Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
22/04/2021 1 UNIDADE 3 METABOLISMO Prof. Dra Ana Caroline Gianes Cardozo Farmacêutica TÓPICO 1 PRINCÍPIOS DA BIOENERGÉTICA Página 143 22/04/2021 2 1. INTRODUÇÃO Página 143 O metabolismo é uma atividade celular altamente coordenada, em que muitos sistemas multienzimáticos (vias metabólicas) cooperam para: (1) obter energia química capturando energia solar ou degradando nutrientes energeticamente ricos obtidos do meio ambiente; (2) converter as moléculas dos nutrientes em moléculas com características próprias de cada célula, incluindo precursores de macromoléculas; (3) transformar precursores monoméricos em macromoléculas (proteínas, ácidos nucleicos e polissacarídeos); (4) sintetizar e degradar as biomoléculas necessárias para as funções celulares especializadas, como lipídios de membrana, mensageiros intracelulares e pigmentos. 1. INTRODUÇÃO Página 143 Os organismos vivos podem ser divididos em dois grandes grupos de acordo com a forma química pela qual obtêm carbono do meio ambiente. Os autotróficos (como bactérias fotossintéticas, algas verdes e plantas vasculares) podem usar o dióxido de carbono da atmosfera como sua única fonte de carbono, a partir do qual formam todas as suas biomoléculas constituídas de carbono. Alguns organismos autotróficos, como as cianobactérias, também podem utilizar nitrogênio atmosférico para gerar todos os seus componentes nitrogenados. Os heterotróficos não conseguem utilizar o dióxido de carbono atmosférico e devem obter carbono a partir do ambiente na forma de moléculas orgânicas relativamente complexas, como a glicose. Os animais multicelulares e a maioria dos microrganismos são heterotróficos. As células e os organismos autotróficos são relativamente autossuficientes, enquanto as células e os organismos heterotróficos, por necessitarem de carbono em formas mais complexas, dependem de produtos de outros organismos. 22/04/2021 3 2. SERES AUTOTRÓFICOS, HETEROTRÓFICOS E VIAS METABÓLICAS Página 144 Algumas das reações de oxidação que produzem dióxido de carbono também consomem oxigênio, convertendo-o em água. Assim, carbono, oxigênio e água são constantemente reciclados entre os mundos heterotrófico e autotrófico, com a energia solar como a força que impulsiona esse processo global. Página 144 e 145 Todos os organismos vivos também exigem uma fonte de nitrogênio, necessária para a síntese de aminoácidos, nucleotídeos e outros componentes. As bactérias e as plantas, geralmente, podem usar amônia ou nitrato como única fonte de nitrogênio, Vertebrados devem obter nitrogênio na forma de aminoácidos ou de outros compostos orgânicos. Além dos ciclos globais de carbono e oxigênio, um ciclo de nitrogênio opera na biosfera, movimentando enormes quantidades de nitrogênio. A reciclagem de carbono, oxigênio e nitrogênio que, em última análise, envolve todas as espécies, depende do equilíbrio adequado entre as atividades dos produtores (autotróficos) e consumidores (heterotróficos) em nossa biosfera. 22/04/2021 4 Página 145 Esses ciclos de matéria são impulsionados pelo fluxo de energia na biosfera, iniciado com a captura da energia solar pelos organismos fotossintéticos e a utilização dessa energia para gerar carboidratos ricos em energia e outros nutrientes orgânicos; esses nutrientes são depois usados como fontes de energia por organismos heterotróficos. Carbono, oxigênio e nitrogênio são reciclados continuamente, mas energia é constantemente transformada em formas não utilizáveis, como o calor. 22/04/2021 5 Página 145 A soma de todas as transformações químicas que ocorrem em uma célula ou em um organismo, ocorre por meio de uma série de reações catalisadas por enzimas que constituem as vias metabólicas. Página 146 O catabolismo é a fase de degradação do metabolismo, na qual moléculas, nutrientes orgânicos (carboidratos, gorduras e proteínas) são convertidas em produtos finais menores e mais simples (como ácido láctico, CO2 e NH3 ). As vias catabólicas liberam energia, e parte dessa energia é conservada na forma de ATP (adenosina trifosfato) e de transportadores de elétrons reduzidos (NADH; NADPH e FADH2) e o restante é perdido como calor. No anabolismo, também chamado de biossíntese, precursores pequenos e simples formam moléculas maiores e mais complexas, incluindo lipídios, polissacarídeos, proteínas e ácidos nucleicos. As reações anabólicas necessitam de fornecimento de energia, geralmente na forma de potencial de transferência do grupo fosforil do ATP e do poder redutor de NADH, NADPH e FADH2. 22/04/2021 6 Página 146 Algumas vias metabólicas são lineares e algumas são ramificadas, gerando múltiplos produtos úteis a partir de um único precursor ou convertendo vários precursores em um único produto. Em geral, as vias catabólicas são convergentes e as vias anabólicas são divergentes. Algumas vias são cíclicas: um composto inicial da via é regenerado em uma série de reações que converte outro componente inicial em um produto. Video: https://www.youtube.com/watch?v=5G0rqmTrt_I Página 147 As vias catabólicas e anabólicas que conectam os mesmos produtos finais, como por exemplo a transformação da glicose em piruvato e vice-versa, podem empregar muitas das mesmas enzimas, mas pelo menos uma das etapas é catalisada por enzimas diferentes nos sentidos catabólico e anabólico, e essas enzimas constituem pontos de regulação independentes. Além disso, a fim de que as vias anabólicas e catabólicas sejam essencialmente irreversíveis, pelo menos uma das reações específicas de cada sentido deve ser termodinamicamente muito favorável. Como as vias metabólicas são cineticamente controladas pela concentração do substrato, conjuntos separados de intermediários anabólicos e catabólicos também contribuem para o controle das taxas metabólicas. Esses recursos que separam os processos anabólicos e catabólicos serão de interesse particular em nossa discussão sobre o metabolismo. 22/04/2021 7 Página 147 As vias metabólicas são reguladas em vários níveis, dentro e fora das células. A regulação mais imediata é a disponibilidade de substrato, a velocidade de reação depende muito da concentração do substrato. Um segundo tipo de controle rápido dentro da célula é a regulação alostérica por um intermediário metabólico ou por uma coenzima – um aminoácido ou ATP, por exemplo – que sinaliza o estado metabólico no interior da célula. Quando a célula contém uma quantidade de aspartato, por exemplo, suficiente para suas necessidades imediatas, ou quando os níveis celulares de ATP indicam não ser necessário o consumo adicional de combustível no momento, esses sinais inibem alostericamente a atividade de uma ou mais enzimas nas vias pertinentes. Video : https://www.youtube.com/watch?v=puiznYbCIpU 3. GLICÓLISE E VIA PENTOSE-FOSFATO Página 148 A glicose ocupa posição central no metabolismo de plantas, animais e muitos microrganismos. Ela é relativamente rica em energia potencial e, por isso, é um bom combustível. Por meio do armazenamento da glicose na forma de polímero de alta massa molecular, como o amido e o glicogênio, a célula pode estocar grandes quantidades de unidades de hexose, enquanto mantém a osmolaridade citosólica relativamente baixa. Quando a demanda de energia aumenta, a glicose pode ser liberada desses polímeros de armazenamento intracelulares e utilizada para produzir ATP de maneira aeróbia ou anaeróbia. A glicose, além de excelente combustível, também é um precursor admiravelmente versátil, capaz de suprir uma enorme variedade de intermediários metabólicos em reações biossintéticas. 22/04/2021 8 Página 148 Em animais e em vegetais vasculares, a glicose tem quatro destinos principais: ela pode ser usada na síntese de polissacarídeoscomplexos direcionados ao espaço extracelular; ser armazenada nas células (como polissacarídeo ou como sacarose); ser oxidada a compostos de três átomos de carbonos (piruvato) por meio da glicólise, para fornecer ATP e intermediários metabólicos; ou ser oxidada pela via das pentoses-fosfato (fosfogliconato) produzindo ribose-5- fosfato para a síntese de ácidos nucleicos e NADPH –produz ATP para processos biossintéticos redutores. Página 148 22/04/2021 9 Página 149 Os organismos sem acesso à glicose de outras fontes devem sintetizá-la. Os organismos fotossintéticos sintetizam glicose inicialmente por redução do CO2 atmosférico a trioses e, em seguida, por conversão das trioses em glicose. As células não fotossintéticas produzem glicose a partir de precursores simples com três ou quatro átomos de carbono pelo processo de gliconeogênese, que reverte a glicólise em uma via que utiliza muitas enzimas glicolíticas. Página 149 Na glicólise, uma molécula de glicose é degradada em uma série de reações catalisadas por enzimas, gerando duas moléculas do composto de três átomos de carbono, o piruvato. Durante as reações sequenciais da glicólise, parte da energia livre da glicose é conservada na forma de ATP e NADH. 22/04/2021 10 Página 150 A glicólise é uma via central quase universal do catabolismo da glicose, a via com o maior fluxo de carbono na maioria das células. A quebra glicolítica da glicose a única fonte de energia metabólica em alguns tecidos e células de mamíferos (p. ex., eritrócitos, medula renal, cérebro e esperma). Quando ocorre a degradação anaeróbia da glicose, utilizamos o termo Fermentação. Como os organismos vivos surgiram inicialmente em uma atmosfera sem oxigênio, a quebra anaeróbia da glicose provavelmente seja o mais antigo mecanismo biológico de obtenção de energia a partir de moléculas orgânicas combustíveis. Página 150 A quebra da glicose, formada por seis átomos de carbono, em duas moléculas de piruvato, cada uma com três carbonos, ocorre em dez etapas, sendo que as cinco primeiras constituem a fase preparatória: Nessas reações a glicose é inicialmente fosforilada no grupo hidroxil ligado ao C-6 (etapa 1). A D-glicose-6-fosfato assim formada e convertida a D- frutose-6-fosfato (etapa 2); A qual é novamente fosforilada, desta vez em C-1, para formar D-frutose-1,6- bifosfato (etapa 3). Nas duas reações de fosforilação, o ATP e o doador de grupos fosforil.. Fosforilação é a adição de um grupo fosfato (PO4) a uma proteína ou outra molécula. 22/04/2021 11 Página 151 A frutose-1,6-bifosfato é dividida em duas moléculas de três carbonos (etapa 4); Essa é a etapa de “lise” que dá nome à via. A di-hidroxiacetona- fosfato é isomerizada a uma segunda molécula de gliceraldeido-3-fosfato (etapa 5), finalizando a primeira fase da glicólise. As 2 moléculas de ATP são consumidas antes da clivagem da glicose em duas partes de três carbonos; haverá depois um bom retorno para esse investimento. Os ganhos de energia provêm da fase de pagamento da glicólise. Cada molécula de gliceradeido-3- -fosfato é oxidada e fosforilada por fosfato inorgânico (não por ATP) para formar 1,3-bifosfoglicerato (etapa 6). Ocorre liberação de energia quando as duas moléculas de 1,3-bifosfoglicerato são convertidas a duas moléculas de piruvato (etapas 7 a 10). Grande parte dessa energia é conservada pela fosforilação acoplada de quatro moléculas de ADP a ATP. O rendimento líquido são 2 moléculas de ATP por molécula de glicose utilizada, já que duas moléculas de ATP foram consumidas na fase preparatória. A energia também é conservada na fase de pagamento com a formação de duas moléculas do transportador de elétrons NADH por moléculas de glicose. Video: https://www.youtube.com/watch?v=aIdJSSx_4ks Página 153 A fosforilação da glicose é catalisada pela hexocinase. Cinases são enzimas que catalisam a transferência do grupo fosforil terminal do ATP a um aceptor nucleofílico. As cinases são uma subclasse das transferases. Ela geralmente, como muitas outras cinases, requer Mg21 para sua atividade. A hexocinase está presente em praticamente todos os organismos. O genoma humano codifica quatro hexocinases diferentes (I a IV), e todas catalisam a mesma reação. 22/04/2021 12 3.2 A FASE DE PAGAMENTO DA GLICÓLISE PRODUZ ATP E NADH Página 153 A fase de pagamento da glicólise inclui as etapas de fosforilação que conservam energia, nas quais parte da energia química da molécula da glicose é conservada na forma de ATP e NADH. Lembre-se de que uma molécula de glicose rende duas moléculas de gliceraldeido-3-fosfato, e as duas metades da molécula de glicose seguem a mesma via na segunda fase da glicólise. A conversão das duas moléculas de gliceraldeido-3-fosfato a duas moléculas de piruvato é acompanhada pela formação de quatro moléculas de ATP a partir de ADP. No entanto, o rendimento líquido de ATP por molécula de glicose consumida é de apenas dois, já que dois ATP foram consumidos na fase preparatória da glicólise para fosforilar as duas extremidades da molécula da hexose. 4. A CAPTAÇÃO DA GLICOSE É DEFICIENTE NO DIABETES MELITO TIPO 1 Página 153 O metabolismo de glicose em mamíferos é limitado pela taxa de captação da glicose pelas células e sua fosforilação pela hexocinase. A captação da glicose do sangue é mediada pela família GLUT de transportadores de glicose. Os transportadores nos hepatócitos (GLUT1, GLUT2) e nos neurônios cerebrais (GLUT3) estão sempre presentes nas membranas plasmáticas. Por outro lado, o principal transportador de glicose nas células do músculo esquelético, músculo cardíaco e tecido adiposo (GLUT4) está armazenado em pequenas vesículas intracelulares e se desloca para a membrana plasmática apenas em resposta a um sinal de insulina. Portanto, em músculo esquelético, coração e tecido adiposo, a captação e o metabolismo da glicose dependem da liberação normal de insulina pelas células b pancreáticas em resposta à quantidade elevada de glicose no sangue. 22/04/2021 13 4. A CAPTAÇÃO DA GLICOSE É DEFICIENTE NO DIABETES MELITO TIPO 1 Página 154 Os indivíduos com diabetes melito tipo 1 (também chamado de diabetes dependente de insulina) têm pouquíssimas células b e são incapazes de liberar insulina suficiente para desencadear a captação de glicose pelas células do músculo esquelético, do coração ou do tecido adiposo. Assim, após uma refeição contendo carboidratos, a glicose se acumula a níveis anormalmente altos no sangue, condição conhecida como hiperglicemia. Incapazes de captar glicose, o músculo e o tecido adiposo utilizam os ácidos graxos armazenados nos triacilgliceróis como seu principal combustível. No fígado, a acetil-CoA, derivada da degradação desses ácidos graxos, é convertida a “corpos cetônicos” – acetoacetato e b-hidroxibutirato – que são exportados e levados a outros tecidos para serem utilizados como combustível. Esses compostos são especialmente críticos para o cérebro, que utiliza os corpos cetônicos como combustível alternativo quando a glicose está indisponível. Em pacientes com diabetes tipo 1 não tratados, a superprodução de acetoacetato e b-hidroxibutirato leva a seu acúmulo no sangue e a consequente redução do pH sanguíneo leva à cetoacidose, uma condição potencialmente letal. 5. VIAS ALIMENTADORAS DA GLICÓLISE Página 155 Muitos carboidratos, além da glicose, encontram seus destinos catabólicos na glicólise, após serem transformados em um dos intermediários glicolíticos. Os mais significativos são os polissacarídeos de armazenamento, glicogênio e amido, contidos nas células (endógenos) ou obtidos da dieta; os dissacarídeos maltose, lactose, trealose e sacarose; e os monossacarídeos frutose, manose egalactose. 22/04/2021 14 5. VIAS ALIMENTADORAS DA GLICÓLISE Página 156 5.1. OS POLISSACARÍDEOS E OS DISSACARÍDEOS DA DIETA Página 156 Para a maioria dos seres humanos, o amido é a principal fonte de carboidratos na dieta. A digestão inicia na boca, onde a amilase salivar hidrolisa as ligações glicosídicas internas do amido, produzindo fragmentos polissacarídeos curtos ou oligossacarídeos. No estômago, a amilase salivar é inativada pelo pH baixo, mas uma segunda forma de amilase, secretada pelo pâncreas no intestino delgado, continua o processo de degradação. A amilase pancreática gera principalmente maltose e maltotriose (os di e trissacarídeos de glicose) e oligossacarídeos chamados de dextrinas-limite, fragmentos de amilopectina. A maltose e as dextrinas são degradadas até glicose por enzimas do epitélio intestinal com borda em escova (as microvilosidades das células epiteliais do intestino, que aumentam muito a área da superfície intestinal). O glicogênio da dieta tem essencialmente a mesma estrutura do amido, e sua digestão segue a mesma via. 22/04/2021 15 5.2. O GLICOGÊNIO ENDÓGENO E O AMIDO SÃO DEGRADADOS POR FOSFORÓLISE Página 157 Os estoques de glicogênio em tecidos animais (principalmente no fígado e no músculo esquelético), em microrganismos ou em tecidos vegetais podem ser mobilizados, para o uso da mesma célula, por uma reação fosfolítica catalisada pela glicogênio-fosforilase (amido-fosforilase em vegetais). A fosforólise preserva parte da energia da ligação glicosídica do ester-fosfato da glicose1-fosfato. 5.2. O GLICOGÊNIO ENDÓGENO E O AMIDO SÃO DEGRADADOS POR FOSFORÓLISE Página 157 • A quebra de polissacarídeos da dieta, como o glicogênio e o amido no trato gastrintestinal, por fosforólise, em vez de hidrólise, não produziria ganho de energia: açúcares fosfatados não são transportados para dentro das células que revestem o intestino, devendo primeiro ser desfosforilados a açúcar livre. Os dissacarídeos devem ser hidrolisados a monossacarídeos antes de entrar na célula. • Os monossacarídeos assim formados são transportados ativamente para as células epiteliais, em seguida passam para o sangue e são transportados para vários tecidos, onde são fosforilados e entram na sequência glicolítica. 22/04/2021 16 5.2. O GLICOGÊNIO ENDÓGENO E O AMIDO SÃO DEGRADADOS POR FOSFORÓLISE Página 157 • A intolerância à lactose, comum entre adultos na maior parte das populações humanas, exceto aquelas originárias do norte da Europa e alguns países da África, é devida ao desaparecimento, após a infância, da maior parte ou de toda atividade lactásica das células epiteliais intestinais. • Na ausência de lactase intestinal, a lactose não pode ser completamente digerida e absorvida no intestino delgado, passando para o intestino grosso, onde bactérias a convertem em produtos tóxicos que causam cãibras abdominais e diarreia. • O problema é ainda mais complicado porque a lactose não digerida e seus metabólitos aumentam a osmolaridade do conteúdo intestinal, favorecendo a retenção de água no intestino. • Na maioria dos lugares do mundo, onde a intolerância a lactose é prevalente, o leite não é usado como alimento para adultos, embora os produtos do leite pré- digeridos com lactase estejam comercialmente disponíveis em alguns países. • Em certas patologias humanas estão ausentes algumas ou todas as dissacaridases intestinais. Nesses casos, o distúrbio digestivo ocasionado pelos dissacarídeos da dieta pode ser minimizado por uma dieta controlada. 6. GLICONEOGÊNESE Página 158 O papel central da glicose no metabolismo permanece sendo combustível quase universal e unidade estrutural nos organismos atuais. Em mamíferos, alguns tecidos dependem quase completamente de glicose para sua energia metabólica. Para o encéfalo humano e o sistema nervoso, assim como para os eritrócitos, os testículos, a medula renal e os tecidos embrionários, a glicose do sangue é a principal ou a única fonte de combustível. Apenas o encéfalo requer em média 120 g de glicose por dia – mais da metade de toda a glicose estocada como glicogênio nos músculos e no fígado. No entanto, o suprimento de glicose a partir desses estoques não é sempre suficiente; entre as refeições e durante períodos de jejum mais longos, ou após exercício vigoroso, o glicogênio se esgota. Para esses períodos, os organismos precisam de um método para sintetizar glicose a partir de precursores que não são carboidratos. Isso é realizado por uma via chamada de gliconeogênese (“nova formação de açúcar”) é ativada quando as concentrações de glicose estão baixas. O glicogênio é um polímero de resíduos de glicose que é encontrado em todas as células animais 22/04/2021 17 6. GLICONEOGÊNESE Página 158 A gliconeogênese ocorre em todos os animais, vegetais, fungos e microrganismos. As reações são essencialmente as mesmas em todos os tecidos e em todas as espécies. Os precursores importantes da glicose em animais são compostos de três carbonos como o lactato, o piruvato e o glicerol, assim como certos aminoácidos. Em mamíferos, a gliconeogênese ocorre principalmente no fígado, e em menor extensão no córtex renal e nas células epiteliais que revestem internamente o intestino delgado. A glicose assim produzida passa para o sangue e vai suprir outros tecidos. Após exercícios vigorosos, o lactato produzido pela glicólise anaeróbia no músculo esquelético retorna para o fígado e é convertido a glicose, que volta para os músculos e é convertida a glicogênio – circuito chamado de ciclo de Cori. 6. GLICONEOGÊNESE Página 158 O lactato é produzido pelo organismo após a queima da glicose (glicólise), para o fornecimento de energia sem a presença de oxigênio (metabolismo anaeróbico láctico). Em atividades físicas de longa duração, o suprimento de oxigênio nem sempre é suficiente. 22/04/2021 18 6. GLICONEOGÊNESE Página 159 TÓPICO 2 CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO Página 163 22/04/2021 19 1. INTRODUÇÃO Página 163 A respiração celular acontece em três estágios principais. No primeiro, a glicólise, ocorre quando a glicose é transformada em duas moléculas de piruvato. No segundo estágio, o piruvato entra na mitocôndria, se une à Coenzima A e forma a Acetil – CoA. Já no terceiro estágio, chamado de cadeia respiratória, os elétrons do NADH(produção de energia celular) são enviados para a cadeia transportadora de elétrons. Grande quantidade de energia liberada é conservada na forma de ATP, por um processo chamado de fosforilação oxidativa. As atividades metabólicas das cianobactérias são responsáveis pelo aumento dos níveis de oxigênio na atmosfera terrestre, um momento decisivo na história evolutiva. 1. INTRODUÇÃO Página 163 O ciclo do ácido cítrico é um pivô do metabolismo, com vias catabólicas chegando e vias anabólicas partindo, sendo cuidadosamente regulado em coordenação com outras vias. 22/04/2021 20 1. INTRODUÇÃO Página 164 2. PRODUÇÃO DE ACETATO Página 164 Em organismos aeróbios, glicose e outros açúcares, ácidos graxos e a maioria dos aminoácidos são finalmente oxidados a CO2 e H2O pelo ciclo do ácido cítrico e pela cadeia respiratória. Antes de entrarem no ciclo do ácido cítrico, os esqueletos de carbono dos açúcares e ácidos graxos são convertidos ao grupo acetil da acetil-CoA, a forma na qual a maioria dos combustíveis entra no ciclo. Aqui, o foco será em como o piruvato, derivado da glicose e de outros açúcares pela glicólise, é oxidado a acetil-CoA e CO2 pelo complexo da piruvato desidrogenase (utilizaremos a abreviação PDH). 22/04/2021 21 2. PRODUÇÃO DE ACETATO Página 165 Cinco cofatores, quatro derivados de vitaminas, participam do mecanismo da reação. A regulação desse complexo enzimático também ilustra como uma combinação de modificações covalentes e mecanismosalostéricos resultam em um fluxo precisamente regulado em uma etapa metabólica. 2. PRODUÇÃO DE ACETATO Página 165 O piruvato será oxidado a acetil-CoA e CO2 . Essa reação geral é catalisada pelo complexo da piruvato- desidrogenase e é considerada uma descarboxilação oxidativa, um processo de oxidação irreversível. O NADH formado nessa reação doa um íon hidreto (H-) para a cadeia respiratória. A transferência de elétrons do NADH ao oxigênio gera, ao final, 2,5 moléculas de ATP por par de elétrons. 22/04/2021 22 2. PRODUÇÃO DE ACETATO Página 165 • A combinação de desidrogenação e descarboxilação do piruvato ao grupo acetil da acetil-CoA requer a ação sequencial de três enzimas diferentes e cinco coenzimas diferentes ou grupos prostéticos – pirofosfato de tiamina (TPP), dinucleotídeo de flavina-adenina (FAD), coenzima A (CoA), dinucleotídeo de nicotinamida-adenina (NAD) e lipoato. • Quatro vitaminas diferentes essenciais à nutrição humana são componentes vitais desse sistema: tiamina (no TPP), riboflavina (no FAD), niacina (no NAD) e pantotenato (na CoA). • Já sabemos que FAD e NAD têm como função serem transportadores de elétrons e verificamos que o TPP era a coenzima da piruvato-descarboxilase. 3. REAÇÕES DO CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO Página 166 Video: https://www.youtube.com/watch?v=fBsCQ_3neko 22/04/2021 23 4. O CICLO DO GLIOXILATO Página 168 Os vertebrados não conseguem converter ácidos graxos, ou o acetato derivado deles, a carboidratos. As conversões de fosfoenolpiruvato a piruvato e de piruvato a acetil-- CoA de tão exergônicas são essencialmente irreversíveis. Sem essa capacidade, portanto, uma célula ou organismo é incapaz de converter combustíveis ou metabólitos que são degradados a acetato (ácidos graxos e certos aminoácidos) em carboidratos. 4. O CICLO DO GLIOXILATO Página 168 Como os átomos de carbono das moléculas de acetato que entram no ciclo do ácido cítrico aparecem oito etapas depois no oxaloacetato, pode parecer que esta via pode produzir oxaloacetato a partir de acetato e, assim, originar fosfoenolpiruvato para a gliconeogênese. Contudo, como mostrado por um exame da estequiometria do ciclo do ácido cítrico, não há conversão líquida de acetato a oxaloacetato; nos vertebrados, para cada dois carbonos que entram no ciclo na forma de acetil- CoA, dois são liberados na forma de CO2 . Em muitos organismos que não os vertebrados, o ciclo do glioxilato funciona como mecanismo para a conversão de acetato a carboidratos. 22/04/2021 24 4. O CICLO DO GLIOXILATO Página 169 • No ciclo do glioxilato, a acetil-CoA é condensada com o oxaloacetato para formar citrato, e o citrato é convertido a isocitrato, exatamente como no ciclo do ácido cítrico. A próxima etapa, porém, não é a quebra do isocitrato, pela clivagem do isocitrato pela isocitrato-liase, formando succinato e glioxilato. • O glioxilato, então, é condensado com uma segunda molécula de acetil-CoA para a geração de malato, em uma reação catalisada pela malato-sintase. • O malato é posteriormente oxidado a oxaloacetato, o qual pode ser condensado com outra molécula de acetil-CoA para iniciar outra volta do ciclo. • Cada volta do ciclo do glioxilato consome duas moléculas de acetil-CoA e produz uma molécula de succinato, que está, então, disponível aos propósitos biossintéticos. 4. O CICLO DO GLIOXILATO Página 170 Em plantas, as enzimas do ciclo do glioxilato estão sequestradas em organelas delimitadas por membrana chamadas de glioxissomos, os quais são peroxissomos (armazenamento de enzimas) especializados. As enzimas comuns ao ciclo do ácido cítrico e do glioxilato têm duas isoenzimas, uma específica das mitocôndrias, outra específica dos glioxissomos. Os glioxissomos nem sempre estão presentes em todos os tecidos vegetais. Eles se desenvolvem nas sementes ricas em lipídios durante a germinação, antes de a planta adquirir a capacidade de produzir glicose pela fotossíntese. Além das enzimas do ciclo do glioxilato, os glioxissomos contêm todas as enzimas necessárias para a degradação dos ácidos graxos estocados nos óleos das sementes. 22/04/2021 25 TÓPICO 3 METABOLISMO DE ÁCIDOS GRAXOS E TRIGLICERÍDEOS Página 173 1. INTRODUÇÃO Página 173 A oxidação dos ácidos graxos de cadeia longa a acetil-CoA é uma via central de geração de energia em muitos organismos e tecidos. No coração e no fígado de mamíferos, por exemplo, ela fornece até 80% das necessidades energéticas em todas as circunstâncias fisiológicas. O processo repetitivo de quatro etapas, chamado de b-oxidação, por meio do qual os ácidos graxos são convertidos em acetil-CoA é o item principal deste tópico. 22/04/2021 26 1. INTRODUÇÃO Página 173 As propriedades que tornam os triacilgliceróis compostos de armazenamento adequados, no entanto, apresentam problemas em seu papel como combustível. Por serem insolúveis em água, os triacilgliceróis ingeridos devem ser emulsificados antes que possam ser digeridos por enzimas hidrossolúveis no intestino, e os triacilgliceróis absorvidos no intestino ou mobilizados dos tecidos de armazenamento devem ser carregados no sangue ligados a proteínas que neutralizam a sua insolubilidade. Para superar a relativa estabilidade das ligações C-C em um ácido graxo, o grupo carboxil do C-1 é ativado pela ligação à coenzima . 2. DIGESTÃO, MOBILIZAÇÃO E TRANSPORTE DE GORDURAS Página 174 As células podem obter combustíveis de ácidos graxos de três fontes: gorduras consumidas na dieta, gorduras armazenadas nas células como gotículas de lipídios e gorduras sintetizadas em um órgão para exportação a outro. Os vertebrados, por exemplo, obtêm gorduras na dieta, mobilizam gorduras armazenadas em tecidos especializados (tecido adiposo, consistindo em células chamadas adipócitos) e, no fígado, convertem o excesso dos carboidratos da dieta em gordura para a exportação aos outros tecidos. Em média, 40% ou mais das necessidades energéticas diárias das pessoas que vivem em países altamente industrializados são supridos pelos triacilgliceróis da dieta (embora a maioria das diretrizes nutricionais recomende que o consumo calórico diário de gorduras não ultrapasse 35%). Os triacilgliceróis fornecem mais da metade das necessidades energéticas de alguns órgãos, particularmente o fígado, o coração e a musculatura esquelética em repouso.. 22/04/2021 27 2.1. AS GORDURAS DA DIETA SÃO ABSORVIDAS NO INTESTINO DELGADO Página 175 Nos vertebrados, antes que os triacilgliceróis possam ser absorvidos através da parede intestinal, eles precisam ser convertidos de partículas de gordura macroscópicas insolúveis em micelas microscópicas finamente dispersas. Essa solubilização é realizada pelos sais biliares, como o ácido taurocólico, um ácido que é sintetizado a partir das moléculas de colesterol no fígado, armazenados na vesícula biliar e liberados no intestino delgado após a ingestão de uma refeição gordurosa. Os sais biliares são compostos anfipáticos que atuam como detergentes biológicos, convertendo as gorduras da dieta em micelas mistas de sais biliares e triacilgliceróis. A formação de micelas aumenta muito a fração das moléculas de lipídeo acessíveis à ação das lipases hidrossolúveis no intestino, e a ação das lipases converte os triacilgliceróis em monoacilgliceróis (monoglicerídeos) e diacilgliceróis (diglicerídeos), ácidos graxos livres e glicerol. Esses produtos da ação da lipase se difundem para dentro das células epiteliais que revestem a superfície intestinal (a mucosa intestinal), onde são reconvertidos em triacilgliceróis e empacotados com o colesterol da dieta e proteínas específicas em agregados de lipoproteínas chamados quilomícrons.2.1. AS GORDURAS DA DIETA SÃO ABSORVIDAS NO INTESTINO DELGADO Página 175 22/04/2021 28 2.1. AS GORDURAS DA DIETA SÃO ABSORVIDAS NO INTESTINO DELGADO Página 176 As apolipoproteínas são proteínas de ligação a lipídios no sangue, responsáveis pelo transporte de triacilgliceróis, fosfolipídios, colesterol e ésteres de colesterol entre os órgãos. Várias combinações de lipídios e proteínas produzem partículas de densidades diferentes, variando de quilomícrons e lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) a lipoproteínas de densidade muito alta (VHDL), que podem ser separadas por ultracentrifugação. VIDEO: https://www.youtube.com/watch?v=HlfkW6QJhfo&t=18s 2.1. AS GORDURAS DA DIETA SÃO ABSORVIDAS NO INTESTINO DELGADO Página 176 As porções proteicas das lipoproteínas são reconhecidas por receptores nas superfícies celulares. Na absorção de lipídios no intestino, os quilomícrons, que contêm a apolipoproteína C-II (apoC-II), deslocam- se da mucosa intestinal para o sistema linfático e então entram no sangue, que os carrega para os músculos e o tecido adiposo. Nos capilares desses tecidos, a enzima extracelular, lipase lipoproteica, ativada pela apoC-II, hidrolisa os triacilgliceróis em ácidos graxos e glicerol, absorvidos pelas células nos tecidos-alvo. No músculo, os ácidos graxos são oxidados para obter energia; no tecido adiposo, eles são reesterificados para armazenamento na forma de triacilgliceróis. 22/04/2021 29 2.1. AS GORDURAS DA DIETA SÃO ABSORVIDAS NO INTESTINO DELGADO Página 176 Os remanescentes dos quilomícrons, desprovidos da maioria dos seus triacilgliceróis, mas ainda contendo colesterol e apolipoproteínas, se deslocam pelo sangue até o fígado, onde são captados por endocitose mediada pelos receptores específicos para as suas respectivas apolipoproteínas. Os triacilgliceróis que entram no fígado por essa via podem ser oxidados para fornecer energia ou precursores para a síntese de corpos cetônicos (abordaremos a seguir). Quando a dieta contém mais ácidos graxos do que o necessário imediatamente como combustível ou como precursores, o fígado os converte em triacilgliceróis, empacotados com apolipoproteínas específicas formando VLDL (colesterol ruim). As VLDL são transportadas pelo sangue até o tecido adiposo, onde os triacilgliceróis são removidos da circulação e armazenados em gotículas lipídicas dentro dos adipócitos. 2.2. HORMÔNIOS ATIVAM A MOBILIZAÇÃO DOS TRIACILGLICERÓIS ARMAZENADOS Página 177 Quando hormônios sinalizam a necessidade de energia metabólica, os triacilgliceróis armazenados no tecido adiposo são mobilizados (retirados do armazenamento) e transportados aos tecidos (musculatura esquelética, coração e córtex renal) nos quais os ácidos graxos podem ser oxidados para a produção de energia. Os hormônios adrenalina e glucagon, secretados em resposta aos baixos níveis de glicose ou atividade iminente, estimulam a enzima adenilil ciclase na membrana plasmática dos adipócitos, que produz o segundo mensageiro intracelular AMP cíclico (cAMP). A proteína-cinase dependente de cAMP (pKA- ph ácido) leva a mudanças que abrem a gotícula de lipídeo para a atividade de três lipases, que atuam sobre tri-, di- e monoacilgliceróis, liberando ácidos graxos e glicerol. Ver figura 22/04/2021 30 2.2. HORMÔNIOS ATIVAM A MOBILIZAÇÃO DOS TRIACILGLICERÓIS ARMAZENADOS Página 177 Quando os baixos níveis de glicose no sangue ativam a liberação de adrenalina e glucagon, 1º o hormônio se liga ao seu receptor na membrana do adipócito e assim 2º estimula a adenilil-ciclase, via uma proteína G, a produzir cAMP. Isso ativa a PKA, que fosforila 3 º a lipase sensível a hormônio (HSL-promove perda de gordura) e 4 º as moléculas de perilipina na superfície da gotícula lipídica. A fosforilação da perilipina causa a 5º dissociação da proteína CGI(proteína acessória) da perilipina. A CGI então se associa com a enzima triacilglicerol lipase no adipócito (ATGL), ativando-a. A triacilglicerol lipase ativada 6º converte triacilgliceróis em diacilgliceróis. A perilipina fosforilada se associa com a lipase sensível a hormônios fosforilada, permitindo o acesso à superfície da gotícula lipídica, onde 7º ela hidrolisa os diacilgliceróis em monoacilgliceróis. Uma terceira lipase, a monoacilglicerol lipase (MGL) 8º hidrolisa os monoacilgliceróis. 9º Os ácidos graxos saem do adipócito, se ligam à albumina (proteína de transporte) sérica no sangue e são transportados no sangue; eles são liberados da albumina e 10º entram em um miócito (célula dos músculos) por meio de um transportador específico de ácidos graxos. 11º No miócito, os ácidos graxos são oxidados a CO2, e a energia da oxidação é conservada em ATP, que abastece a contração muscular e outros tipos de metabolismo que necessitam de energia no miócito. 2.2.2. Corpos cetônicos Página 180 22/04/2021 31 2.2.2. Corpos cetônicos Página 179 Em humanos, e na maior parte de outros mamíferos, o acetil-CoA formado no fígado durante a oxidação dos ácidos graxos pode entrar no ciclo do ácido cítrico ou sofrer conversão a “corpos cetônicos”, acetona e acetoacetato, para exportação a outros tecidos. A acetona, produzida em menor quantidade do que os outros corpos cetônicos, é exalada. O acetoacetato é transportado pelo sangue para outros tecidos que não o fígado (tecidos extra-hepáticos), onde são convertidos a acetil-CoA e oxidados no ciclo do ácido cítrico, fornecendo muita da energia necessária para tecidos como o músculo esquelético e cardíaco e o córtex renal. O cérebro, que usa preferencialmente glicose como combustível, pode se adaptar ao uso de acetoacetato em condições de jejum prolongado, quando a glicose não está disponível. A produção e exportação dos corpos cetônicos do fígado para tecidos extra-hepáticos permite a oxidação contínua de ácidos graxos no fígado quando acetil-CoA não está sendo oxidada no ciclo do ácido cítrico. 2.2.3 Corpos cetônicos são produzidos em excesso no diabetes e durante o jejum Página 180 O jejum e diabetes melito não tratado leva à superprodução de corpos cetônicos, com vários problemas médicos associados. Durante o jejum, a gliconeogênese consome os intermediários do ciclo do ácido cítrico, desviando acetil- CoA para a produção de corpos cetônicos. No diabetes não tratado, quando o nível de insulina é insuficiente, os tecidos extra-hepáticos não podem captar a glicose do sangue de maneira eficiente, para combustível ou para conservação como gordura. Nessas condições, os ácidos graxos entram na mitocôndria para ser degradado a acetil-CoA que não pode passar pelo ciclo do ácido cítrico, já que os intermediários do ciclo foram drenados para uso como substrato na gliconeogênese. O acúmulo resultante de acetil-CoA acelera a formação de corpos cetônicos além da capacidade de oxidação dos tecidos extra- hepáticos. 22/04/2021 32 2.2.3 Corpos cetônicos são produzidos em excesso no diabetes e durante o jejum Página 181 O aumento dos níveis sanguíneos de acetoacetato diminui o pH do sangue, causando a condição conhecida como acidose. A acidose extrema pode levar ao coma e em alguns casos à morte. Os corpos cetônicos no sangue e na urina de indivíduos com diabetes não tratado pode alcançar níveis extraordinários. Essa condição é chamada cetose. Indivíduos em dietas hipocalóricas, utilizando as gorduras armazenadas no tecido adiposo como sua principal fonte de energia, também têm níveis elevados de corpos cetônicos no sangue e na urina. Esses níveis devem ser monitorados para evitar os riscos da acidose e da cetose (cetoacidose). TÓPICO 4 METABOLISMO DE AMINOÁCIDOS Página 185 22/04/2021 33 1. INTRODUÇÃO Página 185 A fração de energia metabólica obtida a partir de aminoácidos, sejam eles provenientes de proteínas da dieta ou de proteínasteciduais, varia muito de acordo com o tipo de organismo e com as condições metabólicas. Carnívoros obtêm (imediatamente após uma refeição) até 90% de suas necessidades energéticas da oxidação de aminoácidos, enquanto herbívoros obtêm apenas uma pequena fração de suas necessidades energéticas a partir dessa via. A maior parte dos microrganismos obtém aminoácidos a partir do ambiente e os utiliza como combustível quando suas condições metabólicas assim o determinarem. Plantas, no entanto, nunca ou quase nunca oxidam aminoácidos para produzir energia; em geral, os carboidratos produzidos a partir de CO2 e H2O na fotossíntese são sua única fonte de energia. As concentrações de aminoácidos nos tecidos vegetais são cuidadosamente reguladas para satisfazer às necessidades de biossíntese de proteínas, ácidos nucleicos e outras moléculas necessárias para o crescimento. 1. INTRODUÇÃO Página 185 Nos animais, os aminoácidos sofrem degradação oxidativa em três circunstâncias metabólicas diferentes: 1. Durante a síntese e a degradação normais de proteínas celulares, alguns aminoácidos liberados pela hidrólise de proteínas não são necessários para a biossíntese de novas proteínas, sofrendo degradação oxidativa. 2. Quando uma dieta é rica em proteínas e os aminoácidos ingeridos excedem as necessidades do organismo para a síntese proteica, o excesso é catabolizado; aminoácidos não podem ser armazenados. 3. Durante o jejum ou no diabetes melito não controlado, quando os carboidratos estão indisponíveis ou são utilizados de modo inadequado, as proteínas celulares são utilizadas como combustível. 22/04/2021 34 1. INTRODUÇÃO Página 186 Uma característica importante distingue a degradação dos aminoácidos de outros processos catabólicos: todos os aminoácidos contêm um grupo amino, e as vias para a degradação dos aminoácidos incluem, portanto, uma etapa fundamental, na qual o grupo a-amino é separado do esqueleto de carbono e desviado para as vias do metabolismo do grupo amino. Serão discutidos inicialmente o metabolismo do grupo amino e a excreção do nitrogênio e, a seguir, o destino dos esqueletos de carbono derivados dos aminoácidos; 1. INTRODUÇÃO Página 186 22/04/2021 35 2. DESTINOS METABÓLICOS DOS GRUPOS AMINOS Página 187 Poucos organismos conseguem converter o N2 em formas biologicamente úteis, como NH3 , os grupos amino são cuidadosamente gerenciados nos sistemas biológicos. Os aminoácidos derivados das proteínas da dieta são a origem da maioria dos grupos amino. A maior parte dos aminoácidos é metabolizada no fígado. Parte da amônia gerada nesse processo é reciclada e utilizada em uma variedade de vias biossintéticas. O excesso é excretado diretamente ou convertido em ureia ou ácido úrico para excreção, dependendo do organismo. O excesso de amônia produzido em outros tecidos (extra-hepáticos) é enviado ao fígado (na forma de grupos amino, como descrito a seguir) para conversão em sua forma de excreção. Quatro aminoácidos desempenham papéis centrais no metabolismo do nitrogênio: glutamato, glutamina, alanina e aspartato. 2. DESTINOS METABÓLICOS DOS GRUPOS AMINOS 22/04/2021 36 2. DESTINOS METABÓLICOS DOS GRUPOS AMINOS Página 188 Esses aminoácidos, em especial, são aqueles mais facilmente convertidos em intermediários do ciclo do ácido cítrico: glutamato e glutamina que são convertidos em a-cetoglutarato; alanina em piruvato; e aspartato em oxaloacetato. No citosol das células do fígado (hepatócitos), os grupos amino da maior parte dos aminoácidos são transferidos para o a-cetoglutarato, formando glutamato, que entra na mitocôndria e perde seu grupo amino para formar NH4 . O excesso de amônia produzido na maior parte dos demais tecidos é convertido no nitrogênio, que circula até chegar ao fígado, entrando na mitocôndria hepática. Glutamina, glutamato ou ambos estão presentes na maior parte dos tecidos em concentrações mais elevadas que os demais aminoácidos. No músculo esquelético, os grupos amino que excedem as necessidades geralmente são transferidos ao piruvato para formar alanina, outra molécula importante para o transporte de grupos amino até o fígado. 2.1 AS PROTEÍNAS DA DIETA SÃO ENZIMATICAMENTE DEGRADADAS ATÉ AMINOÁCIDOS Página 188 Em humanos, a degradação das proteínas ingeridas até seus aminoácidos constituintes acontece no trato gastrintestinal. A chegada de proteínas da dieta ao estômago estimula a mucosa gástrica a secretar o hormônio gastrina, que por sua vez, estimula a secreção de ácido clorídrico e de pepsinogênio (percussores de pepsina- enzima digestória. A acidez do suco gástrico (pH 1,0 a 2,5) lhe permite funcionar tanto como antisséptico, matando a maior parte das bactérias e de outras células estranhas ao organismo, quanto como agente desnaturante, desenovelando proteínas globulares e tornando suas ligações peptídicas internas mais suscetíveis à hidrólise (quebra de moléculas) enzimática. 22/04/2021 37 2.1 AS PROTEÍNAS DA DIETA SÃO ENZIMATICAMENTE DEGRADADAS ATÉ AMINOÁCIDOS Página 188 A pepsina é uma enzima digestiva que é produzida pelas paredes do estômago, sendo ativada pelo suco gástrico, e tem como função desdobrar as proteínas em peptídeos mais simples (aminoácidos). Ela só reage em meio ácido. Por isso, o estômago também produz ácido clorídrico (HCl). No estômago, a pepsina hidrolisa as proteínas ingeridas, atuando em ligações peptídicas em que o resíduo de aminoácido localizado na porção aminoterminal provém dos aminoácidos aromáticos, clivando cadeias polipeptídicas longas em uma mistura de peptídeos menores. À medida que o conteúdo ácido do estômago passa para o intestino delgado, o pH baixo desencadeia a secreção do hormônio secretina na corrente sanguínea. A secretina estimula o pâncreas a secretar bicarbonato no intestino delgado, para neutralizar o HCl (ácido clorídrico) gástrico, aumentando abruptamente o pH, que fica próximo a 7. 2.1 AS PROTEÍNAS DA DIETA SÃO ENZIMATICAMENTE DEGRADADAS ATÉ AMINOÁCIDOS Página 189 A digestão das proteínas prossegue agora no intestino delgado. A chegada de aminoácidos na parte superior do intestino delgado (duodeno) determina a liberação da secreção de diversas enzimas pancreáticas com atividades ótimas em pH 7 a 8. Os percursores da tripsina, da quimotripsina e das carboxipeptidases – enzimas pancreáticas, são sintetizados e secretados pelas células exócrinas do pâncreas. A tripsina livre catalisa então a conversão de moléculas adicionais de tripsinogênio em tripsina. 22/04/2021 38 2.1 AS PROTEÍNAS DA DIETA SÃO ENZIMATICAMENTE DEGRADADAS ATÉ AMINOÁCIDOS Página 190 A tripsina e a quimotripsina continuam a hidrólise dos peptídeos produzidos pela pepsina no estômago. A degradação de pequenos peptídeos no intestino delgado é então completada por outras peptidases intestinais. A mistura resultante de aminoácidos livre é transportada para dentro das células epiteliais que revestem o intestino delgado através dos quais os aminoácidos entram nos capilares sanguíneos nas vilosidades e são transportados até o fígado. Nos humanos, a maior parte das proteínas a partir de animais é hidrolisada quase completamente até aminoácidos no trato gastrintestinal, mas algumas proteínas fibrosas, como a queratina, são digeridas apenas parcialmente. Além disso, o conteúdo proteico de alguns alimentos obtidos a partir de vegetais está protegido contra a degradação por envoltórios não digeríveis de celulose. 2.2 O GLUTAMATO LIBERA SEU GRUPO AMINO NA FORMA DE AMÔNIA Página 190 Como já vimos, os grupos amino de muitos aminoácidos são coletados no fígado, na forma do grupo amino de moléculas de glutamato. Esses grupos amino devem ser removidos do glutamatoe preparados para excreção. Nos hepatócitos, o glutamato é transportado do citosol para a mitocôndria. 22/04/2021 39 2.2 O GLUTAMATO LIBERA SEU GRUPO AMINO NA FORMA DE AMÔNIA 2.3 A GLUTAMINA TRANSPORTA A AMÔNIA NA CORRENTE SANGUÍNEA Página 192 A amônia é bastante tóxica para os tecidos animais e seus níveis no sangue são regulados. Essa toxicidade é devido ao amento da acidose metabólica que a amônia causa, o que gera uma concentração maior de H+ no sangue, gerando diversos efeitos colaterais para o organismo. Em muitos tecidos, incluindo o cérebro, alguns processos, como a degradação de nucleotídeos, geram amônia livre. Na maioria dos animais, a maior parte dessa amônia livre é convertida em um composto não tóxico antes de ser exportada dos tecidos extra-hepáticos para o sangue e transportada até o fígado ou até os rins. A amônia livre produzida nos tecidos combina-se com o glutamato, produzindo glutamina, pela ação da glutamina-sintetase. 22/04/2021 40 2.3 A GLUTAMINA TRANSPORTA A AMÔNIA NA CORRENTE SANGUÍNEA Página 192 2.3 A GLUTAMINA TRANSPORTA A AMÔNIA NA CORRENTE SANGUÍNEA Página 192 Na maioria dos animais terrestres, a glutamina que excede as necessidades de biossíntese é transportada pelo sangue para o intestino, o fígado e os rins, para ser processada. Nesses tecidos, o nitrogênio é liberado como íon amônio na mitocôndria, onde a enzima glutaminase converte glutamina em glutamato e NH4. O NH4 do intestino e dos rins é transportado no sangue para o fígado. No fígado, a amônia de todas essas fontes é utilizada na síntese da ureia. Parte do glutamato produzido na reação da glutaminase pode ser adicionalmente processado no fígado pela glutamato- desidrogenase, liberando mais amônia e produzindo esqueletos de carbono para utilização como combustível. Contudo, a maior parte do glutamato entra em reações de transaminação necessárias para a biossíntese de aminoácidos e para outros processos. 22/04/2021 41 2.4 A ALANINA TRANSPORTA A AMÔNIA DOS MÚSCULOS ESQUELÉTICOS PARA O FÍGADO Página 193 A alanina também desempenha um papel especial no transporte dos grupos amino para o fígado em uma forma não tóxica, por meio de uma via denominada ciclo da glicose-alanina. No músculo e em alguns outros tecidos que degradam aminoácidos como combustíveis, os grupos amino são coletados na forma de glutamato, por transaminação. O glutamato pode ser convertido em glutamina para transporte ao fígado, como descrito anteriormente, ou pode transferir seu grupo a-amino para o piruvato, produto da glicólise muscular facilmente disponível, pela ação da alanina-aminotransferase. A alanina produzida passa para o sangue e segue para o fígado. No citosol dos hepatócitos, a alanina-aminotransferase transfere o grupo amino da alanina para o a- cetoglutarato, formando piruvato e glutamato. O glutamato entra na mitocôndria, onde a reação da glutamato-desidrogenase libera NH4 ou sofre transaminação com o oxaloacetato para formar aspartato, outro doador de nitrogênio para a síntese de ureia. 2.4 A ALANINA TRANSPORTA A AMÔNIA DOS MÚSCULOS ESQUELÉTICOS PARA O FÍGADO Página 194 A utilização de alanina para o transporte da amônia dos músculos esqueléticos para o fígado é outro exemplo da economia intrínseca dos organismos vivos. Os músculos esqueléticos em contração vigorosa operam anaerobiamente, produzindo piruvato e lactato pela glicólise, assim como amônia pela degradação proteica. De algum modo, esses produtos devem chegar ao fígado, onde o piruvato e o lactato são incorporados na glicose, que volta aos músculos, e a amônia é convertida em ureia para excreção. O ciclo da glicose- alanina, em conjunto com o ciclo de Cori, realiza essa operação. O custo energético da gliconeogênese é assim imposto ao fígado e não ao músculo, e todo o ATP disponível no músculo é destinado à contração muscular. 22/04/2021 42 2.4 A ALANINA TRANSPORTA A AMÔNIA DOS MÚSCULOS ESQUELÉTICOS PARA O FÍGADO Página 194 2.5. A AMÔNIA É TÓXICA PARA OS ANIMAIS Página 194 A produção catabólica de amônia impõe um sério problema bioquímico, por ser muito tóxica. A base molecular para essa toxicidade não é completamente compreendida. Os estágios finais da intoxicação por amônia em humanos são caracterizados por indução de um estado de coma, acompanhado por edema cerebral (aumento no conteúdo de água do cérebro) e aumento da pressão intracraniana, de modo que pesquisas e especulações em torno da intoxicação por amônia têm sido focalizadas nesse tecido. 22/04/2021 43 2.5. A AMÔNIA É TÓXICA PARA OS ANIMAIS Página 195 A amônia facilmente cruza a barreira hematoencefálica, de modo que qualquer condição que aumente os níveis de amônia na circulação sanguínea e também no cérebro. O cérebro em desenvolvimento é mais suscetível aos efeitos danosos do íon amônio que o cérebro adulto. Os danos causados pela toxicidade do amônio incluem perda de neurônios, alteração na formação de sinapses e deficiência geral no metabolismo energético celular. 2.6 EXCREÇÕES DE NITROGÊNIO E CICLO DA UREIA Página 195 Se não forem reutilizados para a síntese de novos aminoácidos ou de outros produtos nitrogenados, os grupos amino são canalizados em um único produto de excreção. A maioria das espécies aquáticas, como os peixes ósseos, é amoniotélica e excreta o nitrogênio amínico como amônia. A amônia tóxica é simplesmente diluída na água do ambiente. Os animais terrestres necessitam de vias para a excreção do nitrogênio que minimizem a toxicidade e a perda de água. 22/04/2021 44 2.6 EXCREÇÕES DE NITROGÊNIO E CICLO DA UREIA Página 195 As plantas reciclam praticamente todos os grupos amino, e a excreção de nitrogênio ocorre apenas em circunstâncias muito incomuns. Nos organismos ureotélicos, a amônia depositada na mitocôndria dos hepatócitos é convertida em ureia no ciclo da ureia. Essa via foi descoberta em 1932, por Hans Krebs (que mais tarde também descobriu o ciclo do ácido cítrico) e seu colaborador, Kurt, estudante de medicina. A produção de ureia ocorre quase exclusivamente no fígado, sendo o destino da maior parte da amônia canalizada para esse órgão. A ureia passa para a circulação sanguínea e chega aos rins, sendo excretada na urina. 2.7 A UREIA É PRODUZIDA A PARTIR DA AMÔNIA Página 195 O ciclo da ureia inicia dentro da mitocôndria hepática, mas três de suas etapas seguintes ocorrem no citosol; o ciclo abrange dois compartimentos celulares. O primeiro grupo amino que entra no ciclo da ureia é derivado da amônia na matriz mitocondrial. O fígado também recebe parte da amônia pela veia porta, sendo essa amônia produzida no intestino pela oxidação bacteriana de aminoácidos. Qualquer que seja sua fonte, o NH4 presente na mitocôndria hepática é utilizado imediatamente, juntamente ao CO2 produzido pela respiração mitocondrial, para formar carbamoil-fosfato na matriz. Essa reação é dependente de ATP, sendo catalisada pela carbamoil-fosfato-sintetase I, enzima regulatória. Video: https://www.youtube.com/watch?v=BNb8PSkHgAU 22/04/2021 45 2.8 DEFEITOS GENÉTICOS DO CICLO DA UREIA PODEM SER FATAIS Página 197 Pessoas com defeitos genéticos em qualquer das enzimas envolvidas na formação de ureia não toleram dietas ricas em proteína. Os aminoácidos ingeridos em excesso, além das necessidades mínimas diárias para a síntese proteica, são desaminados no fígado, produzindo amônia livre, que não pode ser convertida em ureia para ser exportada para a corrente sanguínea e, como já foi frisado, a amônia é altamente tóxica. A ausência de uma enzima do ciclo da ureia pode resultar em hiperamonemia ou no aumento de um ou mais intermediários do ciclo da ureia, dependendo da enzima queestiver faltando. Uma vez que a maioria das etapas do ciclo da ureia é irreversível, a ausência de uma atividade enzimática frequentemente pode ser identificada pela determinação de qual intermediário do ciclo está presente em concentrações especialmente altas no sangue e/ou na urina. Embora a degradação dos aminoácidos possa apresentar sérios problemas para a saúde das pessoas com deficiências no ciclo da ureia, uma dieta desprovida de proteínas não é uma opção de tratamento. Humanos são incapazes de sintetizar metade dos vinte aminoácidos proteicos, e esses aminoácidos essenciais devem estar presentes na dieta. Uma variedade de tratamentos é disponibilizada para pessoas com defeitos no ciclo da ureia. A administração cuidadosa na dieta dos ácidos aromáticos benzoato ou fenilbutirato pode ajudar a diminuir os níveis de amônia no sangue. 2.9 VIAS DE DEGRADAÇÃO DOS AMINOÁCIDOS Página 197 As vias do catabolismo dos aminoácidos, em conjunto, representam normalmente apenas 10 a 15% da produção de energia no organismo humano; essas vias são bem menos ativas que a glicólise e a oxidação dos ácidos graxos. As 20 vias catabólicas convergem para formar apenas seis produtos principais, os quais podem entrar no ciclo do ácido cítrico. Desse ponto, os esqueletos de carbono tomam vias distintas, sendo direcionados para a gliconeogênese ou para a cetogênese, ou oxidados completamente a CO2 e H2O. Sete dos aminoácidos podem ter seus esqueletos de carbono, total ou parcialmente, degradados para produzir acetil-CoA. Cinco aminoácidos são convertidos em a-cetoglutarato, quatro em succinil-CoA, dois em fumarato e dois em oxaloacetato. Seis aminoácidos têm seu esqueleto carbonado, total ou parcialmente, convertido em piruvato, o qual pode ser transformado em acetilCoA ou em oxaloacetato. 22/04/2021 46 2.9 VIAS DE DEGRADAÇÃO DOS AMINOÁCIDOS Página 198 2.10. O CATABOLISMO DA FENILALANINA / FENILCETONÚRIA Página 198 Considerando que muitos aminoácidos são neurotransmissores, ou precursores de neurotransmissores, ou antagonistas deles, não é de surpreender que defeitos genéticos no metabolismo dos aminoácidos possam causar prejuízo no desenvolvimento neural e deficiência intelectual. Em muitas dessas doenças, intermediários específicos se acumulam. Por exemplo, um defeito genético na fenilalanina-hidroxilase, a primeira enzima na via catabólica da fenilalanina, é responsável pela doença fenilcetonúria (PKU), a causa mais comum de níveis elevados de fenilalanina no sangue (hiperfenilalaninemia). 22/04/2021 47 2.10. O CATABOLISMO DA FENILALANINA / FENILCETONÚRIA Página 199 A fenilcetonúria (PKU) é o mais comum erro inato do metabolismo. É causada pela deficiência da atividade da enzima fenilalanina hidroxilase (PAH) ou seu cofator, a tetrahidrobiopterina (BH4), causando o acúmulo de fenilalanina (PHE), por não se transformar em tirosina, e formando fenilcetonas por rotas metabólicas alternativas. Se não houver um tratamento precoce, pacientes fenilcetonúricos desenvolvem graus variáveis de danos neurológicos, mas os mecanismos pelos quais a fenilalanina provoca lesão cerebral ainda não estão completamente elucidados. 2.10. O CATABOLISMO DA FENILALANINA / FENILCETONÚRIA Página 199 Em pessoas com PKU, uma rota secundária do metabolismo da fenilalanina, normalmente pouco utilizada, passa a desempenhar um papel mais proeminente. Nessa rota, a fenilalanina sofre transaminação com o piruvato, produzindo fenilpiruvato. A fenilalanina e o fenilpiruvato acumulam-se no sangue e nos tecidos e são excretados na urina – daí o nome “fenilcetonúria”. Uma quantidade considerável de fenilpiruvato não é excretada como tal, mas sofre descarboxilação a fenilacetato ou redução a fenil- lactato. O fenilacetato confere à urina um odor característico, tradicionalmente utilizado por enfermeiros para detectar PKU em bebês. 22/04/2021 48 2.10. O CATABOLISMO DA FENILALANINA / FENILCETONÚRIA Página 199 O acúmulo de fenilalanina ou de seus metabólitos no início da vida prejudica o desenvolvimento normal do cérebro, causando grave deficiência intelectual. Isso pode ser causado pelo excesso de fenilalanina, que compete com outros aminoácidos pelo transporte através da barreira hematoencefálica, resultando em déficit de metabólitos necessários. A fenilcetonúria está entre os primeiros defeitos metabólicos herdados do metabolismo descobertos em humanos. Quando essa condição é identificada nos primeiros dias de vida, a deficiência intelectual pode ser prevenida pelo controle rígido da dieta, a qual deve suprir fenilalanina apenas suficiente para atender às necessidades de síntese proteica. O consumo de alimentos ricos em proteínas deve ser reduzido. Proteínas naturais, como a caseína do leite, devem ser primeiramente hidrolisadas e boa parte da fenilalanina deve ser removida para que o paciente receba uma dieta adequada, pelo menos durante toda a sua infância. TÓPICO 5 METABOLISMO DE NUCLEOTÍDEOS Página 203 22/04/2021 49 2. BIOSSÍNTESE DE NUCLEOTÍDEOS Página 203 O nitrogênio perde apenas para o carbono, o hidrogênio e o oxigênio em sua contribuição para a massa dos sistemas vivos. A maior parte desse nitrogênio está ligada à estrutura de aminoácidos e nucleotídeos. Os nucleotídeos apresentam uma variedade de importantes funções em todas as células. Eles são precursores do DNA e do RNA; são carreadores essenciais de energia química – papel desempenhado basicamente pelo ATP e, em parte, pelo GTP; são componentes dos cofatores NAD, FAD, coenzima A, assim como de intermediários biossintéticos ativados, como UDP- glicose (precursor do glicogênio) e CDP- diacilglicerol (enzima catalisadora); e alguns deles, como o cAMP e o cGMP, são também segundos mensageiros celulares. 2. BIOSSÍNTESE DE NUCLEOTÍDEOS Página 203 Dois tipos de vias levam aos nucleotídeos: as vias de novo e as vias de salvação. A síntese de novo dos nucleotídeos inicia com seus precursores metabólicos: aminoácidos, ribose-5-fosfato, CO2 e NH3 . As vias de salvação reciclam as bases livres e os nucleosídeos liberados a partir da degradação de ácidos nucleicos. Ambos os tipos de vias são importantes no metabolismo celular. As vias de novo para a biossíntese de purinas e pirimidinas parecem ser quase idênticas em todos os organismos vivos. Como já vimos, as pirimidinas são representadas pelas bases nitrogenadas Citosina, Timina e Uracila, enquanto as purinas são representadas pela Adenina e Guanina. Embora as bases livres não sejam intermediárias nas vias de novo, elas são intermediárias em algumas das vias de salvação (que podem ser a reconstrução a partir de bases, ou a fosforilação de nucleosídeos liberados na quebra dos ácidos nucléicos). 22/04/2021 50 2. BIOSSÍNTESE DE NUCLEOTÍDEOS Página 203 Diversos precursores importantes são compartilhados pelas vias de novo para a síntese de pirimidinas e purinas. O fosforribosil- pirofosfato (PRPP) é importante para a síntese de ambas e, nessas vias, a estrutura da ribose é mantida no nucleotídeo produzido, ao contrário do seu destino nas vias para a biossíntese de triptofano e histidina. Um aminoácido é um precursor importante em cada tipo de via: a glicina para as purinas e o aspartato para as pirimidinas. A glutamina é, novamente, a mais importante fonte de grupos amina. O aspartato também é utilizado como fonte de um grupo amino em dois dos passos das vias das purinas. 2. BIOSSÍNTESE DE NUCLEOTÍDEOS Página 204 22/04/2021 51 2.1 A SÍNTESE DE NOVO DE NUCLEOTÍDEOS PÚRICOS Página 204 Os dois nucleotídeos púricos precursores dos ácidos nucleicos são 59-monofosfato de adenosina (AMP; adenilato) e 59- monofosfato de guanosina (GMP; guanilato), os quais contêm as bases púricas adenina e guanina. 2.1 A SÍNTESEDE NOVO DE NUCLEOTÍDEOS PÚRICOS Página 205 A biossíntese de nucleotídeos púricos é regulada por retroalimentação negativa, sendo que estas cooperam na regulação da velocidade geral da síntese de novo e das velocidades relativas de formação dos dois produtos, adenilato e guanilato. 22/04/2021 52 2.1 A SÍNTESE DE NOVO DE NUCLEOTÍDEOS PÚRICOS Página 205 2.2 BASES PÚRICAS E PIRIMÍDICAS SÃO RECICLADAS POR VIAS DE SALVAÇÃO Página 207 As bases púricas e pirimídicas livres são constantemente liberadas nas células durante a degradação metabólica dos nucleotídeos. As purinas livres são, em grande parte, salvas e reutilizadas para sintetizar nucleotídeos, em uma via muito mais simples que a síntese de novo dos nucleotídeos púricos. Uma das principais vias de salvação consiste em uma única reação, catalisada pela adenosina-fosforribosil- transferase, na qual adenina livre reage com PRPP para produzir o correspondente nucleotídeo da adenina. Existe uma via de salvação semelhante para bases pirimídicas em microrganismos e, possivelmente, em mamíferos. 22/04/2021 53 2.2 BASES PÚRICAS E PIRIMÍDICAS SÃO RECICLADAS POR VIAS DE SALVAÇÃO Página 207 Um defeito genético na atividade da hipoxantina- guanina-fosforribosil transferase, observado quase exclusivamente em crianças do sexo masculino, resulta no conjunto de sintomas denominado síndrome de Lesch-Nyhan. Crianças com essa doença genética, que se manifesta em torno dos dois anos, apresentam, algumas vezes, baixa coordenação motora e deficiência intelectual. Além disso, são extremamente agressivas e mostram tendências à compulsão autodestrutiva: apresentam automutilação, mordendo dedos, artelhos e lábios. Os efeitos devastadores da síndrome de Lesch-Nyhan ilustram a importância das vias de salvação. Hipoxantina e guanina surgem constantemente da degradação dos ácidos nucleicos. Na ausência da hipoxantina-guanina-fosforribosil- transferase, os níveis de PRPP aumentam e ocorre uma superprodução de purinas pela via de novo, resultando na produção de altos níveis de ácido úrico e lesão tecidual semelhante à da gota (caracterizada pela elevação de ácido úrico no sangue, o que leva a um depósito de cristais de monourato de sódio nas articulações). O cérebro é especialmente dependente das vias de salvação e isso pode ser a causa da lesão do sistema nervoso em crianças com síndrome de Lesch Nyhan. Essa síndrome é outro alvo potencial para a terapia gênica, consiste em transferir a versão funcional do gene para o organismo portador da doença, de modo a reparar o defeito. Página 207 FIM DA DISCIPLINA E BOA SORTE NAS PROVAS! VOCÊS SÃO CAPAZES!!
Compartilhar