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O PAPEL DA ESCOLA: Suas possibilidades de Ação contra a violência doméstica infantil THE ROLE OF THE SCHOOL: Its possibilities for Action against Child Domestic Violence Luana Pereira de O. Lima ; Juliana Mª de Moura Silva ; Hellen Dayane C. Ferreira ; José 1 2 3 Carlos Ferreira . 4 RESUMO : O presente artigo tem como tema Violência doméstica infantil. Possibilidade de ação dos professores. Nosso objetivo foi compreender quais as possibilidades de ação dos professores diante dos casos de violência doméstica sofrida por seus alunos. Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica pautando-se em uma abordagem qualitativa de pesquisa, na qual ao longo do trabalho levantamos a seguinte questão: Como a lei, a escola e o professor podem amparar crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica? Como resposta concluímos que a lei como instrumento máximo de garantia dos direitos, atua em função de respaldar o trabalho das escolas e professores em casos de denúncias de violência contra crianças e adolescentes. E que o trabalho em conjunto desses agentes da sociedade, deve estar voltado ao desenvolvimento de estratégias eficazes na ampliação do tema, elaborando ações de combate, controle e ajuda. PALAVRAS – CHAVE : Estatuto da Criança e do Adolescente. Escola. Violência Doméstica. Professor. ABSTRACT : The present article has as its theme Child Domestic Violence. Possibility of teachers' action. Our objective was to understand what are the possibilities of teachers' actions when faced with cases of domestic violence suffered by their students. To do so, a bibliographic research was carried out based on a qualitative research approach, in which throughout the work we raised the following question: How can the law, the school and the teacher support children and adolescents who are victims of domestic violence? As an answer, we concluded that the law, as the maximum instrument to guarantee rights, acts as a support to the work of schools and teachers in cases of violence against children and adolescents. And that the joint work of these agents of society should be focused on the development of effective strategies in the expansion of the theme, elaborating actions to combat, control and help. KEYWORDS : Statute of the Child and Adolescent. School. Domestic Violence. Teacher. 4 Mestrando-FUNIBER- SC; Psicopedagogo-UNIVERSO, Recife-PE; Especialista-FUNESO, Olinda-PE; Pedagogo-FUNESO, Olinda-PE 3 Graduanda em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – Polo Recife. E-mail: Julimaisgeo@gmail.com 2 Graduanda em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – Polo Recife. E-mail: heelendayanee@gmail.com 1 Graduanda em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – Polo Recife. E-mail: luanapereira.olima@gmail.com INTRODUÇÃO A violência doméstica infantil é uma realidade que se constitui em um problema de saúde pública, que acarreta danos de natureza física e psicológica as suas vítimas. Esse tipo de violência abrange os maus-tratos físico e emocional, abuso sexual, e a negligência, que diz respeito à falta de todos os cuidados necessários para a garantia do bem estar da criança e do adolescente. As consequências da violência doméstica em crianças e adolescentes podem ser percebidas ao longo do seu desenvolvimento cognitivo e comportamental, ocasionando emoções negativas e problemas com autoestima. Nesse sentido, sofrer episódios constantes de violência doméstica durante a infância reflete negativamente no dia a dia das vítimas e em suas ações futuras. A violência doméstica ocorre como sabemos, no ambiente familiar, dentro de casa. Esse ambiente que deveria ser um lugar de segurança e apoio para crianças e adolescentes se torna mediante a violência, um local de perigo e desamparo. Dentro de casa, essas vítimas são obrigadas a conviver com seu agressor e silenciar-se diante da agressão sofrida. Essa situação infelizmente apresenta consequências extremamente prejudiciais, levando a vítima a isolar-se cada vez mais, afetando diretamente suas funções cognitivas e emocionais, seu rendimento escolar e sua vida social. A violência contra crianças “é apontada como uma das principais causas de morbi-mortalidade na infância” (Costa et al ., 2010). Para os autores, é de responsabilidade de todos os profissionais que tratam diretamente com esse público, inclusive os professores, identificar e notificar esses casos aos órgãos competentes. Com base nesse contexto, responderemos a seguinte questão: Como a lei, a escola e o professor podem amparar crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica? Nesse sentido, a hipótese levantada foi compreender que a lei como instrumento máximo de garantia dos direitos, atua em função de respaldar o trabalho das escolas e professores em casos de denúncias de violência contra crianças e adolescentes. E que o trabalho em conjunto desses agentes da sociedade, deve estar voltado ao desenvolvimento de estratégias eficazes na ampliação do tema, elaborando ações de combate, controle e ajuda. O objetivo geral deste trabalho é compreender quais as possibilidades de ação dos professores diante dos casos de violência doméstica sofrida por seus alunos. E como objetivos específicos, iremos refletir sobre o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em relação à proteção destes; o papel da escola no trabalho ao combate e prevençaõ da violência doméstica infantil e compreender a importância do professor no enfrentamento a violência doméstica infantil. Para chegarmos aos nossos objetivos, optamos por uma abordagem qualitativa, através de pesquisa bibliográfica, analisando diferentes interpretações com o intuito de compreender melhor o tema escolhido. Segundo Serapioni (2000), a pesquisa qualitativa auxilia no trabalho de construção do objeto estudado, revela novas dimensões envolvendo o problema, permitindo estabelecer e comprovar novas hipóteses. Por fim, este trabalho justifica-se pela importância de entender melhor sobre como a lei, a escola e a ação dos professores, atuam em conjunto como uma rede de proteção para crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica. Esses pontos nos permitiram refletir sobre a importância de insistir na construção e aprimoramento das ações que impeçam este tipo de violência cometida no âmbito familiar, sempre com o intuito de garantir a proteção integral da criança e do adolescente. 1 ECA E A PROTEÇÃO INTEGRAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE A violência é interpretada como o desrespeito aos direitos humanos hoje reconhecidos. A criança historicamente, em face de sua fragilidade física e psíquica perante o adulto, principalmente nos primeiros anos de vida, vem sendo reservada a cruel posição de vítima. Porém, sendo a sociedade passiva de mudanças socioculturais, o sentido de infância e a inserção desse grupo social como “sujeitos de direito” (BRASIL, 2008), refletiram-se na mobilização de diferentes esferas da sociedade, no sentido de promoverem princípios legais quegarantissem de fato os direitos e proteção de crianças e adolescentes. Nesse sentido, um dos principais marcos legais que protegem crianças e adolescentes é o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), aprovado pelo senado em 13 de junho de 1990, a lei 8.069 que tem como princípio fundamental a proteção integral das crianças e adolescentes, deixa expresso em seu art. 5º que “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”. (BRASIL, 1990). Sendo dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar com absoluta prioridade os direitos inerentes a estas crianças e adolescentes. (BRASIL, 1990). O ECA caracteriza-se como um instrumento de mudança perante uma sociedade que por muito tempo excluiu os menores, fazendo com que estes vivessem em uma realidade que não supria com suas necessidades. A lei 8.069, colocou a criança e o adolescente em lugar de destaque, proporcionando-lhes direitos até então inexistentes. Art. 3o A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (BRASIL, 1990) Art. 15 A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. Com o advento do ECA, a proteção de crianças e adolescentes se tornou uma preocupação conjunta de todas as esferas da sociedade, representando para estes mudanças significativas enquanto sujeitos de direitos. Ao longo do ECA percebemos que a violência é concebida de forma genérica (com ressalva para o art. 5º), entretanto, a violação de qualquer norma nele estabelecida, se configura como violência perante a lei. Desse modo, Art.17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente. (BRASIL, 1990) Nesse sentido, é importante ressaltarmos que pelo princípio de proteção integral, todos são responsáveis pela proteção e bem-estar das crianças e adolescentes. Porém, em se tratando de violência doméstica, principalmente quando acometida pelos próprios familiares, quais medidas de proteção o ECA garante as crianças e adolescentes? A família é considerada a primeira instância responsável por assegurar a proteção necessária que o menor precisa, no art. 19 do ECA (1990), está exposto que “ toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, (...)”. (Brasil, 1990). O direito à convivência familiar diz respeito à formação do menor, prevalecendo seus direitos e seu pleno desenvolvimento. Quando a família não assegura a proteção da criança e do adolescente, cabe ao Estado, à comunidade e a sociedade em geral, garantir que as leis sejam aplicadas. A saber, Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: I - maus-tratos envolvendo seus alunos; II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares; III - elevados níveis de repetência. Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão atuar de forma articulada na elaboração de políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante e difundir formas não violentas de educação de crianças e de adolescentes. Art. 70-B - Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela comunicação de que trata este artigo, as pessoas encarregadas, por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão ou ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de crianças e adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o injustificado retardamento ou omissão, culposos ou dolosos. Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; III - em razão de sua conduta. Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente: Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. Além disso, existem as medidas aplicáveis aos pais e responsáveis, previstas nos arts. 129 e 130, que são tomadas quando estes não dispõem de condições financeiras, psicológicas ou quando existir a hipótese de violência contra crianças e adolescentes. At. 129 São medidas aplicáveis aos pais ou responsável: I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família; (Redação dada dada pela Lei nº 13.257, de 2016) II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e aproveitamento escolar; VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado; VII - advertência; VIII - perda da guarda; IX - destituição da tutela; X - suspensão ou destituição do poder familiar Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum. Por fim, como representação da sociedade na proteção e garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes, temos o Conselho Tutelar, que exerce um papel importante contra qualquer ação ou omissão por parte do Estado e da família do menor, que posso resultar na violação desses direitos. Nesse sentido, de acordo com o ECA, Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanentee autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei. Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante da administração pública local (...). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm#art34 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm#art34 Quando criado, o órgão não pode ser extinto, mediante a autonomia que exerce. Além disso, o Conselho tutelar possui dependência no exercício de suas atribuições, é de sua competência, aconselhar pais, responsáveis e professores, requisição de serviços públicos, como também, o encaminhamento ao Ministério Público de qualquer notícia de infração contra os direitos da criança e do adolescente. O Conselho Tutelar diante de inúmeras funções atua como um “facilitador na elaboração e no acompanhamento de Políticas Públicas, trabalhando em conjunto com Conselhos dos Direitos Municipais e Estaduais, ao Poder Executivo e ao Poder Legislativo”. (OAB Paraná, 2017). 2 COMBATE NO ÂMBITO ESCOLAR AOS MAUS TRATOS DA CRIANÇA A escola é o lugar onde os indivíduos passam boa parte da infância e da adolescência. E esse espaço além de proporcionar instrução e educação assume juntamente com a comunidade, a função de garantir os direitos das crianças e dos adolescentes, como constantes na lei. Esse espaço, segundo Santos (2014), tem o dever de proporcionar um ambiente de respeito, socialização e aprendizado, tendo em vista o desenvolvimento integral das crianças e adolescentes. A frequência diária das crianças nas escolas faz com que este local seja considerado privilegiado, no processo de identificar e intervir em casos de violência doméstica sofrida por seus alunos (Santos, 2014). Quando uma criança ou adolescente estão sofrendo algum tipo de violência, é na escola que eles começam a dar sinais de que algo errado está acontecendo, seja através do seu comportamento com os demais, ou a queda no rendimento escolar. Nesse sentido, segundo (UNICEF Brasil, 2019), é nessa instituição (escola) que eles vivem longos períodos de suas vidas. Além de espaço de aprendizagem, a escola é também de relações, de afetos, de valores, de cultura e de direitos, que devem estar refletidos em seu projeto pedagógico, seu currículo, suas práticas e seus sujeitos. É de responsabilidade de toda equipe escolar, principalmente do profissional que está dentro da sala de aula, ficarem alertas constantemente para os possíveis sinais de violência que o aluno esteja sofrendo. Entretanto, é de extrema importância que para lidar com a identificação de casos de violência doméstica, seja necessário um conhecimento prévio sobre o assunto, tanto de maneira pedagógica, quanto sobre as leis que garantem os direitos das crianças e dos adolescentes. (Santos, 2014). No ECA (1990), em seu art. 56, como já mencionado, fica fundamentado o dever das instituições de ensino fundamental, comunicar os casos de maus-tratos, faltas, evasão escolar e elevados níveis de repetências, ao Conselho Tutelar. Ou seja, a escola é concebida como um ponto de referência para a identificação de situações de violência. É no ambiente escolar que os alunos que vivem em situação de violência doméstica, precisam encontrar um porto seguro que viabilize a este menor, ações que visem interromper este tipo de violência. A escola como órgão de proteção e fiscalização dos direitos das crianças e dos adolescentes, deverá tomar todas as medidas cabíveis para que sejam feitas as intervenções necessárias. (Santos, 2014). Devido à importância que exerce na vida das crianças e adolescentes, a escola não pode ser omissa quando relatados os casos de violência doméstica (Santos, 2014). Embora a identificação de sinais de violência e a abordagem das vítimas seja um processo delicado e que requer o devido cuidado, a escola tem um papel fundamental na prevenção da violência familiar. É preciso a colaboração de todos que estão presentes neste espaço, no intuito de mover ações para que seus alunos deixem de serem vítimas desses abusos. Ainda segundo Santos (2014), a ação principal da escola é fazer com que a equipe escolar, e principalmente o professor, reflitam sobre a violência para que de forma conjunta elaborem estratégias de combate e prevenção, garantindo assim os direitos a proteção integral da criança e do adolescente. É evidente que a escola por vezes ultrapassa a fronteira do ensino-aprendizagem, ou seja, sua atuação corrobora, principalmente, no que diz respeito ao progresso do desenvolvimento cognitivo e social dos indivíduos. A escola sozinha, ainda não é capaz de acabar com a violência doméstica sofrida por seus alunos, entretanto, este espaço privilegiado sempre procura formas de desenvolver ações educativas e preventivas, a fim de romper o ciclo da violência. Para Santos (2014), o Projeto Político Pedagógico (PPP), é um dos principais instrumentos que pode ser utilizado pela escola na definição de medidas contra a violência infanto-juvenil. É importante que na construção do PPP, se inclua a temática de violência doméstica, bem como as ações de combate e prevenção por parte de toda a comunidade escolar. A escola é a instituição social que mais possibilita ao indivíduo o desenvolvimento integral de suas habilidades cognitivas e sociais. São inúmeras as contribuições da escola, quando o assunto é o combate à violação dos direitos das crianças e dos adolescentes. É imprescindível que neste espaço prevaleça o trabalho de conscientização que inclua toda a comunidade escolar, pois, na ocorrência da identificação de casos de violência, esses alunos possam ser incluídos em uma rede de proteção (Santos, 2014). É importante que se estabeleça uma relação de confiança entre escola e aluno, sendo o papel do professor de suma importância na identificação, acolhimento e escuta desse aluno. 3 A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR NO ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA INFANTIL Com base no que foi visto anteriormente, fica evidente o papel da escola, bem como de seus educadores no enfrentamento a violência doméstica e na garantia de proteção integral da criança e do adolescente. Compreender que a violência familiar gera impactos negativos no âmbito escolar, de modo a comprometer tanto na aprendizagem, quanto no convívio social do aluno (Bottoli e Machado, 2011), nos faz refletir sobre quais seriam as possibilidades de ação dos professores em relação à busca de soluções sobre o tema. O professor é o profissional da educação que está mais perto do aluno dentro do espaço escolar, e isso facilita obter uma percepção maior das atitudes e do comportamento negativo que este aluno possa estar apresentando. Porém, por falta de formação adequada, nem sempre ele se sente capaz de interferir, sentindo dificuldade de agirde forma adequada neste tipo de situação. Desse modo, segundo Bottoli e Machado (2011), se faz necessário uma movimentação maior para que pesquisas voltadas a discussão da violência intrafamiliar (praticada por pais ou responsáveis, parentes próximos ou não) sejam discutidas fora do lar, mas precisamente no contexto escolar, de modo a compreender se realmente o aluno está demonstrando sinais de violência que sofre em casa, neste ambiente. Nesse sentido, o professor é um instrumento que precisa estar preparado para lidar com as múltiplas situações que ocorrem no cotidiano escolar. O papel do professor em sala de aula influência bastante na vida dos alunos, fazendo com estes criem um vínculo fortalecendo de maneira positiva a relação professor-aluno (Bottoli e Machado, 2011). É essa relação que irá facilitar a ação do professor diante de casos de violência doméstica, pois seus alunos se sentirão mais receptivos e confiantes em expressar as atitudes abusivas que possam estar sofrendo em casa. Desse modo, é indispensável à formação continuada dos professores, mediante sua participação em treinamentos, debates e rodas de conversas sobre o tema “Violência Doméstica contra crianças e adolescentes”. (Santos, 2014). Procurar entender sobre a violência doméstica e saber como se posicionar, principalmente sobre o que rege o Estatuto da Criança e do Adolescente se faz necessário, pois ainda se perpetua uma visão de que a violência doméstica é uma questão exclusiva a ser lidada pela polícia, esquecendo de que eles enquanto educadores precisam estar preparados também, para lidarem com este tipo de situação. A formação de professores contínua e atualizada deve ser prestada pelo poder público, em forma de política pública. Essa formação deverá ser direcionada para professores e todos aqueles que direta ou indiretamente fazem parte do sistema de Educação, pois é importante que haja uma consonância entre aqueles que atuam na administração, com aqueles que aplicam na prática as orientações estabelecidas. Além do poder público, a escola também precisa promover ações para o preparo de seus professores em casos de denúncia de violência doméstica. O apoio da escola é imprescindível no sentido de ajudar este profissional a amparar de maneira correta a criança ou adolescente que esteja sendo vítima de algum tipo de violência. (Santos, 2014). A preparação do professor será fundamental para que suas possibilidades de ação sejam ampliadas, mediante os casos de violência contra seus alunos. Cabe ao professor identificar individualmente as necessidades de cada aluno, mas para isso será preciso manter uma relação de respeito e empatia, a partir de um diálogo aberto possibilitando ao profissional buscar a melhor abordagem no sentido de diminuir os impactos negativos na vida dos alunos. Para Santos (2014), a posição privilegiada do professor nem sempre é suficiente para que este possa perceber e agir diante do problema da violência. Por vezes, o medo e a falta de preparo imperam sobre a decisão do professor, e a demora em notificar esses casos às autoridades competentes, previstas em lei, refletem nos baixos índices de denúncia. Em suma, o ambiente escolar além de ser um local que favorece a aprendizagem de seus alunos, deverá também exercer o papel de rede de apoio, as crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica. Os professores como profissionais que estão mais próximos a esses indivíduos deverão pautar sua ação com base no acolhimento, empatia, compreensão e afeto. Um olhar atento e preparado do professor (Santos, 2014), pode fazer toda a diferença para diminuir as sequelas que a violência doméstica traz a vida do ser humano, principalmente na área emocional e social. CONCLUSÃO Foi possível verificar de acordo com a contextualização teórica deste artigo que a violência doméstica contra crianças e adolescentes é uma realidade que sempre existiu em nossa sociedade, entretanto com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente, esses menores passaram de um status de marginalização, para uma posição na qual fosse garantida a eles o direito de Proteção Integral e o respeito a pessoa em desenvolvimento que são. Além disso, o Eca estabeleceu que é dever de todos a responsabilidade de proteger e zelar pelo bem-estar das crianças e dos adolescentes. Nesse sentido, buscamos refletir neste artigo como as possibilidades de ação dos professores e o trabalho da escola, são fatores importantes no combate a violência doméstica infantil. Desse modo, levantamos a seguinte pergunta: Como a lei, a escola e o professor podem amparar crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica? A resposta para esta pergunta foi compreender que a lei como instrumento máximo de garantia dos direitos, atua em função de respaldar o trabalho das escolas e professores em casos de denúncias de violência contra crianças e adolescentes. Como compreensão deste trabalho, ressaltamos aqui a importância do trabalho em conjunto desses agentes da sociedade, a fim de desenvolverem estratégias eficazes na ampliação do tema, elaborando ações de combate, controle e ajuda. O entendimento sobre a possibilidade de ação dos professores baseou-se na atividade do poder público e da escola que este profissional atua fomentarem sua capacitação através de formação continuada, e apoio na tomada de decisão deste profissional. O professor precisa estar preparado para que a qualquer sinal de violência que o aluno esteja demonstrando, ele possa agir de maneira correta, de acordo com a lei e o mais rápido possível. O profissional da educação precisa estar consciente de sua obrigação em garantir a integridade do menor dentro e fora do ambiente escolar. Evidenciamos que o papel do professor ultrapassa os limites da aprendizagem, onde sua mediação em sala de aula estabelece vínculos importantes e necessários a uma boa convivência no dia a dia com seus alunos. Além disso, os alunos se sentem mais confiantes quando percebe que possuem um diálogo aberto, acolhedor e principalmente, respeitoso. A contribuição deste artigo partiu do objetivo de evidenciar que a violência doméstica contra crianças e adolescentes trazem consequências emocionais e sociais, que podem se perpetuar até a vida adulta. O trabalho para interromper esse ciclo não é simples, e envolve inúmeras barreiras difíceis de serem ultrapassadas. Entretanto, é preciso insistir na construção e aprimoramento das ações que impeçam este tipo de violência cometida no âmbito familiar, sempre com o intuito de garantir a proteção integral da criança e do adolescente. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n°8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília. DF: palácio do planalto,1990. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 17 de agostode 2021. BRASIL. Ministério da Educação - SEDAC. Coleção educação para todos . Brasília, 2008. 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