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Gestão da Qualidade e Acreditação Hospitalar CRISTIANE DAMASCENO DE OLIVEIRA CHALITA 1ª Edição Brasília/DF - 2020 Autores Cristiane Damasceno de Oliveira Chalita Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 5 Introdução ............................................................................................................................................................................. 7 Capítulo 1 Qualidade: conceitos básicos e contexto histórico ........................................................................................... 9 1.1. Conceitos básicos da qualidade ..................................................................................................................... 10 1.2. A evolução da qualidade em quatro eras ................................................................................................... 12 1.3. A evolução da qualidade no Brasil ............................................................................................................... 20 Capítulo 2 Evolução da qualidade nos sistemas de saúde ................................................................................................24 2.1. Aspectos históricos da qualidade em saúde ............................................................................................ 25 2.2. Evolução da qualidade em saúde no Brasil .............................................................................................. 30 Capítulo 3 Acreditação hospitalar e a evolução dos processos de avaliação .............................................................34 3.1. Conceitos e importância dos processos de avaliação e acreditação hospitalar .......................... 35 3.2. Acreditação hospitalar no Brasil .................................................................................................................. 37 3.3. Principais desafios da qualidade em saúde no Brasil ............................................................................ 42 Capítulo 4 Principais órgão acreditadores e suas metodologias ....................................................................................45 4.1. Organização Nacional de Acreditação (ONA) ........................................................................................... 46 4.3. Joint Commission International – JCI ........................................................................................................... 50 4.4. Acreditação Nacional Integrada para Organizações de saúde (NIAHO) .......................................... 53 4.5. Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS) .............................................. 54 Capítulo 5 Indicadores como ferramenta de gestão da qualidade hospitalar ...........................................................56 5.1. Ferramentas da qualidade ............................................................................................................................... 57 5.2. Importância dos indicadores como ferramenta de gestão hospitalar ............................................. 60 5.3. Principais indicadores utilizados na gestão hospitalar ......................................................................... 62 4 Capítulo 6 A educação como estratégia para o sucesso da acreditação ......................................................................65 6.1. Educação permanente dos profissionais de saúde como estratégia para alcance da acreditação.................................................................................................................................................................... 65 Referências ..........................................................................................................................................................................69 5 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. 6 ORGANIzAçãO DO LIvRO DIDátICO Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Gotas de Conhecimento Partes pequenas de informações, concisas e claras. Na literatura há outras terminologias para esse termo, como: microlearning, pílulas de conhecimento, cápsulas de conhecimento etc. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 7 Introdução Olá a todos(as)! Sejam bem-vindos(as) à disciplina Gestão da Qualidade e acreditação hospitalar. Nesta disciplina, vamos refletir sobre a evolução e importância dessa área para a gestão hospitalar. O conceito de “qualidade” possui relação com três principais fatores: redução de custos, aumento de produtividade e satisfação do cliente, o que significa que a qualidade está atrelada a fazer melhor, com menor custo, entregando ao cliente produtos que correspondam às suas expectativas ou as superem. A qualidade em saúde é definida como o “grau em que os serviços de saúde, para os indivíduos e populações, aumentam a probabilidade de se atingirem os resultados de saúde desejáveis de acordo com o conhecimento profissional corrente” (USA Institute of Medicine, 2000). Neste livro, iremos entender como o setor de qualidade evoluiu nos serviços de saúde, conhecendo as metodologias mais importantes para o processos de acreditação hospitalar, que é um método de autoavaliação e auditoria externa por pares, para avaliarem com rigor o seu nível de desempenho em relação a padrões preestabelecidos, para, a partir disso, implementarem melhorias contínuas. Além disso, iremos entender a importância dos indicadores de saúde nos processos de qualidade e como a educação dos profissionais de saúde pode impactar no alcance desses resultados. Por meio da leitura do livro didático, você irá descobrir aspectos importantes das nossas discussões, e, desde já, propomos que aproveite bem o material disponibilizado, incluindo os textose o material audiovisual. Realize a leitura de cada capítulo antes da aula interativa correspondente e você perceberá que será bem produtivo! Sugerimos que você se organize para ler o material com calma, realizar as atividades e assistir aos vídeos dentro de prazo estabelecido. Em caso de dúvidas, você pode (e deve!) consultar o professor da disciplina. Aproveitem e bons estudos! 8 Objetivos » Apresentar os conceitos da qualidade em saúde e sua evolução no contexto histórico mundial e nacional. » Elucidar os processos da acreditação hospitalar e seus impactos na qualidade em saúde. » Descrever a importância dos indicadores de qualidade e da educação continuada para o alcance da excelência no cuidado. 9 Introdução do capítulo Neste capítulo, abordaremos os principais conceitos referentes à qualidade e o seu contexto histórico. Será possível o reconhecimento dos fatos e contextos que motivaram e impulsionaram a evolução da qualidade no mundo e no Brasil. Entre o século XVIII e XIX, a qualidade era entendida de uma maneira diferente da atual, já que a atividade produtiva era artesanal e em pequena escala. Com o desenvolvimento da industrialização e o advento da produção em massa, tornou-se necessário avaliar melhor o que estava sendo produzido. Esse movimento não foi diferente nas outras épocas e, assim como o desenvolvimento das indústrias e do mercado, a gestão da qualidade precisou evoluir para acompanhar as necessidades das empresas, dos clientes e da população. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » identificar os conceitos básicos relacionados à qualidade; e » conhecer como a qualidade evoluiu no mundo e no Brasil, dos seus primórdios até os dias atuais. Neste capítulo, abordaremos as seguintes questões: » 1.1. Conceitos básicos da qualidade » 1.2. A evolução da qualidade em quatro eras » 1.3. A evolução da qualidade no Brasil 1 CAPÍTULO QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO 10 CAPÍTULO 1 • QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO 1.1. Conceitos básicos da qualidade “Qualidade” é um termo bem conhecido por todos nós; na maioria das vezes, o associamos ao que consideramos bom. Se preguntarem a você se o produto que você comprou ou o serviço de restaurante a que você foi é de qualidade, você vai responder que sim apenas se considerá-lo bom, dentro dos seus padrões de avaliações, correto? Esta noção de qualidade não se afasta das noções que serão tratadas neste capítulo, e iniciaremos abordando seus conceitos básicos. Vamos começar? A origem da palavra “qualidade” procede do latim “qualitas” ou “qualitatem”, termo criado por Cícero quando traduzia Platão. A base é o pronome “qualis”, que significa “de que natureza”, referindo-se à propriedade ou condição natural das pessoas ou coisas pela qual se distinguem de outras, que constitui a sua essência e maneira de ser (VASCONCELLOS; LUCAS, 2012). O conceito de qualidade possui relação com três principais fatores: redução de custos, aumento de produtividade e satisfação do cliente (MELLO, 2011). Figura 1. Conceito de qualidade. Redução de custos Aumento de produtividade Satisfação do cliente Fonte: próprio autor, 2020. Esses fatores são permeados pela premissa do relacionamento ético entre todos os elementos envolvidos desde a fabricação, comercialização de um produto até mesmo a prestação de um serviço. Sendo assim, a qualidade total só é possível se for alcançada em todas as etapas do processo. O consumidor, ao adquirir um produto ou um serviço, avaliará a relação de custo e benefício (MELLO, 2011). Figura 2. Importância da qualidade. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/approval-check-vector-icon-772897276. 11 QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO • CAPÍTULO 1 Quando ele pensa em benefício, pensa no desempenho do produto e, para isso, avalia características como durabilidade, estética, rendimento, segurança, facilidade de uso, entre outras propriedades, que, para ele, agregam valor ao produto. Quando pensa em custo, não se refere ao custo de produção, mas sim ao preço que ele pagou. Uma das frases mais famosas de Deming para conceituar qualidade é “atender continuamente às necessidades e expectativas dos clientes a um preço que eles estejam dispostos a pagar” (DEMING, 1990, p. 125). Outros fatores importantes para a mensuração do custo-benefício são o meio ambiente e a sociedade. O consumidor começa, gradativamente, a se preocupar com os impactos ambientais e sociais da produção dos bens que costuma adquirir e, portanto, considera essas variáveis quando avalia o benefício do produto ou serviço adquirido (VASCONCELLOS; LUCAS, 2012). A importância que esses dois novos fatores têm atualmente não fazia parte da expectativa dos clientes há vinte anos, evidenciando que o conceito de qualidade não é restrito e atemporal: ele deve estar sintonizado com a evolução das exigências dos consumidores. Para criar uma cultura empresarial pautada em qualidade, o primeiro passo é definir o conceito de qualidade para a organização, ou seja, definir que atributos compõem as ações que irão elevar o padrão definido. Essas ações podem considerar as etapas desde as especificações para a produção do produto ou serviço até os valores e crenças da empresa. A partir da definição do conceito, a qualidade precisa ser planejada e definida como uma diretriz a ser seguida pelos colaboradores da empesa, diminuindo assim, o caráter intuitivo que eles possam possuir sobre o tema. Cabe, então, à alta administração e aos gestores da organização planejar a estratégia de qualidade ( VASCONCELLOS; LUCAS, 2012). Figura 3. Estratégias de qualidade. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/business-people-using-pentabletnotebook-planning- marketing-758269021. 12 CAPÍTULO 1 • QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO Segundo Deming (1990, p. 125): A qualidade só pode ser definida em termos de quem a avalia, na opinião do operário, ele produz qualidade se puder se orgulhar de seu trabalho, uma vez que baixa qualidade significa perda de negócios e talvez de seu emprego. Alta qualidade pensa ele, manterá a empresa no ramo. qualidade para o administrador de fábrica significa produzir a quantidade planejada e atender às especificações. Dessa forma, a gestão da qualidade diz respeito a todas as pessoas envolvidas no sistema de valores da organização. Contudo, a implantação de um modelo de gestão pela qualidade enfrenta barreiras na empresa, pois propõe novas relações entre os diversos atores do processo e prioriza o alcance da missão e objetivos estratégicos da organização, em detrimento de benefícios individuais ou locais (VASCONCELLOS; LUCAS, 2012). Gerir através da qualidade significa amadurecer a organização através de melhores práticas, de modo que passem a fazer parte dos valores intrínsecos de todos que ali trabalham ou utilizam os serviços. 1.2. A evolução da qualidade em quatro eras Como vimos, a questão da qualidade está presente na história da humanidade há muito tempo. E, agora, vamos entender e conhecer melhor como esses conceitos foram evoluindo até os dias de hoje. Iremos estudar a evolução da qualidade divididas em quatro grandes eras. Figura 4. Quatro eras na Evolução da qualidade. Era da inspeção (produto). Controle estatístico (processo). Garantia da qualidade (prevenção). Qualidade total (pessoas). Fonte: próprio autor, 2020. A era da inspeção – qualidade com foco no produto No final do século XVIII e início do século XIX, a qualidade era obtida de uma forma bem diferente da atual. A atividade produtiva era artesanal e em pequena escala, e os artesãos eram os responsáveis pela construção de qualquer produto e também pela sua qualidade final. 13 QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO • CAPÍTULO 1 Com o desenvolvimento da industrialização e o advento da produção em massa, tornou-senecessário avaliar melhor o que estava sendo produzido, criando um sistema baseado em inspeções, no qual um ou mais atributos de um produto eram examinados, medidos e testados, para garantir sua qualidade. No início do século XX, o engenheiro e executivo Frederick W. Taylor estabeleceu os princípios da administração científica, isto é, a aplicação de métodos científicos à administração das indústrias. Seus estudos apoiavam-se em três princípios (PEARSON, 2010): » determinar a melhor maneira de fazer uma tarefa; » proporcionar treinamento e ferramentas adequadas ao trabalhador; » remunerar com salários maiores os trabalhadores que cumprissem a expectativa de produção. Taylor, ao se juntar com G.S. Radford, trouxe visibilidade a avaliação da qualidade dos produtos durante a produção, através da publicação do livro The Control of Quality in Manufacturing, legitimando a função do inspetor. Esses trabalhadores (inspetores) passaram a ser os responsáveis pelo controle de qualidade, mas, neste momento, o foco ainda é o produto final, e não o processo produtivo. Dessa forma, o sistema criado por Taylor obteve resultados surpreendentes no que diz respeito ao aumento de produtividade e passou a ser o referencial de produção para muitas empresas norte-americanas, espalhando-se pelo mundo (VASCONCELLOS; LUCAS, 2012). Figura 5. Controle de qualidade. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/business-people-using-pentabletnotebook-planning- marketing-758269021. 14 CAPÍTULO 1 • QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO Taylor atribuiu a responsabilidade do planejamento a gerentes e engenheiros, deixando aos supervisores e aos operários a execução das tarefas. A consequência deste sistema foi a separação entre planejamento e produção, entendendo que os operários e os supervisores não estavam preparados para colaborar com o planejamento (BARCANTES, 2009). Até meados do século XX, era raro uma empresa apresentar em seu organograma um setor específico à qualidade. Isso era realizado por inspetores específicos, que estavam espalhados pelos diversos outros setores de produção. Apenas algumas grandes organizações exibiam departamentos de inspeção final e testes (BARCANTES, 2009). Com o tempo, esse sistema gerou alguns efeitos negativos devido à ênfase dada pela alta gerência à produtividade. Supervisores e operários priorizaram a produtividade e acabaram deixando a preocupação com a qualidade em segundo plano. Durante a Primeira Grande Guerra, com o aumento da atividade industrial, surgiu a figura do inspetor em tempo integral. Em 1922, a atividade de inspeção foi formalmente incorporada ao controle da qualidade sendo, pela primeira vez, a qualidade vista como responsabilidade gerencial e independente. Mas, ainda, a função do controle da qualidade permanecia limitada a inspeção (BARCANTES, 2009). A atividade dos inspetores se restringia a identificação e quantificação dos produtos defeituosos, que, muitas vezes, resultava em medidas punitivas. Os fabricantes removiam as peças defeituosas sem que fosse feito um estudo prévio sobre as causas. Os inspetores utilizavam gabaritos e modelos-padrão para determinar se uma peça estava ou não em conformidade. Eles examinavam todas as peças ou escolhiam algumas de modo aleatório. Caso fossem detectados defeitos, examinava-se toda a população de produtos (VASCONCELLOS; LUCAS, 2012). Esta abordagem prevaleceu por muitos anos, em que a qualidade era obtida por meio da inspeção, controle e separação dos produtos “bons” e “ruins”. Cabia apenas aos inspetores a tarefa de identificação e quantificação das peças defeituosas, que eram removidas e trocadas sem que se fizesse uma avaliação das causas reais do problema para prevenir sua repetição. O objetivo principal era obter qualidade igual e uniforme em todos os produtos (BARCANTES, 2009). A criação dos departamentos da qualidade inicialmente gerou dois problemas básicos: » A alta direção das empresas concluiu que qualidade era responsabilidade exclusiva do departamento da qualidade. » A alta direção se distanciou da função qualidade, delegando-a aos gerentes, ficando cada vez menos informada sobre o assunto. 15 QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO • CAPÍTULO 1 Dessa forma, quando havia uma situação de crise ou um problema grave, a alta direção não possuía os conhecimentos necessários para adotar as ações adequadas. Sem investigar as causas reais dos problemas ou não-conformidade, elas nunca eram removidas, o que tornava a solução, apenas, momentânea, por ser baixo o nível de aprendizado adquirido nesta prática (BARCANTES, 2009). A era do controle estatístico da qualidade – qualidade com foco no processo Quanto mais os sistemas de produção se mostravam eficazes do ponto de vista quantitativo, tornava-se mais complexa a inspeção de todos os produtos. Com o crescimento da produção, o modelo baseado na inspeção foi se tornando caro e ineficaz. Em 1931, Walter A. Shewhart, um físico norte-americano, forneceu um método preciso e mensurável para definição do controle do processo, estabelecendo princípios para monitorar e avaliar a produção. Assim, a avaliação da qualidade, a partir dessa época, passou a ter um foco maior nos processos de produção e não no produto, como na era da inspeção, apresentada anteriormente (BARCANTES, 2009). Esse método foi desenvolvido por Shewhart por intermédio da aplicação de conhecimentos estatísticos, em que ele desenvolveu uma poderosa técnica com a finalidade de solucionar problemas de controle da qualidade da empresa em que trabalhava, a Bell Telephone Laboratories. O gráfico de controle de processo, desenvolvido por Shewhart, é utilizado até hoje na indústria. A divulgação do método aconteceu através da publicação do livro Economic Control of Quality of Manufactured Product (BARCANTES, 2009). Figura 6. técnicas estatísticas. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-illustration-investment-statistical-concept- statistics-1536230666. 16 CAPÍTULO 1 • QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO Shewart, considerado o mestre de W. E. Deming, foi o primeiro a utilizar técnicas estatísticas para o controle dos processos de produção e a reconhecer a variabilidade como inerente aos processos industriais. A partir dessa nova visão de qualidade, se estrutura o estilo de gestão corretiva, isto é, percebe-se a importância de identificar as causas reais dos problemas para agir sobre elas. Matéria-prima, operador e equipamento são algumas das fontes de variabilidade (causas) que podem apresentar oscilações de desempenho e características e, portanto, afetar o produto (efeito). O conhecimento destas variações permite que – a partir da sua quantificação e do estabelecimento de limites estatísticos – seja possível manter o processo sob controle. Através dos gráficos de controle de processo, é possível identificar, minimizar e, algumas vezes, remover as causas especiais de variação, mantendo a qualidade (BARCANTES, 2009). A Segunda Guerra Mundial também exigiu que outras técnicas fossem desenvolvidas para combater a ineficiência e impraticabilidade apresentadas pela era da inspeção na produção em massa de armamentos e munições. Após esse período, o controle de processos já era bastante utilizado e substituía, gradativamente, a inspeção de produtos. Ao focá-la no processo, passa a ser englobado na avaliação todo o ciclo de produção e, dessa forma, a qualidade estava, naquele momento, completamente voltada para os processos fabris (VASCONCELLOS; LUCAS, 2012). Atenção Conceito de variabilidade de processos A variabilidade é a oscilação da média ou ponto ideal do processo e pode estar relacionada a causas comuns ou especiais. » As causas comuns estão associadas ao desenho, à estrutura e aos responsáveis pelo processo. Para eliminá-las ou minimizá-las, é necessário rever o projeto do processo. » As causas especiais são imprevisíveise esporádicas, causando grandes variações no processo. São difíceis de serem previstas, pois estão associadas a aspectos não controláveis do processo. Para diminuir a variabilidade nos processos, é necessária a contribuição de todos os envolvidos. Os gerentes talvez sejam os únicos que possam atuar nas oportunidades de melhoria, mas, para isso, precisam de dados e de uma equipe capacitada, comprometida e com consciência da importância da melhoria do processo. Fonte: https://blogdaqualidade.com.br/variabilidade-de-processos. Acesso em: 25 set. 2020. https://blogdaqualidade.com.br/variabilidade-de-processos 17 QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO • CAPÍTULO 1 Era da garantia da qualidade - qualidade com foco no sistema Normalmente, durante as grandes guerras, prioriza-se a produção de produtos destinados a uso militar e diminui-se a produção de bens de consumo. Dessa forma, no final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, os bens para a população civil eram muito escassos. Com a prioridade máxima das empresas no cumprimento dos prazos de entrega para garantir os produtos essenciais para a população, a qualidade dos produtos foi se deteriorando, um fenômeno que geralmente se repete em tempos de escassez. A falta de produtos atrai para o mercado novos competidores, cuja inexperiência contribui ainda mais para o declínio da qualidade. Posteriormente, porém, aumentam a concorrência e a competição, o que pode ajudar na melhoria da qualidade dos produtos para fidelização dos seus clientes. Nos anos seguintes, ocorreu um grande desenvolvimento tecnológico e industrial, sendo lançados, no mercado, novos materiais e novas fontes de energia, principalmente fornecida pelas centrais nucleares, com seus requisitos tecnológicos bastante exigentes. Todos estes fatores, associados ao aumento das pressões provocadas pela concorrência, provocaram profundas revisões dos conceitos adotados e grande reviravolta administrativa e econômica nos meios empresariais, bem como em toda a sociedade (BARCANTES, 2009). Enquanto a indústria norte americana, considerada a mais desenvolvida do mundo, havia focado todos os seus esforços, durante o período de guerra, na produção de artefatos de uso militar, o Japão seguia sua trajetória de excelência, desenvolvendo padrões e normas de qualidade (VASCONCELLOS; LUCAS, 2012). Nessa época, foi realizado um treinamento do empresariado nipônico sobre controle de qualidade, promovidos por Deming e Juran por meio da Japanese Union of Scientists and Engineers ( JUSE). O conceito de qualidade total começou a surgir nesse momento, criando sistemas de qualidade que não responsabilizavam um departamento específico, e sim enfatizavam a cooperação de todos os funcionários da empresa para uma produção de qualidade. As empresas começaram a calcular os custos da falta de qualidade e a vê-la como um problema que precisava ser enfrentado proativamente, pois não era suficiente apenas retirar de circulação o produto defeituoso, mas eliminar o defeito antes de sua ocorrência, deslocando os investimentos em qualidade para a prevenção (VASCONCELLOS; LUCAS, 2012). 18 CAPÍTULO 1 • QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO Em algumas décadas, o Japão reergueu-se completamente e sua indústria passou a concorrer no mercado mundial com produtos que apresentavam qualidade superior aos da indústria ocidental. Dessa forma, os produtos japoneses ganharam notoriedade no cenário econômico mundial, justamente pelas características inerentes à qualidade de seus produtos. Figura 7. Qualidade superior. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/3d-illustration-magnifying-glass-quality-1154883841. Juran e Deming foram considerados os “pais” da revolução da qualidade no Japão, onde lecionaram e dirigiram ações de formação e consultoria. Modestamente, atribuíram o mérito do milagre industrial nipônico ao elevado nível dos gestores de produção e especialistas em qualidade do país, mas os japoneses consideram Juran e Deming os grandes obreiros desse milagre (SILVA, 2006). Importante Conheça mais sobre Juran e Deming Dentre as contribuições de Juran para a qualidade, uma das mais importantes é conhecida como trilogia de Juran, na qual o gerenciamento da qualidade é realizado utilizando-se os três processos gerenciais: planejamento, controle e melhoria. Tudo começa com o planejamento da qualidade, cujo propósito é fornecer aos meios de produção a capacidade de fazer produtos que atendam às necessidades dos clientes. Uma vez terminado o planejamento, os planos são entregues às equipes de produção. Essas equipes são responsáveis pela produção, mas não têm como fazê-la sem que exista algum desperdício devido a deficiências apresentadas no processo de produção. Resta então às equipes de produção fazerem um controle de qualidade para evitar que as coisas se tornem piores. Na visão de Juran, o controle da qualidade deveria ser encarado como uma ferramenta de gestão, criando assim uma abertura para o estabelecimento e afirmação do controle da qualidade total como foi conhecido mais tarde. O terceiro e último processo da trilogia é o aperfeiçoamento da qualidade, que visa reduzir a um nível mínimo o desperdício. Juran percebeu que o desperdício também era uma oportunidade para o aperfeiçoamento. 19 QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO • CAPÍTULO 1 Era da gestão da qualidade total (tQM) - qualidade com foco no negócio Esta era iniciou-se, no Ocidente, a partir dos esforços de recuperação de mercado das grandes empresas americanas, em meio à invasão de produtos japoneses de alta qualidade no final da década de 1970, como vimos na descrição da era da garantia da qualidade. Nesse contexto, a era da gestão da qualidade total é uma evolução natural das três eras que a precederam e está em curso até hoje. Ela engloba a garantia da qualidade, o controle estatístico da qualidade e a inspeção; porém, seu enfoque valoriza prioritariamente os clientes e a sua satisfação como fator de preservação e ampliação da participação no mercado (BARCANTES, 2009). Desse modo, a qualidade passou a ser vista não apenas como um mecanismo de prevenir defeitos e minimizar perdas, mas também como uma maneira de agregar valor aos produtos, diferenciando-se da concorrência ao incorporar uma determinada vantagem competitiva. A gestão da qualidade total envolve a aplicação progressiva da qualidade em todos os aspectos do negócio. Neste sentido, a gestão da qualidade é aplicada em tudo o que se faz na empresa e em todos os seus níveis e áreas, incluindo vendas, finanças, compras e outras atividades não ligadas à produção propriamente dita. Nesta era, a alta direção reconhece o impacto da qualidade no sucesso competitivo da empresa, passando a ceder-lhe sua atenção e integrá-la na gestão estratégica do negócio (BARCANTES, 2009). A elaboração de estratégias para qualquer atividade empresarial, cada vez mais, parte da definição do ponto de vista do cliente. Esta premissa, amparada, em alguns casos, por mecanismos legais de defesa do consumidor ou por força das cláusulas contratuais, requer um planejamento estratégico do processo produtivo cada vez mais rigoroso. Deming, um engenheiro americano, considerado um dos gurus da qualidade, auxiliou o Japão na revolução da qualidade nas organizações acontecida na segunda metade do século XX, cerca de 1950, dando palestras aos líderes industriais, alertando-os quanto à importância de controlar a qualidade da execução dos produtos e serviços, e não somente do produto final. A melhoria do processo de produção industrial estava intimamente ligada às condições de trabalho. Deram-se, então, a necessidade e a importância de estudar este processo de execução das atividades industriais. Deming induzia os gerentes a focar nos problemas de variabilidade e suas causas. Preocupava-se especialmente com a separação das “causas especiais” – atribuídas a operadoresindividuais ou máquinas – das “causas comuns” – como falhas das matérias-primas que tomavam parte em várias operações e eram de responsabilidade gerencial. Ele encorajava a adotar uma abordagem sistemática para a solução dos problemas, a qual se tornou mais tarde conhecida com Plan, Do, Check, Act – PDCA ou ciclo de Deming. Veremos esse ciclo mais detalhadamente nos próximos capítulos. Fonte: SILVA, 2006. 20 CAPÍTULO 1 • QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO Dessa forma, identificar o cliente e traduzir suas necessidades em especificações do produto e do processo é um fator crítico de sucesso para qualquer organização. Dentro deste novo cenário, complexo e mutante, a responsabilidade pela definição de estratégias da qualidade pertence à alta gerência empresarial e é vista como o resultado do desempenho gerencial em todas as fases do processo produtivo. Para as empresas que incorporaram esta nova forma de administração, a qualidade dos produtos possui grande potencial competitivo, na medida em que suas ações são orientadas pela satisfação do cliente (BARCANTES, 2009). Os principais instrumentos preconizados pela gestão da qualidade relacionam-se a mudanças na forma de pensar os produtos, serviços e seus respectivos processos. Além disso, todos os funcionários da organização são considerados importantes nesse processo e precisam estar capacitados e comprometidos com as estratégias e com os programas de qualidade da empresa (VASCONCELLOS; LUCAS, 2012). Quadro 1. Eras da qualidade. Dimensão Preocupação básica Visão Ênfase Métodos Orientação e abordagem INSPEçãO Verificação Resolução dos problemas Uniformidade do produto Instrumento de medição Inspeciona a qualidade CONtROLE EStAtÍStICO Controle Resolução dos problemas Uniformidade do produto com menos inspeção Instrumento e técnicas estatísticas Controla a qualidade GARANtIA DE QUALIDADE Coordenação Resolução ativa dos problemas Impedir falhas ao longo da cadeia de produção Programas e sistemas Constrói a qualidade EStRAtÉGIA DE QUALIDADE Impacto estratégico Oportunidade para aumentar a competitividade Necessidades do mercado e do consumidor Planejamento estratégico e mobilização da organização Gerencia a qualidade Fonte: Adaptado de https://www.passeidireto.com/arquivo/2574089/quadro-eras-da-qualidade-galvin. 1.3. A evolução da qualidade no Brasil Até o começo do século passado, a economia brasileira era centrada na agricultura. Nossas exportações estavam fortemente ancoradas no café, no cacau, no açúcar e no algodão. Durante o período das guerras mundiais, em que, como já vimos, a prioridade de produção de bens de consumo diminuiu, a exportação desses produtos caiu, gerando considerável crise no país. A situação só não se tornou mais crítica pela mudança do principal produto da exportação para os produtos necessários à indústria bélica, como a borracha. 21 QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO • CAPÍTULO 1 A indústria brasileira começou a se estruturar pela necessidade do processamento de insumos agrícolas. Nas primeiras décadas do século passado, conflitos pelo mundo afora dificultaram as importações e foi necessário começar a produzir, aqui, o que antes vinha de fora. O ramo de produção têxtil foi o primeiro a responder a este desafio (PALADINI, 2015). Esse mesmo movimento aconteceu com as montadoras de veículos que, efetivamente, formataram o conceito da qualidade industrial no Brasil. Na primeira metade do século XX, existiam muitos carros importados no Brasil e, com a falta de peças de reposição, em função das restrições às importações, pequenas empresas começaram a improvisar consertos nestes veículos. Assim, veio o primeiro impulso formal da qualidade no Brasil, decorrente da necessidade de disciplinar a ação de fornecedores dessas peças e serviços improvisados (PALADINI, 2015). Mas o impulso que realmente consolidou a qualidade no setor só viria praticamente no final do século XX, quando a indústria automobilística brasileira passou a ser exposta à concorrência internacional. Essa transição criou profundas transformações no setor, consolidando os mecanismos de qualidade. Por meio da exposição do mercado brasileiro à concorrência internacional, criaram-se esforços em busca de uma certificação pela indústria brasileira. A ISO (Internacional Organization for Standardization) passou a representar uma metodologia de certificação que abrange um conjunto de normas que preconizam a garantia da qualidade como base da certificação. Assim, a qualidade passou a incorporar esforços em metrologia e padronização (quase sempre tendo normas técnicas como referências), fatores que também muito contribuíram para a consolidação da qualidade no país. Figura 8. Isso. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/iso-certification-stamp-blue-round-grunge-512055949. 22 CAPÍTULO 1 • QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO Neste mesmo período, final dos anos 1980 e 1990, começaram a aparecer, no Brasil, instituições que ofereciam cursos técnicos de nível médio, assim como viabilizavam o acesso a cursos de graduação nas mais diferentes áreas. Esse fato gerava oportunidade de qualificação para os recursos humanos e caracteriza-se como um novo momento na história da qualidade no Brasil, já que começava a desenvolver uma mão de obra mais qualificada (PALADINI, 2015). Também nos anos 1990, o Brasil passou por uma significativa abertura de mercado ao exterior, dando início a uma época de grandes mudanças nas relações comerciais, tendo como resultado grande aumento da oferta de produtos e serviços, estabelecendo uma concorrência à qual as empresas não estavam habituadas. A entrada de produtos estrangeiros, com menor custo, ofereceu ao consumidor um aumento nas suas opções. Dessa forma, o consumidor começou a pesquisar mais a relação de qualidade-preço daquilo que lhe era oferecido para então fazer suas escolhas (BARCANTES, 2009). Outro fato importante, no mesmo ano, foi o surgimento do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP). Seu objetivo central era o de estimular, articular, orientar e apoiar os esforços da sociedade brasileira na busca da competitividade internacional, por meio da promoção de ações de melhoria da qualidade e aumento da produtividade dos bens e serviços produzidos e oferecidos no país (PRADO FILHO, 2015). Em 2001, o PBQP foi substituído pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC). Sua criação teve como objetivo principal promover um aumento radical da competitividade das organizações privadas e públicas brasileiras, de maneira sustentável, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população. O MBC desenvolve projetos de apoio à inovação, tecnologias de gestão, banco de indicadores sobre competitividade, benchmarking, plano nacional de normalização, avaliação de gestão e do desempenho do setor público (PRADO FILHO, 2015). Atualmente, o movimento pela qualidade no país está em um impasse, sem grandes projetos que possam impulsionar as melhorias nas empresas nacionais, e um indicativo disso é a diminuição da busca pelas empresas brasileiras por certificações como ISO 9001 (PRADO FILHO, 2015). 23 QUALIDADE: CONCEItOS BáSICOS E CONtEXtO HIStÓRICO • CAPÍTULO 1 Sintetizando O que vimos neste capítulo? O conceito de qualidade possui relação com três principais fatores: redução de custos, aumento de produtividade e satisfação do cliente, o que significa que a qualidade está atrelada a fazer melhor, com menor custo, entregando ao cliente produtos que correspondam às suas expectativas ou as superem. A Evolução da qualidade é dividida em quatro grandes eras: era da inspeção – qualidade com foco no produto –; era do controle estatístico da qualidade – qualidade com foco no processo –; era da garantia da qualidade – qualidade com foco no sistema –; e era da gestão da qualidade total (TQM) – qualidade com foco no negócio.Por intermédio da exposição do mercado brasileiro à concorrência internacional, criaram-se esforços em busca de uma certificação pela indústria brasileira, que preconizam a garantia da qualidade como base da certificação. 24 Introdução do capítulo Nos últimos anos, a preocupação com a qualidade dos serviços ultrapassou as fronteiras da área industrial e tornou-se também uma prioridade para os gestores e profissionais de saúde. Neste capítulo, abordaremos a evolução desse tema no âmbito da saúde. Trataremos de conceitos importantes sobre a qualidade em saúde e também a trajetória histórica do que motivou e impulsionou a evolução da qualidade na saúde no mundo e no Brasil. É importante destacar que a má qualidade dos serviços de saúde e suas consequências possuem um custo elevado para as instituições, o que justifica o investimento em sistemas ou programas de controle e melhoria contínua da qualidade. Também será possível conhecer os principais aspectos facilitadores do processo de implantação e sustentação da qualidade nos hospitais, que são de extrema importância para os gestores hospitalares. Vamos lá? Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » refletir sobre a evolução e a influência da qualidade nos serviços de saúde; » conhecer como a qualidade evoluiu na saúde no que diz respeito ao mundo e ao Brasil. Neste capítulo abordaremos as seguintes questões: » 2.1. Aspectos históricos da qualidade em saúde » 2.2. Evolução da qualidade em saúde no Brasil 2 CAPÍTULO EvOLUçãO DA QUALIDADE NOS SIStEMAS DE SAÚDE 25 EvOLUçãO DA QUALIDADE NOS SIStEMAS DE SAÚDE • CAPÍTULO 2 2.1. Aspectos históricos da qualidade em saúde Neste capítulo, iremos conhecer melhor a história e a evolução da qualidade nos sistemas de saúde. Dentre as diferentes organizações que compõem os sistemas de saúde, podemos destacar hospitais, clínicas, unidades ambulatoriais, de emergência, consultórios, entre outros. Entretanto, os hospitais são instituições prestadoras de serviços de grande importância social, possuindo alta complexidade e peculiaridade; portanto, para eles, a prática da qualidade adquire enfoque e diferencial específicos. A avaliação da qualidade na saúde começou a ter destaque no século passado, quando foi formado o Colégio Americano de Cirurgiões (CAC) em meados de 1924. O CAC criou o Programa de Padronização Hospitalar (PPH), em que foi definido um conjunto de padrões com olhar específico para a garantia da qualidade da assistência aos pacientes. Inicialmente, esses padrões referiam-se apenas às condições necessárias aos procedimentos médicos e ao processo de trabalho, não levando em consideração outras necessidades como o dimensionamento da equipe de enfermagem, a avaliação dos resultados com o paciente ou até mesmo elementos da estrutura física do hospital (FELDMAN et al., 2005). Em 1949, após o grande número de avaliação de hospitais americanos e a evolução do Manual de Padronização, o Colégio Americano de Cirurgiões passou a ter dificuldade em mantê-lo. Essa dificuldade aconteceu pois a sofisticação crescente da assistência médica, o aumento do número de instituições, o aumento da complexidade e a grande procura de especialidades não cirúrgicas após a Segunda Guerra Mundial estavam gerando uma elevação muito grande nos custos das avaliações. A partir daí, o CAC iniciou parcerias com a Associação Médica Canadense e Americana, a Associação Americana de Hospitais e o Colégio Americano de Clínicos, para apoio e promoção das avaliações, e já consideradas acreditações voluntárias das instituições de saúde (FELDMAN et al., 2005). Após essa união, foi criada em 1951, a Comissão Conjunta de Acreditação dos Hospitais (CCAH), que, logo, oficializou o programa de acreditação a Joint Commission on Accreditation of Hospitals. Esta era uma empresa de natureza privada, que, na ocasião, procurou introduzir e enfatizar na cultura médico-hospitalar a qualidade em nível nacional. Esta “cultura da qualidade” passou a ser difundida nos espaços acadêmicos e institucionais, bem como passaram a ser enfatizados os aspectos de avaliação, educação e consultoria hospitalar. Já em 1960, como a maior parte dos hospitais americanos 26 CAPÍTULO 2 • EvOLUçãO DA QUALIDADE NOS SIStEMAS DE SAÚDE já havia atingido os padrões mínimos preconizados inicialmente, a JCI buscou então modificar o grau de exigência, considerando novos padrões de qualidade que foram publicados em 1970, no Accreditation Manual for Hospital (FELDMAN et al., 2005). Como estudamos no capítulo anterior, nas décadas de 1980 e 1990, o conceito de qualidade passou a circular os grandes meios de comunicação, levando as empresas a transformarem-se. Nesse contexto, o planejamento, a revisão de processos, o acompanhamento de performance e a busca por melhorias constantes, passaram a ser vitais para o posicionamento das organizações no mercado. E isso não seria diferente nas instituições de saúde. Sistemas de qualidade foram adotados na busca de competitividade, de eficiência e eficácia dos processos e dos altos índices de desempenho com resultados de sucesso. Esse movimento refletiu em mudanças na gestão das organizações, cujo olhar dirigiu-se à reestruturação, inovação e busca de excelência, por meio de práticas mais racionais e Saiba mais Diferenças entre eficiência, eficácia e efetividade Eficiência A eficiência se refere a produzir corretamente, utilizando os recursos disponíveis da melhor forma possível e sem gastar muito. Dessa forma, é possível diminuir os custos, o tempo, as perdas e os desperdícios. A eficiência está diretamente ligada à racionalidade e à produtividade. Nesse sentido, uma equipe eficiente é aquela que produz algo útil e que se adequa ao mercado, mas sua produção não demanda muito tempo e recursos. Eficácia O conceito de eficácia diz respeito à capacidade de fazer o que deve ser feito, cumprir metas, alcançar objetivos, ter foco, concentrar energia na realização de algo, obedecer prazos e entregar resultados. Em outras palavras, a eficiência está relacionada à maneira como a atividade é realizada, enquanto a eficácia tem relação com as tomadas de decisão e o resultado alcançado, independentemente dos custos e do tempo que isso acarreta. Uma equipe eficaz é aquela que, além de realizar seus processos de maneira correta, mas também foca nos resultados e explora todo o potencial disponível. Efetividade A efetividade consiste em fazer o que tem que ser feito, atingindo os objetivos traçados e utilizando os recursos da melhor forma possível. Portanto, este é um conceito que se refere à capacidade de ser eficiente e eficaz ao mesmo tempo. Para que uma equipe seja efetiva, ela depende de algumas características, tais como: proatividade, liderança e senso de responsabilidade. https://www.ibccoaching.com.br/portal/metas-e-objetivos/dicas-alcancar-objetivos-cumprir-metas/ 27 EvOLUçãO DA QUALIDADE NOS SIStEMAS DE SAÚDE • CAPÍTULO 2 focadas nas demandas dos clientes. Dentre as mudanças requeridas na época, destacam-se (BONATO, 2011): » visão sistêmica da organização dos seus processos institucionais; » transformação dos indivíduos, com ações dirigidas por novos paradigmas, buscando autorrealização e inovação; e » estímulo ao desenvolvimento de novas capacidades, da criatividade e alta produtividade, mobilizando sujeitos mais capazes, criativos e produtivos. Figura 9. Estimulando e transformando indivíduos. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-illustration-concept-business-motivation- ambition-1175774473. Essas mudanças começaram a demonstrar a tendência nas organizações de valorização dos talentos humanos, que passaram a ser considerados agentes participativos do replanejamento e da ressignificação do contexto do trabalho vigente. Cabe aqui ressaltar que as práticas de saúde só se realizam por meio da ação humana, e essas mudançasnão poderiam deixar de ser destacadas como importantes para a qualidade dos hospitais. Atualmente, as instituições hospitalares são sistemas abertos que sofrem a ação do meio, sendo influenciadas pela evolução e mudança em todos os campos sociais, tornando-se um espaço multidisciplinar de interação com a sociedade. Frente ao mundo repleto de transformações tecnológicas, econômicas e sociais, encontra-se no conhecimento e na informação a vantagem competitiva para o indivíduo e para as organizações. Sendo assim, criar um ambiente de trabalho estimulador para compartilhar conhecimento, em que as relações pessoais se manifestam, gerando desenvolvimento de novas competências, coloca-se como desafio para a organização focada na gestão das pessoas e preocupada com a qualidade (BONATO, 2011). 28 CAPÍTULO 2 • EvOLUçãO DA QUALIDADE NOS SIStEMAS DE SAÚDE Como vimos anteriormente, nos últimos anos, a preocupação com a qualidade dos serviços ultrapassou as fronteiras da área industrial e tornou-se também uma prioridade para os gestores e profissionais de saúde. No entanto, o significado de “qualidade” neste setor torna-se mais difícil de definir, por todos os fatores e variáveis presentes. Figura 10. Qualidade em saúde. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/doctor-using-tablet-computer-offers-quality-1032579385. Importante Conceitos de qualidade em saúde Palmer, citado por Ferreira (1991, p. 95), refere-se à qualidade em saúde como “a produção de saúde e de satisfação para uma população, com as limitações da tecnologia existente, os recursos disponíveis e as características dos utentes”. Biscaia (2000, p. 7) acredita que as organizações de saúde devem “assegurar em tempo útil, aos utilizadores, os melhores serviços a custos adequados, devendo para tal, os cuidados de saúde serem efetivos, eficientes, aceitáveis, equitativos e igualmente acessíveis a todos os cidadãos”. A Organização Mundial de saúde (OMS) entende como cuidados de saúde de qualidade os que contemplam um elevado grau de excelência profissional, com riscos mínimos, resultados de saúde para os doentes e com eficiência na utilização dos recursos. Como objetivos fundamentais das políticas de melhoria contínua da qualidade em cuidados de saúde, a OMS aponta a promoção da saúde das populações, a estruturação dos serviços de saúde, a utilização racional e eficiente dos recursos tanto humanos e físicos como financeiros disponíveis e a garantia da competência profissional prestada aos cidadãos, de forma a satisfazer plenamente as suas necessidades ( WHO, 2006). A definição mais aceita atualmente é a do Institute of Medicine (IOM) que considera a qualidade em saúde como o “grau em que os serviços de saúde, para os indivíduos e populações, aumentam a probabilidade de se atingirem os resultados de saúde desejáveis de acordo com o conhecimento profissional corrente” (USA INSTITUTE OF MEDICINE, 2000, p. 18). Este conceito concentra a ideia mais global de qualidade em saúde, que envolve a relação direta entre prestadores e doentes, na medida em que o serviço prestado se adequa às necessidades e expectativas de quem o recebe. 29 EvOLUçãO DA QUALIDADE NOS SIStEMAS DE SAÚDE • CAPÍTULO 2 Os conceitos e perspectivas de qualidade em saúde apresentados, quando integrados, contemplam uma visão global da qualidade de um serviço e evitam conflitos de interesses e abordagens erradas de avaliação e gestão dos processos. Em síntese, a qualidade é talvez um conceito mais valorizado na saúde do que em outra área, por se tratar de um valor sentido e reconhecido por todos, apesar de definido de formas diferentes, dependendo da percepção dos indivíduos em relação aos mesmos produtos ou serviços e das suas necessidades, experiências e expectativas em determinado momento (MENDES, 2012). Nesse sentido, a definição de “qualidade em saúde” varia de acordo com indivíduo que avalia, seja ele doente, profissional de saúde ou gestor. Para o doente, a melhoria do seu estado de saúde é mais importante do que a rentabilização dos investimentos, por exemplo, que é relevante para o gestor (MENDES, 2012). Aliadas a essas condições estão: as preocupações com as questões econômicas; a pressão da tecnologia e inovação; o desafio das alterações demográficas; o envelhecimento da população; e o crescente interesse no grau de satisfação dos pacientes, visto que eles têm sido cada vez mais exigentes com os serviços que lhe são prestados. Estes desafios têm sido um incentivo à maior atenção à qualidade em saúde e sua avaliação por parte dos gestores e responsáveis dos serviços de saúde públicos e privados (MENDES, 2012). No ano 2000, com a publicação do documento To Err is Human, pelo IOM, constatou-se que, nos Estados Unidos da América, por ano, de 48 mil a 98 mil pessoas morriam nos hospitais como resultado de erros preveníveis (USA INSTITUTE OF MEDICINE, 2000). Esses resultados incentivaram uma sensibilização generalizada à segurança do paciente, o que refletiu num conjunto de ações que se expandiram pelo mundo para melhorar a qualidade da prestação dos cuidados de saúde. Figura 11. to Err is Human: Errar é humano. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/err-human-concept-on-blackboard-306050405. 30 CAPÍTULO 2 • EvOLUçãO DA QUALIDADE NOS SIStEMAS DE SAÚDE Em 2004, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) identificou a dificuldade no acesso a cuidados básicos de saúde, os erros médicos e a prestação de serviços desnecessários como os três principais problemas relacionados com a qualidade dos serviços de saúde. A ocorrência de eventos adversos não só causa danos aos doentes como também tem consequências sociais e financeiras significativas. Além dos custos, pode haver ainda perda de confiança nas organizações e nos seus profissionais, com consequente degradação de suas relações com os doentes (MENDES, 2012). A magnitude dos custos associados à má qualidade dos serviços de saúde justifica o investimento em sistemas ou programas de controle e melhoria contínua da qualidade. Os avanços mais relevantes estão direcionados a: padronização dos processos de trabalho, através de práticas de acreditação e certificação de serviços e unidades, com consequente alteração da organização do trabalho dos profissionais de saúde; criação de departamentos de controle da infecção hospitalar e de gestão do risco; e adaptação de normas de orientação clínica, no sentido de reduzir a variabilidade das práticas e permitir a tomada de decisões baseadas na melhor evidência disponível. Outras medidas consistem no reporte de erros e eventos adversos e na formação dos profissionais (MENDES, 2012). Esse conjunto de avanços reflete na melhoria contínua da qualidade dos serviços de saúde, da definição de padrões de qualidade elevados e do desenvolvimento de estratégias que protejam os pacientes num momento em que estão vulneráveis, tornando as organizações de saúde sustentáveis e seguras, motivando os seus profissionais a entregarem o seu melhor. Nesse sentido, é muito importante que se estabeleça uma cultura de autoavaliação e de busca constante da melhoria dos processos, valorizando as sugestões e ideias, sejam da administração, dos profissionais ou dos pacientes. 2.2. Evolução da qualidade em saúde no Brasil No sistema de saúde brasileiro, as iniciativas de classificação e categorização de hospitais e outros serviços sempre pertenceram ao poder público. Vamos conhecer melhor a trajetória da qualidade em saúde no Brasil? O início dos esforços nesse sentido datam da década de 30, com o Censo Hospitalar do Estado de São Paulo, no qual formulou-se a primeira proposta de regionalização e hierarquização de serviços de saúde, que não chegou a ser implementada, mas serviu de inspiração para outras classificações criadas posteriormente (FELDMAN et al., 2005). 31 EvOLUçãO DA QUALIDADE NOS SIStEMAS DE SAÚDE • CAPÍTULO 2 Existem evidências de que o primeiro estudo no sentidode melhorar a qualidade na organização dos hospitais do Brasil tenha sido de Odair Pedroso, em 1935, ao conceber a Ficha de Inquérito Hospitalar para a Comissão de Assistência Hospitalar do Ministério da Saúde, que continha aspectos a serem garantidos pelos hospitais, tais como: corpo clínico organizado, com obrigatoriedade de médico plantonista residente; Corpo de Enfermeiros e auxiliares em número proporcional à capacidade e serviços clínicos do hospital, inclusive para plantão noturno; Salas de operações com equipamentos suficientes e anexos; Serviços auxiliares (cozinha, lavanderia, desinfecção), entre outros (FELDMAN et al., 2005). Em 1951, com o 1o Congresso Nacional do Capítulo Brasileiro do Colégio Internacional de Cirurgiões, realizado em São Paulo, foram estabelecidos os primeiros padrões mínimos para centro cirúrgico e estudados tanto os aspectos de planta física como a organização desta unidade hospitalar. Neste congresso, ainda foram estabelecidos os componentes do prontuário médico, bem como algumas normas gerais para a organização do hospital, indispensáveis ao bom funcionamento do setor (FELDMAN et al., 2005). No âmbito federal, o Decreto n. 25.465, de 10 de fevereiro de 1956, propôs os padrões gerais segundo as quais os distintos estabelecimentos de saúde deveriam ser classificados. Dando sequência aos acontecimentos, em 1960, o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Previdenciários já possuía padrões para credenciamento dos serviços hospitalares. Tais critérios abrangiam: planta física, tipos de equipamento e organização, especificando itens para a área de estrutura como ainda hoje é classificada. O mesmo instituto também estabeleceu o chamado Relatório de Classificação Hospitalar – Reclar –, que avaliavam os três critérios supracitados. Este relatório, porém, sofreu crítica devido à excessiva ênfase aos aspectos físicos, pouca importância aos recursos humanos e quase nenhuma menção à produtividade e resultados dos processos (FELDMAN et al., 2005). Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a partir de 1989, a acreditação passou a ser o elemento estratégico para o desenvolvimento da qualidade em saúde na América Latina. Iremos nos aprofundar melhor nas questões da acreditação hospitalar no próximo capítulo deste livro; entretanto, para abordar a evolução da qualidade da saúde no Brasil, tópicos sobre a acreditação serão aqui abordados como marcos históricos dessa trajetória. Saiba mais Para conhecer o Decreto n. 25.465, de 10 de fevereiro de 1956, siga no link a seguir, onde você encontrará uma cópia oficial do decreto: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1956/ decreto-25465-10.02.1956.html. Acesso em: 25 set. 2020. https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1956/decreto-25465-10.02.1956.html https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1956/decreto-25465-10.02.1956.html 32 CAPÍTULO 2 • EvOLUçãO DA QUALIDADE NOS SIStEMAS DE SAÚDE Em abril de 1993, retomando o desenvolvimento da acreditação na América Latina, a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) promoveu, em Brasília, o primeiro Seminário Nacional sobre Acreditação, no qual foi apresentado o Manual de Acreditação da OPAS. Em 1994, o Ministério da Saúde lançou o Programa de Qualidade, com o objetivo de promover ainda mais a cultura da qualidade no país. Estabeleceu ainda a Comissão Nacional de Qualidade e Produtividade em Saúde (CNQPS), que desempenhou importante papel na elaboração das diretrizes do programa e na sua disseminação. O Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP) estabeleceu a avaliação e certificação de serviços de saúde como um projeto estratégico prioritário do Ministério da Saúd, para o biênio 97/98 (ALBUQUERQUE, et al, 2016). No Rio de Janeiro, no ano de 1997, foi criado o Consórcio Brasileiro de Acreditação – CBA –, em conjunto com a Fundação Cesgranrio, criada pelas universidades estaduais do Rio de Janeiro para avaliação do processo educacional. Em julho de 1997, o Ministério da Saúde anunciou medidas para desenvolver a acreditação na tentativa de unificar todos os esforços nacionais. Com isto, iniciou um projeto junto ao REFORSUS (Reforço à Reorganização do Sistema Único de saúde), Programa de Apoio Financeiro para o Fortalecimento do Sistema Único de Saúde e com financiamento pelo Banco Mundial, chamado “Acreditação Hospitalar”. (ALBUQUERQUE, et al, 2016). Em dezembro de 1997, o CBA realizou um seminário com a assessoria da Joint Commission International para elaborar um programa nacional de acreditação de hospitais. Nesta ocasião, o Brasil foi integrado ao contexto internacional de avaliação de serviços de saúde. O Programa Brasileiro de Acreditação foi oficialmente lançado em novembro de 1998, no Congresso Internacional de Qualidade na Assistência à Saúde em Budapeste, bem como o instrumento nacional desenvolvido para este primeiro momento (ALBUQUERQUE, et al, 2016). No período entre 1998 e 1999, o Ministério da Saúde realizou o projeto de divulgação da “Acreditação no Brasil”. Essa divulgação constituiu-se em um ciclo de palestras envolvendo trinta localidades, em âmbito nacional, que atingiram todas as regiões do país. O ciclo de palestras teve como objetivo apresentar o projeto desenvolvido pelo Ministério, para sensibilizar e melhorar a compreensão sobre o Sistema Brasileiro de Acreditação bem como sua forma de operação, o que culminou com a criação Organização Nacional de Acreditação (ONA), em maio de 1999 (ALBUQUERQUE, et al, 2016). 33 EvOLUçãO DA QUALIDADE NOS SIStEMAS DE SAÚDE • CAPÍTULO 2 A ONA é uma organização privada, sem fins lucrativos e de interesse coletivo, que tem como principais objetivos a implantação e implementação nacional de um processo permanente de melhoria da qualidade da assistência à saúde, estimulando todos os serviços de saúde a atingirem padrões mais elevados de qualidade, dentro do processo de acreditação. No Brasil, as instituições acreditadoras são empresas de direito privado, credenciadas pela ONA, que têm a responsabilidade de aplicar a avaliação e a certificação da qualidade dos serviços de saúde em âmbito nacional. Vamos conhecer os principais padrões e os níveis de avaliação da ONA nos próximos capítulos. Figura 12. Certificações na saúde. Fonte:https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/certificate-healthcare-pharmacy-concept-pharmacist- doctor-1427028698. Sintetizando O que vimos neste capítulo? A qualidade em saúde é definida como o “grau em que os serviços de saúde, para os indivíduos e populações, aumentam a probabilidade de se atingirem os resultados de saúde desejáveis de acordo com o conhecimento profissional corrente” (USA INSTITUTE OF MEDICINE, 2000, p. 18). Em síntese, a qualidade é talvez um conceito mais valorizado na saúde do que em outras áreas, por se tratar de um valor sentido e reconhecido por todos. Sua definição difere de acordo com as variáveis que assumem maior importância para cada indivíduo, seja ele doente, prestador de cuidados de saúde ou gestor. 34 Introdução do capítulo Como vimos nos capítulos anteriores, a qualidade se tornou um fator de grande significância para as instituições de saúde. Nesse contexto, uma das iniciativas que está diretamente voltada para o aumento dessa qualidade é o processo de acreditação hospitalar, que institui novas condições no que diz respeito a mudanças comportamentais, concentração frequente dos profissionais na busca de metas e objetivos impostos, além da melhoria fixa e contínua do atendimento prestado (PENHA, NAZÁRIA, 2020). Neste capítulo, iremos nos aprofundar nos conceitos gestão da qualidade hospitalar, com seus principais indicadores e ferramentas, além de entender a consolidação desse processo no Brasil e os principais desafios da qualidade em saúde que devem ser considerados pelos gestores hospitalares atualmente. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capazde: » conceituar e refletir acerca da importância dos processos de acreditação para garantia da qualidade da assistência à saúde; » entender como os processos de avaliação e acreditação hospitalar se consolidaram no Brasil; » identificar quais os principais desafios da qualidade em saúde no Brasil que devem ser considerados pelos gestores hospitalares. Neste capítulo, abordaremos as seguintes questões: » 3.1. Conceitos e importância dos processos de avaliação e acreditação hospitalar. » 3.2. Acreditação hospitalar no Brasil. » 3.3. Principais desafios da qualidade em saúde no Brasil. 3 CAPÍTULO ACREDItAçãO HOSPItALAR E A EvOLUçãO DOS PROCESSOS DE AvALIAçãO 35 ACREDItAçãO HOSPItALAR E A EvOLUçãO DOS PROCESSOS DE AvALIAçãO • CAPÍTULO 3 3.1. Conceitos e importância dos processos de avaliação e acreditação hospitalar Atualmente, qualidade, produtividade e atenção aos pacientes são temas dominantes que visam à progressividade e subsistência da organização dos hospitais. Como vimos nos capítulos anteriores, a qualidade se tornou um fator de grande significância, encaminhando instituições para os mercados nacionais e internacionais, requerendo êxito e desenvolvimento organizacional. No âmbito da saúde, uma das iniciativas que está diretamente voltada para o aumento dessa qualidade é o processo de acreditação hospitalar. Vamos conhecer melhor esse processo? Acreditação é uma palavra originária do inglês e se refere ao procedimento de avaliação dos recursos institucionais, tendendo a garantir a qualidade da assistência à saúde através de padrões previamente estabelecidos. Os padrões podem ser mínimos ou mais elaborados, definindo diferentes níveis de satisfação e qualificação das instituições avaliadas (FELDMAN et al., 2005). Esta prática possibilita o reconhecimento público das organizações de saúde pela sua prestação de cuidados baseada na melhor evidência científica e em padrões de qualidade elevados, reconhecidos por entidades de referência. Os padrões assumidos são desenvolvidos por um conjunto de especialistas internacionais, que os publicam, analisam e reveem periodicamente para acompanharem o progresso do conhecimento, dos avanços tecnológicos e terapêuticos e das mudanças necessárias nas políticas de saúde. As principais razões da adesão à acreditação são: o reconhecimento entre os profissionais e a sociedade; o marketing; o desenvolvimento organizacional voluntário; a exigência legal; e coerência com a política governamental. O processo de acreditação consiste, basicamente, na realização de uma primeira visita da entidade acreditadora para verificação do grau de conformidade dos processos da Importante Segundo a International Society for Quality in Health Care (ISQua), a acreditação é um método de autoavaliação e auditoria externa por pares, usado pelas organizações de saúde para avaliarem com rigor o seu nível de desempenho em relação a padrões preestabelecidos e para, a partir disso, implementarem melhorias. Trata-se de um processo formal de avaliação externa, na maioria das vezes voluntário, através do qual um órgão independente e reconhecido, geralmente uma organização não governamental, avalia a conformidade da prestação de cuidados com padrões predeterminados e incentiva a cultura de melhoria contínua (MENDES, 2012). 36 CAPÍTULO 3 • ACREDItAçãO HOSPItALAR E A EvOLUçãO DOS PROCESSOS DE AvALIAçãO instituição de saúde, com os padrões da entidade acreditadora. Se a apreciação for satisfatória, é entregue um certificado de acreditação; caso não o seja, a entidade fará recomendações para melhoria e realizará outras visitas para fazer novas avaliações. O conjunto de critérios considerados para a avaliação depende do modelo de acreditação adotado, sendo esse praticamente o único aspecto que distingue os diferentes modelos, que têm por princípios comuns criar uma maior uniformização das práticas, promover a mudança, reforçar o planejamento e a integração de ações, criar sistemas integrados de gestão da qualidade, desenvolver e atualizar os profissionais de forma integrada e consistente e aumentar a transparência das organizações (MENDES, 2012). A acreditação tem início com uma avaliação baseada em padrões definidos e reconhecidos internacionalmente, que resultam em um conjunto de orientações para as instituições de saúde, visando à melhoria do seu desempenho e consequentemente da sua qualidade. Não se avaliam departamentos específicos, mas todos os serviços da organização. Essa avaliação deve ter efetiva responsabilidade em medir o desempenho, promover melhorias e facilitar estímulos externos e o necessário esforço interno (BONATO, 2011). É importante ressaltar que a ênfase da avaliação é na qualidade do serviço profissional prestado, independentemente dos recursos tecnológicos envolvidos. O atendimento deve pautar-se pelo critério da excelência, aproveitando-se da tecnologia disponível. Sendo assim, tanto o hospital público quanto o privado, localizados em uma metrópole ou zona rural, terão que se adaptar aos mesmos padrões de qualidade. Figura 13. Qualidade do serviço do profissional. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/old-asian-female-show-okay-sign-1679209252. 37 ACREDItAçãO HOSPItALAR E A EvOLUçãO DOS PROCESSOS DE AvALIAçãO • CAPÍTULO 3 O modelo de acreditação é marcado pela medicina americana tentando garantir a excelência dos procedimentos médicos e a segurança das ações de saúde, respondendo, assim, com uma prestação de serviços com qualidade para uma sociedade organizada e consciente de seus direitos. Os modelos de avaliação não têm impacto somente na qualidade do atendimento ao paciente, mas também afetam todas as partes envolvidas no sistema de saúde, como: médicos, outros profissionais da área, fornecedores, investidores e a comunidade em geral (BONATO, 2011). Esse método de avaliação tem um caráter eminentemente educativo, voltado para melhoria contínua, sem finalidade de fiscalização ou controle oficial, e suas principais vantagens são (BONATO, 2011): » segurança para os pacientes e profissionais; » qualidade da assistência; » construção de equipe e melhoria contínua; » útil instrumento de gerenciamento; » critérios e objetivos concretos adaptados à realidade. Nesse contexto, destaca-se que a acreditação é uma importante ferramenta de gestão que serve para medir e avaliar o nível de qualidade dos serviços de assistência à saúde, pois possui uma abordagem que leva à elaboração e definição de novas maneiras de atuar e permite identificar os problemas das instituições hospitalares. Sendo assim, a gestão de qualidade e a acreditação são ferramentas essenciais para prestação dos serviços de qualidade no âmbito hospitalar (PENHA, NAZÁRIA, 2020). 3.2. Acreditação hospitalar no Brasil Para iniciar essa parte deste importante capítulo, é importante destacar que a missão essencial das instituições hospitalares é atender a seus pacientes da forma mais adequada. Por isso, todo hospital deve preocupar-se com a melhoria permanente da qualidade de sua gestão e assistência, buscando uma integração harmônica das áreas médica, tecnológica, administrativa, econômica, assistencial e, se for o caso, de docência e pesquisa (BRASIL, 2002). A partir do entendimento dessa missão, vamos nos aprofundar nos processos de acreditação hospitalar no Brasil. 38 CAPÍTULO 3 • ACREDItAçãO HOSPItALAR E A EvOLUçãO DOS PROCESSOS DE AvALIAçãO Em 1989 a Organização Mundial da Saúde iniciou um trabalho com a área hospitalar na América Latina, adotando como tema a qualidade da assistência. Pretendia-se contribuir para progressiva mudança de hábitos, por meio de estímulo aos profissionais dos diferentes serviços para avaliar aspectos fortes e fracos de suas instituições. Esta análise poderia servir como subsídio para o estabelecimento de metas e para o aprimoramento da qualidade da assistência e a busca da melhoria contínua. Para implementaçãode diversos métodos para realização dessas análises, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) realizou várias reuniões com a participação de boa parte dos países latino-americanos. Raros eram os países com sistema de acreditação ou certificação da qualidade. Em 1991, a parceria entre a OPAS e a Federação Latino-Americana de Hospitais levou ao desenvolvimento de um instrumento de acreditação hospitalar apropriado para a região. Este manual envolvia padrões ligados aos vários serviços existentes em um hospital geral, como emergência, continuidade da assistência, transferência etc. O manual também apresentava padrões de estrutura, de resultados e alguns padrões de processos e procedimentos (SCHIESARI; KISIL, 2003). Figura 14. Padrões para certificação. Fonte:https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/accreditation-medicine-concept-accredited-healthcare-1125786050. Os padrões eram divididos em três níveis crescentes de complexidade, que correspondem ao tipo e complexidade da assistência desejável segundo definição de especialistas ou associações profissionais. O nível 1 representava o nível mínimo de qualidade necessário (SCHIESARI; KISIL, 2003). À medida que os padrões mínimos são atingidos, os processos precisam ir evoluindo para o cumprimento de padrões do nível 2 e, posteriormente, do 3. A avaliação final proposta é determinada pelo mínimo atingido, isto é, se um dos padrões de nível 1 não for atingido, mesmo apresentando nível dois ou três nos demais, o hospital é considerado de nível 1. Esse critério enfatiza a importância da integração das estruturas e processos hospitalares para que a assistência seja prestada com qualidade. 39 ACREDItAçãO HOSPItALAR E A EvOLUçãO DOS PROCESSOS DE AvALIAçãO • CAPÍTULO 3 Este tipo de avaliação oferece informações aos tomadores de decisão quanto às áreas mais problemáticas do hospital e que necessitam de melhorias. Esta estrutura do documento assemelha-se à de instrumentos anteriores adotados pela já citada Joint Commission nos Estados Unidos, configuração considerada pelos especialistas da época a mais adequada às necessidades da região. Em 1991-1992, uma pesquisa realizada com o apoio do Banco Mundial sobre experiências brasileiras em garantia de qualidade em saúde concluiu ser urgente a necessidade de introduzir no país um sistema independente de acreditação de hospitais, dando início ao programa de organização da acreditação no Brasil, a partir de discussões com a participação das principais entidades ligadas à saúde. O amadurecimento da discussão acerca da pertinência da aplicação dos padrões desenvolvidos para hospitais americanos à realidade brasileira constituiu um passo importante para o fortalecimento da ideia (SCHIESARI; KISIL, 2003). Estabelecer consenso em torno da metodologia e dos padrões a serem adotados representava grande desafio. Apesar disso, alguns pontos foram contemplados: o conceito de acreditação e a vinculação do processo a um organismo não governamental sem fins lucrativos. As entidades participantes deste evento constituíram um conselho, e um grupo menor compôs uma comissão técnica intitulada Grupo Técnico de Acreditação Hospitalar (GTA), criado a partir de incentivo da OPAS. Do GTA, participaram entidades representantes de prestadores de serviço, compradores, financiadores e universidades (Escola Nacional de Pública/FIOCRUZ, PROAHSA/Fundação Getúlio Vargas), dos setores público e privado, de diferentes Estados (Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo) e representantes do Ministério da saúde. A presença de diferentes grupos envolvidos com acreditação aproximaria a discussão da realidade nacional (SCHIESARI; KISIL, 2003). Em 1994, o Ministério da Saúde lançou o “Programa de Qualidade”, com o objetivo de promover a cultura da qualidade, e estabeleceu ainda a Comissão Nacional de Qualidade e Produtividade em Saúde. Nesta época, as atividades de melhoria da qualidade na saúde passaram a ser consideradas estratégicas. A partir daí, vários grupos e programas de acreditação foram sendo criados em várias regiões do Brasil, como já vimos em capítulos anteriores. Entretanto, de modo geral, poucos dos envolvidos nestas discussões tinham experiência na área de avaliação em saúde, sobretudo hospitalar, e o desconhecimento dos antecedentes da avaliação da qualidade em saúde levou alguns desses grupos a considerar a acreditação um modelo sem precedentes nacionais. 40 CAPÍTULO 3 • ACREDItAçãO HOSPItALAR E A EvOLUçãO DOS PROCESSOS DE AvALIAçãO Figura 15. Criação de grupos e programas de acreditação. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/groupe-medicine-doctors-show-ok-sign-1204959328. Isto explica, em parte, a dificuldade em integrar as diferentes experiências existentes ou ainda resgatar experiências anteriormente propostas. Nesse contexto, em julho de 1997, o Ministério da Saúde contratou Humberto de Moraes Novaes para desenvolver a acreditação no âmbito do Ministério, na tentativa de unificar os vários esforços nacionais. Em fevereiro de 1998, foi formado um grupo executivo, encarregado pelo Programa Brasileiro de Acreditação, em que o Ministério coordenou o piloto de aplicação e aprimoramento do instrumento a ser adotado pelo programa brasileiro e, partir dos resultados encontrados, elaborou a nova versão do Manual de Acreditação. (SCHIESARI; KISIL, 2003). No mesmo ano, as primeiras normas técnicas de regulamentação do órgão foram discutidas, definindo assim o papel do órgão acreditador, a relação entre instituição acreditadora e Ministério da Saúde, e o código de ética e perfil do avaliador. Estas seriam as bases para garantir a seriedade do processo de acreditação no Brasil. Da elaboração do manual, em 1998, até a constituição do Organização Nacional de Acreditação (ONA) decorreram alguns meses e, em agosto de 1999, a ONA foi constituída juridicamente como órgão credenciador das instituições acreditadoras. As instituições acreditadoras são responsáveis pela realização da acreditação propriamente dita dentro dos hospitais. À ONA cabe o desenvolvimento dos padrões a serem aplicados nacionalmente e das normas reguladores do processo, e a supervisão do trabalho das instituições acreditadoras. De 1999 a 2002, observou-se um amadurecimento inicial do sistema de acreditação nacional, e cerca de nove hospitais foram acreditados até fim do primeiro semestre de 2002 (SCHIESARI; KISIL, 2003). A adequação gradativa do manual de acreditação à realidade nacional deu-se por meio da sua aplicação, do melhor conhecimento do instrumento por parte dos vários 41 ACREDItAçãO HOSPItALAR E A EvOLUçãO DOS PROCESSOS DE AvALIAçãO • CAPÍTULO 3 envolvidos (avaliadores/instituições acreditadoras, hospitais) e do desenvolvimento da “expertise” da própria ONA. Esta interação constante e amadurecimento da proposta inicial levaram a sucessivas modificações do instrumento original. Em 2002, foi lançada a 3ª edição do Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar, considerando que o processo de acreditação hospitalar é um método de consenso, racionalização e ordenação das instituições hospitalares e, principalmente, de educação permanente dos seus profissionais e que se expressa pela realização de um procedimento de avaliação dos recursos institucionais, voluntário, periódico e reservado, que tende a garantir a qualidade da assistência por meio de padrões previamente estabelecidos (BRASIL, p. 9, 2002). A organização hospitalar é considerada um sistema complexo, cujas estruturas e processos são tão interligados que o funcionamento de um componente interfere em todo o conjunto e no resultado final; sendo assim, não se deve avaliar um setor ou departamento isoladamente. O Processo de Acreditação é um método de consenso, racionalização e ordenação das organizações prestadoras de serviços hospitalares e, principalmente de educação permanente dos seus profissionais. E, para avaliar
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