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DISTÚRBIOS DE EQUILÍBRIO ÁCIDO-BÁSICO • O equilíbrio entre a produção e a remoção de íons hidrogênio é importante para garantir a estabilidade do meio interno. • E a quantidade de íons hidrogênio é mantida dentro de limites estreitos, de forma que a baixa concentração é fundamental para a função normal das células. • Exemplos: sistemas enzimáticos, proteínas da coagulação, contração muscular, são influenciados pela concentração de hidrogênio. RESPONSÁVEIS PELO CONTROLE DA CONCENTRAÇÃO DE HIDROGÊNIO • Rins. • Sistemas tampões realizados pelo: sangue, células e pulmões. METABOLISMO ÁCIDO-BÁSICO • O metabolismo de gorduras e carboidratos origina CO2 e H2O. • Ou seja, a produção de CO2 aumentaria a quantidade de H+, levando a uma acidose. Mas há uma compensação, porque ocorre uma eliminação do CO2 pelos pulmões, já que o CO2 é um ácido volátil, produzindo então menos H+. • Mas, no organismo, há outros ácidos como ácido fosfórico, ácido sulfúrico, ácido láctico, dentre outros que não são voláteis. Então a eliminação ocorrerá pelos rins. Há um ganho diário de ácidos voláteis e não voláteis. • Por outro lado, há perdas fisiológicas de substâncias alcalinas, como o bicabornato, sendo a produção de ácidos maior que a perda de bases. Por isso, devido ao excesso de ácidos é importante mecanismos fisiológicos que impeçam estas variações na concentração do hidrogênio. MECANISMOS FISIOLÓGICOS • Sistemas tampão – atuação instantânea. • Sistema respiratório – variação da PCO2 – minutos a horas. • Sistema renal – controla a concentração do HCO3-, ocorre entre 24 – 48 horas após o início do desequilíbrio. • OBS: Atuação do organismo no CO2 e no HCO3- para garantir a normalização do PH. ALTERAÇÕES PRIMÁRIAS • Acidose metabólica: redução de HCO3- ou aumento H+. • Alcalose metabólica: aumento de HCO3- ou redução H+. • Acidose respiratória: aumento da PCO2. • Alcalose respiratória: redução da PCO2. SISTEMA TAMPÃO • Tampões são substâncias capazes de doar ou receber íons hidrogênio, atenuando variações de PH. • Os principais tampões são: ácido carbônico bicabornato, proteínas plasmáticas, proteínas intracelulares, hemoglobina e ossos. • As modificações ocorrem em todos os sistemas, mas os principais são o ácido carbônico-bicabornato e as proteínas plasmáticas. • Sistema ácido carbônico-bicabornato é o principal. • Proteínas: são tampões importantes, pois possuem grupos químicos capazes de receber ou de liberar H+, comportando-se como ácidos ou bases. • Grupos carboxila (-COOH) – perdem um próton. • Grupos (NH2) – recebem hidrogênio, formando NH3. CONTROLE RESPIRATÓRIO DA CO2 • O CO2 é eliminado pelos pulmões, mas interessante saber que o centro respiratório é estimulado quando há um aumento na concentração dos íons hidrogênio, aumentando a amplitude dos movimentos respiratórios. • O oposto é verdadeiro, ocorre a inibição do centro respiratório causando uma hipoventilação, quando a concentração de hidrogênio está reduzida. CONTROLE RENAL • O controle respiratório e o sistema tampão são mecanismos considerados eficientes e evitam a alteração do PH. Porém, essa proteção é temporária, porque são os rins os responsáveis por estabelecer um mecanismo mais duradouro. • O controle renal: o Reabsorvem quase todo o bicabornato filtrado. o Recuperam o bicabornato que foi consumido no processo de tamponamento de ácidos fixos. o Eliminam íons hidrogênio por secreção tubular. • O mecanismo de secreção de hidrogênio: os dois principais estão listados abaixo. o Bomba Na+/H+, processo de troca, reabsorve sódio e secreta H+. o Bomba H-ATPase, processo ativo de secreção de H+. • Na luz tubular H+ secretado combina com HCO3- filtrado. O CO2 se difunde da luz tubular para dentro da célula, onde se combina com o íon hidroxila (OH-), que resultou da dissociação da H2O formando HCO3-. O HCO3- se difunde passivamente para o fluido peritubular e sangue. • Para cada H+ secretado, um HCO3- é recuperado. • É importante falar que a secreção de hidrogênio e a reabsorção de bicabornato não ocorre sempre de uma forma livre. Existem fatores que irão influenciar uma maior ou menor secreção de H+ a nível tubular. A presença de hipo ou hipercalemia, influência hormonal da aldosterona, quantidade de bicabornato filtrado, dentre outros. • Acidez urinária: até agora, não houve uma secreção verdadeira de H+. A reabsorção de bicabornato, a urina torna-se ácida. Há várias outras reações que ocorrem a nível tubular que liberam ácidos, a chamada acidez titulável. Molécular de amônio (NH4+) é importante meio de excreção de íons H+ na urina. OBS: O exame usado para avaliação do metabolismo ácido-básico é a Gasometria arterial. ACIDOSE METABÓLICA CAUSAS • Aumento na produção de ácidos: o Acidose láctica: ▪ Hipoperfusão tecidual – choque hipovolêmico, choque séptico – aumento na produção de ácido lático. ▪ Etilismo – redução da utilização hepática de lactato. o Cetoacidose: ▪ Diabetes mellitus. ▪ Etilismo. o Intoxicações: ▪ Aspirina. ▪ Metanol. ▪ Etilenoglicol (metabolizado em compostos tóxicos, como o ácido oxálico, que vão provocar disfunção neurológica e insuficiência renal aguda). • Perda de bicabornato: o Diarreia. o ATR tipo 2 (túbulopatia proximal causando bicarbonatúria). • Redução na excreção renal de ácido: o Insuficiência renal. o ATR tipo 1. o ATR tipo 4 (deficiência de aldosterona, prejudica a secreção distal de hidrogênio e potássio, então além da acidose metabólica, há hipercalemia). QUADRO CLÍNICO • Depende da doença de base, da velocidade de instalação do distúrbio. • Náuseas, vômitos, mialgia, fadiga. • Graves: hiperventilação – respiração de Kussmaul. • Quando bicabornato < 10mEq/L: diminuição do débito cardíaco, hipotensão arterial, arritmias, redução do nível de consciência, coma. GASOMETRIA • Redução do PH, redução do bicabornato. • Resposta compensatória – redução da PCO2. Exemplo: PH 7,30; PCO2 27mmHg; HCO3- 13mEq/L. • No exemplo, PH está baixo, ou seja, temos uma acidose. Temos que identificar se é respiratória ou metabólica, checa-se a PCO2 e o HCO3-. Se houver redução do HCO3- temos uma acidose metabólica. Se houver aumento da PCO2 temos uma acidose respiratória. No caso, PCO2 e HCO3 estão baixos, então temos uma acidose metabólica. RESPOSTA COMPENSATÓRIA • É sempre no sentido do distúrbio primário, se houve queda do bicabornato, haverá redução da PCO2. Para cada redução de 1mEq/L de HCO3-, haverá queda de 1,2mmHg na PCO2. • A compensação está ocorrendo de forma correta? • Usa-se a fórmula: o PCO2 = 1,5 x (HCO3-) +8, pode ser aceita diferença de +/- 2mEq/L. No exemplo PCO2 = 1,5 x 13 +8 = 27,5. Então, temos uma acidose metabólica compensada. CÁLCULO ANION GAP (HIATO IÕNICO) • Espera-se que o número de cátions e de ânions sejam iguais para manter uma eletroneutralidade. • Os cátions são representados principalmente pelo sódio. Os ânions, pelo cloro e pelo bicabornato. • Mas há outros ânions que não são dosados mas contribuem para a fração aniônica do plasma, como proteínas, lactato, dentre outras. • Então, o ânion gap corresponde aos ânions que não foram medidos. • Fórmula: Na+ - (Cl + HCO3) VR = 8 – 16. • O cálculo do AG ajuda a diferenciar a causa da acidose metabólica, que é dividida em: o Acidose metabólica hiperclorêmica (ânion gap normal): acidose por perda de bicabornato, exemplo é a diarreia. Não está sendo produzido nem retido outros ânions. Para manter a eletroneutralidade, há um aumento na reabsorção de cloro. o Acidose metabólica normoclorêmica (ânion gap aumentado): exemplo é lactato na acidose láctica. Beta hidroxibutirato na cetoacidose. Nestas situações, o aumento destes ânions, faz com que o ãnion gap esteja aumentado, e o cloro normal. TRATAMENTO • Tratamento da doença de base/primária. • Acidose grave: PH < 7,20 BIC< - Bicabornato 8,4%. • Fórmula de BIC = (BIC desejado – BIC atual) x espaço do BIC. • Espaçodo BIC = 50% do peso corporal. • Individualizar cada caso – gravidade/causa. • Casos indicação de TRS. ALCALOSE METABÓLICA • PH alcalino às custas da redução de hidrogênio ou de aumento do bicabornato. CAUSAS • Perda de hidrogênio: o Gastrointestinal: vômitos, drenagem nasogástrica. o Renal: ▪ Hiperaldosteronismo: aumento na reabsorção de Na+ e aumento na excreção de H+ e K+. ▪ Diuréticos de alça/tiazídicos: eles inibem a reabsorção de Na+ na alça de Henle e túbulo contorcido, assim, maior é o aporte distal de Na+. Então, mais Na+ é reabsorvido e mais H+ e K+ são excretados. • Adição de bicabornato: consumo de bicabornato ou precursores (citrato). Nestes casos, ultrapassa a capacidade de excreção renal, deste bicabornato, geralmente em pacientes que já têm déficit de função renal. SITUAÇÕES RESPONSÁVEIS POR MANTER A ALCALOSE • Perda contínua de hidrogênio. • Administração de bicabornato. • Aumento na reabsorção renal de bicabornato. • Redução na secreção distal de bicabornato. • Fatores que dificultam o papel fisiológico dos rins são: depleção de volume e hipocalemia. o Depleção de volume: um exemplo é o paciente desidratado, haverá aumento na reabsorção de Na+ e água, e junto com Na+, haverá maior reabsorção de bicabornato no túbulo proximal. o Hipocalemia: na tentativa de corrigir o déficit de K+, haverá maior saída de K+ do CIC para CEC. Assim, ocorrerá maior concentração de H+ dentro das células, inclusive dentro das células tubulares. Para manter o equilíbrio eletrolítico, haverá mais saída de H+ para a luz tubular, logo, mais HCO3- é resgatado, perpetuando a alcalose, dificultando a eliminação de HCO3- pelos rins (várias outras explicações). QUADRO CLÍNICO • Não há manifestação clínica típica, geralmente os sinais e sintomas são decorrentes da doença de base. • Nos pacientes com hipocalemia associada, pode ter manifestações da hipocalemia, como fraqueza, paralisia muscular, íleo paralítico e arritmias. ACHADOS LABORATORIAIS • Gasometria arterial: o Elevação do PH, elevação do bicabornato. o Resposta compensatória – aumento da PCO2. • No exemplo do paciente com alcalose metabólica pode-se usar: PH: 7,47, PCO2 46mmHg e HCO3- 31mEq/L. • No exemplo: PH está elevado, ou seja, temos uma alcalose. Temos que definir se é metabólica ou respiratória? Checamos a PCO2 e o bicabornato. o Se houver aumento de HCO3- é alcalose metabólica. o Se houver redução da PCO2 é alcalose respiratória. • No caso, a PCO2 e HCO3- estão elevados, então temos uma alcalose metabólica. • A fórmula para verificar se a compensação foi adequada é: o PCO2 = 40+ 0,7 x (HCO3- atual – HCO3- normal) pode ser aceita diferença de +/- 5mEq/L. • No exemplo: PCO2 = 40 +0,7 x (31 – 26) – PCO2 = 43,5mmHg, no caso PCO2 = 46mmHg. TIPOS DE COMPENSAÇÕES • Através da retenção de CO2, pela hipoventilação. • Outras formas: tamponamento do excesso de bicabornato pelo hidrogênio, que sai do intracelular para o extracelular. • Eliminação renal de bicabornato. OUTROS ACHADOS LABORATORIAIS • Cloro: é o único ânion além do HCO3- que acompanha a reabsorção tubular de Na+. • Nas situações de depleção de volume (desidratação), há um aumento na reabsorção de Na+. • Situações de hipocloremia, os rins absorvem ainda mais bicabornato, por isso que a deficiência de cloro é considerada um fator de manutenção da alcalose. E também ajuda no diagnóstico. • Cloro urinário – diagnóstico e conduta: o Cloro urinário < 10mEq/ml – indica que o rim está reabsorvendo muito sódio, geralmente em situações de depleção de volume, como por exemplo, pelo uso de diuréticos ou por vômitos. E que provavelmente irão responder com uso de NaCl. o Cloro urinário > 20mEq/ml – indica que não há depleção de volume e que o cloro não tem participação na manutenção da alcalose. TRATAMENTO • Corrigir a causa que impedem os rins de excretarem o excesso de bicabornato, então é preciso corrigir a depleção de volume, hipocloremia, hipocalemia. • Depleção do extracelular + depleção cloreto – solução salina isotônica (NaCl 0,9%) em torno de 3 – 5L. • Se apenas depleção de cloreto, deve-se calcular o déficit de cloro = 0,2x peso (kg) x aumento desejado de cloreto. Opções: HCl, KCl, NaCl. • Sem resposta ao tratamento clínico – fazer diálise. • Se hipocalemia – KCl. ACIDOSE RESPIRATÓRIA CAUSAS • Doenças pulmonares – asma, enfisema. • Doenças neuromusculares – lesão SNC, miopatia (miastenia gravis, Guillain Barre). • Obstrução de vias aéreas – corpo estranho, broncoespasmo grave. • Nestas situações, há uma hipoventilação, consequentemente há retenção de CO2, determinando aumento na PCO2. QUADRO CLÍNICO • Confusão mental. • Tremor (flapping). • Coma. • Manifestação clínica no paciente agudo x crônico. • EX: no paciente com DPOC, a retenção de CO2 é mais lenta e progressiva, e portanto, eles serão menos sintomáticos. ACHADOS LABORATORIAIS VALORES DE REFERÊNCIA - PH: 7,35 – 7,45 - PCO2: 35 – 45mmHg - HCO3-: 22 – 26mEq/L • Gasometria arterial: o Redução do PH, aumento da PCO2. o Aumento do HCO3-, visando uma resposta compensatória. • Exemplo: PH 7,33; PCO2 60mmHg; e HCO3- 31mEq/L. • Acidose – ou por redução de HCO3- ou aumento CO2. • Regra da resposta compensatória adequada: o Acidose respiratória crônica – HCO3- aumenta 3,5mEq/L para cada 10mmHg de aumento da PCO2. o Acidose respiratória aguda – HCO3 aumenta 1mEq/L para cada 10mmHg de aumente da PCO2. • OBS: 3,5 – 10mmHg, x para 15 = 5,25. • O aumento na (H) faz com que tenha migração para CIC, onde há tamponamento por proteínas celulares, deixando o bicabornato no extracelular. TRATAMENTO • Direcionado para a causa pulmonar. ALCALOSE RESPIRATÓRIA CAUSAS • Dor. • Estados de hipóxia – ICC, altas altitudes. • Hipercatabolismo – febre. • Quadros sépticos. • Qualquer situação que estimule a hiperventilação, que por sua vez, irá resultar em redução da PCO2. QUADRO CLÍNICO • Parestesias em lábios e extremidades. • Perda da consciência. • Espasmos em mãos e pés. ACHADOS LABORATORIAIS • Gasometria arterial: o Aumento do PH, redução da PCO2. o Redução do HCO3- → resposta compensatória. • EXEMPLO: o PH 7,52; PCO2 20mmHg; HCO3- 16mEq/L. o Alcalose – redução da CO2 ou aumento do HCO3-. • Regra da resposta compensatória adequada: o Alcalose respiratória crônica: HCO3- diminui 5mEq/L para cada 10mmHg de queda da PCO2. o Alcalose respiratória aguda: HCO3- diminui 2mEq/L para cada 10mmHg de queda da PCO2. • No exemplo, faz regra de 3, e o HCO3- tinha que diminuir 7,5 então não está compensada. • Os tampões intracelulares liberam H+ e reabsorvem CI e BIC para dentro das células. Juntamente há redução na retenção de bicabornato. TRATAMENTO • Direcionado para a causa da hiperventilação pulmonar.
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