção em massa, prejudiciais ao trabalho, e supressores da sua dimensão criativa”. A esses au- tores atribui-se o pioneirismo na tese “especialização flexível”, ou seja, tratava-se 27 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social de uma nova forma produtiva, com significativo desenvolvimento tecnológico e des- contração produtiva baseada em pequenas e médias empresas “artesanais” (cha- mada de terceira Itália), o que recuperaria, segundo os autores, uma concepção do trabalho, mais flexível e isento da alienação causada pela base fordista. Para Iasi (2010, pp.75-76): A rígida separação taylorista entre o planejamento e a execução deixava espaço para formas de resistência operária. Ao seguir rigorosamente o plano e as especificações técnicas, o produto apresentava uma série de problemas que iam sendo corrigidos na prática pelos operadores, através de pequenos ajustes, ou, como forma de pro- testo, cumprindo rigorosamente o estabelecido na chamada “operação padrão”. A apropriação deste saber operário pelo capital por meio dos círculos de qualidade, trabalho em equipe, bônus e premiações coloca este saber a serviçoda eficiência da produção visando evitar o retrabalho [...] da mesma maneira, a separação rígida do princípio “homem-máquina” na linha de montagem na qual cada um desempenhava uma função, propiciava resistências como quebrar a máquina, desgastá-la além do limite, diminuir o ritmo [...] a exigência de atos mecânicos e repetitivos não pode ser entendida como não utilização das funções subjetivas do trabalho [...] Seria responsável desta forma, pela superação do modelo produtivo fordista que dominou o cenário de produção capitalista, ou seja, na visão de Annunziato (1989), a produção artesanal é um meio necessário para a preservação do capitalismo. De acordo com Antunes (2011), várias críticas foram feitas a Sabel e Piore – Tabela 1: críticas à “especialização flexível”. 28 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social Tabela 1: Críticas à “especialização flexível” cRÍTIcAS AUTORES A generalização do modelo seria empiricamente irrealizável num merca- do segmentado e instável “generalização abusiva” CORIAT, 1992, pp.151-153 A tese original da especialização flexível não é “universalmente aplicá - vel”. Seria um meio de desqualificar e desorganizar o trabalho, além de intensificá-lo. O fordismo seria dotado de dimensão flexível. CLARKET, 1991, pp.124-125 O fordismo domina a economia dos EUA à medida que tem um processo de trabalho taylorizado e, é dotado de uma hegemonia capi- talista que penetra o interior das organizações de trabalhadores, tanto sindicais, quanto nos partidos políticos. ANNUNZIATO, 1989, pp.99-100 e 106 A articulação entre descentralização produtiva e avanço tecnológico, tem um claro sentido: combater a autonomia e coesão de setores do operariado Italiano. Essa fragmentação (unidades produtivas menores) pode possibilitar ao capital uma maior exploração quanto um maior controle sobre a força de trabalho. MURRAY; FERGUS, 1983, pp.79-85. Essa fase da produção é “marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo”. Envolve rápidas mudanças dos padrões de de- senvolvimento desigual. O neofordismo leva ao nascimento de formas industriais totalmente novas ou à integração do fordismo a toda uma rede de subcontratação e de deslocamento para dar maior flexibilidade diante do aumento da competição e dos riscos. HARVEY, 1992, pp140, 148, 178-79. Fonte: adaptado de Antunes (2011, pp.25-29) 29 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social Ricardo Antunes (apud HOFFMANN, 2003, p.152) o toyotismo assim se apresenta: [...] É a via japonesa de expansão e consolidação do capitalismo monopolista indus- trial, que apresenta as seguintes características: a) a noção de qualidade total passa a estar relacionada ao menor tempo de duração dos produtos, realçando a tendên- cia expansionista do capital e revelando a lógica destrutiva do sistema de produção por intermédio da redução do ciclo de vida útil dos produtos; b) a introdução de no- vas técnicas de gestão de força de trabalho com base na informação e com o auxílio dos computadores (o que não havia nos sistemas taylorista e fordista), aplicadas pela desconcentração produtiva, da reengenharia, da eliminação dos postos de tra- balho, da concepção de células de produção, etc., e com a finalidade de intensificar as condições de exploração da força de trabalho, com a redução ou a eliminação do trabalho improdutivo; c) a modificação de vários aspectos do processo de pro- dução por meio da desregulamentação, da fragmentação da classe trabalhadora, da precarização do emprego e do trabalho, da terceirização da força de trabalho e da ruptura do sindicalismo. 30 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social De acordo com Batista (2008), a gestão participativa se pode conceber também a ideia dos círculos de controle de qualidade, combinando Sistema Just in Time e método Kanban por meio da apropriação do saber tácito da força de trabalho. Para isso, o rodízio das tarefas foi utilizado como técnica bem como a “auto-super- visão”. É importante destacar que mesmo com as novas técnicas de gestão siste- matizadas na Toyota, os trabalhos parcelados e repetitivos continuaram coexistindo com os de caráter multifuncional e pluriespecializado. A novidade se deu em aplicar a todos os tipos as formas de controle do processo de trabalho, o que ratifica a su- posição inicial de que existe uma continuidade nos três métodos de organização do trabalho, continuidade com sofisticação, e não superação, daí estas formas serem sociais, e não restritas ao espaço de trabalho (BATISTA, 2008, p.11). Essa forma flexibilizada da acumulação capitalista, é baseada na reengenharia, na em- presa enxuta, e fez com que a classe trabalhadora se fragmentasse, se tornou hetero- gênea e mais complexa, além disto, como aponta Silva e Silva (2010, p.24), houve uma série de consequências: Tornou-se mais qualificada em vários setores onde houve uma relativa intelectualiza- ção do trabalho, mas desqualificou-se e precarizou-se em diversos ramos, como na indústria automobilística, na qual o ferramenteiro não tem mais a mesma importân- cia, sem falar na educação dos inspetores de qualidade, dos gráficos, dos mineiros, dos portuários, dos trabalhadores da construção naval etc. Criou-se, de um lado, em escala minoritária, o trabalhador “polivalente e multifuncional” da era informacional, capaz de operar com máquinas com controle numérico e de, por vezes, exercitar 31 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social com mais intensidade sua dimensão mais intelectual. E, de outro lado, há uma mas- sa de trabalhadores precarizados, sem qualificação, que hoje está presenciando as formas de part-time, emprego temporário, parcial, ou então vivenciando o desem- prego estrutural. O que podemos perceber do toyotismo e da rigidez da organização do trabalho taylorista-fordista, se comparados, pode parecer que o modelo de produção e ge- renciamento da força de trabalho é melhor no sistema Toyota, mas não para os tra- balhadores, e sim para o capital, de forma que além do uso das técnicas já experi- mentadas pelos modelos anteriores, o “Sistema Toyota aprimorou a intensificação do trabalho e ampliou as dimensões da exploração da força de trabalho quando sistematizou as técnicas de apropriação da subjetividade” (BATISTA, 2008, p.12). De acordo com Kovácz (2006, p.41) a designação de “novas formas de organiza- ção do trabalho” (NFOT) muito utilizada na Europa, no século XX, principalmente na década de 70, buscou a humanização no trabalho e a democratização da empresa, centrada no fator humano. A renovação organizacional estaria na ordem do dia, porque é entendida como um dos meios essenciais para a sobrevivência e melhoria da competitividade das empresas no contexto de concorrência. De acordo com Kovácz (2006) a Comissão Europeia lançou a renovação da organização do trabalho em 1997, com a discussão 32 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social sobre hierarquias mais planas, horizontalização das estruturas, conteúdo funcional mais rico e diversificado, trabalho em equipe, centralidade das competências, au- tonomia na realização dos trabalhos, confiança nas relações laborais e envolvimen- to e participação de trabalhadores. Há uma ideia de que o grau de autonomia e conteúdo do trabalho é muito diferen- ciado. São fatores de diferenciação: tipo de organização, situações de trabalho concretas de acordo com níveis de formação/qualificação exigidos e o grau de es- tabilidade de emprego, além de outros fatores, como: contextos sócio-históricos, institucionais, culturais e a natureza das relações laborais, dentre outros. De acordo com Kovácz (2006, p.42)estamos em uma nova era caracterizada pela “passagem da produção em massa de produtos e serviços estandartizados em quadros organizacionais rígidos para um novo sistema produtivo caracterizado pela diversidade, flexibilidade, inovação e cooperação”, ou seja, para isso, as novas tec- nologias levam à era pós-taylorista, pós-burocrática, à generalização do trabalho inteligente, tornando o trabalho imaterial, mais complexo, exigindo conhecimentos mais amplos, autonomia, iniciativa, responsabilidade, capacidade de aprendizagem contínua, autocontrole, investimento subjetivo e a mobilização da inteligência reali - zada em estruturas organizacionais mais planas e descentralizada. Pessoas e orga- nizações devem se adaptar às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). 33 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social Apesar disto, como declara Antunes (2010, p.32) máquinas inteligentes não po- dem substituir trabalhadores, pois ela exige o trabalho intelectual do operário, que ao agir com a máquina acaba por transferir parte dos atributos intelectuais nesse processo, estabelecendo um completo processo interativo entre trabalho e ciência produtiva, que não pode levar à extinção do trabalho. A retroalimentação resultante deste trabalho impõe ao capital a necessidade de encontrar “uma força de traba- lho ainda mais complexa, multifuncional, que deve ser explorada de maneira mais intensa e sofisticada”. Ainda assim, na conversão do trabalho vivo em morto há um processo de “objetivação das atividades cerebrais junto à maquina- ria, de transferência do saber intelectual e cognitivo da classe trabalhadora que se converte em linguagem própria”. Neste contexto, para Kovácz (2006, p.44): O trabalho é ambíguo: constitui um ato compulsório, mas também de criação; é um meio de subsistência e de consumo, mas também é fonte de desenvolvimento, de satisfação e de identidade; pode ser submetido à racionalidade burocrática, ao poder autoritário, mas também pode constituir um espaço de autodeterminação, de intervenção e de trabalho em geral, implicando tipos e graus de autonomias muito diferentes. O livro verde: parceria para uma nova organização do trabalho (1997) divulgado pela Comissão Europeia, identifica as novas formas de organizar o trabalho com a “empresa flexível”. [...] implica em estruturas mais inovadoras e flexíveis, assentes na excelência da competência e no primado da confiança, bem como na maior participação dos trabalhadores. 34 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social FIQUE POR DENTRO O Livro Verde retrata como e por que é necessária uma nova organização do trabalho, quais são os desafios políticos e as novas parcerias necessá- rias. Este material está disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/ LexUriServ.do?uri=COM:1997:0128:FIN:PT:PDF>. De acordo com Marques (2008, p.12): Autores como Márcio Pochmann apud Hoffmann (2003, p. 155) falam de uma nova transição no modelo de administração, caracterizada pelo movimento toyotista-fle- xibilização, cujo ganho maior é a redefinição do conteúdo da atividade empresarial, numa organização que desloca parte do processo produtivo para os países pobres (atividades mais rotineiras), deixando para os países ricos (então com o poder de mando) o gerenciamento ou a coordenação destas atividades. Entretanto, há uma perda de centralidade do trabalho. Neste sentido, a perda da centralidade no trabalho exige do trabalhador uma adaptação muito maior aos perfis de produção de empresas, de maneira que, sua forma de inserção na cultura produtiva tende a modificar-se, muitas vezes, de modo tão intenso, que isto acaba por exercer uma pressão no trabalhador, que busca atender às exigências impostas, já que está sob o risco da exclusão do mercado de trabalho. http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/ 35 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social PODER E DOMINAÇÃO NA SOcIEDADE E NO TRAbAlHO Como percebido historicamente, ao longo dos anos, as organizações têm sido associadas a processos de dominação social nas quais indivíduos ou grupos en- contram formas de impor a respectiva vontade sobre os outros. Na visão de alguns teóricos organizacionais, inspirados por Karl Marx, Weber e Robert Michels, esta combinação de realização e exploração é uma característica marcante das organi- zações através dos tempos. É possível encontrar relações de poder assimétricas que resultam na maioria trabalhando para a minoria, por exemplo, a convocação obrigatória e a escravidão que garantiram muito da mão de obra necessária para a construção da pirâmide e de impérios, deram lugar atualmente, ao trabalho assala- riado, da qual os empregados têm o direito de se demitir (MORGAN, 1996). De acordo com os postulados de Weber (apud MORGAN, 1996, pp.282-283), há três tipos de dominação e raramente são encontradas em suas formas puras, de 36 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social forma que, quando se misturam acabam por ocasionar tensão e mal-estar. São elas: • Dominação carismática: ocorre quando o líder exerce influência em virtude de qualidades pessoais. É legitimado na fé que o liderado deposita no líder – exemplos: profetas, heróis ou mesmo demagogos. O aparato administrativo é pequeno, flexível, desestruturado e instável. • Dominação tradicional: o poder de mando tem por base o respeito pela tradição e pelo passado. É legitimado pelo costume e o sentimento de que é correto fazer as coisas de tal forma tradicional. As pessoas exercem o poder de status adquirido. Exemplos: oficiais, parentes, administradores. • Dominação racional-legal: o poder é legitimado por leis, regras, regulamen- tos e procedimentos. Quem manda pode obter poder legitimado seguindo procedimentos legais. É formalmente fundamentado em regras. O aparato administrativo típico é a burocracia, dentro da qual a autoridade formal está concentrada no topo da hierarquia organizacional. As formas mais racionais e democráticas de organização podem resultar em mode- los de dominação. À medida que se fica cada vez mais sujeito a uma administração por meio de regras, mais se fica dominado pelo processo em si. Estas ideias se 37 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social compatibilizam com aquelas que Karl Marx, expõe a de que a lógica move a socie- dade moderna encontra-se na dominação por meio da racionalização. Para Marx, encontra-se na dominação gerada pela mais valia e a acumulação de capital, mos- trando como a organização no mundo moderno se acha baseada em processos de dominação e exploração de diferentes formas (MORGAN, 1996). Como sabemos, o trabalhador trabalha sob o controle do capitalista, a quem per- tence o seu trabalho, afinal, o capitalista controla a ordem, os meios e os fins de produção empregados e os instrumentos utilizados para a realização do trabalho. Uma vez, o trabalhador, dentro do local de trabalho do dono do capital, o valor de uso da sua força de trabalho, sua utilização, o trabalho pertencem a ele. O capitalista mediante a compra da força de trabalho incorporou o próprio trabalho, como fermento vivo, aos elementos mortos constitutivos do produto que lhe perten- cem igualmente. Do seu ponto de vista, o processo de trabalho é apenas o consumo da mercadoria, força de trabalho por ele comprada, que só pode, no entanto, consu- mir ao acrescentar-lhe meios de produção. O processo de trabalho é um processo entre coisas que o capitalista comprou, entre coisas que lhe pertencem. O produto deste processo lhe pertence de modo inteiramente, igual ao produto deste processo [...] (MARX, 1983, p.154 apud SILVA; SILVA, 2010, p.115). Para Silva e Silva (2010, p.130 ), “as observações feitas por Marx hámais de 140 anos são extraordinariamente atuais”: 38 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social [...] o consumo da força de trabalho pelo capital é, tão rápido que o trabalhador de mediana idade, na maioria dos casos, já está mais ou menos esgotado. Ele cai nas fileiras dos excedentes ou passa de um escalão mais alto para um mais baixo. Justamente entre os trabalhadores da grande indústria é que nos deparamos com a duração mais curta da vida. [...] dentro do sistema capitalista, todos os métodos para a elevação da força produtiva social do trabalho se aplicam à custa do traba- lhador individual; todos os meios para o desenvolvimento da produção se convertem em meios de dominação e exploração do produtor, mutilam o trabalhador, trans- formando-o num ser parcial, degradam-no, tornando-o um apêndice da máquina; aniquilam, com o tormento do seu trabalho, seu conteúdo, alienam-lhe as potências espirituais do processo de trabalho na mesma medida em que a ciência é incorpo- rada a este último como potência autônoma; desfiguram as condições dentro das quais trabalha, submetem-no, durante o processo de trabalho, ao mais mesquinho e odiendo despotismo, transformam seu tempo de vida em tempo de trabalho [...] (MARX APUD SILVA; SILVA, pp.207-210) 39 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social Enquanto algumas pessoas veem o poder como um recurso, por exemplo, como alguma coisa que alguém possui, outras o veem como uma relação social carac- terizada por algum tipo de dependência, como um tipo de influência sobre algu- ma coisa ou alguém. “O poder é o meio através do qual, conflitos de interesses são, afinal, resolvidos. O poder influencia quem consegue o quê, quando e como” (MORGAN, 1996, p.163). Para Pagès et al. (2006, p. 163 ), “o exercício do poder não consiste em ordenar, tomar decisões, mas em delimitar o campo, estruturar o espaço na qual são toma- das as decisões”. Nas organizações as fontes do poder são utilizadas para modelar a dinâmica da vida organizacional. Todas as fontes de poder citadas a seguir – Tabela 2, ofere- cem aos membros da organização uma variedade de meios para ampliar os seus interesses, resolvendo ou perpetuando os conflitos organizacionais. 40 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social Tabela 2: Fontes de poder e características e finalidades Fontes de Poder Características e finalidades Autoridade formal Poder legitimado pela organização que é respeitado e conhecido por aqueles com quem interage. Pode ser por carisma, tradição ou lei de acordo com conceitos de Weber. A autoridade formal é dado, por exem- plo, ao gerente que é legitimado a instruir aqueles que estão sob seu controle. Controle sobre recursos escassos Habilidade de exercer o controle sob os recursos como dinheiro, materiais, tecnologia, pessoal, bem como apoio dos consumidores e fornecedores. Uso da estrutura or- ganizacional, regras e regulamentos O poder é exercido a partir do uso de instrumentos racionais como: estru- tura organizacional, regras e regulamentos. Controle do processo de tomada de decisão A possibilidade de influenciar os resultados por meio dos processos decisórios. Controle do conhecimento e da informação O poder emana da pessoa que pode sistematizar o conhecimento e controlá-lo definindo a realidade do processo de tomada de decisão. Controle dos limites Conhecido como administração de fronteiras, definindo limites entre grupos de trabalho ou departamentos, bem como entre organização e seu ambiente. Habilidade de lidar com a incerteza Habilidade de lidar com as incertezas que influenciam o funcionamento da empresa no dia a dia, é uma fonte de poder implícita, ligada a alguém numa posição global do trabalho. Controle da tecnologia Serve como instrumento de poder, aumentando as habilidades em mani- pular, controlar e impor-se sobre o ambiente. 41 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social Alianças interpessoais, redes e controle da “organi- zação informal” Amigos altamente colocados, patrocinadores, mentores, coalizões com pessoas preparadas para transacionar apoio e favores para promover os fins individuais das pessoas, bem como redes informais de consulta às bases, sondagens ou simples bate papos, tudo isso oferece fonte de poder aos envolvidos. Controle das contraorganizações Reside no estabelecimento e controle daquilo que pode ser chamado de “contraorganizações”. Os sindicatos são os mais óbvios, fazem parte de uma estratégia de exercício de poder, influenciando a organização, sem fazer parte dela. Simbolismo e administração do significado Reside na habilidade que uma pessoa tem em persuadir os demais em idealizar realidades que sejam mais interessantes para alguém perseguir. A administração do simbólico pode ocorrer por meio teatral, de imagens ou uso da arte. Sexo e administração das relações entre os sexos Muitas organizações são dominadas a favor de um sexo em relação ao outro. É comum ligações entre estereótipos sexuais e as formas de poder transformadas em estratégias organizacionais que podem privilegiar o gênero. Fatores estruturais que definem o estágio da ação Um dos aspectos surpreendentes é que dificilmente alguém admite que tenha algum tipo de poder real. Usa-se o poder, porém há uma negação da existência deles, ou seja, as pessoas se vêm somente como agentes ou portadores do poder que lhes é conferido pela organização. O poder que já se tem O poder é uma via para o poder e, com frequência é possível usá-lo para adquirir mais poder ainda – tirar vantagem, atrair e transformar poder em mais poder. Fonte: adaptado de morgan (1996, pp.164-191) 42 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social A organização, na sua realidade econômica e política, propõe aos indivíduos uma imagem de força e de poder: o poder da organização, seu caráter mundial, sua eficácia, seus objetivos de conquista (lucro e expansão), constituem uma imagem agressiva de onipotência (o caráter mundial é importante neste caso), que favorece à projeção de sonhos individuais de onipotência, ao mesmo tempo que mantém a angustia que os alimenta. Neste nível, é o poder real da organização que age por si próprio, sem que para isso seja necessário apelar para o desejo consciente dos di- rigentes de influenciar os indivíduos. [...] esta imagem de onipotência é consolidada ideologicamente pela organização (PAGÈS et al., 2006, p.163). Para Silva e Silva (2010), corroborando com a relação entre capital-trabalho, esta se apresenta como uma relação imposta de forma truculenta e violenta sob várias dimensões e que tem se perpetuado por meio de métodos coercitivos. [...] coercitivos explícitos ou mais sutis vinculados à racionalização técnica do tra- balho. Nessa ordem só existe espaço para o padrão do trabalhador e de sociedade adaptados à necessidade de reprodução e de acumulação do capital, sendo que inexiste espaço na esfera produtiva para a subjetividade do trabalhador. Este último, subjugado e desumanizado, é reduzido à condição de mercadoria para produção de outras mercadorias, seguindo os ditames do capital (SILVA; SILVA, 2010, p.132). 43 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social Para mediar essas relações entra a figura do Estado. De acordo com Marques (2008, p.2), pode-se supor como uma das capacidades do Estado de poder o de se sobrepor à relação entre empregador e trabalhador, de forma que haja a tutela diretamente os direitos deste último, objetivando um equilíbrio, formando assim o tripé capital-trabalhoe Estado. Instituído assim como um mediador dos conflitos entre trabalhadores e empresas, o Estado interfere nesta relação, que, na concepção marxista, é permeada por uma permanente luta (classista), em uma visão de que as classes dominantes (capitalistas) precisam ser “monitora- das” pelo Estado para que não usurpem os direitos das classes dominadas. Especificamente, no que tange à disciplina trabalhista, estão marcadamente traduzi- dos tais princípios, através do preâmbulo da CF/88 (quando assegura a aplicabilida- de dos direitos sociais), nos artigos 1º, III e IV; e artigos 6 a 11. Também são encon- trados elementos que legitimam a utilização dos princípios nas súmulas, doutrina, enfim, em todo o ferramental através do qual se aplica o direito ao caso concreto (MARQUES, 2008, p.2). 44 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social Buscando traçar políticas que privilegie a filosofia de ser o trabalho não apenas mera mercadoria, mas sim uma atividade que gere sentido para a vida do indivíduo, de forma a contribuir para a sua estruturação na sociedade, seja social, econômica, cultural e dotada de sentido emancipador, que venha a garantir o exercício da sua soberania, seus valores, enfim, contribuindo para a garantia de dignidade humana. Vindo daí a ideia de proteção. De acordo com Marques (2008, p.9), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) é mundialmente conhecida como o foro mundial, no qual se desenrolam discus- sões acerca das questões trabalhistas. Formada por uma estrutura tripartite, da qual fazem parte governo, trabalhadores e empregadores, visa a OIT traçar políticas que propiciem garantias mínimas fa- voráveis à classe trabalhadora, minimizando os efeitos e impactos dessa relação. Entretanto, não há como compatibilizar as políticas de flexibilização e desregulamen- tação das normas trabalhistas, e nisto enxergar algum tipo de vantagem para a clas- se trabalhadora, já que cada vez mais distante da compreensão de sua fundamental contribuição para a concretização do princípio da dignidade da pessoa humana, assim como pelo caráter expropriatório que ganha o trabalho, na medida em que é situado enquanto mercadoria, cujo reflexo direto é a própria mercadorização da subjetividade do trabalhador. Vivenciamos a crise da superprodução e falta de consumidores, concomitante- mente, aumentam de forma assustadora o pauperismo e a população sobrante, 45 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social descartada, pelo desemprego estrutural. Não estamos diante do fim da sociedade do trabalho, mas de uma sociedade contemporânea complexa, instaurada a partir dessa crise estrutural, revelando estruturalmente um quadro crítico de autodes- trutividade. Essa complexidade implica em uma classe trabalhadora mais hete- rogênea, complexa e fragmentada, entretanto isso não inviabiliza o seu potencial revolucionário para a efetivação da emancipação humana; ao contrário reafirma possibilidades e recoloca desafios para efetivá-la (SILVA; SILVA, 2010). REFLITA “Se o trabalho não retomar a sua potência no sentido de fomentar a eman- cipação humana, não será o capital que o fará”. (SILVA; SILVA, 2010, p.134) Para Silva e Silva (2010, p.29) “a questão essencial aqui é: a sociedade contem- porânea é ou não movida pela lógica do capital, pelo sistema produtor de mer- cadorias, pelo processo de valorização do capital?”. Conforme aponta Antunes (1995), se sim, a crise do trabalho abstrato pode ser entendida como a redução do trabalho vivo e a ampliação do trabalho morto. Sem a precisa e decisiva incorpo- ração dessa distinção entre trabalho concreto e abstrato, quando se diz Adeus ao 46 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social trabalho, comete-se um forte equívoco analítico sob o ponto de vista de que um fenômeno tenha dupla dimensão. Ainda de acordo com a autora, não há como concordar com as teses que minimi- zam ou mesmo desconsideram o processo de criação de valores de troca e sim de que: A sociedade do capital e sua lei do valor necessitam cada vez menos do trabalho estável e cada vez mais das diversificadas formas de capital parcial ou part-time, terceirizado, que são, em escala presente, parte constitutiva do processo de pro- dução capitalista [...] o capital não pode eliminar o trabalho vivo do processo de criação de valores, ele deve aumentar a utilização e a produtividade do trabalho de modo a intensificar as formas de extração do sobretrabalho em tempo cada vez mais reduzido [...] outra é imaginar que, eliminando o trabalho vivo, o capital possa continuar se reproduzindo. A redução do proletariado estável, herdeiro do tayloris- mo/fordismo,a ampliação do trabalho intelectual abstrato [...] e a ampliação gene- ralizada das formas de trabalho precarizado, part-time, terceirizado, desenvolvidas intensamente na “era da empresa flexível” e da desverticalização produtiva, são fortes exemplos da vigência da lei do valor (ANTUNES, 2010, p.30). 47 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social INOVAÇõES E PERSPEcTIVAS NAS RElAÇõES DE TRAbAlHO E ORgANIzAÇõES As reestruturações e inovações pelas quais, o capitalismo tem passado, são varia- das e influenciam a forma de organização e funcionamento das relações de produ- ção e processos de trabalho. Como afirma também Castells (2001 apud AQUILES, 2011, p.14): Nas duas últimas décadas, o próprio capitalismo passa por um processo caracte- rizado por maior flexibilidade de gerenciamento; descentralização das empresas e sua organização de redes; considerável fortalecimento do papel do capital e do trabalho, com o declínio concomitante da influência dos movimentos dos trabalha- dores, individualização e diversificação cada vez maior das relações de trabalho; incorporação maciça das mulheres na força de trabalho remunerada, geralmente em condições discriminatórias; intervenção estatal para desregular os mercados de forma seletiva e desfazer o estado de bem-estar social; aumento da concorrên- cia global em um contexto de progressiva diferenciação dos cenários geográficos culturais para acumulação e gestão do capital. De acordo com Antunes (2010, p.26) e (2011, p.118), a classe trabalhadora é repre- sentada por todos aqueles que vendem sua força de trabalho em troca de salário, incorporando, além do proletariado industrial, outros como: Os assalariados do setor de serviços, também o proletariado rural, que vende sua for- ça de trabalho para o capital. Incorpora o proletariado precarizado; o subproletariado 48 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social moderno; part-time; o novo proletariado do McDonalds; os trabalhadores hifenizados de que falou Beynon (1995); os trabalhadores terceirizados e precarizados das em- presas liofilizadas de que falou Juan José Castilho (1996 e 1996a); os trabalhadores assalariados da chamada “economia informal”, e que muitas vezes são indiretamente subordinados ao capital; além dos trabalhadores desempregados, expulsos do pro- cesso produtivo e do mercado de trabalho pela reestruturação do capital, e que hiper- trofiam o exército industrial de reserva na fase de expansão do desemprego estrutural. A nova composição da classe trabalhadora tem um aumento do trabalho femini- no, que tem sido absorvido pelo capital, preferencialmente no universo do par- t-time, precarizado e desregulamentado. No Reino Unido, o contingente femini- no supera o masculino, porém o salário tem significado inverso, presenciando-se uma desigualdade salarial das mulheres contradita a sua crescente participação 49 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social no mercado de trabalho. Além disto, o percentual de remuneração é bem menorque do sexo masculino, bem como no que concerne aos direitos e condições de trabalho (ANTUNES, 2010, p.27 e 2011, p.118). Na divisão sexual do trabalho, operada pelo capital dentro do espaço fabril, geral- mente as atividades de concepção ou aquelas baseadas em capital intensivo são preenchidas pelo trabalho masculino, enquanto aquelas fundadas em trabalho in- tensivo são destinadas às mulheres trabalhadoras (e, muito frequentemente também aos trabalhadores/as imigrantes e negros/as). A mulher trabalhadora ainda realiza sua atividade laborativa duplamente, dentro e fora de casa, dentro e fora da fábrica. E, ao fazê-lo além da duplicidade do ato laborativo, ela é duplamente explorada pelo capital: desde logo por exercer, no seu espaço público, seu trabalho produtivo no âmbito fabril. Mas, no universo de sua vida privada, consome horas decisivas de sua vida no trabalho doméstico, onde possibilita (ao mesmo capital), a sua reprodução, nessa esfera do trabalho não mercantil, onde se criam as condições indispensáveis para a reprodução da força de trabalho de seus maridos, filhos/as e de si própria. Sem essa esfera de reprodução não diretamente mercantil, as condições de reprodu- ção do sistema de metabolismo social do capital estariam bastante comprometidas senão inviabilizadas. De acordo com Antunes (2010 e 2011), essas mutações criaram uma classe tra- balhadora mais heterogênea, fragmentada e complexada dividida entre os traba- lhadores que são ou não qualificados, pertencem ao mercado formal e informal, jovens e velhos, homens e mulheres, estáveis e precários, imigrantes e nacionais, brancos e negros etc., além das divisões que decorrem da inserção diferenciada 50 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social dos países e trabalhadores na nova divisão internacional do trabalho, ou seja, quando se constata que a maior parte da força de trabalho encontra-se dentro dos países chamados terceiro mundo. A classe trabalhadora hoje exclui, naturalmente, os gestores do capital, seus altos fun- cionários, que detêm papel de controle do processo de trabalho, de valorização e reprodução do capital no interior das empresas e que recebem rendimentos elevados, ou ainda aqueles que, de posse de um capital acumulado, vivem da especulação de juros. Exclui também, em nosso entendimento, os pequenos empresários, a pequena burguesia urbana e rural proprietária (ANTUNES, 2003, p.104 e 2011, p.118). No Brasil, as atenções voltadas às novas formas de organização da produção su- cederam-se das mudanças do Governo Collor e na Gestão de Fernando Henrique Cardoso, com a modernização do parque industrial nacional ocasionado por mu- danças econômicas e políticas de 1990 a 2000 e, que trouxeram em seu bojo re- percussões da relação capital versus trabalho que adjudicam os fatores estruturais e conjunturais externos e internos de forma recíproca. Em 1990, foi iniciado a pri- vatização do setor produtivo estatal, a reforma administrativa e previdenciária, a desregulamentação financeira e a flexibilização do mercado de trabalho, sem falar nas políticas de atratividade de capital internacional frustradas (LARA, 2010). 51 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social De acordo com Carvalho (2013), na indústria houve uma expressiva redução dos pos- tos de trabalho. O que pode ter explicação a partir das mudanças pelas quais passou a economia brasileira na década de 90 como, o aumento das importações, a incorpo- ração de tecnologia na indústria, entre outros. Apesar da significativa perda de postos de trabalho na indústria, Pochmann (2001, p.56) afirma que “entre as décadas de 1980 e 1990, por exemplo, a economia brasileira perdeu perto de um milhão e meio de empregos no setor de manufatura”. De acordo com Lara (2010), a política de abertura comercial acirrou a competiti- vidade no mercado mundial, acirrando também a indústria nacional, ocasionando introdução de novas tecnologias poupadoras de força de trabalho e ocasionadoras de precarização do trabalho. A mundialização do capital originou a flexibilização crescente das relações trabalhistas e a perda de direitos sociais. 52 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social Antunes (2011, pp.106-109) assim sintetiza o momento que estamos vivendo: • Vemos a ampliação também do trabalho imaterial, comum nas esferas da comuni- cação, publicidade e marketing, próprias das sociedades dos logos, da marca, do simbólico, do involucral e do supérfluo. É o discurso empresarial da chamada socie- dade do conhecimento, que está presente no design da Nike, na concepção de um novo software, no modelo novo da Benetton e projetos de telefonia - nas chamadas tecnologias da informação e comunicação – “que são resultado do labor (imaterial) articulado e inserido no trabalho material, expressando novas formas contemporâ- neas de criação de valor”. • Os serviços públicos como saúde, energia, educação, telecomunicações, previdên- cia etc, em processo de reestruturação, subordinando-se à máxima mercadoriza- ção, afetando fortemente, os trabalhadores do setor estatal e público. • O resultado é a intensificação das formas de extração de trabalho (materiais e imateriais, corpóreas simbólicas). • Uma empresa concentrada pode ser substituída por pequenas unidades in- terligadas em rede com número reduzido de trabalhadores e produzindo ve- zes mais, com repercussões no plano organizativo, valorativo, subjetivo e ideo-político. • O trabalho estável tornando-se então informatizado, quase virtual muitas vezes, por contratos regulamentados, substituído pelas diversas formas de empreendedorismo, cooperativismo, trabalho voluntário ou atípico como apontava Vasapollo (2005) e Vasapollo e Arriola Palomares (2005). 53 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social • O exemplo das cooperativas, antes nascidas como instrumentos da classe operária para lutar contra o desemprego, hoje, contrariamente, os capitais vêm criando falsas cooperativas como forma de precarizar ainda mais os direitos dos trabalhadores, sob o mando da “flexibilização”, seja salarial, de horário, funcional ou organizativa. • Seguido pelo crescimento do chamado terceiro setor, assumindo uma moda- lidade alternativa de ocupação, através de organizações de perfil comunitário, motivadas sobretudo por formas de trabalho voluntário, com um leque de ativi- dades, com predominância de caráter assistencial, sem fins diretamente mer- cantis ou lucrativos e que se desenvolvem relativamente à margem do mercado. • Por fim, ampliou a composição heterogênea e multifacetada da classe traba- lhadora Brasileira, além das clivagens entre os trabalhadores estáveis e precá- rios, de gênero, dos cortes geracionais entre jovens e idosos, entre nacionais e imigrantes, brancos e negros, qualificados e desqualificados, entre nacionais e imigrantes, empregados e desempregados, temos ainda, a estratificação e fragmentações que se acentuam. 54 UNIDADE I - Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social • Nesse quadro, de precarização estrutural do trabalho, os capitais ainda exi- gem o desmonte da legislação social e protetora do trabalho – flexibilização da legislação social do trabalho, o que significa, sem nenhum ilusão, aumentar ainda mais os mecanismos de extração do sobretrabalho, ampliar as formas de precarização e destruição dos direitos sociais arduamente conquistados pela classe trabalhadora. Contrariamente às teses que advogam o fim do trabalho, estamos desafiados a compreender a nova polissemia do trabalho, ou, sua nova morfologia, isto, é, sua forma de ser, cujo elemento mais visível é seu desenho multifacetado, resultado das fortes mutações que abalaram o mundo produtivo. Para