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Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula Parasito 29/03/2022 Estrongiloidíase Visão geral Classificação Taxonômica Filo: Nematoda Família: Strongyloididae – existem helmintos de vida livre, parasitas e os que passam uma parte do ciclo de vida livre e atuam como parasitas (depende da forma como vão estar presentes no hospedeiro) Espécie: Strongyloides stercoralis – verme cilíndrico e que tem íntima relação com fezes do hospedeiro Doença: Estrongiloidíase Esse verme realiza parte do ciclo de vida livre e a outra parte sendo parasita, além de se comportar como um oportunista Quando o indivíduo apresenta fragilidade imunológica, vai gerar quadros graves, podendo levar à óbito Quando o hospedeiro está saudável, o quadro clínico varia de assintomático a sintomas leves É capaz de produzir autoinfecção, ou seja, ele, por si mesmo, promove crescimento populacional da sua espécie A frequência dessa autoinfecção está intimamente relacionada a questões imunológicas e nutricionais do hospedeiro Em pacientes com sistema imunológico intacto, esse ciclo de auto-infecção é limitado, porém, se o paciente for imunodeprimido, pode haver processo de auto-infecções maciças, provocando um quadro de hiperinfecção e estrongiloidíase disseminada Seu principal hospedeiro são os seres humanos, mas também podem parasitar cães e gatos, que podem ser fontes de infecção, mesmo que neles a doença não costume se manifestar com gravidade (exceção em filhotes) O Strongyloides stercoralis é o único helminto capaz de completar seu ciclo de vida dentro do seu hospedeiro. Esses vermes são totalmente tissulares, tendo a presença dos adultos desse verme inteiramente imersos nas mucosas e submucosas do intestino delgado (mais precisamente duodeno) de seres humanos, cães e gatos Na endoduodenoscopia só é possível visualizar as úlceras, pois os vermes ficam mergulhados nas criptas É um geohelminto, porém, não é obrigatório A fêmea põe cerca de 30 ovos por dia e são ovivíparas O desenvolvimento embrionário ocorre dentro de ovos que se desenvolvem dentro do corpo materno (os ovos eclodem no corpo materno) Dentro do ovo já há uma larva pronta; Os ovos são postos pelas fêmeas nas criptas do intestino e as larvas eclodem A medida que ocorre a eclosão e liberação das larvas, elas atravessam o epitélio no sentido do lúmen do intestino, podendo acontecer delas ficarem retidas ali Se der tempo delas avançarem no ciclo e se tornarem larvas infectantes, elas retornam ao epitélio Esse vai e vem das larvas provoca ulcerações na parede do órgão, sangue nas fezes, alta produção de muco (fezes mucosanguinolentas) o Além de ulcerações, esse vai e vem também pode determinar necrose (leva bactérias junto ao repenetrar no epitélio) e fibrose do tecido, o que diminui a peristalse do órgão, levando a constipação e fazendo com que muitas dessas larvas retidas, acabem levando a uma autoinfecção interna Muito raramente os ovos saem nas fezes, o que sai nas fezes são as larvas O verme adulto vive 2, 3 meses, chegando a, no máximo, 6, sendo no solo até 1 ano Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula Parasito 29/03/2022 Como pode ser observado na imagem d ao lado, a fêmea possui 6 lábios para se alimentar, e não para fixação Morfologia: 6 formas 1) Fêmea partenogenética parasita Dá origem à prole sozinha e possui uma única forma parasitária Corpo cilíndrico, filariforme e longo, com 1,7 a 2,5 mm de comprimento Triploide (3n) Vivem na mucosa duodenal (criptas), mais à altura das glândulas de Liberkühn Em casos graves, pode aparecer no intestino grosso e região pilórica do estômago Vão se alimentar e se reproduzir sozinhas, sem precisar do contato com o macho Produzem 3 tipos de ovos Ovo haploide (1/3 do total de ovos) – a larva n que vai chegar ao solo com as fezes, se transforma em um macho de vida livre (geohelminto) Ovo diploide (1/3 do total de ovos) – a larva 2n, chegando ao meio externo dá origem a uma fêmea de vida livre Ovo triploide (1/3 do total de ovos) – eclodem larvas 3n, que passam pelo estágio de maturação e se tornam larvas infectantes o Se elas ficarem retidas no organismo, os ovos que essas fêmeas liberarem darão origem a novos adultos sem precisar passar pelo solo, aumentando, assim, a carga parasitária (autoinfecção interna) No meio externo, a fêmea de vida livre (2n) e o macho de vida livre (n) poderão copular, dando origem a novas larvas 3n, que poderão invadir o organismo externamente Resumindo, pode-se adquirir a infecção no ambiente e ainda aumentar a carga parasitária do próprio organismo por autoinfecção 2) Fêmea de vida livre ou estercoral – 0,8 a 1,2 mm de comprimento e é diploide (2n) 3) Macho de vida livre – 0,7 mm de comprimento e é haploide (n) 4) Ovos 5) Larvas rabditóides – originam larvas filarióides 3n (fêmeas parasitas – sexta forma), machos (n) e fêmeas (2n) Observação: quando a fêmea de vida livre (n) copula com o macho de vida livre (2n), formam ovos 3n (n+2n), e quando esses ovos chegam ao solo, eles liberam as larvas que vão mudar de rabditoide para filarióide (infectante), a qual vai invadir o corpo de um hospedeiro para não morrer Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula Parasito 29/03/2022 Ciclo Biológico Direto: larvas rabditóides no solo ou região perianal se transformam em larvas infectantes – só envolve indivíduos 3n A ingestão das larvas 3n no ambiente, seja por contato com objetos contaminados ou ingestão de verduras e legumes, constitui uma via de infecção passiva Autoinfecção direta externa – indivíduo não higieniza bem a região perianal, as larvas rabditoides que saíram pelas fezes e ficaram ali contidas evoluem para filarioides, voltando ao corpo do hospedeiro pela pele da região perianalauto Indireto – envolve a passagem pelos adultos de vida livre 1º. Larvas rabditoides produzem machos e fêmeas de vida livre 2º. Ocorre a cópula entre eles (2n+n) 3º. São formados ovos 3n 4º. Esses ovos originam larvas rabditoides (3n) 5º. Essas larvas se transformam em larvas filarioides 3n (infectantes) 6º. Essas larvas filarioides penetram no hospedeiro através da pele ou pela mucosa oral (infecção ativa) No caso da infecção ativa, irá ocorrer o ciclo pulmonar (de Loos), podendo determinar síndrome de Loeffler (febre, tosse, eosinofilia) Em ambos os casos, direto e indireto, ocorre: 1º. A larva L3 (filarióide) penetra na pele ou na mucosa do hospedeiro 2º. Após entrar no organismo, ela atinge a circulação venosa e linfática e se direciona ao coração 3º. Ao chegar no coração, ela passa para os pulmões, sofrendo mudança de L3 para L4 4º. A L4 vai migrar para faringe e pela deglutição vai para o intestino delgado virando L5 5º. Ao chegar no intestino, ela penetra no intestino e se transforma em fêmeas 3n No esquema da imagem acima, A representa o ciclo direto, B o ciclo indireto e C o ciclo direto por autoinfecção interna Transmissão Heteroinfecção e primoinfecção – a partir de outras pessoas que eliminaram larvas nas fezes, as L3 filarióides penetram pela pele Possibilidade da ingestão de larvas, onde não há ocorrência do ciclo pulmonar (pouco comum), se for pela pele ou mucosas realiza esse ciclo Auto-infecção externa ou exógena – as larvas na região perianal transformam-se infectantes e aí repenetram a mucosa intestinal Ocorrem por defecação na fralda, roupas, restos de fezes nos pelos perianais, entre outros Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula Parasito 29/03/2022 Auto-infecção interna ou endógena – as larvas filarióides penetram na mucosa intestinal Cronificação da doença por muitos anos Complicações Constipação intestinal – agravamento ocasionado pelo aumento do número de larvas retidas Baixa imunidade – agravamento (AIDS, drogas imunossupressoras, radioterapia, etc.) Uso de Corticóides – os resíduos metabólicos simulam a ecdizona, que faz a larva rabditoide mudar pra filarioide, acelerando o ciclo do verme, que causa mais autoinfecção interna e cronifica a doença Patologia Lesões causadas pelas larvas Na pele – lesões discretas ou formam placas de eritema, e lesões urticariformes que aparecem em torno do ânus na autoinfecção externa Ciclo pulmonar – pequenas hemorragias no parênquima quando as larvas invadem os alvéolos e aí fazem suas mudas Pode haver pneumonite difusa ou síndrome de Loeffler, com a presença de larvas no escarro, podendo haver repetição dos quadros Lesões causadas por larvas filarióides e fêmeas adultas No duodeno e no jejuno – lesões na mucosa por ação mecânica, histolítica (enzimática) e inflamatória Migração das larvas para a luz intestinal – inflamação catarral, pontos hemorrágicos, ulcerações e edema (até a submucosa) Consequências: Duodeno-jejunite – aumento do peristaltismo, causando diarreia e evacuações muco- sanguinolentas Fibrose e atrofia da mucosa vão transformando o duodeno e jejuno em um tubo quase rígido, fazendo com que haja constipação Sintomatologia Desconforto abdominal, cólicas, dores vagas ou imitando úlcera péptica, surtos diarreicos, anorexia, náuseas e vômitos Anemia, emagrecimento, desidratação, astenia, irritabilidade nervosa ou depressão, devido as toxinas liberadas pelo verme Eosinofilia – 15 a 45% Forma grave ou fatal – ulcerações extensas ou uma síndrome de sub-oclusão intestinal alta Obs.: as infecções podem assumir um curso crônico por 20 ou 30 anos devido às autoinfecções Patogenia, Patologia e Sintomatologia Pequeno número de parasitos – assintomáticos. Formas graves (até fatais) Fatores extrínsecos: carga parasitária. Fatores intrínsecos: subalimentação, ocorrência de diarreias e vômitos, infecções bacterianas e parasitárias associadas e intervenções cirúrgicas Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula Parasito 29/03/2022 Principais alterações na estrongiloidíase são provocadas por ações Mecânica Traumática Irritativa Inflamatória Imunológica Tóxica Antigênica Enzimática Espoliativa – são hematófagos, mas também se alimentam de liquido intersticial e de células Localizações Cutânea – discreta, ocorrendo nos pontos de penetração (urticárias, etc.) Pulmonar – dispneia, crises asmatiformes, tosse, e, em casos mais graves, síndrome de Löeffler Intestinal (em ordem de gravidade, 3 é mais grave) 1. Enterite catarral – secreção mucóide com caráter reversível 2. Enterite edematosa – síndrome de má-absorção 3. Enterite ulcerosa – alterações no peristaltismo, ulcerações da mucosa, podendo conduzir a morte Disseminada – o verme consegue acometer órgãos extra-intestinais, como os rins (além de intestino e pulmões), fígado, vesícula biliar, coração, cérebro (nervoso central), pâncreas, tireóide, adrenais, próstata, glândulas mamárias e linfonodo, podendo conduzir à óbito Diagnóstico Em um exame de fezes comum (nunca o método de Kato) o que se espera é encontrar as larvas rabditóides (L1), não os ovos O pedido de exame tem que ser de fezes frescas e mais de uma amostra Como elas são escassas, é viável usar uma das técnicas coproscópicas de enriquecimento para a pesquisa de larvas nas fezes, como: O método de Rugai O método de Baerman A coprocultura de Harada-Mori Laboratorial: demonstração dos parasitos – EPF (pesquisa de larvas) Clínico: tríade clássica – diarréia, dor abdominal e urticária Profilaxia Diagnosticar e tratar os parasitados Medidas de higiene em geral, como lavar região perianal e mãos, com água e sabão depois de usar o sanitário e não levar objetos do chão à boca Presença de cães Andar calçado Lavar bem os alimentos Tratamento Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula Parasito 29/03/2022 Ivermectina por via oral, 200 µg/kg/dia, administrados em 2 vezes Contra-indicada durante a gestação e o aleitamento Albendazol, oralmente, 400 mg/kg/dia, durante 3 dias Tiabendazol, oralmente, 25 mg/kg, duas vezes ao dia, durante 7 a 10 dias. É recomendado nos casos de hiperinfecção. Nos casos normais, 50 mg/kg (até um máximo de 3 gramas) em um dia, divididos em 2 a 4 tomadas, depois das refeições. A taxa de cura é de 70 a 90% e como os medicamentos não matam as larvas, convém repetir o tratamento para evitar reinfecções externas ou internas Cambendazol, via oral,5mg/Kg, dose única É importante repetir o tratamento, uma vez que os remédios não irão matar as larvas
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