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A diarreia consiste em uma alteração no hábito intestinal por diminuição da consistência das fezes e aumento do volume e número de evacuações. Um hábito intestinal normal é considerado quando há fezes consistentes 1 a 3 vezes/dia ou até a cada 2 a 3 dias. Alterações intestinais são caracterizadas por variações na consistência e pela presença de produtos patológicos como: muco, pus, sangue, resíduos alimentares ou fezes brilhantes e/ou flutuantes (esteatorreia). A diarreia difere da urgência fecal e da pseudodiarreia. A urgência fecal é a eliminação involuntária das fezes por distúrbios neuromusculares ou problemas estruturais anorretais, sem alteração de peso e consistência. Já a pseudodiarreia é a eliminação de pequenos volumes de fezes, geralmente com urgência, sem alteração de peso e consistência. A classificação mais comum é quanto ao tempo de duração, sendo: - Aguda: diarreia que tem duração menor que 2 semanas; - Persistente: diarreia que dura entre 2 a 4 semanas; - Crônica: a diarreia dura mais que 4 semanas. Quanto as características clínicas e topográficas: - Alta: é causada no intestino delgado com grande volume, frequência de evacuações baixas, com ausência de tenesmo, quando há dor ela costuma ser em hemiabdome direito/mesogástrio e as náuseas são mais frequentes, além restos alimentares; - Baixa: ocorre no cólon e possui um volume pequeno, com frequência alta de evacuações, presença de tenesmo, quando há dor costuma ser em hemiabdome esquerdo/hipogástrio e as náuseas são mais raras, e pode ter como achados patológicos: sangue, muco e/ou pus. Classificação fisiopatológica: - Diarreia secretora: resulta da hipersecreção de água e eletrólitos pelo enterócito, como ocorre quando há ação das enterotoxinas bacterianas. Pode também resultar da produção excessiva de hormônios e outros secretagogos como no gastrinoma (gastrina), síndrome carcinoide (secretina, prostaglandinas, calcitonina), adeoma viloso, insuficiência adrenal e hipoparatireoidismo; - Diarreia osmótica: acúmulo de solutos osmoticamente ativos e não absorvíveis no lúmen intestinal. Assim ocorre a retenção de líquidos intraluminais e diarreia. É por esse mecanismo que funcionam os laxativos. Pode ocorrer com alto consumo de carboidratos, nas deficiências de dissacaridases, ingestão de agentes osmoticamente ativos como lactulose, manitol, sorbitol e sais de magnésio; - Diarreia motora: resulta de alterações motoras com trânsito intestinal acelerado. Surge também por redução da área absortiva consequente a ressecções intestinais ou de fístulas. Acontece em doenças metabólicas e endócrinas; - Diarreia exsudativa/inflamatória: decorre de enfermidades causadas por lesões da mucosa resultante de processos inflamatórios ou infiltrativos que podem levar a perda sanguínea, muco e pus, com aumento de volume e fluidez fecal; - Diarreia disabsortiva: resulta de deficiências digestivas e lesões parietais do intestino delgado que impedem a correta digestão ou absorção. Pode causar diarreia com esteatorreia e resíduos alimentares. A importância dessa classificação está na diferenciação da etiologia de cada localização, para conduzir melhor a conduta médica investigativa e terapêutica. A maioria das diarreias que causam problemas no TGI alto desencadeia diarreias secretoras e diarreias baixas costumam possuir padrão inflamatório. O intestino ele tem função de secretar fluídos que auxiliam na digestão e de absorver líquidos, eletrólitos e nutrientes. Fisiologicamente a absorção supera a secreção, sendo o intestino delgado o principal agente nesse processo. Por dia, aproximadamente, o intestino recebe 10L de líquido (saliva, ingesta, secreção gástrica, biliar, pancreática e intestinal), absorve cera de 6L no jejuno e 2,5L no íleo. O cólon recebe em torno de 1,5L e absorve em 24h cerca de 4 a 5L, sendo 100mL eliminados nas fezes. Quando esse valor é ultrapassado, surge a diarreia. A água é absorvida devido ao gradiente osmótico ocasionado pelo sódio, ele é absorvido associado ao cloro ou a outros nutrientes. A absorção de Na/Cl leva a água passivamente através das vilosidades, isso se dá pela menor quantidade de sódio no interior do enterócito em relação ao lúmen. Essa via pode ser inibida pela cAMP e GMPc que sofrem estimulação da adenilciclase e guanilciclase do enterócito, que podem ser ativadas por toxinas bacterianas e consequentemente levar ao acúmulo de sódio no lúmen aumentando a secreção, pelo gradiente osmótico. A absorção de sódio junto com glicose, galactose e aminoácidos é ativa e não é influenciada por agentes infecciosos, por isso são usadas para restaurar as perdas nas diarreias infecciosas. A secreção entérica depende da secreção ativa de cloro que acompanha a eliminação de sódio e água para o lúmen pelas células das criptas, assim a água acompanha o movimento sódio, e a absorção se faz pelas células do ápice das vilosidades. Diversos agentes estimulam a secreção ou inibem a absorção, como prostaglandinas, peptídeo vasoativo intestinal e peptídeo calmodulina, enquanto as encefalinas atuam na absorção. Os processos acontecem juntos, tendo predomínio da absorção, se há diminuição da absorção ou aumento da secreção ocorre a diarreia. Muitos microrganismos podem alterar o equilíbrio de absorção e secreção e causar diarreia, seja pela produção de enterotoxinas que ativam a secreção ou por alterarem as vilosidades e absorção. No íleo e cólon, a diarreia é causada principalmente por invasão e destruição do epitélio resultando em ulceração, infiltração de submucosa e eliminação de soro e sangue. Além de poder estimular a resposta inflamatória local resultando na liberação de substâncias secretórias contribuindo para perda de líquido. Manifestada como um quadro de instalação súbita em resposta a estímulos ariáveis, sendo os principais associados a agentes infecciosos com evolução autolimitada. Etiologia A maioria dos quadros são causados por microrganismos agressores, porém podem ser causados por abusos de fármacos ou alimentos, ou por estímulos exacerbados por estresses emocionais. Os mecanismos fisiopatológicos das diarreias infecciosas são o secretório e inflamatório. A distinção entre microrganismos de estímulo secretório e inflamatório ajuda na hora de definir uma conduta terapêutica. Quadro clínico Na anamnese deve-se investigar o local e as condições em que a diarreia foi adquirida. Deve-se investigar a ingestão recente de água, frutas ou verduras potencialmente contaminadas, alimentos suspeitos, viagens recentes, presença de pessoas também acometidas, uso recente de antibióticos e outros fármacos, história sexual, banho em locais públicos e contato com animais. - Diarreia inflamatória: é o espectro clínico mais grave causado por bactérias, parasitos e bactérias produtoras de citotoxinas que afetam preferentemente íleo e cólon. Promove ruptura do revestimento mucoso e perda de soro, hemácias e leucócitos para o lúmen. Manifesta-se com diarreia de pequeno volume, com muco, pus ou sangue, febre, dor abdominal predominante em QIE, tenesmo (vontade intensa de evacuar ou sensação de não ocorrer esvaziamento completo ou de nem ocorrer evacuação) e dor retal; - Diarreia não inflamatória: é, em geral, moderada, mas pode ser muito grave também. É causada habitualmente por vírus e bactérias produtoras de enterotoxinas e afeta preferentemente o intestino delgado. Os microrganismos aderem a parede abdominal sem causar destruição, causando uma diarreia secretora com fezes aquosas, de grande volume e sem sangue que podem estar associadas a náuseas e vômitos. As cólicas quando presentes são discretas. É necessário definir o tipo de diarreia e avaliar as possíveis complicações como a desidratação. Relato de boca seca, sede, diurese concentrada, oligúria, associados a achados como pele e mucosas desidratadas, hipotensão postural, taquicardia, demonstram desidratação. Sinais de toxemia indicam quadromais grave como: febre alta, taquipneia, vasodilatação periférica, hipotensão, pulsos rápidos e finos são sinais de alerta. No exame físico pode apresentar dor leve e difusa a palpação, com possibilidade de DB levemente dolorosa em situações de maior distensão de alças e dor mais intensa, os ruídos hidroaéreos estão comumente aumentados. Diagnóstico Geralmente a anamnese e exame físico são suficientes para estabelecer o diagnóstico, mas podem ser utilizados alguns exames para verificar as condições do paciente. - Hemograma: em casos mais graves pode apresentar anemia e hemoconcentração. Nas diarreias virais está presente linfocitose, leucocitose com neutrofilia e desvio a esquerda é frequente em infecções bacterianas mais invasivas; - Função renal e eletrólitos: a desidratação causa hipovolemia que altera a perfusão renal fazendo com que haja elevação da creatinina e, principalmente, da urina em depleções volêmicas importantes. Os distúrbios devem ser corrigidos quando presentes; - Parasitológico de fezes: avaliar a presença de patógenos nas fezes; - Coprocultura: reservada para casos suspeitos de diarreia infecciosa por bactérias invasivas, na presença de sangue oculto e leucócitos fecais; - Endoscopia: utilizada em casos suspeitos de colite pseudomembranosa. Tratamento - Reidratação: na maioria dos casos reidratação oral é suficiente. A solução deve conter glicose para favorecer a absorção de sódio. Quando há perdas importantes deve haver reposição de eletrólitos (Na, K, HCO3 e Cl) em concentrações aproximadas daquelas perdidas; - Dieta: o paciente deve ser orientado a continuar se alimentando, aquele que possui náuseas e vômitos deve dar preferência aos líquidos em pequenas quantidades para garantir reposição das perdas. Devem ser evitados alimentos que contêm cafeína, lactose, gordura e frituras pois podem diminuir a absorção e agravar a diarreia; - Antidiarreicos: em alguns casos é indicado utilizar para reduzir o número de evacuações, em especial, para casos não inflamatórios. Gastroenterite viral São as causas mais comuns de diarreia infecciosa, o principal agente é o rotavírus. Ele promove diarreia predominantemente em bebês, durante o inverno, mas também de forma não sazonal. O norovírus é o principal causador em adultos. O rotavírus invade células intestinais a partir de receptores específicos e escapa do endossomo ficando livre no citosol, ele começa a produzir uma proteína que bloqueia alguns transportadores SGLT1 que impede absorção de sódio, glicose e água provocando diarreia. Além de ativar vias de sinalização que aumentam os níveis de cálcio e promovem hipersecreção e diarreia. A diarreia causada pelo rotavírus é aquosa, profusa, de cor amarelada a esverdeada e raramente contém muco, pode ser acompanhada de febre que costuma ser baixa durante 1 a 2 dias, e vômitos que precedem a diarreia e não duram mais que 3 dias. Gastroenterite bacteriana A principal causadora é a E. coli. Ela é uma bactéria colonizadora da flora intestinal, porém existem algumas formas patogênicas. - E. coli enterotoxigênica: principal causadora de diarreia dos viajantes, ela adere a mucosa e produz toxinas termoestáveis e termosensíveis que estimulam a secreção de água para o lúmen intestinal. Como não ultrapassa a mucosa e não promove lesão a diarreia não possui muco, pus ou sangue, porém é explosiva e de grande volume; - E. coli enteropatogênica: elas se aderem e destroem as microvilosidades, reduzindo a área absortiva. A absorção e secreção ficam prejudicadas, levando a uma diarreia bem aquosa. Está associada a episódios esporádicos de diarreia em RNs e pode atingir adultos. São indicados reidratação e terapêutica sintomática, e antimicrobianos da classe das quinolonas; - E. coli êntero-hemorrágica: ela se adere a mucosa e é capaz de produzir uma toxina como a “shiga-like” que causa colite hemorrágica e manifestações sistêmicas. Cursa com diarreia sanguinolenta, dor abdominal, podendo apresentar febre discreta, após 1 a 2 semanas pode cursas com síndrome hemolítico-urêmica (anemia hemolítica microangiopática, insuficiência renal e plaquetopenia); - E. coli enteroinvasiva: penetra na mucosa intestinal e se reproduz nos enterócitos. Leva a lesão das células e cursa com diarreia aquosa e, posteriormente, sanguinolenta – desinteria; - E. coli enteroagregativa: leva a uma diarreia persistente em crianças e em pacientes com HIV. A Salmonella spp é uma bactéria gram negativa que induz a fagocitose pela ação de um sistema que injeta moléculas nas células do intestino. As moléculas induzem a polimerização da actina que fagocita a salmonella, e após a fagocitose ela forma o fagolisossomo por se unir aos lisossomos. Lá dentro ela começa a produzir proteínas que permitem sua sobrevivência. Elas também modelam as atividades dos microtúbulos para que as cinesinas puxem os fagolisossomos para dentro da célula, favorecendo a disseminação. A diarreia causada por salmonella apresenta náuseas, cólicas abdominais, diarreia aquosa, febre e vômitos. A infecção pode causar também Salmonelose tifoide. O Staphylococcus aureus produz uma toxina em alimentos mal refrigerados ou com cocção inadequada, também comum em maioneses ou coisas prontas e mesmo após esquentar a toxina não sai. Os pacientes apresentam náuseas, vômitos intensos, cólicas e diarreia aquosa. Pode evoluir com desidratação aguda e choque hipovolêmico. A Shigella é a causa mais comum de diarreia bacteriana. Ela é resistente ao ácido clorídrico do estômago e se multiplica no intestino delgado, onde chega ao cólon para exercer a forma patogênica. Ela é a causadora do quando de desinteria clássico: febre, cólicas e diarreia com muco e sangue, vômitos são pouco frequentes. O quadro clínico característico é iniciado com febre, anorexia e mal-estar e diarreia aquosa, que posteriormente, sai com muco e sangue, além de tenesmo (vontade intensa de evacuar ou sensação de não ter evacuado). A cólera, é uma doença causada pela bactéria Vibrio cholerae. É ocasionada pela ingestão de água, frutos do mar ou outros alimentos contaminados com excretas de outras pessoas com infecção sintomática ou assintomática. Contatos domiciliares dos pacientes com cólera tem alto risco de infecção. O período de incubação dura de 1 a 3 dias. Ela pode ser subclínica caracterizada por um episódio de diarreia não complicada e discreta. Os sintomas tem início abrupto, indolor, com diarreia aquosa e vômitos. Náuseas costumam estar ausentes. A diarreia é profusa com evacuação líquida sem material fecal, chamado de água de arroz. A perda de eletrólitos e água provoca sede, oligúria, cãibras, fraqueza e perda do turgor dos tecidos, olhos afundados e pregas (sinais de desidratação). Podem ocorrer hipovolemia, hemoconcentração, oligúria e anúria e acidose metabólica intensa com depleção de potássio. Enquanto a diarreia aguda se relaciona com agentes infecciosos e por isso está presente em populações mais pobres, as diarreias crônicas são frequentemente expressas em países desenvolvidos – devido aos hábitos alimentares. As etiologias mais comuns são síndrome do intestino irritável, doença inflamatória intestinal, síndrome da má absorção e infecção crônica. Sendo a última, causada principalmente, por protozoários e helmintos, em locais com condições sanitárias inadequadas. Helmintíases Ascaridíase O Ascaris lumbricoides entra no corpo VO, através de ovos embrionados expulsos com as fezes que infectam alimentos e água. A sua infecção se dá por via fecal-oral e a prevalência é maior em áreas com baixas condições sanitárias e higiênicas. Quando adentra no corpo ele invade a circulação e atravessa o pulmão o que pode gerar alterações pulmonares e sistêmicas. O quadro clínico depende da carga parasitária e do local de instalação. Pequenas cargas parasitas podem não causar sintomas, mas um número maior de vermes localizados no intestino delgado pode gerar cólicas intestinais, náuseas,vômitos e distensão abdominal. Novelos de vermes podem causar obstrução intestinal e seu caráter migratório pode causar entrada nas vias biliares ou pancreática causando quadros obstrutivos e infeciosos, além de poder causar também apendicite. Os quadros respiratórios podem conter tosse produtiva, escarros hemoptoicos e infiltrados transitórios, observados em exames radiológicos. O diagnóstico pode ser feito pela expulsão de vermes pela via área ou nas fezes, além do EPF. Ancilostomíase Causada pelo Ancylostoma duodenalis ou Necator americnus, ambos parasitos intestinais é uma infecção rural com localização preferencial pelo duodeno e que através de dentes ou placas mordem a mucosa e sugam o sangue o hospedeiro por um longo período de tempo, podendo causar anemia ferropriva. Eles penetram a pele na forma de larvas filarioides e possuem ciclo pulmonar que podem causar lesões pulmonares e sintomas. A doença está altamente ligada ao hábito de andar descalço e ao contato direto da pele com a terra. O quadro clínico apresenta manifestações cutâneas como urticária e petéquias, além de sintomas respiratórios como tosse, escarros sanguíneos e infiltrados pulmonares resultantes da migração larvária. As manifestações digestivas são, principalmente, epigastralgia e sangue oculto nas fezes. A maior representação clínica da doença é a anemia com palidez cutânea e mucosa de grau variável, fadiga fácil, edema de MMII e ICC nas formas graves. Estrongiloidíase Causado pelo agente Strongiloydes stecoralis em que a fêmea é a larva infectante. Eles penetram na pele na forma de lava filarioide adentram a corrente sanguínea e passam pelos pulmões, em seguida, alojam- se no intestino delgado onde causam destruição da mucosa e desintegração do epitélio absortivo, caso invada a corrente sanguínea pode infectar outros órgãos ou aumentar a carga parasitária no intestino. O quadro clínico é composto principalmente de manifestações digestivas, as lesões cutâneas não costumam ser notadas. No pulmão pode ocorrer infiltrado fugaz acompanhado de eosinofilia no escarro e sangue (síndrome de Loffler). Oxiuríase Causado pelo Enterobius vermicularis ou Oxyurus vermicularis é um helminto que se localiza na região ileoceco-cólica, de onde as fêmeas fecundadas repletas de ocos se desprendem e descem até o canal anal. Por maio dos lábios tentam se prender a mucosa, causando um prurido, sendo a queixa mais comum. A infecção é por via fecal-oral, principalmente, pelos próprios infectados que coçam e depois colocam a mão na boca. Os ovos ingeridos liberam larvas no intestino delgado que evoluem para vermes adultos sem ciclo pulmonar. Os principais infectados são as crianças, justamente, pela forma de infecção, e locais como creches e escola facilitam a transmissão. O quadro clínico é o prurido noturno – horário que as fêmeas saem para colocar os ovos – especialmente em crianças. Teníase A teníase é causada pela presença da Taenia solium ou Taenia saginata que são dois platelmintos encontrados na carne do porco e do boi, respectivamente, eles são chamados de solitárias. Os humanos podem se infectar ao ingerir carnes cruas ou mal cozidas contaminadas com larvas que evoluem para vermes adultos no intestino. Os vermes adultos são hermafroditas e não fazem postura de ovos, sendo comum encontrar nas fezes as proglotes ao invés dos ovos. As proglotes são os seguimentos formadores dos parasitas, que medem em média 1 a 2 cm e crescem a partir da cabeça (escólex). O quadro clínico consiste em cólicas intestinais ou epigastralgia, mas pode haver formas assintomáticas que são comuns. Quando ocorre cisticercose que é a formação de cisticercos o organismo devido a ingestão de ovos ou proglotes de Taenia saginata, os sintomas dependem da localização das larvas, e se forem no cérebro causam manifestações neurológicas como convulsões e hipertensão intracraniana. Protozooses Amebíase É a infecção pela Entamoeba histolytica, ele é um protozoário que habita o intestino grosso do homem onde pode ganhar a corrente sanguínea e chegar ao fígado, pulmões e ao cérebro, ocasionando lesões extraintestinais. O quadro clínico varia de acordo com a localização do protozoário, podendo haver formas intra e extraintestinais. Os infectados podem se apresentar assintomáticos ou com manifestações intestinais moderadas na grande maioria. Os assintomáticos contribuem para a disseminação da doença. Outros infectados podem desenvolver crises de diarreia associadas a períodos assintomáticos. Giardíase Causada pela Giardia lambia, um protozoário flagelado na forma de trofozoítas e cistos. Os trofozoítas se ficam na mucosa do intestino podendo alterar a mucosa e causar problemas absortivos. Os cistos são formas resistentes que podem viver fora do organismo e contaminar água e alimentos e dentro do organismo eles iniciam a formação dos trofozoítas. Eles podem ainda criar uma barreira entre o lúmen e os enterócitos e agravar os problemas disabsortivos. O quadro clínico é variável, tendo mais manifestações nas crianças. Costuma manifestar-se com diarreia de duração variada, náuseas, vômitos e dor abdominal. A maior parte das infecções é assintomática e pode ocorrer em qualquer idade. São distúrbios nas funções de digestão e/ou absorção do TGI, comprometendo a assimilação de nutrientes pelo indivíduo. Doença celíaca Definição Resposta imunológica, celular e humoral, ao glúten dos cerais, em indivíduos geneticamente suscetíveis. A intolerância ao glúten é permanente. A forma mais comum é a doença celíaca, mas pode ter manifestações cutâneas (dermatite herpetiforme), na mucosa oral (estomatite aftosa de repetição), nas articulações ou no rim (nefropatia por IgA). O glúten é um conjunto de proteínas que se encontram nos cerais e se dividem em poliaminas e gluteninas. As poliaminas que dão reação aos celíacos são: gliadina (trigo), secalina (centeio), hordeína (cevada) e avenina (aveia). O glúten é uma substância albuminoide, insolúvel em água que junto com o amido e outros compostos formam a massa coesiva que permanece quando a pasta de farinha dos cereais é lavada para removerem os grânulos de amido. Ela acomete indivíduos de qualquer idade e ambos os sexos, predominando no feminino. Etiopatogenia A etiopatogenia da DC envolve fatores genéticos, imunológicos e ambientais. Os fatores genéticos envolvem o HLA (sistema antígeno leucocitário humano), que é um sistema que codifica proteínas de superfície que reconhecem e apresentam antígenos próprios ou externos para o sistema imune adaptativo humano. Os antígenos são moléculas desconhecidas ao corpo que podem ser identificadas na presença de microrganismos que são capazes de realizar uma resposta imune, em organismos imunocompetentes ele pode manifestar uma resposta imune ou tolerância (anticorpos). A DC é uma doença hereditária, oligogênica e complexa. Doenças complexas consistem em afecções influências por múltiplos fatores ambientais e genéticos, ou por uma interação destes. A DC resulta de efeito combinado de produtos diferentes de genes HLA e não HLA. As correlações entre a DC e genes HLA (região CELIAC 1) são as mais bem compreendidas. Cerca de 90-95% dos celíacos expressam heterodímero HLA-DQ2 (DQA1*0501/DQB1*0201): genes localizados no mesmo cromossomo (cis) DR3 e cerca de 5% apresentam HLA-DQ8 (DQA1*0301/DQB1*0302): genes localizados em cromossomos diferentes (trans), em indivíduos heterozigotos – DR5/DR7. No TGI o glúten é digerido parcialmente pela pepsina, tripsina, elastase e quimiotripsina dando origem a gliadina. A gliadina ao atravessar o epitélio, sofre desaminação pela enzima transglutaminase tecidual, resultando em vários derivados o ácido glutâminico que possuem epítopos vão se ligar as moléculas de HLA em pacientes geneticamente predispostos e a ativar clones de linfócitos T intraepiteliais. Os enterócitos são ligados por junções que permitem sua impermeabilidade. A gliadina pode atravessaro epitélio por via para celular através da proteína zonulina, ou pela passagem por retrotranscitose com auxílio de receptores de membrana. Ou por via transcelular pela formação de um complexo entre gliadina e anticorpos contra epítopos do glúten que atravessam o epitélio através dos receptores de transferrina existentes na superfície epitelial. Na passagem por via paracelular a gliadina estimula a produção de zonulina que aumenta a permeabilidade das junções, aumentando a passagem de gliadina. Ao atingir a lâmina própria as células TCD4+ glúten específicas de indivíduos predispostos reconhecem os peptídeos derivados do glúten e secretam IFN-gama, IL-4, IL-5, IL-6, IL-10 e TNF-α. O IFN-gama estimula os fibroblastos a secretarem metaloproteinases (enzimas que degradam a MEC), glicoproteínas e proteoglicanos de matriz extracelular que causam danos aos enterócitos e atrofia das vilosidades. O INF-gama também potencializa a atividade citotóxica dos linfócitos TCD8 e células natural killer que quando ativados produzem IL-15 e induzem a expressão de substâncias. A ativação de linfócitos B leva a produção de anticorpos contra a gliadina e elementos constitutivos do tecido conjuntivo e muscular, como anticorpos anti-endomísio (endomísio é uma bainha de fibrilas reticulares que envolvem as fibras musculares lisas) e anti-transglutaminase tecidual. Esses processos causam lesão na mucosa intestinal que quanto mais grave pior será o problema absortivo do paciente. À medida que o processo evolui há micelação de gorduras, perda fecal de sais biliares e redução da enteroquinase devido à redução da borda em escova do enterócito. Além disso, há redução da área absortiva, alterações no mecanismo de digestão e transporte. E consequentemente, espoliação de vários nutrientes, exsudação de proteínas e oligoelementos para o lúmen intestinal e aumento de secreção pelas células das criptas. O dano à mucosa intestinal pode ser estimado pela classificação de Marsh. Quadro clínico O quadro clínico é variável e depende da gravidade e extensão das lesões. Os pacientes podem apresentar problemas na absorção de um único nutriente, como uma anemia, ou uma pandisabsorção em que há repercussões graves à nutrição do indivíduo e ameaça à sua vida. - Diarreia: varia de intensidade caso a caso e depende do comprometimento intestinal. As fezes podem ser aquosas ou pastosas, volumosas, descoradas ou acinzentadas, oleosas ou espumosas, fétidas, flutuando ou não na água. Se intensa pode levar à desidratação ou distúrbio hidroeletrolítico; - Emagrecimento: também é variável e reflete má absorção, dependendo não só das áreas íntegras que compensarão as lesões como também da redução da ingesta alimentar dos pacientes. Quando há edema o emagrecimento pode ser mascarado, e em crianças a incapacidade de ganho ponderal e atraso no crescimento tornam-se evidentes; - Fraqueza, fadiga e cansaço: relacionadas ao estado nutricional do paciente que cansam ao executar tarefas habituais, anemia e insuficiência suprarrenal põem contribuir com o quadro; - Dor abdominal: não é frequente, mas se presente corresponde ao intestino delgado; - Distensão abdominal: queixa comum, pode ser a primeira manifestação e pode caracterizar no exame físico o que se conhece como hábito celíaco; - Náuseas e vômitos: pouca frequência; - Distúrbios psicoafetivos: transtornos ansiosos ou depressivos podem estar incluídos no quadro clínico da DC. Exame físico Pode ser evidenciado: hipotensão, emaciação (perda de massa muscular e gordura); unhas em vidro de relógio (baqueteamento digital); pele seca e turgor diminuído; edema de extremidades; pigmentação de pele; equimoses; dermatite herpetiforme, palidez de pele e mucosas; queilite e glossite, língua despapilada; abdome protuberante e timpânico, com alças palpáveis; sinais de neuropatia periférica. Sinais de Chvostek ou Trousseau. Formas de apresentação - Forma clássica: decorrente da má absorção de nutrientes, com quadro de diarreia crônica e desnutrição, encontrada tanto em crianças como em adultos. Na criança a distensão abdominal e a intensa redução de massa glútea são dados que chamam atenção; - Forma não clássica: também denominada forma atípica que pode ser de dois tipos. Um tipo chamado atípico digestivo com sintomas digestivos mais discretos ou com constipação intestinal, e um segundo chamado de atípico extradigestivo com sintomas como baixa estatura, anemia, tetania; - Forma latente: indivíduos com biópsia normal e hábito normal após ingesta de glúten que, posteriormente, apresentam atrofia parcial ou total de vilosidades, retornando novamente ao normal, após a isenção de glúten; - Forma assintomática: ocorre entre familiares de celíacos com anticorpos positivos o soro, com alterações histológicas, número aumentado de LIE, revertendo com dieta isenta de glúten. Diagnóstico - Diagnóstico clínico: anamnese detalhada, exame físico cuidadoso e dados objetivos de exames laboratoriais que levem à suspeita. Um diagnóstico essencialmente clínico não é viável, devido as formas assintomáticas e atípicas da doença; - Provas de absorção intestinal: restringem-se à prova da D-xilose e à determinação de gordura fecal. Estas provas indicam má absorção intestinal e costumam estar alterados nos celíacos, mas há casos que podem estar normais e é sugerido testes sorológicos e biópsia; - Teste de absorção de lactulose/manitol: em pacientes com DC há alteração na permeabilidade. Assim, moléculas grandes como a lactulose tem absorção aumentada pelo edema, atrofia e inflamação, e moléculas pequenas como o manitol tem absorção mantida; - Determinação de anticorpos antigliadina: podem ser detectados pela técnica de ELISA, são predominantemente IgA e IgG. Os anticorpos AGA-IgA começam a diminuir gradativamente a partir dos 2 anos de idade, mas aumentam com a ingesta de glúten, sendo úteis no controle da dieta e indicados para diagnóstico em crianças até 2 anos de idade; - Anticorpos antiendomísio (EmA IgA): eles são predominantes da classe IgA e reagem contra a fáscia que recobre as fibrilas dos músculos lisos. Ele é um dos mais específicos para diagnóstico da DC e no monitoramento da dieta sem glúten; - Anticorpos antitransglutaminase (antitTG ou antiTG-2): o tTG é o principal, senão o único, autoantígeno endomisial alvo envolvido no processo autoimune da DC, que permitiu esclarecer os principais aspectos da fisiopatogenia da doença. Ele é identificado por ELISA. Ele se eleva em altos níveis de lesão tecidual e pode estar aumentando em doenças sistêmicas; - Associação de testes sorológicos com biópsia: a associação desses dois testes é padrão ouro para diagnóstico de DC. • Sorologia positiva e histologia negativa: repetir a biopsia em 1 ou 2 anos; • Sorologia positiva e histologia negativa: DC confirmada; • Sorologia negativa e histologia positiva: considerar outras causas e genotipar HLA; • Sorologia negativa e histologia negativa: DC excluída. Tratamento O tratamento começa com a exclusão do glúten da dieta por toda vida, considerando: situação fisiopatológica e necessidades nutricionais relacionadas a idade do paciente. A dieta deve ser equilibrada para as necessidades do paciente, o glúten é dispensável e pode ser substituído por outras proteínas vegetais e animais. O tratamento é basicamente dietético com exclusão do glúten do trigo, centeio, cevada e aveia. Medicamentos são utilizados para correção de carências, como coadjuvantes para facilitar a digestão de gorduras e tratamento de infecções. No início da nutrição VO deve-se levar em consideração: - Dieta isenta de glúten; - Dieta isenta de lactose, utilizando-se leite sem lactose ou com lactose reduzida; - Dieta pobre em sacarose, preferindo-se dextrinas e maltoses; - Gorduras vegetais; - Carnes animais e proteínas vegetais; - Legumes e frutas de poucos resíduos. Intolerância à lactose Definição A intolerância à lactose é uma má absorçãode dissacarídeos. A deficiência de dissacaridase absoluta ou relativa é a diminuição na quantidade de uma enzima ativa disponível para hidrólise de um dissacarídeo da dieta. As deficiências de dissacaridases costumam ser seletivas, como no caso da intolerância à lactose congênita, no entanto, no caso da doença celíaca há uma lesão geral na mucosa absortiva. A intolerância ao dissacarídeo é definida como ocorrência de sintomas à ingestão de um determinado dissacarídeo. É importante lembrar que após uma lesão intestinal a lactase é a 1ª enzima a diminuir e a última a normalizar, porque ela é produzida na região apical da vilosidade e sua concentração é inferior à das outras dissacaridases. A lactose é a junção da glicose + a galactose que está presente no leite dos mamíferos. A intolerância à lactose é a forma mais comum de má absorção de carboidratos e ocorre devido a uma atividade reduzida da lactase, enzima que realiza a hidrólise da lactose em glicose e galactose para serem absorvidos. Ela diminui progressivamente ao longo dos anos nos mamíferos. Etiologia A deficiência de lactase pode ser congênita, primária ou secundária. A forma congênita é muito rara por ser uma condição autonômica recessiva, nesses indivíduos há uma ausência total da enzima desde o nascimento devido alterações localizadas no cromossomo 2q21. Os sintomas começam após a primeira amamentação e caracteriza-se por diarreia grave. A deficiência de lactase primária, é a principal causa de IL no mundo, sendo também determinada geneticamente de forma recessiva. Ao nascimento há uma atividade total da enzima que vai se perdendo progressivamente após o desmame. A perda depende da etnia, japoneses e chineses chegam a perder 80 a 90% da atividade da enzima dentro de 3 a 4 anos após o desmame. A deficiência secundária ou adquirida é a perda em pessoas com persistência da enzima e é comum em adultos. Isso ocorre secundariamente a outros processos como radioterapia, medicamentos, doença celíaca, infecções que atingem e degradam o epitélio das vilosidades onde a lactase é produzida. O tratamento da doença base pode melhorar as vilosidades, mas isso não quer dizer que melhora a produção enzimática. Fisiopatologia A lactose é um dissacarídeo formada pela junção entre glicose e galactose, presente em laticínios, principalmente, no leite humano onde tem uma grande concentração. Para ser digerida ela precisa sofrer hidrólise pela lactase, uma β-galactosidase presente na borda em escova dos enterócitos, principalmente, no jejuno médio. Sua expressão é detectada desde os fetos e tem maior expressão ao nascimento, porém sua atividade decai com a progressão da maturidade. Quando a lactose não é digerida corretamente, ela é carregada para o cólon onde é fermentada pela flora local e esse processo A IL é diferente de alergia ao leite, pois esta ocorre pela alergia as proteínas que contém no leite (lactoalbumina e lactoglobulia ou caseína), e a IL pela má digestão de carboidratos. produz ácidos orgânicos, dióxido de carbono, metano e hidrogênio, além de aumentar a osmolaridade do lúmen. Esse aumento na osmolaridade atrai água para o lúmen, causando uma diarreia aquosa e ácida. Quadro clínico As queixas ocorrem apenas se houver ingestão de alimentos com lactose. Os sintomas começam de 15 a 120 minutos após a ingestão e são caracterizados por: diarreia aquosa ácida, borborigmos, flatulências, distensão abdominal, desconforto abdominal (podendo referir dor tipo cólica e meteorismo), náuseas e vômitos. Alguns pacientes podem ser oligo ou assintomáticos. Em pacientes que não associam os sintomas à ingestão de lactose, pode ser pela variedade da habilidade de fermentação da flora e nos casos em que os sintomas não melhoram após a exclusão da lactose, pode ser investigado a associação com a SII. Diagnóstico Pode ser feito através de métodos diretos ou indiretos. O método direto é a biopsia jejunal com dosagem da atividade bioquímica de lactase, pouco disponível e invasivo. Os testes indiretos incluem: teste de tolerância à lactose, teste do hidrogênio expirado e análise fecal. - Teste de tolerância: exige a ingestão de 50g de lactose seguida de coletas seriadas de sangue, a cada 15 ou 30 min, por até 2h, para mensuração dos níveis séricos de glicose. Uma elevação de glicose plasmática em 20 a 30mg/dL em relação ao jejum indica digestão normal da lactose. Em pacientes intolerantes a diferença de glicemia em todas as dosagens é inferior a 20mg/dL, sendo o teste considerado positivo. Além disso, pacientes intolerantes costumam apresentar sintomas durante o teste; - Teste do hidrogênio expirado: consistem em observar a fermentação bacteriana da lactose não absorvida e consequente formação de gás hidrogênio e ácidos orgânicos. Após o jejum, mede-se o hidrogênio expirado através de cromatografia gasosa. Depois oferta-se ao paciente 2mg de lactose e coletam-se amostras do ar expirado a cada 15 min por 1 hora e 20 min. Nos portadores de IL há uma elevação de 20 ppm no H expirado, indicando fermentação colônica de lactose; - Testes fecais: análise de pH fecal e a pesquisa de substâncias redutoras. Na IL o pH fecal cai para valores inferiores ou igual a 5,5. A pesquisa subs. redutoras indica má digestão de açúcares e é significativa quando possui valores acima de 0,5%. Tratamento Os pacientes devem ser instruídos a melhorar a dieta, porque os sintomas só aparecem com ingestão de 20 a 50g de lactose. O consumo de leites, queijos, margarinas são bem tolerados, assim como iogurtes com lactobacilos acidófilos, pois reduzem a quantidade de lactose. Devem tomar cuidado com medicamentos e produtos industrializados, pois podem conter grandes quantidades de lactose, que é usada com excipiente e espessante. Para pacientes que não conseguem seguir a dieta podem ser utilizados lactase em cápsulas, antes da ingestão dos alimentos. Pacientes com IL apresentam maior risco de osteopenia, osteoporose, tanto pela redução de cálcio como pela menor absorção deste. A avaliação da saúde óssea nesses pacientes é muito importante. Doença de Crohn Definição Doença inflamatória transmural e recidivante que pode acometer qualquer segmento do tubo digestório, caracterizada por inflamação descontínua dos segmentos digestivos acometidos, com formas distintas de manifestações. Etiologia A DC é idiopática, pois não há um agente etiológico específico. Há predisposição genética envolvida na sua etiologia e ela é uma doença poligênica. - Fatores ambientais: amamentação, infecções, higiene, agentes microbianos, cigarro, dieta, ocupação são fatores comumente citados no envolvimento da DC. Pensa-se que a DII seja resultado da interrelação de um ou mais fatores ambientais em indivíduos geneticamente predispostos. Estudos sugerem que ela é mais comum em países industrializados relacionando com a dieta; - Fatores genéticos: o histórico familiar positivo de DC é o fator mais importante. Fatores genéticos são mais óbvios em pacientes que apresentam sinais antes dos 20 anos, na fase adulta os fatores ambientais tomar uma maior proporção. Estudos indicam que a doença tem caráter hereditário e poligênico; - Fatores imunológicos: a inflamação da mucosa começa como resultados de uma cascata inflamatória iniciada pelo antígeno que ainda não está determinado. Há possibilidade que os componentes habituais da flora possam contribuir. Em indivíduos geneticamente predispostos há uma resposta imune inadequada na mucosa intestinal perante a diferentes estímulos ambientais. Infecções, toxinas ambientais e AINEs induzem a lesão transitória, em indivíduos normais, a supressão da cascata imunológica causa resolução do processo inflamatório. Já no indivíduo suscetível a falha leva à ampliação da resposta, com inflamação crônica, destruição tecidual, fibrose e ocorrência de danos irreversíveis. Fisiopatologia A fisiopatologia não está bem elucidada, mas o aumento da permeabilidadeintestinal tem sido implicado, ele leva ao aumento da carga de antígenos pelo sistema imune da mucosa que inicia e perpetua a inflamação. A DC pode afetar qualquer área do intestino, tipicamente há áreas de descontinuidade afetadas (lesão em salto). A primeira anormalidade visível é o aumento dos folículos linfoides com um anel de eritema em volta (sinal do anel vermelho). Isso leva a ulceração aftoide que progride a ulcerações profundas, fissurando, com aspecto de pedra de calçamento, fibrose, estenose e fistulização. A inflamação e fibrose predispõe a estenose que causa obstrução e perfuração, com consequente formação de abcesso. A dor abdominal no início da doença, é decorrente de obstrução funcional por espasmo e edema, e posteriormente, a obstrução torna-se orgânica por fibrose e estenose. A inflamação, edema, fibrose e obstrução quando localizados no intestino delgado podem provocar fenômenos disabsortivos. A localização e extensão anatômica determinam o grau de disabsorção. A depleção de potássio pode ocorrer por falta de ingestão e por perda excessiva através das fezes. Hipotassemia, acompanhada as vezes de hipomagnesemia, pode ser observada como consequência de hipoalbuminemia, esteatorreia e má absorção de vitamina D. A hipoalbuminemia pode ocorrer pela anorexia, diminuição da síntese, pela má absorção e perda proteica. A anemia é frequente e, frequentemente, é do tipo microcítica hipocrômica por depressão tóxica da medula, pelo processo inflamatório crônico e/ou carência de ferro por ingestão reduzida e perdas sanguínea do intestino inflamado. Quadro clínico Anamnese detalhada com perguntas sobre manifestações extraintestinais, distúrbios de humor, recentes problemas médicos e infecções, história de tuberculose, viagens, medicações, história familiar de DII, doença celíaca, CA colorretal e uso de tabaco. O quadro clínico varia da extensão e gravidade das lesões. - Dor abdominal: sintoma mais comum, geralmente em cólica e intensa. Em algumas ocasiões é caracterizada como cólica periumbilical, pós-prandial, e tende a se localizar em QID, devido a frequência de comprometimento do íleo terminal. A cólica aumenta antes da evacuação pelo trânsito do conteúdo; - Febre: aparece em 20 a 50% dos casos, pelo processo inflamatório ou por alguma complicação; - Diarreia: pode acompanhar o sintoma principal, de intensidade moderada, geralmente intermitente. Ocorre com mais frequência em casos de comprometimento difuso do delgado ou isolado do cólon. No primeiro caso as fezes aparentam mais esteatorreia e no segundo fezes mucossanguinolentas; - Perda de peso; - Déficit de desenvolvimento e retardo de maturação sexual: ocorre em 6 a 50% os casos em crianças. Diagnóstico - História clínica: dor abdominal intensa, noturna e associada a diarreia; - Exame físico: dados antropométricos, desenvolvimento sexual, dor à palpação do QID com ou sem massa palpável, presença de fissuras, abcessos ou fístulas. Exames de fezes - Rotina de parasitas, bactérias, vírus; - Clostridium difficile e toxina; - Pesquisa de leucócitos e/ou sangue oculto; - Pesquisa de citomegalovírus; - Pesquisa de alfa-1-tripsina (útil para avaliar perda proteica), calprotectina (aumenta em condições infecciosas/inflamatórias) ou lactoferrina. Exames de sangue - Hemograma: pode mostrar leucocitose na fase aguda com desvio à esquerda, linfopenia, eosinofilia, plaquetose. Pode revelar anemia micocítica; - Eletrólitos; - Proteínas e frações; - Ferritina; - Tranferrina; - Dosagem de vit B12; - Velocidade de hemossedimentação ou PCR: está elevada na fase inicial e reduz com o tratamento; - Transaminases, FA, gamaGT, amilase e lipase: podem estar alteradas traduzindo comprometimento hepático e pancreático. Retocolite ulcerativa Definição É uma doença inflamatória que atinge, preferencialmente, a mucosa do cólon esquerdo e reto, mas pode acometer todo cólon. Ela é uma doença crônica com surtos de remissão e exacerbação, caracterizada por diarreia e perda de sangue. Surge principalmente em pessoas jovens e de meia idade. A RCU é uma doença restrita à mucosa e submucosa, com inflamações que envolvem a mucosa do cólon e reto. Etiopatogenia e quadro clínico A etiologia ainda não está bem elucidada, mas acredita-se que ela se origine de desordens imunológicas na microbiota, fatores ambientais e estilo de vida. Ela é uma doença inflamatória idiopática d característica crônica, que apresenta inflamação das mucosas do reto e cólon. Ela é classificada de acordo com a extensão das lesões em: proctite (apenas o reto é afetado), colite esquerda (quando a porção esquerda do cólon é afetada), e pancolite ou colite extensa quando atinge todo o cólon. Os sintomas incluem: aumento do peristaltismo, diarreia com presença de sangue e mucosa, emergência evacuatória, anemia, dor abdominal, náusea, vômitos e emagrecimento. Os sintomas podem sofrer variações de acordo com o paciente. A maior parte dos sintomas é extraintestinal e podem ocorrer concomitantemente incluindo manifestações articulares, oftálmicos, dermatológicos, hepáticos, pulmonares. A mucosa intestinal é uma barreia contra microrganismos e na RCU há uma diminuição dessa barreia tornando os pacientes maus suscetíveis há infecções. A sintomatologia da RCU é variável e depende da extensão e intensidade das lesões. O início da doença pode ser insidioso ou abrupto, e a evolução é, em geral, crônica, com surtos de exacerbação intercalados com períodos de acalmia. O sintoma predominante é a diarreia, com inúmeras evacuações por dia, geralmente com fezes líquidas misturadas com sangue, muco e pus. Na fase aguda, em geral há́ dor em cólica no abdome, febre, perda de peso e mal-estar geral.
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