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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS CURSO DE DIREITO DESERDAÇÃO DOS FILHOS QUE ATENTAM CONTRA A VIDA DOS PAIS DANIELA VIEIRA MAZZARDO Itajaí, 18 de maio de 2007. UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS CURSO DE DIREITO DESERDAÇÃO DOS FILHOS QUE ATENTAM CONTRA A VIDA DOS PAIS DANIELA VIEIRA MAZZARDO Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Msc. Ana Lúcia Pedroni Itajaí , 18 de maio de 2007. AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus por ter me abençoado nos momentos mais difíceis onde me mostrou o caminho certo a seguir. À minha orientadora Msc. Ana Lúcia Pedroni, que me recebeu com tanto carinho e dedicação, durante a orientação deste trabalho. E aos demais professores da instituição, pelo privilégio de tê-los como mestres, e pelos conhecimentos que me foram transmitidos ao longo da jornada acadêmica. DEDICATÓRIAS Aos ‘anjos’ que conheci em minha vida: Aos meus pais, Arnor Mazzardo e Marli Vieira Mazzardo, sempre presentes nessa luta, me apoiando em todas as minhas decisões, para que esse sonho tornasse realidade. Aos meus familiares gaúchos, que apesar da distância, compartilharam da minha difícil trajetória durante o curso. Ao meu namorado Marcos Mileto, que conheci durante a faculdade, pessoa especial que em muitos momentos soube me escutar e aconselhar, sempre dizendo que “tudo daria certo”. E deu! Aos familiares do meu namorado que me acolheram com tanto carinho. Ao meu avô Juvenal Vieira (in memorian), que guardo como exemplo de homem de família, prezava sempre pelo amor ao próximo, carinho e a união familiar. Aos meus amigos e colegas de trabalho que sempre estiveram comigo ao longo desta caminhada. TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Itajaí, 18 de maio de 2007. Daniela Vieira Mazzardo Graduando PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Daniela Vieira Mazzardo, sob o título “Deserdação dos filhos que atentam contra a vida dos pais”, foi submetida em 13 de junho de 2007 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Prof. Msc. Ana Lúcia Pedroni (Presidente da Banca), Prof. Msc. Márcia Sarubi (Examinadora) e Prof. Mestranda Caroline Verona e Freitas aprovada com a nota 10.0 (Dez). Itajaí,18 de maio de 2007. Prof. Msc. Ana Lúcia Pedroni Orientador e Presidente da Banca Prof. M.Sc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS CP Código Penal. CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002. ART. Artigo ROL DE CATEGORIAS Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais. Antijuridicidade “A ação é antijurídica ou ilícita quando é contrária ao direito. A antijuridicidade exprime uma relação de oposição entre o fato e o direito”.1 Culpabilidade “Culpabilidade é o juízo de censura que recai sobre a formação e a manifestação da vontade do agente, com o objetivo de imposição da pena”.2 Deserdação “Deserdação é a manifestação de vontade, feita pelo autor do patrimônio, externada em disposição testamentárias, pela qual o testador quer excluir o herdeiro necessário do processo sucessório, privando-o de sua legítima.”3 Direito das Sucessões “O direito das sucessões vem a ser o conjunto de normas que disciplinam a transferência do patrimônio de alguém, depois de sua morte, ao herdeiro, em virtude de lei ou de testamento”.4 Estado de Necessidade “O estado de necessidade pressupõe um conflito entre titulares de interesses lícitos, legítimos, em que um pode perecer licitamente para que outro sobreviva”.5 1 NORONHA, E. Magalhães, Direito Penal – introdução e parte geral, 34º ed., São Paulo: Saraiva, 1999, p. 100-101 2 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de, Direito penal, parte geral, 4º ed., São Paulo: Saraiva, 2004, p. 351 3 CATEB, Salomão de Araújo, Direito das sucessões, 3º ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 214 4 DINIZ, Maria Helena, Curso de direito civil brasileiro – direito das sucessões, 16º ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p.3 5 MIRABETE, Júlio Fabbrini, Manual de direito penal, 23º ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 171 Família “O complexo de normas que regulam a celebração do casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, as relações entre pais e filhos, o vínculo do parentesco e os institutos complementares da tutela, curatela e da ausência”.6 Herdeiro Necessário “(...), constituem categoria de sucessores obrigatórios ainda que contra a vontade da pessoa que veio a falecer.”7 Homicídio “Homicídio é a destruição da vida humana extra-uterina, por outro homem (...)”.8 Indignidade “(...), a privação do direito hereditário cominado por lei, a quem cometeu certos atos ofensivos à pessoa ou aos interesses do hereditando.”9 Legítima defesa “(...) instinto de conservação dos bens jurídicos, colaborando com o Estado na luta pela afirmação do direito. Se o Estado, diante da urgência da situação, não pode socorrer o direito agredido, cumpre ao titular deste reagir”.10 Punibilidade “Quando o sujeito pratica um crime surge a relação jurídico-punitiva: de um lado, aparece o Estado com o jus puniendi; de outro, o réu, com a obrigação de não obstaculizar o direito de o estado impor a sanção penal”.11 6 DINIZ, Maria Helena, Curso de direito civil brasileiro – direito de família, 5º vol., São Paulo: Saraiva, 1999, p. 3 7 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da, Direito civil: sucessões, São Paulo: Atlas, 2003, p.151 8 TELES, Ney Moura, Direito penal: parte especial: arts. 121 a 212, vol. 2, São Paulo: Atlas, 2004, p. 46 9 CATEB, Salomão de Araújo, Direito das sucessões, p.76 10 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de, Direito penal, parte geral, p.326 11 JESUS, Damásio E., Direito penal – parte geral, 27º ed.,São Paulo: Saraiva, 2003, p. 675 Sucessão “O vocábulo sucessão conhece um sentido amplo, significando a substituição do sujeito de uma relação jurídica, é o ato pelo qual uma pessoa toma lugar de outra.”12 Sucessão legítima “Diz-se legítima a sucessão decorrente de disposição da lei, em comando normativo a indicar quem deve receber a herança, numa ordem sucessória que atende a princípios de política legislativa.”13 Sucessão testamentária “Pela sucessão testamentária recebem os bens deixados tanto os herdeiros instituídos como os legatários nomeados, mas a possibilidade de instituí-los, ou nomeá-los, só existe se o interessado emprega os instrumento próprio que lhe oferece a lei, em caráter de exclusividade, para alcançar esse fim.”14 Tentativa “Para haver tentativa, é indispensável que o agente realize algum ato executório”.15 Tipicidade “(...) tipo legal que realiza e garante o princípio da reserva legal. Consiste na descrição abstrata da conduta humana feita pormenorizadamente pela lei penal e correspondente a um fato criminoso”.16 12 VIANA, Marco Aurélio S., Curso de direito civil- direito das sucessões, 6 vol., Belo Horizonte: Del Rey,1993, p.21. 13 OLIVEIRA, Euclides, Direito de herança: a nova ordem de sucessão, São Paulo: Saraiva, 2005, p.53 14 GOMES, Orlando, Sucessões, 12 ed., rev., atual., Rio de Janeiro, 2004, p.86 15 TELES, Ney Moura, Direito penal: parte especial: arts. 121 a 212, p. 87 16 CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, 9º ed., São Paulo: Saraiva, 2005, p. 185-186 SUMÁRIO RESUMO.......................................................................................... XII INTRODUÇÃO ................................................................................. 13 CAPÍTULO 1 .................................................................................... 15 DO DIREITO DE PUNIR................................................................... 15 1.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO DIREITO DE PUNIR .........................................15 1.2 CONCEITO DE CRIME...................................................................................16 1.2.1 TERMOS E ETIMOLOGIA ...................................................................................16 1.2.2 CONCEITO FORMAL .........................................................................................17 1.2.3 CONCEITO MATERIAL ......................................................................................17 1.2.4 CONCEITO ANALÍTICO: ....................................................................................18 TIPICIDADE, ANTIJURIDICIDADE, CULPABILIDADE E PUNIBILIDADE. ........18 1.2.5 TIPICIDADE.....................................................................................................18 1.2.6 ANTIJURIDICIDADE ..........................................................................................19 1.2.6.1 Terminologia............................................................................................20 1.2.7 CULPABILIDADE..............................................................................................20 1.2.8 PUNIBILIDADE.................................................................................................22 1.3 CRIMES CONTRA A VIDA.............................................................................24 1.3.1 HOMICÍDIO .....................................................................................................24 1.3.1.1 Homicídio doloso ....................................................................................26 1.3.1.2 Homicídio culposo ..................................................................................26 1.3.2 TENTATIVA DE HOMICÍDIO ................................................................................27 1.4 EXCLUDENTES DE ILICITUDE .....................................................................29 1.4.1 LEGÍTIMA DEFESA ...........................................................................................29 1.4.2 ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL ........................................................31 1.4.3 ESTADO DE NECESSIDADE...............................................................................32 1.4.4 EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO .....................................................................34 CAPÍTULO 2 .................................................................................... 36 FAMÍLIA E SUCESSÕES................................................................. 36 2.1. ORIGEM E EVOLUÇÃO DA FAMÍLIA ..........................................................36 2.2 CONCEITO DE FAMÍLIA NA ATUALIDADE .................................................37 2.3 A FAMÍLIA NO DIREITO BRASILEIRO .........................................................39 2.4 CONCEITO DE SUCESSÕES........................................................................40 2.4.1 ACEPÇÃO DA PALAVRA SUCESSÃO ..................................................................42 2.5 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ...............................................................................42 2.6 SUCESSÃO EM GERAL ................................................................................44 2.6.1 SUCESSÃO LEGÍTIMA.......................................................................................45 2.6.2 SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA ............................................................................46 2.6.3 SUCESSÃO DOS DESCENDENTES ......................................................................47 2.7 HERDEIROS NECESSÁRIOS........................................................................49 2.8 ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA ........................................................50 2.9 SUCESSÃO DO COMPANHEIRO NA UNIÃO ESTÁVEL. ............................54 2.9.1 SUCESSÃO DO CÔNJUGE NA LEGISLAÇÃO ANTERIOR. ........................................55 2.9.2 DIREITO SUCESSÓRIOS DOS COMPANHEIROS NO NOVO CÓDIGO CIVIL DE 2002.....57 CAPÍTULO 3 .................................................................................... 59 DESERDAÇÃO DOS FILHOS QUE ATENTAM CONTRA A VIDA DOS PAIS......................................................................................... 59 3.1. HISTÓRICO: ..................................................................................................59 3.2. CONCEITO: ...................................................................................................61 3.3 CARACTERÍSTICAS E REQUISITOS DA DESERDAÇÃO...........................63 3.4 EFEITOS DA DESERDAÇÃO ........................................................................65 3.5 EXCLUSÃO DA SUCESSÃO POR INDIGNIDADE........................................67 3.6 DIFERENÇA ENTRE INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO................................69 3.7 DESERDAÇÃO EM RAZÃO DO ATENTADO CONTRA A VIDA DOS PAIS 71 3.8 EFICÁCIA DA DESERDAÇÃO.......................................................................72 3.8.1 EFEITOS PESSOAIS DA DESERDAÇÃO................................................................73 3.9 DESTINO DOS BENS DO DESERDADO ......................................................76 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 77 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 81 RESUMO O presente trabalho de conclusão de curso tem por objeto a deserdação dos filhos que atentam contra a vida dos pais. Para enfatizar o referido trabalho o primeiro capítulo busca investigar a origem e evolução do direito de punir, trazendo o conceito de crime, formal, material e analítico, termo e etimologia, sua tipicidade, antijuridicidade, culpabilidade e punibilidade, analisando também os crimes contra a vida, ou seja, homicídio, culposo, doloso e tentativa, sendo que nestes casos apontando as excludentes de ilicitude. No segundo capítulo abordagem se destaca a origem e evolução da família, trazendo o seu conceito na atualidade observando a família no direito brasileiro, menciona- se o conceito de sucessões, ou seja, geral, legítima e testamentária. Citando a ordem de vocação hereditária, sendo os herdeiros necessários, sucessão do companheiro na união estável. No que tange a deserdação encontra-se tratado no terceiro capítulo mostra os aspectos históricos como surgiu a deserdação, seu conceito, características e requisitos, exclusão do indigno e do deserdado analisando suas diferenças seus efeitos sendo pessoais ou não, eficácia e destino de seus bens. INTRODUÇÃO A presente Monografia tem como objeto pesquisar sobre a Deserdação dos filhos que atentam contra a vida dos pais. O seu objetivo é estudar o que leva um membro familiar a cometer um atentado contra a vida por herança e analisar os requisitos da deserdação. Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando do direito de punir, onde abrange a origem e evolução, trazendo os conceitos de crimes fazendo uma abordagem a respeito dos crimes contra a vida. No Capítulo 2, tratando do surgimento da família sua origem até a sucessão, conceitua-se a família num todo e família no direitobrasileiro, esclarece os tipos de sucessões, geral, testamentária e a do companheiro na união estável onde esclarece sua ordem de vocação hereditária. No Capítulo 3, tratando da deserdação dos filhos que atentam contra a vida dos pais, iniciando com breve histórico, após mostrando o seu conceito, características e requisitos, onde assim começa a explanar sobre a exclusão de indignidade, deserdação e suas diferenças, apontando seus efeitos pessoais e para onde são destinados os bens do deserdado. O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre Deserdação dos filhos que atentam contra a vida dos pais. Para a presente monografia foram levantadas as seguintes hipóteses: � O direito sucessório no ordenamento jurídico brasileiro estabelece que a herança será transmitida aos herdeiros, criando uma ordem de sucessão, na qual figuram primeiro lugar os herdeiros necessários. � No direito brasileiro, os filhos figuram como herdeiros necessários, recebendo a totalidade da herança deixada por um dos pais, porém em caso de deserdação ou indignidade, haverá a exclusão do herdeiro. Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo16, na Fase de Tratamento de Dados o Método Cartesiano17, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva. Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as técnicas do Referente18, da Categoria19, do Conceito Operacional20 e da Pesquisa Bibliográfica. 16 "Pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral: este é o denominado método indutivo" (grifo no original). PASOLD, César Luiz. Praticada Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. Florianópolis: OAB/SC Editora. 6 ed. p. 87. 17 O método aludido pode ser resumido em quatro preceitos que são: 1. "(...) nunca aceitar, por verdadeira, cousa nenhuma que não conhecesse como evidente (...)" ; 2. "(...) dividir cada uma das dificuldades que examinasse em tantas parcelas quantas pudessem ser e fossem exigidas para melhor compreende-Ias"; 3. "(...) conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pêlos objeto mais simples e mais fáceis de serem conhecidos, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo certa ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros"; 4. "(...) fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais, que ficasse certo de nada omitir" (grifo no original). PASOLD, César Luiz. Praticada Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. p. 105-106. 18 REFERENTE é a explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa." PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 63. 19 Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia". PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 37 20 Conceito operacional (=cop) é urna definição para urna palavra e expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos" PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 51. CAPÍTULO 1 DO DIREITO DE PUNIR 1.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO DIREITO DE PUNIR Aproximadamente na metade do século XVIII, “a punição era vista de uma forma mais rígida onde a maneira da pessoa ser punida era com seu próprio sangue. Com o passar do tempo às pessoas começaram a repudiar esse modo de punição”.21 Para Foucault22, “é preciso punir de outro modo: eliminar essa confrontação física entre soberano e condenado; esse conflito frontal entre a vingança do príncipe e a cólera contida do povo, por intermédio do supliciado e do carrasco”. Foucault23, ainda comenta: Essa necessidade de um castigo sem suplício é formulada primeiro como um grito do coração ou da natureza indignada: no pior dos assassinos, uma coisa pelo menos deve ser respeitada quando punimos: sua ”humanidade”. Chegará o dia, no século XIX, em que esse “homem”, descoberto no criminoso, se tornará o alvo da intervenção penal, o objeto que ela pretende corrigir e transformar o domínio de uma série de ciências e de práticas estranhas – “penitenciárias”, “criminológicas. Portanto, refere-se à maneira em que esse homem respeitará a verdadeira forma limitada do seu direito. No que diz respeito à origem do direito de punir Beccaria24 explana que: 21 FOUCAULT, Michel, Vigiar e punir: nascimento da prisão; tradução de Raquel Ramalhete, 25 ed., Petrópolis: Vozes, 2002, p.63 22 FOUCAULT, Michel, Vigiar e punir: nascimento da prisão, p.63 23 FOUCAULT, Michel, Vigiar e punir: nascimento da prisão, p.63 - 64 As leis são as condições sob as quais homens independentes e isolados se uniram em sociedade, cansados de viver em um contínuo estado de guerra e de gozarem de uma liberdade inútil pela incerteza quanto à sua continuidade. Os homens sacrificaram parte dessa liberdade para poderem gozar o restante dela com segurança e tranqüilidade. Beccaria25, ainda refere-se sobre o direito de punir da seguinte forma: (...) a necessidade que obrigou os homens a cederem parte de sua própria liberdade: é certo, pois, que cada um só quer colocar no depósito público a mínima porção possível, tão-somente a que baste para introduzir os outros a defendê-lo. A soma dessas mínimas porções possíveis forma o direito de punir, tudo o mais é abuso e não justiça, é fato, mas não é direito. Desta forma inicia-se a fase de correção, onde os homens abrem mão da sua liberdade para cultivar uma vida mais segura. 1.2 CONCEITO DE CRIME 1.2.1 Termos e etimologia Jesus26 ensina sobre termos e etimologia no antigo Direito Romano e destaca: Noxa, no antigo Direito Romano, segundo Mommsen, era o termo designativo da conduta delitiva. Evoluiu para noxia, que significa “dano”. Este, porém, estava intimamente ligado aos conceitos de reparação e retribuição do mal causado, pelo que expressava mais a natureza dos efeitos do ato delitivo, que, propriamente, o significado da infração. 24 BECCARIA, Cesare, Dos delitos e das penas, tradução de José Roberto Malta, São Paulo: WVC, 2002, p.23 25 BECCARIA, Cesare, Dos delitos e das penas, p.25 26 JESUS, Damásio E., Direito penal – parte geral, p.149 1.2.2 Conceito formal Sob o aspecto formal, para Jesus27, “crime é um fato típico e antijurídico”. Falconi28 explana: (...), o objeto é a ofensa provocada pela conduta delituosa, comprometendo o direito público subjetivo do Estado. Ou seja: a inobservância do preceito penal força a presença do Estado para o fim de usufruir o jus puniendi de que dispõe. Mirabete29 no seu entendimento relata que: Essas definições, entretanto, alcançam apenas um dos aspectos do fenômeno criminal, o mais aparente, que é a contradição do fato a uma norma de direito, ou seja, sua ilegalidade como fato contrário à norma penal. Não penetram, contudo, em sua essência, em seu conteúdo, em sua “matéria. 1.2.3 Conceito Material Refere-se aquele crime que para sua consumação exige a produção de um fato, Falconi30 explana, “É precisamente sobre o qual recai a conseqüência do evento, que representa finalisticamente o resultado”. Na visão de Mirabete31conceitua: Tem o Estado a finalidade de obter o bem coletivo, mantendo a ordem, a harmonia e o equilíbrio social, qualquer que seja a finalidade do Estado (bem comum, bem do proletariado etc.) ou seu regime político (democracia, autoritarismo, socialismo etc.). Tem o Estado que velar pela paz interna, pela segurança e estabilidade coletivas diante dos conflitos inevitáveis entre os interesses dos indivíduos e entre os destes e os do poder constituído. 27 JESUS, Damásio E., Direito penal – parte geral, p.151 28 FALCONI, Romeu, Lineamentos de direito penal, 3º ed., ver., ampl. e atual, 2002, p. 151 29 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Manual de direito penal, p.81-82 30 FALCONI, Romeu, Lineamentos de Direito Penal, p.151 31 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Manual de direito penal, p.82 Jesus32 entende que, “(...) o conceito de crime material visa aos bens protegidos pela lei penal. Desta forma, nada mais é que a violação de um bem penalmente protegido.” Entende-se então, que o conceito material, “(...) precisamente sobre o qual recai a conseqüência do evento, que representa o resultado.”33 1.2.4 Conceito Analítico: Demonstra-se na maneira de assumir o risco e produzi-lo, desta forma, reprovando a conduta do agente. Para Mirabete34: (...) no conceito analítico de crime, a conduta abrange o dolo (querer ou assumir o risco de produzir o resultado) e a culpa em sentido estrito. Se a conduta é um dos componentes do fato típico, deve-se definir o crime como “fato típico e antijurídico”. O crime existe em si mesmo, por ser um fato típico e antijurídico, e a culpabilidade não contém o dolo ou a culpa em sentido estrito, mas significa apenas a reprovabilidade ou censurabilidade de conduta. O agente só será responsabilizado por ele se for culpado, ou seja, se houver culpabilidade. Diante disso destacam-se as formas de produção de risco sendo apenas responsabilizado se cometer ato ilícito. TIPICIDADE, ANTIJURIDICIDADE, CULPABILIDADE E PUNIBILIDADE. 1.2.5 Tipicidade No que tange a tipicidade enquadra na conduta do fato natural, concreto e descrito na lei, sendo o tipo elementos do crime contido na lei penal. 32 JESUS, Damásio E., Direito penal – parte geral, p.151 33 FALCONI, Romeu, Lineamentos de Direito Penal, p.151 34 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Manual de direito penal, p.84 Explana Capez35, “tipo legal que realiza e garante o princípio da reserva legal. Consiste na descrição abstrata da conduta humana feita pormenorizadamente pela lei penal e correspondente a um fato criminoso”. O autor36 acima enfatiza que os tipos são permissivos ou justificadores e incriminadores sendo o primeiro não descrevem fatos criminosos, mas hipóteses em que estes podem ser praticados. Já o segundo descrevem as condutas proibidas. Noronha37 ensina: (...) o tipo, exige o interesse individual, em todo regime de liberdade, que a ação humana se lhe ajuste. É o que se denomina tipicidade. Conseqüentemente, não existe crime sem tipicidade, isto é, sem que o fato se enquadre em um tipo, o que vale dizer que não há crime sem lei anterior que o define (...). Mirabete38 por sua vez entende: A tipicidade é o indício da antijuridicidade do fato. Praticado um fato típico, presume-se também sua antijuridicidade, presunção que somente cessa diante da existência de uma causa que a exclua. Assim, se A mata B voluntariamente, há um fato típico e, em princípio, antijurídico, mas, se o fez, por exemplo, em legítima defesa, não existirá antijuridicidade. Jesus39 “tipicidade, num conceito preliminar, é a correspondência entre o fato praticado pelo agente e a descrição de cada espécie de infração contida na lei penal incriminadora.” 1.2.6 Antijuridicidade A antijuridicidade refere-se, fato típico e antijurídico onde há contradição em seu ordenamento. Pois onde uma conduta delituosa pode ser fato típico, não será antijurídico se for manifestada em legítima defesa. 35 CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, 185-186. 36 CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, p.185-186 37 NORONHA, E. Magalhães, Direito Penal- introdução e parte geral, p.100 38 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Manual de direito penal, p.103 39 JESUS, Damásio E., Direito penal – parte geral, p.260 Falconi40 explica alguns exemplos de antijuridicidade: A negativa ao cumprimento de uma obrigação de fazer constitui, sem sombra de dúvida, uma conduta antijurídica, ilícita, portanto. Mas nem por isso se poderá falar em conduta punível penalmente relevante. De outra parte, o matar alguém é um fato-humano- juridicamente-relevante.. Ilícito, como o exemplo anterior, posto que ambos colidem de frente com a norma jurídica, mas é ao mesmo tempo, um tipo penal, visto estar catalogado entre as condutas humanas elencadas como ilícito penal. Noronha41 entende que, “A ação é antijurídica ou ilícita quando é contrária ao direito. A antijuridicidade exprime uma relação de oposição entre o fato e o direito”. Já para Jesus42: (...) a antijuridicidade é contrária ao Direito. Não é suficiente que o comportamento seja típico, que a conduta encontre correspondência num modelo legal, adequando-se o fato à norma penal incriminadora. É preciso que seja ilícito para que sobre ele incida a reprovação do ordenamento jurídico e que o agente tenha cometido com os requisitos da culpabilidade. 1.2.6.1 Terminologia Jesus43 (...) antijuridicidade é uma característica da ação, e mais exatamente, a relação que expressa um desequilíbrio entre a ação e o ordenamento jurídico, enquanto o injusto é a ação antijurídica como conjunto (...)”. 1.2.7 Culpabilidade A culpabilidade refere-se ao fato praticado de má-fé, ocasionado por um dano ou uma lesão. 40 FALCONI, Romeu, Lineamentos de direito penal, p. 153 41 NORONHA, E. Magalhães, Direito Penal- introdução e parte geral,p.100-101 42 JESUS, Damásio E., Direito penal – parte geral, p.355-356 43 JESUS, Damásio E., Direito penal – parte geral, p.357 Manifesta-se pelo crime praticado por alguém como relata Capez44, “afere-se apenas se o agente deve ou não responder, pelo crime praticado.” No entendimento de Barros45, “Culpabilidade é o juízo de censura que recai sobre a formação e a manifestação da vontade do agente, com o objetivo de imposição da pena.” O mesmo autor46 acima demonstra em sua obra que: Nos primórdios da humanidade, vigorava o sistema da responsabilidade objetiva. A imposição da pena decorria da simples relação física entre o dano causado e o comportamento do agente, independente da existência de dolo, culpa ou imputabilidade da pessoa. Preocupava-se apenas com o aspecto exterior do fato criminoso, aplicando-se pena aos insanos ou imaturos mentais. Nesse entendimento Bonfim e Capez47, “para que haja culpabilidade, o pressuposto é a existência de consciência e vontade livre para o fato ilícito.” De acordo com o artigo 59 do Código Penal Interpretado de Mirabete48 Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, ao motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I – as penas aplicáveis dentre as cominadas; II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; 44 CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, p. 298 45 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de, Direito penal, parte geral, p.351 46 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de, Direito penal, parte geral, p.351 47 BONFIM, Edílson Mougenot, Direito penal: parte geral, São Paulo: Saraiva, 2004, p.527. 48 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Código penal interpretado, 5º ed., 2005, p.440 III – o regime inicial de cumprimentoda pena privativa de liberdade; IV – a substituição da pena privativa de liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. Os mesmos autores49 mencionam em sua obra que: Quanto mais censurável o fato e piores os indicativos subjetivos do autor, maior será a pena. Para tanto, será imprescindível uma análise do grau de culpabilidade com duplo enfoque: autor e fato. Assim é que, por exemplo, o art. 59, caput, do CP determina que, na dosagem da pena, sejam levados em conta o grau de culpa, a intensidade do dolo, a personalidade, a conduta social, os antecedentes e os motivos do crime, todos aspectos subjetivos relacionados ao autor, assim como as conseqüências do crime e o comportamento da vítima afetos à parte objetiva, isto é, à ação. 1.2.8 Punibilidade Jesus50 no seu entendimento diz que: “Quando o sujeito pratica um crime surge a relação jurídico- punitiva: de um lado, aparece o Estado com o jus puniendi; de outro, o réu, com a obrigação de não obstaculizar o direito de o Estado impor a sanção penal.” Conforme o artigo 107 do Código Penal51 onde menciona a extinção da punibilidade: Art. 107. Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; 49 BONFIM, Edílson Mougenot, Direito penal: parte geral, p.531-532 50 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Código penal interpretado, p.771 51 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Código penal interpretado, p.771 IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retração do agente, nos casos em que a lei a admite; VII – Revogado pela Lei 11.106, de 2005, VIII – Revogado pela Lei 11.106, de 2005, IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. Mirabete52 observa-se que: Não é a punibilidade elemento ou requisito do crime, mas sua conseqüência jurídica, devendo ser aplicada a sanção quando verificar que houve o crime e a conduta do agente foi culpável. Com a prática do crime, o direito de punir do estado, que era abstrato, torna-se concreto, surgindo a punibilidade, que é a possibilidade jurídica de impor a sanção. Barros53 entende que “a punibilidade surge com a prática do delito, antes mesmo da instauração do inquérito policial ou da ação penal.” O mesmo autor54: As causas de extinção da punibilidade podem atingir a pretensão punitiva ou a pretensão executória, conforme ocorra antes ou depois do trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Pretensão punitiva é o direito de punir o Estado (jus puniendi). Pretensão executória é o direito que o Estado tem de exigir que o criminoso cumpra a pena fixada na sentença. A citação supra mencionada é autoexplicativa, porém, frisa- se que a imposição de medida punitiva é o “remédio” jurídico ofertado pelo Estado para o agente que consuma ato ilícito tornando-se a sua imediata conseqüência. 52 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Manual de direito penal, p.399 53 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de, Direito penal, parte geral, p.581 54 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de, Direito penal, parte geral, p.583 1.3 CRIMES CONTRA A VIDA 1.3.1 Homicídio Denota-se a vida do ser humano sendo eliminada por outro homem, tornando-se essa a objetividade jurídica garantido assim um direito à vida, pois o homicídio é um dos crimes mais graves elencados no Código Penal Brasileiro. Conforme prescrito no artigo 121 do Código Penal55: Art.121. Matar alguém: Pena – reclusão, seis a vinte anos. § 1º. Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. § 2º. Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por motivo torpe; II – por motivo fútil; III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena – reclusão, de doze a trinta anos. 55 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Código penal interpretado, p.903 § 3º. Se o homicídio é culposo: Pena – detenção, de um a três anos. § 4º. No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. § 5º. Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Ressalta Costa Júnior56 que: A incriminação do homicídio faz parte da história da humanidade. Os práticos italianos distinguiam o homicídio qualificado ou deliberado (homicidium qualificatum ou deliberatum) do homicídio simples, que era punido de modo mais tênue. As legislações penais modernas reproduziram o ensinamento. O CP brasileiro prevê o homicídio simples, apenado com reclusão de seis a vinte anos, e o qualificado (agravado), onde a pena é maior (doze a trinta anos). Teles57 ao conceituar homicídio leciona: Homicídio é a destruição da vida humana extra-uterina, por outro homem. (...) A vida humana tem começo e fim. Só há homicídio após o nascimento com vida e antes da morte. Necessário, portanto, determinar esses dois momentos que delimitam o período de existência da vida humana, protegida no art. 121 do Código Penal (...). 56 COSTA JÚNIOR, Paulo José da, Direito penal: curso completo, 6 ed. rev., São Paulo: Saraiva, 1999, p.253. 57 TELES, Ney Moura, Direito penal: parte especial: arts. 121 a 212, p.46 1.3.1.1 Homicídio doloso Estabelece o artigo 18 do Código Penal58 que o crime doloso, é aquele que pressupôs a vontade de agir conseqüentemente neste sentido destaca-se: Art. 18. Diz – se o crime: I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; O dolo trata-se da vontade de realizar as peculiaridades do tipo, onde o agente tenha certeza da conseqüência do dano causado podendo de fato resultar a morte da vítima. Teles59: (...) haverá homicídio doloso quando o sujeito ativo realizar uma conduta com consciência e vontade de produzir o evento morte do sujeito passivo – dolo direto ou determinado -, quando, consciente de que sua conduta é capaz de produzir a morte, mesmo sem a desejar, o agente não se importar com sua produção, isto é, aceitá-la, se ela acontecer – dolo eventual. 1.3.1.2 Homicídio culposo No que diz respeito ao homicídio culposo, Costa Jr.60 menciona “(...) o evento ainda que previsto, não é desejado pelo agente, verificando-se em razão de negligência, imprudência ou imperícia”. Capez61 menciona, “(...), há uma ação voluntária dirigida a uma finalidade lícita, mas, pela quebra do dever de cuidado a todos exigidos, sobrevém um resultado ilícito não querido, cujo risco nem sequer foi assumido”. 58 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Código penal interpretado, p.194 59 TELES, Ney Moura, Direito penal: parte especial: arts. 121 a 212, p.50 60 COSTA JÚNIOR, Paulo José da, Direito penal: curso completo, p.259 61 CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, parte especial, p.641.3.2 Tentativa de homicídio Salienta-se a respeito de tentativa de homicídio a forma em que o agente inicia a execução do crime, mas acaba não ocorrendo por pretensão alheia. Mirabete62 explana que, “a tentativa é a realização incompleta do tipo penal, pois o agente pratica atos de execução, mas não ocorre a consumação pro circunstâncias alheias à vontade do agente.” Conforme o artigo 14, II do Código Penal Interpretado63: Art. 14, II.- Tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. De acordo com Barros64: Tentativa é a execução iniciada de um crime, que não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente (CP, art. 14, II). É um crime imperfeito, porquanto a figura típica não se realiza em sua plenitude, contrapondo-se, assim, ao crime consumado (perfeito). Teles65 em sua obra relata: Para haver tentativa, é indispensável que o agente realize algum ato executório. Haverá início de execução quando o comportamento do agente começa a realizar o tipo. Apontar a arma de fogo na direção da vítima pode já constituir o primeiro ato de execução. Assim também quando aponta e dispara a arma, inicia o desferimento do golpe de faca, dissolve o veneno no copo que contém água, e o entrega à vítima, quando a empurra no precipício ou no rio onde quer que ela se afogue, enlaça seu pescoço visando estrangulá-la ou a conduz para o ambiente fechado onde pretende que ela morra confinada. 62 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Código penal interpretado, p.161 63 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Código penal interpretado, p.159 64 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de, Direito penal, parte geral, p.267 65 TELES, Ney Moura, Direito penal: parte especial: arts. 121 a 212, p.87 Denota-se no caso de homicídio doloso comissivo por omissão incide quando em algum momento garante o que tem a obrigação de agir para evitar o resultado, mas, tendo a capacidade de agir omite-se, desejando que o resultado se consume, caso não almeja aceita se eventualmente acontecer. Teles66 explica neste tipo de caso o exemplo descrito em sua obra: Antonio, pai de José, de onze anos de idade, à beira da piscina de sua residência, vê seu filho, que não sabe nadar, afogando-se. Ao perceber a situação, decide omitir-se porque, se seu filho morrer, será seu único e legítimo herdeiro, acrescendo ao próprio patrimônio, com a sucessão causa mortis, todos os bens que o infante adquirira por sucessão de sua mãe, recentemente também falecida. Omite-se, portanto, inequivocamente com dolo de matar. Está, assim, na iminência de consumação um homicídio doloso, comissivo por omissão, pois, exímio nadador, em seu perfeito juízo, com plena consciência e vontade, decide ficar inerte. No exato momento em que José está quase se afogando, chegando a engolir água, Edson chega no local e atira-se, incontinenti, na piscina e retira-o da piscina, impedindo seu afogamento e sua morte. Na visão de Capez67, “Para a tentativa, é necessário que o crime saia de sua fase preparatória e comece a ser executado, pois somente quando se inicia a execução é que haverá início de fato típico.” O mesmo autor68 menciona quatro etapas do crime: cogitação, preparação, execução e consumação. Dessa distinção entre as várias etapas do crime resulta que o conceito de tentativa não se estende aos atos preparatórios. O crime tentado exige o começo da execução. É que não se pode dizer que há crime quando nem sequer há perigo de dano ao bem jurídico penalmente protegido. 66 TELES, Ney Moura, Direito penal: parte especial: arts. 121 a 212, p.88 67 CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, parte especial, p.18 68 CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, parte especial, p.18 A punibilidade da tentativa no Brasil foi aplicada como regra, a teoria objetiva, dispondo no parágrafo único do art. 14 que “salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.”69 Barros70 diz, “o Código adota a teoria subjetiva, que é admitida na expressão “salvo disposição em contrário”. Isso ocorre naqueles delitos em que a pena da tentativa é a mesma do crime consumado.” 1.4 EXCLUDENTES DE ILICITUDE 1.4.1 Legítima defesa Relata neste princípio um breve histórico sobre a origem da onde o sentimento de legítima defesa não predominava, mas sim o direito de vingança. Para Bonfim e Capez71: Nos povos primitivos não havia consciência do direito de defesa, mas sim o sentimento de vingança e o instinto de conservação e reprodução: o homem agia irracionalmente perante o perigo, sem qualquer noção de responsabilidade, fazendo-o irreflexivamente, por impulso, com fúria irracional. Já Barros72 esclarece que o Estado era a proteção de um direito, caso não agisse em certo momento o titular tomaria suas precauções por si próprio. A legítima defesa é a causa de justificação mais antiga, existindo desde as legislações penais mais remotas. Fundamenta-se no instinto de conservação dos bens jurídicos, colaborando com o Estado na luta pela afirmação do direito. Se o Estado, diante da urgência da situação, não pode socorrer o direito agredido, cumpre ao titular deste reagir.” 69 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de, Direito penal, parte geral, p.270 70 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de, Direito penal, parte geral, p.271 71 BONFIM, Edílson Mougenot, Direito penal: parte geral, p.487 72 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de, Direito penal, parte geral, p.326 Do ponto de vista de Mirabete73: As teorias subjetivas, que a consideram como causa excludente da culpabilidade, fundam-se na perturbação de ânimo da pessoa agredida ou nos motivos determinantes do agente, que conferem licitude ao ato de quem se defende etc. As teorias objetivas, que consideram a legítima defesa como causa excludente da antijuridicidade, fundamentam-se na existência de um direito primário do homem de defender-se, na retomada pelo homem da faculdade de defesa que cedeu ao Estado (...) O art. 25 do Código Penal de Mirabete74 dispõe na sua legislação: Art.25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. No entanto Capez75 entende que: Deve-se, no entanto, estar atento para o requisito da moderação, pois não pode invocar legítima defesa aquele que mata ou agride fisicamente quem apenas lhe provocou com palavras. Quanto ao provocador, em regra, também não pode invocar legítima defesa, já que esta não ampara nem protege quem dá causa aos acontecimentos. Admitir-se-á, no entanto, a excludente contra o excesso por parte daquele que foi provocado. Neste caso acima mencionado chama-se de provocação do agente. O mesmo autor76 menciona, “Legítima defesa e tentativa: é perfeitamente possível, pois, se é cabível com os crimes consumados, incompatibilidade alguma haverá com os tentados.” 73 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Manual de direito penal, p.177 74 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Código penal interpretado, p.241 75 CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, p. 281 76 CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, p. 289 1.4.2 Estrito cumprimento do dever legal Não se menciona crime referente ao estrito cumprimento do dever legal, pois a pessoa está cumprindo com o seu dever, ou seja, torna-se ilícito a prática penal. Capez77 fundamenta, “Quem cumpre um dever legal dentro dos limites impostos pela lei obviamente não pode estar praticando ao mesmo tempo um ilícito penal, a não ser que aja fora daqueles limites.” Barros78 “No estrito cumprimento do dever legal não há apenas a faculdade, mas a obrigação de agir, diferindo, nesse passo, da excludente do exercício regular do direito.” CostaJr.79 cita o exemplo que: O soldado que mata na guerra, o carrasco que executa o condenado, o policial que entra no domicílio para empreender uma busca acham-se acobertados pela excludente de criminalidade em exame. A expressão dever legal restringe a abrangência da norma aos deveres impostos pela lei, excluindo-se aqueles deveres de natureza moral, como os resultantes de normas consuetudinárias ou religiosas. De acordo com artigo. 23 do Código Penal80: Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Para Bonfim81: 77 CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, p. 290 78 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de, Direito penal, parte geral, p.342 79 COSTA JÚNIOR, Paulo José da, Direito penal: curso completo, p.108 80 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Código penal interpretado, p.224 Essa excludente, como as demais, também exige o elemento subjetivo, ou seja, o sujeito deve ter conhecimento de que está praticando um fato em face de um dever imposto pela lei; do contrário, estaremos diante de um ilícito. 1.4.3 Estado de Necessidade Trata-se da necessidade de precaução de um bem jurídico, independente do seu valor. Conforme o artigo 24 do Código Penal82: Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. Mirabete83 na sua obra refere-se que: Para alguns doutrinadores o estado de necessidade configura uma faculdade e não um direito, pois a todo direito corresponde uma obrigação, e que não ocorre com relação àquele que tem lesado seu bem jurídico por um caso fortuito. No entendimento de Mirabete84, “o estado de necessidade pressupõe um conflito entre titulares de interesses lícitos, legítimos, em que um pode perecer licitamente para que outro sobreviva.” Capez85conceitua estado de necessidade como: Causa de exclusão de ilicitude da conduta de quem, não tendo o dever legal de enfrentar uma situação de perigo, a qual não provocou por sua vontade, sacrifica um bem jurídico ameaçado por esse perigo para salvar outro, próprio ou alheio, cuja perda não era razoável exigir. 81 BONFIM, Edílson Mougenot, Direito penal: parte geral, p.502 82 MIRABETE,Júlio Fabbrini, Código penal interpretado, p.232 83 MIRABETE, Júlio Fabbrini, Manual de direito penal, p.171 84 MIRABETE, Júlio Fabbrini, Manual de direito penal, p.171 85 CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, p. 273 O mesmo autor86 esclarece a diferenciadora ou da diferenciação: (...) deve ser feita uma ponderação entre os valores dos bens e deveres em conflito, de maneira que o estado de necessidade será considerado causa de exclusão da ilicitude somente quando o bem sacrificado for reputado de menor valor. Funda-se, portanto, em um critério objetivo: a diferença de valor entre os interesses em conflito. (...) Somente será causa de exclusão da ilicitude, portanto, quando o bem salvo for de maior valor Barros87esclarece sobre os requisitos do estado de necessidade: Os requisitos da situação de necessidade são: perigo atual; ameaça a direito próprio ou alheio; perigo não provocado voluntariamente pelo agente; inexistência do dever legal de enfrentar o perigo. Presentes esses requisitos, o agente pode realizar o fato necessitado, desde que: a) haja impossibilidade de evitar por outro modo o perigo; b) haja proporção entre o fato e o perigo. O mesmo autor88 define as espécies em “próprio: invocado para preservar bem jurídico pertencente ao autor do fato necessitado. De terceiro: é o invocado para preservar bem jurídico (...)” Bonfim89, menciona sobre diminuição de pena: Se a destruição do bem jurídico não era razoável, falta um dos requisitos do estado de necessidade, e a ilicitude não é excluída. Embora afastada a excludente, em face da desproporção entre o que foi salvo e o que foi sacrificado, a lei permite que a pena seja diminuída de 1/3 a 2/3. Assim, ante a falta de razoabilidade, não se excluem a ilicitude e muito menos a culpabilidade. 86 CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, p. 274 87 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de, Direito penal, parte geral, p.313 88 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de, Direito penal, parte geral, p.322 89 BONFIM, Edílson Mougenot, Direito penal: parte geral, p.484-485 1.4.4 Exercício regular de direito Bonfim90 “Causa de exclusão da ilicitude que consiste no exercício de prerrogativa conferida pelo ordenamento jurídico, caracterizado como fato típico.” Capez91 no seu entendimento esclarece: Qualquer pessoa pode exercitar um direito subjetivo ou uma faculdade previstos em lei (penal ou extrapenal). A Constituição Federal reza que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei. Barros92 explica o fato extrapenal no exercício regular de direito: Assim, o fato lícito ante o direito extrapenal jamais pode ser ilícito em face do direito penal. A recíproca, porém, não é verdadeira, porque onde há ilicitude penal sempre há ilicitude extrapenal. Cumpre não confundir, todavia, tipicidade com antijuridicidade. A tipicidade não induz necessariamente à antijuridicidade penal. E na análise da antijuridicidade penal não se podem desconsiderar as normas extrapenais. Portanto para Falconi93 o exercício regular do direito refere- se: O policial, em tarefa preventiva, que é obrigado a sacar a arma e disparar para evitar que a turba toma conta de um recinto protegido. Não excendendo os limites do necessário e, estando ali para o fim de policiar, estará agindo em estrito cumprimento de dever legal. Na verdade, ambas as hipóteses quase sempre se mesclam, confundindo as pessoas, com qual delas trabalhar no direito positivo, diante do fato real. 90 BONFIM, Edílson Mougenot, Direito penal: parte geral, p.502 91 CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, p. 291 92 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de, Direito penal, parte geral, p.338 93 FALCONI, Romeu, Lineamentos de direito penal, p. 219-220 Finaliza o capítulo primeiro onde demonstrou a origem da punição fazendo uma abordagem dos crimes contra a vida. A seguir, será estudada a evolução da família até o momento da sua sucessão. CAPÍTULO 2 FAMÍLIA E SUCESSÕES 2.1. ORIGEM E EVOLUÇÃO DA FAMÍLIA A família vem a ser o a escola da aprendizagem para o relacionamento social, buscando em cada geração a transformação do ser humano perante a sociedade. Engels94 explana sobre a origem da família que: (...) é o elemento ativo; nunca permanece estacionária, mas passa de uma forma inferior a uma forma superior, à medida que a sociedade evolui de um grau mais baixo para um grau mais elevado. Os sistemas de parentesco, pelo contrário, são passivos; só depois de longos intervalos, registram os progressos feitos pela família, e não sofrem uma modificação radical senão quando a família já se modificou radicalmente. Sobre o tema Engels95 destaca que: “A concepção tradicional conhece apenas a monogamia, ao lado da poligamia de um homem e talvez da poliandria de uma mulher, silenciando - como convém ao filisteu moralizante.” Continua suas considerações afirmando que: “O matrimônio por grupos, a forma de casamento em que grupos inteiros de homens e grupos inteiros de mulheres pertencem-se mutuamente, deixando bem pouca margem para os ciúmes.96” 94 ENGELS, Friedrich, A origem da família, da propriedade privada e do Estado, 17ed., Rio deJaneiro: Bertrand Brasil, 2005, p.30 95 ENGELS, Friedrich, A origem da família, da propriedade privada e do Estado, p.31 96 ENGELS, Friedrich, A origem da família, da propriedade privada e do Estado, p.36 No dizer de Bonatto97: A evolução da família está associada a um novo discurso sobre sexualidade, cuja base foi formada pela Psicanálise na virada do século passado. A partir da consideração de que a sexualidade é da ordem do desejo, muito mais do que a genitalidade, como sempre foi tratada pelo Direito, o pensamento contemporâneo ampliou seu entendimento e compreensão sobre as formas de manifestações de afeto, do carinho e as várias formas de constituir uma família. Com o breve histórica referente à origem da família passamos a explanação do seu conceito na atualidade. 2.2 CONCEITO DE FAMÍLIA NA ATUALIDADE A família atual como sempre continua ser o alicerce de tudo, os laços maternos sempre tiveram presentes. Mas não basta apenas o convívio familiar, pois hoje a família se estrutura na forma de afetividade e não mais pelos laços matrimoniais. Na visão de Dias98: Há, sim, uma imortalização na idéia de família. Mudam os costumes, mudam, os homens, muda a história; só parece não mudar esta verdade: a atávica necessidade de cada um de nós sente de saber que, em algum lugar, encontra-se o seu porto e o seu refúgio, vale dizer, o seio de sua família, este lócus que se renova sempre como ponto de referência central do indivíduo na sociedade; uma espécie de aspiração à solidariedade e à segurança que dificilmente pode ser substituída por qualquer outra forma de convivência social. Na idéia de família, o que mais importa – a cada um de seus membros, e a todos a um só tempo – é exatamente pertencer ao seu âmago, é estar naquele idealizado lugar onde é possível integrar sentimentos, esperanças e valores, permitindo, a cada um, se sentir a caminho da realização de seu projeto pessoal de felicidade. 97 BONATTO, Maura de Fátima, Direito de família e sucessões, 1°ed., 2004, p.69 98 DIAS, Maria Berenice, Direito de família e o novo Código Civil, 3° ed. rev. atual., Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p.7 Neste contexto, pode-se dizer que as pessoas com o passar do tempo vão mudando a maneira de pensar e agir, buscando de outras formas os seus conceitos referentes à família. Beviláqua, citado por Diniz99 da o seu conceito de família: O complexo de normas que regulam a celebração do casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, as relações entre pais e filhos, o vínculo do parentesco e os institutos complementares da tutela, curatela e da ausência. A esse respeito, Bonatto100 esclarece: “o Direito de Família na atualidade é compreender as relações familiares, as dificuldades de sua aplicação, perante a atual política legislativa sobre a família e o entravado Poder judiciário.” O ordenamento jurídico busca organizar as relações familiares de afeição e os efeitos patrimoniais que ocasionam, buscando assegurar as suas obrigações e direitos. Bonatto101 cita outro conceito de família: É um grupo de pessoas composto de pais e filhos, apresentando uma certa unidade de relações jurídicas, tendo uma comunidade de nome, domicílio e nacionalidade, fortemente unidade pela identidade de interesses e fins morais e materiais, monogamicamente organizado sob a autoridade de um chefe. A família tem como objeto a si próprio, pois com o passar dos anos o desenvolvimento da família muda a cada geração. Diniz102 da ênfase a vários sentidos para o termo família: a) Amplíssima: Abrange todos os indivíduos ligados pelo vínculo consangüinidade e afinidade, incluindo estranhos. b) Lata: 99 DINIZ, Maria Helena, Curso de direito civil brasileiro – Direito de Família, p.3 100 BONATTO, Maura de Fátima, Direito de família e sucessões, p.68 101 BONATTO, Maura de Fátima, Direito de família e sucessões, p.22 102 DINIZ, Maria Helena, Curso de direito civil brasileiro – Direito de Família, p.12-13 Restringe-se aos cônjuges e seus filhos, parentes da linha reta ou colateral, a fins ou naturais. c) Restrita: compreende, unicamente, os cônjuges e a prole. A mesma autora103 relata que: Reforça ainda no mesmo sentido a idéia da natureza de direito de família, “por ser um direito extra patrimonial, portanto personalíssimo, é irrenunciável, intransmissível, não admitindo condição ou termo ou o seu exercício por meio de procurador. De acordo com a explanação referente à família na atualidade, entende-se que conforme o tempo passa o grupo familiar fica mais restrito apenas aos mais próximo, ou seja, ao protetor e seus descendentes. 2.3 A FAMÍLIA NO DIREITO BRASILEIRO No que diz respeito à família no Brasil, menciona-se ao aconchego familiar e a união. Para Monteiro104 trata da seguinte maneira acerca do tema: (...) a crescente intervenção do Estado nas relações entre pais e filhos, estes a merecerem apoio integral, inclusive transferência forçada para lar substitutivo, retrata novas alterações na família, a evidenciarem que a formação da criança é função do Estado, e interesse da sociedade e da família, autorizando sua interferência para subtrair o menor de influências nefastas que possa sofrer junto aos familiares. O surgimento da família, pois muito tempo esteve vinculado ao casamento, contudo a partir do artigo 226, da Constituição da República Federativa do Brasil de 2002105 destaca: 103 DINIZ, Maria Helena, Curso de direito civil brasileiro – Direito de Família, p.20 104 MONTEIRO, Washington de Barros, Curso de direito civil – Direito de família, 34° ed., São Paulo: Saraiva, 1997, p. 10 105 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, 31.ed, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 140 Art. 226 – A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. Os laços matrimoniais recebiam proteção do estado, assim acontece na União Estável e nas famílias formadas por um dos pais e seus descendentes. A família é o local de refúgio, onde cada fase da vida é dedicada exclusivamente para a formação estrutural do crescimento do ser humano, é o lugar da aprendizagem. 2.4 CONCEITO DE SUCESSÕES No que diz respeito ao direito das sucessões, trata-se da transferência do patrimônio ao herdeiro após a sua morte. No entendimento de Diniz106: O direito das sucessões vem a ser o conjunto de normas que disciplinam a transferência do patrimônio de alguém, depois de sua morte, ao herdeiro, em virtude de lei ou de testamento. Consiste, portanto, no complexo de disposições jurídicas que regem a transmissão de bens ou valores e dívidas do falecido, ou seja, a transmissão do ativo e do passivo do de cujus ao herdeiro. Salienta Viana107, “O vocábulo sucessão conhece um sentido amplo, significando a substituição do sujeito de uma relação jurídica, é o ato pelo qual uma pessoa toma lugar de outra.” Portanto, verifica-se que é uma forma de aquisição da propriedade onde se sucede a obrigação passando aos seus sucessores todas as relações jurídicas. 106 DINIZ, Maria Helena, Curso de direito civil brasileiro- Direito das Sucessões, p.3. 107 VIANA, Marco Aurélio S., Curso de direito civil- Direito das Sucessões, p.21. O direito das sucessões destaca-se a substituição após a morte, no que diz Viana108 entende-se que: No campo do Direito das Sucessões, designa a transmissão do patrimônio por efeito de morte. Expressa, sob uma visão subjetiva, o direito de uma pessoa receber os bens de outra que morreu, o direito de suceder; sob uma ótica objetiva, é a universalidade dos bens que o defunto deixou. No direito romano encontramos definição no sentido de a sucessão se dar na universalidade dosdireitos que possuía o de cujus. (Digesto, 50,17, frag. De Julianus). Gomes109 observa que: “A modificação pode ser subjetiva ou objetiva. A mudança do sujeito na posição ativa ou passiva da relação toma o nome técnico de sucessão. O sucessor assume o lugar do autor da sucessão. Há, em suma, transmissão voluntária ou coativa. Nem sempre é possível, quer no lado ativo, quer no passivo. Nos casos permitidos , ocorre inter vivos e mortis causa.” Explica Gomes110 “A sucessão é um dos modos de aquisição da propriedade. Créditos e obrigações passam aos sucessores causa mortis. O testamento é negócio jurídico. A sucessão legítima descansa no Direito de Família, e assim por diante.” A sucessão refere-se à conservação da relação jurídica que interrompeu para uma pessoa onde outra da continuidade. Monteiro111 nos diz que: Mas a palavra sucessão designa também, do ponto de vista objetivo, a própria universalidade, o próprio acervo transmitido pelo finado. Por outro lado, freqüentemente, emprega-se ainda, como sinônimo, tanto numa como noutra acepção, o vocábulo herança. 108 VIANA, Marco Aurélio S., Curso de Direito Civil – Direito das Sucessões, p. 21 109 GOMES, Orlando, Sucessões, p.5 110 GOMES, Orlando, Sucessões, p.1 111 MONTEIRO, Washington de Barros, Curso de direito civil direito das sucessões, 32 ed., São Paulo: Saraiva, 1998, p.2. O assunto acima destacado é necessário para o entendimento da palavra sucessão. 2.4.1 Acepção da palavra Sucessão Refere-se à pessoa que assume o lugar de outra. Operando na transmissão e obrigação de direitos inter vivos, mas também na transferência de bens do de cujus, nas normas da lei ou testamento. Monteiro112 diz: (...) significa o ato pelo qual uma pessoa toma lugar de outra, investindo-se, a qualquer título, no todo ou em parte, nos direitos que lhe competiam. Nesse sentindo se diz, por exemplo, que o comprador sucede ao vendedor no que concerne à propriedade da coisa vendida. De forma idêntica, ao cedente sucede o cessionário, o mesmo acontecendo em todos os modos derivados de adquirir o domínio ou o direito. Neste aspecto, aduz Viana113: “(...) sob uma visão subjetiva, o direito de uma ótica objetiva, é a universalidade dos bens que o defunto deixou.” 2.5 EVOLUÇÃO HISTÓRICA Para dar seguimento jurídico decorrente da morte natural, volta-se à família patriarcal, focalizando o costume político do patriarca, onde administra seus bens e mantendo a cultura do seu povo. Com a sua morte provoca a substituição de outro componente da família para dar seguimento e assumir o comando. Desta forma Viana114 explana: No direito romano, a sucessão universal por morte era uma categoria especial das sucessões hereditárias. Dependia da 112 MONTEIRO, Washington de Barros, Curso de direito civil, p.1 113 VIANA, Marco Aurélio S., Curso de direito civil- Direito das Sucessões, p.21 114 VIANA, Marco Aurélio S., Curso de direito civil- Direito das Sucessões, p.23 aquisição precedente de um estado ou de um título pessoal, que é o título de herdeiro. A herança servia como meio de transmissão da soberania, em lugar de ser transferido o patrimônio. A morte do pater famílias não levava ao fracionamento em outros grupos familiares, mantendo-se a unidade, e o herdeiro era o sucessor da potestad soberana. Adquiri-se uma verdadeira autoridade. A universitas júris passava ao titular, que tomava o lugar do defunto (loco defuncti). Ressalta-se que os povos só tinham conhecimento da sucessão legítima, onde admitia a testamentária, que predominava sobre a legítima, ocorria se não existisse testamento, ou fosse nulo, com o passar do tempo. Nesse sentido, Gomes115 “No Direito das XII Tábuas, o pater familias tinha absoluta liberdade de dispor dos seus bens para depois da morte, mas, se falecesse sem testamento, a sucessão se devolvia (...)”. Fortalecendo a sucessão na figura paterna, é de se observar abundantes causas de deserdação algumas de despidas de qualquer importância econômica, tornado a absorção de opiniões, ao mesmo tempo justas e generosas. Monteiro116 descreve que: O direito moderno procura igualar e uniformizar a transmissão hereditária. Desapareceram assim, paulatinamente, as restrições feudais e os privilégios sucessórios. O direito das sucessões converte-se num só para todo o país. As causas de deserdação, fundadas exclusivamente em razões graves, tornam-se taxativas, sendo mesmo o instituto excluído de várias legislações. No direito antigo não havia nenhuma limitação, pois o grau parentesco mais distante também tinha o direito de suceder na ausência do mais chegado. 115 GOMES, Orlando, Sucessões, p.3 116 MONTEIRO, Washington de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil – Direito das Sucessões, p.3 A esse respeito Monteiro117 doutrina: O Código Civil Brasileiro, por sua vez, no art. 1.612, restringiu para o 6º grau a ordem de vocação hereditária, mas, atualmente, por força do estatuído no Decreto-lei nº 9.461, de 15 de julho de 1946, não vai além do 4º grau, na linha colateral ou transversal. Continuando nessa linha de raciocínio Monteiro118, analisa que, “O velho direito germânico desconhecia, porém, a sucessão testamentária. Nele predominava a concepção de que os herdeiros são feitos por Deus. Só os herdeiros pelo vínculo de sangue são verdadeiros e únicos herdeiros (...).” Já na fase contemporânea entende-se que o direito sucessório legítimo reflete entre aqueles considerados parentes e herdeiros pelo mesmo sangue caso não haja testamento ou não preponderar. Monteiro119 apregoa que: (...) se houver testamento, acatar-se-á a vontade do de cujus; mas, se tem este herdeiro necessário( art. 1.721), só poderá dispor da metade de seus bens (quota disponível), porque a outra metade (legítima), de direito pertence aos aludidos herdeiros. (...) O direito das sucessões procura assim tutelar a família. 2.6 SUCESSÃO EM GERAL Tratando-se de sucessão legítima e testamentária, a primeira resulta na forma da lei quando o falecido não deixa testamento atribuindo os seus bens as pessoas prescritas na legislação. Já na testamentária atribui-se na última vontade do de cujus perante vida. 117 MONTEIRO, Washington de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil – Direito das Sucessões, p.4 118 MONTEIRO, Washington de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil – Direito das Sucessões, p.4 119 MONTEIRO, Washington de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil – Direito das Sucessões, p.5 2.6.1 Sucessão legítima Ao se referir à sucessão legítima entende-se a maneira de indicar tem a obrigação de receber a herança. Para Oliveira120, “Diz-se legítima a sucessão decorrente de disposição da lei, em comando normativo a indicar quem deve receber a herança, numa ordem sucessória que atende a princípios de política legislativa.” Observa-se que Gomes121 menciona: A existência de testamento não exclui, portanto, a sucessão legítima, porquanto, ainda sendo válido e eficaz (...) quando ineficaz, por haver caducado, ou ter sido declarado nulo, aplicam- se, em substituição, as regras da sucessão ab intestato. Salienta-se que Monteiro122 “Se não há testamento, se o falecido não deixa qualquer ato de última vontade, a sucessão é legítima ou ab intestato, deferido todo o patrimônio do de cujus as pessoas expressamente indicadas pela lei (...)” Conforme o art. 1.829 do Código Civil Brasileiro123: Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor daherança não houver deixado bens particulares; II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III – ao cônjuge sobrevivente; 120 OLIVEIRA, Euclides, Direito de herança: a nova ordem de sucessão, p.53 121 GOMES, Orlando, Sucessões, p.39 122 MONTEIRO, Washington de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil – Direito das Sucessões, p.9 123 BRASIL, Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>, Acesso em 08 de setembro de 2006. IV – aos colaterais. Por fim, ressalta-se que nestes tipos de casos a sucessão é deferida aos herdeiros legítimos, conforme o artigo mencionado acima, não existindo os mesmos a herança passa a ser do Estado. 2.6.2 Sucessão testamentária A sucessão testamentária entende-se que é toda pessoa capaz, que expressa a sua última vontade no ato jurídico, passando para herdeiros, ou legatários, ou seja, para título universal ou particular. Ressalta Gomes124: Pela sucessão testamentária recebem os bens deixados tanto os herdeiros instituídos como os legatários nomeados, mas a possibilidade de instituí-los, ou nomeá-los, só existe se o interessado emprega os instrumento próprio que lhe oferece a lei, em caráter de exclusividade, para alcançar esse fim. O mesmo autor acima menciona que “A existência de testamento válido não exclui a sucessão legal. Havendo bens não compreendidos nas disposições de última vontade, aplicam-se à sua transmissão as regras da devolução aos sucessores legítimos.125” Consoante o art. 1.857 do Código Civil Brasileiro126: Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte. § 1° - A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento. 124 GOMES, Orlando, Sucessões, p.86 125 GOMES, Orlando, Sucessões, p.86 126 BRASIL, Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, Acesso em 08 de setembro de 2006 § 2° - São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador somente a elas se tenha limitado. Denota-se que a sucessão testamentária é uma forma de liberdade de testar, onde o autor da herança demonstra sua vontade, incluindo testamento, o codicilo, o pacto sucessório. Viana127 menciona que: No direito positivo pátrio encontramos apenas o testamento e o codicilo (...) ato unilateral de vontade (...) ele regula a distribuição de seus bens para após a morte.Os pactos sucessórios, que têm por objeto a herança de pessoa viva, não são admitidos no direito brasileiro (...). É nulo negócio jurídico que tenha por objeto a própria herança (...).A doação mortis causa (...) foi conhecida no direito anterior, recebida no direito romano. Tratava-se de uma doação cujos efeitos seriam produzidos após a morte do autor da liberalidade. Admite-se, (...) a doação propter nuptias e que se beneficie a prole de determinado casal. Trata-se, na espécie, de doação sem caráter de mortis causa. (...) O efeito posterior à morte do doador será mera coincidência, não interferindo com a natureza jurídica do ato. 2.6.3 Sucessão dos descendentes Cateb128 ensina que “(...), o homem sempre dedicou afeição maior a seus filhos, descendentes diretos mesmo sangue, mesma carne, imaginando, muitas vezes, se possível o filho seguir os passos do pai (...).” Para Oliveira129, “Os descendentes formam classe privilegiada, pois são os primeiros na ordem da vocação hereditária.” De acordo com art. 1.829, I Código Civil130: Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: 127 VIANA, Marco Aurélio S., Curso de direito civil- Direito das Sucessões, p.88 128 CATEB, Salomão de Araújo, Direito das sucessões, p. 88 129 OLIVEIRA, Euclides Benedito de, Direito de herança: a nova ordem de sucessão, p. 84 130 BRASIL, Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, Acesso em 08 de setembro de 2006. I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; Entende-se que para os descendentes, “(...) o grau mais próximo exclui o mais remoto e os filhos sucedem por cabeça, enquanto os outros descendentes, por cabeça ou por estirpe, (...)”.131 Wald132: “Atualmente, os descendentes do mesmo grau herdam em condições de igualdade. Trata-se de um princípio que passou a dominar o direito civil, a partir da Constituição de 1.988 (...).” Conforme art. 227, § 6º, da Constituição Federal133: Art. 227, § 6º. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Oliveira134 relata que: (...), os descendentes não podem ficar discriminados, por qualquer razão, seja pela natureza da filiação, seja pelo sexo ou progenitura. Nem pela circunstância de ser biológico ou civil o parentesco. Todos têm o mesmo e igual direito hereditários, sendo a paridade total e completa. Portanto, esclarece na próxima etapa a respeito dos herdeiros necessários. 131 CATEB, Salomão de Araújo, Direito das sucessões, p. 89 132 WALD, Arnoldo, Direito das sucessões, p.59 133 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, p. 142 134 OLIVEIRA, Euclides Benedito de, Direito de herança: a nova ordem de sucessão, p. 86 2.7 HERDEIROS NECESSÁRIOS Monteiro, citado por Gama135, os herdeiros necessários “(...), constituem categoria de sucessores obrigatórios ainda que contra a vontade da pessoa que veio a falecer .” Conforme art. 1.845 Código Civil136: Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge. Para Venosa137: Se o testador apenas aponta a deserdação do herdeiro necessário, sem instituir outros herdeiros, os demais herdeiros e legatários, (...) passam a ter legitimidade para excluir o deserdado. Se não houver qualquer parente sucessível, é inafastável que o Estado, tendo interesse na sucessão, colocado na ordem de vocação hereditária, poderá mover a ação. Se o interesse da exclusão por deserdação é apenas econômico, o testamenteiro só terá legitimidade para a ação se o possuir, o que se apurará no caso concreto. Conforme descreve o art. 1961 do Código Civil138: Art. 1961. Os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados, em todos os casos em que podem ser excluídos da sucessão. No entanto, Bittar Filho139 esclarece a respeito dos herdeiros necessários que: Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima, calculada sobre o valor dos bens existentes nas aberturas da sucessão, abatidas as 135 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da, Direito civil: sucessões, São Paulo: Atlas, 2003, p.151 136 BRASIL, Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, Acesso em 08 de setembro de 2006. 137 VENOSA, Sílvio Salvo, Direito civil: direito das sucessões, 6 ed., São Paulo: Atlas, 2006, p.291-292 138 BRASIL, Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, Acesso em 07 de abril de 2007. 139 BITTAR FILHO, Carlos Alberto, Direito de família e sucessões, São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p.124 dívidas e as despesas do funeral e adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação. Visa a legítima, destarte à proteção patrimonial integral dos herdeiros necessários. No caso de inclusão do cônjuge nos herdeiros necessários Gama140 explica ainda que, “(...), representa o prestígio legal às autênticas
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