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MANUAL DA METODOLOGIA Pesa Uma abordagem participativa DENISE REGINA GARRAFIEL FRANCISCO RILDO CARTAXO NOBRE JONATHAN DAIN 2 MANUAL DA METODOLOGIA Pesa Uma abordagem participativa PESACRE – Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do ACRE Rua Iracema, 8 – Conj. Village – 69914-390 – Rio Branco/AC Fone: (68) 223-3773 Fax: (68) 223-1724 Email: pesacre@ mdnet.com.br Autores Denise Regina Garrafiel Francisco Rildo Cartaxo Nobre Jonathan Dain Colaboradores Cleísa Brasil Cartaxo Ronei Sant’Ana de Meneses Peter Cronkleton Ilustração Brilhograf Fotos Acervo do PESACRE Agradecimentos Myriam Jacqueline Villarreal Isandra Regina Dávila dos Santos Reginaldo Silveira de Lima Equipe do PESACRE Agradecimentos Institucionais Universidade da Flórida – Centro de Estudos Latinoamericano Apoio Financeiro USAID (Agência Norte Americana para o Desenvolvimento Internacional) Qualquer parte deste Manual pode ser reproduzida ou adaptada sem permissão dos autores e do PESACRE, desde que citada a fonte. Rio Branco/1999 3 APRESENTAÇÃO O Grupo PESACRE, desde o sua fundação tem desenvolvido atividades com o enfoque comunitário e participativo, utilizando uma adaptação da Metodologia PESA, de pesquisa e extensão em sistemas agroflorestais. O contínuo processo de aprendizado na aplicação desta metodologia proporcionou uma reflexão e reconstrução de conceitos, por conseqüência a reformulação da metodologia, adequando-a às diversas situações e principalmente inserindo novos elementos. Esta nova versão, a Pesa tornou-se uma metodologia mais dinâmica, interativa e flexível, considerando também a multidiciplinaridade e a interinstitucionalidade, além da inclusão de ferramentas que possibilitaram um crescente envolvimento dos atores e/ou beneficiários na procura do empoderamento dos diferentes grupos de pequenos produtores rurais. Este manual é fruto do trabalho prático e reflexões do Grupo PESACRE, com a metodologia participativa denominada agora de Pesa. Esta publicação pretende ser apenas um instrumento na ação e está voltada para aquelas pessoas que buscam no seu trabalho de pesquisa e extensão um procedimento metodológico que garanta uma paticipação mais ativa dos envolvidos no processo de Conservação e Desenvolvimento. MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce 4 CAPÍTULO I 1. UMA BREVE HISTÓRIA DE METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS Segundo Robert Chambers (1992), um especialista em desenvolvimento rural, nos anos 50 e 60 os países industrializados pensavam que desenvolvimento rural era fácil, que eles tinham todas as soluções para os países não industrializados. Era só dispor de tecnologias “modernas” desenvolvidas na Europa e nos Estados Unidos da América e transferí-las para os produtores pobres que utilizassem técnicas “primitivas”. Não funcionou Daí técn icos e pesquisadores começaram a dar conta de que “desenvolvimento rural não é fácil de se fazer”. Numa tentativa de modificar a situação verificada e alcançar os resultados esperados, os técnicos começaram a fazer diagnósticos (levantamentos tradicionais) para “identificar as soluções corretas” para as áreas onde atuavam. Infelizmente a maioria destes diagnósticos não deu certo porque estes eram: a) Superficiais- os pesquisadores faziam observações pelas “janelas dos carros” sem realmente ver os campos; b) Onerosos- demandavam muito tempo para coletar e analisar as informações, aumentando, assim, os custos do trabalho; c) As informações eram incompletas ou inúteis- muitas vezes não se falava com os produtores, ou os mesmos não informavam à luz da verdade, ou ainda as informações levavam tanto tempo para serem coletadas e analisadas que, muitas vezes, não representavam mais a situação atual da comunidade. Além dos problemas com os diagnósticos, outros sérios problemas começaram a ser reconhecidos por estes “trabalhadores de desenvolvimento”. Por exemplo, apesar das novas tecnologias geradas e/ou introduzidas serem baseadas nos diagnósticos, estas não estavam sendo adotadas pelo público alvo. Avaliações mostraram que estas tecnologias não eram adotadas por não serem apropriadas às condições reais das populações de pequenos produtores. Geralmente, os especialistas não consideravam os fatores sócio-econômicos como, por exemplo, mão-de-obra, posse da terra, disponibilidade de recursos, meios de comercialização e outros. Para superar estes desafios, nos anos 70 e 80 especialistas na África, Ásia e América Latina desenvolveram novas metodologias de pesquisa e extensão com a preocupação de conhecer melhor os sistemas agrícolas, numa abordagem sistêmica e mais integrada. Não podemos deixar de mencionar que esta preocupação com pesquisas mais MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce 5 participativas voltadas para a ação teve influência de métodos utilizados nas ciências sociais, principalmente o enfoque pedagógico pregado e experimentado por Paulo Freire ainda na década de 60. No final da década de 70, a partir da experiência no Instituto de Ciências e Tecnologias Agrícolas (ICTA) da Guatemala, Hildebrand & Ruano (1979) desenvolveram a metodologia de "Farming Systems Research and Extension" –FSRE, que em português seria conhecida por Pesquisa e Extensão em Sistemas Agrícolas. O Centro Internacional de Investigação Agroflorestal (ICRAF) - partindo do presuposto que a FSRE se concentrava demais nas culturas anuais em detrimento de uma visão mais ampla de sistemas de uso da terra, respondeu com o desenvolvimento de uma metodologia específica para o desenvolvimento de sistemas agroflorestais, mas baseando-se na anterior. Esta metodologia ficou conhecida como Diagnostic and Design - D&D (Diagnóstico e Desenho). Neste mesmo período várias outras experiências estavam ocorrendo e na década de 80 surgem as primeiras publicações com novos métodos de diagnósticos como DRR (Diagnóstico Rural Rápido) e DRP (Diagnóstico Rural Participativo, uma derivação do DRR), AEA (Análise de Sistemas Agroecológicos), entre outras. Estas métodos incluíram como instrumento fundamental, técnicas de diagnósticos que consideram o “conhecimento local” e que são rápidas, integradas e relativamente baratas ( HILDEBRAND, 1986). As vantagens destes diagnósticos permitem que a aprendizagem progressiva seja flexiva, exploratória, interativa e inventiva, além de permitir mudanças de rumo necessárias (aprender junto com as populações rurais, descobrir e usar os seus critérios e categorias, e encontrar, entender e apreciar conhecimento técnico local), averiguando não mais do que o necessário , mas utilizando diferentes técnicas, fontes e disciplinas, junto com o uso de uma variedade de informantes, numa grande variedade de lugares, permitindo um controle cruzado de informações para chegar mais perto da situação real (CHAMBERS, 1992). Os DRRs, a FSRE e outros métodos nesta linha se mostraram muito eficazes no que se refere à melhoria da qualidade das informações adquiridase a rapidez com que eram coletadas, analisadas e utilizadas. Também tem contribuído para aumentar, até certo ponto, o sucesso da geração e da introdução de novas tecnologias. Porém, nos anos 80, enquanto estas metodologias estiveram se desdobrando, um “novo” conceito começou a ter mais atenção. A idéia era simples e lógica: dever- se-ia reconhecer que os pequenos produtores têm um conhecimento profundo da situação que os rodeiam, do meio ambiente e de suas MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce 6 necessidades e, por isso, eles precisam ser incluídos em todos os aspectos de qualquer programa destinado a ajudá-los. A justificativa se baseia no fato de que: - O ponto de vista dos produtores precisa ser incluído em qualquer processo de decisão para assegurar que esta será uma decisão apropriada para eles. - Se eles participam de todos os aspectos do projeto, também se sentirão mais comprometidos, mais dispostos a confiar nos técnicos, e mais dispostos a esperar um retorno que pode levar anos para se manifestar; - Um dos objetivos de qualquer iniciativa deve ser a eventual auto- gestão do projeto pela família ou comunidade. A auto-gestão se torna possível somente quando as famílias sabem por que e como o projeto foi desenvolvido; - As famílias e/ou comunidade devem também aprender a partir dos diagnósticos, não só os técnicos, extensionistas e pesquisadores. A informação é muito importante para todos (CHAMBERS, 1992). Com base nestas idéias, muitas instituições começaram a incorporar as comunidades como parte das equipes nos diagnósticos e como parceiras nas discussões e avaliações dos dados levantados. Os resultados deste novo modelo têm comprovado que, embora mais complicados de organizar e realizar, os diagnósticos participativos melhoram os projetos que os seguem ( ROCHELEAU, 1993). A Metodologia PESA chega ao Brasil já incorporando a análise do sistema agroflorestal e ficou conhecida como Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais, na qual foi adotada pelo PESACRE, instituição não governamental do ACRE. Em resumo, pode-se ver que as metodologias de diagnóstico e desenho (Desenho, Implementação, Monitoramento & Avaliação, etc.) são dinâmicas e acrescentam à sua praxis novas idéias e conceitos com regularidade. Originalmente eram sumamente bio-técnicas, faltando uma abordagem sócio-econômica. Estas metodologias foram sendo modificadas pouco a pouco, incluindo a participação passiva (entrevistas com produtores, a maioria homens ) e métodos informais e rápidos. Outros aspectos incorporados durante os últimos 20 anos incluem considerações sobre o meio ambiente e florestas, culturas perenes em geral, fauna, saúde, comercialização e aspectos de gênero (tratando mulheres, crianças e idosos também como atores importantes no processo de desenvolvimento). A idéia da participação ativa do público-alvo foi mais um melhoramento nas metodologias de diagnóstico e desenho e, com certeza, o futuro se encarregará de incorporar outros. MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce 7 CAPÍTULO II Da PESA à Pesa A metodologia FSRE ao chegar no Brasil, já havia adotado os elementos do D&D no que se refere a análise mais ampla dos sistemas de produção, inclusive os sistemas agroflorestais, e ficou conhecida como Pesquisa e Extensão em Sistema Agroflorestais – PESA. Em 1988 e 1989, um grupo de técnicos de instituições governamentais e não-governamentais fizeram dois cursos sobre a metodologia PESA, culminando, um ano mais tarde, com a decisão de criar o Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre - PESACRE, adotando esta metodologia como a chave para superar problemas das mais diferentes ordens, inclusive administrativos, financeiros e técnicos. A partir de 1990, o PESACRE desenvolveu trabalhos junto a populações de seringueiros, colonos e indígenas tendo como base a metodologia PESA ao tempo em que se ia promovendo uma série de mudanças e adaptações no método, considerando a realidade da parte mais ocidental da Amazônia, mais especificamente o Estado do Acre. Esta experiência levou ao desenvolvimento de um enfoque participativo que tem permitido um envolvimento cada vez maior da população, garantindo a esta o papel de atores ativos, num processo permanente de busca da auto-gestão dos seus recursos e favorecido um aprendizado constante do corpo técnico. Um dos resultados mais relevantes deste processo foi a reconstrução da metodologia per se, via a inclusão de novos conceitos à PESA, transformando-a na metodologia participativa Pesa. Esta metodologia permite que técnicos, pesquisadores e extensionistas, tenham uma nova visão de seu trabalho e melhorem sua atuação com maior eficiência e eficácia, aliado ao fato de que encontram na comunidade os parceiros para compartilhar experiências. 1. Visão da Pesa A Pesa tem como atributos principais: - MICRO-ORIENTAÇÃO – Ela é centrada nas populações com as quais se se propõe a trabalhar. A mais importante característica está relacionada ao forte senso de comunidade desenvolvido pela equipe do PESACRE e as famílias envolvidas nos programas e atividades agroflorestais; MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce 8 - UMA ABORDAGEM INTEGRAL – A propriedade é vista como um sistema integrado e interligado de elementos biofísicos e sócio- econômicos, ou seja, não se pode analisar um elemento da propriedade, humano ou ambiental, independente dos outros elementos. É também reconhecido que o sistema contém subsistemas que são interligados (culturas anuais, culturas perenes, pequenos animais, etc.); - UMA PERSPECTIVA DINÂMICA, INTERATIVA E BUSCA SOLUCIONAR PROBLEMAS – Depois de identificar as limitações das famílias/sistemas, desenvolvem-se tecnologias para enfrentar estas limitações, sejam técnicas, biológicas ou sócio -econômicas. As tecnologias são avaliadas/testadas pelas famílias e ajustadas até o limite de se integrarem ao sistema; - MULTIDISCIPLINAR E INTERINSTITUCIONAL – Para realmente buscar solucionar as limitações de um sistema muito complexo, é preciso ter especialistas de várias disciplinas dentro da área biofísica e sócio-econômica (agrônomos, florestais, entomólogos, antropólogos, sociólogos, economistas, educadores, enfermeiras, etc.). Só o conjunto dos conhecimentos destes e das famílias produtoras garantirá uma ação apropriada às condições locais. A interinstitucionalidade é também fundamental na Pesa para assegurar que um projeto não fique susceptível a mudanças políticas ou limitado por problemas financeiros de uma instituição, permitindo a continuidade dos trabalhos até que se alcance a auto-gestão da comunidade; - COMPLEMENTA AS PESQUISAS BÁSICAS, NÃO AS SUBSTITUI – serve para guiar estas pesquisas e estabelecer prioridades. Também serve para adaptar as tecnologias desenvolvidas às realidades biofísicas e sócio-econômicas do pequeno produtor, assim, complementando a pesquisa básica; - RECONHECE A ESPECIFICIDADE DOS FATORES TÉCNICOS E HUMANOS LOCAIS – Para possibilitar que os projetos de pesquisa e extensãosejam eficientes e apropriados, as limitações são agrupadas e priorizadas por ordem de importância, para que os problemas mais graves sejam abordados de maneira mais urgente e os de soluções mais fáceis não sejam ignorados; MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce 9 - AVALIA AS TECNOLOGIAS POR MEIOS DE ENSAIOS NAS UNIDADES PRODUTIVAS – Realizar pesquisas ao nível da unidade produtiva, permite que todos os membros das famílias participem ativamente da gestão dos recursos e assegura que os fatores sócio- econômicos sejam avaliados do seu ponto de vista. O (a) pesquisador(a) pode levar uma equipe técnica para fazer a pesquisa no campo do produtor, mas a própria família deverá participar do desenho, da escolha da área, do teste e da avaliação das tecnologias. A pesquisa na unidade produtiva facilita, assim, a extensão, a transferência e a adoção de tecnologias; - FORNECE UM CANAL DE “FEEDBACK” – A Pesa facilita a comunicação constante e contínua entre pesquisador, extensionista e famílias permitindo flexibilidade e mudanças nos objetivos, análise das necessidades, estudos de prioridades e limitações e estabelecimento de critérios de avaliação das famílias; - NÃO SEPARA A PESQUISA DA EXTENSÃO – Pesquisadores, extensionistas e produtores têm habilidades e conhecimentos fundamentais para realização bem sucedida de um projeto agroflorestal e de gestão dos recursos naturais. Ao mesmo tempo, é importante que cada um reconheça o valor do trabalho que o outro está desenvolvendo. Na Pesa, os pesquisadores e extensionistas trabalham juntos no diagnóstico, planejamento, pesquisa, avaliação e difusão, com parceria junto a pessoas da comunidade que estão envolvidas na atividade que está sendo realizada. A família do pequeno produtor e/ou a comunidade é que deve direcionar o projeto. Nem o pesquisador e nem o extensionista "mandam" no projeto, é uma responsabilidade compartilhada entre os diferentes grupos de interesse; - ENALTECE OS ASPECTOS SOCIAIS DAS INICIATIVAS - Integra à pesquisa e à extensão os aspectos sociais que afetam o desenvolvimento do trabalho, o que vai contribuir para o fortalecimento do processo de auto-gestão da comunidade; MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce 10 2. Fases da Pesa A Pesa consiste de um conjunto de ações participativas de Conservação & Desenvolvimento montado sobre cinco fases distintas, porém interligadas. Posto que se trata de um processo dinâmico, a Pesa não termina ao chegar à quinta fase, mas retorna para a primeira, segunda, terceira ou quarta dependendo da necessidade. As cinco fases são apresentadas brevemente aqui, sem esquecer de considerar que, em todas elas, as questões de gênero e os princípios de Conservação & Desenvolvimento são interligados. - 1. IDENTIFICAÇÃO DA COMUNIDADE - Partindo do princípio que se está tratando de uma comunidade desconhecida para as equipes técnicas, é importante manter contatos preliminares com a mesma e entidades representativas das populações que habitam aquele domínio, além de recorrer ao levantamento de algumas informações secundárias que permitam o reconhecimento do local e da comunidade para subsidiar a construção de um futuro diagnóstico. - 2. DIAGNÓSTICO – A fase do diagnóstico é possivelmente a fase mais importante, posto que é a base para todas as demais atividades preconizadas pela metodologia. Na metodologia Pesa, o diagnóstico é conhecido como “SONDEIO” e permite uma análise participativa da DIAGNÓSTICO - SONDEIO - PLANEJAMENTO OU FORMULAÇÃO DO PROJETO IMPLEMENTAÇÃO/ MONITORAMENTO & AVALIAÇÃO RECOMENDAÇÃO E/OU DISSEMINAÇÃO IDENTIFICAÇÃO DA COMUNIDADE MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce 11 realidade, limitações e necessidades dos pequenos produtores. - 3. FORMULAÇÃO DO PROJETO OU PLANEJAMENTO – Nesta fase, são identificadas possíveis soluções para os problemas e limitações encontradas no SONDEIO junto com a comunidade. A idéia é que, nesta fase, experiências e tecnologias bem-sucedidas possam ser selecionadas de acordo com os problemas levantados, repeitando-se o grau de dificuldade e o potencial de resposta das soluções apontadas. Ao mesmo tempo, estudos e pesquisas podem ser elaborados visando entender melhor as causas dos problemas, diante das situações encontradas, e apontar os meios adequados para que a comunidade possa sobrepassá-los. Aqui, é também importante a definição dos mecanismos de Monitoramento & Avaliação. - 4. IMPLEMENTAÇÃO & AVALIAÇÃO – Nesta fase, tecnologias ou soluções para os problemas identificados são testadas e trabalhadas nas unidades produtivas. Podem ser ensaios dirigidos pelos pesquisadores, mas realizados pelas famílias produtoras, ou ensaios das próprias famílias. É nesta fase que as equipes contribuem para o entendimento das famílias e/ou comunidades do que consiste uma pesquisa, para que serve e como é feita. O processo de desenvolvimento de pesquisa nas unidades produtivas assegura que as tecnologias agroflorestais e/ou de manejo sejam apropriadas aos sistemas para os quais foram indicadas. Se a tecnologia que está sendo testada não oferece a solução esperada, os participantes do projeto voltam para fase três (formulação/planejamento). - 5. RECOMENDAÇÃO E/OU DISSEMINAÇÃO - A última fase da Pesa consta de levar uma tecnologia que deu certo para outras comunidades ou famílias com problemas e circunstâncias semelhantes, considerando o mesmo processo apresentado anteriormente. É nesta etapa que se analisa o potencial de tal tecnologia para recomendá-la como uma política pública. MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce 12 CAPÍTULO III AS FASES DA Pesa NOS SEUS DETALHES 1. IDENTIFICAÇÃO DA COMUNIDADE O PESACRE, através da Pesa, tem buscado integrar todos os parâmetros anteriormente mencionados quando desenvolvendo suas atividades. Quando não se tem um conhecimento prévio da comunidade, é importante: a) Manter contatos preliminares: inicialmente os contatos ficam a nível de uma entidade representativa de comunidades (associações, sindicatos, caixas agrícolas, cooperativas, grupos de trabalhadores[as]), inclusive no caso das pesquisas. Esta etapa é realizada com objetivo de identificar a área de trabalho. Com este objetivo, a Pesa é apresentada, além de promover uma primeira demonstração dos objetivos e metas do PESACRE e sua equipe. Visando aumentar as possibilidades de respostas e efetivamente implementar a Pesa, é necessário que a comunidade esteja organizada a um certo nível. Três critérios básicos devem ser observados quando definindo a seleção da comunidade: 1) acesso possível durante todo o ano; 2) existência de grupos organizados, demaneira formal ou informal; e 3) padrões de envolvimento com outras instituições que ainda não tenham transformado a comunidade em objetos de man ipulação, política ou técnica, ou mesmo sob estas influências apresentem interesse em mudanças. Este último critério se constitui em um dos maiores desafios enfrentados pela Pesa. Por um lado, existe a necessidade de encorajar as populações a perceber a importância e essencialidade de trabalhos em grupo ou mutirões e esforços comunitários ao invés da adoção de ações paternalistas das tradicionais agências de desenvolvimento. Por outro lado, a Pesa facilita o reconhecimento que as comunidades são heterogêneas, com marcantes diferenças e conflitos internos, e a promoção de trabalhos em grupo em todas as fases do projeto ou programa não é sempre a melhor forma de intervenção (Nobre et al., 1999). MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce 13 b) Manter contatos com a comunidade envolvida: Com o objetivo de manter uma comunicação real entre as partes, é importante não somente considerar a comunidade ou famílias como meros espectadores ou informantes, mas, de fato, tê-los como participantes e, assim, deve-se explicar as razões para o trabalho, apresentando os passos a serem seguidos. Desta forma pretende-se demonstrar sua importância em todo o processo, ao tempo em que se identifica o interesse da comunidade ou das famílias pela intervenção na área. c) Contatos institucionais: com vistas a um reconhecimento expedito da área e/ou da comunidade, pode-se lançar mão de instrumentos (mapas, gráficos, figuras, fotos, relatórios, vídeos) que foram anteriormente coletados. Quando se quer dados referentes à agropecuária, recomenda- se uma consulta junto ao centros regionais de pesquisa e de assistência técnica (p.ex.: EMBRAPA, EMATER); quando o assunto é questão fundiária, deve-se procurar entidades e órgãos que trabalham com reforma agrária (p.ex.: CPT, INCRA); se a idéia básica está centrada no atendimento do serviço público, vale a pena buscar referências nas instituições do setor (p.ex.: saúde = Fundação Nacional de Saúde, Secretarias e Conselhos Estaduais e Municipais; educação = Universidades, Secretarias de Governo, ONGs; transporte = Departamento de Estradas; etc.). MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce 14 2. DIAGNÓSTICO 2.1. POR QUE FAZER UM DIAGNÓSTICO? O propósito de um diagnóstico é conhecer a realidade de um lugar ou uma situação. Não adianta começar um projeto ou programa sem entender muito bem as condições da área e da população com que se vai trabalhar. Sem o conhecimento da realidade, certamente vai se ter problemas desnecessários, perdendo dinheiro, tempo e, principalmente, a confiança desta população, o que inexoravelmente acarreta em fracasso. 2.2. PARA QUE FAZER UM DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO? Um diagnóstico tradicional consiste de um levantamento levado a efeito por uma pessoa que o faz para atender suas particulares necessidades ou interesses, ou seja, ela coleta dados para ela mesma. É uma tentativa de levantar dados que respeita o seu ponto de vista. No final do diagnóstico a pessoa que faz o levantamento tem aprendido muitas coisas, mas e os entrevistados? E os membros da comunidade? Geralmente eles foram participantes passivos no processo, só servindo como fonte de informação. Eles mesmos não aproveitaram, não aprenderem nada do processo. Se o projeto é para os pequenos produtores, se o objetivo é melhorar a vida deles, se o projeto prevê o seu envolvimento, e se o projeto realmente É DELES, os produtores devem participar ativamente em todas as fases, INCLUINDO o diagnóstico. Se os produtores participam do diagnóstico, a equipe técnica também vai aprender coisas novas porque estas serão originadas a partir do ponto de vista dos produtores. Além disso, eles se sentem parte do projeto desde o início, facilitando o seu compromisso em contribuir para o alcance das metas estabelecidas, pois estas também foram estabelecidas pela comunidade. Embora represente maior grau de dificuldade, a participação dos produtores no diagnóstico e no desenho do projeto favorece a redução dos riscos de erros e a possibilidade do sucesso só tende a aumentar. MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce 15 2.3. ESCOLHA DO MÉTODO O método mais apropriado para um levantamento de informações acerca de uma área, de uma comunidade ou de famílias, deve levar em consideração os aspectos estruturais do diagnóstico e seus objetivos. Normalmente, há mais de uma maneira de obter uma informação específica. Deve-se perguntar: qual o método mais adequado diante das necessidades e circunstâncias que o cercam? Três aspectos são essenciais para uma tomada de decisão a este respeito: a) Recursos disponíveis – não é sensato realizar uma sondagem formal, longa e complexa, se não houver condições estruturais para tal, como disponibilidade de instalações informáticas e/ou de pessoal treinado para auxiliar na tabulação e análise de resultados; b) Disponibilidade de tempo – não é de bom senso realizar um levantamento formal, longo e complexo, quando se verifica a necessidade de obter informações ou respostas num curto espaço de tempo; c) Natureza da informação ou razão para coleta de informação – a informação qualitativa, ou seja, a relativa a opiniões, atitudes e valores sócio-culturais do público pesquisado, é normalmente melhor explorada em diagnósticos informais. Já a informação quantitativa, ou seja, aquela que é relativa a quantidades e características mensuráveis, é freqüentemente melhor analisada por meio de diagnósticos formais. Considerando a experiência do PESACRE, o SONDEIO demonstrou ser um método de diagnóstico que acentua a participação das comunidades ou famílias permitindo a obtenção de informações, principalmente qualitativa, mais próxima da realidade e inicia um processo de aprendizagem dos técnicos e comunidades. 2.4. SONDEIO q Origem: O sondeio ( do espanhol “Sondeo”) é uma técnica de diagnóstico rápido, desenvolvida pelo Instituto de Ciências e Tecnologia Agrícola da Guatemala ( ITA ) como resposta a restrições orçamentárias e de outras metodologias usadas, e à necessidade de redução de tempo, para aumentar a informação numa região onde a geração de tecnologia não foi iniciada. MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce 16 q Objetivos do sondeio: a função do sondeio é o levantamento e análise da região de trabalho, a identificação dos problemas, limitações e soluções da comunidade, e a familiarização dos técnicos com a área e a comunidade em que irão desenvolver o trabalho. Como não é baseado em levantamento e análise de dados quantitativos, o sondeio pode ser conduzido rapidamente. Não são usados questionários por isso as famílias de produtores são entrevistadas de maneira informal, o que não as inibe. Ao mesmo tempo, a equipe multidisciplinar que conduz a entrevista ajuda a processar informações de pontos de vista diferentes e/ou antagônicos, simultaneamente. A contribuição de cada disciplina é crítica em todo o processo do sondeio, porque a equipe não sabe “a priori” que tipos de problemas ou limitaçõesserão detectados. Quanto maior for a participação das famílias produtoras e o número de disciplinas envolvidas, maior é a probabilidade de se encontrar os fatores positivos e negativos realmente mais importantes para região. q Limitações do sondeio: ao optar por este método temos que ter claro algumas limitações como a perda de informações, o elevado grau de dificuldade em comunidades muito dispersas e insuficiência de informações quantitativas. q Duração de um sondeio: dependendo do tamanho, complexidade e situação de acesso da área e do número de equipes, o sondeio poderá ser completado em até 10 dias com um custo mínimo. 2.5. ETAPAS DO SONDEIO Partindo do pressuposto de que o método SONDEIO corresponde às possibilidades da equipe de pesquisa e da comunidade, necessário se faz adotar os seguintes passos para a efetivação dos trabalhos: 2.5.1. Conversas com a comunidade Consiste de discussões prévias com lideranças ou com antigos membros da comunidade que guardam a história oral de períodos passados e conhecem as atuais tendências do meio e da população, seja no tocante a produção agrícola, seja na organização social e política, ou ainda acerca de outros aspectos. Desta maneira é possível se certificar do atual estágio de desenvolvimento da área em tela, o que poderá tornar o futuro levantamento mais eficaz na medida em que se elabora as MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce MIGUEL ANGEL CH P Realce 17 questões-chaves, sem se correr o risco de comprometer o diagnóstico com questões que deve ser evitadas, muitas vezes até por razões culturais. Nestas conversas monta-se o planejamento do sondeio. 2.5.2. Escolha dos instrumentos de coleta de dados Para facilitar uma maior participação da família, é importante o uso de instrumentos que permitam um maior envolvimento da mesma durante a entrevista. Poderão ser utilizados um ou mais instrumentos informais adaptando-os às diversas situações (mapas da unidade produtiva com a identificação de quem desenvolve as atividade; transectos da unidade com identificação das características ambientais; flanelógrafos para construção de relações ou sonhos da família. etc.) 2.5.3 Preparação da equipe A constituição da equipe é determinada pela disponibilidade de recursos e pelo contexto do diagnóstico. Faz-se necessário considerar algumas situações, como se segue: q Tamanho da equipe: este varia de acordo com o objetivo do projeto e com a complexidade do ambiente e condições sócio-econômicas. Um número adequado se situa em torno de 8 e 9, porque pode-se dividi-los em 4 ou 3 equipes menores de 2 ou 3 membros cada; q A equipe deve ter um caráter multidisciplinar. Dessa forma cada disciplina contribui com uma perspectiva própria para a análise dos problemas e das soluções propostas. Uma boa composição de disciplina incluirá economistas rurais, cientistas sociais e ambientais, agrônomos e outros. O ideal é reunir um cientista social a um economista e a um cientista natural (agrônomo, biólogo) por equipe menor. Cada uma deve contar com a presença de uma entrevistadora, de forma a assegurar que as produtoras sejam entrevistadas, especialmente em situações nas quais não é permitido ao pesquisador masculino entrevistar as mulheres da família; q A equipe menor pode ser reforçada por um produtor local de preferência que este produtor não seja um líder, já que a sua presença pode levar à distorção de uma informação, mas pessoas que possam contribuir na coleta de informações descomprometidas sobre o meio e orientar os deslocamentos. MIGUEL ANGEL CH P Realce 18 Após a escolha da equipe é importante prepará-la para as entrevistas, principalmente no uso dos instrumentos. 2.5.4. A entrevista q Roteiro: é importante a equipe elaborar um roteiro para entrevista antes de partir para o campo. Essa medida visa orientar a conversa com a família entrevistada, evitando paralelismo de assuntos que tornam a entrevista um caos de comunicação, e auxilia a aprofundar a discussão sobre determinados aspectos julgados interessantes, que poderiam ser esquecidos. Porém, para não correr o risco de transformar o roteiro em um questionário, a equipe deve levar em conta as seguintes considerações: a) Utilizar fontes de informações secundárias : reunir os dados coletados na fase de pré-diagnóstico, relatórios anteriores, entrevistas com extensionistas e pesquisadores que já atuam na área, sondeios anteriores; b) A equipe começa a se integrar quando verifica que chegou a um consenso em relação a todos os assuntos incluídos no roteiro . Este processo é resultado da contribuição de cada membro com opiniões de particular relevância para sua disciplina; c) O roteiro deve ser testado antes da saída para o campo, visando assegurar que cada assunto será tratado na entrevista e até como forma de garantir uma abordagem correta, sem constrangimentos para ambas as partes, sobre os temas mais sensíveis. q Constrangimentos da entrevista: antes de sair para o campo a equipe deve estar ciente de possíveis falhas humanas. Há que procurar evitá-las para que a família do produtor fique à vontade. Neste 19 sentido alguns procedimentos devem ser exercitados, tais como: · Apresentar-se bem,explicar por que está-se fazendo a entrevista; · Não usar linguagem técnica e complicada; · Perguntar se a hora é oportuna para a entrevista; · Programar para chegar em hora apropriada; · Pedir licença para tirar fotos; · Evitar chegar comendo ou bebendo água que foi levada; · Não interromper o(a) entrevistado(a) e nem os outros · entrevistadores; · Não discordar/contestar as respostas dos entrevistados; · Cuidados para não ignorar mulheres e crianças; · Evitar perguntas que induzem as respostas; · Não criticar aspectos da vida dos entrevistados; · Evitar o uso de comportamento (linguagem de corpo) impróprio; · Evitar mostrar enfado ou impaciência; · Evitar conselhos às famílias, anotar para posterior providência; · Não pedir frutas ou outras coisas para levar consigo; q Seleção dos entrevistados: Após formadas as equipes, estas deverão entrevistar várias famílias de produtores por toda a área de estudo. É mais prático, freqüentemente, utilizar métodos aleatórios, informais, para escolha da família. Tais como decidir visitar a quarta propriedade à direita num caminho escolhido. As equipes poderão também querer entrevistar, propositadamente, algumas famílias com características particulares, como produtoras de determinadas culturas ou que desenvolvem certas técnicas. Há casos em que as equipes poderão entrevistar toda a comunidade. Independente da seleção das famílias, é sempre aconselhável os membros das equipes entrevistarem pessoas que interatuam com freqüência com estas (comerciantes, professores, extensionistas, agentes de saúde, etc. ), com o fim de se ter ampliada a visão da comunidade. q Entrevistar a família: devem ser feitos todos os esforços para entrevistar a família, e não somente o homem como geralmente se faz. As mulheres são responsáveis por enorme parcela da mão-de- obra produtiva da unidade familiar. Se possível, além do homem e da mulher as equipes devem reunir-se inclusive na presença das crianças e jovens e dos agregados (parentes ou não). q Local da entrevista: as entrevistas devem ser conduzidas na área pertencente à família. Preferencialmente nos locais sobre os quais MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight 20 está-se fazendo perguntas (casa, roçados,açude, curral, pomar, etc.) como meio de obter respostas e opiniões específicas do entrevistado. Além disso, os entrevistadores inspirarão maior confiança às famílias se percorrerem as suas propriedades. q Número de entrevistas por dia: Como este tipo de diagnóstico não recomenda-se o uso de questionário, a observação pessoal e outros instrumentos informais pode ser um dos melhores meios de coleta de dados. Isto posto, é preciso considerar que os membros deverão está atentos para perceber dia a dia das famílias, que é muito rica em detalhes. Além de bons observadores, os membros das equipes devem estar descansados mental e fisicamente para observar, e não esquecer o grande volume de informações que está sendo repassado pelos entrevistados e para percorrer os locais de interesse de levantamento. Em vista desta característica, recomenda-se o máximo de duas entrevista diárias, e cerca de duas horas de conversa cada, de preferência no período da manhã. Uma terceira entrevista pode ser feita, desde que não se tenha a necessidade de riqueza de detalhes ou de muita profundidade. q Registro da entrevista: após ter completado a entrevista, a equipe deve procurar um local adequado para registrar as informações colhidas. Outra forma de registro é através dos instrumentos informais que foram construídos durante as entrevistas. q Elementos importantes nas entrevistas : Ao final do dia, a equipe geral se reúne para processar as informações, em local apropriado. Cada membro da equipe apresenta suas impressões iniciais observadas durante a visita e todo o grupo de entrevistadores discute, dando início ao processo de análise da situação da área. Durante a discussão, cada membro da equipe observa como as interpretações dos outros podem ser importantes na compreensão de problemas ou da cultura das famílias da região. As dúvidas ou hipóteses levantadas no decorrer da discussão irão servir como base para as sessões de entrevistes seguintes. Depois desta troca de idéias, as equipes são alteras, ou seja, forma-se equipes com membro diferentes procedendo-se este rodízio todos os dias do sondeio, para maximizar a interação disciplinar e minimizar os preconceitos dos entrevistadores. Isto facilita ao intercâmbio de idéias e ajuda a estabelecer uma melhor comunicação entre os membro da equipe geral. Este processo continua pelos dias MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight 21 seguintes, desta maneira, os tópicos de maior interesse podem ser melhor explorados. Encerradas as entrevistas começa a análise. Todos devem trabalhar no mesmo local, apenas separados por assunto, para que possam circular e debater livremente uns com os outros. A medida em que as equipes trabalham, invariavelmente irão encontrar pontos para os quais ninguém tem resposta. A melhor solução é destacar a dúvida e apresentá-lo na discussão com a comunidade 2.6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Um outro passo importante a ser considerado quando coletamos dados, é a fase de discussão dos resultados. Esta discussão com a comunidade se reveste da maior importância para que as soluções possíveis sejam dirigidas realmente a problemas prioritários das famílias. A análise e interpretação dos entrevistados soa como uma validação de todo o processo, uma vez que o sucesso do trabalho futuro, seja pesquisa e/ou extensão, depende da participação efetiva do público beneficiado. Neste momento não podemos esquecer de considerar alguns pontos importantes já levantados anteriormente: · O uso de instrumentos (privilegiando os visuais) que permitam prender a atenção, facilitar um melhor entendimento dos pontos a serem apresentados, dar maior segurança a comunidade; · Utilização de linguagem simples, de fácil compreensão; · Considerar a heterogeneidade do grupo trabalhado (associação/ comunidade...); · Facilitar a participação dos diferentes grupos de interesse, inclusive por gênero; · Colocando-se na postura de facilitador do processo. A discussão permite uma análise por parte dos envolvidos no processo, contribui para a reflexão dos problemas e a definição dos principais problemas que o grupo deseja trabalhar. Necessário se faz observar que a análise das recomendações/conclusões das equipes pode não ser a mais correta para aquele momento e/ou situação, daí a necessidade de uma reflexão por parte do grupo envolvido, inclusive acrescentando novos elementos e/ou modificando outros. As modificações que ocorrerem devem fazer parte do relatório final que servirá de base para a montagem do planejamento. MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight 22 2.5.1. Elaboração do relatório O relatório é um produto do Sondeio que não determina o final dos trabalhos. Recomenda-se o uso de linguagem acessível ao grupo que irá se utilizar dos resultados, inclusão dos instrumentos trabalhados e um formato adequado a cada situação. Um relatório mais simples pode ter uma introdução, a descrição dos procedimentos metodológicos, os resultados obtidos, a discussão e análise destes resultados e a conclusão, sendo que ao final deve-se acrescentar os anexos que se fizerem necessários. 3. FORMULAÇÃO DO PROJETO OU PLANEJAMENTO No mesmo dia da discussão do relatório ou em outro momento dar- se-á início ao planejamento das ações. As atividades do programa não podem ser definidas isoladamente por técnicos, como se fosse uma receita médica para os males da comunidade, sob o risco de perder a oportunidade de efetivação da mais importante parceria: comunidade-técnicos. Mesmo que a primeira não tenha experiência em planejar, certamente tem a capacidade de julgar quais as ações iniciais têm a possibilidade de garantir o sucesso do plano por inteiro. Segundo Bunch (1985 ), são numerosas as razões a favor da participação da comunidade no planejamento de um programa. Primeiro, o entusiasmo, a força impulsora do desenvolvimento, será muito maior e as pessoas sentem que o programa lhes pertence, que elas têm participado em seu planejamento e formação. Segundo, a medida que as famílias contribuem para a decisão do programa, se sentirão comprometidas em lutar para que este tenha êxito. Terceiro, a participação da comunidade combaterá toda classe de suspeitas sobre programa e ajudará a que as pessoas valorizem a complexidade do trabalho de um bom programa agrícola. Quarto, planejar um programa com orçamento de $ 20,000 anuais, por exemplo, pode trazer um sentido de confiança e auto-estima a quem nunca havia manejado mais do que uns poucos dólares. Em quinto lugar, as pessoas da comunidade têm que participar do planejamento porque elas, mais que qualquer outra, conhecem as condições de suas áreas e os sentimentos dos que vivem ali. Tem-se que desmistificar que os profissionais têm a resposta para todas as perguntas e solução de todos os problemas. Qualquer programa que não está aproveitando os conhecimentos da comunidade, desde o planejamento, está, até certo ponto, dando passos de cego, completa Bunch. MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight 23 Assim sendo, no tópico de discussão dos resultados referente a problemas e recomendações, a discussão deve ser mais apurada, pois é a partir da definição das soluções que se inicia o planejamento do trabalhos futuros. Neste momento todos devem contribuir para priorizar as ações que fundamentarão as linhas de trabalho, sejam de pesquisa ou extensão. Antes, porém, de ordenar os problemas prioritários, cabe uma análise profunda sobre cada recomendação, considerando a importância dasatividades para as famílias e a factibilidade, que por sua vez inclui uma avaliação dos fatores internos ( mão-de-obra, baixo nível tecnológico, falta de recursos financeiros e de insumos, etc.) e externos ( situação orçamentária de órgãos de públicos, situação fundiária, vias de transporte, políticas de preço, crédito, et.) que podem influenciar a concretização de futuras ações. Obviamente que nem todas as limitações serão eliminadas ou mesmo minimizadas pela ação conjunta das equipes e comunidade. Principalmente aquelas que se relacionam, com políticas externas à comunidade, ou que dependam da atuação de uma instituição especializada em determinado serviço ( saúde, estrada, educação, etc.) ou de setor público. Mesmo assim, a equipe técnica, quando pode, deve funcionar como um elo de ligação necessária entre a comunidade e círculos políticos. QUADRO 1: Exemplo de análise e priorização de recomendações Observação: após organizar as recomendações no mural, todo grupo discutirá cada uma, aplicando um número ou símbolo que identifique aquela de prioridade 1, 2, 3,...,n. Incremento da produção Cursos e Treinamentos Implant. de um Prog. de educ. ambiental Gênero e Saúde Estimular a instalação de hortas caseiras Curso de produção de mudas Orientar o uso de fontes de água Realizar atividades que envolvam as Vacinar os animais Curso sobre administração Estimular o uso de produtos florestais Reparo do posto de saúde Orientar quanto a armazenagem de sementes e grãos Curso sobre comercialização. Orientar o uso de agrotóxicos 24 De uma forma geral, é recomendável usar de flexibilidade no planejamento, visando assegurar participação crescente das pessoas da comunidade, e adotar os seguintes procedimentos: q Identificar oportunidades de trabalho, definindo os objetivos; as metas; as fontes de recursos; estimativas das necessidades, de custo de tempo; e a coordenação e o pessoal de execução; q Identificar e classificar parcerias, segundo os critérios de Positiva- Neutra-Negativa; q Definir estratégia de ação, determinando as táticas para alcançá-las; q Elaborar cronograma de atividades; q Definir um programa de monitoramento e avaliação. 3.1. FORMULANDO OBJETIVOS Na formulação dos objetivos considerar alguns aspectos chaves: frases simples e curtas; o tempo do verbo- descrever condições futuras; clareza (sem ambigüidades); formular um de cada vez; e ações completas. n Exemplos de verbos: Classificado, comparado, construído, enumerado, feito, identificado, listado, nomeado, reproduzido, selecionado. 3.2. TÁTICAS Como propósito de determinar as táticas estratégicas, pode se aplicar os seguintes critérios q Deve ser uma ação prática, realista e possível de completar/realizar nos próximos meses; q Depende de dois fatores importantes: disponibilidade de pessoal e custo; q Deve ser uma ação que realmente você queira fazer. QUADRO 2: Exemplo de Cronograma de Atividade ATIVIDADE Quem Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Reunião de Planejamento Organizar materiais Práticas de viveiro Plantio de mudas Monitoramento ¥ Ð ¥ Ð £ ¥ --- ----- ---------------------------------- ----------------------- ---- ---- ----- ------ ¥= todos Ð= homens £= mulheres MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight 25 3.3. MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO Monitoramento: um processo de revisão sistemática e crítica de uma operação com o objetivo de verificar a operação e adaptá-la às circunstâncias. Isto implica que o monitoramento seja uma forma mais freqüente de reflexão, principalmente ao nível operacional. Avaliação: envolve uma análise compreensiva sobre a operação com o objetivo de adaptar a estratégia e o planejamento às circunstâncias. Isto implica que a avaliação seja uma forma menos freqüente de reflexão, é mais profunda e conduz a decisões mais fundamentais. Tanto para o monitoramento quanto para a avaliação o estabelecimento prévio de indicadores é importante e deve ocorrer na fase do planejamento. A base de dados do monitoramento e avaliação será a do diagnóstico. 3.3.1. INDICADORES Indicadores são medidas de progresso e impacto que podem ser comparado a uma placa que indica se estamos na estrada certa. Eles mostram o andamento do plano, programa e/ou projeto. Expressam: quantidade (quanto); qualidade (quão bem); tempo (quando); relações de gênero (quem). Devem ser práticos e de custo adequado, fornecendo a base para o gerenciamento do plano e para os relatórios. Para definir indicadores podemos utilizar perguntas como: - Quais são as principais informações que podem nos dizer melhor se chegamos onde queremos? - Como podemos medir se houve êxito no programa, projeto..... QUADRO 3. Exemplo de um Projeto de Pequenas Produtoras Rurais Objetivo Geral Indicadores Melhoria das condições de vida das famílias produtoras da comunidade Sâo José/AC Família produtoras rurais tendo acesso a novos bens Objetivo Específico Aumentar a renda da família de produtores rurais 20 familias de aumentando sua renda em 30% Resultados - Aumentar a produção de artesanato - Organizar uma associação de artesãs Aumento de 30 a 40% da produção de artesanato Uma organização de artesãs funcionando Atividades - Cadastrar artesãs, organizar a documentação - Registrar a associação - Capacitar artesãs na qualidade dos produtos - Organização da produção de artesanato e comercialização Fichário das artesãs organizados Documentação das artesãs e da associação organizados 3 treinamentos para as 20 artesãs Plano de negócios das artesãs MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight 26 4. IMPLEMENTAÇÃO e M & A O programa de trabalho deve ser iniciado com ações mais fáceis, de baixo custo e catalisadoras de outras ações. Visando implementar o plano de execução, aconselha-se observar os seguintes critérios: q Não promover e desestimular qualquer ação paternalista; q Evitar ostentar dinheiro; q Não esquecer Gênero; q Reconhecer e respeitar o valor do conhecimento do(a) produto(a); q Desenvolver uma compreensão de liderança, não de um líder; q Lembrar que você não é o chefe e nem pretende ser herói; q Contribuir com as famílias para fazerem seus próprios ensaios; q Discutir, a qualquer momento, com a comunidade, o andamento dos trabalhos, promovendo assim o processo de retroalimentação. A avaliação de novas práticas introduzidas ou adaptadas tem que abranger uma gama de fatores que poderão influenciar os resultados esperados. A avaliação deve explorar e obedecer alguns critérios, tais como: q Estabelecer o pressuposto básico: equipe multidisciplinar e ação participativa; q Destacar a participação de homens, mulheres e crianças; verificar o nível desta participação; registrar a avaliação da comunidade; as famílias da área de trabalho deve estabelecer a importância para elas (o objetivo é o esperado, necessita a ampliação do projeto e o impacto na região?); q Observar se o trabalho está promovendo alguma interação institucional além da prevista; q Verificar quais os impactos, e o nível, que o trabalho está promovendo, do ponto de vista social, econômico, ambiental e cultural; considerando o envolvimento de mulherese crianças, a diversificação da base produtiva, interações resultantes das mudanças nas relações sociais, econômicas e culturais, a rentabilidade dos sistemas introduzidos; q Listar as contribuições na geração ou adaptação e difusão de tecnologias e conhecimentos; q Verificar se as tecnologias são adequadas e como estão sendo adotadas; q Observar se os objetivos do programa estão sendo atendidos. MIGUEL ANGEL CH P Highlight 27 De posse deste rol de recomendações, deve-se seguir os passos seguintes com vistas à efetivação do plano de monitoramento e avaliação: q que se quer fazer? q Por que fazer ( razões para fazer )? q Para que fazer (objetivos)? q Quem vai participar? q Quando fazer ? É importante, pois, que os grupos incorporem a avaliação em seu trabalho permanentemente e não somente use-a como ferramenta de final de trabalho, ou quando se tem dificuldades. Isto é, o monitoramento e a avaliação permanente, significa uma forma de se manter todas as etapas do trabalho em pleno funcionamento. 5. RECOMENDAÇÃO E/OU DISSEMINAÇÃO Nesta fase, após testadas as tecnologias, é o momento de repassa- las para comunidades semelhantes (o repasse na maioria das vezes é feito pelos próprios(as) produtores (as)) ou se for o caso propor como política pública. 28 CAPÍTULO IV CONSIDERANDO GÊNERO NA Pesa 1. GÊNERO E DESENVOLVIMENTO Os esforços para o desenvolvimento inclui segurança alimentar e nutrição, energia, emprego, renda, saúde, educação, agricultura sustentável e recursos naturais. Existe reconhecimento cada vez maior de que, em qualquer estratégia sustentável, as necessidades ambientais e sócio-econômicas dos diferentes grupos sociais, assim como das mulheres e homens, devem ser prioritárias na resolução de problemas. As políticas de desenvolvimento afastam-se cada vez mais de enfoque unilateral sobre o setor da produção, para caminhar em direção a uma forma de desenvolvimento que trabalhe a conservação, priorizando as ligações entre população e recursos. Os esforços atuais são no sentido da resolução da pobreza urbana e rural, promovendo a população local com seus agentes e beneficiários das atividades de desenvolvimento além da preocupação com a sustentabilidade ambiental. Planejar para o desenvolvimento “centrado na população” com uma “abordagem de conservação”, requer informação mais precisa sobre as características dessa população, que não forma um grupo homogêneo, mas atores com diferentes níveis de poder, interesses distintos e constantes negociações. 2. ANÁLISE DE INTERESSADOS Análise de grupos de interesse é um instrumento que ajuda a entender melhor o ambiente em torno da ação que será desenvolvida, os grupos afetados e os que poderão afetar a tomada de decisões e os resultados. Para desenvolver esta análise é importante a identificação dos diferentes grupos ( instituições formais ou informais, governamentais ou não governamentais, grupos organizados ou não, comunidades, indivíduos), principalmente os que tem menos poder, pois muitas vezes são os que são mais afetados pelos projetos, programas e/ou políticas. Outros elementos a serem considerados nesta análise são: quais são os interesses de cada grupo; todos os grupos estão envolvidos no projeto; quais os conflitos existentes entre eles; e quais as possíveis estratégias de negociação e/ou de oportunidade? MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight 29 Uma sugestão para esta análise é a utilização de um quadro que permita a visualização dos atores envolvidos e a dimensão de seu envolvimento/poder, utilizando círculos de tamanhos e cores diferentes, e uma discussão das possíveis estratégias de negociação e/ou oportunidade. Pode-se inserir o resultado da análise numa tabela (p.ex.): GRUPO Interesse na Questão Afeta Afetado Estratégias IBAMA Conservação X Autorização sobre o plano de manejo Prefeitura Impostos/produção X X Legalização da fábrica .......... 3. GÊNERO Gênero afeta e molda oportunidades para capacitação a nível local, através de fatores culturais, políticos e econômicos. A experiência mostra que a informação sobre gênero é vital para as atividades efetivas e sustentáveis. Na realidade, todas as pessoas interessadas no desenvolvimento sustentável e na capacitação, a longo prazo, das comunidades locais, devem considerar a questão gênero (Oxford University Press, 1993). Extração de açaí Governo federal Associação Prefeitura Fábrica de açaí em pó Não associados, extratores de açaí IBAMA MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight 30 GÊNERO (IICA,93) Feminino Masculino Reprodutivo/Produtivo Produtivo/Reprodutivo Se aprende (não se nasce com ele) É construído socialmente Pode trocar, ser revisto Em todo lugar e em qualquer grupo sócio-econômico, as vidas das mulheres e homens são estruturadas de forma fundamentalmente diferente. Uma divisão de trabalho baseada em gênero é universal: mas ela difere segundo cultura, local, grupo étnico e classe social. Sem esta informação desagregada por gênero que revela o que mulheres e homens sabem, fazem e precisam, o planejamento para o desenvolvimento pode correr risco de fracasso ou de impactos negativos. Enfim, gênero refere-se às diferenças e relações construídas socialmente entre mulheres e homens, que variam de acordo com a cultura, situação e contexto. A análise de gênero requer que se vá além das declarações sobre "mulheres" e "homens" para entender como fatores históricos, demográficos, institucionais, sócio-econômicos e ecológicos afetam as relações entre mulheres e homens de diferentes grupos. A análise de gênero enfoca, além da interação homem-mulher, outras variáveis socialmente importantes, tais como: idade, estado civil, papel econômico, etnia, status ....(SCHMINK, 1999) Comentário: Adaptado do "Seminario-taller para técnicos y promotores sobre relaciones de género y desarrollo rural: instrumentos de trabajo". IICA, 1993 31 3.1. ANÁLISE DE GÊNERO Empregando a análise de gênero, os planejadores obtêm um desenvolvimento mais sustentável, eqüitativo e efetivo. Os métodos tradicionais de coletas de dados freqüentemente omitiram os múltiplos papéis e as contribuições da mulheres para o desenvolvimento. Alguns programas de desenvolvimento focalizam a casa ou a família como unidade de análise. Esses enfoques declara que cada membro da família partilhava, igualmente, dos benefícios que advêm da família como um todo. Tal postura provou ser incorreto. A informação desagregada por gênero é diferente daquelas coletadas por estes métodos, ela utiliza como unidade de análise a pessoa como indivíduo. Assim a palavra chave na análise de gênero é QUEM.3.2. INCORPORAÇÃO DE GÊNERO NOS TRABALHOS A incorporação de Gênero deve ocorrer nas diferentes fase de um programa, desde o seu diagnóstico, até o planejamento, na implementação e no monitoramento e avaliação. Identificando Quem faz o quê, Quem tem acesso e controle sobre os recursos, Quem recebe os benefícios, Quem é responsável pelas atividades e/ou pelos gastos, Quem esta disponível nos diferentes trabalhos, Quem toma decisão na família e na comunidade....., poderemos trabalhar melhor as formas de participação (que grupos ou quem podemos estar motivando mais), assim como delinear o trabalho de extensão para ter mais êxito e buscando a maior equidade. 3.3. INSTRUMENTOS PARA ANÁLISE DE GÊNERO Esses instrumentos são pilares de projetos e programas que visam a mudança da “equação do poder”. Eles revelam como as diferenças de gênero definem os direitos, responsabilidades e oportunidades das pessoas em sociedade. O reconhecimento de como as formas de desenvolvimento afetam, diferente, homens e mulheres, permitem aos planejadores incorporar este fator na implementação bem sucedida, no monitoramento e avaliação da democracia na gerência de programas e projetos de desenvolvimento. Tais instrumentos oferecem maneiras de reunir dados e analisar gênero como uma variável na organização para o desenvolvimento da família e da comunidade. Os métodos, para tanto, proporcionam novas MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight MIGUEL ANGEL CH P Highlight 32 percepções sobre o contexto regional e permite um entendimento mais amplo da situação da comunidade, facilitando a criação de um programa de desenvolvimento mais amplo e efetivo. 3.4. INDICADORES DE GÊNERO Os indicadores de gênero podem ser baseado nas seguintes questões: q Divisão do trabalho - Quem faz o que ? q Fontes de renda - Quem recebe salários/renda ? q Padrões de gastos - Quem é responsável por quais gastos ? q Disponibilidade de tempo - Quem está disponível para trabalhar durante as diferentes estações ? q Tomada de decisão - Quem toma quais decisões dentro da família e dentro da comunidade ? q Acesso e recurso - Quem controla os recursos ? 33 BIBLIOGRAFIA Bunch, Roland (1985) Dos Mazorcas de Maíz. World Neighbors, Inc. Oklahoma City. Chambers, Robert, (1992) “Diagnóstico Rurales Participativos: Passado, presente y Futuro”. Bosques, Arboles, y Comunidades Rurales Edición Latinoamericano. Octubre: 15/16 . FAO, Rome y IRDC/SUAS, Uppsala. Ferrari, Eugênio A. (1991) “Aplicação do DRPA na Zona da Mata”. Alternativas: Cadernos de Agroecologia. Junho. Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa, Rio de Janeiro. IICA - "Seminario-taller para técnicos y promotores sobre relaciones de género y desarrollo rural: Instrumentos de trabajo", 1993 (adaptado) Hildebrand, Peter, Susan Poats and Lisette Walecka, (1987). Introdução à Pesquisa e Extensão de Sistemas Agropecuárias, University of Florida, Gainesville. Traduzido por Miguel Proença. Oxford University Press, Human Development Report, 1993. PESACRE (1993) Curso Síntese Sobre Metodologia de Pesquisa em Extensão em Sistema Agroflorestais: Relatório do SONDEIO. Rio Branco, Acre. Raintree, J. B., (1990) “Theory and Practice of Agroflorestry Diagnosis and Design”, In: Mac Dicken, K.G. and N.T. Vergara eds. Agroflorestry Classification and Management. Wiley And Sons, New York . Pp 58-97 Raintree, J.B. (1987) D&D User's Manual: Na Introduction to Agroflorestry Diagnosis and Design. International Council for Research in Agroflorestry (ICRAF), Nairobi. Rivera, María, Teresa (1993) “Como Elaborar um Diseño de Evaluación?”. La Evaluación Participativa, Cartilla 2 da Colección Aportes para la Capacitación Popular, Serie 2. ALAI- Abya-Yala, Quito. SCHMINK, Marianne - Marco Conceitual sobre Gênero e Conservação com base Comunitária, 1999.
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