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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOECONÔMICAS – ESAG CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS BERNARDO MELCHIORS TREBIEN PAPEL DO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO NO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO LOCAL: UMA PERCEPÇÃO DOS GESTORES DA COOPERATIVA DE CRÉDITO SICOOB CREDITAPIRANGA FLORIANÓPOLIS 2022 BERNARDO MELCHIORS TREBIEN PAPEL DO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO NO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO LOCAL: UMA PERCEPÇÃO DOS GESTORES DA COOPERATIVA DE CRÉDITO SICOOB CREDITAPIRANGA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Ciências Econômicas do Centro da Administração e Socioeconômicas, da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas. Orientador: Prof. Dr. Lisandro Fin Nishi FLORIANÓPOLIS 2022 AGRADECIMENTOS Uma dedicatória a todos aqueles que se fizeram presentes nesses meus anos de lutas e desafios. Primeiramente agradeço a meus pais, ambos os alicerces que em tempos de tempestade me prepararam para resistir e superar, sempre irão faltar palavras para descrever minha gratidão pelo berço esplendido, das lutas, vitorias e ensinamentos proporcionado por eles. A Meu único irmão, mais velho e de exímio intelecto e força mental, um agradecimento especial ao braço forte e mão amiga sempre estendido a mim. Uma gratidão especial pelo compartilhamento de nossas vidas, momentos, desafios, tristezas e alegrias, a aquela que hoje é uma pessoa especial para mim e de extremo valor, minha namorada. Aos meus amigos, familiares e companheiros de vida, muito obrigado. Em agradecimento a todos os professores, docentes, colegas e comunidade acadêmica que proporcionaram inúmeros debates, conversas e ideias. Em prol do objetivo da Universidade do Estado de Santa Catarina, saio desta universidade como catarinense realizado e formado em uma das melhores universidades públicas do Brasil, disposto a empregar meus conhecimentos em prol do benefício comunitário. Agradeço ao meu professor orientador pelo aceite de orientação, assim como o dispêndio de seu precioso tempo. Transmitir conhecimento é uma arte. Por último, agradeço a Deus e a mim, pelas oportunidades concedidas e aproveitadas, pelos ensinamentos tidos pela vida e principalmente, por me ensinar a acreditar e ter fé, por sempre existir uma luz nos momentos de escuridão. RESUMO O movimento cooperativista de crédito consolida-se no Brasil e no mundo como importante instrumento de desenvolvimento econômico, seja pela proposta da cooperativa buscar zonas e comunidades não atendidas por instituições financeiras tradicionais ou então pela sua contribuição em diversos aspectos, como o micro e pequeno crédito orientado, disseminação da educação financeira, entre outros. Voltado ao grande universo das ciências sociais aplicadas, este estudo visa entender e desmistificar o cooperativismo de crédito através de uma metodologia histórico- descritiva, para por fim, através de um estudo a campo, via questionário aos gestores da cooperativa de crédito Sicoob Creditapiranga, discutir a percepção dos gestores quanto ao papel do cooperativismo de crédito para o desenvolvimento social e econômico local, em consenso com a revisão bibliográfica. Como análise resumida, encontrou-se bastante concordância entre a percepção dos gestores quanto ao importante papel histórico e atual do cooperativismo de crédito para o desenvolvimento social e econômico local, com a literatura apresentada. Palavras-chave: Cooperativa de crédito; Desenvolvimento Local; Desenvolvimento Regional; Gestores. ABSTRACT Credit cooperatives are consolidated around the world and brazillian history, as an important handle of economic development, those financial instituicions embrace the purpose to look up for áreas and communities who historycally do not have access to tradicional bank services. Also, credit cooperatives add efforts in several aspects of economic and social development, offering credit to small entrepreneurs in a oriented way to them, dissemination of financial education and others features. Aimed at the great universe os applied social sciences, this study aims to understand and demystify credit cooperatives throught historical-descriptive methodology, to finally, by a field study, discuss managers perception of the role of credit unions for local social and economic development by a questionnaire to the managers of credit union Sicoob Creditapiranga, in agrément with th literatute review. As a summary analysis, there was considerable agrément between the perception of managers regarding the important, historical and current role of credit unions for local social and economic development. Keywords: Credit Cooperatives; Local Development; Regional development; Managers. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Município de Itapiranga situado em Santa Catarina ................................. 31 Figura 2 – Microrregião do Extremo Oeste Catarinense, destacada em verde. ........ 32 Figura 3 – Indicadores sociais e econômicos dos municípios com unidades da cooperativa de crédito Sicoob Creditapiranga em Santa Catarina. ........ 33 Figura 4 – Indicadores sociais e econômicos dos municípios com unidades da cooperativa de crédito Sicoob Creditapiranga no Rio Grande do Sul. .... 34 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 -Singulares x Pontos de Atendimento ao Cooperado (PACs) .................... 24 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – População economicamente ativa associada a instituições financeiras cooperativas, em % ................................................................................ 26 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS TCC Trabalho de Conclusão de Curso UDESC ESAG OCB PACs SFN SUMOC IMF AMEOSC Universidade do Estado de Santa Catarina Escola Superior de Administração e Gerência Organização das Cooperativas Brasileiras Pontos de Atendimento ao Cooperado, ou só Ponto de Atendimento Sistema Financeiro Nacional Superintendência da Moeda e do Crédito Instituições de Micro finanças Associação dos Municípios do Extremo Oeste de Santa Catarina SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 15 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E DE LITERATURA ................................... 19 2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO COOPERATIVISMO E COOPERATIVISMO DE CRÉDITO ........................................................................................... 19 2.2 MODELO DE NEGÓCIO DO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO ........... 22 2.3 COOPERATIVISMO DE CRÉDITO PARA O DESENVOLVIMENTO ....... 25 2.4 ESTUDOS ECONÔMICOS ...................................................................... 28 2.5 DESCRIÇÃO DO MUNICÍPIO SEDE (ITAPIRANGA) E INDICADORES DOS MUNICIPIOS COM PONTOS DE ATENDIMENTO ......................... 30 3 METODOLOGIA DE PESQUISA ............................................................. 35 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ....................................................... 35 3.2 MATERIAL ............................................................................................... 35 3.3 MÉTODO HIPOTÉTICO DEDUTIVO ....................................................... 37 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................. 39 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 45 6 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ 47 GLOSSÁRIO ...........................................................................................50 APÊNDICE A – RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO ........................... 51 ANEXO A - TÍTULO ........................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. ÍNDICE ............................................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 15 1 INTRODUÇÃO Embora não possamos caracterizar o fenômeno do cooperativismo como um sistema de produção, é possível entender que esse é uma forma de organização de sociedades e partindo desse princípio, enfrentamos grandes debates entre os modelos produtivos. Como contraponto e estigma ao desenvolvimento econômico, o associativismo de adesão livre e voluntária tornou-se mais uma possibilidade entre formas de fomentar a economia e contornar carências de comunidades desassistidas. Desde a sua idealização, o modelo de produção cooperativo, ou de economia solidária, segue princípios estabelecidos para a sua caracterização, tendo destaque a adesão livre e voluntária, a gestão democrática, a intercooperação e o interesse pela comunidade, constituindo os pilares sólidos dessa organização produtiva. Faz-se necessário entender o paradigma do cooperativismo, que se divide em diferentes ramos no Brasil, Agropecuário, Transporte, Saúde, Infraestrutura, Trabalho, Consumo, produção e por fim, de crédito. O sistema produtivo cooperativista, também conhecido por economia solidária, destaca-se por ser mais que um modelo de negócios, sendo próximo a uma filosofia de vida. Em termos simples, esse sistema tem início quando grupos de pessoas juntam esforços em prol de um mesmo objetivo, através de uma empresa ou organização, onde todos são proprietários desse negócio, de forma igualitária e estatutária (Sistema OCB, 2022). Sendo assim, podemos notar a responsabilidade que vem sendo assumida pelas cooperativas de crédito e instituições de crédito solidário, para o desenvolvimento, fomento da poupança, bancarização e serviços bancários especializados a comunidades e regiões carentes, como é o caso do Grameen Bank (Banco de Aldeia) na Índia, criado por Muhammad Yunnus, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2006 pelos seus esforços à visibilidade do microcrédito como mitigador da pobreza (SOARES, SOBRINHO, 2008). Dessa maneira, visto a importância que instituições especializadas de crédito possam oferecer para pessoas desbancarizadas, assim como a capacidade de oferecer competição no mercado de crédito, será analisado, a nível de uma cooperativa de crédito local, a contribuição para o desenvolvimento econômico e social da localidade, nesse 16 caso o município de Itapiranga/SC e demais municípios com Pontos de Atendimento (PA) da Cooperativa de Crédito Sicoob Creditapiranga, em uma percepção dos gestores, e em comparação ao que a literatura aponta em diferentes aspectos, sobre o papel do cooperativismo de crédito para o desenvolvimento econômico e social. Dessa maneira, objetifica-se apresentar o debate a respeito dos benefícios que o sistema de produção cooperativo de crédito apresenta, além de elucidar a literatura através de um estudo a campo, onde será realizado uma pesquisa com os gestores da Cooperativa de Crédito Sicoob Creditapiranga e todos os seus Pontos de Atendimento, que destaca-se por ser a primeira cooperativa de crédito do Estado de Santa Catarina, para entender quais são às visões históricas e atuais dos gestores em relação às contribuições da cooperativa para o desenvolvimento social e econômico local e da região, de onde estas estão instaladas. Assim como observado em diferentes nações, no Brasil, o cooperativismo de crédito por muitas vezes é tido como única instituição financeira disponível em localidades desassistidas, 43% do cooperados das agências cooperativas de crédito não detém conta em outras instituições financeiras (Sistema OCB, 2015). Soma-se a isso, características relevantes da instituição estudada, como ser a primeira instituição cooperativa de crédito de Santa Catarina, tornam-se marcantes, pois possibilitam uma compreensão e contextualização histórica a respeito do papel em que a cooperativa teve e continua tendo para o desenvolvimento municipal e regional, através de um questionário com o título “Papel do Cooperativismo de crédito no Desenvolvimento social e econômico local: uma percepção dos gestores da cooperativa de crédito Sicoob Creditapiranga”, e também pela pesquisa bibliográfica e das características históricas, indicadores e principalmente características econômicas e sociais da localidade e região onde a cooperativa e seus Pontos de Atendimento estão instalados. Outrossim, a capacidade de analisar e levantar informações de dentro da cooperativa de crédito é pertinente e possibilita uma comparação com os benefícios para o desenvolvimento econômico e social que são apresentados nas principais literaturas. Além disso, na fase final do estudo, esse será usado 17 para oferecer conhecimento para os cooperados e colaboradores da Instituição Sicoob CredItapiranga, possibilitando a melhoria dos serviços prestados, como também desmistificar a temática das cooperativas de crédito para novos e atuais cooperados e por fim, possibilitando oferecer maior competitividade entre as instituições financeiras. Adentrando ao cerne da questão, o cooperativismo de crédito desempenha relevante papel na economia de diversos países, sendo uma das principais fontes de acesso à crédito para pequenas e médias empresas, como também, pessoas físicas, que por muitas vezes só tem essa opção para se bancarizar. Além disso, a política cooperativista de não visar unicamente o lucro, aliado ao desenvolvimento regional e dos associados da cooperativa formam os alicerces capazes de assegurar a popularidade, a confiança e a sustentabilidade das cooperativas financeiras (MCKILLOP et al., 2020). As instituições bancárias tradicionais, os bancos privados, no município e nas regiões em questão, tendem a levar os lucros e bônus para fora do município, da região, ou até mesmo do país, de maneira antagônica às cooperativas de crédito, como a Sicoob Creditapiranga, que veem revertendo seus resultados trazendo benefícios diretos e indiretos para a localidade em qual a cooperativa está vinculada. Para entendermos a sistemática do cooperativismo de crédito é necessário saber o principal segmento em que está inserida, resumidamente o ramo das microfinanças, com foco de serviços especializados para pessoas e empresas de baixo faturamento e renda. Primordialmente desenhada na década de 70, esse nicho de mercado era centrado em empréstimos pequenos e sem garantias, a taxas de juros de mercado, como negócios de curtíssimo prazo, com maior proximidade entre o agente de crédito e o tomador de empréstimo, que possibilita o cliente ser orientado, sendo assim poderiam ser um mercado rentável para serviços bancários, trazendo benefícios a sociedade, como a redução da informalidade, bancarização e a poupança (SOARES, SOBRINHO, 2008). Deve-se destacar algumas ações e princípios praticados atualmente pelas cooperativas de crédito, entre elas, a prestação de contas nas assembleias aos associados, devolução dos excedentes dos lucros, investimentos na formação técnica e humana do seu quadro de funcionários e cooperados, incentivo e 18 divulgações dos princípios de cooperação, aumento da bancarização, poupança, emprego e concorrência no setor financeiro. Por consequência, as cooperativas de crédito promovem o dinamismo da economia, contribui para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, principalmente os associados, e consequentemente com o desenvolvimento local e regional (ROVANI, 2020). Por se tratar de um tema que requer uma contextualização ampla, será composta inicialmente por um tópico de contextualização do cooperativismo, para aferir as bases atuais e passadas que compõem a sistemática de produção, e que vai abarcar o surgimento das primeirascooperativas de crédito, no mundo e no Brasil, assim como reunir informações da instituição em destaque no estudo, Sicoob CredItapiranga. Por seguinte, será exposto o funcionamento das cooperativas de crédito, seu modelo de negócios, e de suma importância, será destacado a contribuição para o desenvolvimento econômico e social e por fim, uma breve descrição do município de Itapiranga, onde a sede da cooperativa está instalada, e região do extremo oeste catarinense, onde será apresentado também uma tabela resumo de indicadores sociais e econômicos dos municípios que a singular Sicoob Creditapiranga tem pontos de atendimento. 19 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E DE LITERATURA Nesta seção do estudo, será apresentado as bases teóricas e históricas para a realização do estudo proposto. Em decorrência do tema requerer uma contextualização ampla, essa será composta inicialmente por um tópico de contextualização do cooperativismo, para aferir as bases atuais e passadas que compõem a sistemática de produção, e que vai abarcar o surgimento das primeiras cooperativas de crédito, no mundo, no Brasil e em Itapiranga/SC. Por seguinte, será exposto o funcionamento das cooperativas de crédito, seu modelo de negócios, e de suma importância, será destacado a contribuição para o desenvolvimento econômico e social por estudos econômicos e por fim, uma breve descrição do município, onde a sede da cooperativa está instalada, as regões do extremo oeste catarinense e noroeste do Rio Grande do Sul onde seus Pontos de Atendimento estão espalhados. 2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO COOPERATIVISMO E COOPERATIVISMO DE CRÉDITO O cooperativismo, da palavra cooperação, pode ser atualmente entendido como uma doutrina cultural e socioeconômica, fundamentada na liberdade humana e princípios cooperativos. Tudo teve início em 1844, na cidade de Rochdale-Manchester, no interior da Inglaterra, que na época passava por dificuldades socioeconômicas como a elevação do desemprego, baixos salários e condições de exploração do trabalho pelas firmas pós-revolução industrial, onde um grupo de 28 tecelões, composto por apenas uma mulher, decidem unir esforços para montar um armazém, com proposta de comprar produtos em grande quantidade e conseguir preços melhores para a sociedade. Com o nome de “Rochdale Society os Equitable Pioneers”, era fundada a primeira cooperativa, onde tudo o que fosse adquirido seria repartido entre o grupo associado, e motivada pelos princípios de honestidade, solidariedade, equidade e transparência (Sistema OCB). Contemporaneamente, o cooperativismo vinculou-se como uma alternativa ao modo de produção, atraindo atenção de diferentes setores da 20 economia, visto que muitas vezes é precedido de carências de suprimentos e fatores de produção, como o capital. De tal maneira, as raízes das instituições de economia solidária advêm muitas vezes da ausência de interesse pelos agentes econômicos estabelecidos, forçando a união da comunidade em prol de satisfazer uma demanda local não atendida. Além do mais, com a constante modernização da economia, as sociedades cooperativas tiveram de evoluir, tendo seus princípios reestruturados de maneira a caracterizar uma doutrinação em cerca do modelo de negócio. Como destacado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP), no livro de Gawlak e Ratzke “Cooperativismo: primeiras lições”, atualmente os princípios dessas instituições são: a. Adesão Livre e voluntária: Caracterizando as cooperativas como organizações voluntárias e abertas, a associação das pessoas é uma decisão individual e independente de etnia, posição social, cor, partido ou religião. b. Controle Democrático pelos Membros: As organizações cooperativistas são controladas pelos seus cooperados, que participam nas decisões e definições com direito de voto iguais, muitas vezes pela assembleia geral, que elegem representantes responsáveis por estes. c. Participação Econômica dos Associados: Os membros são tratados de maneira equitativa em relação ao capital social, sendo essa a propriedade comum da instituição cooperativa. Os excedentes são destinados de acordo com as finalidades estabelecidas e votadas em assembleia, podendo ser revertida aos associados. d. Autonomia e Independência: Consideradas como organizações autônomas e orgânicas ao longo do tempo. e. Educação, Formação e Informação: As cooperativas têm como princípio desenvolver e promover a educação e a formação dos associados, dos representantes, gestores e colaboradores. Objetificando o desenvolvimento cultural e profissional da instituição e afiliados. 21 f. Intercooperação: Esse princípio é responsável por dar força ao movimento cooperativo, ou seja, as cooperativas têm preferência para trabalhar em conjunto com organizações associativas. A integração é tida como precursor do sucesso das cooperativas, visto que só serão eficientes se agregarem qualidade produtiva e economia de escala nos bens e serviços produzidos. g. Interesse pela comunidade: As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentável das suas comunidades através de políticas e princípios, contribuindo para a geração de empregos, produção, serviços e a preservação do meio ambiente, tudo através das políticas aprovadas pelos seus membros e associados. No Brasil, os ramos da economia solidária, de união livre e voluntária de pessoas, estendem-se pela agropecuária, reunindo cooperativas, associados e pessoas ligadas à atividade, para comercializar, armazenar, industrializar a produção dos agricultores; as cooperativas de transporte, que atuam na prestação de serviços de transporte de cargas e passageiros, ainda as cooperativas de consumo, intituladas de suprir a demanda de produtos, serviços e serviços educacionais, cooperativas de produção e trabalho, saúde, infraestrutura, fornecendo serviços essenciais como energia e telefonia, e por fim, de crédito (Sistema OCB). O cooperativismo é de notória importância e de grande potencial nas estruturas econômicas atuais, através da sua organização democrática e igualitária de sociedade. Como destaca Pinho (1982): Organizações de pessoas que buscam, em bases democráticas, atender às necessidades econômicas de seus membros e prestar-lhes serviços, as cooperativas são especialmente importantes para atuar em situações econômicas críticas como inflação, recessão, estagnação e desemprego. Aliás, esta potencialidade decorre do fato da cooperativa reunir na mesma instituição, uma associação de pessoas e uma empresa (PINHO, 1982, p. 239). Mundialmente em destaque, o cooperativismo de crédito teve seus primórdios datados na Alemanha, no ano de 1852, na cidade de Delitzsch, como cooperativa de crédito urbana, intitulada como Volksbank (Banco do Povo), que visavam atender as necessidades de crédito e demanda por serviços financeiros da população urbana, e principalmente das pequenas empresas, na época, 22 grande parte comerciantes e artesões. Ainda na Alemanha, em 1862, apenas uma década após a criação da primeira cooperativa de crédito, surgem as cooperativas de crédito rural, chamadas de Loan Societies, sendo essas instituições, cooperativas de crédito vistas com maior importância na história econômica do país, dado que, à época as comunidades rurais eram muito mais carentes de serviços financeiros que o meio Urbano (Portal do Cooperativismo de Crédito, 2016). No Brasil, a primeira associação cooperativa de crédito surgiu em 1902 pela associação de 19 pessoas, na inspiração do emigrante sueco, Amstad, que chegou ao país com 34 anos em 1855 e encarregou-se de prestar assistência às pessoas doentes na região de Nova Petrópolis (RS). Theodor Amstad logo observou uma carência de infraestruturas, serviços básicos, como educação e saúde, e também a exclusão financeira da região,principalmente em decorrência da distância do município até um posto de atendimento de serviços bancários, sendo necessário um percurso de 90 km de estrada de chão, em um ambiente onde o transporte era realizado a cavalo e carroças. Funda-se a Cooperativa Caixa de Economias e Empréstimos Amstad, hoje SICREDI Pioneira RS (Sistema OCB). Para o Estado de Santa Catarina, destaca-se o surgimento da primeira Caixa Rural de União Popular no distrito de Porto Novo, atualmente Itapiranga, no ano de 1932 com a união de 41 pioneiros, muitos de descendência alemã e influenciados pela reunião de Volsksverein (Sociedade de União Popular) que tratou da necessidade da fundação de uma Caixa Rural em Porto Novo com objetivos de criar uma nova fronteira agrícola e social. Origina-se assim, através do financiamento pelas cooperativas de crédito Sparkasse, que eram baseadas no modelo Alemão de cooperativas de crédito inspiradas na sistemática Raiffeisen, a cooperativa de crédito atualmente conhecida como Sicoob CredItapiranga, levando o título de pioneira nas cooperativas de crédito no Estado de Santa Catarina (Sicoob CredItapiranga). 2.2 MODELO DE NEGÓCIO DO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO 23 Presentes na economia financeira do Brasil desde o ano de 1902, as instituições cooperativas de crédito se apresentam como importante vetor para a bancarização do país, assim como a competição por eficiência, concorrendo com os serviços bancários já existentes. Em seus primórdios o cooperativismo surgiu independentemente de regramento jurídico, pois somente a partir da Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971 que será apresentado um ordenamento jurídico a classe, se tornando o marco legal institucionalizado pelo Brasil, e que apenas na Constituição da República Federativa do Brasil, no artigo 174, § 2º, prevê assistência a associação cooperativa de pessoas de forma que “A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo”, reconhecendo a importância dessa organização econômica como estratégia para o desenvolvimento nacional, ou seja, produção de riqueza, equidade socioeconômica e proteção ambiental (FRADE; DE OLIVEIRA, 2008). As instituições cooperativas de crédito apresentaram uma expansão vigorosa nos anos seguintes aos da fundação e tornaram-se referência financeira onde eram estabelecidas, financiando casas e aquisições de terras aos cooperados. Atualmente o segmento de cooperativismo de crédito atende 8,5 milhões de brasileiros, sendo fator de valor na inclusão financeira de áreas rurais do Brasil, dado que desse total de cooperados, (43%) ou 3,6 milhões de cooperados, só possuem contas bancárias em instituições cooperativas de crédito, além disso, as cooperativas de crédito estão presentes em 105 munícípios sendo a única instituição financeira na localidade (IBGE, 2015). Diante do pressuposto, as cooperativas de crédito oferecem soluções financeiras e realizam a prestação de serviços bancários aos associados, com premissas que podem ser identificadas por meio dos estatutos Sociais, por serem instituições que se utilizam dos esforços dos cooperados para diminuição de custos, buscando resultados positivos ao final do exercício e por fim a distribuição dos excedentes de lucros aos cooperados, associados e a comunidade. Nesse contexto podemos identificar a missão da instituição financeira Sicoob CredItapiranga de Santa Catarina orientada nas seguintes premissas: “Promover o desenvolvimento econômico, social e profissional dos cooperados e comunidade através da implementação de políticas 24 financeiras de prestação de serviços financeiros” (Sicoob CredItapiranga). Para melhor ordenamento do sistema das cooperativas de crédito, essas passaram a ser caracterizadas em 3 categorias, as singulares, centrais ou federações e as confederações de maneira que esse conjunto das cooperativas opere de forma vertical, horizontal e independentes (SOARES; SOBRINHO, 2008). Entendendo de maneira piramidal, as cooperativas de crédito singulares estão na base, constituídas por no mínimo 20 pessoas, sendo permitida a admissão de pessoa jurídica que tenham por objetivo de atividades econômicas correlatas às da pessoa física e no meio da pirâmide encontramos as centrais ou federações, que são compostas por no mínimo 3 cooperativas filiadas e por último as confederações no mais alto nível, constituídas pela união de ao menos 3 cooperativas centrais. Gráfico 1 -Singulares x Pontos de Atendimento ao Cooperado (PACs) Fonte: Unicad, Sistema Gerenciador de Séries Temporais (SGS-Bacen), 2005-2018; Elaboração própria do autor. O cooperativismo realça a importância da cooperação, do preço justo e da distribuição preferencialmente igualitária dos processos e resultados entre os cooperados e a comunidade, tornando-se, por isso, importante fator social no processo de desenvolvimento socioeconômico. Não é valido descrever as 0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Quantidade de postos de atendimento de cooperativas no Brasil - Unidades Cooperativas Singulares - Unidades 25 cooperativas como associações beneficentes ou de fins apenas públicos, ou apenas ideia de que as cooperativas não visam ao lucro. Existem objetivos econômicos e sociais de produção e de coordenação do setor de trabalho. De tal forma, quanto maior a profissionalização e a capacitação da gestão das cooperativas, pelos seus cooperados e colaboradores, melhores resultados serão alcançados, o que não significa renunciar a seus princípios (MENEZES; LAJUS, 2015). Embora o associativismo em formas de cooperativas de crédito não seja algo novo, este é um modelo de negócio que é formado e continuará sendo modelado pelos avanços tecnológicos, digitalização de serviços, Fintechs, provisões online e OpenBanking, por exemplo. Podemos afirmar que as reformas na legislação cooperativista, assim como mudanças monetárias, e as reformas estruturantes, são fundamentais no sucesso do direcionamento e condução do modelo de negócio. De tal forma, o modelo de negócio pode ser visto em como as instituições financeiras administram seus ativos (atividades operacionais) e capacidade ao longo do tempo para contribuir para o sistema financeiro como um todo (MCKILLOP et al., 2020). 2.3 COOPERATIVISMO DE CRÉDITO PARA O DESENVOLVIMENTO Como destacado por Bretos e Marcuello (2017, p. 48), em virtude dos seus próprios princípios de atuação e valores, as cooperativas se tornaram destaque como importantes elementos estratégicos para promover a sustentabilidade e inclusão no contexto da Globalização, muitas vezes pela incapacidade operacional das estruturas tradicionais públicas e privadas. Por se tratar de uma união de esforços de iniciativas próprias de uma comunidade, o cooperativismo de crédito contribui de forma significativa para o desenvolvimento local sustentável, principalmente pelos aspectos de formação de poupança e de financiamento de iniciativas empresariais, trazendo indiretamente os benefícios na geração de emprego e distribuição de renda. As economias maduras, diga-se desenvolvidas, se beneficiam há muito tempo das cooperativas de crédito como instrumentos catalizadores para o 26 desenvolvimento de setores estratégicos, os exemplos podem ser encontrados na Europa, inicialmente na Alemanha, na Bélgica, Espanha, França, Holanda e em Portugal. No Brasil, embora as raízes do cooperativismo remontem ao ano de 1902, em decorrência de disputa de competências entre o Ministério da Agricultura e a SUMOC (Superintendência da Moeda e do Crédito), o movimento de crédito cooperativista apresentou fraca evolução no país nos anos finais da década de 50 e início dos anos 60 (SOARES; SOBRINHO, 2008). Como apontam os relatórios estatísticos do World Councilof Credit Unions members&affiliates a penetração das cooperativas de crédito na população economicamente ativa, torna-se marcante em países desenvolvidos, como é o caso dos Estados Unidos e Austrália, e também a baixa penetração em regiões, países e continentes considerados em desenvolvimento, caso da américa latina. TABELA 1 – População economicamente ativa associada a instituições financeiras cooperativas, em % Cooperados em relação à população economicamente ativa Região 2010 2020 África 7,6% 14,34% América do Norte 44,1% 50,48% América Latina 5% 16,47% Ásia 2,6% 5,85% Caribe 16,6% 65,97% Europa 3,5% 9,69% Oceania 17,3% 4,17% Estados Unidos 43,9% 58,69% Austrália 23,1 31,39% Brasil 2,9% 8,13% México 3,6% 9,14 Total Mundial 7,5% 12,18% Fonte: Relatório Estatístico do Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito (WOCCU), 2010 e 2020; Elaboração própria do autor. 27 Após inúmeros anos de fraco desenvolvimento, o sistema de crédito cooperativo no Brasil concretiza-se pela resolução n° 2193, de 1995, dando espaço imediato para duas principais sistematicas cooperativas, o Banco Cooperativo Sicredi (Bansicredi), criada em 1995 e conhecida hoje apenas por Sicredi, e em 1996 o Sistema de Cooperativas de crédito do Brasil (Sicoob), antigamente nomeado por Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob) (SOARES; SOBRINHO, 2008). O uso e conceito do termo microcrédito e microfinanças, abrangem a provisão de serviços financeiros adequados e sustentáveis para a população, muitas vezes de baixa renda e para comunidades esquecidas pelas instituições tradicionais de crédito. E é na categorização das Instituições MicroFinanceiras (IMFs) que as cooperativas de crédito e as Sociedades de crédito ao Microempreendedor se encontram. Dessa maneira, o microcrédito é definido pelas organizações financeiras como, a parte do sistema financeiro dedicada a prestar serviços às pessoas físicas e jurídicas empreendedoras de pequeno porte, se tornando uma estratégia para mitigar e superar a pobreza de localidades onde estão inseridas, de forma semelhante à como o cooperativismo de crédito tomou força no Alemanha a partir da expansão do cooperativismo de crédito para a zona rural, menos desenvolvida e mais carente. Em termos simples, as instituições que oferecem serviços microfinanceiros podem ser conceituadas em Microfinanças, Microcrédito e Microcrédito Produtivo e Orientado, sendo o core business das instituições financeiras cooperativas. Caracterizando esse segmento de negócios a instituições de micro finanças oferece todos os serviços para populações de baixa renda, financiando inclusive o consumo, já as instituições que oferecem serviços financeiros de microcrédito atendem ao público pequeno e microempreendedor apenas, e por fim há o micro crédito produtivo e orientado que fornece empréstimos de pequenas proporções para microempresas e orientado, frente a proximidade do agente financeiro e o tomador de empréstimo, estas duas últimas caracterizações não financiam o consumo (SOARES; SOBRINHO, 2008). Como destaca Mckillop (2020, p.7), em diversos países as cooperativas financeiras participam de um papel importante para o desenvolvimento, 28 fomentando o capital em comunidades regionalizadas, inclusive pelas características e missões do modelo da instituição bancária cooperativa como a missão de maximizar o bem-estar dos cooperados que estão inseridas, ou seja, na comunidade. Soma-se a importância do cooperativismo de crédito, como meio de acesso a serviços financeiros a populações carentes, a função de competir com os tradicionais bancos e por consequência baratear os juros para atividades empresariais, como destacado por Périus: O modelo econômico cooperativo não visa a substituir a economia de mercado, pelo contrário, serve-se dela, para fortalecê-lo, aprimorá-lo e até organizá-lo onde ele inexiste. O cooperativismo apenas visa à correção no sentido econômico, social e político-social (PERIUS, 1983, p.92). Das contribuições do cooperativismo de crédito no desenvolvimento local, é destacável a inclusão financeira de áreas esquecidas, muitas vezes rurais, o fomento das atividades empreendedoras e microempreendedoras, a cultura da poupança, o retorno de lucros e excedentes aos cooperados através da políticas, valores e princípios do cooperativismo, que já foram apresentados anteriormente, e além disso, contribui com a concorrência, disponibilizando crédito ao mercado de forma mais barata, especializada e orientada. Se faz necessário um adendo, a respeito da importância de instituições que ofereçam soluções financeiras especializadas para empreendedores de pequeno porte, através da passagem do Grameen Bank (Banco de Aldeia) criada pelo economista Muhammad Yunus, que recebeu em 2006 o prêmio Nobel da Paz, pelos esforços que foram realizados na divulgação de idéias e expertise compartilhadas, do ramo do microcrédito, na Índia. O recebimento do prêmio Nobel da Paz consolida a importância desse instrumento como ferramenta mitigadora da pobreza (SOARES; SOBRINHO, 2008). 2.4 ESTUDOS ECONÔMICOS Jacques e Gonçalves (2016) destacam que as cooperativas de crédito são promotoras do desenvolvimento local, visto a intrínseca relação entre desenvolvimento financeiro e crescimento econômico. Através do método de diferenças em diferenças (dif-in-dif), os autores concluíram que a presença das 29 cooperativas de crédito impacta, em média em R$ 1.825,00 no PIB per capita de um município. Em seu estudo sobre o impacto dos bancos cooperativos na Itália, através de um estudo em painel, Caporale et al. (2016) concluí que essas instituições possuem um efeito não linear no crescimento da economia local em que estão instaladas, sendo coerente com os estudos empíricos acerca da relação entre finanças e crescimento econômico. Em sua análise, Migliorelli (2018) mostra que os bancos de crédito cooperativo ultrapassaram os bancos tradicionais após a crise financeira de 2008, em termo de concessão de crédito, na Alemanha e no nordeste da zona do euro, enquanto não surgiram diferenças significativas no resto do continente europeu, severamente atingido pela crise, devendo-se a principal causa para este fenômeno o crédito “não performativo” em seu nível de capitalização, das cooperativas de crédito e na possibilidade de escolha entre desalavancagem e contenção creditícia. Ao estudar o impacto das cooperativas de crédito no desenvolvimento econômico local, Coccorese e Shaffer (2018) identificaram que as cooperativas de crédito desenvolvem um importante papel no esforço para o desenvolvimento econômico do local em que se encontram inseridas, por meio do aumento da taxa de crescimento de empresas e, consequentemente, empregos e renda. A partir desse estudo, os autores defendem que a pulverização dessas instituições financeiras seria benéfica, especialmente em áreas que sofrem com taxas baixas de crescimento econômico, concordando com demais estudos sobre o papel decisivo das cooperativas de crédito em apoiar provisões de crédito tradicionais com os tomadores de empréstimos locais. Nan, Gao e Zhou (2019) identificaram que a concessão de financiamentos e empréstimos por cooperativas de crédito rural na China, são de extrema importância para o financiamento das atividades rurais, por flexibilizar as restrições ao crédito rural e a intensa concorrência fortalece a contribuição das cooperativas de crédito para o crescimento agrícola, melhorando a eficiência gerencial e desenvolvendo produtos financeiros diversificados para melhor atender as demandas de crédito dos produtores rurais da China. Silva e Ratzmann (2013) discorrem que no Brasil, embora a participação das cooperativas de crédito seja ainda pequena, no cenário agregado do sistema financeiro nacional é visível seu crescimento e melhoriade seus resultados, 30 particularmente no século XXI. Evidências dessa melhoria estão no aumento no número de estabelecimentos, no crescente número de associados e na expansão da participação no total do crédito nacional, variáveis que permitem inferir sobre o desempenho das instituições de crédito cooperativo brasileiras. 2.5 DESCRIÇÃO DO MUNICÍPIO SEDE (ITAPIRANGA) E INDICADORES DOS MUNICIPIOS COM PONTOS DE ATENDIMENTO No ano de 1926 colonizadores chegaram a terras que foram chamadas de Porto Novo, colonização que foi projetada pela Sociedade União Popular (Volksverein), que foi um movimento das colônias Alemãs do Rio Grande do Sul, vinculado e coordenado pelos padres jesuítas da região das missões, que tinham objetivo de implantar uma fronteira agrícola, cultural e social no extremo Oeste Catarinense (FRANZEN; BADALOTTI, 2020). Em seus primórdios, a população que ali residia dedicava-se quase que exclusivamente a agricultura de subsistência, e a primeira atividade mercantil foi a venda de madeiras nobres, através da exploração da mata atlântica, escoadas pelos leitos do Rio Uruguai, para o Uruguai e Argentina (Portal da Câmara legislativa de Itapiranga, 2018). Pelo decreto n º 213, de 25/02/1932, do então Interventor Estadual Ptolomeu de Assis Brasil, o atual município de Itapiranga tornou-se Distrito do município de Chapecó. Com as mudanças estruturais acontecendo e as amarras burocráticas se desfazendo, intensificou o movimento em prol da organização político administrativa, tendo destaque para a criação, fomentada pelos Jesuítas Alemães, da Caixa Rural União Popular de Porto Novo, atualmente SicoobCredItapiranga, destaca-se na região o primeiro hospital instalado no ano de 1937, a primeira central telefônica, no ano de 1951 e por fim, escolas, empresas, comerciais, prestadores de serviços e estradas (Portal da Câmara legislativa de Itapiranga, 2018). Com muita articulação política, no dia 14 de fevereiro de 1954, o município de Itapiranga conquista a emancipação de Chapecó. Atualmente o município faz divisa com os municípios de Mondaí, São João do Oeste e Tunápolis ao leste, em direção Oeste, é encontrada a divisa com a República da Argentina, que ocorre por uma fronteira fluvial, o Rio Peperi Guaçu, ao Sul, encontra-se o 31 município de Barra do Guarita no Estado do Rio Grande do Sul, com fronteira fluvial do Rio Uruguai, compreendendo um espaço territorial de 286 km2 e de 26 comunidades interioranas, de solo argiloso, basáltico e de mata atlântica. Com uma população estimada em 17000 habitantes e de densidade demográfica em 54,51 hab/Km2 , 8113 postos de trabalho, ocupando 48,1% da população itapiranguense, que detém um salário médio mensal de 2 salários-mínimos e um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,775 (IBGE, 2010). Figura 1 – Município de Itapiranga situado em Santa Catarina Por Raphael Lorenzeto de Abreu - Image:SantaCatarina MesoMicroMunicip.svg, own work, CC BY 2.5, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1150669 Atualmente Itapiranga está associada à Associação dos Municípios do Extremo Oeste de Santa Catarina, zona em destaque na figura 2 abaixo, que hoje conta com 19 municípios, entre esses Itapiranga se destaca com o maior movimento econômico. Em decorrência da colonização e cultura de subsistência, Itapiranga herdou uma base econômica diversificada entre as atividades agrícolas, hoje o município destaca-se na produção de aves, suínos 32 e leite, no entanto, produz também carne, fumo, feijão, mel e milho. É importante destacar que existe forte participação econômica da indústria de transformação, contando com duas unidades da JBS instaladas no município, a maior delas emprega aproximadamente 3500 funcionários da região para o abate, processamento e industrialização da carne de aves, que é exclusivamente destinada para a exportação, e também a unidade de abate e processamento de suínos, empregando em torno de 1000 funcionários. Quanto ao cooperativismo de crédito, a cidade possui instalações da Sicredi Raízes RS/SC/MG e da Sicoob CredItapiranga. Figura 2 – Microrregião do Extremo Oeste Catarinense, destacada em verde. Fonte: Associação dos Municípios do Extremo Oeste de Santa Catarina, https://www.ameosc.org.br. Quanto aos Pontos de Atendimentos no noroeste do Rio Grande do Sul, vamos nos ater principalmente aos dados sociais e econômicos gerais dos municípios onde estão instaladas estes pontos de atendimento. A caráter explanatório será exibido indicadores econômicos e sociais quanto a população, trabalho e rendimento, território e ambiente e a economia dos 7 municípios que as unidades, ou pontos de atendimento, da Sicoob CredItapiranga se fazem presentes, a fim de observar semelhanças ou então vislumbrar apontamentos que a literatura a respeito do cooperativismo de crédito https://www.ameosc.org.br/ 33 apresenta, como a prioridade de atendimento em zonas afastadas dos grandes centros urbanos/zonas rurais. Figura 3 – Indicadores sociais e econômicos dos municípios com unidades da cooperativa de crédito Sicoob Creditapiranga em Santa Catarina. Fonte: IBGE, Sistema Agregador de informações do IBGE sobre os municípios; Elaboração própria do autor. 34 Figura 4 – Indicadores sociais e econômicos dos municípios com unidades da cooperativa de crédito Sicoob Creditapiranga no Rio Grande do Sul. Fonte: IBGE, Sistema Agregador de informações do IBGE sobre os municípios; Elaboração própria do autor. Como é observado, podemos perceber que as cidades atendidas pelos Postos de Atendimento da Sicoob CredItapiranga são majoritariamente cidades pequenas do extremo oeste de Santa Catarina, como Itapiranga, São João do Oeste e Tunápolis, e também no noroeste gaúcho nas cidades de Tenente Portela e Crissiumal. 35 3 METODOLOGIA DE PESQUISA Nesta seção será descrito o ferramental utilizado para a elaboração da pesquisa em âmbito acadêmico. Na primeira subseção é exposto a caracterização do estudo, na segunda subseção os matérias e por fim, o método. 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA O estudo em destaque apresenta uma caracterização descritiva por “estudar características de determinado grupo”, como destaca Gil (2002, p. 42). Nesse âmbito, será estudado as características do cooperativismo de crédito como variável imprescindível para o desenvolvimento do município de Itapiranga. Por fim, esse estudo caracteriza-se por abordar um universo amplo na pesquisa, o cooperativismo de crédito, que pertence ainda a uma forma de organização de produção. O cooperativismo de crédito pode seguir várias tendências de pesquisa, entretanto, podemos entender essa como uma pesquisa de estudo de campo no limiar da questão, por demais, se dará caracterizada a pesquisa através da metodologia descritiva e histórica, que para então através de uma análise qualitativa, responder ao problema da pesquisa. 3.2 MATERIAL Para entender a profundida da questão, é necessário partir do princípio que a conjuntura atual da forma de convívio social, das instituições e costumes terem origem no passado, faz-se necessário a compreensão das suas raízes, natureza e função através da pesquisa (LAKATOS, P. 107). Verificando a influência atual das instituições de crédito cooperativo, o estudo deve abarcar aos períodos de sua formação e modificações. O estudo em destaque converge para o enquadramento em torno da caracterização descritiva, pelo tom do estudo ter a descrição das características de determinada população, principalmente, pela problemática a respeito de analisar a visão dos gestores da cooperativa. Baseando-se na literatura para 36 fomentar um questionário e conclusões, faz-se necessário o conhecimento e entendimento, através da pesquisa a campo com os colaboradoresda cooperativa. Através da aplicação de um questionário, procura-se a obtenção de dados primários que serão tratados pelo autor, para induzir a uma análise comparativa entre a literatura e o que é praticado e conhecido pelos gestores da cooperativa de crédito. Qual o nível de similaridade entre, a percepção dos gestores da contribuição da cooperativa de crédito local no desenvolvimento econômico do município de Itapiranga e o que aponta a literatura? Questionários bem-feitos são capazes de produzir e levantar informações valiosas, porém é de elevada complexidade, visto que é necessário acesso aos respondentes e a sua cooperação com o pesquisador em responder um questionário, que por vezes demanda tempo, exige atenção e reflexão diante das questões e orientações apresentadas (VIEIRA, 2009). O questionário é apenas um conjunto de questões, elaboradas para levantar e gerar dados necessários para atingir os objetivos da pesquisa, especialmente importantes em pesquisas cientificas das ciências sociais, por ser uma ferramenta eficiente para a forma da coleta de dados (CHAGAS, 2000). Embora a vertente acadêmica do curso de ciências econômicas da ESAG/UDESC seja a formação de economistas empresariais, o curso pertence a grande área das ciências sociais, evidenciando que para levantamento de dados e informações sociais e econômicas muitas vezes são materializados por meio de questionários e estatística. Dito isso, evidencia-se a necessidade da elaboração, aplicação e análise das opiniões e sentimentos dos gestores da cooperativa de crédito por meio de um questionário, para o cumprimento com os objetivos propostos para este projeto. A fim de captar diferentes níveis de intensidade nas respostas dos respondentes, o questionário foi construído a partir de afirmações auto descritivas e inspiradas na escala Likert, com 5 níveis de respostas para um conjunto de perguntas específicas, partindo de “Concordo totalmente” até “Discordo totalmente”. Esse tipo de escala para questões fechadas possibilita a 37 combinação da psicologia humana com informações padronizadas, que através da estatística traduz a informação desejada ao pesquisador. O questionário foi redigido pelo acadêmico do curso de Ciências Econômicas Bernardo Melchiors Trebien sob a orientação do Profo Dr. Lisandro Fin Nishi, como requisito para a aquisição do título “bacharel em ciências econômicas” e conclusão da matéria de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do curso de Ciências Econômicas do Centro de Escola Superior de Administração e Gerência (ESAG) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). A estrutura do questionário foi pensada como uma forma de captar aspectos como o desenvolvimento sustentável, a responsabilidade Social e de governança corporativa da cooperativa de crédito em análise, Sicoob CredItapiranga, entre os gestores da cooperativa de crédito. Essa estrutura permite analisar as perguntas em aspectos principais de 6 dimensões, social, econômico, ambiental, a dimensão dos valores e princípios cooperativistas na governança organizacional, o aspecto gerencial e tecnológico e por fim a cadeia de valor da cooperativa de crédito. As 6 dimensões foram assim caracterizadas em 3 tópicos de perguntas, Econômico e Cadeia de Valor, Gerencial e Tecnológico e métricas ESG (Environmental, Social & Governance). 3.3 MÉTODO HIPOTÉTICO DEDUTIVO O método utilizado para verificar a percepção dos gestores quanto o papel do cooperativismo de crédito no desenvolvimento social e econômico da cooperativa de crédito Sicoob CredItapiranga e seus Pontos de Atendimento ao Cooperado, inicia-se pela percepção de poucos aspectos levantados juntos a percepção de quem é responsável pelo direcionamento e execução operacional da cooperativa de crédito, os gestores, em artigos científicos, embora consolidado temáticas como, o importante vetor que as cooperativas de crédito apresentam para o desenvolvimento social e econômico. Nesse sentido, a percepção de Marconi e Lakatos (2009) corrobora para que este estudo seja definido metodologicamente como hipotético dedutivo, iniciado pela percepção de lacunas nos conhecimentos a respeito da percepção e crenças dos gestores, acerca da qual formula-se a hipótese de que a visão da organização produtiva e 38 das funções e finalidades que as cooperativas de crédito apresentam na literatura, se encaixe com a visão dos gestores. Entretanto, para o teste da hipótese, será necessário, através da obtenção de dados via questionário capaz de captar a percepção dos gestores, a metodologia estatística permitindo obter de conjuntos complexos, representações simples e constatar se essas verificações simplificadas têm relação entre si. O método estatístico permite reduzir fenômenos sociológicos, políticos, econômicos etc. a termos quantitativos e a manipulação estatística capacitando o pesquisador comprovar as relações dos fenômenos entre si e obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado, através deste é possível medir qualquer atributo quantificável que facilite o entendimento da pesquisa sendo está a estratégia para o levantamento dos resultados e fomento das discussões. Ao término da pesquisa busca-se a cooperação com o movimento cooperativista de crédito, visando quantificar e analisar a percepção dos gestores da Sicoob CredItapiranga quanto ao importante papel do cooperativismo de crédito no desenvolvimento social e econômico, dessa forma podendo oferecer maiores conhecimentos, possíveis melhorias e constatações aos gestores, maior aceitação mediante a população e maior divulgação dos princípios cooperativistas. 39 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES As cooperativas de crédito são constituídas, em forma de uma organização empresarial, por uma associação de indivíduos com um mesmo objetivo, a fim de promover e ofertar soluções bancárias e financeiras, em áreas muitas vezes não capturadas pelos principais bancos, de maneira a possibilitar juros mais acessíveis em certos casos, e também a diferenciação em relação ao serviço financeiro tradicional, pois oferta seus serviços de forma orientada e próxima ao tomador de empréstimo. Guiada pelos princípios cooperativistas, o capital para a constituição de uma nova cooperativa de crédito e início de suas atividades operacionais é equitativamente requerido entre todos os cooperados, concedendo mesmo poder de voto nas assembleias e no direcionamento do negócio. Como forma de capturar a visão dos gestores através do questionário, esse foi dividido em 3 blocos, e de maneira a simplificar a discussão, essa vai ser orientada de mesma maneira. O primeiro bloco de perguntas capazes de capturar a percepção dos gestores da cooperativa de crédito Sicoob Creditapiranga, foi alinhado com a temática e discussão sobre o papel econômico e de cadeia de valor da cooperativa, o segundo, os aspectos administrativos de governança, sociais e do ambiente e por fim, o terceiro bloco gerencial e tecnológico. Como primeira pergunta, foi optado por captar a percepção dos gestores num caráter mais histórico, visando entender quanto ao conhecimento dos diretores, gerentes, coordenadores e supervisores aos primórdios do movimento cooperativista de crédito, onde este se originou principalmente como maneira de contornar a ausência de instituições financeiras tradicionais, conectando poupadores e tomadores de empréstimos de uma economia local e regional. Nesse quesito, esse movimento pode ser explicado por relações ainda existentes na economia brasileira, como apontado pelos dados de 2015 fornecidos pelo IBGE, onde uma parcela significativa da população bancária das cooperativas de crédito apenas utiliza ou tem acesso aos serviços da cooperativa de crédito, ainda assim, como apontado por Soares e Sobrinho (2008) esse é um fenômeno, de buscar comunidadesmuitas vezes não atendidas por serviços 40 bancários, intrinsicamente ligado ao surgimento e difusão do sistema cooperativista de crédito, no Brasil e pelo mundo. Nesse quesito, com 74% das respostas concordando totalmente com a afirmação, entendemos como uma visão predominante entre os gestores e em grande concordância com a literatura. Por sua estrutura organizacional, em forma de uma cooperativa, com princípios estabelecidos e bases democráticas, evidências e autores destacam as cooperativas de crédito como uma maneira resiliente e eficiente para contorna crises financeiras, econômicas, inflação, recessão, estagnação econômica e o desemprego, como apontado por Pinho (1982) e observado no estudo de Migliorelli (2018). Dessa maneira encontramos uma concordância total de 52% do público respondente e 43,5% concordando na segunda pergunta, inferindo em uma concordância a respeito do papel resiliente e eficiente em momentos de crise da cooperativa de crédito. Como forma de complemento a análise da questão 1, a questão 3 visa captar se ainda persiste a sensação e percepção entre os gestores, de alguns cooperados que usufruem apenas dos serviços financeiros oferecidos pela cooperativa de crédito. Mesmo com maior variância entre as respostas, ainda é possível ver a predominância de 39% das respostas concordando com a afirmação e aproximadamente 35% concordando totalmente, 17% discordando e 9% neutro, que ainda existe uma parcela significativa de cooperados que utilizam apenas serviços desta, seja por ser a única prestadora de serviços financeiros especializados na localidade, ou então por fidelidade do cooperado. Como maneira de testar e averiguar a percepção dos gestores quanto aos princípios cooperativistas e a própria missão da cooperativa de crédito Sicoob Creditapiranga, na quarta pergunta, esta afirma que os objetivos da instituição vão além do lucro, alcançando os objetivos firmados pelos princípios cooperativista, focando no maior retorno de bem-estar para a comunidade e cooperados, como destaca Mckillop et al. (2020). Nessa questão, 87% dos gestores concordam totalmente e 13% apenas concordam com a afirmação, sugerindo uma percepção em total concordância com os princípios cooperativista, missão da cooperativa de crédito em análise e da literatura apresentada. 41 Na afirmativa cinco e seis, respectivamente corroboram para os apontamentos de Soares e Sobrinho (2008), onde esse destaca que as cooperativas de crédito tomaram força e são de suma importância para o Sistema Financeiro Nacional por fomentarem o segmento das micro finanças, através das micro e pequena instituições financeiras, financiando micro e pequenos empreendimentos, mitigando o desemprego, a pobreza e por fim, gerar riquezas. Além do mais, revela que pela proximidade entre as micro e pequenas instituições financeiras em relação aos tomadores de empréstimos, possibilitam juros mais acessíveis aos tomadores de empréstimo. Na amostragem, a afirmativa cinco obteve 61% dos gestores respondentes concordando totalmente e 39% concordando que no Brasil o cooperativismo de crédito tornou-se importante segmento por fomentar o ramo das micro finanças, com consequências mitigadoras da pobreza e gerador de riqueza. Na asseveração seis, aproximadamente 70% dos gestores percebem e concordam totalmente que a instituição Sicoob Creditapiranga é facilitadora de empréstimos pelo seu vínculo com a localidade e permite ainda, juros mais acessíveis a comunidade. Na afirmação sete, busca-se analisar diante todos os pontos de atendimento da cooperativa de crédito se, na percepção dos gestores a instituição financeira pela sua proximidade com o tomador de empréstimo possibilita melhor orientação, supervisão e coordenação dos serviços ofertados. Nesta, encontramos uma concordância total de aproximadamente 74% dos respondentes e 26% apenas concordando com a afirmação, sendo assim, pode ser dito que de fato, na visão dos gestores, a(s) cooperativa(s) desempenham diferente papel em relação as instituições financeiras tradicionais, mas ainda competindo com essa, ofertando crédito melhor especificado e orientado às necessidades dos cooperados. Das assertivas oito a dez, optou-se por capturar a visão dos gestores basicamente quanto ao papel da cooperativa de crédito no Sistema Financeiro do país. Para a questão oito, onde afirma-se que essas instituições são vetores para a bancarização do país, 52% dos entrevistados concordaram totalmente com essa e 43,5% apenas concordaram. Já na afirmativa nove, capta-se aproximadamente 96% dos respondentes concordando totalmente que a 42 instituição Sicoob Creditapiranga e seus Pontos de Atendimento, assim como outras cooperativas de crédito, são instrumentos que disseminam a importância da poupança e da educação financeira na localidade onde estas estão inseridas, ou seja, municípios de Santa Catarina e do noroeste do Rio Grande do Sul. E por último a questão dez, fechando este primeiro bloco de perguntas, obteve-se maior alternância nas percepções dos gestores quanto ao principal negócio da cooperativa, financiamentos empresariais na localidade inserida, entretanto, 43,5% dos gestores concordam totalmente com a afirmativa. No segundo grande bloco, intitulado por Environmental, Social & Governance, agregou-se características da estrutura hierárquica, de princípios sociais e a preocupação com o desenvolvimento sustentável do movimento cooperativista de crédito. Como afirmativa de número onze, auto descreve-se que o movimento voluntário e democrático, em forma de organização empresarial cooperativa, interligadas em princípios, e segmentadas em ramos de atuação, aproxima-se a uma filosofia de vida, de cooperar para crescer, de certa forma na organização de união estatutária. Dessa afirmação, de que o movimento cooperativista, pelo seu princípio de cooperação, pode ser visto como uma filosofia de vida, obteve-se aproximadamente 83% dos respondentes concordando totalmente com esta e 17% concordando, apenas. De forma similar, na assertiva de número doze, aproximadamente 70% dos gestores concordam totalmente que o cooperativismo em sua essência preza pela soma de esforços, não apenas a competição, e também 30% apenas concordam. Dos princípios abarcados pelas questões onze e doze, podemos evidenciar o interesse pela comunidade, o ato de cooperar e crescer juntos e também pelo princípio da intercooperação. Ainda como forma de perceber se os princípios cooperativistas estão na visão dos gestores, dessa vez na sua forma estruturante de negócio, a asseveração treze retrata que os cooperados são donos do negócio de forma igualitária e democrática, observando-se 82,6% dos respondentes concordando totalmente com a afirmação e apenas 17,4% concordando. Ainda sob sua forma organizacional, vinculados aos princípios cooperativistas, a afirmativa quatorze remete sob os investimentos que a instituição Sicoob Creditapiranga despende em seu quadro de funcionário para 43 a formação técnica e humana, com bolsas de estudo e auxílio estudo continuado; tendo como resultado, cerca de 61% dos gestores concordam totalmente e 39% concordam com essa. No apontado pela questão quinze, pode se entender como empate técnico entre concordo totalmente e apenas concordo, quanto ao papel da cooperativa de crédito no desenvolvimento sustentável da localidade, com investimentos em educação, geração de empregos e renda. Sob a afirmativa dezesseis, constata-se 4 diferentes respostas dos gestores da cooperativa, mas ainda predominantemente 56% dos gestores concordam, onde essa afirma que as cooperativas de crédito surgiram do esquecimento do setor financeiro tradicional, em zonas periféricas a grandes centros urbanos e econômicos, sendo a variância entre as respostas, possivelmente respondida pelo cunho históricoda questão. Para findar o segundo bloco sob questões administrativas, de gerência, sociais e ambiental, buscou-se averiguar a sensação do gestor quanto a persistência dos esforços da cooperativa de crédito Sicoob Creditapiranga em alcançar e buscar pessoas, empresas e comunidades que não tem acesso a serviços bancários especializados e adequados a demanda da localidade. Pode ser averiguado cerca de 52% dos gestores concordando totalmente com esta, 43,5% apenas concordando e uma resposta neutra. Esse cenário, de localizar, especificar seus serviços à demanda e integrar pessoas ao sistema bancário, está intrinsicamente ligado a sua expansão do movimento cooperativista de crédito, primordialmente na Alemanha, e no caso brasileiro, é evidenciado como um dos fatores para o surgimento da primeira cooperativa de crédito em 1902, hoje SICREDI Raízes, a exclusão financeira da região, assim como no caso de Itapiranga e Sicoob Creditapiranga. Como último grande bloco, a afirmativa dezoito capta-se a sensação dos gestores quanto a alternativa gerencial e de direcionamento de negócio, se o princípio de independência e autonomia possibilita que a cooperativa de crédito em questão adeque se a demanda e as legislações em constantes transformações, de modo orgânico. Nessa foi tido um empate em 47,8% das respostas entre concordando totalmente e apenas concordando, e 4,3% indiferente. De mesma maneira a assertiva dezenove obteve um resultado similar, onde 56% concordaram totalmente e 43,5% apenas concordaram, em 44 que as, como apontado por Mckillop (2020), as cooperativas de crédito continuam sendo formadas e moldadas por avanços e reformas estruturantes no Sistema Financeiro, no caso nacional evidencia-se o internet banking e o sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central do Brasil, o PIX. Como adendo, a afirmação de número vinte, testa a percepção dos gestores quanto a interferência e competição por cooperados em relação ao princípio da adesão livre e voluntária, no âmbito das cooperativas de crédito. Teve como resultado uma grande distinção entre as respostas obtidas, porém ainda uma predominância de aproximadamente 50% dos gestores concordando com esta, a caráter de discussão, com a redução dos custos de transação com o internet e open banking e as cooperativas tendo de se adaptar, talvez enfrentem maior competição entre as próprias cooperativas. Como última questão, afirmou-se que através dos estatutos e assembleis as cooperativas de crédito tornam-se eficientes e concorrenciais com outras formas de organização financeira ou empresarial, onde 60% dos respondentes apenas concordaram, 34,8% concordaram totalmente e 4.3% discordam. Embora em circunstâncias sazonais as cooperativas de crédito possam enfrentar problemas, essas já se mostraram historicamente resilientes e eficientes, como destacado por Soares e Sobrinho (2008), onde as cooperativas de crédito no Canadá e Irlanda ocupam, com bastante eficiência, espaços deixados pelas instituições bancárias, conseguindo ainda manter os empregos nas pequenas comunidades e ofertar serviços mais adequados às necessidades locais. 45 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo teve por objetivo levantar informações sobre o setor cooperativista de crédito, assim como a percepção interna dos gestores da cooperativa Sicoob Creditapiranga a respeito do papel desta para com o desenvolvimento econômico, social e cultural onde suas unidades estão instaladas. Mediante a aplicação do questionário, foi possível padronizar essa percepção e contextualiza-la, com debates e motivações apontados pela literatura. É perceptível e notória a visibilidade e crescimento que tem tido o movimento cooperativista de crédito, no mundo e no Brasil. Entretanto, um grande dilema vai ser sobre a eficiência das cooperativas de crédito, visto a intensa competição no sistema bancário e a sua sustentabilidade. Por fim conclui-se que sua integridade se dá por diversos fatores, os negócios das cooperativas de crédito são melhor especificados e orientados, conforme a demanda local e regional, seus excedentes são revertidos aos cooperados, intenso investimento em educação e formação e principalmente o interesse pela comunidade, empregando, gerando renda e riqueza. Soma-se as características das cooperativas de crédito aos princípios cooperativistas, foi encontrado não somente um negócio sustentável e que agrega valor à comunidade e seus cooperados, mas também uma forma competitiva de remunerar os credores da cooperativa através da distribuição de sobras dos lucros e resultados da cooperativa de crédito, remunerando seus cooperados de acordo com critérios estabelecidos em assembleis, muitas vezes relacionado à movimentação e giro de capital conjuntamente com a instituição. Oferecendo dos mais diversos tipos de serviços, é destacável a capilaridade dos serviços oferecidos pela instituição de crédito Sicoob Creditapiranga e demais cooperativas de crédito, como os cartões de crédito e débito, operação de maquininhas para cartão de crédito, conta corrente, saques, depósitos, empréstimos, serviços de internet banking e concessão de capital em geral, ou seja, praticamente uma instituição financeira tradicional. A adesão livre e voluntária de cooperados permite o indivíduo se associar, ou buscar se associar a uma cooperativa de crédito que lhe remunere em 46 maiores quantidades, atenda melhor aos serviços requisitados e até que consiga uma melhor gerência e conhecimento sobre financiamentos e o mercado de capitais, considerando um cenário de internet banking, aonde a localização geográfica não interfere para alguns tipos de serviços, ou um grande número de cooperativas num mesmo município, por exemplo. Sem dúvidas, o cooperativismo de crédito é uma área do mercado financeiro brasileiro que continuará em expansão, entretanto, em constante mudança e adaptação. Como observação, os motivos apontados pelos autores Franzen, Badalotti e Chaves (2019), de que o movimento vinculado as missões Jesuíticas, o Volksverein, protagonista da primeira Cooperativa de crédito de Santa Catarina, que por sua vez, também fora financiada e protagonizadas pela cooperativa de crédito chamada de Sparkasse, tiveram como missão, estabelecer uma nova fronteira cultural, econômica e agrícola na região de fronteira com a Argentina, interligando o movimento do desenvolvimento cultural, social e econômico local ao cooperativismo de crédito de forma histórica, de maneira similar a uma doutrina ou filosofia. A organização cooperativa de crédito, não visa a substituir a economia de mercado e os serviços bancários, pelo contrário, serve-se dela, para fortalecê-lo, aprimorá-lo e até organizá-lo onde ele inexiste. 47 6 BIBLIOGRAFIA BRASIL. (s.d.). Constituição 1988. Fonte: Constituição da República Federativa do Brasil: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm Bretos, I., & Marcuello, C. (2017). Revisiting globalization challenges and opportunities in the development of cooperatives. Annals of Public and Cooperative Economics, 47-73. CAPORALE, G. M. (2016). Local banking and local economic growth in Italy: some panel evidence. Applied Economics, p.2665-2674. Chagas, A. T. (s.d.). O questionário na pesquisa científica. O QUESTIONÁRIO NA PESQUISA CIENTÍFICA Anivaldo Tadeu Roston Chagas Mestre em Administração pela USP e professor da Universidade Ctólica de Campinas. COCCORESE, P., & Shaffer, S. (2021). Cooperative banks and local economic growth. Regional Studies, 30-7-321. Cooperativismo, P. d. (2 de abril de 2016). Cooperativismo de crédito. Fonte: https://www.cooperativismodecredito.coop.br/cooperativismo/historia-do- cooperativismo/historia-no-brasil/ Crédito, P. d. (2016). Portal do Cooperativismo Financeiro. 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Microfinanças O papel do Banco Central do Brasil e a Importância do Cooperativismo de Crédito. Brasília: Banco Central do Brasil. Vieira, S. (2009). Como Elaborar Questionários. São Paulo: Atlas S.A. 50 GLOSSÁRIO Gestores: Os gestores da cooperativa de crédito são todos aqueles cooperados que trabalham no operacional da empresa, assumindo os cargos de diretoria, gerência, coordenação e supervisão. Internet Banking: O Internet Banking é o ambiente bancário na internet. Open Banking: O Open Banking, ou sistema financeiro aberto, é a possibilidade de clientes de produtos e serviços financeiros permitirem o compartilhamento de suas informações entre diferentes instituições autorizadas pelo Banco Central e a movimentação de suas contas bancárias a partir de diferentes plataformas e não apenas pelo aplicativo ou site do banco, de forma segura, ágil e conveniente. Expertise: Competência, comprovação, especialista em determinado assunto. 51 APÊNDICE A – RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO 52 53 54 55 56 57 58
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