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1 Felipe Altimari 4 – Síndrome Disabsortiva Problema: A comida que não cai bem Identificação: MC, 28 anos, mulher, estudante de medicina, natural e procedente de SP Queixa e Duração: emagrecimento, unhas quebradiças e queda de cabelo há 8 meses HPMA: paciente refere que há 8 meses vem apresentando de forma progressica quadro de emagrecimento associado à queda de cabelo e unhas quebradiças. Refere já ter produrado diversos tipos de TTO para a queda de cabelo, queixa que mais a preocupa, sem nenhum tipo de resposta ou melhora. ISDA: refere um cansaço excessivo e progressivo nos ultimos 6 meses. Há cerca de 15 meses iniciou quadro de diarreia liquida, sem cólica, sem muco ou sangue no periodo matutino, com grande quantidade de gases e restos alimentares. Refere que o quadro apresenta piora significativa após o consumo de leite e derivados AP: nada digno de nota AF: tio com Doença de Crohn EF: REG, corada, hidratada, FC 84 bpm, FR: 13 irpm, T° 36,6°C. PA 120 x 80 mmHg. Peso 53 kg. Altura: 158 cm. Circunferência Abdominal: 79 cm. Inspeção do couro cabeludo: sem falhas visíveis secundárias a queda de cabelos. Ausculta pulmonar e cardíaca: sem alterações. Abdome: plano, flácido, com RHA aumentados, sem massas palpáveis. Exames complementares: - Hemograma: Hb. 12,9 g/dL; Hematócrito: 38,5 %; VCM< 87,8 fL; HCM: 31 pg; CHCM: 35,3 g/dL; RDW: 9,8%; GB: 4.700/mm³; plaquetas: 232.000/mm³; - Triglicérides: 123 mg/dL; Colesterol total: 182 mg/dL; HDL: 37 mg/dL; VLDL: 24 mg/dL; LDL: 121 g/dL - Bilirrubina: Total: 0,2 mg/dL; direta: 01 mg/dL; indireta: 0,1 mg/dL - TGO (AST): 62 U/L; TGP (ALT): 0,98 ng/dL - AC antigliadina IgA, TgG e IgM: reagentes - Prova de retenção da lactose: glicose de jejum: 93 mg/dL; glicemia de 30 minutos: 97 mg/dL; glicemia aos 45 minutos: 95 mg/dL; glicemia aos 60 minutos: 90 mg/dL - Esofagogastroduodenoscopia: Aspecto calcetado do duodenos com diminuição das pregas de Kerkring. Anatomopatológico das biópsias realizadas na região acima descrita apresenta mucosa duodenal com atrofia vilosa, relação vilo-cripta (1:1), e presença de infiltrado linfoplasmocitário. - US de abdome total: sem alterações Em face ao diagnóstico estabelecido foram prescritas reposições vitamínicas e realizada orientação alimentar vigorosa. Contando com as orientações técnicas de organizações não governamentais de apoop, MC voltou a ter uma rotina alimentar bem adaptada para seu cotidiano Objetivos: Intenção educacional: Descrever a morfologia do intestino delgado e sua drenagem venosa, fazendo a correlação com as síndromes de disabsorção intestinal. Síndrome disabsortiva (origem inflamatória, cirúrgica, infecciosa (GECA) e comportamental) Diarreia osmótica e secretória Doença de Crohn e retocolite ulcerativa Doença celíaca Intolerância à lactose (galactose + glicose) Objetivos e identificações: - Intestino delgado: anatomia histologia e drenagem venosa (focando no jejuno) - Caracterizar as alterações absortivas intestinais e suas consequências absortivas - Identificar os órgãos em exames por imagem . 2 Felipe Altimari DISTÚBIOS DA ABSORÇÃO – ESTEATORREIA Os distúrbios da absorção constituem um amplo espectro de condições com múltiplas etiologias e manifestações clínicas variadas. Quase todos esses problemas clínicos estão associados a uma absorção intestinal reduzida de um ou mais nutrientes da dieta e, com frequência, recebem a designação de síndrome de má absorção. As síndromes de má absorção estão associadas, em sua maioria, à esteatorreia, que consiste em aumento na excreção de gordura fecal para >6% da ingestão dietética de gordura. Alguns distúrbios de má-absorção não estão associados à esteatorreia: A deficiência primária de lactase, que se caracteriza pela ausência congênita da enzima dissacaridase da borda em escova do intestino delgado, a lactase, está associada à “má absorção” de lactose, Enquanto a anemia perniciosa está associada a uma redução acentuada na absorção intestinal de cobalamina (vitamina B12), devido à ausência do fator intrínseco das células parietais gástricas, que é necessário para a absorção de cobalamina. Os distúrbios da absorção precisam ser incluídos no diagnóstico diferencial da diarreia. Em primeiro lugar, a diarreia com frequência está associada à e/ou representa uma consequência da menor absorção de um ou mais nutrientes da dieta. A diarreia pode ser secundária ao processo intestinal que é responsável pela esteatorreia, ou à própria esteatorreia. Assim sendo, a doença celíaca está associada a extensas alterações morfológicas na mucosa do intestino delgado e a uma menor absorção de vários nutrientes; em contrapartida, a diarreia da esteatorreia representa o resultado do efeito dos ácidos graxos da dieta que não foram absorvidos sobre o transporte iônico intestinal (em geral colônico). A diarreia como sintoma (i.e., quando o termo é utilizado pelos pacientes para descrever seu padrão de evacuação) pode refletir diminuição na consistência das fezes, aumento do volume fecal, aumento no número de evacuações ou qualquer combinação dessas 3 alterações. Em contrapartida, a diarreia como sinal constitui um aumento quantitativo da água ou do peso das fezes de >200 a 225 mL ou g por 24 horas, quando está sendo consumida uma dieta do tipo ocidental. Os indivíduos que consomem uma dieta com um teor mais alto de fibras podem produzir normalmente uma quantidade de fezes de até 400 g/24 horas. É também de importância crítica estabelecer se a diarreia do paciente é secundária a uma absorção diminuída de um ou mais nutrientes, e não resultado de secreção de líquidos e eletrólitos do intestino delgado e/ou intestino grosso. A primeira costuma ser denominada diarreia osmótica, enquanto a última tem sido denominada diarreia secretória. Infelizmente, poderão existir de maneira simultânea elementos tanto secretórios quanto osmóticos no mesmo distúrbio; assim sendo, tal separação nem sempre é precisa. Todavia, dois exames – determinação dos eletrólitos das fezes e observação do efeito do jejum sobre o débito de fezes – podem ajudar a fazer essa distinção. DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES Os comprimentos do intestino delgado e do cólon são de cerca de 300 cm e 80 cm, respectivamente. Todavia, a área de superfície funcional efetiva é aproximadamente 600 vezes maior que a de um tubo oco em consequência da presença de pregas, vilosidades (no intestino delgado) e microvilosidades. Além da digestão e da absorção de nutrientes, o epitélio intestinal desempenha várias outras funções: 1. Barreira e defesa imune. O intestino é exposto a um grande número de antígenos potenciais e microrganismos entéricos e invasivos, sendo extremamente eficaz na prevenção da entrada de quase todos esses agentes. A mucosa intestinal sintetiza e secreta também a IgA secretória. 2. Absorção e secreção de líquidos e eletrólitos. O intestino absorve cerca de 7 a 8 L de líquido por dia, um volume que inclui a ingestão de líquidos (1 a 2 L/dia) e os líquidos salivar, gástrico, pancreático, biliar e intestinal (6 a 7 L/dia). Diversos estímulos, particularmente bactérias e suas enterotoxinas, induzem a secreção de líquidos e eletrólitos, podendo resultar em diarreia. 3. Síntese e secreção de várias proteínas. A mucosa intestinal é um importante local para a produção de proteínas, incluindo as apolipoproteínas. 4. Produção de várias aminas bioativas e peptídeos. O intestino é um dos maiores órgãos endócrinos do corpo e produz várias aminas (p. ex., 5-hidroxitriptofano) e peptídeos que atuam como mediadores parácrinos e hormonais da função intestinal. Os intestinos delgado e grosso são distintos com relação à anatomia, histologia e fisiologia: ID IG Vilosidaades Digestão e absorção Absorção de água As células do epitélio intestinal sofrem renovação contínua; as novas células epiteliais em proliferaçãona base da cripta migram durante um período de 48 a 72 horas para a ponta da vilosidade (ou para a superfície do cólon), onde aparecem como células epiteliais bem desenvolvidas com função digestiva e absortiva. Essa alta taxa de renovação celular explica a resolução relativamente rápida da diarreia, assim como de outros efeitos colaterais do trato digestivo durante a quimioterapia à medida que são produzidas novas células que não são expostas a esses agentes tóxicos. As enzimas hidrolíticas digestivas são encontradas sobretudo na borda em escova das células epiteliais vilosas. 3 Felipe Altimari As funções de absorção e de secreção também são separadas: as células vilosas/superficiais constituem o local principal, mas não exclusivo, da função absortiva, enquanto a função secretora está localizada nas criptas tanto do intestino delgado quanto do intestino grosso. Embora as células do epitélio intestinal sejam mediadores essenciais da absorção e do fluxo de íons e de água, os vários tipos de células na lâmina própria (p. ex., mastócitos, macrófagos, miofibroblastos) e o sistema nervoso entérico interagem com o epitélio para regular a função das células mucosas. A função intestinal resulta das respostas integradas e interações das células epiteliais intestinais e do músculo intestinal. CIRCULAÇÃO ÊNTERO-HEPÁTICA DE ÁCIDOS BILIARES Os ácidos biliares não estão presentes na dieta, mas são sintetizados no fígado por uma série de etapas enzimáticas que incluem também o catabolismo do colesterol. Os ácidos biliares são primários ou secundários. Os ácidos biliares primários são sintetizados no fígado a partir do colesterol, e os ácidos biliares secundários são sintetizados a partir de ácidos biliares primários no intestino por enzimas bacterianas colônicas. Os dois ácidos biliares primários nos humanos são o ácido cólico e o ácido quenodesoxicólico; Os dois ácidos biliares secundários mais abundantes são o ácido desoxicólico e o ácido litocólico. Esses ácidos biliares são conjugados com taurina ou glicina (para formar ácidos biliares tauroconjugados e glicoconjugados, respectivamente) e são secretados no duodeno com a bile. As principais funções dos ácidos biliares consistem em: 1- Promover o fluxo de bile; 2- Solubilizar o colesterol e os fosfolipídeos na vesícula biliar pela formação de micelas mistas, e 3- Intensificar a digestão e absorção dos lipídeos da dieta pela formação de micelas mistas na parte proximal do intestino delgado. Os ácidos biliares são absorvidos principalmente por um processo ativo dependente de Na+, que ocorre exclusivamente no íleo; em menor grau, são absorvidos por processos de transporte não mediados por carreadores no jejuno, íleo e cólon. Os ácidos biliares conjugados que entram no cólon são desconjugados por enzimas bacterianas do cólon. Os ácidos biliares não conjugados sofrem rápida absorção por difusão não iônica. As enzimas bacterianas colônicas também desidroxilam os ácidos biliares em ácidos biliares secundários. Os ácidos biliares absorvidos a partir do intestino retornam ao fígado pela veia porta e, em seguida, são secretados outra vez. A síntese dos ácidos biliares é autorregulada essencialmente pela 7α-hidroxilase, a enzima inicial na degradação do colesterol. Defeitos em qualquer uma das etapas da circulação êntero-hepática dos ácidos biliares podem resultar em diminuição da concentração duodenal de ácidos biliares conjugados e, portanto, no desenvolvimento de esteatorreia. Assim, a esteatorreia pode ser causada por anormalidades na síntese e na excreção de ácidos biliares, no seu estado físico no lúmen intestinal e na sua reabsorção. Tab. 1 Defeitos na circulação êntero-hepática de sais biliares Processo Defeito fisiopatológico Ex. de doença Síntese Função hepática reduzida Cirrose Secreção biliar Função canalicular alterada Cirrose biliar Manutenção dos ác. Biliares conjugados Supercrescimento bacteriano Diverticulose jejunal Reabsorção Função ileal anormal Doença de Crohn Reabsorção A disfunção ileal causada pela doença de Crohn ou por uma ressecção cirúrgica resulta em redução da reabsorção de ácidos biliares no íleo e em aumento do fornecimento de ácidos biliares ao intestino grosso. As consequências clínicas resultantes – diarreia com ou sem esteatorreia – são determinadas pelo grau de disfunção ileal e pela resposta da circulação êntero-hepática às perdas de ácidos biliares. Os pacientes com doença ou ressecção ileal limitada frequentemente apresentam diarreia, mas não esteatorreia. A diarreia, que resulta da estimulação da secreção ativa de Cl pelos ácidos biliares existentes no cólon, recebeu a designação de diarreia induzida por ácidos biliares ou enteropatia colerética, e responde prontamente à colestiramina, uma resina fixadora de ânions. Não ocorre esteatorreia, visto que a síntese hepática de ácidos biliares aumenta para compensar a taxa de perdas de ácidos biliares nas fezes, com consequente manutenção tanto do tamanho do reservatório de ácidos biliares quanto das concentrações intraduodenais de ácidos biliares. Em contrapartida, os pacientes com maiores graus de doença e/ou ressecção ileal terão com frequência diarreia e esteatorreia que não respondem à colestiramina. Nessa situação, a doença ileal está associada também a maiores quantidades de ácidos biliares penetrando no cólon; 4 Felipe Altimari entretanto, a síntese hepática não consegue mais aumentar em um nível suficiente que possibilite manter o tamanho do reservatório de ácidos biliares. Em consequência, a concentração intraduodenal de ácidos biliares é reduzida para menos que a CMC, resultando em comprometimento na formação de micelas e esteatorreia. Esta segunda situação é com frequência denominada diarreia induzida por ácidos graxos. A colestiramina pode não ser efetiva (e pode até mesmo exacerbar a diarreia, causando maior depleção da concentração intraduodenal de ácidos biliares); todavia, uma dieta pobre em gorduras para reduzir a entrada de ácidos graxos no cólon pode ser efetiva. Duas características clínicas – o comprimento do íleo removido e o grau de esteatorreia – podem prever se determinado paciente irá responder à colestiramina. Infelizmente, esses preditores são imperfeitos, e um teste terapêutico com colestiramina torna-se com frequência necessário para estabelecer se determinado paciente será beneficiado pela colestiramina. Comparação entre a diarreia induzida por ácidos biliares e por ácidos graxos Diarreia induzida por ácidos biliares Diarreia induzida por ác. graxos Extensão da doença ileal Limitada Extensa Absorção ileal de ác. Biliares Reduzida Reduzida Excreção fecal de ác. Biliares Aumentada Aumentada Perda fecal de ác. Biliares compensada pela síntese hepática Sim Não Tamanho do reservatório dos ác. biliares Normal Reduzido Intraduodenal (ác. biliar) Normal Reduzido Esteatorreia Ausente ou leve > 20 g Resposta à colestiramina Sim Não Resposta a uma dieta pobre em gordura não Sim LIPÍDEOS A esteatorreia é causada por um ou mais defeitos na digestão e na absorção da gordura da dieta. Três tipos de ácidos graxos compõem as gorduras: Ácidos graxos de cadeia longa (AGCL), Ácidos graxos de cadeia média (AGCM) e Ácidos graxos de cadeia curta (AGCC). A gordura da dieta é constituída exclusivamente por triglicerídeos de cadeia longa (TCL) – i.e., glicerol ligado a três AGCL por meio de ligações éster. Enquanto a maioria dos AGCL da dieta tem comprimentos das cadeias de carbono de 16 a 18, todos os ácidos graxos com um comprimento da cadeia de carbono >12 são metabolizados da mesma maneira; os ácidos graxos saturados e não saturados são manipulados de modo idêntico. Comparação dos diferentes tipos de ácidos graxos Cadeia longa Cadeia media Cadeia curta Comprimento da cadeia de carbono >12 8-12 <8 Presentes na dietaEm grandes quantidade Em pequenas quantidades não Origem Na dieta como triglicerídeos Apenas em pequenas quantidades na dieta como triglicerídeos Degradação bacteriana dos carbo não absorvidos em ác. graxos no cólon Local 1ªrio da absorção ID ID Cólon Depende da lipólise pancreática Sim Não Não Depende da formação de micelas Sim Não Não Presença nas fezes Mínima Não Substancial A assimilação dos lipídeos da dieta requer três processos integrados: 1- Uma fase intraluminal ou digestiva; 2- Uma fase mucosa ou absortiva; e 3- Uma fase de aporte ou pós-absortiva. A ocorrência de anormalidade em qualquer local envolvido nesses processos pode causar esteatorreia. Por conseguinte, é essencial que todo paciente com esteatorreia seja avaliado para identificar o defeito fisiológico específico na digestão/absorção globais de lipídeos, visto que a terapia será determinada pela etiologia específica. Defeitos na digestão e absorção de lipídeos na esteatorréia Fase, processo Defeito fisiopatológico Exemplo de doença Digestivo Formação da lipólise ↓ da secreção de lipase Pancreatite crônica Formação de micelas Ác. biliares intraduodenais reduzidos (ver Tab. 1) Absortivo Captação pela mucosa e reesterificação Disfunção da mucosa Doença celíaca Pós-absortivo Formação de quilomicrons Β-lipoproteínas ausentes Aβlipoproteinemia Aporte a partir do intestino Linfáticos anormais Linfangiectasia intestinal 5 Felipe Altimari A fase digestiva possui dois componentes, a lipólise e a formação de micelas. Embora os lipídeos da dieta estejam na forma de TCL, a mucosa intestinal não absorve triglicerídeos, os quais precisam ser inicialmente hidrolisados. A etapa inicial na digestão dos lipídeos é a formação de emulsões de lipídeos delicadamente dispersos, o que é conseguido pela mastigação e pelas contrações gástricas. A lipólise, que representa a hidrólise dos triglicerídeos a ácidos graxos livres, monoglicerídeos e glicerol pela lipase, é iniciada no estômago pelas lipases lingual e gástrica que têm um pH ótimo de 4,5 a 6,0. Cerca de 20 a 30% da lipólise total ocorrem no estômago. A lipólise é completada no duodeno e no jejuno pela lipase pancreática, que é inativada por um Ph<7,0. A lipólise pancreática é significativamente acelerada pela presença de uma segunda enzima pancreática, a colipase, que facilita o movimento da lipase para o triglicerídeo. Uma lipólise prejudicada pode resultar em esteatorreia e pode ocorrer na presença de insuficiência pancreática devido à pancreatite crônica em adultos ou fibrose cística em crianças e adolescentes. A lipólise normal pode ser mantida com aproximadamente 5% da secreção máxima de lipase pancreática; assim sendo, a esteatorreia constitui uma manifestação tardia desses distúrbios. Uma redução no pH intraduodenal também pode resultar em lipólise alterada, pois a lipase pancreática é inativada em um pH <7. A captação e a reesterificação constituem a fase absortiva da digestão/absorção de lipídeos. Apesar de a difusão passiva ter sido considerada responsável, um processo mediado por carreador pode medir a captação de ácidos graxos e monoglicerídeos. Independentemente do processo de captação, os ácidos graxos e os monoglicerídeos são reesterificados por uma série de etapas enzimáticas no retículo endoplasmático para formar triglicerídeos, por meio dos quais os lipídeos saem da célula epitelial intestinal. O comprometimento da absorção de lipídeos em consequência de inflamação da mucosa (p. ex., doença celíaca) e/ou de ressecção intestinal também pode levar ao desenvolvimento de esteatorreia. Os triglicerídeos reesterificados necessitam da formação de quilomícrons para possibilitar a sua saída da célula epitelial do intestino delgado e sua entrada no fígado via linfáticos. As manifestações clínicas da esteatorreia representam uma consequência do distúrbio subjacente responsável pelo seu desenvolvimento e da própria esteatorreia. Dependendo do grau de esteatorreia e do nível de ingestão dietética, a má absorção significativa de gorduras pode resultar em perda de peso. Por si só, a esteatorreia pode ser responsável pela diarreia; se a causa primária da esteatorreia não tiver sido identificada, com bastante frequência uma dieta pobre em gordura reduz a diarreia graças a uma menor excreção de gordura fecal. A esteatorreia está comumente associada à deficiência de vitaminas lipossolúveis, exigindo uma reposição com preparações hidrossolúveis dessas vitaminas. Os distúrbios da absorção também podem estar associados a má absorção de outros nutrientes da dieta – mais frequentemente carboidratos –, com ou sem diminuição na digestão e absorção dos lipídeos da dieta. Por conseguinte, o conhecimento dos mecanismos de digestão e absorção dos carboidratos, das proteínas e de outros minerais e vitaminas é útil na avaliação de pacientes com alteração na absorção intestinal de nutrientes. CARBOIDRATOS Os carboidratos na dieta estão presentes em forma de amido, dissacarídeos (sacarose e lactose) e glicose. Os carboidratos são absorvidos apenas no intestino delgado e somente em forma de monossacarídeos. Portanto, antes de sua absorção, o amido e os dissacarídeos devem ser digeridos primeiro pela amilase pancreática e pelas dissacaridases da borda em escova intestinal em monossacarídeos. A absorção dos monossacarídeos ocorre por um processo dependente de Na, mediado pela proteína de transporte da borda em escova, SGLT1. A má absorção de lactose é o único distúrbio clinicamente importante da absorção dos carboidratos. A lactose, que é o dissacarídeo presente no leite, requer a digestão pela lactase da borda em escova em dois monossacarídeos que a compõem, a glicose e a galactose. A lactase está presente em quase todas as espécies no período pós-natal, mas em seguida desaparece em todo o reino animal, com exceção dos humanos. A atividade da lactase persiste em muitos indivíduos ao longo da vida. Existem dois tipos diferentes de deficiência de lactase – primária e secundária. Na deficiência de lactase primária, observa-se uma redução ou ausência determinada geneticamente de lactase, enquanto todos os outros aspectos da absorção intestinal e das enzimas da borda em escova são normais. Em diversos grupos de indivíduos não brancos, a deficiência primária de lactase é comum na vida adulta. A persistência da lactase nos adultos é uma anormalidade decorrente de um defeito na regulação de sua maturação. Em contrapartida, a deficiência de lactase secundária ocorre em associação com doença da mucosa do intestino delgado com anormalidades tanto na estrutura quanto na função de outras enzimas da borda em escova e nos processos de transporte. A deficiência de lactase secundária é observada com frequência na doença celíaca. Uma vez que a digestão de lactose é responsável pela limitação da velocidade em comparação com a absorção de glicose/galactose, a deficiência de lactase está associada a uma má absorção significativa de lactose. Alguns indivíduos com má absorção de lactose desenvolvem 6 Felipe Altimari sintomas como diarreia, dor abdominal, cólicas e/ou flatulência. A maioria dos indivíduos com deficiência de lactase primária não exibe sintomas. Como a intolerância à lactose pode estar associada a sintomas sugestivos de síndrome do intestino irritável, a persistência desses sintomas em um indivíduo com intolerância à lactose enquanto estiver recebendo uma dieta estrita sem lactose sugere que os sintomas apresentados estão relacionados com a síndrome do intestino irritável. O desenvolvimento de sintomas de intolerância à lactose está relacionado com vários fatores: 1. Quantidade de lactose na dieta. 2. Velocidade de esvaziamento gástrico. Os sintomas são mais prováveis quando o esvaziamento gástrico é rápido do que quando é mais lento. Portanto, o leite desnatado tem mais tendência a estar associadoa sintomas de intolerância à lactose do que o leite integral, visto que a velocidade de esvaziamento gástrico após a ingestão de leite desnatado é mais rápida. De modo semelhante, a diarreia que ocorre após gastrectomia subtotal resulta, com frequência, de intolerância à lactose, visto que o esvaziamento gástrico está acelerado em pacientes com gastrojejunostomia. 3. Tempo de trânsito no intestino delgado. Embora os intestinos delgado e grosso contribuam para o desenvolvimento dos sintomas, muitos sintomas da deficiência de lactase estão relacionados com a interação das bactérias colônicas e da lactose não absorvida. O trânsito mais rápido no intestino delgado torna os sintomas mais prováveis. 4. Compensação colônica pela produção de AGCC a partir da lactose não absorvida. Os níveis reduzidos de microflora colônica, que podem ser subsequentes ao uso de antibióticos, estão associados a um maior número de sintomas após a ingestão de lactose, particularmente no indivíduo com deficiência de lactase. A má absorção de glicose-galactose ou de monossacarídeos também pode estar associada a diarreia e é devida à ausência congênita de SGLT1. Ocorre diarreia quando os indivíduos com esse distúrbio ingerem carboidratos que contêm monossacarídeos transportados ativamente (p. ex., glicose, galactose), mas não quando ingerem monossacarídeos que não são transportados ativamente (p. ex., frutose). A frutose é absorvida pela proteína de transporte da borda em escova GLUT 5, um processo de difusão facilitada que não depende de Na, além de ser distinto de SGLT1. Em contrapartida, alguns indivíduos desenvolvem diarreia em consequência do consumo de grandes quantidades de sorbitol, um açúcar utilizado em diabéticos; o sorbitol sofre absorção apenas mínima, devido à ausência de um mecanismo de transporte absortivo intestinal para esse açúcar. PROTEÍNAS As proteínas estão presentes nos alimentos quase exclusivamente como polipeptídeos e exigem uma extensa hidrólise a dipeptídeos, tripeptídeos e aminoácidos antes de sua absorção. Ocorre proteólise tanto no estômago quanto no intestino delgado; ela é mediada pela pepsina, que é secretada na forma de pepsinogênio pelas células gástricas principais e na forma de tripsinogênio e outras peptidases pelas células acinares do pâncreas. As pró-enzimas pepsinogênio e tripsinogênio precisam ser ativadas a pepsina (pela pepsina em pH <5) e a tripsina (pela enzima da borda em escova intestinal, enteroquinase, e depois pela tripsina), respectivamente. As proteínas são absorvidas por sistemas de transporte separados para dipeptídeos e tripeptídeos e para diferentes tipos de aminoácidos – por exemplo, neutros e dibásicos. Alterações na digestão e na absorção de proteínas ou aminoácidos raras vezes são observadas na clínica, até mesmo na presença de extensa inflamação da mucosa do intestino delgado. Entretanto, três distúrbios genéticos raros envolvem a digestão/absorção de proteínas: 1. A deficiência de enteroquinase é causada pela ausência da enzima da borda em escova que transforma a proenzima tripsinogênio em tripsina e está associada a diarreia, retardo no crescimento e hipoproteinemia. 2. A síndrome de Hartnup, um defeito no transporte dos aminoácidos neutros, caracteriza-se por uma erupção cutânea semelhante a pelagra e sintomas neuropsiquiátricos. 3. A cistinúria, um defeito no transporte de aminoácidos dibásicos, está associada a cálculos renais e a pancreatite crônica. ABORDAGEM AO PACIENTE: A demonstração de uma absorção reduzida de um nutriente proporciona evidência inequívoca de doença do intestino delgado, apesar de poder também estar associada a uma disfunção colônica (p. ex., a doença de Crohn pode acometer tanto o intestino delgado quanto o intestino grosso). A absorção de nutrientes pode ser segmentar ou difusa ao longo do intestino delgado e ser específica para determinados locais. Assim sendo, por exemplo, o cálcio, o ferro e o ácido fólico são absorvidos exclusivamente por processos de transporte ativo no intestino delgado proximal, em especial no duodeno; em contrapartida, os mecanismos de transporte ativo tanto para a cobalamina quanto para os ácidos biliares estão presentes apenas no íleo. Por conseguinte, em um indivíduo que, há vários anos, foi submetido a uma ressecção intestinal, cujos detalhes não estão atualmente disponíveis, uma apresentação com evidências de má absorção de cálcio, ácido fólico e/ou ferro, porém sem deficiência de cobalamina, torna provável uma ressecção prévia do duodeno e jejuno proximal, e não do íleo. Alguns nutrientes – por exemplo, glicose, aminoácidos e lipídeos – são absorvidos em todo o intestino delgado, 7 Felipe Altimari embora a sua velocidade de absorção seja maior nos segmentos proximais do que nos distais. Entretanto, após ressecção segmentar do intestino delgado, os segmentos restantes sofrem uma “adaptação” tanto morfológica quanto funcional destinada a acelerar a absorção. Essa adaptação é secundária à presença de nutrientes luminais e de estímulos hormonais e pode não ser completa nos humanos durante vários meses após a ressecção. A adaptação é de importância crítica para a sobrevida dos indivíduos que foram submetidos a ressecção maciça do intestino delgado e/ou do cólon. Costuma ser bastante difícil estabelecer a presença de esteatorreia e identificar sua causa específica. O “padrão ouro” continua sendo a determinação quantitativa da gordura fecal. Em bases práticas, as coletas de fezes são sempre difíceis e, com frequência, incompletas, visto que ninguém quer manusear fezes. Um teste qualitativo – a coloração pelo Sudan III – está disponível há muito tempo para documentar a ocorrência de aumento da gordura fecal. Esse teste é rápido e barato; no entanto, por se tratar de um teste qualitativo, não estabelece o grau de má absorção das gorduras e deve ser utilizado de preferência como estudo preliminar de rastreamento. Os exames laboratoriais de rotina (i.e., hemograma completo, tempo de protrombina, determinação das proteínas séricas, fosfatase alcalina) podem sugerir a presença de depleção de nutrientes da dieta, particularmente deficiências de ferro, folato, cobalamina e vitaminas D e K. Outros exames incluem a determinação dos níveis séricos de caroteno, colesterol, albumina, ferro, folato e cobalamina. O nível sérico de caroteno também pode estar reduzido quando o consumo dietético de vegetais folhosos é precário. Se houver suspeita de esteatorreia e/ou alteração na absorção de outros nutrientes, a anamnese, as observações clínicas e os exames laboratoriais podem ajudar a detectar a deficiência de um nutriente, em particular de uma vitamina lipossolúvel (A, D, E, ou K). Portanto, evidências de doença óssea metabólica com concentrações elevadas de fosfatase alcalina e/ou níveis séricos reduzidos de cálcio sugerem má absorção de vitamina D. A deficiência de vitamina K é sugerida pelo prolongamento do tempo de protrombina em um indivíduo sem doença hepática que não está tomando anticoagulantes. A anemia macrocítica requer uma avaliação quanto à possibilidade de má absorção de cobalamina ou de ácido fólico. A anemia ferropriva na ausência de sangramento oculto do trato gastrintestinal em um homem ou em uma mulher que não está menstruando requer uma avaliação para má absorção de ferro e exclusão da possibilidade de doença celíaca, visto que o ferro é absorvido exclusivamente na parte proximal do intestino delgado. Todavia, algumas vezes, é preciso obter uma coleta de fezes quantitativa programada (72 horas), de preferência com uma dieta definida, para determinar o conteúdo de gordura fecal e estabelecer o diagnóstico de esteatorreia. A presença de esteatorreia torna necessária uma avaliação adicional destinada a estabelecer o(s) processo(s) fisiopatológico(s) responsável(eis) pelo defeito na digestão/absorção de lipídeosdietéticos. Outros exames incluem o teste de Schilling, o teste de D-xilose, a biópsia de mucosa duodenal, o exame radiológico do intestino delgado e provas de função pancreática exócrina. TESTE DE SCHILLING: Esse teste é realizado para estabelecer a causa de má absorção de cobalamina (vit B12). A compreensão da fisiologia e da fisiopatologia da absorção de cobalamina é muito valiosa, aumentando o entendimento dos aspectos da função gástrica, pancreática e ileal. Infelizmente, o teste de Schilling não está mais disponível comercialmente nos EUA há alguns anos. TESTE DE D-XILOSE URINÁRIA: O teste da D-xilose urinária para a absorção de carboidratos proporciona uma avaliação da função da mucosa da parte proximal do intestino delgado. A D-xilose, que é uma pentose, é absorvida quase exclusivamente na parte proximal do intestino delgado. Em geral, o teste de D-xilose consiste na administração de 25g de D-xilose e na coleta de urina por um período de 5 horas. A obtenção de um resultado anormal (excreção de <4,5g) reflete, sobretudo a presença de doença da mucosa duodenal/jejunal. O teste da D-xilose também pode ser anormal nos pacientes com síndrome da alça cega (em razão principalmente de uma mucosa intestinal anormal) e, como exame falso-positivo, nos pacientes com grandes acúmulos de líquido no terceiro espaço (i.e., ascite, líquido pleural). A Facilidade de obter uma biópsia da mucosa do intestino delgado por endoscopia e a taxa de resultados falso-negativos do teste da D-xilose levaram a grande redução em sua utilização. Quando há suspeita de doença da mucosa do intestino delgado, deve-se efetuar uma biópsia dessa mucosa. EXAME RADIOLÓGICO: O exame radiológico do intestino delgado com a utilização de contraste baritado (seriografia ou trânsito intestinal) pode proporcionar importante informação na avaliação do paciente com má absorção presumida ou suspeitada. Esse exame é mais realizado em combinação com um exame do esôfago, estômago e bulbo duodenal. Como se administra ao paciente uma quantidade insuficiente de bário para possibilitar um exame adequado da mucosa do intestino delgado, particularmente no íleo, muitos radiologistas gastrintestinais alteram o procedimento, realizando uma seriografia do intestino delgado, na qual se administra uma grande quantidade de bário por via oral, sem exame concomitante do esôfago e do estômago, ou uma enteróclise, na qual se introduz uma grande quantidade de bário no duodeno por um tubo colocado sob orientação fluoroscópica. Além disso, muitas das características diagnósticas descritas inicialmente pelos radiologistas a fim de indicar a presença de doença do intestino delgado (p. ex., 8 Felipe Altimari floculação, segmentação) são observadas apenas raramente com as atuais suspensões de bário. Não obstante, em mãos habilidosas, o exame com contraste baritado do intestino delgado pode proporcionar informação muito importante. Por exemplo, na presença de doença extensa da mucosa, pode-se visualizar uma dilatação do intestino como diluição do bário, devido à secreção aumentada de líquido intestinal. Um exame baritado normal não exclui a possibilidade de doença do intestino delgado. Todavia, uma seriografia do intestino delgado continua sendo útil na pesquisa de anormalidades anatômicas, como estenoses e fístulas (conforme observado na doença de Crohn) ou síndrome da alça cega (p. ex., múltiplos divertículos jejunais), e na definição da extensão de uma ressecção cirúrgica prévia. Outros exames de imagem que avaliam a integridade da morfologia do intestino delgado são a enterografia por TC e a enterografia por ressonância magnética. A endoscopia com cápsula e a endoscopia com balão duplo são outros exames complementares úteis na avaliação diagnóstica de uma patologia do intestino delgado. Exames radiológicos do ID com contraste baritado. A: individuo normal; B: Espru celíaco; C: diverticulose jejunal; D: Doença de Crohn, BIÓPSIA DA MUCOSA DO INTESTINO DELGADO: É essencial realizar uma biópsia do intestino delgado na avaliação de um paciente com esteatorreia ou diarreia crônica documentadas (i.e., com duração >3 semanas). A pronta disponibilidade de equipamento endoscópico para examinar o estômago e o duodeno levou a seu uso quase uniforme como método preferido para obtenção de material histológico da mucosa da parte proximal do intestino delgado. As indicações primárias para uma biópsia do intestino delgado são: 1. Avaliação de um paciente com esteatorreia documentada ou suspeitada ou com diarreia crônica e 2. Anormalidades difusas ou focais do intestino delgado definidas em uma seriografia intestinal. As lesões identificadas na biópsia do intestino delgado podem ser classificadas em três categorias. Doenças que podem ser diagnosticadas por biópsia das mucosas do intestino delgado Lesões Achados patológicos Lesões Difusas, específicas: Relativamente poucas doenças associadas a uma alteração na absorção de nutrientes apresentam anormalidades histopatológicas específicas na biópsia da mucosa do intestino delgado, e essas doenças são incomuns. Doença de Whipple Caracteriza-se pela presença de macrófagos com coloração positiva para ácido periódico de Schiff (PAS) na lâmina própria; os bacilos que também estão presentes podem exigir um exame com microscopia eletrônica para a sua identificação Agamaglobulin emia Ausência de células plasmáticas, vilosidades normais ou ausentes (“mucosa plana”) A deficiência de imunoglobulina está associada a uma variedade de achados histopatológicos na biópsia de mucosa do intestino delgado. O elemento característico é a ausência ou redução substancial no número de plasmócitos na lâmina própria; a arquitetura da mucosa pode ser perfeitamente normal ou plana (i.e., atrofia vilosa). Como os pacientes com deficiência de imunoglobulina costumam estar infectados por Giardia lamblia, pode-se observar também a presença de trofozoítas de Giardia na biópsia. Aβlipoproteína Vilosidades normais; cél epiteliais vacuoladas com gordura no período pós-prandial. A aβlipoproteinemia caracteriza-se por um aspecto normal da mucosa, exceto pela presença de células absortivas mucosas que contêm lipídeos no período pós prandial e que desaparecem após um período prolongado de ingestão isenta de gordura ou de jejum. Lesões Irregulares, específicas: Várias doenças apresentam uma mucosa anormal do intestino delgado com distribuição irregular. Em consequência, as amostras de biópsia obtidas de modo aleatório ou na ausência de anormalidades visualizadas por endoscopia podem não revelar características diagnósticas. Linfoma intestinal Cél. malignas na lamina própria e na submucosa Linfangiectasi a intestinal Linfáticos dilatados (submucosa e na lamina própria); vilosidades claviformes – associada a hipoproteinemia em consequência da perda de proteínas no intestino. Gastrenterite eosinofilica Infiltração eosinofilica na lâmina própria e da mucosa (com ou sem eosinofilia periférica) Amiloidose Depósito de amiloide – pode ser identificada pela coloração com Vermelho- Congo em alguns pacientes com amiloidose que acomete o duodeno. Doença de Crohn Granulomas não caseosos - Como o comprometimento do duodeno na doença de Crohn também é submucoso e não necessariamente contínuo, as biópsias de mucosa não constituem a abordagem mais direta para o diagnóstico de doença de Crohn duodenal Infecção por 1 ou + microorganis mos Microorganismos específicos Mastocitose Infiltração da lâmina própria por mastócitos 9 Felipe Altimari Lesões Difusas, inespecíficas Doença celíaca Vilosidades curtas ou ausentes; infiltrado mononuclear; dano das cél epiteliais; hipertrofia das criptas - O diagnóstico de doença celíaca é estabelecido pela resposta clínica, histológica e imunológica a uma dieta sem glúten.Espru tropical Semelhantes à doença celíaca após exposição a regiões tropicais ou subtropicais, mas não responde à restrição do glúten, e, na maioria das vezes, os sintomas melhoram com a administração de antibióticos e folato. Supercrescim ento bacteriano Dano irregular das vilosidades; infiltração de linfócitos - Vários microrganismos podem ser identificados em amostras de biópsia do intestino delgado, estabelecendo um diagnóstico correto. Deficiência de folato Vilosidades curtas; mitose aumentada nas criptas; magalocitose Deficiência de vit. B12 Semelhantes à deficiência de folato Enterite actínica Sd. de Zollinger- Ellison Ulceração mucosa e erosão induzida por ácido Desnutrição proteico- calórica Atrofia vilosa; supercrescimento bacteriano secundário Enterite induzida por fármacos Histologia variável Vários microrganismos podem ser identificados em amostras de biópsia do intestino delgado, estabelecendo um diagnóstico correto Algumas vezes, a biópsia é realizada especificamente para o diagnóstico de infecção (p. ex., doença de Whipple ou giardíase). Na maioria das outras circunstâncias, a infecção é detectada de modo incidental durante a pesquisa de diarreia ou outros sintomas abdominais. Muitas dessas infecções ocorrem em pacientes imunocomprometidos com diarreia; os agentes etiológicos incluem Cryptosporidium, Isospora belli, microsporídeos, Cyclospora, Toxoplasma, citomegalovírus, adenovírus, Mycobacterium avium intracellulare e G. lamblia. Nos pacientes imunocomprometidos, quando são observados microrganismos do gênero Candida, Aspergillus, Cryptococcus ou Histoplasma na biópsia duodenal, a sua presença costuma refletir uma infecção sistêmica. Resultados de exames complementares na esteatorreia de várias etiologias Reste de D-xilitose Teste de Schilling Biópsia da mucosa duodenal Pancreatite crônica Normal 50% anormal; se for anormal, normaliza- se após TTO com enzimas pancreaticas Normal Sd. de supercrescimento bacteriano Normal ou apenas modestamente anormal Frequentemente anormal, se for anormal, normaliza-se após TTO com antibióticos Em geral normal Doença ileal Normal Anormal Normal Doença celíaca Diminuido Normal Anormal: provavelmente “plana” Linfangiectasia intestinal Normal Normal Anormal: “linfáticos dilatados” 10 Felipe Altimari DIARREIA INTRODUÇÃO O ritmo intestinal normal varia de três vezes por semana a três vezes por dia. O aumento da frequência por mais de 3 vezes ao dia, com diminuição da consistência das fezes, que provocam urgência ou desconforto abdominal, provavelmente é um quadro de diarreia. A consistência é determinada pela relação entre água fecal e a capacidade de retenção de água dos sólidos insolúveis fecais. É importante ter em mente que diarreia é diferente de urgência fecal e de pseudodiarreia. Urgência fecal é a eliminação involuntária das fezes, geralmente por distúrbios neuromusculares ou problemas estruturais anorretais, sem alteração do peso e consistência. pseudodiarreia, é a eliminação frequente de pequenos volumes de fezes, geralmente com urgência, sem alteração também da consistência e do peso. EPIDEMIOLOGIA O Global Burden of Disease Study constatou que a diarreia foi a 9ª principal causa de morte em todo o mundo em 2015. A maioria dos casos de diarreia está associada a alimentos e fontes de água contaminados, e mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso ao saneamento básico. Mais de 1 bilhão de pessoas, no mundo, sofrem um ou mais episódios de diarreia aguda a cada ano. Dos 100 milhões de pessoas acometidas anualmente por diarreia aguda nos EUA, quase metade tem de restringir as atividades, 10% consultam um médico, cerca de 250 mil precisam de hospitalização e aproximadamente 5 mil morrem. A diarreia infecciosa aguda continua sendo uma das causas mais comuns de mortalidade nos países em desenvolvimento, principalmente entre crianças pobres. A diarreia aguda, recorrente, em crianças de países tropicais resulta em enteropatia ambiental com impactos de longo prazo nos desenvolvimentos físico e intelectual. A doença diarreica ocorre com frequência inicial em países com recursos limitados, sobrepostos a casos epidêmicos de diarreia, disenteria ou diarreia aquosa. REVISÃO DE ANATOMIA O intestino delgado, formado pelo duodeno, jejuno e íleo, é o principal local de absorção dos nutrientes dos alimentos absorvido. Estende-se desde o piloro do estômago até a junção ileocecal, onde o íleo se une ao ceco do intestino grosso. O duodeno é a parte mais curta do intestino delgado com cerca de 25cm, sendo também a mais larga e fixa. Possui trajeto em forma de C ao redor da cabeça do pâncreas. Tem início no piloro do estômago e termina na flexura duodenojejunal no lado esquerdo. A maior parte do duodeno está fixada pelo peritônio a estruturas na parede posterior do abdome e é considerada parcialmente retroperitoneal. O duodeno é dividido em quatro partes parte superior, descendente, inferior e ascendente. A segunda parte do intestino delgado, o jejuno, começa na flexura duodenojejunal, onde o sistema digestório volta a ser intraperitoneal. A terceira parte do intestino delgado, o íleo, termina na junção ileocecal, a união da parte terminal do íleo e o ceco. Juntos, o jejuno e o íleo têm 6 a 7 m de comprimento, o jejuno representa cerca de dois quintos e o íleo cerca de três quintos da parte intraperitoneal do intestino delgado. A maior parte do jejuno está situada no quadrante superior esquerdo (QSE) do compartimento infracólico, ao passo que a maior parte do íleo está no quadrante inferior direito (QID). A parte terminal do íleo geralmente está na pelve, de onde ascende, terminando na face medial do ceco. Embora não haja uma linha de demarcação nítida entre o jejuno e o íleo, eles têm características distintas, que são muito importantes e estão descritas na tabela abaixo: Tabela 1. Características diferenciais entre jejuno e íleo. CARACTERÍSTICAS JEJUNO ÍLEO Cor Vermelho forte Rosa pálido Calibre 2 - 4 cm 2 – 3 cm Parede Espessa e grossa Fina e leve Vascularização Grande Pequena Vasos retos Longos Curto Arcos Algumas alças longas Muitas alças curtas Gordura no mesentério Menos Mais Pregas circulares Grandes, altas e próximas Baixas e espessas; ausentes na parte distal Nódulos linfoides (placas de Peyer) Poucos Muitos Figura 1. Jejuno Figura 2 Íleo. Já o intestino grosso (formado por apêndice vermiforme, colo ascendente, transverso, descendente, sigmoide, reto e canal anal) é o local de absorção de água dos resíduos indigeríveis do quimo líquido, convertendo em fezes semissólidas, que são temporariamente armazenadas e acumuladas até que haja defecação O intestino grosso se diferencia do delgado por presença de algumas estruturas, como apêndices omentais; as 3 tênias do colo, mesocólica, omental e livre; presença de saculações e o maior calibre. O intestino grosso começa na papila ileal, mas sua primeira parte, o ceco, é uma bolsa pendente inferior à papila ileal. O ceco semelhante a uma bolsa e a parte mais 11 Felipe Altimari larga do intestino grosso é completamente intraperitoneal e não tem mesentério, de modo que é móvel na fossa ilíaca direita. A papila ileal é uma associação de válvula e esfíncter fraco, cuja abertura ativa periódica permite a entrada do conteúdo ileal e forma uma válvula unidirecional essencialmente passiva entre o íleo e o ceco, que impede o refluxo. O apêndice vermiforme é um divertículo intestinal, rico em tecido linfoide, que entra na face medial do ceco, em geral profundamente à junção do terço lateral com os dois terços mediais da linha espinoumbilical. Na maioria das vezes, o apêndice vermiforme é retrocecal, mas em 32% dos casos desce para a pelve menor. O colo tem quatro partes: ascendente, transverso, descendente e sigmoide. O colo ascendente éuma continuação superior, secundariamente retroperitoneal do ceco, que se estende entre o nível da papila ileal e a flexura direita do colo. O colo transverso, suspenso pelo mesocolo transverso entre as flexuras direita e esquerda do colo, é a parte mais longa e mais móvel do intestino grosso. O nível de descida depende principalmente do biotipo. O colo descendente ocupa posição secundariamente retroperitoneal entre a flexura esquerda do colo e a fossa ilíaca esquerda, onde é contínuo com o colo sigmoide. O colo sigmoide, com formato de S típico, suspenso pelo mesocolo sigmoide, tem comprimento e disposição muito variáveis, terminando na junção retossigmoidea. As tênias, saculações e apêndices omentais terminam na junção localizada anteriormente ao terceiro segmento sacral. FISIOPATOLOGIA A maioria dos casos de diarreia são decorrentes da alteração do transporte de líquidos e eletrólitos e pouco dependente da motilidade da musculatura lisa. Normalmente, cerca de 9L penetra no trato gastrointestinal em um dia, sendo apresentado ao duodeno, cerca de 2 L. Apenas 0,2L é excretado nas fezes. Se qualquer perturbação no transporte de eletrólitos ou a presença de solutos não absorvíveis no lúmen intestinal reduzissem a capacidade de absorção do intestino delgado em 50%, o volume de liquido apresentado diariamente ao cólon normal excederia sua capacidade de absorção diária máxima de 4 L. Isso resultaria em uma excreção de fezes de 1.000 mL, que, por definição, é diarreia. Da mesma forma, se o cólon encontra-se danificado de tal forma que não pode absorver nem mesmo o volume de 1,5 L normalmente apresentado pelo intestino delgado, restará um volume fecal superior a 200 ml/24 horas – também sendo definido como diarreia. A nível celular, ocorre excesso de líquido no lúmen intestinal quando há deficiência na capacidade de transporte de eletrólitos do intestino delgado ou grosso ou quando cria-se um gradiente osmótico desfavorável (inibição da absorção de Na+ ou secreção ativa de Cl-) que não pode ser suplantado pelos mecanismos normais de absorção de eletrólitos. Na membrana basolateral dos enterócitos, a atividade da bomba de Na+/K+ ATPase mantém baixas concentrações intracelulares de Na+. Isto força um fluxo absortivo contínuo deste eletrólito junto com água. Se solutos pouco absorvíveis ou não absorvíveis estão presentes no lúmen, como lactose em indivíduos com deficiência de lactase, ou mesmo presença de substâncias, como a enterotoxina da E. coli e toxina da cólera, os mecanismos de absorção de sódio serão incapazes de criar esse gradiente favorável, levando a permanência de líquido no lúmen, formando a base para diarreia osmótica e secretória. A diarreia inflamatória se caracteriza por lesão e morte de enterócitos, atrofia de vilosidades e hiperplasia de criptas. As criptas hiperplásicas preservam sua capacidade secretória de Cl-. Em inflamação grave, ocorre extravasamento linfático, além da ativação de vários mediadores inflamatórios, que promovem aumento da secreção de Cl-, contribuindo para a diarreia. A interleucina 1 (IL-1) e o fator de necrose tumoral (TNF) também são liberados no sangue, causando febre e mal-estar. CLASSIFICAÇÃO A classificação das diarreias pode ser feita com base no tempo de duração do sintoma, nas características clínicas e topográficas e na fisiopatologia. Assim, diarreias agudas são aquelas com duração < 2 semanas, sendo a causa mais comum por infecções. A crônica acima de 4 semanas. Por fim, a diarreia persistente, aquela de duração entre 2 e 4 semanas. Quanto à classificação padrão: AGUDA PERSISTENTE CRÔNICA < 2 semanas Entre 2 – 4 semanas > 4 semanas Quanto às características clínicas e topográficas, é dividida em alta (do delgado) e baixa (cólon), e diferenciada por meio do volume por evacuação, frequência, presença de tenesmo e restos alimentares/sangue e muco, conforme quadro a baixo: CARACTERÍSTICAS ALTA BAIXA Volume por evacuação Grande Pequeno Frequência Baixa Alta ( >10x/dia) Tenesmo Não Sim Achados Restos alimentares Sangue, muco e/ou pus Quanto ao mecanismo fisiopatológico, são categorizadas em osmótica, secretória, inflamatória, disabsortiva e funcional, sendo as 4 primeiras diarreias orgânicas e a última não orgânica. 12 Felipe Altimari DIARREIA AGUDA Inicialmente, as primeiras suspeitas para um quadro de diarreia aguda são infecções e intoxicação alimentar. Aproximadamente 80% das diarreias agudas se devem a infecções por vírus, bactérias, helmintos e protozoários. O restante ocorre devido à ingestão de medicamentos, açúcares pouco absorvidos, impactação fecal, inflamação pélvica ou isquemia intestinal. Assim, as principais etiologias de gastroenterite são por: VÍRUS Norovírus Adenovírus Rotavírus Astrovírus BACTÉRIA Salmonella Clostridium difficile Shigella Yersínia Campylobacter S. aureus E. colli Vibriocholerae PROTOZOÁRIOS Giárdia Entamoeba histolytica HELMINTOS Ascaris Estrongiloide Necator americanos Ancylostoma duodenalis A maioria das diarreias infecciosas é adquirida pela transmissão fecal-oral pela água, alimentos ou contato interpessoal. Pacientes com diarreia infecciosa se queixam de náuseas, vômitos e dor abdominal, apresentando diarreia aquosa, com má absorção ou com sangue (disenteria). Como visto acima, são diversas as etiologias possíveis para a diarreia. Então, por isso é importante buscar as características da gastroenterite, como o tempo de incubação, fonte de contaminação e fatores de risco. Assim, cada fator está mais relacionado a um tipo de patógeno, como podemos ver abaixo: Fatores de risco Alimentos e água contaminada E. coli, norovírus, shigella Viajantes E. coli, Campylobacter, Shigella, Salmonella Uso recente de antibióticos Colite pseudomembranosa Asilos Creches Shigella, giardíase, criptosporidiose, rotavirose Imunodeficiências Infecções oportunistas Piscinas Giardíase, criptosporidiose Promiscuidade sexual Patógenos de transmissão fecal-oral Quanto a classificação fisiopatológica Diarreia osmótica • Acúmulo de solutos osmoticamente ativos • Gap osmolar fecal alto Ocorre por acúmulo de solutos osmoticamente ativos não absorvíveis no lúmen intestinal. Assim, ocorre retenção de líquidos intraluminais e consequentemente diarreia. É a partir desse mesmo mecanismo que funcionam os laxativos. Uso de antibióticos também podem causá-la. As características desse tipo de diarreia é o fato de ter gap osmolar alto, melhora em jejum e com suspensão de substâncias osmóticas. Ex.: deficiência de dissacarídeos, alta ingestão de carboidratos pouco absorvíveis (sorbitol, manitol, lactulose), abuso de laxativos. CONCEITO: O que é gap osmolar fecal? Trata-se de uma estimativa da contribuição de eletrólitos para a retenção de água no lúmen intestinal. Fórmula: 290- 2x (Na+ + K+) fecal. Diarreia secretória • Distúrbio do transporte hidroeletrolítico • Gap osmolar fecal baixo Distúrbio no processo hidroeletrolítico pela mucosa intestinal, por meio do aumento de secreção de íons e água para o lúmen ou inibição da absorção, por meio de drogas ou toxinas. Diferentemente da osmótica, tem gap osmolar baixo, não melhora com jejum e é responsável por um grande volume de fezes aquosas. Esse é o tipo de diarreia provocada por E. coli enterotoxigênica, Vibrio cholerae, Salmonella sp. A análise de eletrólitos fecais e gap osmolar é de grande importância no diagnóstico diferencial da diarreia crônica. Em pacientes com diarreia osmótica o gap osmolar é maior do que 125 mosm/Kg, nesse caso a osmolaridade é dependente de outras substâncias nas fezes que não eletrólitos, já quando o gap osmolar é menor do que 50 mosm/Kg o diagnóstico provável é de diarreia secretória. Em processos mistos o gap varia entre 50 a 124 mosm/Kg. Diarreia inflamatória • Inflamação com possível eliminação de muco, pus ou sangueComo o próprio nome induz, é causada por uma alteração inflamatória, levando a produção de muco, pus e/ ou sangue nas fezes. Pode ter alteração laboratorial da calprotectina ou lactoferrina fecal. Entre as causas, destacam- se a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. Diarreia funcional • Diagnóstico de exclusão • Hipermotilidade intestinal Nesse tipo de diarreia, a absorção e secreção estão normais, porém não há tempo suficiente para ocorrer a absorção desses nutrientes corretamente. É um diagnóstico de exclusão, ou seja, quando ausência de doença orgânica justificável. Ocorre por hipermotilidade intestinal. Exemplos: síndrome do intestino irritável e diarreia diabética (neuropatia autonômica). Diarreia disabsortiva • Síndrome de má absorção • Esteatorreia Também conhecido como esteatorreia. A causa dessa diarreia está associada a baixa absorção dos lipídios no intestino delgado, ou seja, pode ser causada também por uma síndrome de má absorção ou por uma síndrome de má digestão. Por exemplo doença celíaca, doença de Crohn, doença de Whipple, giardíase, estrongiloidíase e linfoma intestinal. 13 Felipe Altimari Gastroenterite viral São a causa mais comum de diarreias infecciosas, sendo o mais importante o rotavírus. Esse promove diarreia predominantemente em bebês, comumente no inverno, mas também diarreia aguda não sazonal, particularmente em idosos. O norovírus é o que causa mais quadro de gastroenterite em adultos. O rotavírus invade células intestinais a partir de receptores específicos e em seguida, escapa do endossomo, ficando livre no citosol para se multiplicar. Em seguida, passa a produzir uma proteína chamada de NSP4, que bloqueiam alguns transportadores como o SGLT1, o que interrompe a absorção de sódio, glicose e agua, provocando diarreia. Além disso, ativa vias de sinalização, como a do AMP cíclico, que aumentam os níveis de cálcio e promovem hipersecreção e diarreia. Gastroenterite bacteriana O principal agente é a E. coli. Essa é uma bactéria cólonizadora da flora intestinal, porém existem algumas formas patogênicas que podem ser adquiridas e causar diarreias. Essa distinção entre cepas patogênicas e não patogênicas é feita pela cultura das fezes. E. coli enterotoxigênica (ETEC): É a principal causadora da diarreia dos viajantes. Essa se adere a mucosa intestinal, produz toxinas termoestável e termosensível que estimulam a secreção de água para o lúmen intestinal. Como não ultrapassa a mucosa e não promove lesão, a diarreia cursa sem muco, pus ou sangue, porém é caracterizada por ser explosiva e de grande volume. Dura cerca de 5 dias. E. coli enteropatogênica (EPEC): Tem capacidade de se aderir a mucosa intestinal, promovendo alteração estrutural das células, com modificação do citoesqueleto e apagamento das vilosidades. A absorção e secreção ficam prejudicadas, levando a uma diarreia bem aquosa. É comum surtos dessa cepa em crianças, principalmente nas que não são amamentadas. E. coli enterohemorrágica (EHEC): Se adere a mucosa e é capaz de produzir toxinas como a “shiga-like”. Essa toxina é a responsável por causar a colite hemorrágica e manifestações sistêmicas. Cursa com diarreia sanguinolenta, dor abdominal, podendo apresentar febre discreta. Após 1 a 2 semanas, pode cursar com síndrome hemolítico-urêmica (anemia hemolítica microangiopática, insuficiência renal e plaquetopenia). E. coli enteroinvasiva (EIEC): Penetra na mucosa intestinal e se reproduz nos enterócitos. Leva a lesão das células cursando, inicialmente, com diarreia aquosa e, posteriormente, sanguinolenta. Portanto, leva a um quadro de disenteria. E. coli enteroagregativa (EAEC): Não se sabe exatamente o mecanismo, foi a última cepa descoberta, leva a uma diarreia persistente em crianças e em pacientes com HIV. A Shigella é uma bactéria Gram-negativa, resistente ao suco gástrico. Encontrada em alimentos e água contaminadas. Existem quatro fases: incubação, durando de 1 a 4 dias; diarreia aquosa inicial, disenteria e fase pós infecciosa. As principais complicações são intestinais (megacólon tóxico, perfuração intestinal, prolapso intestinal) ou metabólicas (hipoglicemia, hiponatremia, desidratação). O tratamento de escolha é feito com ciprofloxacino. A Salmonella spp é uma bactéria gram negativa que induz sua fagocitose pela ação de um sistema que injeta algumas moléculas nas células do intestino. Essas moléculas injetadas causam uma polimerização da actina e mudança do metabolismo da nossa célula intestinal de forma a fagocitar a Salmonella. Essa forma de invasão é chamada de gatilho. Após ser fagocitada, a Salmonella fica dentro do endossomo, que se funde com os lisossomos, formando o fagolisossomo. A Salmonella não morre lá dentro pois começa a produzir o SPI II, que injeta novas proteínas que fazem a Salmonella sobreviver. E, além disso, o SPI II também produz proteínas que modelam a atividade de microtúbulos das nossas células. Basicamente, eles incentivam que as cinesinas (proteínas motoras) puxem o fagolisossomo com a Salmonella dentro até para próximo das extremidades da célula intestinal, favorecendo sua disseminação. A salmonelose pode levar a febre tifoide ao ganhar a circulação através de macrófagos, por isso, todo paciente com suspeita de salmonella, deve pesquisar o sangue. O S. aureus é capaz de produzir uma toxina termoestável. A intoxicação alimentar está intimamente associada a essa bactéria, com em maionese, cremes, ovos. Os sintomas se iniciam após algumas horas da ingestão do alimento, cursando com diarreia volumosa, náuseas, vômitos e cólicas. A colite pseudomembranosa é causa pela bactéria Clostridium difficile. Trata-se de uma bactéria gram-positiva cujos esporos são observados principalmente em ambiente hospitalar. O risco de contaminação também está relacionado a idade avançada, doença de base grave, cateteres, anti-ácidos, cirurgias gastrointestinais. Os esporos germinam no delgado e cólonizam o cólon. Essas vivem pacificamente até que uma causa qualquer, como uso de antibióticos, destrua a flora e as clostidium se multiplica, causando a doença. Essas produzem duas toxinas, A e B, que promovem lesão direta do cólon e alteração do citoesqueleto, respectivamente. Assim, para a doença é necessário a contaminação pela bactéria, uso de antibióticos, como cefalosporinas, que irão alterar a flora, e a presença de IgG contra a toxina A. Os antibióticos que estão relacionados ao desenvolvimento da doença estão listados no quadro abaixo como associados com a doença, ocasionalmente associados e raramente associados. ASSOCIADOS ASSOCIADOS OCASIONALM ENTE RARAMENTE ASSOCIADO Clindamicina Sulfonamidas Aminoglicosídeos parenterais Ampicilina Trimetoprim Tetraciclina Amoxicilina Macrolídeos Cloranfenicol Cefalosporinas Outras penincilinas Metronidazol Fluoroquinolonas Vancomicina 14 Felipe Altimari O quadro clínico desses pacientes varia de gravidade, podendo ter apresentação clínica desde uma diarreia sem colite até uma colite fulminante. Inicialmente, apresenta diarreia nos 4 a 9 dias após o início do uso de antibióticos. Quase nunca apresenta sangue visível, possui um odor característico e aumento da frequência das evacuações, podendo apresentar até mesmo 20 evacuações por dia. Uma das apresentações se caracterizam por formação de pseudomembranas que cobrem o cólon. Figura 4. Imagem endoscópica de colite pseudomembranosa (placas esbranquiçadas ou amareladas). O diagnóstico da colite pseudomembranosa é feito através de uma combinação de critérios: 1. Diarreia com mais de 3 episódios de fezes não moldadas por dia, durante um tempo de 2 dias e que não possua outra causa; 2. Detecção de toxina A e B nas fezes ou detecção de C. difficile na coprocultura/PCR ou pseudomembranas na endoscopia do cólon. O tratamento vai se iniciar suspendendo o antibiótico que causou o quadro. Depoisa conduta irá se basear em infecção primária ou recorrente. Geralmente, no tratamento utiliza-se metronidazol em casos leves a moderados e vancomincina ou fidaxomicina, em casos graves, por 10 dias. Gastroenterites parasitárias A grande parte dos parasitos estão associados a diarreias persistentes à crônicas. Portanto, serão citadas nesse Super Material em diarreias crônicas. Causas medicamentosas Os medicamentos mais associados a quadros de diarreia são os antibióticos, particularmente clindamicina, ampicilina, cefalosporina, eritromicina; antiinflamatórios não esteroidais; anti-hipertensivos, como βbloqueadores, hidralazina, IECA, diuréticos. ABORDAGEM AO PACIENTE COM DIARREIA AGUDA Inicialmente, uma anamnese bem feita e um exame físico bem detalhado vão ser imprescindíveis para levantar suspeitas da etiologia da diarreia. Para isso, identificar: Volume das evacuações Frequência das evacuações Sangue, muco ou pus nas fezes Características das fezes (coloração, odor, consistência) Presença de febre Dor abdominal associada, náuseas, vômitos ou outros sintomas Ausência de melhora após 48h Surtos na comunidade Viagens recentes Uso recente de antibióticos Idade do indivíduo (> 70 anos) e imunocomprometidos (ambos sinais de alarme) A partir disso, a base para o diagnóstico é a cultura das fezes, para bactérias e vírus, parasitológico de fezes e imunoensaios para toxinas de vírus, bactérias e protozoários. Além disso, solicitação de hemograma, para avaliar leucocitose; bioquímica séria, para avaliar perda de eletrólitos. A colonoscopia não é indicada para casos de diarreia aguda. Esses exames devem ser solicitados em pacientes com mais de 70 anos, duração maior que uma semana, ≥ 6 episódios/dia, desidratação grave, toxemia, imunossupressão, etiologia hospitalar ou sinais de diarreia inflamatória. A base do tratamento de diarreias agudas é a hidratação e correção de distúrbios hidroeletrolíticos, realimentação, uso de antibióticos e de probióticos. Em geral, o tratamento com antibiótico é feito com quinolonas, com base em alguns patógenos mais frequentes, como Shigella, Salmonella, E. coli e Campylobacter, e vai ser restrito a alguns grupos, como pacientes com: Febre Disenteria Frequência de evacuações maior que 8x por dia Idosos e imunocomprometidos Pacientes hospitalizados Tabela 3. Antibioticoterapia no tratamento da diarreia aguda infecciosa. ANTIBIÓTICO DOSE Levofloxacino 500mg VO dose única ou 3 dias de tratamento* Ciprofloxacino 750mg VO dose única OU 500mg VO por 3 dias* Ofloxacino 400mg VO dose única ou 3 dias de tratamento* Azitromicina 1g VO dose única OU 500mg VO por 3 dias * Rifaximina ** 200mg VO 3xd por 3 dias * Se os sintomas não melhorarem em 24h, completar o tratamento de 3 dias ** Não utilizar de suspeita clínica de Campylobacter, Salmonella ou Shigella Pode-se também utilizar agentes antidiarreicos em pacientes sem febre e sem disenteria e agentes probióticos. Os probióticos são espécies de bactérias que colonizam e se replicam no trato intestinal humano e promovem um efeito benéfico no hospedeiro. Existem baixas evidências quanto 15 Felipe Altimari ao seu resultado eficiente nos casos de diarreia, entretanto, é conhecido seu benefício nos pacientes com diarreias provocadas por uso de antibióticos. A terapêutica obstipante só deve ser instituída após diagnóstico etiológico e se a dieta e medidas de suporte, hidratação e correção de alterações eletrolíticas forem insuficientes. Nenhum destes medicamentos ataca as causas básicas promotoras de diarreia ou promovem o restabelecimento de água, eletrólitos e nutrientes perdidos durante o surto. Agentes antidiarreicos como loperamida ou difenoxilato podem ser úteis para reduzir o número de evacuações em pacientes com doença leve. Anticolinérgicos (tintura de beladona, clidínio, brometo de propantelina e cloridrato de diciclomina) são úteis para reduzir as cólicas, dores abdominais e urgência. Mas cuidado! Agentes antidiarreicos e anticolinérgicos não devem ser usados em doença grave pelo risco de precipitar megacólon tóxico. Já o subsalicilato de bismuto é a droga de escolha quando o vômito é a principal queixa (principalmente nas gastroenterites virais. Reduz as evacuações em 50%, podendo ser usado nas profilaxias de diarreia dos viajantes. Reidratação O uso de soluções de reidratação oral (SRO) tem como objetivo reduzir a morbiletalidade por diarreia. Está indicada na prevenção da desidratação e no tratamento das formas leve, moderada, e grave sem choque e na continuidade do tratamento iniciado por via parenteral. Os quadros diarreicos com desidratação grave devem iniciar a reidratação, preferencialmente por via endovenosa, associando depois a reidratação por via oral. No surto de diarreia não se perde apenas água, mas também eletrólitos (sódio, potássio e cloro). Por este motivo a ingestão única de água num episódio diarreico será insuficiente. Deve-se oferecer líquidos constituídos com SRO equilibradas em água e eletrólitos. Os sais de reidratação oral não vão alterar o sintoma diarreia (no início da administração dos sais as perdas fecais até poderão aumentar), mas o seu uso vai prevenir/tratar a desidratação. As soluções de reidratação oral foram desenvolvidas depois da descoberta do mecanismo de co-transporte. Um componente da absorção intestinal é mediada por um transportador ativo de glicose dependente do sódio (SGLT1). Quando a glicose e o sódio são absorvidos, o enterócito fica hiperconcentrado, o que faz demandar também a absorção de água por osmose. O reconhecimento deste fenômeno fisiológico, denominado de co-transporte de glicose-sódio, é um dos mais relevantes avanços científicos da Medicina do século XX. O tratamento das doenças diarreicas agudas se fundamenta na prevenção e na rápida correção da desidratação por meio da ingestão de líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO) ou fluidos endovenosos, dependendo do estado de hidratação e da gravidade do caso. Por isso, apenas após a avaliação clínica do paciente, o tratamento adequado deve ser estabelecido, conforme os planos A, B e C descritos abaixo. Plano A O plano A consiste em cinco etapas direcionadas ao paciente HIDRATADO para realizar no domicílio: • Aumento da ingestão de água e outros líquidos incluindo solução de SRO principalmente após cada episódio de diarreia, pois dessa forma evita-se a desidratação; • Manutenção da alimentação habitual; continuidade do aleitamento materno; • Retorno do paciente ao serviço, caso não melhore em 2 dias ou apresente piora da diarreia, vômitos repetidos, muita sede, recusa de alimentos, sangue nas fezes ou diminuição da diurese; • Orientação do paciente/responsável/acompanhante para reconhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente e administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos); • Administração de Zinco uma vez ao dia, durante 10 a 14 dias. Plano B O Plano B consiste em três etapas direcionadas ao paciente COM DESIDRATAÇÃO, porém sem gravidade, com capacidade de ingerir líquidos, que deve ser tratado com SRO na Unidade de Saúde, onde deve permanecer até a reidratação completa. • Ingestão de solução de SRO, inicialmente em pequenos volumes e aumento da oferta e da frequência aos poucos. A quantidade a ser ingerida dependerá da sede do paciente, mas deve ser administrada continuamente até que desapareçam os sinais da desidratação; • Reavaliação do paciente constantemente, pois o Plano B termina quando desaparecem os sinais de desidratação, a partir de quando se deve adotar ou retornar ao Plano A; • Orientação do paciente/responsável/acompanhante para reconhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente e administrar a solução deSRO e praticar ações de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos); Plano C O Plano C consiste em duas fases de reidratação endovenosa destinada ao paciente COM DESIDRATAÇÃO GRAVE. Nessa situação o paciente deverá ser transferido o mais rapidamente possível. Os primeiros cuidados na unidade de saúde são importantíssimos e já devem ser efetuados à medida que o paciente seja encaminhado ao serviço hospitalar de saúde. • Realizar reidratação endovenosa no serviço saúde (fases rápida e de manutenção); • O paciente deve ser reavaliado após duas horas, se persistirem os sinais de choque, repetir a prescrição; caso contrário, iniciar balanço hídrico com as mesmas soluções preconizadas; • Administrar por via oral a solução de SRO em doses pequenas e frequentes, tão logo o paciente aceite. Isso acelera a sua recuperação e reduz drasticamente o risco de complicações. • Suspender a hidratação endovenosa quando o paciente estiver hidratado, com boa tolerância à solução de SRO e sem vômitos. 16 Felipe Altimari Tabela 4. Plano C – Tratamento da desidratação grave na unidade hospitalar. Fonte: Ministério da saúde, 2017. FASE RÁPIDA (FASE DE EXPANSÃO) MENORES DE 5 ANOS SOLUÇÃO VOLUME TEMPO DE ADMINISTRAÇÃO Soro Fisiológico a 0,9% Iniciar com 20ml/kg de peso. Repetir essa quantidade até que a criança esteja hidratada, reavaliando os sinais clínicos após cada fase de expansão administrada. 30 minutos Para recém-nascidos e cardiopatas graves começar com 10ml/kg. MAIORES DE 5 ANOS SOLUÇÃO VOLUME TOTAL TEMPO DE ADMINISTRAÇÃO 1º Soro Fisiológico a 0,9% 30ml/kg 30 minutos 2º Ringer Lactato ou Solução Polieletrolítica 70ml/kg 2 horas e 30 minutos Tabela 5. Plano C – Tratamento da desidratação grave na unidade hospitalar. Fonte: Ministério da saúde, 2017. FASE DE MANUTENÇÃO E REPOSIÇÃO PARA TODAS AS FAIXAS ETÁRIAS SOLUÇÃO VOLUME EM 24 HORAS Soro Glicosado a 5% + Soro Fisiológico a 0,9% na proporção de 4:1 (manutenção) Peso até 10kg 100ml/kg Peso de 10 a 20kg 1000ml + 50ml/kg de peso que exceder 10kg Peso acima de 20kg 1500ml + 20ml/kg de peso que exceder 20kg Soro Glicosado a 5% + Soro Fisiológico a 0,9% na proporção de 1:1 (reposição) Iniciar com 50ml/kg/dia. Reavaliar esta quantidade de acordo com as perdas do paciente. KCl a 10% 2ml para cada 100ml de solução da fase de manutenção. DIARREIA CRÔNICA Síndrome da má absorção Má absorção é causada por muitas doenças, medicações, ou produtos nutricionais diferentes que comprometem a digestão intraluminal, absorção pela mucosa ou transporte dos nutrientes até a circulação sistêmica. Esteatorreia (excesso de gordura nas fezes) é a característica principal da má absorção; um exame de fezes para gordura é o melhor exame de triagem para má absorção. Nem sempre má absorção causa diarreia. Podem ocorrer sinais clínicos de deficiências de vitaminas e minerais sem que haja diarreia. Nutrientes são absorvidos ao longo de toda a extensão do intestino delgado, com exceção do ferro e folato, que são predominantemente absorvidos no duodeno e jejuno proximal, e sais biliares e cobalamina, que são absorvidos somente no íleo distal A eficiência da absorção de nutrientes na mucosa é influenciada pelo número de células de absorção nas vilosidades, presença de hidrolases funcionais e de proteínas especificas para transporte de nutrientes na membrana da borda em escova, e pelo tempo de trânsito. O tempo de trânsito determina o tempo de contato do conteúdo do lúmen com a membrana da borda em escova e influencia a eficiência da absorção de nutrientes através da mucosa. Tabela 6. Fatores envolvidos na absorção dos nutrientes. NUTRIENTES QUEM PARTICIPA NA ABSORÇÃO Lipídio Lipase pancreática; Sais biliares Carboidrato Amilase pancreática Proteína Pepsina gástrica; Tripsinogênio Ferro Absorção direta Ácido fólico Absorção direta Vitamina B12 Ligante R; Fator intrínseco Vitaminas K, E, D, A Lipídios Existem muitos testes para caracterizar as síndromes disabsortivas, os gerais e específicos de função pancreática, de supercrescimento bacteriano, de doenças de mucosa e teste de função ileal. Estes testes estão descritos no quadro abaixo. O primeiro passo nesses pacientes é usualmente excluir doença estrutural com TC do abdome e eventualmente teste sorológico para doença celíaca. A insuficiência pancreática pode ser avaliada pelo teste da secretina e pesquisa de quimiotripsina fecal. Os principais testes para avaliação desses pacientes são descritos a seguir: Teste quantitativo de gordura fecal Quantidade de gordura presente nas fezes acumuladas em 72 horas Teste qualitativo de gordura fecal Usa o corante para gorduras Sudan III Teste rápido e barato; no entanto, por se tratar de um teste qualitativo, não estabelece o grau de má absorção das gorduras –preferência como estudo de de rastreamento Teste da D-Xilose urinária A hiperproliferação bacteriana e a lesão da mucosa do intestino proximal reduzem a absorção de D-Xilose Teste da Bentiromida É um peptídeo sintético ligado a um ácido, o PABA. Esta ligação é desfeita pela quimiotripsina, enzima pancreática Dosagem da tripsina sérica Mais específico e menos sensível do que o teste da bentiromida urinária Teste de Schilling Se for identificada B12 na urina é sinal que não há má-absorção dessa vitamina Testes respiratórios Teste C14-xilose Teste de exalação da Lactose-H2 Teste respiratório com H2 17 Felipe Altimari TESTE DE SCHILLING: Tem como objetivo localizar onde está o problema que causou a deficiência de vitamina B12. É composto por 4 fases. Na primeira, se administra cianocobalamina via intramuscular para repor as deficiências corpóreas de B12 e garantir que a vitamina administrada por via oral para o teste seja eliminada na urina. Esta primeira parte do exame diferencia as causas de deficiência de vitamina B12 por má absorção de outras causas como as carências nutricionais. Na segunda parte, repete-se a dose de cianocobalamina, porém agora ligada a fator intrínseco, para descartar anemia perniciosa. Na terceira parte, reposição de extrato pancreático, caso insuficiência pancreática. Na última etapa, antibioticoterapia por quatro dias com metronidazol (250mg 8/8h) + cefalexina (250 mg 6/6h) e repete-se a administração de cianocobalamina, afastar a presença de supercrescimento bacteriano como causa de má absorção. Caso em nenhuma dessas etapas a excreção se normalize, o mais provável é uma má absorção por doença ileal. Alguns outros exames podem ser solicitados. O trânsito intestinal, composto por radiografias seriadas após ingestão de sulfato de bário; enteróclise, também por administração de bário, para detectar calcificações pancreáticas e doença inflamatória intestinal, principalmente; a endoscopia alta e/ou baixa é um exame importante para avaliar doenças que cursam com má absorção, como doença de Crohn e permite a coleta de biópsias de delgado para avaliar doença celíaca, síndrome da imunodeficiência, doença de Whipple. A cultura de delgado é padrão-ouro para diagnosticar supercrescimento bacteriano. Colhe o fluido intestinal diretamente do intestino delgado e em seguida é enviado rapidamente para cultura. Os testes fecais são importantes para avaliar o pH fecal, uma vez que um pH mais ácido fala mais a favor de deficiência de lactase ou disabsorção de gorduras; e a osmolaridade diferencia uma diarreia osmótica de uma secretória. Algumas causas podem levar a esse tipo de síndrome, como: 1. Deficiência de lipólise 2. Deficiência na formação de micelas 3. Deficiência de lactase 4. Doença celíaca 5. Trânsito intestinal rápido 6. Giardíase 7. Amebíase 8. Estrongiloidíase 9. Teníase 10. Vírus da imunodeficiência humana 1. Deficiência de lipólise Deficiência
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