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Cadernos-Finanças-Solidarias-NESOL_USP

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Prévia do material em texto

Ficha técnica
Universidade de São Paulo
Pró-reitoria de Cultura e Extensão
Núcleo de Apoio às Atividades de Cultura e Extensão em Economia Solidária (NACE/NESOL)
O conteúdo dessa publicação está sob a licença Creative Commons 
Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual
CC BY-NC-SA
Coordenador acadêmico: Prof. Dr. Augusto Câmara Neiva
Preparação de textos: Denizart Fazio e Juliana Braz
Revisão: Janaína Mello
Imagens: Acervo do Centro de Estudos e Assessorias, Acervo da Cresol, Acervo do Nesol-USP.
Ilustração da Capa: Yuri Garfunkel
Projeto gráfico e diagramação: Cassimano
Equipe do projeto (colaboradores): Denizart Fazio, Juliana Braz, Silvia Soares de Camargo.
Tiragem: 3000 exemplares
Ficha catalográfica
Núcleo de Economia Solidária – NESOL-USP
Finanças Solidárias (Cadernos de Finanças Solidárias) / Núcleo de 
Economia Solidária – NESOL-USP – São Paulo – NESOL-USP, 2015.
ISBN: 978-85-63348-03-6
1. Finanças Solidárias 2. Bancos comunitários de Desenvolvimento 3. 
Fundos Solidários 4. Cooperativas de Crédito Solidário
Este material faz parte da Meta 4, Etapa 4.1, do “Projeto Nacional de Finanças Solidárias – Apoio e 
Fomento às iniciativas de finanças solidárias com base em bancos comunitários de desenvolvimento, 
fundos solidários e cooperativas de crédito solidário”, patrocinado pelo Ministério do Trabalho e 
Emprego – MTE sob o convênio nº 791559/2013.
Execução:
Financiamento:
II. As experiências de Finanças Solidárias hoje 
1. Definindo as Finanças Solidárias ...................................... 28
2. As experiências de Finanças Solidárias hoje ................. 30
2.1 Bancos comunitários de desenvolvimento ..................................... 30
2.2 cooperativas de crédito solidário ..................................................... 32
2.3 Fundos solidários .................................................................................... 35
2.4 mapa das Finanças solidárias no Brasil ........................................ 38
III. As formas de organização das Finanças Solidárias
1. Redes ................................................................................................... 42
1.1 rede Brasileira de Bancos comunitários ................................................ 42
1.2 comitê Gestor de Fundos solidários um traBalho em rede ................ 43
1.3 sistemas: a articulação do cooperativismo de crédito ........................ 44
2. Comitê Temático de Finanças Solidárias ................................................ 46
2.1 comitê temático de crédito e Finanças solidárias ............................. 47
3. Um processo em construção: por um Sistema de Finanças Solidárias ... 49
Apresentação 5
I. Economia Solidária e Finanças Solidárias 
1. A Economia Solidária .............................................................. 8
1.1 deFinição de economia solidária ................................................................... 8
1.2 aspectos históricos ......................................................................................... 9
1.3 orGanização ................................................................................................... 10
2. Os movimentos sociais e as Finanças Solidárias ...................... 13
2.1 Fundos solidários ....................................................................................... 14
2.2 cooperativismo de crédito solidário ..................................................... 16
2.3 cluBes de trocas ........................................................................................... 20
2.4 Bancos comunitários de desenvolvimento .......................................... 22
3. A complementariedade das experiências de Finanças Solidárias ...... 25
3.1 complementariedade das experiências ......................................................... 25
3.2 Finanças solidárias e microcrédito ........................................................... 26
7
28
42
Referências Bibliográficas ................................................................................................................. 51
sumário
5
Finanças Solidárias
Apresentação
A partir do “Projeto Nacional de Finanças Solidárias – Apoio 
e Fomento às iniciativas de finanças solidárias com base em bancos 
comunitários de desenvolvimento, fundos solidários e cooperativas de 
crédito solidário”, patrocinado pelo Ministério do Trabalho e Emprego – 
MTE sob o convênio nº 791559/2013, foi possível realizar um conjunto de 
materiais de subsídio e reflexão sobre o universo das finanças solidárias. 
O presente caderno faz parte de um conjunto de quatro publicações que, 
além de apresentar os atores das finanças solidárias, abordarão o Sistema 
Financeiro, o Intercâmbio Técnico como metodologia de construção 
de conhecimentos, compartilhamento e sistematização de experiências 
e um histórico sobre a política pública de Finanças Solidárias. Desse 
modo pretendemos abranger um amplo conjunto de temas que afetam as 
práticas de finanças solidárias, hoje espalhadas por todo o Brasil.
Este caderno de forma inédita apresenta os três atores das finanças 
solidárias no Brasil: os fundos solidários, os bancos comunitários de 
desenvolvimento e as cooperativas de crédito solidário, contando 
brevemente o histórico do surgimento das iniciativas e apresentando 
mapas de onde elas estão. Essas iniciativas foram georreferenciadas a 
partir dos dados fornecidos pelas entidades que aqui agradecemos 
publicamente: Confesol, Cresol Central, Cresol Sicoper, Banco Tupinambá, 
Banco Bem, Banco Palmas, Centro de Educação e Assessoria, Camp, 
Cáritas Brasileira, Fundação Grupo Esquel. Importante lembrar que os 
números apresentados aqui podem sofrer alterações, pois a cada dia 
novas iniciativas são inauguradas pelo Brasil.
Para abordarmos esse amplo leque de discussões que o assunto 
envolve dividimos o caderno em três partes. Na primeira, “Economia 
Solidária e Finanças Solidárias”, trazemos uma breve discussão sobre 
o que é Economia Solidária, alguns aspectos de seu percurso histórico 
e da sua forma de organização. Em seguida apresentamos ainda a 
vinculação das finanças solidárias aos movimentos sociais, expressos 
em quatro iniciativas primeiras: Fundos Solidários, Cooperativismo 
de crédito solidário, Clubes de trocas e Bancos Comunitários de 
Desenvolvimento. Ao fim da primeira parte apresentamos discussões 
sobre a complementariedade das experiências de Finanças Solidárias.
Na segunda parte do caderno, “As experiências de Finanças Solidárias 
hoje”, entramos nas experiências propriamente ditas, apresentando um breve 
histórico e mostrando mapas, nacionais e regionais, de cada tipo de iniciativa, 
para termos uma dimensão de capilaridade das finanças solidárias no Brasil.
6
Cadernos de Finanças Solidárias
A terceira parte é dedicada às formas de organização das Finanças 
Solidárias, notadamente redes, que são apresentadas a partir de seu 
histórico de articulação: a Rede Brasileira de Bancos Comunitários, o 
Comitê Gestor de Fundos Solidários e a articulação do cooperativismo 
de crédito em Sistemas. Pontuamos ainda a organização nacional da 
articulação dos três segmentos, falando sobre o Comitê Temático de 
Finanças Solidárias, do Conselho Nacional de Finanças Solidárias, e dos 
primeiros avanços do processo de discussão sobre um Sistema Nacional 
de Finanças Solidárias.
Uma publicação dessa proporção é feita sob muitas mãos e por 
isso ela procurou abarcar as contribuições das entidades, atores e do 
movimento de economia solidária como um todo. De modo especial 
gostaríamos de agradecer aos membros do Comitê Temático de Finanças 
Solidárias que acolheram, discutiram e sugeriram elementos fundamentais 
que deveriam constar neste caderno. Se não conseguimos nomear todas as 
pessoas que contribuíram para a realização dessa cartilha, não podemos 
deixar de registrar as entidades que, por meio de seus representantes, 
auxiliaram direta ou indiretamente nessa construção: Centro de Educação 
e Assessoria,Fundação Grupo Esquel, Camp, Cáritas Brasileira, Confesol, 
Crehnor Central, Cresol Sicoper, Ascoob, Cresol Cental, Instituto Capital 
Social da Amazônia, Banco Estrutural, Bando Tupinambá, Banco Palmas, 
Banco Bem etc.
Finanças Solidárias
7
I. Economia Solidária 
e Finanças Solidárias
Fazer uma pequena história das Finanças Solidárias e suas principais 
discussões é um grande desafi o. Trata-se de um campo da Economia 
Solidária que possui segmentos diversos que se inserem em discussões 
amplas relacionadas ao desenvolvimento territorial, ao crédito, às 
políticas públicas e aos movimentos sociais. Nosso objetivo é apresentar 
aspectos históricos do desenvolvimento do que chamamos de Finanças 
Solidárias e uma fotografi a do que são essas experiências hoje, mostrando 
suas principais questões, desafi os e perspectivas. Para isso partiremos de 
algumas defi nições do que é a Economia Solidária, apresentando eventos 
que tornaram possível o desenvolvimento das Cooperativas de Crédito 
Solidário, dos Bancos Comunitários de Desenvolvimento e dos Fundos 
Solidários. Não poderíamos deixar de comentar, dentro dessa história, 
aspectos do microcrédito e de algumas políticas públicas que foram 
centrais para os segmentos. Desse modo, acreditamos que conseguiremos 
apontar semelhanças e intersecções, diferenças e afastamentos, que 
permitiram a construção do contexto de articulação das Finanças 
Solidárias em curso hoje, quando seus segmentos se aliam em ações 
comuns e apontam perspectivas da construção de um Sistema Nacional 
de Finanças Solidárias.
8
Cadernos de Finanças Solidárias
1. A Economia Solidária
1.1. deFinição de economia solidária
Antes de falarmos particularmente das Finanças Solidárias é 
importante entendermos onde ela está inserida. Ela é uma parte daquilo 
que convencionamos chamar, a partir dos anos 1990, de Economia 
Solidária. Sendo um conceito político, está imerso em uma pluralidade 
de sentidos1 que possui muitos modos de aproximação e entendimento. 
Podemos, por exemplo, entendê-lo como diz Iaskio (2007, p. 54), a 
partir de autores como Paul Singer, Marcos Arruda, Wautier, Motchane, 
Carleial, Laville, chegando a uma definição de que a Economia 
Solidária é “(...) toda forma de trabalho associado, de produção e/ou 
comercialização de bens e serviços com vistas à geração de trabalho e 
renda. Sua especificidade consiste na propriedade coletiva dos meios 
de produção, na associação livre e voluntária e na autogestão”.
Outro modo de definirmos a Economia Solidária, e que não é 
excludente com esse primeiro, é olhando as formulações dos próprios 
trabalhadores da Economia Solidária nas conferências nacionais2 e 
plenárias nacionais do Movimento de Economia Solidária3, como 
podemos ver na I Conferência Nacional de Economia Solidária (2006, 
p. 57):
A economia solidária se caracteriza por concepções e práticas fundadas 
em relações de colaboração solidária, inspiradas por valores culturais 
que colocam o ser humano na sua integralidade ética e lúdica e como 
sujeito e finalidade da atividade econômica, ambientalmente sustentável 
e socialmente justa, ao invés da acumulação privada do capital (…) A 
economia solidária é, pois, um modo de organizar a produção, distribuição 
e consumo, que tem por base a igualdade de direitos e responsabilidades 
de todos os participantes dos empreendimentos econômicos solidários. Os 
meios de produção de cada empreendimento e os bens e/ou serviços neles 
produzidos são de controle, gestão e propriedade coletiva dos participantes 
dos empreendimentos (p. 57).
1 Sobre a temática das definições plurais de Economia Solidária veja o interessante 
artigo de Oliveira (2005) “Os diferentes significados histórico-políticos das concepções de 
Economia Social e Economia Solidária”.
2 Até o momento foram realizadas quatro Conferências Nacionais de Economia 
Solidária (Conaes), sendo a I Conaes (2006) aquela que formulou as definições básicas de 
Economia Solidária e Empreendimentos Econômicos Solidários.
3 Até o momento ocorreram cinco Plenárias Nacionais. Mais informações em www.
fbes.org.br.
9
Finanças Solidárias
Essas definições contrapõem a Economia 
Solidária à economia capitalista, posicionando-
se contra o princípio capitalista da competição 
e colocando o ser humano no topo das 
prioridades. Podemos utilizar as palavras de 
Singer (2002b, p. 9) que representam o sentido 
1.2. aspectos históricos
Para Paul Singer (Idem) a Economia Solidária surge com os 
pioneiros cooperativistas ingleses do início do capitalismo 
industrial, no século XIX, como resposta ao desemprego e em 
contraposição à empresa capitalista, que tinha como finalidade 
o lucro e o poder de decisão concentrados em seus donos. Singer 
chama a atenção para os pioneiros de Rochdale, tecelões que, 
a partir da organização de uma cooperativa de consumo em 
1844, estabelecem as bases do que seria conhecido como os 
princípios cooperativistas: livre adesão; controle democrático; 
neutralidade política e religiosa; vendas à vista, em dinheiro; 
devolução de excedentes; interesse limitado sobre o capital; 
educação contínua.
Um aspecto importante é que, se na empresa capitalista há 
uma segmentação entre os donos dos meios de produção e 
os trabalhadores, isso não acontece nos Empreendimentos 
Econômicos Solidários, nos quais se cria um tipo de 
empreendimento onde trabalho e capital não estão separados, 
onde os trabalhadores são os proprietários do negócio e onde 
se pode exercer uma igualdade na tomada de decisões. Esses 
empreendimentos passam a se organizar em inúmeros campos 
da economia: produção, oferta de serviços, comercialização, 
consumo e intermediação financeira.
da Economia Solidária: “Para que tivéssemos 
uma sociedade em que predominasse a 
igualdade entre todos os seus membros, seria 
preciso que a economia fosse solidária em vez 
de competitiva”. 
EmprEEndimEntos Econômicos solidários
os trabalhadores são os proprietários do negócio, é onde 
se pode exercer uma igualdade na tomada de decisões
10
Cadernos de Finanças Solidárias
Além da experiência dos pioneiros de 
Rochdale, podemos encontrar na história das 
lutas dos trabalhadores um grande número de 
experiências inspiradoras para a consolidação 
dessa outra economia, como a Comuna de 
Paris (1871), a Revolução dos Cravos (1974), 
a Revolução Espanhola (1936), o Quilombo 
de Palmares (1670), a República Guarani e 
as ligas camponesas no Brasil4. Em todos 
esses momentos históricos, embora de modos 
bastante diversos, a autogestão, princípio 
central da Economia Solidária, apareceu como 
prática dos trabalhadores, seja no modo de 
organização produtiva e nas instituições, seja na 
própria forma de organização política.
1.3. orGanização
A economia possui muitas dimensões e, dentro 
de cada uma delas, a proposta da Economia 
Solidária toma diferentes configurações. 
Didaticamente elencamos aqui quatro aspectos 
da economia em que há expressões da Economia 
Solidária, de maneira a podermos perceber a 
amplitude das experiências solidárias: produção 
e serviços; comercialização; consumo; e 
Finanças Solidárias. 
A produção e a prestação de serviços na 
economia capitalista são feitas por empresas 
que possuem um ou mais donos e cujo objetivo 
é o lucro. Os trabalhadores dessas empresas 
vendem a sua força de trabalho e não possuem 
os meios de produção nem poder de decisão 
sobre a empresa. A produção e a prestação 
de serviços em Economia Solidária são feitas 
por Empreendimentos Econômicos Solidários, 
grupos autogestionados, proprietários de 
4 Para saber mais sobre essas experiências e sua 
inspiração para a Economia Solidária veja os textos de 
Nascimento (http://claudioautogestao.com.br/?page_
id=23), Faria (2005) e Novaes (2011).
forma coletiva dos meios de produção e com 
poder de decisão sobre o seu próprio negócio 
– não há separação entre capital e trabalho. 
A comercialização na economia capitalista é 
organizada pelas grandes redes de mercado 
e tem o objetivo de gerar lucro. Já naEconomia Solidária a comercialização segue 
os princípios do comércio justo e solidário: 
1. Fortalecimento da democracia, respeito 
à liberdade de opinião, de organização 
e de identidade cultural; 2. Condições 
justas de produção, agregação de valor e 
comercialização; 3. apoio ao desenvolvimento 
local em direção à sustentabilidade; 4. 
Respeito ao meio ambiente; 5. Respeito à 
diversidade e garantia de equidade e não 
discriminação; 6. Informação ao consumidor; 
7. Integração dos elos da cadeia.
Enquanto o consumo na economia capitalista 
se dá de forma individual, na Economia 
Solidária é incentivado o consumo coletivo, 
que pode se dar, por exemplo, por meio de 
cooperativas de consumo, empreendimentos 
onde os consumidores, ao se unirem, podem 
ter acesso a produtos de melhor qualidade, com 
um preço acessível, e eliminar intermediários 
(o que também trará maior ganho ao produtor).
Por fim existe o que chamamos de Finanças 
Solidárias. As finanças na economia capitalista, 
do mesmo modo que os outros aspectos 
econômicos elencados acima, objetivam gerar 
lucro e não têm a mínima preocupação de 
proporcionar bem-estar ao ser humano. Ao 
contrário disso, as Finanças Solidárias buscam, 
a partir da rearticulação das ferramentas 
financeiras a seus territórios, um tipo de 
relação com o dinheiro que possibilite um 
desenvolvimento localizado correspondente 
às dinâmicas dos empreendimentos apoiados 
11
Finanças Solidárias
11
por ela. Um desenvolvimento que se atente 
ao “acontecer solidário” que existe dentro 
do lugar; ainda que não exista um projeto 
comum, que parta das tarefas comuns que são 
realizadas no local (SANTOS, 2008).
No Brasil, a constituição desse campo que 
hoje chamamos de Economia Solidária foi 
possível pela articulação de inúmeras formas 
de ação no campo econômico. Seguindo os 
passos de Singer (2002a) podemos perceber 
nas empresas recuperadas por trabalhadores 
uma das primeiras forças da Economia 
Solidária. Essas empresas, que ao entrar 
em um processo de falência passam a ser 
autogeridas por seus trabalhadores, surgem 
no Brasil na década de 1980, e atingem 
expressão na década seguinte, como podemos 
ver pela criação de uma associação nacional 
desses trabalhadores, a Anteag5. 
5 Sobre as empresas recuperadas por trabalhadores no 
Brasil veja o estudo realizado pelas universidades Unicamp, 
UFRJ, USP, UFOP, Cefet-RJ/UNED Nova Iguaçu, UFSC, 
Unesp Marília, UFPB, UFRN, UFVJM (Henriques et al., 
2013).
Há também os sindicatos operários, que 
enxergaram na Economia Solidária um modo de 
lutar pela autonomia dos trabalhadores, como 
mostra a criação da central de cooperativas e 
Empreendimentos Solidários Unisol, em 2000, 
a partir do apoio do Sindicato dos Metalúrgicos 
do ABC e de Sorocaba e do Sindicato dos 
Químicos do ABC. Movimento também 
realizado pela Central Única dos Trabalhadores 
(CUT), que, também em 2000, cria a Agência 
de Desenvolvimento Solidário (ADS), com o 
objetivo de estabelecer um diálogo do campo 
sindical com a Economia Solidária.
No campo podemos ver na luta do Movimento 
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) a 
criação de cooperativas rurais para organizar 
o trabalho dos assentados, na perspectiva 
da Economia Solidária. O movimento criará, 
em 1992, a Confederação das Cooperativas 
de Reforma Agrária no Brasil (Concrab), que 
congregará essas cooperativas. 
Encontro dos bancos comunitários do sudeste Foto: Alexandre Gonçalves
12
Cadernos de Finanças Solidárias
Entidades ligadas à Igreja católica, cujo exemplo brasileiro mais 
contundente é a Cáritas, também estão entre as expressões da Economia 
Solidária no campo de desenvolvimento de trabalho e renda. A Cáritas, 
por exemplo, desde a década de 1980 tem uma relação importante com 
os movimentos sociais, bem como atua na construção das Comunidades 
Eclesiais de Base (CEBs). Já na década de 1990 a Cáritas articula 
os Projetos Alternativos Comunitários, que serão referência para a 
Economia Solidária.
Por fim, podemos ver a Economia Solidária se desenvolvendo dentro das 
universidades, em ações de extensão universitária a partir da criação de 
Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs), que visam 
aliar os conhecimentos universitários às necessidades desses novos 
Empreendimentos Econômicos Solidários. 
Cada um desses atores contribui com o desenvolvimento da Economia 
Solidária no Brasil a partir da especificidade de suas histórias e lutas. A 
diversidade será um dos aspectos centrais da Economia Solidária, buscando 
ampliar a pauta do trabalho associado, em suas múltiplas facetas. 
Vamos agora nos aprofundar em uma dessas facetas, as Finanças 
Solidárias. Para isso primeiro traremos uma discussão sobre os 
movimentos sociais e as Finanças Solidárias, pontuando alguns aspectos 
das expressões que fazem parte da história das Finanças Solidárias: 
os Fundos Solidários, as Cooperativas de Crédito Solidário, os clubes 
de trocas e os Bancos Comunitários de desenvolvimento. Em seguida 
faremos alguns comentários sobre a ideia de complementariedade das 
experiências de Finanças Solidárias, o que nos levará à aproximação de 
definições de Finanças Solidárias e às tensões nas quais ela está imersa. 
13
Finanças Solidárias
2. Os movimentos 
sociais e as Finanças 
Solidárias
No Brasil, a partir dos anos 1970 se articulam os chamados novos 
movimentos sociais, como define Sader (1988). Diferentes dos 
movimentos sociais tradicionais, esses novos movimentos agora se 
criavam a partir de questões como moradia, infraestrutura e saúde, 
rompendo ainda com o modo de organização tradicional. Esses 
movimentos serão parte fundamental do processo de democratização 
brasileira. Para Sader (1988, p. 197-198) “(...) o que talvez seja um 
elemento significativo que diferencia os movimentos sociais da década 
de 70, é que eles não apenas emergiam fragmentados, mas ainda se 
reproduziam enquanto formas singulares de expressão singulares”. 
Desse modo, diferente dos movimentos sociais tradicionais, não havia 
para esses novos movimentos uma ideia totalizante que sintetizasse suas 
reivindicações em algo maior, de modo que sua luta, circunscrita, tivesse 
que depender de uma luta maior, empreendida, por exemplo, pelos 
partidos. Emergem, portanto, não apenas novos temas, mas modos de 
organização de lutas diversos daqueles tradicionais; a identidade singular 
desses movimentos adquiria um sentido de manifestação da diversidade 
das lutas. O tema da autonomia, como ainda nos lembra Sader, (idem, 
p. 199) foi relevante nesses novos movimentos, pois eles “(...) tiveram 
de construir suas identidades enquanto sujeitos políticos precisamente 
porque elas eram ignoradas nos cenários públicos instituídos”. 
É junto a essas lutas que as iniciativas de Finanças Solidárias vão se 
criando e se fortalecendo. Falaremos, ainda que brevemente, dessas 
experiências em quatro expressões: os clubes de trocas, as Cooperativas 
de Crédito Solidário, os Fundos Solidários e os Bancos Comunitários de 
Desenvolvimento. Embora tenham tido desenvolvimentos diferentes, 
e cada um deles possua especificidades de atuação, há características 
comuns que nos permitem dizer que são experiências de Finanças 
Solidárias, partilhando dos princípios da Economia Solidária. 
14
Cadernos de Finanças Solidárias
14
2.1 Fundos solidários
A década de 1980 foi um período especial para a constituição dos 
chamados Fundos Solidários; embora tenham uma história longa, é nesse 
momento que a ideia passa a ganhar força junto aos movimentos sociais 
e às atividades comunitárias ligadas às diversas igrejas. Essa ideia passa 
a ser praticada junto às atividades das pastorais sociais e Comunidades 
Eclesiais de Base (CEBs), que desde os anos 1970 propunham alternativas 
de desenvolvimento comunitário. 
Muitas entidades contribuíram para a consolidação da prática de Fundos 
Solidários, como o Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais 
(Ceris), a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese) e o Serviçode 
Análise e Assessoria de Projetos (Fase/Saap). Porém, é importante 
desatacar o trabalho desenvolvido pela Cáritas brasileira, que começa a 
apoiar os Projetos Alternativos Comunitários (PACs), pequenas iniciativas 
produtivas de desenvolvimento e de infraestrutura comunitária, financiadas 
com recursos vindos de cooperação internacional e executadas por famílias 
e grupos na própria comunidade. Essas experiências, que se iniciam no 
Nordeste brasileiro, em pouco tempo se espalham também pelo Sul do 
Brasil. Para termos ideia da dimensão desse trabalho, a Cáritas brasileira 
financiou mais de mil PACs entre 1984 e 1992. 
Na década de 1990 os Fundos Solidários passam por uma reestruturação, 
pois os organismos de cooperação internacional começam a estabelecer 
regras de devolução monetária dos beneficiários para as entidades 
comunitárias, buscando um mecanismo que permitisse a constituição 
de fundos que pudessem continuamente retornar para as comunidades. 
A metodologia dos Fundos Solidários tem um papel importante na 
consolidação dessa perspectiva. 
É nessa mesma década que outras entidades passam a trabalhar com 
Fundos Solidários, como a Pastoral da Criança, o Instituto Marista de 
Solidariedade, Obras Kolping, Camp/Fundo Sul, IECLB/Fundação 
Luterana de Diaconia etc. Para se ter ideia da dimensão da entrada dessas 
novas entidades, só a Pastoral da Criança apoiou mais de mil projetos 
produtivos (13 mil famílias) entre os anos de 1989 e 2006. 
A partir dos anos 1970 os novos movimentos se criavam em 
torno de questões como moradia, infraestrutura e saúde, 
rompendo ainda com o modo de organização tradicional.
Finanças Solidárias
Outra experiência muito importante, inclusive 
para se ter a dimensão da amplitude do 
trabalho dos Fundos Solidários, são os Fundos 
Solidários constituídos pela Articulação do 
Semiárido (ASA), em Soledade-PB. Essa 
experiência, que contribuía na construção de 
cisternas no semiárido, chegou a ter quase 
2 mil fundos em 140 municípios, com 18 mil 
famílias beneficiadas. Outros dois marcos para 
os fundos, na mesma década, são: o apoio 
a projetos de fundos pela Ação da Cidadania 
contra a Miséria e pela Vida, em 1994; e a 
Campanha da Fraternidade da CNBB, em 1999. 
Nos anos 2000, além da continuidade de 
ações relacionadas aos Fundos Solidários por 
parte de muitas dessas entidades, há parcerias 
importantes com o poder público, junto ao 
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE):
(…) por intermédio da Secretaria Nacional de Economia 
Solidária – Senaes, Banco do Nordeste do Brasil – BNB, 
Fórum Brasileiro de Economia Solidária – FBES, ASA e 
Mutirão para superar a Fome da CNBB já estão coordenando 
uma experiência de apoio a projetos no Nordeste, o Programa 
de Apoio a Projetos Produtivos Solidários – PAPPS. Os 
proponentes são entidades da sociedade civil credenciadas e 
com experiência na gestão de fundos solidários. Esta iniciativa 
contou, em 2005, com recursos da ordem de R$ 600.000; 
para 2006 R$ 1,2 milhão e, em 2007 foram aplicados R$ 3 
milhões, com a mesma finalidade; são financiamentos não 
retornáveis que têm o BNB como financiador de parcela dos 
mesmos. Até 2008, foram selecionados 50 projetos pilotos de 
fundos rotativos solidários, que receberam aportes de recursos 
de até R$ 120.000,006.
Nesse sentido é importante ressaltar a chamada 
pública da Senaes, em 2010, para a implantação 
e consolidação de Fundos Solidários e Bancos 
Comunitários de Desenvolvimento; foram 
destinados aos Fundos Solidários 4 milhões 
6 Fundos Solidários: Por uma política de Emancipação 
produtiva dos Movimentos sociais. Caderno 1: Mobilização 
em prol de uma política pública de apoio a Fundos 
Solidários. Fundação Grupo Esquel Brasil. 2008.
15
Lançamento do Projeto Fundos Solidários da Região Centro-Oeste, Brasília/DF (maio de 2014) 
 Foto: Acervo Centro de Estudos e Assessoria 
16
Cadernos de Finanças Solidárias
de reais. Alguns anos mais tarde, em 2013, 
a Senaes faria uma nova chamada pública, 
apoiando, além dos Bancos Comunitários 
e Fundos Solidários, as Cooperativas de 
Crédito Solidário. Nessa chamada foram 
disponibilizados 7 milhões de reais para o 
trabalho junto aos Fundos Solidários. 
2.2 cooperativismo de 
crédito solidário
O processo de abertura comercial e 
desregulamentação dos mercados na década 
de 1990 exigiu que as iniciativas populares 
criassem estratégias solidárias de geração de 
trabalho e renda, como resposta ao desemprego 
e ao aumento da informalidade. Essas iniciativas 
também podem ser vistas como contraponto 
às ações hegemônicas na inserção do Brasil 
no novo contexto global da financeirização da 
economia, que aprofundavam os problemas 
históricos do país, como as fortes desigualdades 
sociais e regionais.
Essas transformações afetaram os pequenos 
produtores rurais, em um contexto que se uniam 
a queda na renda, a falta de crédito e a forte 
concorrência externa. Embora o contexto não 
fosse favorável, a ideia associativista parece se 
ampliar em um processo descentralizado que 
poderá ser visto pela criação de cooperativas 
inicialmente chamadas de participativas ou 
alternativas, dada a diferença em relação às 
cooperativas de crédito tradicionais. Como 
nos lembra Búrigo (2006) esse processo 
se dará em Santa Catarina, com as Credis 
alternativas; no sudoeste do Paraná, com as 
cooperativas de crédito do Sistema Cresol; e 
no interior da Bahia, com a Associação das 
Cooperativas de Apoio à Economia Familiar 
(Ascoob). Esse movimento já havia começado 
no final da década de 90, como podemos ver 
em Magri & Corrêa “(MAGRI & CORRÊA, 
2012) : “O processo organizativo da agricultura 
familiar para gerenciar os recursos de crédito 
tem origem nos Fundos Rotativos de Crédito 
organizados a partir de 1989 na região Centro 
Oeste e Sudoeste do Paraná através do 
movimento sindical, com apoio de entidades 
internacionais e ONGs locais”
Ao se chamarem de solidárias as cooperativas 
de crédito alternativas buscavam marcar um 
campo político dentro do cooperativismo de 
crédito e ainda definiam a especificidade do 
seu modo de funcionamento e gestão7. É assim 
que o solidário se estabelece no compromisso 
prático que as cooperativas possuem com seus 
associados, seja na sua gestão democrática, 
seja no compromisso com o desenvolvimento 
dos territórios a que estão vinculadas. Essa 
aliança com aqueles que normalmente estão 
excluídos do sistema financeiro tradicional é 
fundamental para os princípios que guiam as 
cooperativas de crédito. Essa preocupação 
com a comunidade onde se inserem os 
trabalhos da cooperativa é um dos princípios 
do cooperativismo desde a década de 1980; o 
próprio Cooperativismo de Crédito Solidário 
surge para buscar cumprir esse objetivo. 
Há muitos elementos históricos do 
Cooperativismo de Crédito Solidário que 
podemos retomar. Inicialmente é importante 
termos em mente que a história das Cooperativas 
de Crédito Solidário dialoga com a luta pelas 
políticas públicas para os trabalhadores rurais. 
Não é à toa, como nos lembra Búrigo (2006), 
que o Programa Nacional de Fortalecimento da 
Agricultura Familiar (Pronaf) será “(...) o produto 
financeiro mais almejado pelas cooperativas 
de crédito rural solidárias brasileiras”. Esse 
movimento se fortalece na década de 1990, a 
partir da pressão do movimento sindical dos 
7 Cf. Cadernos Ancosol (2009)
17
Finanças Solidárias
trabalhadores rurais, com entidades como a 
Confederação Nacional dos Trabalhadores da 
Agricultura (Contag), o Departamento Nacional 
de Trabalhadores Rurais da Central Única dos 
Trabalhadores (DNTR/CUT) e de movimentos 
como Movimento dos trabalhadores rurais Sem 
Terra (MST), que se agregariam nas Jornadas 
Nacionais de Luta, depois chamadas Grito 
da Terra Brasil. A resposta às reivindicações 
se deu no formato de um Programa Nacional 
de Fortalecimento da Agricultura Familiar, o 
Pronaf, que buscou abarcar a especificidade 
dos pequenos agricultores8. É nesse contexto 
que nascem as experiênciasde Cooperativas 
de Crédito Solidário, que integrarão os sistemas 
daquilo hoje chamado de Cooperativismo de 
Crédito Solidário (Ascoob, Central Cresol Baser, 
Crehnor, Cresol Central e Cresol Central Sicoper).
É interessante notar que o Sistema Cresol, no 
Paraná, surge das experiências de Fundo de 
Crédito Rotativo, a partir da luta de agricultores 
familiares. O fundo, que data da década de 1980, 
era financiado pela Misereor, entidade da Igreja 
8 Histórico, caracterização e dinâmica recente do 
Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da 
Agricultura Familiar. (SCHNEIDER; SILVA; MARQUES, 
2004)
católica, fruto de cooperação internacional. Outros 
financiamentos foram fundamentais, como o apoio 
da antiga ACT, atual Trias. Em 1996 surgem as 
primeiras cooperativas da Cresol (Dois Vizinhos, 
Marmeleiro, Capanema, Pinhão e Laranjeiras do 
Sul). Essas primeiras experiências “carregavam 
o propósito de fortalecimento dos projetos locais, 
superando o assistencialismo e desafiando as 
organizações a colocarem em prática, ainda que 
experimentalmente, as propostas e reivindicações 
dos movimentos sociais para organizar a produção 
e democratizar o crédito9”.
No Sul do país podemos ver, em 1996, o 
nascimento da Cooperativa de Crédito Rural 
Horizontes Novos de Novo Sarandi Ltda (Crehnor 
Sarandi), no município de Sarandi, a partir da 
articulação de 34 agricultores do assentamento 
Novo Sarandi. A experiência exitosa faz surgir 
outras cooperativas próximas a partir de 2000.
Ainda na mesma década, em 1999, é criada na 
Bahia a Associação das Cooperativas de Apoio 
9 Cooperativismo de Crédito Familiar e Solidário: 
instrumento de desenvolvimento e erradicação da 
pobreza. p.13-21. Cledir A. Magri & Ciro Eduardo Corrêa 
(organizadores) – Passo Fundo: IFIBE, 2012.
Agricultores constroem aquecedor solar de baixo custo por meio de capacitação da Cresol Central SC-RS 
Foto: Vilceo Sehnem
18
Cadernos de Finanças Solidárias
à Economia Familiar (Ascoob), com o apoio de 
entidades ligadas aos movimentos sociais, como 
o Movimento de Organização Comunitária 
(MOC), Associações dos Pequenos Agricultores 
(Apaebs), dos Sindicatos dos Trabalhadores 
Rurais e Instituto de Cooperação Belgo-Brasileira 
para o Desenvolvimento Social (Disop Brasil).
No quadro10 a seguir podemos ver, ainda que de 
forma simplificada, alguns aspectos interessantes 
sobre a formação das cooperativas de crédito.
Cresol Crehnor Ascoob
Origem social
Sindicatos de 
trabalhadores rurais, 
movimentos sociais (como 
Fetraf Sul), ONGs, grupos 
de igrejas e associações 
comunitárias.
Sindicatos de 
trabalhadores rurais, 
ONGs e MST. 
Sindicatos de 
trabalhadores rurais, 
ONGs, grupos de 
igrejas e associações 
comunitárias.
Formas de controle 
social (principais 
redes) 
Agentes comunitários, 
associações locais 
e regionais, ONG, 
movimento sindical. 
MST, MAP, associações 
de assentados, Concrab. 
Conselho da Ascoob, 
ONG, sindicados, Apaebs, 
associações locais.
Ano de abertura 1995(6) 1999 1997 
Modelo de 
organização e 
inspiração 
Próprio / Coop SC. Próprio / Cresol.
Ascoob Próprio / 
Bancoob.
Dimensão 
territorial de 
atuação 
Regional (SC e RS). Regional (PR, SC e RS). Estadual (BA).
Público prioritário Agricultores familiares.
Agricultores familiares 
e agricultores familiares 
assentados da reforma 
agrária. 
Agricultores familiares e 
pequenos comerciantes.
Foco da ação 
Rural, embora haja 
cooperativas que trabalhem 
com público urbano.
Rural. Rural e urbano.
Fontes externas de 
funding
BB, BNDES, BRDE, 
bancos privados e Caixa 
Econômica Federal.
BB, BRDE, Banrisul.
Bancoob, cooperação 
internacional e governo 
federal.
Principais apoios 
institucionais
MDA, Cooperação 
internacional, ONG, 
sindicatos, Fetraf Sul, 
movimentos sociais, 
Unicafes, Ancosol, 
Confesol.
MST MDA. 
Cooperação 
internacional MOC, 
Sicoob, Apaebs, Disop 
Brasil, MDA.
10 Quadro adaptado de Búrigo. Finanças e solidariedade: o cooperativismo de crédito rural solidário no Brasil, 
quadro 1 (p. 327-328) e quadro 2 (p. 331).
Finanças Solidárias
O primeiro aspecto que nos chama a atenção é 
a origem das Cooperativas de Crédito Solidário 
a partir da articulação de movimentos sociais. 
Como aponta Búrigo (2006) é importante notar 
que “(...) as experiências das cooperativas de 
crédito rural solidárias brasileiras aqui reportadas 
nasceram de movimentos organizacionais de 
diferentes matizes, mas nenhuma é filha de redes 
informais de cunho estritamente financeiro, e 
nem mesmo econômico”, ou seja, são ações que 
provêm do campo da luta dos movimentos sociais, 
que surgem como forma de apoiar as suas lutas. 
Importante ainda notarmos que, embora essas 
experiências se iniciem em meados da década de 
1990, são desdobramentos das lutas das décadas 
de 1970 e 1980, conforme já apontamos.
A proximidade dessas Cooperativas de Crédito 
Solidário, como podemos ver no quadro acima, 
seja no campo das suas origens ou ainda nas 
forças que as constituem, foi se fortalecendo 
e culminou na criação de um fórum nacional, 
em 2002. Este fórum origina a Associação 
Nacional do Cooperativismo de Crédito de 
Economia Familiar e Solidária (Ancosol), dois 
anos depois, em 2004. O fortalecimento dessa 
articulação fez com que em 2008 se desse 
um novo passo, a criação da Confederação 
Nacional das Cooperativas Centrais de Crédito 
e Economia Familiar e Solidária (Confesol), 
uma cooperativa de terceiro grau com o 
objetivo de agregar as centrais de Cooperativas 
de Crédito Solidário. Hoje estão organizadas 
junto a CONFESOL cinco Centrais (ASCOOB, 
Cresol Central, Cresol Baser, Cresol Sicoper e 
Crehnor), reunindo 155 cooperativas singulares 
e 348 postos de atendimento. Trata-se de um 
universo com mais de 370 mil associados, 
distribuídos em 18 estados11.
11 Cooperativismo de Crédito Familiar e Solidário: 
instrumento de desenvolvimento e erradicação da 
pobreza. p.13-21. Cledir A. Magri & Ciro Eduardo Corrêa 
(organizadores) – Passo Fundo: IFIBE, 2012.
Educação financeira nas escolas (programa Poupe-poupe), Cresol Jacutinga Foto: Cresol Jacutinga
19
20
Cadernos de Finanças Solidárias
2.3 cluBes de trocas
Outra experiência que será constituidora do que chamamos de Finanças 
Solidárias, embora hoje não tenha a mesma expressão que as outras, são 
os clubes de trocas. Sabemos que as estratégias de trocas como modo 
de conseguir o que se necessita para sobreviver se perdem no tempo. 
Particularmente nos interessa o contexto mais recente da organização 
desses clubes. Entre as experiências pioneiras estão os Lets (Local 
Exchange Trading System), iniciados por Michael Linton em Vancouver 
(Canadá) em 1983, e depois disseminados para países como Inglaterra, 
Escócia, Noruega, Finlândia, Bélgica, Holanda, França e Austrália. 
Mais próxima de nós podemos assinalar a experiência argentina que 
se inicia em 1995, a partir da iniciativa de um clube de trocas com 
23 pessoas na cidade de Bernal (Albuquerque, 2002), que se expande 
Nos clubes de trocas, a moeda social é utilizada num 
espaço e tempo definidos, ou seja, os produtores e 
consumidores se reúnem para trocar produtos e/ou 
serviços em determinado horário e local
Economia Solidária praticada no Clube de Trocas do CEU Casa Blanca chama atenção das crianças Foto: Leo Brito
21
Finanças Solidárias
rapidamente. Os participantes do clube de 
Bernal passam a assessorar a criação de 
novos clubes de trocas, fazendo com que os 
sistemas de funcionamento, sendo idênticos, 
possibilitassem a interlocução entre eles e 
a criação da Rede de Trocas Solidárias. Nas 
palavras de Heloísa Primavera (idem, p. 64): 
“Nessa época já começavam a ser usados vales 
ou bônus de troca, que o grupo denominou 
crédito, entendendo que o principal no sistema 
era a confiança no outro”. Essas experiências 
passaram então a ter diversos apoios, inclusive 
de governos locais. Em 2000 o Ministério 
de Economia argentino declara o sistema 
de clubes de interesse nacional. Primaveraaponta que “(...) o sistema chegou a mais de 
um milhão e meio de pessoas em menos de 
sete anos de crescimento!” (Idem).
No final da década de 1990 outros países 
(Uruguai, Brasil, Equador, Peru, Colômbia, 
Bolívia, Chile, Honduras, El Salvador, México e 
Canadá) conheceram e colocaram em prática 
essa experiência. Nas palavras de Primavera: 
“Os números são eloquentes: em menos de 
sete anos, mais de dois milhões de pessoas 
envolvidas em 11 países, fabricando seu próprio 
dinheiro!” (Idem). O primeiro clube de troca no 
Brasil se inicia em l998 na cidade de São Paulo, 
no bairro de Santa Terezinha. Depois surgiram 
experiências no Rio de Janeiro, em Porto Alegre 
e em muitos outros lugares.
Os clubes de trocas serão muito conhecidos 
pela utilização de moedas sociais, que 
também têm um papel importante na última 
experiência de Finanças Solidárias que 
queremos apresentar, os Bancos Comunitários 
de Desenvolvimento. Nos clubes de trocas, a 
moeda social é utilizada num espaço e tempo 
definidos, ou seja, os produtores e consumidores 
se reúnem para trocar produtos e/ou serviços 
em determinado horário e local. Dentro da 
perspectiva da Economia Solidária, os clubes de 
trocas também permitem uma discussão crítica 
dos preços, pois são outros princípios que estão 
regendo as trocas.
22
Cadernos de Finanças Solidárias
2.4 Bancos comunitários de 
desenvolvimento
Os Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCDs), outra estratégia 
que utiliza as moedas sociais, têm a ampliação do seu uso, nos comércios 
e empreendimentos dentro de um território. Além de a moeda social 
estimular o consumo na própria comunidade e contribuir para manter 
os recursos gerados circulando internamente, ela simboliza o processo 
de construção da identidade comunitária em torno de uma proposta de 
desenvolvimento endógeno. A Rede Brasileira de Bancos Comunitários 
de Desenvolvimento define os BCDs como serviços financeiros solidários 
em rede, de natureza associativa e comunitária, voltados para a geração 
de trabalho e renda, tendo como fundamento os princípios da Economia 
Solidária. São criados e pertencem a uma determinada comunidade, 
ajudando a pôr em prática estratégias de desenvolvimento a partir dos 
princípios da Economia Solidária. 
A metodologia dos Bancos Comunitários parte do pressuposto de que 
as comunidades são empobrecidas não porque as pessoas não tenham 
renda, mas porque a riqueza gerada por elas acaba sendo utilizada para 
o consumo fora da comunidade, nos centros comerciais próximos e, 
consequentemente, potencializa o lucro das grandes redes de distribuição 
e comercialização (Melo Neto e Magalhães, 2008). Assim, o objetivo dessa 
estratégia é dinamizar as economias locais e fortalecer a organização 
comunitária a partir da oferta de serviços financeiros, como crédito, além 
de serviços bancários, como pagamento de contas. Ao mesmo tempo 
em que amplia o acesso da população pobre a esses serviços também 
afirma as relações de proximidade, seja entre os próprios moradores, seja 
entre esses e o Banco Comunitário, possibilitando a construção de outros 
modos de participação e ação. 
Embora haja diferenças entre os Bancos Comunitários, devido às 
particularidades das comunidades, há ações comuns, que mostram 
que a sua forma de concessão de crédito não é como nas instituições 
financeiras tradicionais: oferta de crédito de consumo em moeda social e 
crédito produtivo em real; existência de um comitê de análise de crédito 
formado por pessoas da comunidade, trabalhadores do banco e analistas 
de crédito; critérios de concessão de crédito flexíveis; a não necessidade 
de garantias e de “nome limpo” para acesso ao crédito; análise baseada 
não só em critérios econômicos, mas sobretudo sociais, como consulta à 
vizinhança e a comércios locais; e cobrança que se utiliza do controle social 
e flexibilidade na negociação para o pagamento das parcelas. 
Finanças Solidárias
É claro que essas diretrizes devem ser 
analisadas de maneira articulada e enquanto 
processo, pois, ao serem enraizadas nas 
dinâmicas comunitárias locais, fica implícita a 
ideia de que o modelo dos BCDs não deve ser 
entendido como uma metodologia fechada, 
mas, pelo contrário, como um articulador 
e potencializador de ações que atenda às 
necessidades do território onde está situado. 
Ao longo dos anos, as ações vão se alterando 
em função das mudanças do contexto local, 
da economia e das parcerias estabelecidas; 
além disso, mudam também em função da 
organização da própria comunidade. 
E de onde vem essa história de que hoje fazem 
parte mais de cem Bancos Comunitários por 
todo o Brasil? Essa estratégia surge na década 
de 1990 com o Banco Palmas, em Fortaleza, 
Ceará. Como nos lembra Braz (2014, p. 91), 
se a história do conjunto Palmeiras, que se 
assemelha a muitas periferias do Brasil, “(...) 
é resultado da formação das grandes cidades, 
segundo a lógica segregadora da acumulação, 
com periferias inchadas e trabalhadores 
pobres relegados aos lugares mais distantes e 
invisíveis”, de outro pode ser entendida como 
uma história de resistência. 
Essa história data da década de 1970, com o 
deslocamento de 1.500 famílias em função da 
desapropriação de áreas de grande potencial 
especulativo nas proximidades da beira-mar 
e de áreas consideradas de risco. O pouco 
auxílio que tinham fez com que os moradores 
buscassem alternativas por suas próprias forças; 
nesse momento os trabalhos da Comunidade 
Eclesial de Base (CEB) foram fundamentais. Em 
1981, funda-se a Associação dos Moradores 
do Conjunto Palmeiras – Asmocomp – como 
Inauguração do Banco Comunitário Estrutural, Cidade Estrutural-DF Foto: Alexandre Gonçalves
23
24
Cadernos de Finanças Solidárias
continuidade das lutas por saneamento básico, 
água tratada e melhorias para o bairro; nas 
palavras de Joaquim: “O povo resolveu sair da 
submissão e se organizar depois de dez anos 
de dependência e assistencialismo” (MELO 
NETO; BODINAUX; FILHO, 1988, p. 24).
Em um momento em que as atividades da 
associação estavam num processo difícil, na 
segunda metade da década de 1990, durante o 
processo de entrevistas para o segundo volume 
do livro Memória de nossas lutas, descobriu-
se que muitos moradores estavam saindo do 
bairro, em virtude do aumento do custo de 
vida depois do processo de urbanização. O 
problema que o bairro agora enfrentava não 
era mais o da estrutura, mas o da pobreza. 
Passaram então a buscar soluções para a 
geração de trabalho e renda, em um processo 
que envolvia toda a comunidade. O resultado foi 
uma proposta de desenvolvimento comunitário 
que articulou diversos discursos e práticas que 
estavam sendo difundidos em diversos países 
e também no Brasil, como o microcrédito, o 
desenvolvimento local e o fortalecimento da 
economia popular e solidária.
O enfrentamento das dificuldades dos 
moradores para iniciar um pequeno negócio 
em função das restrições e burocracias dos 
bancos comerciais e as dificuldades dos 
comerciantes na comercialização dos seus 
produtos se concretizaram na busca pelo 
estímulo tanto ao consumo local como também 
à produção (Melo Neto; Magalhães, 2008). É 
assim que, em 1998, é inaugurado o Banco 
Palmas, com apenas 2 mil reais, concedendo 
cinco empréstimos para produtores locais e 
liberando vinte PalmaCards para os moradores 
usarem nos cinco comércios. Pouco depois foi 
fomentada e apoiada a formação de diversos 
Empreendimentos Econômicos Solidários, 
como a PalmaLimpe, a PalmaFashion, a 
Palmaricó e a PalmaNatus. Alguns anos mais 
tarde, a partir de 2003, essa experiência 
começaria a se ampliar, chegando, dez anos 
mais tarde, a mais de uma centena de Bancos 
Comunitários de Desenvolvimento pelo Brasil.
Encontro dos Bancos Comunitários da região Sudeste, Apuanã, São Paulo-SP Foto: Alexandre Gonçalves Acervo Nesol-USP
25
Finanças Solidárias
3. A complementariedade 
das experiências de 
Finanças Solidárias
3.1 complementariedade das experiências
A união dos segmentos eexperiências de Finanças Solidárias tem se 
fortalecido nos últimos anos. Alguns momentos foram fundamentais 
na articulação dessas diversas experiências. Em 2001, durante o Fórum 
Social Mundial, momento central da articulação em torno da Economia 
Solidária, também houve um marco no reconhecimento de diversos 
grupos que pensavam e praticavam novas formas de se pensar as finanças. 
Com a criação da Senaes e do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, 
em 2003, a ação em torno das Finanças Solidárias foi entendida como 
uma das bandeiras de ação do Movimento de Economia Solidária. Se 
na I Conferência Nacional de Economia Solidária (2004) as propostas 
das finanças giravam em torno apenas de financiamento, na IV Plenária 
São, portanto, muitos os movimentos que, nos últimos 
quinze anos, apontaram para uma articulação das diversas 
expressões das Finanças Solidárias no Brasil
Nacional do Fórum Brasileiro, em 2006, já se apontava a necessidade de 
construção de um Sistema de Finanças Solidárias. Um ano depois haveria o 
Seminário Nacional de Fundos Solidários, que reuniu Bancos Comunitários e 
Cooperativas de Crédito Solidário, com a participação de trezentas pessoas. 
Em 2008 surge o projeto de lei da Economia Solidária, que discute também 
um Sistema de Finanças Solidárias. Já em 2010 a Senaes abre o edital 
de Finanças Solidárias para Bancos Comunitários de Desenvolvimento e 
Fundos Solidários, e três anos mais tarde lança novo edital de Finanças 
Solidárias, com a inclusão das Cooperativas de Crédito Solidário e uma 
proposta de integração dos segmentos de Finanças Solidárias a partir de 
intercâmbios e reuniões do Comitê Temático de Finanças Solidárias. São, 
portanto, muitos os movimentos que, nos últimos quinze anos, apontaram 
para uma articulação das diversas expressões das Finanças Solidárias no 
Brasil. Essa articulação crescente dos segmentos tem seu fundamento na 
própria partilha de seus princípios, os da Economia Solidária. Isso faz com 
que trabalhos de dimensões tão distintas possam convergir em relação aos 
objetivos que se colocam. 
26
Cadernos de Finanças Solidárias
Para a Economia Solidária as Finanças 
Solidárias têm uma dupla importância: 
ao mesmo tempo em que insere o debate 
do financiamento dos Empreendimentos 
Econômicos Solidários, também se configura 
como a forma solidária de trabalhar os 
serviços financeiros. As iniciativas expandem 
a discussão do crédito, não se reduzindo ao 
problema do seu acesso (e também não o 
negando), mas também se colocando como 
uma das “metodologias de empoderamento 
financeiro da, com e para a Economia 
Solidária” (Camp, 2015).
Lidando com universos tão distintos como 
a zona rural e urbana, centro e periferia, 
estados e municípios tão diversos, territórios 
com suas histórias e particularidades, são 
necessárias muitas formas de tratar com o 
universo das finanças. É nesse sentido que 
enxergamos que as ações dos segmentos 
e experiências de Finanças Solidárias não 
se configuram como um todo homogêneo, 
mas em uma multiplicidade complementar. 
Se as Cooperativas de Crédito Solidário e os 
Fundos Solidários têm uma predominância na 
área rural, os Bancos Comunitários possuem 
uma expertise no trabalho urbano, que requer 
desafios e ações específicas. É fundamental 
reconhecer as diferentes lógicas de trabalho 
com as finanças, com diferentes abrangências e 
objetivos específicos.
Entender que se trata de práticas complementares 
nos leva também a apontar que são práticas que 
precisam de aprendizados mútuos. Cooperativas 
de Crédito Solidário têm muito a ensinar aos 
bancos e fundos. Fundos Solidários têm muito 
a ensinar a cooperativas de crédito e Bancos 
Comunitários, e assim por diante. A perspectiva 
da complementariedade nos coloca em uma 
posição de implicação mútua, onde a integração 
não pode significar a homogeneização das 
ações, mas a construção de ações que permitam 
trabalhar com o universo das finanças de modo 
que contemplem as necessidades tão diversas 
que os territórios nos colocam.
3.2 Finanças solidárias e 
microcrédito
Podemos encontrar experiências inspiradoras 
no campo do microcrédito, como ações do 
professor Muhammad Yunus – que em vista 
da situação de pobreza em Bangladesh propôs 
pequenos empréstimos a empreendedoras, 
criando o Banco Grameen, em 1976 –, e 
outras tantas que poderíamos elencar. Porém, 
a partir de tantas questões podemos perceber 
o quanto as Finanças Solidárias se distanciam 
do microcrédito tradicional, que, embora 
também trabalhe com concessão de crédito, 
por vezes acaba seguindo caminhos opostos 
aos das Finanças Solidárias. .
As ações realizadas pelas iniciativas de 
Finanças Solidárias abrem caminhos para a 
experimentação de valores antagônicos aos 
pregados pela sociedade atual: em vez da 
competição, a afirmação do trabalho associado; 
do individualismo do empreendimento à decisão 
coletiva. Nesse sentido, não são as ferramentas 
financeiras que produzem as transformações, 
mas a forma de seu uso que refaz o sentido da 
economia como o modo de organização da vida 
e não como um sistema natural de competição 
por recursos, consumidores, nichos de mercado 
e maximização dos lucros. 
Essas considerações são importantes quando 
estabelecemos diálogo com o campo das 
microfinanças. Para alguns autores, como 
Kraychete (2005) e Bateman (2007), o 
27
Finanças Solidárias
incentivo a iniciativas de microcrédito é 
parte do discurso neoliberal que desloca a 
noção de pobreza de um viés político para 
uma orientação de caráter individualizante 
atrelada ao discurso do empreendedorismo. 
Nos anos 1980, o Banco Mundial propôs e 
investiu em ações voltadas ao oferecimento de 
crédito para a população pobre, fortalecendo 
a ideia de que a pobreza poderia ser superada 
a partir, principalmente, do incentivo à 
capacidade empreendedora dessa parcela 
da população (Kraychete, 2005). Foram 
feitos grandes investimentos em instituições 
para a oferta de serviços microfinanceiros 
em países pobres e criou-se uma verdadeira 
indústria do microcrédito com instituições 
internacionais que atuam em diversos países 
seguindo a lógica globalizante das empresas 
transnacionais: instituições sem enraizamento 
local e comunidades consideradas nichos de 
mercado a serem atingidos. 
Embora possamos dizer que grande parte 
das Finanças Solidárias utilizam as mesmas 
ferramentas microfinanceiras, o sentido da 
ação parece seguir caminhos muito diferentes 
do microcrédito tradicional. O objetivo das 
experiências de Finanças Solidárias é fortalecer 
práticas coletivas e sustentar dinâmicas 
econômicas que visam garantir a produção, 
em sentido amplo, da vida. Ou seja, as suas 
ações assumem um sentido em busca de 
mudanças, não só pela maneira que concedem 
créditos, por exemplo, como também no 
desenvolvimento de projetos que articulam 
formação profissional, estímulo à formação 
de empreendimentos produtivos coletivos 
e à formação de redes locais de produção e 
consumo, criando um horizonte comum no 
desenvolvimento econômico e social daquele 
território. Há, portanto, a dimensão econômica 
articulada às dimensões social e política. 
Conferência Temática de Economia e Democracia, São Paulo-SP, 2014 Foto: José Cícero da Silva
Cadernos de Finanças Solidárias
1. Definindo as 
Finanças Solidárias
Podemos, a partir dessas diversas aproximações, apontar que as 
Finanças Solidárias são o conjunto de serviços e produtos fi nanceiros e 
pedagógicos que fomenta e contribui para o crescimento e a consolidação 
da Economia Solidária. Ele está a serviço da Economia Solidária, seus 
empreendimentos, suas organizações, seus trabalhadores, mobilizando, 
organizando e fornecendo os recursos fi nanceiros necessários para que 
ela exista e prospere, de modo a democratizar o acesso a esses recursos, 
tornando-os instrumento das necessidades coletivas. Ele ainda propõe a 
rearticulação das ferramentas fi nanceiras às noções de desenvolvimento, 
território, produção e organização comunitária, nãopossuindo fi nalidade 
especulativa nem separação entre donos e usuários de capital. É importante 
nos aprofundarmos em dois aspectos que envolvem as expressões das 
Finanças Solidárias e que são facilmente percebidos em qualquer uma 
delas: o seu caráter pedagógico e a sua relação umbilical com o território.
Primeiramente, podemos perceber que as experiências de Finanças 
Solidárias são pedagógicas, de modo que seus participantes se envolvem 
em um conjunto de processos educativos que podem transformá-los, 
proporcionando ainda aprendizados a respeito do mundo das fi nanças 
e de como podemos transformar esse mundo, de lógica tão perversa, 
para uma lógica solidária e autogestionária. Entendemos que é formativo 
28
II. As experiências de 
Finanças Solidárias hoje
29
Finanças Solidárias
participar de uma experiência de Fundos 
Solidários, Cooperativa de Crédito Solidário, 
Banco Comunitário, porque participar dessas 
experiências necessita da implicação dos sujeitos 
nela envolvidos, não se tratando apenas de um 
serviço. Há ainda outra dimensão pedagógica 
nas experiências de Finanças Solidárias, que 
é a apropriação das ferramentas financeiras, 
um processo educativo que mostra às pessoas 
as implicações do sistema econômico em seu 
cotidiano. Assim, a proposta de uma educação 
financeira nas Finanças Solidárias se relaciona 
com se propor a olhar criticamente o mundo 
financeiro e estabelecer relações diretas entre 
ele e as nossas relações econômicas cotidianas, 
de modo a nos ajudar a entender a maneira 
de funcionamento do sistema econômico e 
também que alternativas as Finanças Solidárias 
podem dar a essas questões. 
As Finanças Solidárias também possuem um 
vínculo especial com o território, um lugar 
privilegiado para a articulação da Economia 
Solidária, não apenas na oferta de serviços, mas 
também na mobilização de empreendimentos, 
espaços de debate e ação conjunta. As práticas 
de Finanças Solidárias estão implicadas e 
permeadas das relações econômicas de 
determinado território, por isso fazem parte 
do trabalho dessas experiências não apenas 
a compreensão das relações econômicas que 
se dão no território, mas a potencialização de 
ações econômicas solidárias, fortalecendo a 
construção de outro desenvolvimento. Dentro 
dos territórios as Finanças Solidárias também 
podem ser entendidas como uma maneira de 
apropriação contra-hegemônica das finanças, 
com instrumentos vinculados às dinâmicas 
locais e suas relações sociais, que buscam 
potencializar os recursos e riquezas presentes. 
Essa apropriação diferenciada produz o que 
Milton Santos chamou de ‘lugar’ e que nós 
temos chamado de território. Há então uma 
espécie de coexistência de territórios, sendo 
uns dominados pelos sistemas técnicos mais 
desenvolvidos e outros menos submetidos a 
tais totalizações. Estabelece-se uma tensão 
entre a lógica verticalizada das finanças e a 
lógica de apropriação territorial (Santos, 2001). 
O nome já anuncia essa tensão: “finanças”, 
que indica uma instituição caracterizada 
pela centralização, e “solidárias”, indicando 
o processo de apropriação autogestionado e, 
portanto, horizontal. As Finanças Solidárias 
se encontram nessa luta contra-hegemônica 
dentro dos territórios.
30
Cadernos de Finanças Solidárias
2. As experiências de 
Finanças Solidárias hoje
2.1 Bancos comunitários de 
desenvolvimento
Os Bancos Comunitários apoiam empreendimentos locais em suas 
estratégias, seja a partir do financiamento às suas atividades, seja na 
construção de redes locais de consumo e comercialização. Nesse sentido 
é papel dos Bancos Comunitários o estímulo a redes de consumo e a 
produção a partir dos créditos de consumo (em moeda social) e produtivo 
(em reais). É claro que o trabalho dos Bancos Comunitários não se 
restringe à oferta de crédito, ele é um articulador de ações no território, 
podendo ser um correspondente bancário, ofertar microsseguros, articular 
um fórum de desenvolvimento comunitário onde atores da comunidade 
possam se encontrar e discutir questões a respeito do desenvolvimento 
da comunidade. 
Os Bancos Comunitários de Desenvolvimento geralmente não trabalham 
apenas com o microcrédito produtivo, mas também com outras 
modalidades, como o crédito para consumo e para habitação. A própria 
natureza dos BCDs exige que eles sejam construídos e geridos de forma 
integrada à comunidade, pois suas estratégias de atuação são pouco 
convencionais e dependem fortemente da aderência das pessoas. As 
moedas sociais, por exemplo, só funcionam como um meio de troca se 
produtores e consumidores perceberem-na como tal e confiarem no seu 
lastro em real. A metodologia de avaliação solidária de crédito também só 
é eficiente se a comunidade, de fato, entendê-la como séria e importante.
Isso significa que essas experiências não se limitam ao universo tradicional 
da Economia Solidária, seus critérios independem do reconhecimento 
das pessoas e empreendimentos enquanto pertencentes à Economia 
Solidária. O que importa é a articulação das pessoas em determinado 
território. Muitas vezes o próprio Banco Comunitário acaba sendo o vetor 
de divulgação da Economia Solidária na comunidade.
31
Finanças Solidárias
Bancos comunitários 
de Desenvolvimento
Estado Nº de bancos
Acre (AC) 02
Amapá (AP) 02
Amazonas (AM) 10
Bahia (BA) 09
Ceará (CE) 36
Distrito Federal (DF) 02
Espírito Santo (ES) 11
Goiás (GO) 01
Maranhão (MA) 01
Mato Grosso (MT) 03
Mato Grosso do Sul (MS) 03
Minas Gerais (MG) 03
Pará (PA) 13
Paraíba (PB) 02
Piauí (PI) 02
Rio de Janeiro (RJ) 03
Rio Grande do Norte (RN) 01
Roraima (RR) 01
São Paulo (SP) 09
Sergipe (SE) 01
Total de Bancos 115
Regiões Nº de bancos
Norte 28
Nordeste 52
Centro-Oeste 07
Sudeste 26
Distrito Federal 02
31
Bancos comunitários 
de Desenvolvimento
32
Cadernos de Finanças Solidárias
É notável a forte presença das mulheres nas 
experiências de Bancos Comunitários. É 
sabido que a divisão das tarefas domésticas 
em nossa sociedade ainda pesa de forma 
desigual sobre as mulheres, e isso ajuda a 
explicar o porquê de elas serem o público 
principal dos Bancos Comunitários. Os 
créditos de consumo e habitação ajudam 
na gestão cotidiana das necessidades 
domésticas. Mas isso é só parte da questão, 
pois muitas vezes as mulheres possuem uma 
dupla jornada de trabalho e, por isso, buscam 
atividades mais flexíveis, que possam 
ser realizadas na própria comunidade, 
de modo a conciliar a atividade econômica 
com as demandas do lar. Essas mulheres 
frequentemente possuem ou querem abrir 
um empreendimento, e o crédito produtivo 
fortalece essas iniciativas.
No campo das Finanças Solidárias, os Bancos 
Comunitários de Desenvolvimento são os que 
possuem maior presença nos centros urbanos. 
As estratégias utilizadas pelos bancos e a sua 
constante limitação de recursos impedem que 
eles atuem sobre territórios muito amplos, 
ao mesmo tempo em que tornam bastante 
potencial o trabalho em comunidades 
densamente povoadas. Os reflexos disso 
são que os maiores Bancos Comunitários 
atualmente situam-se em capitais estaduais 
(Vitória, Fortaleza, São Paulo) e as principais 
atividades financiadas pelos BCDs são a 
produção e o comércio.
É possível concluir que os Bancos Comunitários 
de Desenvolvimento acabam sendo muito mais 
do que simples instituições de microcrédito, onde 
estão presentes agem como importantes vetores 
de articulação da comunidade e do território, 
fomentam e divulgam a Economia Solidária, 
além de fortalecerem o empoderamento da 
mulher na busca da sua autonomia.
2.2. cooperativas de 
crédito solidário
As cooperativas de crédito se diferem de 
outras instituições financeiras porque devem 
se nortear pelos princípios do cooperativismo 
e, dessa maneira, possuem uma democracia 
interna, de forma que gestores e clientes são 
donos da cooperativa e não têm o objetivo 
de maximização de lucros, mas sim o de 
trazer benefícios aos seus cooperados. As 
cooperativas de crédito, diferentemente dos 
Bancos Comunitários, são autorizadas peloBanco Central a captar poupança. A diferença 
entre as cooperativas de crédito convencionais 
e as Cooperativas de Crédito Solidário está, 
de acordo com Abramovay12, no objetivo das 
Cooperativas de Crédito Solidário de fomentar 
um desenvolvimento local sustentável. Essas 
cooperativas podem ser entendidas, como 
apontam Magri & Côrrea, como ferramenta 
estratégica na “democratização do acesso ao 
crédito e superação da pobreza, mobilizando 
e representando milhares de pessoas que 
historicamente estiveram excluídos de políticas 
publicas de promoção ao desenvolvimento 
humano e da cidadania13”.
As Cooperativas de Crédito Solidário são 
cooperativas que ofertam serviços financeiros 
e bancários a seus associados. Aqui, o princípio 
da associação e da autogestão se realiza tanto na 
participação dos espaços coletivos de decisão 
como na não diferenciação entre o papel do 
dono dos recursos financeiro e o usuário, ou 
seja, os associados aportam seus recursos via 
poupança, são os gestores do recurso e ao 
mesmo tempo o cliente que vai acessá-lo em 
12 Ver ABRAMOVAY, R (org.). Laços financeiros 
na luta contra a pobreza. São Paulo: Ed. FAPESP/
Annablume, 2004
13 Cooperativismo de Crédito Familiar e Solidário: 
instrumento de desenvolvimento e erradicação da 
pobreza. p.13-21. Cledir A. Magri & Ciro Eduardo Corrêa 
(organizadores) – Passo Fundo: IFIBE, 2012. 
33
Finanças Solidárias
Cooperativas de 
crédito solidário
Estado Nº de CCS
Bahia (BA) 08
Espírito Santo (ES) 13
Goiás (GO) 02
Mato Grosso do Sul (MS) 01
Minas Gerais (MG) 20
Paraná (PR) 137
Pernambuco (PE) 02
Roraima (RR) 09
Rio de Janeiro (RJ) 02
Rio Grande do Sul (RS) 158
Santa Catarina (SC) 163
São Paulo (SP) 01
Sergipe (SE) 01
Total de Cooperativas 517
33
Regiões Nº de CCS
Norte 09
Nordeste 11
Centro-Oeste 03
Sudeste 36
Distrito Federal 458
Cooperativas de 
crédito Solidário
Cadernos de Finanças Solidárias
forma de crédito. Entretanto, o papel dessas 
iniciativas no desenvolvimento e na inclusão 
social de seus associados vai muito além da 
oferta de crédito conforme sua definição: São 
“(...) uma forma autogestionária para viabilizar 
o acesso ao sistema de microfinanças a fim de 
fomentar a produção, principalmente àqueles 
excluídos/as do sistema financeiro”14. 
As cooperativas possuem uma forte ligação 
com a democratização de crédito junto aos 
trabalhadores da agricultura familiar, de forma 
a vincular a oferta de crédito à produção de um 
desenvolvimento integrado às dinâmicas locais. 
Dessa maneira, constitui-se como um importante 
ator no fortalecimento dessas dinâmicas ao 
territorializar os recursos locais por meio da 
captação das poupanças e seu reinvestimento 
no território onde estão os seus associados. 
Além disso, as Cooperativas de Crédito Solidário 
são iniciativas sustentadas pelos vínculos entre 
os associados, compreendendo seus processos 
como a produção de relações entre os que dela 
14 Políticas de Formação do Sistema Central SC/RS: 
documento de referência, p. 10.
participam. Fica evidente que as Cooperativas 
de Crédito Solidário se diferem das cooperativas 
de crédito tradicionais, trazendo para este 
campo os princípios da Economia Solidária. 
Para garantir esses princípios as Cooperativas 
de Crédito Solidário possuem uma forma 
diferenciada de organização do sistema em 
relação às cooperativas de crédito tradicionais. 
As cooperativas tradicionais se organizam 
de forma verticalizada e possuem a lógica da 
centralização, que visa o ganho de escala e a 
diminuição dos custos; esse modo de proceder 
prioriza a criação de cooperativas regionais 
que tenham um grande número de pontos 
de atendimento, diminuindo a sinergia com 
os territórios onde atuam e se distanciando 
de seus associados. Já nas Cooperativas 
de Crédito Solidário, como possuem a 
horizontalidade como princípio de atuação, 
priorizam cooperativas menores, mantendo 
relações de proximidade com os associados a 
partir da atuação por meio de bases de serviços 
(Búrigo 2011).
34
Bioconstrução em propriedade rural, Cresol Central SC-RS Foto: Vilceo Sehnem
35
Finanças Solidárias
2.3. Fundos solidários
Os Fundos Solidários são “(...) processos de gestão coletiva de recursos, 
voltados para a sustentabilidade local e territorial e para a mobilização 
social, constituem-se como espaços geradores de riquezas e saberes. 
Cumprem importante papel de Escola de libertação e Espaço de 
resistências, em que está sendo gestado outro modelo de desenvolvimento, 
provocando a ampliação da democracia para o nível da participação 
efetiva”15. Sua história não tem uma datação precisa, mas passou a ter 
maior expressão no Brasil a partir da década de 1980, na articulação dos 
movimentos sociais e também nos trabalhos comunitários das igrejas16.
Há dois tipos de fundos: os fundos de fomento e os Fundos Rotativos 
Solidários. Os fundos de fomento repassam recursos para fomentar projetos 
e iniciativas de Finanças Solidárias e não são reembolsáveis. Já nos Fundos 
Rotativos Solidários o recurso é captado entre os próprios participantes do 
fundo em uma espécie de poupança coletiva. A partir de então passa a ser 
investido junto aos próprios participantes, sendo devolvido ao fundo depois 
de algum tempo para que possa ser novamente emprestado.
Nesse sentido os Fundos Solidários “(...) representam uma atividade 
econômica que se realiza coletivamente, cuja gestão das atividades e 
dos resultados é exercida coletivamente pelos associados e cujo próprio 
fundo tende a ser propriedade coletiva dos associados”17.
Entre 2010 e 2013 a Cáritas brasileira foi responsável por coordenar um 
projeto nacional de mapeamento dos Fundos Solidários. O mapeamento 
foi realizado em parceria com entidades regionais e permitiu, pela primeira 
vez, uma visão integrada da atuação dos Fundos Solidários no Brasil. 
A região Nordeste figura como a mais expressiva em termos de 
experiências. A maioria dos fundos é encontrada na região e, dado que os 
fundos geralmente possuem uma abrangência restrita, faz sentido que a 
maioria dos empreendimentos apoiados e das pessoas a eles vinculadas 
também se encontre na região Nordeste. 
A abrangência da maioria dos fundos restringe-se a uma ou mais 
comunidades, estejam elas em um mesmo município ou em um conjunto 
deles. Esse caráter da atuação dos fundos converge com o princípio 
de proximidade da relação com os participantes, o que permite que as 
experiências sejam construídas de forma colaborativa.
15 Veja em http://caritas.org.br/wp-content/files_mf/1383061597Cartilhawebfundos_
solidarios.pdf
16 Fundos solidários: por uma política de emancipação produtiva dos movimentos 
sociais, Fundação Grupo Esquel.
17 Fundos solidários: por uma política de emancipação produtiva dos movimentos 
sociais, Caderno 2, p. 26, Fundação Grupo Esquel.
Cadernos de Finanças Solidárias
As principais atividades exercidas pelos 
membros dos Fundos Solidários são a 
agricultura familiar e o artesanato, duas 
ações reconhecidamente populares dentro da 
Economia Solidária. As características inerentes 
a essas duas atividades explicam o porquê de 
a maioria dos empreendimentos vinculados 
aos fundos ser individual ou familiar. Explica 
também o significativo número de fundos 
que trabalham com formas alternativas de 
devolução, por exemplo, sementes e animais. 
Muitos dos Fundos Solidários recebem 
financiamento público, através do governo 
federal, dos governos estaduais ou das 
empresas estatais. Esses financiamentos 
podem ser vistos como estratégicos para a 
integração e consequente maior eficiência das 
políticas públicas, dado que grande parte dos 
participantes dos fundos é beneficiada também 
por outras importantes políticas públicas de 
geração de renda e combate à miséria e à 
fome. Dentre elas, podem ser destacadas Bolsa 
Família, Programa de Aquisição de Alimentos 
(PAA), Programa Nacional de Fortalecimento 
da Agricultura Familiar (Pronaf) e Programa 
Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). 
O mapeamento deixou claroque os Fundos 
Solidários são uma importante ferramenta 
para o fortalecimento dos empreendimentos 
de Economia Solidária. Apesar de suas 
particularidades, é possível dizer que os 
participantes dessas experiências não 
diferem grandemente dos participantes das 
outras experiências de Finanças Solidárias. 
As particularidades de cada experiência 
acabam sendo justamente o que as torna 
complementares em vez de competitivas, 
enriquecendo o campo das Finanças Solidárias.
3636
1º Intercâmbio Regional de Fundos Solidários do Projeto, Goiânia/GO, maio de2015 Foto: Acervo Centro de Estudos e Assessoria
Finanças Solidárias
Estado Nº de fundos
Acre (AC) 02
Alagoas (AL) 30
Amapá (AP) 04
Amazonas (AM) 02
Bahia (BA) 31
Ceará (CE) 59
Distrito Federal (DF) 07
Espírito Santo (ES) 02
Goiás (GO) 22
Maranhão (MA) 46
Mato Grosso (MT) 52
Mato Grosso do Sul (MS) 13
Minas Gerais (MG) 17
Pará (PA) 09
Paraíba (PB) 78
Paraná (PR) 14
Pernambuco (PE) 43
Piauí (PI) 22
Rio de Janeiro (RJ) 20
Rio Grande do Norte (RN) 03
Rio Grande do Sul (RS) 26
Roraima (RR) 02
Santa Catarina (SC) 11
São Paulo (SP) 07
Sergipe (SE) 01
Total de Fundos 523
Fundos Solidários
37
Regiões Nº de fundos
Norte 19
Nordeste 313
Centro-Oeste 87
Sudeste 46
Sul 51
Distrito Federal 07
Fundos Solidários
Cadernos de Finanças SolidáriasCadernos de Finanças Solidárias
38
2.4. Mapa das Finanças 
Solidárias no Brasil
Iniciativas de Finanças 
Solidárias no Brasil
Estado Qtd
Acre (AC) 4
Alagoas (AL) 30
Amapá (AP) 6
Amazonas (AM) 12
Bahia (BA) 40
Ceará (CE) 95
Distrito Federal (DF) 9
Espírito Santo (ES) 26
Goiás (GO) 25
Maranhão (MA) 47
Mato Grosso (MT) 55
Mato Grosso do Sul (MS) 17
Minas Gerais (MG) 40
Pará (PA) 22
Paraíba (PB) 80
Paraná (PR) 151
Pernambuco (PE) 45
Piauí (PI) 24
Rio de Janeiro (RJ) 25
Rio Grande do Norte (RN) 4
Rio Grande do Sul (RS) 184
Roraima (RO) 12
Santa Catarina (SC) 174
São Paulo (SP) 17
Sergipe (SE) 3
Total 1147
Bancos comunitários 
de Desenvolvimento
Cooperativas de 
crédito Solidário
Fundos Solidários
Finanças Solidárias
39
Iniciativas Região Nordeste
Iniciativas Região Norte
Iniciativas de Finanças 
Solidárias Região Nordeste
Estado Qtd
Alagoas (AL) 30
Bahia (BA) 40
Ceará (CE) 95
Maranhão (MA) 47
Paraíba (PB) 80
Pernambuco (PE) 45
Piauí (PI) 24
Rio Grande do Norte (RN) 4
Sergipe (SE) 3
Total 368
Iniciativas de Finanças 
Solidárias Região Norte
Estado Qtd
Acre (AC) 4
Amapá (AP) 6
Amazonas (AM) 12
Roraima (RO) 12
Pará (PA) 22
Total 56
39
Iniciativas Região Norte
Iniciativas de Finanças 
Solidárias Região Norte
Qtd
4
6
12
12
22
56
Bancos comunitários 
de Desenvolvimento
Cooperativas de 
crédito Solidário
Fundos Solidários
Cadernos de Finanças Solidárias
40
Iniciativas Região Centro Oeste
Iniciativas Região SudesteIniciativas Região Sudeste
Iniciativas de Finanças 
Solidárias Região Centro-Oeste
Estado Qtd
Goiás (GO) 25
Mato Grosso (MT) 55
Mato Grosso do Sul (MS) 17
Distrito Federal 9
Total 106
Iniciativas de Finanças 
Solidárias Região Sudeste
Estado Qtd
Espírito Santo (ES) 26
Minas Gerais (MG) 40
Rio de Janeiro (RJ) 25
São Paulo (SP) 17
Total 108
Iniciativas de Finanças 
Solidárias Região Sudeste
Qtd
26
40
25
17
108
Bancos comunitários 
de Desenvolvimento
Cooperativas de 
crédito Solidário
Fundos Solidários
Finanças Solidárias
41
Iniciativas Região Sul
Iniciativas de Finanças 
Solidárias Região Sul
Estado Qtd
Goiás (GO) 25
Santa Catarina (SC) 174
Rio Grande do Sul (RS) 184
Paraná (PR) 151
Total 509
Rio Grande do Sul (RS) 184
Paraná (PR) 151
Total 509
Bancos comunitários 
de Desenvolvimento
Cooperativas de 
crédito Solidário
Fundos Solidários
Cadernos de Finanças Solidárias
1. Redes
1.1 rede Brasileira 
de Bancos comunitários
A história da Rede Brasileira de Bancos 
Comunitários se inicia em 1998 com a criação 
do Banco Palmas na comunidade do Conjunto 
Palmeiras em Fortaleza. Essa iniciativa pioneira 
foi inspiração e parceira para a formação dos 
demais 107 Bancos Comunitários que existem 
hoje no Brasil. A primeira replicação da 
metodologia no estado do Ceará com o banco 
PAR ocorreu em 2004; dois anos depois já eram 
sete Bancos Comunitários em cinco estados 
brasileiros. Tendo em vista o fortalecimento da 
metodologia e da articulação entre as iniciativas, 
em 14 de janeiro de 2006, na sede do Banco 
Palmas, foi realizado o I Encontro Nacional dos 
Bancos Comunitários, que resultou na criação 
da Rede Brasileira de Bancos Comunitários. O 
evento contou com a participação de intelectuais, 
pesquisadores, organizações, deputados, 
vereadores e militantes da Economia Solidária 
que apostavam na ideia, além do ministro para 
a Economia Popular da Venezuela, Elías Jaua, e 
do professor Paul Singer, secretário nacional de 
Economia Solidária. 
O primeiro momento da atuação em rede se 
deu na I Conferência Nacional de Economia 
Solidária realizada em Brasília, de 26 a 29 de 
junho de 2006. A mobilização começou nos 
estados com a eleição de dez delegados de 
Bancos Comunitários de todo o Brasil, além da 
elaboração de faixas e textos para incidência 
nos grupos de trabalho. Como resultado houve 
o reconhecimento dos Bancos Comunitários, 
conforme consta no Art. 78 do documento fi nal. 
Em 2007 foi realizado o II Encontro da Rede 
Brasileira de Bancos Comunitários, em Iparaná, 
no Ceará, com a participação de doze Bancos 
III. As formas de 
organização das 
Finanças Solidárias 42
43
Finanças Solidárias
Comunitários de sete estados brasileiros. Desse 
encontro destaca-se a aprovação do Termo de 
Referência e do marco teórico conceitual dos 
Bancos Comunitários. Em 2009, dois eventos 
importantes marcaram a Rede Brasileira: IX 
Fórum Social Mundial, em Belém-PA, onde 
houve a circulação da moeda Amazônida e 
a realização de uma ofi cina sobre a Rede; e I 
Fórum de Inclusão Financeira do Banco Central, 
em Salvador, com apresentações e debates com 
os representantes da Rede. Já eram 51 Bancos 
Comunitários em todo o Brasil. 
A partir de 2010, com a criação do Programa 
de Finanças Solidárias e o apoio e fomento 
a Bancos Comunitários, foi possível realizar 
reuniões mais sistemáticas com as entidades 
gestoras dos projetos nacional e regionais e 
participantes da Rede: Instituto Palmas de 
Desenvolvimento e Socioeconomia Solidária, 
Instituto Capital Social da Amazônia, Núcleo de 
Economia Solidária (Nesol-USP), Incubadora 
Tecnológica de Economia Solidária e Gestão 
do Desenvolvimento Territorial (Ites-UFBA), 
Associação Ateliê de Ideias. Em 2013 foi realizado 
o III Encontro Nacional da Rede, em Fortaleza-
CE, que contou com a participação de mais de 
duzentas pessoas, cem Bancos Comunitários, 
representantes da Senaes, Banco Central, Caixa 
Econômica Federal e universidades. Na ocasião 
foi eleita uma representação formal com a 
criação da coordenação nacional, composta de 
oito membros. 
Além da Rede Brasileira houve também a 
criação de Redes estaduais e regionais no 
contexto de ampliação das iniciativas de Bancos 
Comunitários. Tem destaque a Rede Baiana, a 
Rede Capixaba e a Rede Nordeste de Bancos 
Comunitários, revelando que a estratégia de Redes 
vem sendo bastante utilizada pelo segmento, 
entendida como um potencial de articulação e 
fortalecimento das ações comunitárias.
1.2 comitê Gestor de 
Fundos solidários: 
um traBalho em rede
O trabalho em rede também está presente 
na articulação dos Fundos Solidários. Essa 
estratégia, inicialmente, foi se constituindo 
por meio das próprias entidades de fomento, 
que articulam e agregam um conjunto de 
iniciativas de Fundos Solidários. 
No nível nacional a articulação entre as 
diversas entidades se deu a partir da criação 
do Comitê Gestor do Programa de Apoio a 
Projetos Produtivos e Sociais (PAPPS), do 
projeto realizado com o Banco do Nordeste. O 
comitê, que tinha como atribuição a elaboração 
de editais, seleção das propostas a serem 
fi nanciadas e o acompanhamento dos projetos, 
era composto de representantes do governo,

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