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BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS AULA I Prof. Wilson Mendes do Valle 2 CONVERSA INICIAL A presente aula tem como objetivo interpretar e assimilar os principais conceitos monetários, levando o estudante a entender o papel do dinheiro e sua importância no funcionamento de um sistema econômico. Para atender a esse objetivo, o estudo abordará os seguintes temas: Conceitos e origens da moeda; Meios de pagamento e liquidez; A demanda por moeda; A oferta de moeda; O conceito de base monetária. CONTEXTUALIZANDO Modernamente, o ser humano precisa diariamente fazer transações para a obtenção dos bens e serviços necessários à satisfação de suas necessidades visando ao seu bem-estar. Neste ponto, é importante indagar: isso seria possível sem a existência do dinheiro? O que seria o dinheiro ou a moeda, como convencionalmente é chamado? Quais são suas origens? Alguém inventou o dinheiro? Como ele funciona na economia e qual é a sua importância? Essas e outras questões é que vão nos levar a uma necessidade de reflexão e entendimento para que possamos tomar decisões e agir de forma eficiente no nosso cotidiano. TEMA 1 – CONCEITOS E ORIGENS DA MOEDA Créditos: Kreative Kolor/Shutterstock. 3 A utilização da moeda nas economias modernas ocorre de tal forma que fica impossível imaginar o funcionamento de um sistema econômico em que não existam instrumentos monetários. Podemos considerar como moeda, de maneira mais direta, aquilo que utilizamos como meio de troca. Na concepção dos economistas, ela é definida como sendo tudo aquilo que geralmente á aceito como pagamento por bens e serviços ou liquidação de dívidas. A moeda não foi uma invenção do ser humano num belo dia em que este tenha acordado inspirado; ela gradativamente foi se tornando uma necessidade com a evolução da humanidade na busca da sua sobrevivência e constante alcance do seu bem-estar. 1.1 No princípio, a economia de escambo e da moeda-mercadoria O ser humano sempre lutou pela sua sobrevivência fazendo escolhas frente aos recursos escassos para produzir os bens necessários ao suprimento das suas necessidades. No princípio, vivia num sistema de subsistência, ou seja, produzia somente o suficiente para as suas necessidades. Com a sua evolução, passou a produzir excedentes, uma vez que o princípio da acumulação sempre foi uma característica da natureza humana. A existência dos excedentes proporcionou as trocas de produtos por produtos, cuja fase é conhecida como economia de escambo, ou seja, trata-se de trocas físicas, sem a existência ainda da moeda. Nessa fase, parecia tudo muito simples, mas não era, pois uma primeira condição para que ocorresse uma troca era a existência do problema da dupla coincidência de desejos, ou seja, um indivíduo ter um produto que ele não precise e poder encontrar alguém que precise do que ele dispõe e que tenha sobrando alguma coisa de que ele precise. Uma segunda condição que deveria ser resolvida era a questão do valor. Por exemplo, quantas ovelhas seriam necessárias para trocar por uma vaca? Nesse ponto deveria ser desenvolvido um processo de negociação para que a troca pudesse ocorrer. Com o tempo, alguns produtos ou mercadorias passaram a ter mais aceitabilidade que outros, surgindo então a primeira característica da moeda ou dinheiro, ou seja, algo que seja aceito por todos para intermediar trocas. Assim, desde a Antiguidade, vários produtos passaram a ser utilizados por diferentes 4 povos para fazer trocas, época das chamadas moedas-mercadorias. Entre os principais, o cobre no Egito, conchas, seda e metais na China, o sal em Roma; na Idade Média, o gado na Alemanha, Islândia e Noruega. Com o tempo, os metais passaram a ter preferência, principalmente o cobre, a prata e o ouro, dando início à fase do metalismo. Algumas condições justificam essa transição. Em primeiro lugar, para ser moeda deveria ser um produto que fosse escasso e não tão abundante; em segundo lugar, tinha que ter durabilidade, não se desgastando com o uso contínuo; em terceiro, que pudesse ser divisível para pequenos pagamentos, ou seja, ser capaz de divisibilidade; em quarto, que tivesse transportabilidade, ou seja, que tivesse facilidade de manuseio e transporte de um lugar para outro. Nesse aspecto, os metais atendiam a todas essas características, consolidando-se como moeda. 1.2 Evoluindo para a moeda papel Com o metalismo em funcionamento, havia uma grande procura pelos serviços dos ourives que eram os artesãos que trabalhavam os metais. Havia a necessidade de fracionar barras de ouro, cobre ou prata com pesos específicos para todos os tipos de transações. Ficando os metais sob sua guarda, esses ourives emitiam certificados de depósitos. Esses certificados passaram a ser aceitos para transações, as quais se tornaram mais fáceis, uma vez que se evitava a guarda pessoal de valores em metais. Mais tarde, esses ourives se transformaram em casas de custódia, ou seja, mantinham em depósito os metais, dando garantia à moeda-papel que circulava, dando início à moeda lastreada em ouro, que foi uma das características da moeda-papel até meados do século XX, período do padrão-ouro, substituído depois pela moeda fiduciária. 1.3 Moeda fiduciária ou papel-moeda O final do padrão-ouro foi definido na convenção de Bretton Woods quando finalizava a Segunda Guerra Mundial. Com a evolução da economia mundial, não se justificava mais o lastro em ouro para as moedas circulantes, pois um metal escasso não dava mais suporte de garantia ao meio circulante frente ao crescimento econômico cada vez maior. No princípio, manteve-se um padrão de conversibilidade que deixou de ocorrer no governo Nixon no início dos anos 70. Modernamente, temos as chamadas moedas fiduciárias, ou seja, o 5 papel-moeda circulante é garantido por lei no ordenamento institucional dos governos de todos os países. É conhecida também como moeda de curso forçado, pois não tem um lastro-ouro que a garante, e sim, a lei. 1.4 Funções e tipos de moeda No sistema econômico a moeda tem as seguintes funções: a. Instrumento ou meio de troca: aquilo que os compradores dão aos vendedores quando consomem um bem ou serviço. Quando compramos um livro numa livraria, damos em troca do livro o dinheiro. Para poder intermediar as trocas de bens e serviços na economia, a moeda tem que ter aceitação geral; b. Unidade de conta: também funcionando como um padrão de medida, serve para converter em unidades monetárias tudo o que é quantificável na economia. Quando dizemos, por exemplo, que um livro custa R$ 40 e um almoço R$ 20, podemos constatar que um livro corresponde a 2 almoços, ou que o preço do almoço corresponde a ½ do preço do livro. c. Reserva de valor: pode ser acumulada para pagamentos futuros, bem como para quantificar volumes de riqueza. Uma pessoa, quando transfere poder aquisitivo do presente para o futuro, normalmente não o faz somente com a moeda, podendo fazer isso com outros ativos não monetários. Portanto, o termo riqueza se refere ao total de todas as reservas de valor. Modernamente podemos classificar quatro tipos de moeda no sistema econômico: a. Moedas metálicas: emitidas por um banco central, fazem parte de uma pequena parcela da oferta monetária, servindo mais para pequenos pagamentos; b. Papel-moeda: também emitido pelo banco central, representa a maior parte da quantidade de dinheiro em poder do público; c. Moeda escritural ou bancária: é representada pelos depósitos à vista em conta corrente nos bancos comerciais (é uma moeda contábil escriturada nos bancos); 6 d. Criptomoedas: é um meio de troca que se utiliza da tecnologia de blockchain e da criptografia para assegurar a validade das transações que ocorrem em meio virtual. TEMA 2 – MEIOS DEPAGAMENTO E LIQUIDEZ Créditos: Lightfield Studios/Shutterstock. A moeda, como qualquer mercadoria, tem seu preço, que pode variar com a oferta e a demanda. Chama-se de meios de pagamento a oferta de moeda que é feita ao mercado num dado período pela autoridade monetária. Entende-se por liquidez a capacidade imediata que um meio de pagamento tem em termos de poder de compra. Os ativos monetários de maior liquidez que temos na economia são o papel-moeda em poder do público ou no cofre das empresas (moeda manual) e os depósitos à vista nos bancos. Numa escala de maior para menor liquidez, os meios de pagamento numa economia são classificados e identificados da seguinte forma: a. M1: papel-moeda em poder do público (moeda manual) e os depósitos à vista nos bancos que apresenta maior liquidez; b. M2: é a soma do M1 mais os títulos federais que apresentam menor liquidez que o M1; c. M3: é definido como o M2 mais depósitos em caderneta de poupança, com menor liquidez que o M2; d. M4: corresponde o M3 mais os depósitos a prazo, sendo considerado como o ativo monetário de menor liquidez existente na economia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Blockchain https://pt.wikipedia.org/wiki/Criptografia_de_chave_p%C3%BAblica 7 2.1 Quase moedas Na economia, às vezes, algumas mercadorias podem ter aceitação como moeda e são utilizadas para fazer transações, sendo conhecidas como moedas- mercadorias. O ouro foi por muito tempo aceito como moeda para as transações devido ao fato de ser uma mercadoria escassa e, por consequência, ter valor. Outras mercadorias, como os vales-transportes utilizados no sistema de transporte coletivo em algumas cidades, também em geral são aceitos para transações. Outro exemplo de moedas-mercadorias ou quase moeda são os cigarros. Nos campos de prisioneiros, durante a Segunda Guerra Mundial, estes negociavam bens e serviços usando cigarros como reserva de valor. Do mesmo modo, com a desintegração da União Soviética na década de 80, os cigarros foram usados como meio de troca em substituição ao rublo. É importante destacar aqui a utilização em larga escala do cartão de crédito, que modernamente é muito utilizado na economia. É errôneo considerar que o cartão de crédito seja considerado um ativo monetário ou uma quase- moeda. Essa modalidade de transação nada mais é do que uma forma de deferir pagamentos no tempo. Ou seja, faz-se uma transação no presente, mas a sua efetivação ocorrerá no futuro (às vezes com acréscimo de juros), quando do pagamento da fatura, ocorrendo aí a utilização da moeda, que pode ser à vista no caixa de um banco ou debitando de uma conta corrente que terá que ter fundo disponível para a quitação da fatura. TEMA 3 – A DEMANDA POR MOEDA Créditos: Phuhuaila/Shutterstock. 8 Os meios de pagamento em circulação numa economia, como no mercado de bens e serviços, estão condicionados às forças da demanda e da oferta. Do lado da demanda, há os agentes consumidores, poupadores, investidores ou especuladores que podem querer uma maior ou menor quantidade de moeda dependendo da taxa de juro vigente ou do nível de renda dos agentes econômicos. 3.1 A demanda por moeda São três as razões que levam as pessoas ou empresas a reterem dinheiro que não rende juros, em vez de utilizá-lo na compra de títulos, imóveis ou outros investimentos: a. Demanda de moeda para transações: as pessoas e as empresas precisam de dinheiro no seu dia a dia para fazer pagamentos de seus gastos, como alimentação, transporte, aluguel etc. Assim, dependem de dispor de quantidade de moeda disponível para essas transações, ou seja, o ativo monetário de maior liquidez, o M1 que se constitui da moeda manual em posse das pessoas ou empresas ou dos depósitos à vista nos bancos; b. Demanda de moeda por precaução: refere-se à quantidade de moeda com alta liquidez que as pessoas ou empresas retêm para suprir pagamentos imprevistos no tempo ou atrasos em recebimentos esperados; c. Demanda de moeda por especulação: as aplicações financeiras que rendem juros (também chamada de portfólio) ao longo de um tempo geralmente necessitam de uma cesta como reserva, composta por moeda de imediata liquidez. Isto, em função de que, se um ativo financeiro está com rentabilidade elevada, o investidor precisará de moeda para fazer uma nova aplicação. É considerado que as duas primeiras razões (transações e precaução) dependem diretamente do nível de renda dos agentes econômicos. Já a última razão, por especulação, está condicionada à taxa de juros vigente no mercado. Quanto maior a taxa de juros, mais moeda as pessoas e empresas vão demandar para direcionar a investimentos que se mostram rentáveis. De modo 9 contrário, se a taxa de juro vigente se apresentar baixa, haverá uma tendência de maior demanda por moeda para transações ou precaução. Faz-se importante ressaltar a contribuição de John Maynard Keynes (economista inglês que nos anos 30 escreveu sua importante obra Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, considerado o pai da macroeconomia moderna) a respeito da relação taxa de juros x demanda por moeda. Antes dele, na chamada teoria clássica e neoclássica, a demanda por moeda era considerada apenas associada às necessidades de transações e precaução e que dependiam exclusivamente do nível de renda da economia. TEMA 4 – A OFERTA DE MOEDA Créditos: Productions/Shutterstock. Do lado da oferta de moeda, existe a autoridade monetária que vai utilizar dos instrumentos disponíveis para expandir ou contrair a quantidade de moeda circulante na economia, de conformidade com a política monetária adotada. O Banco Central é o responsável pela política monetária e cambial de um país, que tem como objetivo regular a liquidez da economia por meio do montante de moeda, crédito, taxas de juros e câmbio, compatíveis com o nível 10 da atividade econômica, bem como pela busca do equilíbrio no balanço de pagamentos. 4.1 Instrumentos de controle da oferta de moeda pelo Banco Central O Banco Central pode promover, conforme as necessidades da política monetária, a expansão ou a contração dos meios de pagamentos em circulação, que pode ser feita via os seguintes instrumentos: a. Controle das emissões: em conformidade com a lei vigente, cabe ao Banco Central controlar o volume de moeda manual em circulação visando atender as necessidades da economia; b. Depósitos compulsórios: também chamado de reservas obrigatórias, consistem nos depósitos obrigatórios que os bancos comerciais têm que fazer no Banco Central. Refere-se a um percentual sobre os depósitos a vista que estes têm que fazer de forma obrigatória no Banco Central. Atua como uma operação “enxuga mercado”, ou seja, dependendo do percentual, ou da taxa de compulsório como é conhecida, tem a possibilidade de contrair ou expandir a quantidade de moeda em circulação na economia. As taxas de compulsório só podem ser aplicadas pela autoridade monetária sobre a moeda escritural, ou seja, aquela que é depositada nos bancos. Não atua na moeda manual que está em poder das pessoas ou das empresas. Uma alta taxa de compulsório contrai a circulação de moeda na economia. O contrário ocorre com uma baixa taxa, quando maior velocidade de circulação se dá no dinheiro depositado nos bancos, expandindo assim os meios de pagamento da economia. Além dos depósitos compulsórios ao Banco Central, os bancos comerciais são obrigados por normas a manter em seus caixas encaixes técnicos, ou seja, certa quantidade de moeda disponível para cobrir eventuais déficits que podem ocorrer em suas operações diárias. c. Operações de redesconto: funciona como um compulsório ao contrário. São liberação de recursos do Banco Central aos bancos comerciais que podem ser via empréstimos ou desconto de títulos. Podem ser redescontos de liquidez, quando osbancos comerciais necessitam de dinheiro para cobrir eventuais déficits na compensação de cheques ou especiais e seletivos, quando são direcionados para beneficiar setores 11 específicos da economia, como a compra de máquinas, por exemplo, demandada por um setor produtivo. Essa modalidade aplica-se também à demanda de empréstimos ao setor agrícola, quando o Banco Central repassa aos bancos comerciais os volumes necessários de conformidade com os programas da política econômica em curso pelo Governo Federal. d. Operações de Open Market: refere-se às operações do mercado aberto, ou seja, a compra e a venda de títulos públicos do governo, que são feitas pelo Banco Central. Essas operações têm a capacidade de expandir ou contrair a oferta monetária. Quando o governo vende títulos, é retirado dinheiro de circulação, pois as pessoas ou empresas que compram esses títulos têm que pagar ao governo, saindo, portanto, de circulação. Já quando o governo recompra estes títulos, volta o dinheiro em circulação (expandindo os meios de pagamento), pois os investidores vão receber de volta o que investiram mais os juros pagos pelos títulos. Essa operação depende da taxa de juros ofertada pelo governo para a venda dos títulos, que é a taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia). Essa taxa é determinada pelo Banco Central, podendo em dados períodos variar para mais ou para menos, visando atender às necessidades da política monetária. Além desses instrumentos, o Banco Central pode também controlar a oferta monetária por meio de regulamentação da moeda e do crédito. Nesse aspecto, ele pode regular os volumes de crédito disponível aos consumidores, bem como os prazos para parcelamentos e as taxas de juros. Tudo isso levando em conta as necessidades da economia e as demais políticas econômicas adotadas. 4.2 A dinâmica da moeda escritural nos bancos Quando uma pessoa ou empresa faz um depósito à vista num banco, este fica de posse desse dinheiro, que passa a integrar seus fundos e disponibilidades. Como sabemos, e é o que efetivamente ocorre, esse dinheiro não fica parado no caixa dos bancos. Imediatamente é direcionado para novas transações, deduzidos os encaixes obrigatórios, que são os encaixes técnicos necessários para coberturas de desequilíbrios diários que podem ocorrer e os depósitos compulsórios que, conforme a taxa estipulada, têm que ser 12 repassados ao Banco Central. O que sobra são as disponibilidades líquidas que o banco comercial vai repassar para tomadores via empréstimos que geram novos depósitos, seja no mesmo banco ou em outros bancos. Só os bancos comerciais têm essa capacidade de criar oferta de moeda, ou seja, via os depósitos que geram sucessivos novos depósitos. A criação de moeda pelos bancos comerciais só é possível com a moeda escritural, ou seja, aquela que transita pelos bancos. Isso não é possível com a moeda manual, que é aquela que fica em poder das pessoas ou no cofre das empresas que são agentes ou instituições com características e funções diferenciadas quando comparadas a um banco comercial. Quanto mais dinâmica for a economia, maior é a velocidade de circulação do dinheiro nela. Isto é, as transações econômicas que geram os depósitos bancários e, por consequência, os novos depósitos ocorrem com maior rapidez, o que vai contribuir para incrementar o multiplicador monetário. 4.3 O multiplicador monetário Como visto, os bancos comerciais podem aumentar os meios de pagamento, isto é, aumentar a oferta de moeda circulante na economia que vai ocorrer em função do multiplicador monetário que atua em função dos depósitos à vista feitos no sistema bancário. A título de exemplo, na Tabela 1, a seguir, pode ser visualizado com dados hipotéticos como ocorre o multiplicador monetário decorrente dos depósitos à vista nos bancos comerciais. Para isso, vamos supor o seguinte: a. Uma emissão primária de moeda pelo Banco Central de R$ 100.000, cujo montante seja todo entregue ao público; b. O público (pessoas) depositará todo esse dinheiro nos bancos comerciais para movimentá-lo por meio de cheques ou cartão de débito (vamos supor também que quantidades de moeda em poder do público é nula); c. Os bancos precisam manter reservas técnicas, voluntárias e compulsórias de 40% dos depósitos havidos; d. Os bancos irão reter apenas o necessário para cobrir as reservas, e o restante se constituirá em disponibilidades para novos empréstimos que, de modo simplificado, serão concedidos para uma instituição bancária. 13 Tabela 1 – Criação de moeda dos depósitos à vista Banco Emissão primária de moeda Depósito à vista Reservas dos bancos comerciais (40% dos depósitos à vista) Empréstimos Banco Central 100.000 A 100.000 40.000 60.000 B 60.000 24.000 36.000 C 36.000 14.400 21.600 D 21.600 8.640 12.960 E 12.960 5.184 7.776 Demais bancos 19.440 7.776 11.664 Total 250.000 100.000 150.000 Fonte: Vasconcellos, 2005, p. 146, com adaptações. Como se pode observar, verifica-se que uma oferta inicial de moeda de R$ 100.000, cujo montante foi transferido aos bancos comerciais em forma de depósitos, em decorrência dos novos depósitos que foram gerados, transformou- se numa oferta de moeda escritural total de R$ 250.000. Isso considerados todos os depósitos à vista ocorridos após a dedução das retenções obrigatórias. Nesse aspecto, uma observação importante pode ser considerada: quanto mais dinâmica é uma economia com elevado nível de transações bancárias, mais capacidade ela tem de criar moeda escritural. O contrário ocorreria com uma economia cuja sociedade tem por hábito a manutenção de moeda manual sob o poder das pessoas, não utilizando o sistema bancário, o que contribuiria para reduzir a oferta de moeda em circulação. Do mesmo modo, como já dito, quanto maior forem as taxas de retenção obrigatória nos bancos (reservas bancarias), menor seria a criação de moeda via o multiplicador monetário. Pelo lado das operações de redesconto, ocorre o contrário, ou seja, quanto menor for a taxa de redesconto cobrada pelo Banco Central, maior será o multiplicador monetário, pois mais moeda entrará nos bancos comerciais para fazer novos empréstimos. A condução das políticas monetárias pelo Governo leva em conta estes fatores. Considerando as reservas bancárias, algebricamente o multiplicador monetário, de forma simplificada, seria o inverso da taxa considerada: 𝐦 = 𝟏 𝐫 Em que: 14 m = efeito do multiplicador monetário; r = taxa de reserva dos bancos comerciais sobre os depósitos à vista. No exemplo da tabela anterior, para a taxa de reserva de 40% teríamos: m = 1 0,40 = 2,5 x 100.000 (depósito inicial) = R$ 250.000, que representa a oferta monetária expandida em função da ação do multiplicador monetário. TEMA 5 – O CONCEITO DE BASE MONETÁRIA Créditos: Anton Khbrupin Anttoniart/Shutterstock. A chamada base monetária é um conceito mais expandido que corresponde à soma da moeda em poder do público e das reservas bancárias (técnicas, voluntárias e compulsórias). Praticamente é o total de toda a moeda emitida num dado período, excluindo apenas a moeda que ficou no Banco Central. Desse modo, seria o total de moeda emitida e que estaria distribuída, parte em poder do público e das empresas (moeda manual), parte em poder dos 15 bancos comerciais (em seus caixas ou depositada no Banco Central à sua ordem). 5.1 O multiplicador da base monetária O multiplicador da base monetária é um conceito mais abrangente que o multiplicador monetário visto no tópico 4.3, pois além de levar em conta os depósitos à vista nos bancos comerciais, considera também a moeda em poder do público e das empresas (moeda manual) e o total das reservas bancárias, quer estejam estas em poder dos bancos ou depositadas no Banco Central, oriundasdos depósitos havidos do sistema bancário. Nominando os vários saldos, teríamos: P = Saldo da moeda em poder do público; R = Total das reservas bancarias; D = Saldo dos depósitos à vista; M = Saldo dos meios de pagamento = P + D; B = Saldo da base monetária = P + R Assim, o multiplicador da base monetária pode ser dado pela seguinte fórmula: 𝒎𝒃𝒎 = 𝑷 + 𝑫 𝑷 + 𝑹 Ou: 𝒎𝒃𝒎 = 𝑴 𝑩 Quando é avaliado o comportamento monetário de uma economia pelo indicador da base monetária, estão sendo consideradas todas as emissões postas à disposição do público, estejam estas com as pessoas, empresas ou com os bancos comerciais. O multiplicador mostra uma relação inversa entre as taxas de retenção, seja do público ou dos bancos. Quanto maior as retenções, menor o multiplicador; ocorrendo o contrário, haverá um aumento no multiplicador. Na condução da política monetária pelo Governo são levados em conta todos esses efeitos. 16 Na Tabela 2 a seguir, pode-se verificar para a economia brasileira os coeficientes do comportamento monetário mensal, considerando o período dez/2016 a set/2018: 17 Tabela 2 – Multiplicador e coeficientes de comportamento monetário (Média nos dias úteis do mês) Ano Mês Comportamento do público Comportamento dos Bancos Multiplicador monetário 2016 Dez 0,53 0,47 0,23 0,23 1,34 2017 Jan 0,54 0,46 0,23 0,26 1,30 Fev 0,54 0,46 0,24 0,24 1,31 Mar 0,54 0,46 0,24 0,23 1,32 Abr 0,54 0,46 0,24 0,22 1,33 Mai 0,54 0,46 0,24 0,23 1,33 Jun 0,54 0,46 0,23 0,24 1,33 Jul 0,53 0,47 0,23 0,23 1,34 Ago 0,54 0,46 0,23 0,23 1,33 Set 0,54 0,46 0,24 0,23 1,33 Out 0,54 0,46 0,24 0,23 1,33 Nov 0,54 0,46 0,24 0,23 1,33 Dez 0,53 0,47 0,23 0,23 1,34 2018 Jan 0,54 0,46 0,24 0,26 1,30 Fev 0,54 0,46 0,25 0,24 1,31 Mar 0,53 0,47 0,22 0,24 1,33 Abr 0,53 0,47 0,22 0,23 1,36 Mai 0,53 0,47 0,22 0,24 1,35 Jun 0,53 0,47 0,22 0,23 1,35 Jul 0,52 0,48 0,21 0,23 1,36 Ago 0,53 0,47 0,21 0,23 1,35 Set 0,53 0,47 0,22 0,23 1,35 Fonte: BCB, 2019. Em que: C – Preferência do público por papel-moeda. PMPP – Papel-moeda em poder do público. M1 – Meios de pagamento. D – Preferência do público por depósitos à vista. DV – Depósitos à vista. R1 – Taxa de encaixe em moeda corrente. CX – Encaixe de moeda corrente. R2 – Taxa de reservas bancárias. RB – Reservas bancárias. K – Multiplicador monetário. B – Base monetária Avaliando os dados mais recentes do comportamento monetário da economia brasileira, disponibilizados pelo Banco Central, conforme mostrados na Tabela 2, pode-se ter uma visão real do funcionamento dos meios de pagamento e suas implicações. Nesse contexto se podem analisar dois importantes comportamentos, sendo o primeiro o do público, e o segundo o dos bancos. 18 Tomando-se a primeira linha da tabela (dez/2017) como exemplo, vemos que, em termos de comportamento do público, o M1 corresponde a 0,53 em moeda manual (PMPP: papel moeda em poder do público ou no cofre das empresas) e 0,47 em moeda depositada nos bancos na forma de depósitos à vista (DV). Em relação ao comportamento dos bancos, ainda considerando a primeira linha da tabela, pode-se ver que o total dos depósitos à vista entrado nos bancos mantém 0,23 como taxa de encaixe em moeda corrente (R1) e 0,23 como reservas bancárias (R2), ou seja, o total dos depósitos à vista refere-se aos depósitos compulsórios depositados no Banco Central. Consideradas as variáveis referidas, obtém-se o multiplicador da base monetária, que, considerando a primeira linha da tabela, corresponde a 1,34, representado pela relação do M1 que abrange o PMPP e o DV (depósitos à vista nos bancos) e o total da base monetária (B) que agrega os encaixes e reservas obrigatórias. Desse modo, temos uma visão mais abrangente do comportamento monetário para a economia que engloba todos os ativos monetários em circulação. Na visão dos indicadores mês a mês, conforme a tabela acima, constata-se que as variações são muito pequenas de um mês para outro. Isso fica condicionado às taxas do compulsório definidas pelo Banco Central, o qual pode provocar maior ou menor dinamismo na economia, considerada a capacidade que a moeda escritural nos bancos tem de sofrer o impacto do multiplicador monetário. TROCANDO IDEIAS Questão para discussão Modernamente algumas comunidades buscam adotar um instrumento próprio para as transações entre seus membros (moeda comunitária) que foge aos padrões da moeda convencional, sendo controladas por de um banco comunitário. Por meio da conscientização na comunidade, esse tipo de meio de troca passa a ser aceito por todos e pode dinamizar as transações entre seus membros. Isso considerado, apresente seu posicionamento, fundamentando os pontos positivos e negativos para o caso das moedas comunitárias. 19 NA PRÁTICA Solução de um caso prático Considere que o governo de um país deseja um maior dinamismo na sua economia por ocasião das festas de final de ano. Para isso, buscará somente administrar os controles da oferta monetária. Levando em conta que não usará emissões de moeda nem compra e recompra de títulos públicos, discorra sobre quais práticas ele deve adotar via empréstimos compulsórios e operações de redesconto para promover uma maior dinamização da economia. Fundamente suas considerações. Protocolo de resolução Leve em conta as taxas de compulsório e de redesconto que devem ser aplicadas para a solução do caso. FINALIZANDO A evolução da moeda, ao longo do tempo, constitui-se como um meio de troca por excelência e como reserva de valor que atendeu de modo eficiente aos princípios da acumulação de riquezas, característica nata do ser humano. Sem ela seria impossível a evolução e consolidação do sistema capitalista. Os governos perceberam logo a importância da moeda para o funcionamento eficiente da economia dos países, tomando para si a cunhagem, impressão e controle dos meios de pagamento. Dessa forma se deu maior garantia às transações econômicas e, com a consolidação do papel moeda – a chamada moeda fiduciária, que é garantida por lei –, foi possível se desvincular do padrão-ouro, cujo lastro era insuficiente para o crescimento das economias. Com a importância decorrente da circulação da moeda nas economias, várias correntes do pensamento monetário foram desenvolvidas ao longo dos anos e que modernamente dão sustentação às políticas monetárias conduzidas pelos governos de todos os países. Essas políticas são essenciais para o alcance do crescimento e do desenvolvimento econômicos sustentados. 20 REFERÊNCIAS BCB – BANCO CENTRAL DO BRASIL. Indicadores econômicos consolidados. BCB, 27 mar. 2019. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/estatisticas/indicadoresconsolidados>. Acesso em: 30 mar. 2019. COSTA, F. N. da. Economia monetária e financeira: uma abordagem pluralista. São Paulo: Makron Books, 1999. HILLBRECHT, R. Economia monetária. São Paulo: Atlas, 1999. MANKIW, N. G. Introdução à economia: princípios e micro e macroeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 2001. VASCONCELLOS, M. A. S. de. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
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