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BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS AULA 4 Prof. Antonio Siemsen Munhoz Prof. Daniel Weigert Cavagnari 2 CONVERSA INICIAL O blockchain na empresa moderna O que acontece em uma empresa, no cotidiano, seja internamente ou externamente, não é uma grande novidade. Mais que isso: sabemos, em muitos casos, registrados ou não, que as possibilidades de fraudes são constantes e, na maioria das vezes, ignoradas. Agora, imagine a seguinte situação. No departamento de compras, são feitos orçamentos e registros de compras. No comercial, operações de venda e, no financeiro, opções de investimento. Na logística da empresa, entra e sai mercadoria. Convenhamos: qualquer funcionário ou proprietário com acesso permitido a registros pode facilmente alterar ou mascarar dados, por desvio ou apenas para burlar o fisco. Pense então em um mundo em que não há mais um “controle”. Controle, nesse caso, no sentido de centralizar os registros e poder alterar dados, quando “pertinente”. Pois bem, é exatamente isso que o blockchain pode proporcionar: segurança e registros imaculados. Assim, nesta aula veremos que as criptomoedas podem ter sido uma das invenções do século, mas não é única, pois a multiaplicabilidade do blockchain, além do registro de operações com moedas digitais, pode mudar radicalmente a forma como controlamos ou prestamos contas nas empresas. CONTEXTUALIZANDO Crédito: Vectorpocket/Shutterstock. 3 Há situações de grande estresse laboral, cognitivo e psicológico para alguns administradores de empresa, quando no ar se espalha o clima característico de alguma inovação tecnológica que está sendo posta em prática. O administrador fica entre a cruz e a caldeirinha, considerando esses extremos como aqueles definidos em qualquer dicionário de expressões, que diz que tal condição equivale a se estar em grande risco ou indecisão, ou seja, em uma situação que muitos não desejam, retirados que são de sua zona de conforto. Tudo piora quando a inovação é tecnológica e, principalmente, é tida como disruptiva ou exponencial, situação em que se cessa toda essa zona de conforto dos envolvidos nos processos de inovação, quando postos em andamento. A situação pode piorar ainda mais, quando essa tecnologia trata de assuntos que exigem elevado nível de abstração e efetivação do pensamento crítico, em todos os momentos. Essa pode ser considerada a situação da implantação da tecnologia blockchain, nas empresas. O nível de complexidade de assuntos referentes à criptocurrency, que você teve oportunidade de aprender anteriormente, não deixa que essa realidade passe desapercebida. Há um grande estresse, em diversos aspectos, e isso exige que a conceituação básica da atividade blockchain seja compreendida pelos alunos, para que possam atuar na perspectiva de uma nova economia: a economia 2.0. TEMA 1 – CONTABILIDADE DIGITAL: RAZÃO E BALANÇO DE PAGAMENTOS Crédito: Rawpixel.com/Shutterstock. Há aproximadamente três décadas, teve início, para os contadores, o que lhes permitiu alcançar um elevado grau de independência e alavancou o 4 surgimento de inúmeros escritórios de contabilidade: o processamento da contabilidade digital. Foram três décadas de inovações constantes. Se você está iniciando agora os seus estudos sobre a tecnologia blockchain e não teve nenhuma experiência anterior com a contabilidade de sua empresa, em nenhuma das inúmeras portas de entrada para essa área do conhecimento, deve estar se perguntando: por que iniciar o estudo do blockchain pelo estudo da contabilidade digital? Para muitos, aí é que reside o pulo do gato, fato este que deve ser destacado, por ser algo palpável para a maioria das pessoas, o que não necessariamente ocorre com a tecnologia blockchain. Algumas pessoas, principalmente aquelas que acompanharam a evolução dos sistemas contábeis nas empresas, nas três décadas passadas, compreendem que é possível aceitar a proposição de que, no blockchain, tudo começou na evolução dos sistemas contábeis das empresas, nos quais aconteciam todas as transações financeiras das empresas. Não poderia haver lugar melhor para que sua evolução fosse efetivada, o que realmente deu a sustentação teórica, no início dos trabalhos, à tecnologia blockchain, que ainda estava titubeante, em seus passos iniciais. Primeira consideração: empresas com bons sistemas de contabilidade podem desenvolver uma proposta de maior força e valor, para atendimento de seus clientes. Algo não muito fácil de deglutir para aqueles que não conviveram com tais sistemas e perceberam, na sua evolução, a ocorrência de tal fato, a ponto de ele ser galgado a um posto de destacada estratégia empresarial. Segunda consideração: a evolução dos sistemas contábeis muniu as empresas de práticas associadas à tecnologia que as levaram a um elevado nível de automação, com chance de oferta de todas as necessidades no tempo mais rápido possível, sem esquecer de garantir segurança e economia. Terceira consideração: a utilização da inteligência artificial chegou para dar uma guinada nos sistemas de gerenciamento contábil, o que os levou à adoção da conceituação do blockchain com o advento da economia 2.0, anteriormente referenciada. Quarta consideração: os sistemas contábeis são, de forma definitiva, inseridos no mundo das transações on-line. As transações on-line podem então ser desenvolvidas de forma rápida, segura e descomplicada, com afastamento dos riscos a que as empresas estão sujeitas devido à possibilidade de má gestão de seus bancos particulares e com destaque para o banco central, riscos que 5 podem paralisar uma escalada progressista, em países em desenvolvimento, situação que o nosso país ainda insiste em ostentar. Essa sucessão de considerações foi, paulatinamente, colocando os sistemas contábeis em uma situação de destaque e, dessa forma, como consequência direta, é neles que se estabelece o nascedouro da metodologia blockchain, com o surgimento inicial das moedas digitais. A criação das moedas digitais oferece a implantação de uma estrutura de dados que representa, exatamente, o que os sistemas de contabilidade fazem, com o registro digital de uma transação digitalmente assinada, que garante autenticidade e eliminação das adulterações possíveis em sistemas tradicionais. Essas transações são reunidas como uma lista crescente de registros que são chamados de blocos, razão da origem do nome, quando se considera um encadeamento desenvolvido pelo sistema e que cria relações que levam para os níveis gerenciais a capacidade de uma tomada de decisões mais acertada, por estar apoiada em um grande volume de dados que, após sua modificação, são transformados em informações de elevado valor. Tudo fica mais claro quando podemos observar uma análise sobre o blockchain apresentada na revista Harvard Businness Review (HBR): <https://hbr.org/2017/01/the-truth-about-blockchain> (Iansiti; Lakhani, 2017). No artigo indicado, é possível observar que as transações financeiras que acontecem nas empresas representam um conceito similar ao de um livro razão aberto e distribuído que pode gravar as transações entre as partes envolvidas, de forma eficiente, verificável e permanente (Iansiti; Lakhany, 2017). Para utilização dos blocos que identificam as transações financeiras desenvolvidas pela empresa, é necessário compreender a visão do processo como uma atividade de gerenciamento desenvolvida com a concorrência de uma rede peer- to-peer (P2P), tomada ponto a ponto. As estruturas físicas criadas não mais permitem que blocos registrados possam ser alterados retroativamente, sem que todos os blocos subsequentes sejam alterados. É uma questão de integridade referencial que garante a estabilidade da rede de suporte. O que acabamos de referenciar equivale a um sistema de computação que, além de altamente distribuído,apresenta alta tolerância a falhas. Esse fato faz com que a conceituação do blockchain saia do domínio das transações financeiras para a gravação, por exemplo, de eventos e registros médicos, de 6 transações imobiliárias e outras atividades, o que explica a evolução do conceito e a amplificação de sua utilização, nos próximos anos. Dessa forma, retornando ao mundo da contabilidade gerencial digital, é fácil compreender porque tais sistemas ganham força e estão para se transformar em um fenômeno similar ao próprio surgimento da internet, ainda que mantidas as devidas proporções. De forma similar, o blockchain pode, como tecnologia exponencial e disruptiva, criar aplicativos que fornecem, embutida, a capacidade de mudar a maneira como fazemos nossos negócios e processamos nossos dados, resultantes de atividades de big data (data mining e data warehouse). Tais atividades estão aliadas ao surgimento de uma nova profissão: a de analista de dados, profissão que já surge com elevadas remunerações, de forma concordante com a elevada capacidade de acompanhamento preditivo, retirado de um altíssimo volume de dados a serem transformados em informações úteis para os setores estratégicos das empresas. A primeira constatação, após a captação do real significado do que é o blockchain, é que essa tecnologia, quando direcionada a um sentido de garantia de segurança, integridade e privacidade, remove a necessidade de que as transações financeiras das empresas sejam processadas por uma instituição financeira, privada ou pública. Os próprios bancos podem utilizar essa tecnologia, concorrente em seus serviços, de modo a obter maior economia e rapidez em suas transações. A própria Federação Brasileira de Bancos (Febraban) apresentou, em 2017, seminário de orientação para que os bancos pudessem utilizar, de forma mais confiável, essa nova tecnologia emergente, de alto potencial disruptivo e exponencial. A orientação é para o compartilhamento de dados, inicialmente dos bancos Bradesco, Itaú Unibanco e B3, em uma plataforma blockchain. Essa é uma situação que revela a força dessa tecnologia inovadora. Atualmente, os telefones celulares inteligentes (smartphones) e, em um futuro próximo, nossos relógios, também já transformados em telefones e captadores de dados pessoais, terão películas que contenham dados compartilhados de um cliente com diferentes bancos. Dessa forma, o processamento de transferências, pagamentos e outras atividades poderão ser desenvolvidas em tempo real, não importa o horário ou localidade na qual a pessoa se encontra. 7 É a contabilidade digital em foco, que carrega na criação de livros fiscais compartilhados o registro da vida financeira das pessoas. É uma visão que supera os sistemas contábeis, vistos apenas como mantenedores de registros de transações, passando a conter a vida pessoal, com os dados que cada cliente permitir, registrada nesse conjunto de livros. Esses livros podem ser acessados em tempo real, com as informações registradas sendo colocadas imediatamente à disposição de todos os participantes dos consórcios que serão criados. Dessa forma, podemos finalmente entender a razão pela qual iniciamos nossa apresentação da tecnologia blockchain, assemelhando suas transações àquelas efetuadas nos livros fiscais dos sistemas de contabilidade. Assim, um blockchain pode ser considerado como um livro de contas distribuído, descentralizado e que permite que as informações autorizadas se tornem visíveis, mas não copiadas, alteradas ou excluídas, ações estas privativas dos sistemas de informação que dão sustentação às plataformas criadas. O desenvolvimento de transações em tempo real também pode ser considerado como um dos pontos que deram destaque ao processo blockchain. Quando fazemos um exercício de futurologia e enxergamos os sistemas fiscais, contábeis, de contas a receber e contas a pagar, buscando todas as transações financeiras e comerciais das pessoas e das empresas, por meio desse novo protocolo blockchain, fica patente a importância e o tamanho das modificações nas formas de desenvolver os negócios, sob o guarda-chuva da economia 2.0. TEMA 2 – PRINCÍPIOS E SURGIMENTO DO BLOCKCHAIN Crédito: Paolo De Gasperis/Shutterstock. Há mais coisas por trás da tecnologia blockchain do que definições e estudos rápidos podem levar a crer, como se ela se tratasse de um conteúdo restrito ao trabalho com as moedas digitais, considerado pelos pesquisadores como a ponta visível de um iceberg de grandes dimensões, em seu todo. Essa 8 tecnologia está muito além de representar uma onda de interesse e curiosidade sobre as criptomoedas, com uma visão restrita de que, com uma boa lábia, um pouco de ausência de ética e muita malandragem, um investidor pode ficar milionário. É por essa razão que alertamos anteriormente para a necessidade de uma compreensão mais completa do que é possível fazer com utilização dessa tecnologia e quais as razões para que discussões mais ou menos acaloradas estejam sendo desenvolvidas. A visibilidade que é necessária, nas coisas que afetam os cidadãos, ganha destaque em um tempo de efetivação da Lei de Acesso à Informação (LAI) (Brasil, 2011). Esse fato piora ainda mais (algumas vezes de forma favorável, outras vezes de forma desfavorável) quando as redes sociais estão voltadas para resguardo (muitas vezes incompleto) dos direitos individuais dos cidadãos. A web não costuma “perdoar” pequenos deslizes. Dessa forma, qualquer alteração no mundo do blockchain resulta em uma agitação, tanto nos meios tradicionais de comunicação (rádio, TV e outras mídias), quanto nos meios digitais, nos quais a informação se propaga, com uma velocidade impressionante, por todas as pessoas. Se alguma pessoa que tivesse se ausentado dos acontecimentos sociais nas duas décadas antecedentes retornasse, de repente, ao convívio social, sem um bom preparo psicológico para tanto, o que hoje acontece na sociedade do espetáculo, divulgado por todos os meios de comunicação criados pelo gênio humano, o faria querer voltar, rapidamente, ao seu isolamento. Com isso, apoiado em um contexto de alta visibilidade, surgiu o blockchain. Ele pode ser considerado uma das tecnologias que leva para mais perto da realidade das pessoas os impactos que a tecnologia – que o homem sempre buscou, com o intuito de diminuir sua carga de trabalho – pode provocar no tecido social. O interesse despertado pelo blockchain encontra nas redes sociais um ambiente ideal para que se aplique um efeito cascata, com cada pessoa sendo atraída por suas motivações particulares que, não importam quais, fazem da tecnologia blockchain um destaque em termos de notícia. Esse fato vale também em sentido contrário, com um grande número de pessoas sendo repelida, o que ainda dá um equilíbrio e justifica as argumentações de que seu conceito ainda precisa de maiores estudos, para se tornar algo estável para as pessoas, que 9 não estão muito acostumadas a trabalhar em situações de risco como aquela representada pelo investimento de valores em condições de insegurança. Os donos do capital reagem de forma a aplicar, de forma um tanto afoita, todos os elementos componentes de sua proposta inicial, grandemente ampliada e em mudança constante, com o surgimento de novas plataformas de trabalho. A sucessão das novidades não pode, porém, retirar as pessoas da consciência da necessidade de saber quais razões geraram essa nova tecnologia, à luz dos novos fatos sociais. Kim e Mauborgne (2005) propugnam, na proposta do oceano azul, efetivar com maior ênfase o investimento em inovação, isso contraposto a uma situação de apenas se melhorar o que os outros já fizeram. Essa é uma das propostas que encontra maior eco em mentes inovadoras, mas ainda encontra resistência devido a uma falta de iniciativa e criatividade, apresentadapor muitas pessoas. A tecnologia blockchain pode ser considerada como um exemplo dessa proposição: é preciso investir na criação de coisas novas, ao invés de simplesmente se estacionar na tentativa de melhorar o que já existe, que equivale a fazer mais do mesmo, um dos ditados mais aplicáveis a muitas situações da vida administrativa, na atualidade. Dessa forma, essa nova tecnologia tem um início inovador, com a proposta de realmente estabelecer uma nova forma de economia, capaz de dar elevado nível de criatividade às iniciativas desenvolvidas na área. De acordo com estudos desenvolvidos para a Harvard Businness Review pelos pesquisadores Iansiti e Lakhani (2017), é possível estabelecer alguns destaques que facilitam uma maior compreensão do que é essa nova tecnologia. A complexidade do assunto recomenda a leitura do texto completo, que pode ser encontrado em <https://hbr.org/2017/01/the-truth-about-blockchain>, mas cujo resumo aí segue (Iansiti; Lakhani, 2017): • O blockchain foi desenvolvido para resolver um problema crônico, ainda presente no mercado financeiro no que tange a transformar todas as transações desenvolvidas por indivíduos e empresas, como se todas elas estivessem registradas em um livro-razão aberto (veja o estudo desenvolvido no tópico inicial desta aula). • Os autores consideram ser possível assemelhar a visão do blockchain a um novo mundo no qual os contratos são transformados em códigos digitais, guardados em grandes bancos de dados acessáveis via uma ou 10 mais chaves e caracterizados por metadados elucidativos de seu propósito. Tais elementos são compartilhados, protegidos contra acessos não autorizados, com a garantia de acesso e segurança, privacidade e resguardo contra acessos não autorizados. • Em seu limite, essa proposta torna desnecessária a intermediação de advogados, corretores e banqueiros. Indivíduos, organizações e máquinas seriam identificados com o uso de algoritmos. Essa última consideração é que dá o poder e força que o uso do blockchain pode apresentar. • Essa tecnologia ainda não “decolou”, mas está em manobras constantes no pátio de decolagem, apenas esperando mudanças que se fazem necessárias no que diz respeito ao bloqueio que resiste à quebra de muitas barreiras tecnológicas, de governança eletrônica, estatal e social, ainda não efetivada devido a um elevado receio, em relação a situações de risco que um mercado apoiado na economia 2.0 pode apresentar aos olhos de pesquisadores menos experimentados. • Para os autores, essa situação é passageira e deve ser vencida pelo alto potencial que a tecnologia apresenta de criar um novo sistema social e econômico, com intervenção da internet, suporte para o qual convergem todas as apostas de inovações futuras. • Apesar de toda a sua força, os autores consideram que a implantação disseminada do blockchain, se realmente vier a ocorrer, deve acontecer via um processo de adoção lento e gradual, que irá se desenvolver de forma constante, sem saltos quânticos que possam romper de forma irrecuperável com estruturas que, embora não sejam modernas, ainda dão sustentação ao mercado atual. • A base de tudo teve início na tecnologia TCP/IP, um protocolo de recepção e envio que permite a disseminação de pacotes em um nível global, com desmonte e reagrupamento de dados, de acordo com as necessidades presentes em um determinado momento – leia mais sobre o assunto em: <https://www.tecmundo.com.br/o-que-e/780-o-que-e-tcp- ip-.htm> (Martins, 2012). • Com a evolução da utilização desse tipo de processo de comunicação, foi possível atingir um nível de conectividade de baixo custo, que revolucionou os negócios on-line. Os autores citam o exemplo da 11 Amazon, que vendeu mais livros que qualquer livraria existente. Mencionam ainda as experiências da Priceline e da Expédia na revenda de passagens, que se demonstram ser objeto de estudos de caso, para facilitar a melhor compreensão do que representa a economia 2.0 e a nomeação desse fenômeno como blockchain. • Para os sistemas de provisão complexos, que exigem estratégias de distribuição inovadoras, essa tecnologia representou a porta de entrada no paraíso da simplificação dos negócios desenvolvidos on-line, com o estabelecimento de uma nova logística de operações. • Para os autores, pode também ser citada como destaque a configuração do blockchain como uma nova arquitetura peer-to-peer (P2P) que enseja, então, a criação das moedas digitais e que impulsiona o uso dessa tecnologia, como ainda vemos na atualidade, de forma lenta e receosa, mas com a certeza de que as mudanças, se realmente vierem a ocorrer, irão modificar e de forma profunda o mundo dos negócios. • Os softwares que movimentam toda a estrutura blockchain são desenvolvidos via sistemas abertos e distribuídos por equipes de voluntários que mantêm o software principal ativo e funcional, identificando uma comunidade que, ainda que pequena, se mostra altamente ativa na divulgação e aplainamento do caminho cheio de obstáculos que essa tecnologia deve encontrar. • Outro aspecto importante é a queda do custo, não somente do armazenamento em grande escala, mas também do valor do montante transmitido – as conexões chegam a valores próximos da gratuidade, já aplicada em alguns casos em que o retorno financeiro o justifique. • O registro e a manutenção de registros de tudo o que uma organização fez em termos de ações passadas, presentes dão uma visão de como ela desenvolve seus trabalhos e de como são mantidas as suas relações com o mundo fora das quatro paredes de sua presença física, que pode ser em qualquer localidade que apresente condições de baixo custo, com todos os serviços necessários. Esse processo de desterritorialização já preocupou muitos sociólogos, a ponto de Castells (2015 citado por Fontes, 2015) afirmar que as novas formas de comunicação em rede estão revitalizando a democracia. 12 • Em um sistema blockchain, o que se denomina como livro-razão se multiplica e duplica-se em múltiplas bases de dados, com atualização simultânea de todas as cópias, caso uma seja modificada (integridade referencial), o que, além de dar acesso, garante a veracidade da informação obtida. • Os autores fecham o estudo aqui resumido com a consideração de que não é somente no desenvolvimento das criptomoedas que tal tecnologia deve ser enxergada e que a visão dos usuários sobre sua força e potencial transformador deve ser aberta e aceitar inovações que, apesar de retirar a pessoa de sua zona de conforto, pode lhe dar assentos mais confortáveis, rumo à inovação de tecnologias que envolvem a organização em seus setores organizacionais e financeiros (Iansiti; Lakhani, 2017). A apresentação montada pelos autores segue nesse ritmo e batida, que considera que na sua aceitação é que está o caminho mais indicado para que essa tecnologia saia da restrita visão das criptomoedas como representantes únicas de seu processo. Está nas mãos dos executivos determinar o melhor caminho para a organização. Esse caminho se ramifica de forma a poder abranger todas as transações financeiras desenvolvidas pelas organizações, construídas em cima de dados digitais, comunicação e uma infraestrutura que reduz custos, o aspecto mais interessante quando se trata de aspectos financeiros. Aplicações existem e, o que é melhor, em sua maioria apoiadas no desenvolvimento de softwares livres, por pessoas interessadas no aumento da utilização do blockchain, de forma a permitir a criação de novos conhecimentos em uma área que ainda engatinha, na busca de sua afirmação no mercado. 13 TEMA 3 – BLOCKCHAIN DAS COISAS Crédito: Max vector/Shutterstock. A evolução da internet a levou até à aplicação de uma nova conceituação denominada internet of things (internet das coisas) (IoT). De forma assemelhada,uma possível evolução da tecnologia blockchain a leva, da mesma forma, ao uso da conceituação blockchain of things (BoT). Essa nova visão se encontra em rotas diferentes, mas que, em um ponto da caminhada, acabariam por colidir, como realmente aconteceu com as tecnologias IoT e BoT. Autores que trabalham com tal conceituação consideram que essa colisão não foi tão direcionada como seria possível pensar e pontuam que ela aconteceu de forma natural. Considera-se que esse evento pode afirmar uma nova corrente de pensamento denominada worldchanging, que privilegia a visão futura, não apocalíptica como querem alguns autores de ficção científica, que visualizam as possibilidades de efetivação da sociedade do grande irmão (Orwell, 2009). Stephen (2008) iniciou esses estudos e criou uma corrente de seguidores. A leitura de seu livro é recomendável e pode elucidar alguns conceitos sobre a utilização da tecnologia no dia a dia das pessoas. Nessa linha de pensamento, existem considerações sobre a fusão daquelas duas tecnologias, com a criação real de novas formas de desenvolvimento de negócios, dos mais diversos teores. O resultado esperado é algo maior que a simples soma das possibilidades individuais. A IoT é definida, de forma minimalista, já considerada como domínio público, como a ligação de dispositivos computacionais nos objetos de uso diário de organizações e de pessoas. O envio e recepção de dados permite o controle de funcionalidades de tais objetos, efetivadas de forma distante. 14 Da mesma forma, é possível uma definição minimalista da tecnologia blockchain, quando se pontua que ela representa um sistema computacional que é encriptado, distribuido e projetado para oferecer resultados desejados, não importam quais, em tempo real. Quando os objetos dessas definições colidem, como aconteceu na prática, é possível se enxergar a possibilidade de intervenção de uma nova inteligência, a inteligência artificial (IA), de forma a se criar métodos seguros, verificáveis e permanentes de registrar dados produzidos por máquinas inteligentes – ver a conceituação de machine learning, neste endereço: <https://www.sas.com/pt_br/insights/analytics/machine-learning.html>, para compreendê-la melhor (SAS, [S.d.]). Fica estabelecida a criação de uma grande rede de dispositivos que estarão interligados fornecendo a capacidade de se interagir com o ecossistema local e tomar decisões sem qualquer intervenção humana. O aprofundamento de tal conceituação ainda encontra resistências a ponto de a IA ter sido dividida em hard IA e soft IA ou inteligência artificial dura (que considera possível máquinas tomarem decisões tais quais os seres humanos) e inteligência artificial mole (que considera ser somente possível, para as máquinas, obter inferência com base em fatores registrados por operadores humanos, com uma capacidade de processamento altamente diferenciada, mas que não lhes confere a possibilidade de desenvolver pensamento e tomar decisões humanas). O Instituto Gardner (2017), acostumado a produzir estatísticas com megavalores relacionados, aponta que, no ano de 2017, o mundo já tinha 8,4 bilhões de dispositivos IoT (dados registrados no TI Inside Online: <http://tiinside.com.br/tiinside/home/internet/17/02/2017/gartner-estima- que-84-bilhoes-de-coisas-conectadas-estarao-em-uso-em-2017/>), número que poderá exceder 20 bilhões antes do ano de 2020 (Gartner, 2017). Para 2030 são previstos mais de 500 bilhões de dispositivos interligados e operando. São números assustadores. Assusta ainda mais o volume de lixo eletrônico produzido pela elevada velocidade de obsolêscencia observada na área tecnológica. Como será viver em um “mundo inteligente” é um problema que domina o pensamento de filósofos e sociólogos, que não enxergam como possível a submissão do ser humano às máquinas, como postulam algumas visões 15 apocalípticas do futuro próximo. É algo que é, inclusive, difícil de imaginar na escala de números que são divulgados nas pesquisas. Antes de estar definitivamente implantada, essa nova tecnologia resultante da união entre a Iot e o blockchain, criando a BoT, gera um medo real, representado pelo que aconteceria com algum fracasso no ecossistema IoT. Esse acontecimento poderia expor ao público imagens dos múltiplos dispositivos de casas inteligentes, oferecendo detalhes da vida íntima das pessoas. A visão de um “fogão assassino”, controlado à distância por alguma mente maligna, revela uma realidade prevista nos livros escritos por Stephen King, que enxerga nas pessoas as capacidades de criarem um terror psicológico desenvolvido à distância. As falhas de segurança que poderiam estar presentes nas áreas de autenticação, conexão e transação (os pontos frágeis da IoT e, consequentemente, da BoT) levariam, em hipótese, as comunicações humanas a uma situação de caos incontrolável. A BoT revela uma esperança de diminuição desse risco, ao criar camadas auxiliares de controle, que atuam como um diferencial de segurança. Assim, a autossuperintendência da rede blockchain é adicionada à tecnologia IoT, possibilitando diminuir as chances de um risco tecnológico iminente. A inclusão de uma ou mais camadas de chaves privadas procura garantir uma situação de estabilidade. O problema é similar ao encontrado na computação em nuvem, com a descentralização do controle proporcionando situações similares de ameaça ao ecossistema administrativo. Ainda há bloqueios tecnológicos que devem ser superados, com a evolução do casamento entre o blockchain e a IoT e, apesar da visão de perspectivas nada agradáveis, mais centradas na utilização da IA, a BoT é um campo que deve sofrer diversas inovações, sendo as principais aquelas relativas à segurança e integridade dos dados. 16 TEMA 4 – ECONOMIA BLOCKCHAIN Crédito: Rawpixel.com/Shutterstock. A tecnologia blockchain é mais conhecida como suporte para a evolução das moedas virtuais. É preciso evitar cair nesse erro comum. Essa visão restrita deve ser ampliada, propiciando uma visão dos extensivos e intensivos efeitos que ela pode provocar no tecido social. Isso acontece porque, inicialmente, esse suporte tecnológico foi dado ao bitcoin. Com a evolução e aumento da segurança no uso das moedas digitais, essa tecnologia passa a representar um guarda-chuva que abriga diversas outras moedas (litecoin, monero, ripple, zcash, dash, NEO e outras). Veja na Tabela 1 o mapa de valores financeiros envolvidos com essa tecnologia. A movimentação de tais valores justifica a importância que apresentam os estudos criando saberes e uma nova área de conhecimento sobre as finanças digitais, em um mercado em transição acelerada. 17 Tabela 1 – Lista das 10 maiores moedas virtuais no item mercado de capitalização em bilhões de dólares n. ícones criptomoedas Cap. Market CoinGecko (1) Cap. Market CoinCap (2) 1 Bitcoin 20.212.513.892,65 20.816.514.953,00 2 Ethereum 4.440.845.088,07 4.536.090.075,00 3 Ripple 1.206.596.990,15 1.224.752.416,00 4 Litecoin 735.846.013,58 741.673.879,00 5 Dash 522.414.574,00 523.250.780,00 6 Ethereum Classic 293.721.287,09 358.597.958,00 7 NEM 290.365.871,87 333.137.804,00 8 Monero 288.680.590,11 281.151.645,00 9 Angur 131.010.000,00 148.030.805,00 10 MaidSafeCoin 102.100.802,22 104.544.133,00 Total 28.224.095.109,74 29.067.744.448,00 Fonte: Pires, 2017. Novas criptomoedas foram lançadas para concorrer diretamente com as moedas existentes ou com outras finalidades, como tivemos oportunidade de estudar anteriormente. Há estudos para criação de novas concorrentes, considerando os elevados valores movimentados. Tapscott (2018 citado por Crisóstomo, 2018) considera que há uma tendência de que, com sua utilização, sejam criadas novas formas de “fazer negócios” na grande rede.O autor desenvolve seu trabalho na perspectiva de mudanças significativas no tecido social, que preocupa sociólogos e aumenta o surgimento de estudos e pesquisas acadêmicas desenvolvidas na área. A visão mais indicada é apontada nos estudos que consideram que o blockchain é uma tecnologia de registro permanente (preservação digital). Essa visão se apoia na evolução que é possível observar em diferentes áreas, com destaque para a de big data, computação em nuvem, entre outras tecnologias envolvidas. 18 No início da utilização daquela tecnologia, os estudos foram desenvolvidos na área financeira, mas aos poucos sua evolução levou-os para outras áreas. Pires (2017) pondera a existência de críticas acerbas que consideram que as criptomoedas servem a propósitos neoliberais, em sua vertente de resguardo e desregulamentação das transações financeiras. A questão social e política é uma constante, nessa área do conhecimento. De uma forma geral, é possível considerar que a tecnologia do blockchain atende ao propósito de se evitar o controle de órgãos reguladores (dos bancos centrais é o exemplo mais fácil de compreender) ou de monopólios criados durante o desenvolvimento de transações financeiras. Estes direcionam as ações dos participantes de iniciativas de resguardo de capital nem sempre com o propósito de atender a interesses de empresas ou indivíduos. A tecnologia de registro permanente tem como destaque a proposta da descentralização das localidades de armazenamento de informações, como uma medida de segurança. É exatamente nesse ponto que o blockchain ganha destaque em outras áreas do conhecimento e abandona seu nicho, sendo considerada a sua aplicação em outras áreas. O que muitos defensores do fator social consideram uma massificação – a globalização – se mostra na base das mudanças de foco que levam o blockchain a ser considerado em outros campos de atuação, oferecendo desafios para a business intelligence (BI). A globalização desenvolvida sem interferências de órgãos estatais ou de monopólios se mostra interessante em todos os campos do conhecimento. Tapscott (2018 citado por Crisóstomo, 2018), tido como um dos maiores estrategistas empresariais no mercado digital, afirma que, aos poucos, muitas empresas passam a levar em consideração a importância do uso dessa nova tecnologia. A evolução ainda esbarra na falta de confiança em aspectos de segurança digital. A perspectiva de utilização do blockchain, como apresentado, permite antever a possibilidade de surgimento de uma nova economia digital que pode envolver diferentes instâncias no espectro social, tais como: iniciativas culturais, esportivas, de entretenimento e outras. A base da confiança que garante a preservação digital está não mais na credibilidade de intermediários, mas no uso da criptografia e de programas de software que acabam por receber, como disposto por Tapscott (2018 citado por 19 Crisóstomo, 2018), o apelido de protocolo da confiança. O estrategista considera que a utilização daquela tecnologia cria novos empregos e abre portas para o aumento da empregabilidade dos profissionais de tecnologia da informação (TI), além de gerar lucros para as partes envolvidas. A dispensa de intermediários propicia uma inaudita confiança. Um exemplo que pode ser citado diz respeito ao uso da tecnologia blockchain para preservação do patrimônio cultural. Em julho de 2018, foi registrada uma patente que tem como base o uso do blockchain. Veja o texto completo da reportagem sobre o assunto em: <https://criptoeconomia.com.br/cientistas-recorrem-a-tecnologia-blockchain- para-preservacao-do-patrimonio-cultural/> (Marinho, 2018). Com o uso dessa tecnologia, seriam guardadas versões digitais de objetos culturalmente importantes, com base em um sistema descentralizado. Os modelos seriam criados com uso de computação 3D. A plataforma assim criada seria, após um tempo, transformada em uma plataforma pública. Os professores autores da proposta, conforme Marinho (2018), consideram, então, que, com o uso do blockchain, a identificação digital de cada patrimônio cultural pode ser transferida entre diferentes partes a custos mais baixos e com maior eficiência, com ampliação dos valores econômicos e sociais de diferentes culturas. Essa e outras experiências representam um crescimento que possibilita a criação de fintechs. Tratam-se estas de pequenas empresas startups que têm como objetivo a criação de novos negócios para o mercado financeiro digital, que por sua vez almeja, de modo declarado, superar os negócios do mercado financeiro tradicional, considerados na atualidade como obsoletos e controlados pelos governos. Silva (2016), um profissional inovation manager da Sonda, uma das empresas que têm representatividade na área da economia digital, afirma com todas as letras que não há como deter a economia digital. Em seus artigos, ele cita e apresenta um exemplo que vamos apresentar agora para o leitor, como forma de tornar mais claro o que se pode explicar por economia digital. O colunista da Saga considera que “[...] é comum que precisemos confirmar e transferir propriedades, realizar registros públicos e privados, fazer acessos físicos ou digitais e até mesmo coisas intangíveis como registrar marcas, patentes, reserva de domínios etc.” (Silva, 2016). O autor aproveita essa 20 condição para ilustrar o conceito de economia blockchain de forma menos abstrata e mais ligada ao dia a dia das pessoas. O autor continua sua análise: Para ilustrarmos o conceito, imagine que você deseja realizar a transferência de propriedade de um automóvel. Com o uso do blockchain, é possível realizar este procedimento sem a necessidade de um órgão regulador, tal como cartório e governo, por exemplo, bastando apenas submeter a transação de Compra e Venda – que informa o processo de transferência. Um bloco contendo as informações é enviado na forma de broadcast para a rede de blockchain e quando o bloco for aprovado, este é sincronizado e, então, a transação é dada como válida. (Silva, 2016) A transação é validada por “mineradores”, que lhe dão credibilidade. Há, com isso, uma redução no custo de processamento, que atinge níveis muito baixos. O autor sugere um exercício de imaginação simples, em que se enxerga a economia que pode ser gerada se todas as transações contábeis de uma empresa forem assim validadas no blockchain (Silva, 2016). Tal fato simplificaria em muito as questões de auditoria (lembre-se do tratamento da contabilidade digital, que abordamos antes). A segurança de compliance fica garantida (tema que será tratado no próximo tópico). O autor apresenta ainda outros exemplos que podem ser acompanhados pelo leitor no link: <https://canaltech.com.br/mercado/o-uso-do-blockchain-como-plataforma- para-a-economia-digital-80549/> (Silva, 2016). TEMA 5 – NATURAL COMPLIANCE Crédito: Inspiring/Shutterstock. Uma primeira providência a ser tomada no início de estudos sobre o tema do blockchain é apropriar-se de sua definição e compreender o seu significado. Para que isso seja possível, buscamos apoio em um especialista da área, 21 Michael Pereira de Lira (2013), que propõe que os estudos sejam introduzidos se considerando o termo compliance com o significado de “[...] agir de acordo com uma regra, uma instrução interna, um comando ou um pedido, ou seja, [...] estar em conformidade com leis e regulamentos externos e internos”. Poderíamos parar por aqui e passar para o estudo do relacionamento entre a tecnologia blockchain e a conformidade assinalada pelo especialista citado (Lira, 2013), mas não vamos agir dessa forma. Consideramos, aqui, que essa definição não nos dá a dimensão do significado do termo. A conformidade deve ser mantida e isso somente ocorre se a empresa atende a todos os normativos de órgãos e entidades reguladoras.O assunto cai diretamente no colo dos setores jurídicos, com pessoas altamente capacitadas para tornar complexas coisas que poderiam ser explicadas de forma mais simplificada, em virtude dos termos legais e do uso de um linguajar altamente complexo para o comum dos mortais. Até pouco tempo, o compliance não incluía processos desenvolvidos pela empresa. Essa mudança de atitude cria a necessidade de que haja um processo de mapeamento desses elementos e inserção, nas atividades, de uma proposta de gestão diferenciada, o que aumenta o volume de trabalho, que somente será diminuído com a tecnologia blockchain, conforme veremos adiante. A transparência que os mercados passam a exigir, com o advento das redes sociais, abrange, nesse volume de trabalho, dados e metadados que mostrem e comprovem, para o mercado, que as organizações estão adotando boas práticas (o investimento no meio ambiente é uma das exigências propostas, o que, por exemplo, tornou e ainda garante a marca Boticário como uma das líderes em seu mercado, hoje com franquias espalhadas por todo o território nacional). Isso exige a compliance da empresa, diante do mercado. Após essa introdução, que facilita a compreensão das vantagens da inserção da tecnologia blockchain num processo, podemos considerar o que, no mercado, se convencionou denominar natural compliance. Para atender ao aumento natural do volume de trabalho, a responsabilidade única é retirada do setor jurídico, que agora passa a dividi-la com um profissional que trata de auditar os processos da empresa no que diz respeito aos seus controles internos, atuando na linha de ação de uma consultoria, que pode ser interna ou terceirizada, em tempos de aumento do outsourcing, em todas as áreas. 22 Seguindo essa linha de raciocínio, uma empresa que atende a questões de compliance, em um aspecto geral, pode assumir um papel diferenciado, caso altere a forma de agir de maneira a conseguir cumprir esse objetivo. A partir daí, ela pode ser considerada como uma empresa apoiada no blockchain, se adotar as propostas mencionadas nos temas anteriores e efetivar uma proposta de utilizar essa tecnologia de forma extensiva e intensiva. Com a tecnologia blockchain, a empresa pode encaminhar a divulgação de seus trabalhos e procedimentos como foi descrito nos tópicos anteriores. Ganha a empresa e ganham agilidade e transparência as atividades de compliance que nela são desenvolvidas e assim, consequentemente os trabalhos desenvolvidos no dia a dia da empresa. Dessa forma, fica mais fácil compreender a adoção da tecnologia blockchain, que pode tornar o trabalho da empresa complacente e amigável à regulamentação externa local e internacional. O principal ganho é o atendimento ao aumento de uma tendência reguladora, tanto nos mercados nacionais, quanto nos mercados internacionais. Quando essa observação é aliada ao processo tecnológico, com evolução imprevisível e também às mudanças sociais que estão em andamento como consequência direta dessa evolução, tal sinergia poderá ocasionar resultados inesperados. É nesse contexto que a tecnologia blockchain desperta para uma nova década promissora, mas sem que qualquer previsão permita uma análise de até onde será possível chegar. A necessidade de agilidade, redução de custos e atendimento de requisitos nacionais e internacionais de compliance atuam então como um potente motor, que poderá arcar com todas as informações financeiras da empresa, em um mercado regulador por excelência. O aumento da eficiência das operações de retaguarda pode levar a empresa a uma liderança, à vanguarda dos negócios desenvolvidos em ambientes digitais. Analistas preveem que a nomenclatura ecossistema financeiro 2.0 (ou simplesmente economia 2.0) deve dominar o panorama. O chamado livro-razão distribuído, como tratado no início dos estudos dessa tecnologia, talvez venha a ser um dos principais colaboradores para eliminação de grande parte da influência de elementos externos nas transações financeiras das empresas. 23 Ao dificultar a ação de hackers e crackers, o livro-razão distribuído gera uma maior segurança para a empresa. Ela pode chegar cada vez mais perto da segurança total que muitos consideram não existir. Uma nova sigla é levada para um mercado já cheio delas: DLT, do inglês distributed leger technology. Ela representa uma tecnologia que pode transformar de forma significativa a infraestrutura dos serviços financeiros. Pesquisadores mais otimistas consideram que esse elemento oferece uma oportunidade para reconstrução de processos financeiros, de forma mais simples e inovadora por excelência. É uma proposta que reúne em um único pacote: conciliação interna e externa; gestão de liquidez da empresa, com sua divulgação externa e; o compliance regulatório (natural compliance). Com o DLT se reafirma a economia 2.0. Após as considerações efetivadas até o momento, sua compreensão deve estar mais facilitada, abandonando o tratamento restrito da ideia de blockchain como algo relacionado apenas às criptomoedas. A tecnologia é considerada como a inovação disruptiva desenvolvida no sistema financeiro. Seus serviços têm uma utilização crescente pelas empresas, em todos os níveis. O DLT cria uma nova área de estudos e abre novas frentes de trabalho para economistas que tenham conhecimentos básicos de informática e para técnicos de informática que tenham conhecimentos básicos sobre fundamentos financeiros. É uma nova linha de ação para a qual são poucos os estudos e obras. TROCANDO IDEIAS Uma das questões mais efetivas do mercado financeiro, para que investidores e até mesmo colaboradores aceitem e confiem nas empresas com que operam é a segurança. Não nos referimos à segurança digital como dados criptografados ou logs em computadores, nas intranets, mas à segurança de que tudo o que ocorre em uma empresa é legítimo e confiável. Convenhamos, nesse caso teríamos a empresa perfeita e um item a menos para acertar nos mercados em que especulamos. Assim sendo, imagine que o preço das ações de uma empresa é definido apenas pela qualidade, bom atendimento e seu crescimento no mercado, pois a sua segurança é efetiva e não há nem a necessidade de auditá-la. 24 Expresse sua opinião sobre esse assunto e aponte os ganhos e perdas possíveis, diante desse quadro. NA PRÁTICA Como sabemos, o blockchain é uma revolução à parte e de cujas potencialidades apenas ouvimos falar. Sua aplicabilidade ainda é conhecida como função de registro seguro das criptomoedas; mas, da forma como funciona em termos de garantia da operação auditada, podemos imaginá-la em outras áreas corporativas. Como exemplo, suponha que todas as operações de registro de imóveis passem a ser feitas em um blockchain. Sendo assim, não teremos mais a necessidade de ir a um cartório de registro para transferir um imóvel, bastará registrar que a operação já está garantida e não pode ser burlada. Assim, pesquise alguma operação documental ou financeira que possa ser beneficiada pelo blockchain. Apresente os detalhes dessa operação e os benefícios adquiridos. Examine também os possíveis problemas que isso possa causar. FINALIZANDO O blockchain é uma operação simples, baseada em chaves e criptografia, e não possui um local definido (está em muitos servidores). É sim um meio seguro e definitivo de garantir operações digitais e sem a necessidade de auditoria, intermediários ou controle centralizado. Porém, ainda é exaustivo o uso de tecnologia para garantir seu funcionamento e agilidade nas operações, dadas as, acredite, restrições de tecnologia. Parece estranho, com tanta tecnologia e recursos disponíveis, mas estamos em uma fase parecida com a do início da internet, nos anos 1990, com tantas possibilidades de futuro, mas limitada a conexões discadas e de baixa velocidade. 25REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011. Diário Oficial da União, Brasília, p. 1, 18 nov. 2011. Disponível em: <ttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em: 13 mar. 2019. CRISÓSTOMO, L. O. Por que o Blockchain vai mudar a economia, a democracia e a sociedade. Forbes, São Paulo, 21 nov. 2018. Disponível em: <https://forbes.uol.com.br/negocios/2018/11/por-que-o-blockchain-vai-mudar-a- economia-a-democracia-e-a-sociedade/>. Acesso em: 13 mar. 2019. FONTES, M. Manuel Castells: “a comunicação em rede está revitalizando a democracia”. Fronteiras do Pensamento, 11 maio 2015. Disponível em <https://www.fronteiras.com/entrevistas/manuel-castells-a-comunicacao-em- rede-esta-revitalizando-a-democracia>. Acesso em: 13 mar. 2019. GARTNER estima que 8,4 bilhões de “coisas” conectadas estarão em uso em 2017. TI Inside Online, São Paulo, 17 fev. 2017. Disponível em: <http://tiinside.com.br/tiinside/home/internet/17/02/2017/gartner-estima-que-84- bilhoes-de-coisas-conectadas-estarao-em-uso-em-2017/>. 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