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Erliquiose Canina: Agente, Transmissão e Sintomas

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ERLIQUIOSE
Agente etiológico 
A Erliquiose canina é uma doença causada por uma riquétsia pertencente ao gênero Ehrlichia, que são bactérias Gram negativas, intracelulares obrigatórias dos leucócitos (monócitos), com forma de cocobacilos e multiplicam-se por divisão binária (BIRCHARD e SHERDING, 1998; NELSON e COUTO, 1998; TIMONEY ET al., 1998; ALMOSNY, 2002; NEER e HARRUS, 2006).
Modo de transmissão 
No momento da transmissão da Erliquiose, o carrapato poderá transmitir outros agentes tais como: Babesia, Hepatozoon e Hemobartonella canis (BEAUFILS et al., 1992; KLAG et al., 1991).
A transmissão entre animais se faz pela inoculação de sangue proveniente de um cão contaminado para um cão sadio, pelo intermédio do carrapato. Também pode ser transmitida aos cães por transfusões sanguíneas (COUTO, 1998). 
O cão é infectante apenas na fase aguda da doença, quando existe uma quantidade importante de hemoparasitas no sangue. O carrapato poderá permanecer infectante por um período de aproximadamente um ano, visto que a infecção poderá ocorrer em qualquer estado do ciclo (WOODY et al., 1991). 
FISIOPATOLOGIA 
• E. canis. 
• Rhipicephalus sanguineus — carrapato marrom do cão; transmite a doença aos cães pela saliva; período de incubação de 1-3 semanas; 3 estágios da doença: 
∘ Forma aguda — dissemina-se do local da picada até o baço, o fígado e os linfonodos (causa organomegalia); depois, torna-se subclínica com trombocitopenia leve; acomete o endotélio; vasculite; anticorpos antiplaquetários podem exacerbar a trombocitopenia; leucopenia variável; anemia leve; a gravidade depende do microrganismo. 
∘ Forma subclínica — o microrganismo persiste; a resposta humoral aumenta (hiperglobulinemia); também ocorre a persistência da trombocitopenia. 
∘ Forma crônica — diminuição na produção da medula óssea (plaquetas, supressão eritroide); hipercelularidade da medula com plasmócitos.
Epidemiologia 
Acredita-se que a doença parece ser mais grave nos cães da raça Dobermans, Pinchers e Pastor Alemão (TILLEY; SMITH; FRANCIS, 2003). Segundo Silva (2001), os cães da raça Pastor Alemão, com erliquiose, apresentam distúrbios hemorrágicos graves e, esta suscetibilidade racial é devido à depressão da imunidade mediada por células nessa raça. Vale ressaltar, segundo Harrus et al. (1997), que esses cães apresentam maior gravidade clínica quando infectados, no entanto, não são mais predispostos a infecção.
Sinais Clínicos 
A fase aguda é caracterizada por hipertermia (39,5 - 41,5 °C), anorexia, perda de peso e astenia. Títulos negativos para erliquiose podem ocorrer, durante a fase inicial da doença. A gravidade dos sinais varia entre os animais, assim como a intensidade do pico febril (Gregory et al.,1990). 
Durante essa fase aparecem sinais clínicos inespecíficos como febre, corrimento óculo nasal, uveíte anterior, epistaxe, depressão, polidipsia, linfadenopatia, desidratação, esplenomegalia e diarreia. 
Os exames bioquímicos mostram uma hiperbilirrubinemia principalmente por betaglobulinemia, assim como um aumento das enzimas TGP, fosfatase alcalina e das bilirrubinas, indicando comprometimento hepático (Andereg e Passos, 1999). Durante a fase subclínica que se manifesta após seis a nove semanas da infecção, não são observados sinais clínicos, mas pode ser evidenciada a presença de trombocitopenia, leucopenia e anemia em hemograma de rotina (SKOTARCZAK,2003; ETTINGER e FELDMAN, 2004). Por outro lado, Rosez et al. (2001) relatam à persistência de depressão, hemorragias, edema de membros, perda de apetite e palidez de mucosas mesmo durante esse período. Caso o sistema imune do animal for eficiente, teremos uma forma crônica assintomática, o que caracteriza o "portador são". Caso contrário, teremos a reagudização com amplificação do quadro sintomatológico, podendo levar o animal a óbito (DAVOUST, 1993). 
Sinais neurológicos na doença crônica e severa incluem ataxia, disfunção neuromotora, disfunção vestibular central ou periférica e hiperestesia localizada ou generalizada (GREGORY; FORRESTER, 1990). Outras anormalidades incluem anisocoria, disfunção cerebelar, e tremores intensos (GREGORY; FORRESTER,1990). 
A fase crônica da erliquiose assume as características de uma doença auto imune. Encontrando-se apático, caquético e com susceptibilidade aumentada a infecções secundárias, em consequência do comprometimento imunológico (COUTO, 1998). 
Sintomas múltiplos como: tosse, conjuntivite, uveíte bilateral, hemorragia retinal, vômito, depressão, ataxia, disfunções vestibulares, hiperestesia generalizada ou localizada, tremores intencionais na cabeça, paraparesia ou tetraparesia, déficit nervoso cranial, opistótono, hiperestesia e nistagmo. São frequentes as dermatopatias em cães infectados, decorrente da imunodepressão acarretada pelo parasito, as quais são resultantes de desordens sistêmicas e alterações imunomediadas (ALMOSNY, 2002).
HEMOGRAMA/BIOQUÍMICA/URINÁLISE 
Aguda 
• Trombocitopenia — antes do início dos sinais clínicos. 
• Anemia. 
• Leucopenia — por linfopenia e eosinopenia. 
• Leucocitose e monocitose — à medida que a doença se torna mais crônica. 
• Mórulas — são raros os corpúsculos de inclusão intracitoplasmáticos nos leucócitos. 
• Alterações inespecíficas — aumentos leves na ALT, fosfatase alcalina, ureia, creatinina e bilirrubina total (rara). 
• Hiperglobulinemia — aumenta progressivamente 1-3 semanas após a infecção. 
• Hipoalbuminemia — decorre da perda renal. 
• Proteinúria— com ou sem azotemia; cerca da metade dos pacientes.
Crônica 
• Pancitopenia — típica; pode haver monócitos e linfocitose. • Hiperglobulinemia — a magnitude do aumento da globulina correlaciona-se com a duração da infecção; há uma gamopatia policlonal, mas também ocorrem gamopatias monoclonais (IgG). 
• Hipoalbuminemia. 
• Níveis elevados de ureia e creatinina — decorrentes de doença renal primária.
OUTROS TESTES LABORATORIAIS 
Teste Sorológico 
• Constitui o método diagnóstico mais útil e confiável.
• O IFA é altamente sensível; especificidade baixa com reatividade cruzada entre E. canis e A. phagocytophila, mas não entre E. canis e A. platys. 
• Títulos — confiáveis 3 semanas após a infecção; títulos >1:10 são diagnósticos. 
• Teste sorológico de triagem no local de atendimento — Snap 3Dx (inclui E. canis) e 4Dx (inclui E. canis e A. phagocytophilum, que também sofre reação cruzada com A. platys) estão disponíveis (IDEXX Labs, Westbrook, ME). Os testes positivos devem ser confirmados com IFA e outros exames (como hemograma completo) antes de se instituir o tratamento. 
• PCR do sangue para pesquisa de E. canis fornece um diagnóstico espécie-específico, sendo positivo por volta do dia 7 após a infecção, em geral antes do desenvolvimento de doença clínica (9-12 dias pós-infecção). O exame de PCR fica negativo 9 dias após o tratamento. A técnica de PCR realizada em amostras sanguíneas é muito mais sensível que aquela feita em amostras conjuntivais.
CUIDADO(S) DE ENFERMAGEM 
• Soluções eletrolíticas balanceadas — indicadas em casos de desidratação. • Transfusão sanguínea — recomendada em casos de anemia. 
• Transfusão de plasma rico em plaquetas ou de sangue — aconselhável em casos de hemorragia decorrente de trombocitopenia. 
ORIENTAÇÃO AO PROPRIETÁRIO 
• Aguda — prognóstico excelente com a terapia apropriada. 
• Crônica — a resposta à terapia pode levar 1 mês; prognóstico mal se a medula óssea estiver gravemente hipoplásica. 
• A evolução de aguda para crônica pode ser facilmente evitada por meio de tratamento eficaz e precoce; entretanto, muitos cães permanecem soropositivos e podem apresentar recidivas (mesmo anos mais tarde).
MEDICAMENTO(S) DE ESCOLHA 
• Doxiciclina — 5 mg/kg VO a cada 12 h por 3-4 semanas; administrar por via intravenosa por 5 dias se o cão estiver vomitando. 
• Dipropionato de imidocarbe — 2 doses de 6,6 mg/kg IM em intervalo de 14 dias; supostamente eficaz contra E. canis, embora tenha falhado em remover a infecção experimental de cães com a doença. 
• Glicocorticoides — prednisolona ou prednisona; 1-2 mg/kg VO a cada12 h por 5 dias; podem ser indicados quando a trombocitopenia representar um risco de vida (acredita-se que ela resulte de mecanismos imunomediados); como a trombocitopenia imunomediada constitui o principal diagnóstico diferencial, esses agentes poderão ser indicados até que os resultados dos testes sorológicos estejam disponíveis. 
• Esteroides androgênicos — utilizados para estimular a produção da medula óssea em cães cronicamente acometidos com medulas hipoplásicas; oximetolona (2 mg/kg a cada 24 h VO até se obter a resposta) ou decanoato de nandrolona (1,5 mg/kg IM semanalmente).
CONTRAINDICAÇÕES 
• Tetraciclinas (e derivados) — não usar em cães com <6 meses de vida (produz manchas amareladas permanentes nos dentes); não utilizar em casos de insuficiência renal (tentar a doxiciclina, pois ela pode ser excretada pelo trato gastrintestinal). 
• O enrofloxacino não se mostra eficaz contra Erhlichia spp., mas sim contra Anaplasma spp. 
PRECAUÇÕES 
Glicocorticoides — o uso prolongado em níveis imunossupressores pode interferir na depuração e eliminação da E. canis após o emprego das tetraciclinas. 
MEDICAMENTO(S) ALTERNATIVO(S) 
• Oxitetraciclina e tetraciclina — 22 mg/kg VO a cada 8 h por 21 dias; eficazes e mais baratas. 
• Cloranfenicol — 20 mg/kg VO a cada 8 h por 14 dias; para filhotes caninos com <6 meses de vida; evita as manchas amareladas dos dentes em fase de erupção, causadas pelas tetraciclinas; alertar o proprietário quanto aos riscos à saúde pública; evitar em cães com trombocitopenia, pancitopenia ou anemia.
REFERENCIAS
Eddlestone SM, Diniz PP, Neer TM, et al. Doxycycline clearance of experimentally induced chronic Ehrlichia canis infection in dogs. J Vet Intern Med 2007, 21:1237-1242. 
Hegarty BC, de Paiva Diniz PP, Bradley JM, et al. Clinical relevance of annual screening using a commercial enzyme-linked immunosorbent assay (SNAP 3Dx) for canine ehrlichiosis. JAAHA 2009, 45:118-124.

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