Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Lívi� Coelh� Redação Modelo FUVEST Tema: Judicialização da liberdade de expressão Nota: 10 / 10 Liberdade de expressão à sombra da Justiça A partir da redemocratização brasileira e da promulgação da Constituição de 1988, o Judiciário deixou de ser um departamento técnico-especializado e se transformou em um verdadeiro poder político, capaz de promover a execução da Constituição e das leis, que se encontra, em alguns casos, em confronto com outros Poderes. Esse processo de retomada da democracia proporcionou também o reavivamento da cidadania por meio do aumento do acesso à informação com consequente ampliação da consciência de direitos por grande parte da população, que passou a buscar a proteção de seus interesses perante juízes e tribunais. Tal cenário, apesar de aparentemente positivo, proporciona a concentração do poder no âmbito da Justiça, que passa a delimitar os parâmetros entre certo e errado nas atitudes e nas discussões. Ao ser judicializada, portanto, a liberdade de expressão torna-se vulnerável, suscetível ao cerceamento e à desconstrução dos alicerces democráticos que a sustentam. Nesse contexto, a partir da dependência do indivíduo em relação às autoridades para a interpretação do direito à democracia discursiva, a sociedade perde a capacidade de legislar, por meio do bom senso, a liberdade de expressão e suas decorrências. O domínio no qual se exerce o poder deixa de ser a lei (os direitos e as delimitações previstas constitucionalmente) e passa a ser a norma, que produz condutas e gestos, moldando o indivíduo. Assim como no modelo do panóptico, concebido por Jeremy Bentham e analisado por Foucault, as pessoas passam a estar sob vigilância permanente da sanção normalizadora, sentindo-se coagidas a permanecer em certos padrões de comportamento para evitar possíveis punições. Perde-se, desse modo, o caráter pessoal e heterogêneo dos discursos, vinculado ao Estado Democrático de Direito em sua forma original. Como consequência desse processo, condutas divergentes às esperadas, especialmente aquelas que se valem da liberdade de expressão para questionar o abuso de poder, são majoritariamente coibidas e associadas à desordem e ao desrespeito, recebendo pena exemplar. Dentre os casos que ilustram essa realidade está a condenação, em 2017, da atriz Monica Iozzi ao pagamento de indenização ao ministro do STF Gilmar Mendes, devido a críticas proferidas por ela em rede social a uma decisão tomada pelo magistrado, que se mostrava contraditória às concepções conhecidas de justiça. Numa outra ocorrência, em 2019, o ministro do STF Alexandre de Moraes promoveu a censura a sites que repostavam informações sobre outro ministro do Supremo, porém, diante da má repercussão da decisão, tal sanção foi revogada. Esses exemplos explicitam a vulnerabilidade da liberdade de expressão no contexto da ascensão do Poder Judiciário, que comumente submete o direito à democracia a limites que proporcionem a manutenção do seu poder. Os riscos associados à judicialização da liberdade de expressão, portanto, são reais e ameaçam os princípios igualitários almejados após a redemocratização brasileira. Em meio à vigilância e à coerção implícita, comportamentos e discursos individuais e coletivos tendem a ser homogeneizados em prol da submissão ao poder da Justiça que, frequentemente, contradiz os próprios fundamentos de imparcialidade e de equidade.
Compartilhar