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DIREITO CIVIL: DIREITO DAS SUCESSÕES OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Conceituar o instituto do inventário. > Explicar as espécies de inventário existentes. > Sublinhar o significado de inventariante. Introdução Quando uma pessoa falece deixando patrimônio, o direito determina que deva ocorrer a apuração sobre o destino dos bens, ou seja, a quem caberá o legado. O mecanismo estabelecido pela legislação é denominado inventário e objetiva formalizar a transferência dos bens do autor da herança para os seus herdeiros. O inventário, portanto, é o remédio jurídico utilizado para conferir a existência de haveres em nome da pessoa que falece, servindo também para verificar se foram deixadas dívidas não pagas pelo de cujus, que deverão ser saldadas com o patrimônio legado. Neste capítulo, você estudará as principais questões relativas ao inventário, como os conceitos que dizem respeito ao tema, as espécies de inventários exis- tentes no ordenamento jurídico brasileiro, o significado do termo inventariante e as suas principais atribuições. Conceitos básicos Devemos reconhecer que, muito embora não seja um assunto que agrade às pessoas, sempre houve uma preocupação com o destino do ser humano após a morte, tendo sido um tema constante na história da humanidade. E não foi diferente a inquietude em relação ao patrimônio deixado pelo falecido. O inventário Ludmila Lopes Lima Entretanto, apesar da sua inevitabilidade, a morte é considerada um fato jurídico, ocorrência que provoca resultados no âmbito do direito. Uma das primeiras codificações da história, o Código de Hamurabi, que remonta a aproximadamente 1.800 a.C., estabelecia alguns preceitos sobre sucessão, como aquele trazido em seu artigo 162 “se alguém toma uma mulher e ela lhe dá filhos, se depois essa mulher morre, seu pai não deverá intentar ação sobre seu donativo; este pertence aos filhos” (RIBEIRO, 2012, documento on-line). Ou então seu artigo 172: “se esta mulher lá para onde se transporta, tem filhos do segundo marido e em seguida morre, o seu donativo deverá ser dividido entre os filhos anteriores e sucessivos” (RIBEIRO, 2012, documento on-line). Em ambas as citações, a referência feita é em relação ao dote que a nubente levava da casa paterna para a família do marido, e à finalidade dada em caso de sua morte, destinando-se aos filhos havidos no casamento, ou seja, aos descendentes e não aos ascendentes. O Código de Hamurabi foi uma compilação realizada pelo rei babilô- nico Khammu-rabi, no século XVIII a.C., da legislação existente à época e que ditava regras de conduta para diversas espécies de atos e ocupações, como julgadores, testemunhas, médicos, contratos de arrendamento, mediação, comissão, roubo, casamento, etc. É nesse código também que tem origem a expressão “lei de Talião”, que previa a proporcionalidade entre a pena e o crime cometido, o famoso “olho por olho, dente por dente”. No livro A cidade antiga, Coulanges (2009) afirma que, na Grécia e em Roma, duas coisas estavam estritamente unidas, tanto nas crenças quanto na lei: o culto da família e a propriedade. Por isso, era uma regra sem exceção, tanto no direito grego quanto no romano, de que não se podia adquirir a propriedade sem o culto, nem o culto sem a propriedade. Ainda segundo Coulanges (2009), desse princípio originaram-se todas as regras do direito de sucessão entre os antigos. A primeira é que, sendo a religião doméstica, hereditária de varão para varão, o mesmo acontecia com a propriedade. Como o filho é a continuação natural e obrigatória do culto, também é herdeiro dos bens, ou seja, era o filho homem aquele que herdava os bens deixados pelo falecido. Quer quisesse, quer não, a herança lhe cabia, mesmo com suas obrigações e dívidas. O entendimento em relação à incapacidade da filha em herdar origina- -se da ideia de que, ao se casar, ela deixava de estar subordinada ao poder familiar (anteriormente denominado pátrio poder, ou pater potestas) e deixava de pertencer a uma tribo. A justificativa para tal conduta era a continuidade O inventário2 do grupo familiar por meio de práticas religiosas, sendo mantidos os bens, dessa maneira, em poder de um número reduzido de pessoas. De acordo com Dolinger e Tiburcio (2016), o eminente criador de normas de direito internacional privado Bártolo de Sassoferrato, além de ter estabelecido a distinção entre direitos reais e direitos pessoais, elucidou uma importante questão referente à sucessão, na Alta Idade Média, quando um indivíduo de nacionalidade inglesa morresse e deixasse bens em seu país e na Itália. A lei inglesa de então instituía que os bens deixados pelo falecido eram transmi- tidos exclusivamente para o primogênito, ao contrário da lei italiana, na qual os herdeiros concorriam em igualdade de condições. A solução encontrada foi dada em função do lugar da situação dos bens, cuja lei regeria a sucessão. A palavra inventário decorre do verbo invenire, que em latim significa encontrar, achar, descobrir, inventar, e do substantivo inventum, ou seja, invento, invenção, descoberta. A finalidade do inventário é, pois, achar, des- cobrir e descrever os bens da herança, seu ativo e passivo, herdeiros, cônjuge, credores, etc. Trata-se, enfim, de fazer um levantamento, que juridicamente se denomina inventário da herança (VENOSA, 2013). No estrito sentido sucessório, inventariar significa relacionar, registrar, catalogar, enumerar, arrolar, sempre com relação aos bens deixados por alguém em virtude de seu falecimento, compreendendo também a avaliação desses bens (OLIVEIRA; AMORIM, 2016). Vale lembrar, por oportuno, que a Lei nº 11.441, de 4 de janeiro de 2007, introduziu uma grande novidade no que diz respeito ao inventário, pois possibilitou a sua realização também pelo meio extrajudicial, eis que anteriormente somente podia ser realizado de modo judicial (BRASIL, 2007). Conforme ensinam Gagliano e Pamplona Filho (2017), o inventário é uma descrição detalhada do patrimônio do autor da herança, atividade esta desti- nada a posterior partilha ou adjudicação dos bens. Já segundo Pacheco (2018), o inventário, em nosso direito sucessório, é definido como o procedimento no qual se reúnem os elementos relativos à abertura da sucessão por causa de morte de uma pessoa, sua herança, suas dívidas, seus herdeiros e lega- tários, a fim de, após atender o pagamento dos débitos exigíveis e resolver as questões suscitadas de direito ou de fato, ser ultimada a partilha, pondo termo à comunhão hereditária. O Código de Processo Civil (CPC) (BRASIL, 2015), por sua vez, prevê em seu art. 611 que o processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de dois meses, a contar da abertura da sucessão, entendendo-se esta como a data da morte do autor da herança. Por outro lado, tendo presente que a existência da pessoa natural termina com a morte do indivíduo, de acordo O inventário 3 com a previsão do art. 6º do Código Civil (CC) (BRASIL, 2002), o conjunto de bens que ele possuía persiste à sua morte e deve ter uma destinação, devendo o legado ser mantido na posse de um administrador provisório até que o inventariante preste compromisso. Tão importante é essa deliberação legal que toda pessoa, tendo deixado bens a serem inventariados, deve ter necessariamente um sucessor, seja ele parental ou de outra forma previsto na legislação, caso do poder público em eventual herança jacente ou vacante. A herança jacente ocorre quando alguém falece sem deixar tes- tamento nem herdeiro conhecido, ou quando não se sabe da sua existência. Já a vacância acontece quando a herança é devolvida à Fazenda Pública por se ter verificado não haver herdeiros que se habilitassem no período da jacência (cinco anos). Ambas as situações têm previsão legal (arts. 1.819 e 1.820 do CC) (BRASIL, 2002). Não havendo habilitação no período da vacância, os bens serão destinados à União, aos municípios ou ao Distrito Federal, conforme sua localização. Dessemodo, como visto, havendo bens a serem inventariados, alguém sucederá ao falecido, sejam os herdeiros necessários, legítimos, ou a Fazenda Pública. Esse sucessor será colocado no lugar do anterior proprietário, ocu- pando a titularidade no tocante às relações decorrentes da propriedade. Essa substituição deve obedecer a requisitos previstos na legislação, que fixa os critérios referentes à ordem na sucessão e determina o destino do patrimônio depois da morte do possuidor anterior. Nessa regulamentação, são contemplados importantes aspectos, como o destino dos haveres. O inventário pode ser judicial ou extrajudicial, este também chamado de administrativo. O inventário será extrajudicial, mediante lavratura de escritura pública em Cartório de Notas (Tabelionato), quando não houver divergências entre as partes interessadas, sendo todas elas capazes e encontrando-se assistidas por advogado. Se, por outro lado, a sucessão envolver interesse de incapazes ou for hipótese de disposição de última vontade (testamento), o inventário terá de ser necessariamente judicial (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2017). O inventário4 Espécies de inventário No ordenamento jurídico brasileiro, existem as seguintes espécies de inventário: � inventário judicial; � arrolamento; � inventário extrajudicial; � inventário negativo. A legitimidade para requerer a abertura do inventário e a respectiva parti- lha consta do art. 615 do CPC, o qual, por sua vez, dita que o requerimento de inventário e de partilha incumbe a quem estiver na posse e na administração do espólio. Ainda em conformidade com a lei processual vigente, o processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de dois meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a requerimento de parte (BRASIL, 2015). É imprescindível a sua realização para que seja feita a descrição dos bens de que era proprietário o autor da herança, apresentando-os ao juízo, bem como a nominação dos herdeiros existentes para o posterior partilhamento. Inventário judicial O inventário judicial é imperativo quando houver menores de idade, inca- pazes ou ainda diante da ocorrência de litígio entre os herdeiros, havendo, então, o acompanhamento do juiz, que irá verificar se as condições e exi- gências legais estão atendidas. Assim, se manifestará nos autos para, no final, exprimir a sentença com a repartição do acervo que couber a cada herdeiro. Existe também a possibilidade de que o inventário começado judicialmente possa ser convertido em procedimento extrajudicial para evitar uma demora no trâmite. Tal premissa somente é alterada caso sejam preenchidos os requisitos do procedimento extrajudicial e caso acordem todos os interessados. Alguns dos documentos essenciais para a abertura do inventário são os seguintes: procuração, certidão de óbito do falecido, testamento (se hou- ver) ou certidão comprobatória de inexistência do testamento, certidão de casamento ou prova da união estável, documentos pessoais dos herdeiros, escrituras dos bens imóveis (atualizada), comprovação de propriedade de O inventário 5 outros bens a inventariar, certidões negativas de débitos fiscais e demais documentos pertinentes à situação. Após a informação do falecimento ao juízo, deverão ser prestadas nos autos as primeiras declarações, que são um levantamento prévio dos herdeiros, sua qualificação e a individualização dos bens que fazem parte do acervo patrimonial do espólio. Qualquer inventário pode ser realizado de maneira judicial, mas nem todos os inventários podem ser realizados de maneira extrajudicial, pelos requisitos que este último exige. O art. 1.785 do Código Civil brasileiro estipula que o último domicílio do falecido é o lugar onde deve ser aberta a sucessão (BRASIL, 2002). Esse parâ- metro também é empregado pelo CPC (art. 48), mas, havendo bens imóveis em foros diferentes, em qualquer deles poderá ser ajuizada a ação (BRASIL, 2015). O requerimento de inventário e de partilha incumbe a quem estiver na posse e na administração do espólio, mas, cabe destacar, existe uma legi- timidade concomitante: o cônjuge ou companheiro supérstite; o herdeiro; o legatário; o testamenteiro; o cessionário do herdeiro ou do legatário; o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança; o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes; a Fazenda Pública, quando tiver interesse; e o administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário, do autor da herança ou do cônjuge ou companheiro supérstite (BRASIL, 2015). No rol recém-elencado, é importante salientar a inovação trazida pela legislação no que se refere a casais homoafetivos. Com a decisão do Supremo Tribunal Federal de maio de 2011, não resta a menor dúvida sobre a legitimi- dade do companheiro homoafetivo para o inventário, pois as regras relativas à união estável aplicam-se, por analogia, à união homoafetiva (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 2011). Arrolamento O arrolamento é um mecanismo célere, possibilitado às partes quando o valor dos bens legados pelo autor da herança for inferior ao limite legalmente fixado no art. 664 do CPC — igual ou inferior a mil salários-mínimos — ou sendo todas as partes maiores e capazes, tendo sido a partilha amigável e requerido o procedimento previsto nos artigos 659 a 663 do CPC (BRASIL, 2015). O CPC dispôs que, no caso de arrolamento, a partilha amigável deve ser homologada de plano pelo juiz e, transitada em julgado a sentença, devem ser expedidos os alvarás correspondentes aos bens e rendas por ele abrangidos (BRASIL, 2015). Ademais, a partilha amigável deve ser homologada antes do recolhimento do imposto de transmissão causa mortis, e somente após a O inventário6 emissão do formal de partilha ou da carta de adjudicação é que a Fazenda Pública deve ser intimada para promover o lançamento administrativo do imposto devido. Cabe ao inventariante indicado pelas partes, independentemente de assinatura de termo de compromisso, apresentar, com suas declarações, a atribuição de valor aos bens do espólio e o plano da partilha. Inventário extrajudicial O inventário extrajudicial é aquele que tramita em um Cartório de Notas (Tabelionato), e não junto ao Poder Judiciário, sendo realizado por escritura pública. A regra é de que seja um procedimento mais célere, durando apenas alguns meses. Para realizá-lo, os herdeiros devem, primeiramente, procurar um advogado para saber da possibilidade de realizar esse procedimento extrajudicial, or- ganizando a documentação necessária e adicionando um esboço da partilha dos bens da forma como foi acordada entre os herdeiros. Em contraste com o que ocorre no inventário judicial, este não é um pro- cedimento que pode ser realizado em todos os casos. Conforme o art. 610, § 1º do CPC (BRASIL, 2015), o inventário extrajudicial é permitido desde que: � não existam menores de idade ou incapazes na sucessão; � ocorra concordância entre todos os herdeiros; � o falecido não tenha deixado testamento; � sejam partilhados todos os bens (vedando-se a partilha parcial); � haja a presença de um advogado comum a todos os interessados; � estejam quitados todos os tributos (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) e todos os tributos relativos aos imóveis); � o Brasil tenha sido o último domicílio do falecido. É importante que, além de apresentar toda a documentação necessária em cartório, seja apresentada ainda a minuta do esboço da partilha para o procedimento extrajudicial. Também na minuta é obrigatória a indicação do inventariante, e o tabelião do cartório lavrará a escritura pública, fazendo menção aos poderes decorrentes da inventariança para transferência de propriedade. Depreende-se Resolução nº 35 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que disciplina a lavratura dos atos notariais relacionados a inventário, em seu artigo 2º, que seguir com o inventário judicial não é obrigatório,mas faculta- O inventário 7 tivo, podendo ser solicitada a qualquer momento a suspensão, pelo prazo de 30 dias, ou a sua desistência para promoção da via extrajudicial (CNJ, 2007). Inventário negativo O inventário negativo, que tem feição optativa, ocorre quando existe interesse significativo, como nas situações previstas no Código Civil, nos artigos a seguir elencados (BRASIL, 2002). � Art. 1.523 — não devem casar o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros. � Art. 1.641 — é obrigatório o regime da separação de bens no casamento das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspen- sivas da celebração do casamento. � Art. 1.792 — o herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demonstrando o valor dos bens herdados. Portanto, como visto, somente em situações excepcionais será dispensada a realização do inventário, nesse caso, sob a forma denominada negativo. A finalidade de tais dispositivos é evitar a confusão de patrimônios do primeiro e do segundo casamento ou o herdeiro ter interesse em provar aos credores do falecido que o de cujus não deixou bens, para que seu patrimônio não seja confundido e venha a suportar dívida que não é sua (VENOSA, 2013). Assim, o inventário negativo é o instrumento jurídico empregado nas hi- póteses em que o falecido não possuía bens que devessem ser inventariados, sendo indispensável que os herdeiros logrem uma declaração judicial, ou escritura pública na hipótese de sua realização extrajudicial, sobre a situação. Tendo ouvido as partes intervenientes, como em qualquer inventário, e não havendo impugnação, o juiz homologará o inventário negativo e a certidão correspondente será expedida. O inventariante O art. 1.991 do Código Civil estabelece que “desde a assinatura do compromisso até a homologação da partilha, a administração da herança será exercida pelo inventariante” (BRASIL, 2002, documento on-line). Assim, o inventariante é o gestor do espólio, o conjunto de bens arrecadado com a morte de uma O inventário8 pessoa, que constitui uma entidade despersonalizada. O inventariante age mediante um mandato legal, após sua nomeação pelo juízo. A inventariança é um encargo pessoal, não podendo ser exercida de ma- neira conjunta (DINIZ, 2013). A pessoa do inventariante assume encargo de considerável relevância no procedimento da transmissão do patrimônio do falecido aos seus herdeiros, pois a ela é incumbido dirigir e organizar o espólio, arrecadando os bens, conservando-os e administrando-os até a entrega de cada porção aos herdeiros. Nesse âmbito, é importante ressaltar que, apesar de essencial ao desenrolar do inventário, o inventariante não recebe o encargo por mera liberalidade ou em razão da confiança que os demais herdeiros nele depositam, e sim em razão de disposição legal ou em vista de indicadores específicos. A nomeação do inventariante obedece a uma ordem estabelecida no art. 617 do CPC (BRASIL, 2015): � o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convi- vendo com o outro ao tempo da morte deste; � o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser nomeados; � qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na admi- nistração do espólio; � o herdeiro menor, por seu representante legal; � o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou se toda a herança estiver distribuída em legados; � o cessionário do herdeiro ou do legatário; � o inventariante judicial, se houver; � pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial. Entretanto, há doutrinadores que afirmam que o rol de nomeação do inventariante não é taxativo, mas exemplificativo, devendo administrar o espólio e velar pelos bens com a mesma diligência como se seus fossem (TARTUCE, 2015). Além disso, o inventariante tem a obrigação de apresentar os documentos referentes ao espólio no cartório judicial onde tramita o inventário, a qualquer tempo, para exame das partes. Não menos impor- tantes entre suas atribuições, deve prestar contas de sua administração ao deixar o cargo ou sempre que o juízo assim determinar, bem como requerer a declaração de insolvência do falecido, se houver a necessidade. O inventário 9 O art. 619 do CPC (BRASIL, 2015) elenca outras de suas atribuições, que ne- cessitam de autorização do juiz da causa e da oitiva dos demais interessados: � a alienação de bens de qualquer espécie; � a transação em juízo ou fora dele; � o pagamento de dívidas do espólio; � o pagamento das despesas necessárias para a conservação e o me- lhoramento dos bens do espólio. Desde a assinatura do compromisso até a homologação da partilha, a administração da herança será exercida pelo inventariante. Conforme o art. 620 do CPC (BRASIL, 2015), dentro de 20 dias contados da data em que prestou o compromisso, serão feitas as primeiras declarações, das quais se lavrará termo circunstanciado, assinado pelo juiz, pelo escrivão e pelo inventariante. No termo circunstanciado, serão exarados: � o nome, o estado, a idade e o domicílio do autor da herança, o dia e o lugar em que faleceu e se deixou testamento; � o nome, o estado, a idade, o endereço eletrônico e a residência dos herdeiros e, havendo cônjuge ou companheiro supérstite, além dos respectivos dados pessoais, o regime de bens do casamento ou da união estável; � a qualidade dos herdeiros e o grau de parentesco com o inventariado; � a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio, inclusive aqueles que devem ser conferidos à colação, e dos bens alheios que nele forem encontrados. A norma jurídica referida estabelece ainda a necessidade de descrição dos seguintes bens: � os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente local em que se encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias, origem dos títulos, números das transcrições aquisitivas e ônus que os gravam; � os móveis, com os sinais característicos; � os semoventes, caso dos animais, seu número, espécies, marcas e sinais distintivos; � o dinheiro, as joias, os objetos de ouro e prata, e as pedras preciosas, declarando especificadamente a qualidade, o peso e a importância; O inventário10 � os títulos da dívida pública, bem como as ações, quotas e títulos de sociedade, mencionando o número, o valor e a data; � as dívidas ativas e passivas, indicando as datas, títulos, origem da obrigação, bem como os nomes dos credores e dos devedores; � direitos e ações; � o valor corrente de cada um dos bens do espólio. Como podemos constatar, a lei é bastante específica no que diz respeito ao detalhamento e requisitos dos bens que compõem o acervo patrimonial do falecido, e deve ser assim para o adequado trâmite processual do inventário, do qual é ele o inventariante, o responsável. Cabe ao inventariante diligenciar no intuito de atender a todas as determinações expedidas no processo, em especial aquelas relacionadas a pagamentos de taxa, impostos e despesas processuais, além de exercer os atos de administração do espólio (pagamentos de eventuais despesas como água, luz, condomínio) e zelar pelo bom estado e conservação dos bens. O inventariante representa o espólio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele e, desse modo, pode propor ações em nome do espólio e figurar no polo passivo quando este for demandado. Vale ressaltar que, quando se tratar de inventariante dativo ou judicial, a representação será feita pelo espólio e por todos os herdeiros e sucessores do de cujus. Impossibilidade de nomeação como inventariante e remoção do encargo Conforme a complexibilidade que lhe é conferida, a função do inventariante precede de considerável responsabilidade. Nessesentido, convém advertir alguns exemplos daqueles que estão impossibilitados do seu exercício, assim deduzidos: o devedor do espólio; quem é credor do inventariado e foi seu procurador sujeito a prestação de contas; quem move ação contra o espólio, ou ainda quem tem interesse oposto à herança por ser parte contrária no pleito judicial por ela movido; o cessionário da viúva meeira que está denunciada como coautora do assassinato do marido; o réu pronunciado e preso; e o liquidante da firma de que era sócio o de cujus. Em qualquer nomeação de inventariança, afere-se a idoneidade do in- ventariante. Portanto, não podem traduzir suporte para o cargo pessoa irresponsável com suas obrigações familiares, que responde a inúmeras dívidas ou ações judiciais, insolvente ou titular de estabelecimento falido, O inventário 11 condenada a delitos relativos ao patrimônio, pervertida nos costumes, e a viciada também. A remoção do inventariante é possível mediante requerimento, bem como quando descumpre suas funções, podendo o juiz removê-lo de ofício conforme as seguintes hipóteses enunciadas no art. 622 do CPC (BRASIL, 2015): � se não prestar, no prazo legal, as primeiras e as últimas declarações; � se não der ao inventário andamento regular, se suscitar dúvidas in- fundadas ou se praticar atos meramente protelatórios; � se, por culpa sua, se deteriorarem, forem dilapidados ou sofrerem danos os bens do espólio; � se não defender o espólio nas ações em que for citado, deixar de cobrar dívidas ativas ou não promover as medidas necessárias para evitar o perecimento de direitos; � se não prestar contas ou se aquelas que prestar não forem julgadas boas; � se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio. Vejamos um exemplo de cabimento de remoção de ofício de inven- tariante, em decisão assim ementada (RIO GRANDE DO SUL, 2014, documento on-line): AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.461.526 — RS (2014⁄0121881-0) — Relator: Mauro Campbell Marques. Tema(s): Inventário Remoção de inventariante. Tribunal STJ. Data: 02/02/2015. Superior Tribunal de Justiça PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. INVENTÁRIO. DECISÃO QUE REMOVE INVENTA- RIANTE. INTIMAÇÃO. NECESSIDADE. GARANTIA DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. O agravante alega, em síntese, que o tanto o Juízo de piso, quanto o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul valeram-se dos robustos informes fático- -probatórios dos autos para concluírem que o inventariante não desempenhava com zelo as atividades que lhe foram atribuídas, não tendo ele comparecido aos autos — muito embora regularmente intimado para tanto —, nem mesmo quando advertido de que seria removido da inventariança em caso de inércia. Ressalte-se que a remoção deve ter por fundamento qualquer uma das razões vistas, sendo que, obrigatoriamente, o inventariante deve ser intimado para apresentar sua defesa no prazo de 15 dias. Ademais, a remoção é um incidente processual e deve, por tal motivo, tramitar em apenso aos autos O inventário12 do inventário. Vencido o prazo de cinco dias sem manifestação do inventa- riante, o magistrado deve nomear outro para o seu lugar, devendo levar em consideração a ordem estabelecida para a função. O inventariante removido deve entregar ao seu sucessor os bens que tinha sob sua guarda e responsabilidade. Se assim não proceder, estará sujeito a fazê-lo por meio de mandado de busca e apreensão, na hipótese de bens móveis, ou de imissão de posse, quando se tratar de bens imóveis. Tais procedimentos não o isentam da aplicação de multa a ser fixada pelo juiz em montante não superior a 3% do valor dos bens inventariados (BRASIL, 2015). O inventariante entregará imediatamente ao substituto os bens do espólio. No entanto, se deixar de fazê-lo, será compelido mediante mandado de busca e apreensão, no caso de bens móveis, ou de imissão na posse, no caso de bens imóveis (art. 625 do CPC/2015, equivalente ao art. 998 do CPC/1973). O novo preceito do CPC (BRASIL, 2015) traz como aditivo, que não existia no sistema anterior a tal aplicação, uma multa em caso de não devolução dos bens, a ser fixada pelo juiz, em montante não superior a 3% do valor dos bens inventariados. Referências BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 9 maio 2021. BRASIL. Lei nº 11.441, de 4 de janeiro de 2007. Altera dispositivos da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil, possibilitando a realização de inven- tário, partilha, separação consensual e divórcio consensual por via administrativa. Brasília, DF: Presidência da República, 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11441.htm. Acesso em: 9 maio 2021. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 9 maio 2021. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). Resolução n° 35, de 24 de abril de 2007. Disciplina a lavratura dos atos notariais relacionados a inventário, partilha, separação consensual, divórcio consensual e extinção consensual de união estável por via administrativa. Brasília, DF: Presidência da República, 2007. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/ atos/detalhar/179. Acesso em: 9 maio 2021. 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A remoção de inventariante pressupõe a sua intimação, no prazo de cinco dias, para se defender e produzir provas, conforme dispõe o art. 996 do CPC. [...] Segunda turma. Agravante: Estado do Rio Grande do Sul. Agravado: Adelino Kurtz. Relator: Ministro Mauro Campbell Marques, 16 de outubro de 2014. Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/153369913/agravo-regimental-no- -recurso-especial-agrg-no-resp-1461526-rs-2014-0121881-0/relatorio-e-voto-153369926. Acesso em: 13 maio 2021. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). Informativo 625 do STF — 2011. In: CONTEÚDO Jurídico. Brasília, DF, 2011. Disponível em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/ Informativos dos Tribunais/24316/informativo-625-do-stf-2011. Acesso em: 13 maio 2021. TARTUCE, F. Manual de direito civil: volume único. 5. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2015. VENOSA, S. S. Manual de direito civil: direito das sucessões. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2013. 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