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1 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 Dor Torácica Dor torácica é aquela percebida na região anterior do tórax, podendo ou não estar irradiada. Muitas vezes, pode ser percebida como uma sensação de desconforto. A maneira de sentir a dor, a forma de início e o modo, e sua caracterização são muito variáveis e dependem de inúmeros fatores, podendo até mesmo ter início em outra região do corpo, como o epigástrio. Alguns aspectos devem ser considerados para a realização do diagnóstico, como: localização, irradiação, característica, duração, fatores precipitantes, fatores que melhoram ou pioram a dor e ainda os sintomas associados. É um sintoma que está entre as razões mais comuns que levam os pacientes a procurar assistência médica nas emergências ou consultórios médicos. A avaliação da dor torácica não traumática é um desafio inerente, devido à variedade de causas possíveis, uma minoria sendo condições potencialmente fatais que não devem ser esquecidas. É importante estruturar a avaliação diagnóstica inicial e o rastreamento dos pacientes com dor torácica aguda em três categorias: 1. Isquemia miocárdica, 2. Outras causas cardiopulmonares (doença pericárdica, emergências aórticas e condições pulmonares), 3. Causas não cardiopulmonares. Embora a identificação rápida de condições de alto risco seja uma prioridade da avaliação inicial, as estratégias que incorporam o uso liberal rotineiro de testes têm o potencial de implicar efeitos adversos de investigações desnecessárias. EPIDEMIOLOGIA Doenças do aparelho circulatório têm importância cada vez maior no Brasil. Segundo levantamento do DATASUS de 2015 a 2017, doenças do aparelho circulatório foram a principal causa de morte, representando 28% dos óbitos. Foram registrados 356.871 óbitos por ano, sendo que entre as doenças do aparelho circulatório a principal causa registrada é a doença isquêmica, com 32% (114.351) dos óbitos. Além da mortalidade, esse grupo de doenças também representa um número importante de internações no SUS. Trata-se da terceira causa de internações no SUS, estando atrás de doenças respiratórias e internações obstétricas. Entre 1.147.761 interações nos últimos 12 meses, um quarto são doenças isquêmicas e infarto agudo do miocárdio. Não existem dados nacionais sobre o número de atendimentos por dor torácica ou outros sintomas sugestivos de síndrome coronariana aguda (SCA) no DE. Estudos locais mostram que a dor torácica é uma das principais queixas de procura ao DE, representando de 4,7 a 6,2% dos atendimentos. CAUSAS DE DOR TORÁCICA Os cinco principais grupos de etiologias de dor torácica, por ordem decrescente de prevalência, são as causas musculoesqueléticas, gastrointestinais, cardíacas, psiquiátricas e pulmonares. Além da SCA, algumas se destacam por seu caráter potencialmente fatal, como a dissecção aguda de aorta, o tromboembolismo pulmonar (TEP), o pneumotórax hipertensivo, o tamponamento cardíaco, a ruptura e a perfuração esofagiana. (QUADRO 19.1) QUADRO CLÍNICO A avaliação da dor torácica não traumática baseia-se em grande parte na anamnese clínica e no exame físico para orientar a realização dos exames diagnósticos subsequentes. O clínico deve avaliar a qualidade, a localização (inclusive se há irradiação) e o padrão (incluindo o início e a duração) da dor, bem como quaisquer fatores que a provocam ou aliviam. A presença de sintomas associados também pode ser útil para estabelecer um diagnóstico 2 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 QUALIDADE DA DOR Apenas a qualidade da dor torácica nunca é suficiente para se estabelecer um diagnóstico, porém as características da dor são primordiais para se ter uma impressão clínica inicial e avaliar a probabilidade de um processo cardiopulmonar sério, incluindo SCA em particular. Pressão ou aperto são consistentes com uma apresentação típica de dor miocárdica isquêmica. Mesmo assim, o clínico precisa lembrar que alguns pacientes com sintomas torácicos isquêmicos negam qualquer “dor”, mas queixam- se de dispneia ou uma sensação vaga de ansiedade. A gravidade da dor tem pouca acurácia diagnóstica. Em geral, é útil perguntar sobre a semelhança da dor com sintomas isquêmicos prévios definidos. É incomum a angina ser aguda, como uma facada, lancinante ou pleurítica; no entanto, algumas vezes os pacientes usam o termo “aguda” para explicar a intensidade da dor em vez de sua qualidade. A dor pleurítica é sugestiva de um processo que envolve a pleura, incluindo pericardite, embolia pulmonar ou processos do parênquima pulmonar. Com menos frequência, a dor de pericardite ou embolia pulmonar maciça é uma pressão constante grave ou intensa que pode ser difícil de distinguir de isquemia miocárdica. Dor em “laceração” ou “cortante” em geral é descrita por pacientes com dissecção aórtica aguda. No entanto, as emergências aórticas agudas também se manifestam comumente por dor intensa lancinante. Uma qualidade em queimação pode sugerir refluxo ácido ou úlcera péptica, mas também pode ocorrer com isquemia miocárdica. A dor esofágica, em particular com espasmo, pode ser uma dor compressiva grave idêntica à angina. LOCALIZAÇÃO DA DOR Uma localização subesternal com irradiação para pescoço, mandíbula, ombros ou braços é típica da dor miocárdica isquêmica. Alguns pacientes têm como único sintoma da isquemia uma dor contínua nos locais da dor irradiada. Entretanto, a dor altamente localizada – por exemplo, a que pode ser demarcada pela ponta de um dedo – é bastante incomum na angina. Uma localização retroesternal deve levar à consideração imediata de dor esofágica, embora outras condições gastrintestinais geralmente se manifestem com dor mais intensa no abdome ou epigástrio e possível irradiação para o tórax. Também pode ocorrer angina em uma localização epigástrica, mas a dor que ocorre exclusivamente acima da mandíbula ou abaixo do epigástrio raramente é angina. A dor grave que se irradia para as costas, em particular entre as escápulas, deve levar à consideração imediata de uma síndrome aórtica aguda. A irradiação para a crista do trapézio é característica de dor pericárdica e não costuma ocorrer com angina. PADRÃO A dor miocárdica isquêmica geralmente surge em questão de minutos, é exacerbada por atividade e mitigada pelo repouso. Em contraste, a dor que atinge o auge de intensidade imediatamente é mais sugestiva de dissecção aórtica, embolia pulmonar ou pneumotórax espontâneo. Dor passageira (que dura apenas alguns segundos) raramente é de origem isquêmica. Similarmente, é improvável que a dor de intensidade constante por um período prolongado (muitas horas a dias) represente isquemia miocárdica se ocorrer na ausência de outras consequências clínicas, como anormalidades do ECG, elevação de biomarcadores cardíacos ou sequelas clínicas (p. ex., insuficiência cardíaca ou hipotensão). Tanto a isquemia miocárdica como o refluxo ácido podem começar de manhã, o último por causa da ausência de alimento para absorver o ácido gástrico. FATORES QUE PROVOCAM E ALIVIAM Pacientes com dor miocárdica isquêmica em geral preferem ficar em repouso, sentados ou parar de caminhar. Contudo, os clínicos devem lembrar o fenômeno da “angina do aquecimento”, em que alguns pacientes têm alívio da angina à medida que continuam com o mesmo nível de exercício ou até maior sem ter sintomas. Alterações na intensidade da dor com mudanças na posição ou à movimentação dos membros superiores e do pescoço são menos prováveis com isquemia miocárdica e sugerem uma etiologia musculoesquelética. A dor da pericardite, no entanto, costuma ser grave na posição supina e aliviada quandoo paciente senta-se ereto e inclina-se para frente. O refluxo gastresofágico pode ser exacerbado por álcool, alguns alimentos ou uma posição reclinada. É possível ocorrer alívio ao sentar-se. A exacerbação à alimentação sugere uma etiologia gastrintestinal, como úlcera péptica, colecistite ou pancreatite. A doença ulcerosa péptica tende a tornar-se sintomática 60-90 minutos após as refeições. Todavia, no contexto de aterosclerose coronariana grave, a redistribuição do fluxo sanguíneo para a vasculatura esplâncnica após a alimentação pode desencadear angina pós-prandial. O desconforto do refluxo ácido e da úlcera péptica em geral diminui imediatamente com tratamentos que reduzem a acidez. Em contraste com seu impacto em alguns pacientes com angina, é muito improvável que o exercício físico altere sintomas decorrentes de causas gastrintestinais de dor torácica. O alívio da dor torácica minutos após a administração de nitroglicerina é sugestivo, mas não suficientemente sensível ou específico para um diagnóstico definitivo de isquemia miocárdica. O espasmo esofágico também pode ser aliviado imediatamente com nitroglicerina. Uma demora de > 10 minutos antes do alívio com nitroglicerina sugere que os sintomas não são causados por isquemia ou são decorrentes de isquemia grave, como durante um IM agudo. 3 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 SINTOMAS ASSOCIADOS Os sintomas que acompanham a isquemia miocárdica podem incluir diaforese, dispneia, náuseas, fadiga, desmaio e eructações. Além disso, esses sintomas podem estar presentes isoladamente como equivalentes da angina (i.e., outros sintomas de isquemia miocárdica que não a angina típica), particularmente em mulheres e idosos. Pode ocorrer dispneia com várias condições consideradas no diagnóstico diferencial de dor torácica, de modo que ela não é discriminativa, mas a presença de dispneia é importante porque sugere uma etiologia cardiopulmonar. O início súbito de dificuldade respiratória significativa deve levar à consideração de embolia pulmonar e pneumotórax espontâneo. Pode ocorrer hemoptise com embolia pulmonar ou escarro espumoso sanguinolento na insuficiência cardíaca grave, mas em geral indica uma etiologia pulmonar parenquimatosa de sintomas torácicos. A apresentação com síncope ou pré-síncope deve levar à consideração imediata de embolia pulmonar com significado hemodinâmico ou dissecção aórtica, bem como arritmias isquêmicas. Embora náuseas e vômitos sugiram um distúrbio gastrintestinal, esses sintomas podem ocorrer no contexto de IM (mais comumente IM inferior), presumivelmente por causa da ativação do reflexo vagal ou da estimulação de receptores ventriculares esquerdos como parte do reflexo de Bezold-Jarisch. HISTÓRIA CLÍNICA PREGRESSA Os antecedentes clínicos são úteis na avaliação dos fatores de risco do paciente para aterosclerose coronariana e tromboembolismo venoso, bem como de condições que possam predispor o paciente a distúrbios específicos. Por exemplo, uma história de doenças do tecido conectivo como a síndrome de Marfan deve ser considerada ante a suspeita clínica de uma síndrome aórtica aguda ou pneumotórax espontâneo. Uma anamnese detalhada pode revelar indícios de depressão ou crises prévias de pânico. CLASSIFICAÇÃO A dor é classificada em 4 tipos: definitivamente anginosa, provavelmente anginosa, provavelmente não anginosa e definitivamente não anginosa, isso resume didaticamente o sintoma e auxilia na estratificação do risco. A classificação é em tipo A, B, C e D. • Dor anginosa típica (tipo A): apresenta características de angina do peito típica e evidente, que levam ao diagnóstico de doença arterial coronariana (angina do peito ou infarto do miocárdio), mesmo sem o resultado da realização de qualquer exame complementar; • Dor provavelmente anginosa (tipo B): não possui todas as características de uma angina do peito típica, mas a doença coronariana é a principal suspeita diagnóstica • Dor provavelmente não anginosa (tipo C): é uma dor atípica, mas não é possível excluir totalmente o diagnóstico de doença arterial coronariana sem a realização de exames complementares. • Dor não anginosa (tipo D): é um tipo de dor com características de origem não coronariana. Nestes casos, outros diagnósticos se sobrepõem claramente à hipótese de doença arterial coronariana. INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA NO PACIENTE COM DOR TORÁCICA UNIDADES DE DOR TORÁCICA As unidades de dor torácica foram criadas nos Estados Unidos na década de 1980. Constituem uma estratégia operacional padronizada para o atendimento dos pacientes com dor torácica, dependendo da estrutura e das características assistenciais de cada instituição. Os objetivos das Unidades de Dor Torácica são: 1. Priorizar o atendimento dos pacientes com dor torácica que procuram o Pronto-Socorro e a rápida realização do ECG, 2. Identificação precoce das doenças com risco de morte e o início do tratamento específico por meio de protocolos; 3. Reduzir altas hospitalares inadvertidas e internações desnecessárias; 4. Reduzir os custos hospitalares. ABORDAGEM INICIAL A dor torácica pode ser o sintoma cardinal de um paciente instável. Os pacientes devem ser atendidos na sala de emergência e monitorizados com a chamada abordagem MOV: Iniciar Monitorização cardíaca. Oxigênio se saturação de O2 < 90%. Obter acesso Venoso periférico. O objetivo principal do atendimento ao paciente com dor torácica é o de excluir imediatamente as causas que, potencialmente, implicam em risco iminente de morte. Essa avaliação inicial corresponde às medidas dos sinais vitais, como: frequência cardíaca, pressão arterial, frequência respiratória e oximetria de pulso para a identificação da presença ou não de instabilidade hemodinâmica e/ou de insuficiência respiratória. Para os pacientes fora desse contexto de risco de morte, é necessária a caracterização detalhada da dor, a avaliação dos fatores de risco para doença arterial coronária (DAC) (hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, dislipidemia, tabagismo, obesidade, história familiar precoce para DAC, antecedentes de procedimento de revascularização miocárdica [angioplastia e / ou cirurgia]) e a realização de exame físico dirigido. A seguir, solicitam-se os exames complementares, onde o ECG e a radiografia de tórax são imperiosos, seguidos por outros, de acordo com as hipóteses diagnósticas. Ainda, no momento inicial do atendimento, é muito importante identificar e classificar os pacientes quanto à probabilidade da dor torácica ser origem isquêmica. • Dor Tipo A (definitivamente anginosa): dor em aperto ou queimação, em repouso, ou desencadeada pelo esforço ou estresse, com irradiação para o ombro, mandíbula ou face 4 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 interna do braço, aliviada pelo repouso ou nitrato. Não são necessários exames complementares para a definição diagnóstica. • Dor Tipo B (provavelmente anginosa): as características da dor torácica fazem da insuficiência coronária a principal hipótese, porém, são necessários exames complementares para a definição diagnóstica. • Dor Tipo C (possivelmente anginosa): dor torácica cujas características não fazem da insuficiência coronária a principal hipótese (dor torácica atípica), porém, são necessários exames complementares para excluí-la. • Dor Tipo D (definitivamente não anginosa): dor torácica atípica, cujas características não incluem a insuficiência coronária aguda no diagnóstico diferencial. Com a suspeita diagnóstica inicial elaborada por meio da história clínica e do exame físico, utiliza-se dos examescomplementares para confirmação diagnóstica e/ou estratificação do risco para eventos adversos em curto prazo Com a suspeita diagnóstica inicial elaborada por meio da história clínica e do exame físico, utiliza-se dos exames complementares para confirmação diagnóstica e/ou estratificação do risco para eventos adversos em curto prazo EXAME FÍSICO Além de proporcionar uma avaliação inicial da estabilidade clínica do paciente, o exame físico daqueles com dor torácica pode fornecer evidência direta de etiologias específicas de dor torácica (p. ex., ausência unilateral de sons pulmonares) e identificar fatores precipitantes potenciais de causas cardiopulmonares agudas de dor torácica (p. ex., hipertensão fora de controle), condições comórbidas relevantes (p. ex., doença pulmonar obstrutiva crônica) e complicações da síndrome de apresentação (p. ex., insuficiência cardíaca). No entanto, como os achados ao exame físico podem ser normais em pacientes com cardiopatia isquêmica instável, um exame físico sem nada de notável não é definitivo no sentido de transmitir segurança. G e r a l A aparência geral do paciente é útil para estabelecer uma impressão inicial da gravidade da doença. Pacientes com IM ou outros distúrbios cardiopulmonares agudos em geral parecem ansiosos, desconfortáveis, pálidos, cianóticos ou com diaforese. Os que recebem massagem cardíaca ou torácica podem descrever sua dor ante a compressão manual do esterno (sinal de Levine). Ocasionalmente, a constituição corporal é útil – por exemplo, em pacientes com síndrome de Marfan ou homens jovens altos e magros com pneumotórax espontâneo. S i n a i s V i t a i s Taquicardia significativa e hipotensão são indicativas de consequências hemodinâmicas importantes da causa subjacente da dor torácica e devem levar a uma pesquisa imediata e rápida de condições mais graves, como IM agudo com choque cardiogênico, embolia pulmonar maciça, pericardite com tamponamento ou pneumotórax por tensão. Emergências aórticas agudas em geral presentes com hipertensão grave podem estar associadas à hipotensão profunda na vigência de comprometimento coronariano ou dissecção no pericárdio. Taquicardia sinusal é uma manifestação importante de embolia pulmonar submaciça. Taquipneia e hipoxemia indicam uma causa pulmonar. A presença de febre baixa é inespecífica porque pode ocorrer com IM e com tromboembolismo, além de infecção. P u l m o n a r O exame dos pulmões pode localizar uma causa pulmonar primária de dor torácica, como nos casos de pneumonia, asma ou pneumotórax. Disfunção ventricular esquerda decorrente de isquemia/infarto graves e complicações valvulares agudas de IM ou dissecção aórtica podem ocasionar edema pulmonar, um indicador de alto risco. C a r d í a c o O pulso venoso jugular costuma estar normal em pacientes com isquemia miocárdica aguda, mas também pode revelar padrões característicos com tamponamento pericárdico ou disfunção ventricular direita aguda. A ausculta cardíaca pode revelar uma terceira bulha cardíaca ou, mais comumente, uma quarta, refletindo 5 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 disfunção miocárdica sistólica ou diastólica. Sopros de regurgitação mitral ou um sopro áspero de um defeito ventricular-septal podem indicar complicações mecânicas de IMCEST. Um sopro de insuficiência aórtica pode ser uma complicação de dissecção aórtica proximal. Outros sopros podem revelar distúrbios cardíacos subjacentes que contribuem para isquemia (p. ex., estenose aórtica ou miocardiopatia hipertrófica). Sons de atrito pericárdico refletem inflamação do pericárdio. A b d o m i n a l Sensibilidade localizada ao exame abdominal é útil para identificar uma causa gastrintestinal da síndrome de apresentação. Achados abdominais são infrequentes com problemas cardiopulmonares puramente agudos, exceto no caso de doença cardiopulmonar crônica subjacente ou disfunção ventricular direita grave que acarrete congestão hepática. V a s c u l a r Déficits de pulso podem refletir aterosclerose crônica, que aumenta a probabilidade de coronariopatia. No entanto, evidência de isquemia aguda em membro com perda do pulso e palidez, em particular nos membros superiores, pode indicar consequências trágicas de dissecção aórtica. Edema unilateral de um membro inferior deve levantar suspeita de tromboembolismo venoso. M u s c u l o e s q u e l é t i c o A dor que surge das articulações costocondrais e condroesternais pode estar associada a edema localizado, eritema ou sensibilidade localizada acentuada. A dor à palpação dessas articulações em geral é bem localizada e constitui um sinal clínico útil, embora a palpação profunda possa desencadear dor na ausência de costocondrite. Ainda que a palpação da parede torácica em geral provoque dor em pacientes com várias condições musculoesqueléticas, é preciso lembrar que a sensibilidade na parede torácica não exclui isquemia miocárdica. Déficits sensoriais nos membros superiores podem ser indicativos de doença de disco cervical. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO Para auxiliar os médicos da emergência na escolha da hipótese diagnóstica e na decisão da melhor estratégia terapêutica, foi desenvolvido o escore HEART. O escore HEART facilmente identifica a probabilidade de eventos adversos (morte, infarto, revascularização miocárdica urgente [angioplastia ou cirurgia]), no período de seis meses após a apresentação, auxiliando na triagem de pacientes com dor torácica aguda na emergência. ✓ Escore de 0 a 3 pontos: apresentam chance de 1,6% de experimentarem um evento adverso; ✓ Escore de 4 a 6 pontos: uma chance 13%; ✓ Escore 7 ou mais: 50% de chance de apresentarem um evento adverso. Com o escore HEART é possível imediatamente identificar os pacientes elegíveis para alta hospitalar sem a necessidade de testes adicionais ou procedimentos invasivos EXAMES COMPLEMENTARES E l e t r o c a r d i o g r a m a O ECG deve ser realizado e analisado em até 10 minutos do primeiro contato médico. São necessários ECGs seriados, com o objetivo de aumentar a sensibilidade para a presença de alterações isquêmicas, conforme a necessidade No contexto clínico de Síndrome Coronariana Aguda (SCA), a elevação do segmento ST medida a partir do ponto J, é considerada sugestiva de oclusão arterial coronária aguda nas seguintes apresentações: presença do supradesnível do segmento ST ≥ 2,5mm em homens com idade inferior a 40 anos, ≥ 2mm em homens com 40 anos ou mais, ou ≥ 1,5mm em mulheres nas derivações V2–V3 e / ou ≥ 1mm em outras derivações, na ausência de hipertrofia ventricular esquerda ou bloqueio de ramo esquerdo. A presença do bloqueio de ramo esquerdo “novo” ou “presumivelmente novo” na presença de sintomas típicos também deve ser interpretada como Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) por oclusão arterial aguda, podendo ser levados em consideração os critérios de Sgarbossa que, quando igual ou maior que três pontos apresentam 90% especificidade e 36% de sensibilidade para o diagnóstico de IAM com supradesnível do segmento ST: o Elevação concordante de ST com QRS ≥ 1 mm = 5 pontos o Infradesnível do segmento ST ≥ 1 mm em derivação V1, V2, ou V3 = 3 pontos o Elevação discordante do segmento ST com QRS ≥ 5 mm= 2 pontos. Dentro ainda do contexto de SCA, o ECG pode apresentar alterações isquêmicas, como o infradesnível dinâmico do segmento ST e/ou inversão das ondas T, que implicariam em risco aumentado de complicações cardiovasculares. 6 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 O ECG também pode ser uma importante ferramenta para o diagnóstico diferencial das causas cardíacasde dor torácica, como o achado de supradesnível difuso do segmento ST na pericardite, baixa voltagem e/ou alternância elétrica no derrame pericárdico e a taquicardia sinusal e sinais de sobrecarga ventricular direita do TEP. R a d i o g r a f i a d e T ó r a x É importante salientar que um ECG normal reduz sensivelmente a probabilidade de IAM, porém, não a exclui. Cerca de 6% dos pacientes que procuram a unidade de emergência com um ECG normal, irão apresentar IAM, não descartando, portanto, a possibilidade de etiologia cardiogênica da dor torácica, onde o quadro clínico deve sempre prevalecer. A sensibilidade do ECG inicial para o IAM é de 45% a 60% quando se utiliza o supradesnível do segmento ST como critério diagnóstico. Dessa forma, metade dos pacientes com IAM não é diagnosticada com um único ECG, sendo importante a realização de forma seriada. A radiografia de tórax tem importância para o diagnóstico diferencial da dor torácica (dissecção da aorta, TEP, pneumotórax e pneumomediastino) e na identificação de complicações do IAM. Portanto, tem sua maior utilidade no diagnóstico diferencial de dor torácica não isquêmica e pode sugerir a presença de pneumonia, pneumotórax, derrame pleural, derrame pericárdico, embolia pulmonar e hipertensão pulmonar. M a r c a d o r e s d e N e c r o s e M i o c á r d i c a A necrose do músculo cardíaco promove a liberação de enzimas e proteínas estruturais dos miócitos que podem ser quantificadas por técnicas específicas no sangue dos pacientes com IAM. Os principais marcadores séricos de necrose miocárdica são a mioglobina, a creatinoquinase isoenzima MB (CK- MB), a CK-MB massa e as troponinas I e T. As diretrizes brasileiras e americanas recomendam a utilização das troponinas I e T e, se não disponível, a CK-MB massa para o diagnóstico de IAM ou para o diagnóstico de reinfarto em decorrência da sua normalização mais precoce. Portanto, as troponinas T e I são os marcadores laboratoriais mais sensíveis e específicos de lesão miocárdica. Em média, a troponina T tem sensibilidade de 96,9% e especificidade de 94,5% para o diagnóstico de IAM. Já a CK-MB massa pode ser uma alternativa às troponinas cardíacas, quando da não disponibilidade destas. Os marcadores de necrose miocárdica devem ser solicitados em todos os pacientes com suspeita de SCA e repetidos entre seis e 12 horas. A elevação de tais marcadores não é exclusiva dos casos de IAM, mas também pode estar presente nas situações que cursam com injúria miocárdica de outra natureza, tais como taquiarritmias, miocardite, insuficiência cardíaca, pós-ressuscitação cardiopulmonar, trauma torácico, embolia pulmonar, hipertensão pulmonar. A diretriz recomenda: 1) Marcadores bioquímicos de necrose miocárdica devem ser mensurados em todos os pacientes com suspeita clínica de síndrome coronariana aguda, obtidos na admissão à sala de emergência ou à Unidade de Dor Torácica e repetidos, pelo menos, uma vez nas próximas 6 a 9h. 2) Pacientes com dor torácica e baixa probabilidade de doença podem ter o seu período de investigação dos marcadores séricos reduzido a 3h; 3) CK-MB massa e/ou troponinas são os marcadores bioquímicos de escolha para o diagnóstico definitivo de necrose miocárdica nesses pacientes (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência B e D); 4) Embora a elevação de apenas um dos marcadores de necrose citado seja suficiente para o diagnóstico de IAM, pelo menos dois marcadores devem ser utilizados no processo investigativo: um marcador precoce (com melhor sensibilidade nas primeiras 6h após o início da dor torácica, como é o caso da mioglobina ou da CK-MB) e um marcador definitivo tardio (com alta sensibilidade e especificidade global, a ser medido após 6h – como é o caso da CK-MB ou das troponinas); 5) Idealmente, a CK-MB deve ser determinada pelo método que mede sua massa (e não a atividade) enquanto a troponina deve ser pelo método quantitativo imunoenzimático (e não qualitativo); 6) As amostras de sangue devem ser referenciadas em relação ao momento da chegada do paciente ao hospital e, idealmente, ao momento do início da dor torácica; 7) O resultado de cada dosagem dos marcadores de necrose miocárdica deve estar disponível e ser comunicado ao médico do paciente poucas horas após a colheita do sangue para que sejam tomadas as medidas clínicas cabíveis; 8) Em pacientes com dor torácica e supradesnivelamento do segmento ST na admissão a coleta de marcadores de necrose miocárdica é desnecessária para fins de tomada de decisão terapêutica (p. ex., quando se vai utilizar fibrinolítico ou não). Mioglobina Esta é uma proteína encontrada tanto no músculo cardíaco como no esquelético, que se eleva precocemente após necrose miocárdica, podendo ser detectada no sangue de vários pacientes, já na primeira hora pós-oclusão coronariana. A mioglobina tem uma sensibilidade diagnóstica para o IAM significativamente maior, que a da creatinofosfoquinase-MB (CK-MB) nos pacientes que procuram a sala de emergência com menos de 4h de início dos sintomas. Sua relativamente baixa especificidade (80%), resultante da alta taxa de resultados falso-positivos, encontrados em pacientes com trauma muscular, convulsões, cardioversão elétrica ou insuficiência renal crônica, limitam o seu uso isoladamente. Entretanto, um resultado positivo obtido 3-4h após a chegada ao hospital sugere fortemente o diagnóstico de IAM (valor preditivo positivo > 95%). Da mesma forma, um resultado negativo obtido 3-4h após a chegada torna 7 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 improvável o diagnóstico de infarto (valor preditivo negativo > 90%), principalmente em paciente com baixa probabilidade pré-teste de doença (valor preditivo negativo > 95%). Creatinofosfoquinase-MB (CK-MB) A creatinofosfoquinase é uma enzima que catalisa a formação de moléculas de alta energia e, por isso, encontrada em tecidos que as consomem (músculos cardíaco e esquelético e tecido nervoso). A sensibilidade de uma única CK-MB obtida imediatamente na chegada ao hospital em pacientes com dor torácica para o diagnóstico de IAM é baixa (30-50%). Já a sua utilização dentro das primeiras 3h de admissão aumenta esta sensibilidade para cerca de 80 a 85%, alcançando 100% quando utilizada de forma seriada, a cada 3-4h, desde a admissão até a 9ª hora (ou 12h após o início da oclusão coronariana). Da mesma forma, o valor preditivo negativo da CK-MB obtida até a 3ª hora pós-admissão ainda é sub-ótimo (95%), apesar de subgrupos de pacientes com baixa probabilidade de IAM já terem este valor preditivo >97% neste momento. Pacientes com média e alta probabilidade só alcançam 100% de valor preditivo negativo ao redor da 9 à 12ª hora 17,63. Estes dados apontam para a necessidade de uma avaliação por pelo menos 9h para confirmar ou afastar o diagnóstico de IAM nestes pacientes. A especificidade da CK-MB de 95% decorre de alguns resultados falso-positivos encontrados principalmente quando a metodologia é a da atividade da CK-MB e não da massa. Troponina As troponinas cardíacas são proteínas do complexo miofibrilar encontradas somente no músculo cardíaco. Devido à sua alta sensibilidade, discretas elevações são compatíveis com pequenos (micro) infartos, mesmo em ausência de elevação da CK-MB. Por este motivo tem-se recomendado que as troponinas sejam atualmente consideradas como o marcador padrão- ouro para o diagnóstico de IAM. Entretanto, é preciso frisar que a troponina miocárdica pode ser também liberada em situações clínicas não-isquêmicas, que causam necrose do músculo cardíaco, como miocardites, cardioversão elétrica e trauma cardíaco. Além disso, as troponinas podem se elevar em doenças não-cardíacas, tais como as miosites,a embolia pulmonar e a insuficiência renal. A técnica mais apropriada para a dosagem quantitativa das troponinas cardíacas é o imunoensaio enzimático (método ELISA) mas técnicas qualitativas rápidas usadas à beira do leito também têm sido utilizadas com boa acurácia diagnóstica. A sensibilidade global das troponinas para o diagnóstico de IAM depende do tipo de paciente estudado e da sua probabilidade pré- teste de doença, da duração do episódio doloroso e do ponto de corte de anormalidade do nível sérico estipulado, variando de 85 a 99%. Como as troponinas são os marcadores de necrose miocárdica mais lentos para se elevarem após a oclusão coronariana, sua sensibilidade na admissão é muito baixa (20-40%), aumentando lenta e progressivamente nas próximas 12h. Sua especificidade global varia de 85 a 95%, e o seu valor preditivo positivo de 75 a 95%. Os resultados falso-positivos encontrados nesses estudos decorrem da não classificação de angina instável de alto risco, como IAM, de níveis de corte inapropriadamente baixos e de outras doenças que afetam sua liberação e/ou metabolismo. Devido à baixa sensibilidade das troponinas nas primeiras horas do infarto, o seu valor preditivo negativo na chegada ao hospital também é baixo (50-80%), não permitindo que se afaste o diagnóstico na admissão. Além da sua importância diagnóstica, as troponinas tem sido identificadas como um forte marcador de prognóstico imediato e tardio em pacientes com síndrome coronariana aguda sem supradesnível do segmento ST. Esta estratificação de risco tem importância também para definir estratégias terapêuticas médicas e/ou intervencionistas mais agressivas a serem utilizadas nestes pacientes. A baixa sensibilidade diagnóstica da troponina obtida nas primeiras horas também não permite a avaliação do risco destes pacientes na admissão hospitalar, além do que resultados negativos não excluem a ocorrência de eventos imediatos. T o m o g r a f i a d e t ó r a x e a n g i o t o m o g r a f i a d e c o r o n á r i a s A tomografia de tórax é um exame mais sensível e mais específico que a radiografia de tórax para o diagnóstico de doenças pleurais, do parênquima e da vasculatura pulmonar. Auxilia no diagnóstico diferencial da dissecção aguda da aorta, do TEP e de doenças pulmonares (pneumotórax, pneumonia). A angiotomografia de coronárias é capaz, de forma não invasiva, de avaliar a anatomia coronária por meio de sua análise luminal e parietal, identificando a presença de placas ateroscleróticas e classificando o seu grau de estenose. Esse exame possui alta acurácia na identificação de estenoses coronárias significativas (≥ 50%), apresentando elevados valores preditivos negativos e positivos, sendo hoje bem difundido em nosso meio, e fazendo parte da triagem de pacientes com dor torácica aguda nas unidades de emergência dos hospitais de referência em cardiologia. Portanto, tem sua indicação nas unidades de emergência como um dos métodos diagnósticos em pacientes com suspeita de SCA com risco baixo e tendo a vantagem de rápida aquisição das imagens e de não ser necessário tempo adicional após a estratificação de risco para a sua realização. E c o c a r d i o g r a m a O ecocardiograma é um exame com boa indicação nos pacientes com suspeita de derrame pericárdico, valvopatias, cardiomiopatia hipertrófica, dissecção aguda da aorta, embolia pulmonar e hipertensão pulmonar, tendo pouca utilidade na emergência para os pacientes com SCA, exceto em situações em que as alterações isquêmicas ao ECG são mascaradas como, por exemplo, na presença de bloqueio de ramo esquerdo ou ritmo de marcapasso. Nesses casos, a alteração da mobilidade segmentar miocárdica “nova” pode sugerir IAM atual. Porém, o ecocardiograma pode ser utilizado nas SCAs para avaliar a etiologia isquêmica da dor torácica, para investigar isquemia induzida por estresse em pacientes em que foram excluídos o IAM e a 8 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 isquemia em repouso, para avaliação prognóstica e na suspeita de complicações das SCAs. T e s t e E r g o m é t r i c o O teste ergométrico é recomendado nas unidades de dor torácica como exame complementar seguro em pacientes de riscos baixo, com o objetivo de investigar a isquemia induzida por estresse. Apresenta importante valor diagnóstico e prognóstico. É um exame simples, amplamente disponível, de baixo custo e de alto valor preditivo negativo (> 95%) para eventos cardíacos adversos. Portanto, pode ser realizado nos pacientes com dor torácica possivelmente anginosa ou mesmo nos pacientes com SCA estratificados inicialmente como de baixo risco, cujo resultado normal confere um risco menor que 2% de eventos cardiovasculares em um ano. Para a sua realização devem ser afastadas as situações de risco moderado a alto, doenças agudas da aorta, TEP, miocardite e pericardite. Entre as condições necessárias para a realização do exame incluem: ausência de sintomas e alterações eletrocardiográficas sugestivos de isquemia miocárdica nas últimas 24 horas, presença de pelo menos duas amostras seriadas de marcadores de necrose miocárdica negativas C i n t i l o g r a f i a d e P e r f u s ã o M i o c á r d i c a Para avaliação da dor torácica na sala de emergência, podemos usar a cintilografia de perfusão miocárdica (CPM) em repouso e sob estresse. A CPM em repouso está indicada nos pacientes com suspeita de SCA e ECG não diagnóstico com o objetivo de confirmar ou afastar precocemente esse diagnóstico. Os pacientes com exame normal apresentam baixo risco para eventos cardíacos adversos nos próximos meses, podendo ser liberados imediatamente das unidades de emergência com redução dos custos hospitalares C i n e a n g i o c o r o n a r i o g r a f i a A cineangiocoronariografia é considerada o padrão-ouro na avaliação da anatomia coronária e de lesões estenóticas obstrutivas, sendo fundamental para se decidir sobre o tratamento de revascularização miocárdica dos pacientes com SCA. A cinecoronariografia associada à intervenção coronária percutânea primária está indicada, no contexto do IAM com supradesnível do segmento ST ou bloqueio do ramo esquerdo novo ou presumivelmente novo, nos pacientes com até 12 horas do início da dor torácica, tendo como meta o tempo porta-balão de 90 minutos.No caso das SCAs sem supradesnível do segmento ST, a estratégia invasiva por meio da cinecoronariografia é a de preferência naqueles pacientes estratificados como de intermediário ou alto risco. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS SÍNDROME CORONARIANA AGUDA (SCA) COM ELEVAÇÃO DO SEGMENTO ST 9 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 As SCAs abrangem todo o espectro da isquemia cardíaca instável, desde a angina instável até o IAM. As SCAs são classificadas com base no ECG de apresentação em “com elevação do segmento ST” (STEMI) ou “sem elevação do segmento ST”. Isso permite uma classificação imediata e orienta a decisão sobre indicar ou não o tratamento de reperfusão na fase aguda. A evolução dos biomarcadores cardíacos permite determinar se houve IM. A definição universal de IM exige elevação dos biomarcadores cardíacos para um valor além do percentil 99 acima do limite de referência superior, além da evidência de isquemia miocárdica com pelo menos um dos seguintes: sintomas de isquemia, alterações no ECG indicando nova isquemia, novas ondas Q ou evidência em imagem de perda adicional de miocárdio viável ou nova anormalidade de movimento da parede. As SCAs são quadros dinâmicos nos quais os pacientes frequentemente mudam de uma categoria para outra, uma vez que uma nova elevação do STpode surgir após a apresentação e os biomarcadores cardíacos podem se alterar com episódios isquêmicos recorrentes. S i n a i s e S i n t o m a s Os pacientes com SCA geralmente apresentam sinais e sintomas de isquemia miocárdica em repouso ou com esforço mínimo. Esses sinais e sintomas são semelhantes aos da angina crônica anteriormente descritos, ou seja, desconforto ou dor torácica subesternal que pode se irradiar para a mandíbula, ombro esquerdo ou braço esquerdo. Dispneia, náusea, sudorese ou síncope podem acompanhar o desconforto torácico ou podem ser o único sintoma da SCA. Cerca de 33% dos pacientes com IM não apresentam dor torácica propriamente dita – esses pacientes tendem a ser idosos, do sexo feminino, portadores de diabetes melito e correm maior risco de mortalidade subsequente. Em aproximadamente 10% dos casos, os pacientes com SCA apresentam sinais de insuficiência cardíaca, fato também associado a maior risco de morte. • Dor premonitória – Em geral, ocorre agravamento do padrão da angina antecedendo o início dos sintomas de IM; classicamente, a dor anginosa tem início com esforço mínimo ou em repouso. • Dor do infarto – Diferentemente dos episódios anginosos, a maioria dos infartos ocorre em repouso, sendo mais comum no início da manhã. A dor é similar à angina em localização e irradiação, mas pode ser mais intensa e aumentar com rapidez ou em ondas até chegar à intensidade máxima no prazo de alguns minutos ou mais. A nitroglicerina tem pouco efeito; mesmo os opioides talvez não aliviem a dor. • Sintomas associados – Os pacientes podem ter sudorese fria, sentir-se fracos e apreensivos e se movimentar de um lado para o outro buscando uma posição confortável. Preferem não ficar deitados quietos. Tontura, síncope, dispneia, ortopneia, tosse, sibilos, náusea e vômitos, ou distensão abdominal podem estar presentes isoladamente ou em qualquer combinação. • Infarto indolor – Dos pacientes com IAM, 33% apresentam-se sem dor torácica, sendo que esses pacientes tendem a ser subtratados e a ter pior evolução. Idosos, mulheres e diabéticos têm maior chance de se apresentarem sem dor torácica clássica. Até 25% dos infartos são detectados no ECG de rotina sem que o paciente se recorde de qualquer episódio agudo. • Morte súbita e arritmias precoces – De todas as mortes causadas por IM, cerca de 50% ocorrem antes que o paciente chegue ao hospital, sendo presumivelmente causadas por fibrilação ventricular. • Sinais Gerais – Os pacientes podem se apresentar aparentando ansiedade e, por vezes, suando profusamente. A frequência cardíaca pode variar desde bradicardia acentuada (mais comumente no infarto inferior) até taquicardia, baixo débito cardíaco ou arritmia. A PA pode estar alta, principalmente nos pacientes antes hipertensos, ou baixa, nos pacientes em choque. A angústia respiratória costuma indicar insuficiência cardíaca. Febre, comumente baixa, pode surgir depois de 12 horas e persistir por vários dias. • Tórax – A classificação de Killip é o método padronizado de classificação da insuficiência cardíaca nos pacientes com IAM e que tem grande valor prognóstico. o Classe I: Killip é definida por ausência de estertores e de B3. o Classe II: há estertores que não desaparecem com a tosse em um terço ou menos dos campos pulmonares ou presença de B3. o Classe III: são encontrados estertores que não desaparecem com a tosse em mais de um terço dos campos pulmonares o Classe IV: é definida por choque cardiogênico (estertores, hipotensão e sinais de hipoperfusão). • Coração – O exame do coração pode ser inexpressivo ou estar muito alterado. A turgência jugular reflete hipertensão do AD, e a detecção do sinal de Kussmaul (não se observa redução da pressão venosa jugular com a inspiração) sugere infarto do VD. A hipofonese das bulhas cardíacas pode indicar disfunção do VE. Os galopes atriais (B4 ) constituem a regra, enquanto os galopes ventriculares (B3 ) são menos comuns e indicam disfunção significativa do VE. Os sopros de regurgitação mitral não são incomuns e podem indicar disfunção ou raramente ruptura do músculo papilar. O atrito pericárdico é incomum nas primeiras 24 horas, mas pode surgir mais tarde na evolução. • Membros – Em geral, não se observa edema. Cianose e temperatura fria indicam baixo débito. Os pulsos periféricos devem ser pesquisados e registrados, uma vez que eventual choque ou embolia durante a evolução podem alterar suas características A c h a d o s l a b o r a t o r i a i s Os marcadores cardíacos específicos para lesão do miocárdio incluem dosagem quantitativa da CK-MB, troponina I e troponina T. As troponinas são mais sensíveis e específicas que a CK-MB. Qualquer 10 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 um desses exames pode se tornar positivo até 4-6 horas após o início do IM e devem estar alterados em torno de 8-12 horas. Os níveis circulantes das troponinas podem permanecer elevados por 5-7 dias ou mais e, como consequência, esse exame não costuma ser útil para investigar um paciente sob suspeita de reinfarto precoce. Em geral, a CK-MB normaliza em 24 horas e, portanto, é um exame mais adequado para a investigação de possível reinfarto. Ensaios de troponina de alta sensibilidade estão ficando mais disponíveis e apresentam limite de detecção de 10 a 100 vezes mais baixo, com alta precisão analítica, permitindo a detecção precoce do infarto do miocárdio. Como muitas condições clínicas, incluindo insuficiência cardíaca crônica, estão associadas a níveis elevados de troponina de alta sensibilidade, esses ensaios podem ser úteis para excluir infarto do miocárdio em pacientes com dor torácica. E C G A extensão das anormalidades ao ECG, principalmente o somatório do desvio total do segmento ST, é um bom indicador da extensão do infarto agudo e do risco de eventos adversos subsequentes. A evolução clássica das alterações vai desde ondas T em pico (“hiperagudas”), passando por elevação do segmento ST, desenvolvimento de onda Q, até a inversão da onda T. Isso pode ocorrer no espaço de algumas horas a vários dias. A evolução com novas ondas Q (superiores a 30 milissegundos de duração e 25% da amplitude da onda R) é diagnóstica, porém essas ondas Q não são observadas em 30-50% dos infartos agudos (infartos sem onda Q). O bloqueio de ramo esquerdo, principalmente quando recente (ou desconhecido), em paciente com sintomas de IAM, é considerado como “equivalente do STEMI”; nesses casos, indica-se terapia de reperfusão. A elevação concordante de ST (i.e., elevação de ST nas derivações com complexo QRS positivo) com bloqueio de ramo esquerdo é um conjunto específico de sinais indicativo de STEMI. SÍNDROMES AÓRTICAS AGUDAS (DISSECÇÃO DA AORTA) Ocorre dissecção aórtica quando há laceração espontânea da camada íntima e o sangue penetra e disseca a camada média da aorta. Provavelmente, a laceração resulta do torque repetitivo aplicado à aorta ascendente e descendente proximal durante o ciclo cardíaco; a hipertensão é um componente importante deste processo patológico. • Dissecção do tipo A envolve desde o segmento proximal do arco até a artéria subclávia esquerda • Dissecção do tipo B ocorre na aorta torácica descendente proximal, comumente logo após a artéria subclávia esquerda. As dissecções podem acontecer na ausência de hipertensão arterial, porém, nesses casos, são comuns anormalidades do músculo liso, do tecido elástico ou do colágeno. Gravidez, valva da aorta e coartação também estão associadas a risco aumentado de dissecção. O sangue que penetra na laceração da íntima pode estender a dissecção para dentro da aorta abdominal, dos membros inferiores, das artérias carótidas ou, menos frequentemente,das artérias subclávias. Tanto os níveis absolutos da pressão arterial quanto a pressão de pulso são importantes na propagação da dissecção. A dissecção aórtica é de fato uma emergência e requer controle imediato da pressão arterial para limitar a extensão da dissecção. Com a dissecção do tipo A, de pior prognóstico, a morte pode acontecer dentro de horas, comumente em razão de ruptura da dissecção para dentro do saco pericárdico ou artérias coronárias, resultando em infarto do miocárdio. Também é possível haver ruptura para dentro da cavidade pleural. O flap da camada íntima/medial da parede aórtica criado pela dissecção pode obstruir os principais ramos aórticos, resultando em isquemia cerebral, intestinos, rim ou membros inferiores. Nos pacientes em que a pressão arterial é controlada e que sobrevivem ao episódio agudo sem complicações, pode haver sobrevida por longo prazo sem tratamento cirúrgico. S i n a i s e S i n t o m a s O quadro característico é dor torácica persistente e intensa, com início súbito, que se irradia para as costas ou, possivelmente, para o tórax anterior. Também é possível haver irradiação da dor para o pescoço. Em geral, a pressão arterial está elevada. Síncope, hemiplegia ou paralisia de membros inferiores podem acontecer. É possível que haja evolução com isquemia intestinal ou insuficiência renal. Os pulsos periféricos podem estar reduzidos ou desiguais. A presença de sopro diastólico indica dissecção da aorta ascendente próximo à válvula aórtica, causando regurgitação, insuficiência cardíaca e tamponamento cardíaco. O sintoma principal da dissecção de aorta é a dor torácica. Normalmente a dor irradia para a região posterior e o abdome, tem início súbito, grande intensidade, sendo máxima desde o seu início e de caráter lancinante ou em pontada e frequentemente descrita com “sensação de rasgão” com irradiação para região dorsal. Além disso, o paciente apresenta PA elevada. Um achado comum ao exame físico é a assimetria de pulsos e PA entre os membros (diferença maior que 20 mmHg na PAS), sendo de extrema importância a palpação dos pulsos e aferição da PA nos quatro membros em pacientes com dor torácica no departamento de emergência. Os sintomas secundários da dissecção aórtica resultam de oclusões dos ramos arteriais e incluem acidente vascular cerebral, infarto agudo do miocárdio ou isquemia do membro. Os fatores de risco incluem sexo masculino, idade superior a 50 anos, hipertensão mal controlada, uso de cocaína ou anfetamina, valva aórtica bicúspide ou troca valvar aórtica prévia, doenças do tecido conjuntivo (síndrome de Marfan e síndrome de EhlersDanlos) e gestação. Os achados do exame físico têm baixa sensibilidade e especificidade para seu diagnóstico. Um déficit de pulso unilateral das artérias carótidas, radiais ou femorais é sugestivo de dissecção aórtica (razão de probabilidade 5,7). Os déficits neurológicos focais são raros, ocorrendo em apenas 17% dos pacientes com dissecção aórtica, mas a combinação de dor torácica e déficit neurológico focal aumentam muito a probabilidade de dissecção aórtica. Enquanto uma 11 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 radiografia de tórax completamente normal diminui a probabilidade de a dissecção aórtica estar presente, ela não exclui a dissecção. O dímero-D pode ser usado no contexto do escore de risco ADD-RS. • Com valor baixo desse escore de risco, ou seja, 0 a 1, pode-se solicitar um dímero-D e com o resultado negativo há bastante segurança em descartar o diagnóstico. • Se o escore de risco for 2 a 3, não é possível utilizar o dímero- D e deve-se ir diretamente para exames de imagem. A c h a d o s e l e t r o c a r d i o g r á f i c o s É frequente que haja hipertrofia ventricular esquerda causada por hipertensão arterial de longa duração. Não se observam alterações agudas sugestivas de isquemia miocárdica, a menos que a dissecção envolva o óstio da artéria coronária. Classicamente, predominam anormalidades da parede inferior, pois a dissecção leva a comprometimento da artéria coronária direita mais do que da esquerda. Em alguns pacientes, o eletrocardiograma pode estar absolutamente normal. As alterações no ECG são comuns entre os pacientes com dissecção aórtica, com até 40 a 50% apresentando-se com alterações do segmento ST ou da onda T. A troponina habitualmente não está elevada, exceto quando a dissecção compromete a saída das coronárias e sua elevação está associada ao aumento da mortalidade. Se houver suspeita de dissecção aórtica, outros exames, como ecocardiograma transesofágico e angiotomografia, podem ser indicados PERICARDITE AGUDA A inflamação aguda (menos de duas semanas) do pericárdio pode ser de origem infecciosa ou decorrer de doenças sistêmicas (síndromes autoimunes, uremia), neoplasia, radiação, intoxicação medicamentosa, hemopericárdio, cirurgia cardíaca ou processos inflamatórios contíguos no miocárdio ou no pulmão. Em muitas destas condições, o processo patológico envolve o pericárdio e o miocárdio. • As infecções virais (principalmente por coxsackievírus e ecovírus, mas também por vírus influenza, Epstein-Barr, varicela, hepatite, caxumba e HIV) são a causa mais comum de pericardite aguda e, provavelmente, são responsáveis pela maioria dos casos classificados como idiopáticos. Os homens – em geral abaixo dos 50 anos de idade – são mais afetados. O diagnóstico diferencial deve ser feito principalmente com IM. • A pericardite tuberculosa tornou-se rara nos países desenvolvidos, mas permanece comum em outras regiões. Resulta de disseminação direta linfática ou hematogênica; o envolvimento pulmonar clinicamente evidente pode estar ausente ou ser discreto, embora sejam comuns os derrames pleurais associados. • A pericardite bacteriana tornou-se rara e, em geral, resulta de extensão direta a partir de infecções pulmonares. Os pneumococos podem provocar infecção pericárdica primária. A Borrelia burgdorferi, o organismo responsável pela doença de Lyme, também pode causar miopericardite. • A pericardite urêmica é uma complicação comum de doença renal crônica. A patogenia não foi esclarecida; ocorre tanto com uremia não tratada como em pacientes em diálise de outra forma estáveis. A disseminação do câncer de pulmão adjacente, bem como a invasão por câncer de mama, carcinoma de células renais, doença de Hodgkin e linfomas são os processos neoplásicos mais comuns que afetam o pericárdio e em muitos países se tornaram as causas mais frequentes de tamponamento pericárdico. • A pericardite pode ocorrer 2 a 5 dias após infarto em razão de reação inflamatória à necrose miocárdica transmural (pericardite pós-infarto do miocárdio ou pós-cardiotomia [síndrome de Dressler]). • A radiação pode iniciar um processo fibrinoso e fibrótico no pericárdio, apresentando-se como pericardite subaguda ou constritiva. A pericardite por radiação costuma suceder tratamentos com mais de 4.000 cGy liberados para portas que incluam mais de 30% do coração. • As outras causas de pericardite são doenças do tecido conectivo, como lúpus eritematoso e a artrite reumatoide, pericardite induzida por medicamento (minoxidil, penicilinas, clozapina) e mixedema. S i n a i s e S i n t o m a s A apresentação e o curso da pericardite inflamatória dependem de sua etiologia, mas a maioria das síndromes apresenta dor torácica associada, em geral, pleurítica e postural (aliviada ao sentar). A dor é subesternal, porém pode irradiar-se para pescoço, ombros, costas ou epigástrio. A dispneia também pode estar presente e, com frequência, o paciente se mostra febril. O atrito pericárdico é característico, com ou sem evidência de acúmulo de líquido ou constrição. A apresentaçãoda pericardite tuberculosa tende a ser subaguda, mas os sintomas inespecíficos (febre, sudorese noturna, fadiga) podem estar presentes por dias a meses. Há envolvimento pericárdico em 1-8% dos pacientes com tuberculose pulmonar • Os sintomas e os sinais de pericardite bacteriana são similares àqueles de outros tipos de pericardites inflamatórias, mas os pacientes se apresentam toxêmicos e, com frequência, em estado crítico. • A pericardite urêmica pode apresentar-se com ou sem sintomas; não há febre. • Com frequência, a pericardite neoplásica é indolor e os sintomas apresentados se relacionam com o comprometimento hemodinâmico ou com a doença primária. • A pericardite pós-infarto do miocárdio ou pós-cardiotomia (síndrome de Dressler) comumente se apresenta como 12 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 recidiva da dor com manifestações pleuro-pericárdicas. Um atrito é frequentemente audível e as alterações na repolarização ao ECG podem ser confundidas com isquemia. Derrames volumosos são incomuns e a resolução espontânea em geral acontece em alguns dias. A síndrome de Dressler acontece dias a semanas até vários meses após IM ou cirurgia cardíaca aberta, pode ser reincidente e provavelmente é de natureza autoimune. Os pacientes se apresentam com dor típica, febre, mal-estar e leucocitose. Raramente, ocorrem outros sintomas relacionados ao distúrbio autoimune, como artralgia e febre. O tamponamento é raro com a síndrome de Dressler após IM, mas não quando ocorre no período pós- operatório. • A instalação clínica da pericardite por radiação geralmente ocorre no primeiro ano, mas pode ser retardada em muitos anos; com frequência, uma década inteira pode transcorrer antes que a constrição se torne evidente O sintoma mais comum da pericardite aguda é dor torácica, que ocorre em mais de 90% dos casos, sendo em geral aguda, intensa e constante, com localização subesternal. A dor pode irradiar para o dorso, pescoço ou ombros; piora deitado e por inspiração; e alivia sentando-se e inclinando-se para a frente. A irradiação da dor para o membro superior esquerdo não é incomum, mas o local mais característico é irradiação para região do trapézio, o que é um sintoma altamente específico para a pericardite. Algumas características merecem destaque: • Dor aliviada com a inclinação do corpo para a frente e agravada pela posição de decúbito. • Os pacientes podem apresentar associadamente dispneia, febre ou taquicardia desproporcional à temperatura corporal; também são descritos soluços nesses pacientes. • O exame físico em pacientes com complicações pode ser normal, mas o atrito pericárdico está presente frequentemente na borda esternal inferior esquerda e é mais bem auscultado com a inclinação do paciente para a frente. O atrito é dinâmico e pode desaparecer e reaparecer. • As bulhas cardíacas podem ser abafadas. • Em até 15% dos casos os pacientes podem apresentar complicações; nesses casos, podemos ter: o Pulso arterial paradoxal (diminuição > 10 mmHg na pressão arterial sistólica durante a inspiração). o Sinal de Kussmaul (distensão da veia do pescoço na inspiração). o Distensão venosa jugular. Os achados clássicos do ECG são elevação difusa do segmento ST com infradesnivelamento do intervalo PR. E C G Em geral, o ECG revela alterações generalizadas das ondas T e segmento ST, sendo que há uma evolução característica que se inicia com elevação difusa do segmento ST, seguida por retorno à linha de base e, após, inversão da onda T. Frequentemente, observa-se lesão atrial que se manifesta por depressão PR, em especial nas derivações dos membros. PATOLOGIAS ESOFÁGICAS E GASTRODUODENAIS Os pacientes com ruptura esofágica apresentam uma história de dor torácica subesternal de início súbito e acentuada após um forte vômito. Os pacientes com ruptura esofágica geralmente têm taquicardia, febre, dispneia ou diaforese. O exame físico pode revelar crepitação no pescoço ou no tórax por enfisema subcutâneo. A radiografia de tórax pode demonstrar um derrame pleural (mais comum à esquerda do que direita), pneumotórax, pneumomediastino, pneumoperitônio ou ar subcutâneo, embora a radiografia normal não possa excluir a ruptura esofágica. O espasmo esofágico é frequentemente associado à doença do refluxo e é caracterizado por um início súbito de dor torácica subesternal apertada. A dor é frequentemente precipitada pelo consumo de líquidos quentes ou frios ou um grande bolo alimentar e pode ser aliviada por nitratos. Os pacientes com quadros dispépticos, seja de etiologia esofágica ou gastroduodenal, apresentam dor epigástrica ou retroesternal, em geral em queimação, podendo ser associada com náuseas, vômitos, regurgitação alimentar com alívio com uso de antiácidos ou bloqueadores de bomba de prótons ou de receptores histamínicos H2 e podem piorar com o decúbito. A úlcera péptica é classicamente descrita como uma dor pós-prandial na região epigástrica. Os pacientes geralmente descrevem o despertar do sono pelo desconforto. A dor da úlcera duodenal pode ser aliviada após a ingestão de alimentos, enquanto a dor da úlcera gástrica é frequentemente exacerbada pela ingestão de alimentos. Infelizmente, distúrbios gastrointestinais muitas vezes não podem ser diferenciados de forma confiável da síndrome coronariana aguda apenas por história e exame físico. A pancreatite aguda e a doença biliar geralmente se apresentam com o quadrante superior direito ou dor e sensibilidade epigástrica imitando quadro de angina de parede inferior. Podem ser investigadas com exames laboratoriais e de imagem. PATOLOGIAS SUPERFICIAIS A dor musculoesquelética da parede torácica é caracterizada por dor aguda, altamente localizada e relacionada com a posição. A dor usualmente é completamente reprodutível por palpação leve a moderada ou por movimentos específicos e pode ser aumentada por inspiração ou tosse. No entanto, a sensibilidade da parede torácica também é relatada por alguns pacientes com síndrome coronariana aguda e embolia pulmonar. A costocondrite (síndrome de Tietze) é uma inflamação das cartilagens costais ou suas articulações esternais e causa dor torácica que costuma ser aguda e frequentemente aumenta com as inspirações. O herpes-zóster que acomete dermátomos precordiais pode simular a dor torácica. O exame da pele é importante para fazer esse diagnóstico diferencial, mas em alguns casos pode não ajudar. A dor pré-erupção pode preceder as lesões cutâneas em vários dias, dificultando o diagnóstico. Raramente não há aparecimento algum de lesões de pele no quadro conhecido como zoster sine herpete. Nesses casos, pode ajudar na 13 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 elucidação a presença de disestesia, prurido e delimitação dos sintomas em dermátomo DOR PSICOGÊNICA As causas psicogênicas de dor torácica incluem o transtorno de pânico, que é caracterizado por períodos recorrentes e inesperados de sensação de medo ou desconforto intenso com pelo menos quatro dos seguintes sintomas: dor torácica, dispneia, palpitações, diaforese, náusea, tremores, asfixia, tontura, medo de perder o controle ou morte, parestesia, calafrios ou ondas de calor. Em um estudo, 25% dos pacientes no DE com dor torácica preencheram os critérios diagnósticos para transtorno de pânico. Por outro lado, 9% dos pacientes identificados como tendo transtorno de pânico foram diagnosticados com síndrome coronariana aguda na alta hospitalar. Isso significa que o transtorno de pânico é, na melhor das hipóteses, um diagnóstico de exclusão ou um diagnóstico que pode frequentemente ser associado com síndromecoronariana aguda. Deve-se ter cuidado em realizar o diagnóstico de transtorno de pânico em um paciente com dor torácica no DE até uma melhor estratificação de risco, em geral com exames complementares. PNEUMONIA A PAC é uma condição diagnosticada fora do ambiente hospitalar em pacientes ambulatoriais que não sejam residentes em asilos ou outras instituições de cuidados médicos de longo prazo. Também pode ser diagnosticada em pacientes previamente ambulatoriais nas primeiras 48 horas após sua admissão em hospital. Os mecanismos pulmonares de defesa (reflexo da tosse, sistema de depuração mucociliar, resposta imune) normalmente previnem o desenvolvimento das infecções do trato respiratório inferior que se seguiriam à aspiração de secreções da orofaringe contendo bactérias, ou à inalação de aerossóis contaminados. A PAC ocorre quando há uma falha em um ou mais dos mecanismos de defesa do hospedeiro, ou quando há inoculação excessiva de um agente patogênico muito virulento que consegue sobrepujar a reação imunológica. O agente patogênico identificado com maior frequência na maioria dos estudos feitos com PAC é S. pneumoniae, que responde por cerca de 66% das bactérias isoladas. Outras bactérias comumente isoladas são H. influenzae, M. pneumoniae, C. pneumoniae, S. aureus, Neisseria meningitidis, M. catarrhalis, K. pneumoniae, outros bastonetes gram-negativos e espécies de Legionella. As causas virais mais comuns de PAC incluem vírus influenza, vírus respiratório sincicial, adenovírus e vírus parainfluenza. Uma investigação detalhada acerca dos fatores epidemiológicos de risco talvez auxilie no diagnóstico de pneumonias causadas pelos seguintes agentes incomuns: Chlamydophila psittaci (psitacose), Coxiella burnetti (febre Q), Francisella tularensis (tularemia), fungos endêmicos (blastomyces, coccidioides, histoplasma) e vírus sin nombre (síndrome pulmonar pelo hantavírus). S i n a i s e S i n t o m a s A maioria dos pacientes com PAC se apresenta com febre de início agudo ou subagudo, tosse com ou sem produção de escarro e dispneia. Outros sintomas comuns incluem sudorese, calafrios, tremores, desconforto torácico, pleurisia, hemoptise, fadiga, mialgias, anorexia, cefaleia e dor abdominal. Os achados mais comuns ao exame físico são febre ou hipotermia, taquipneia, taquicardia e dessaturação do oxigênio arterial. Muitos pacientes se apresentarão agudamente enfermos. O exame do tórax frequentemente demonstrará a presença de estertores inspiratórios e ruídos respiratórios brônquicos. A macicez à percussão pode ser detectada se houver consolidação lobar ou derrame pleural parapneumônico. A investigação clínica tem sensibilidade inferior a 50% em comparação com exames de imagem do tórax para diagnóstico de PAC. Portanto, na maioria dos casos com suspeita de PAC é essencial a realização de radiografia do tórax para a investigação A pneumonia pode causar dor torácica geralmente descrita como aguda, pleurítica e associada com febre, tosse, produção de expectoração e, possivelmente, hipoxemia. A ausculta pode revelar sons respiratórios diminuídos, estertores crepitantes ou sons respiratórios brônquicos nas áreas de consolidação afetadas. Uma radiografia de tórax geralmente confirma o diagnóstico. PNEUMOTÓRAX ESPONTÂNEO O pneumotórax, ou acúmulo de ar no espaço pleural, é classificado como espontâneo (primário ou secundário) ou traumático. • Pneumotórax espontâneo primário ocorre sem que haja doença pulmonar subjacente • Pneumotórax espontâneo secundário representa uma complicação de doença pulmonar preexistente. • Pneumotórax traumático é causado por traumatismo penetrante ou fechado. • Pneumotórax iatrogênico pode se seguir a procedimentos como toracocentese, biópsia pleural, punção das veias subclávia ou jugular interna, biópsia pulmonar percutânea, broncoscopia com biópsia transbrônquica e ventilação mecânica com pressão positiva. • Pneumotórax hipertensivo geralmente ocorre em situações de traumatismo penetrante, infecção pulmonar, ressuscitação cardiopulmonar (RCP) ou ventilação mecânica com pressão positiva. No pneumotórax hipertensivo, a pressão do ar no espaço pleural excede a do ambiente ao longo do ciclo respiratório. 14 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 O mecanismo de retenção (válvula de retenção) permite que o ar entre no espaço pleural e impede a saída de ar com a expiração. O pneumotórax primário afeta principalmente homens altos e magros na faixa etária entre 10 e 30 anos. Acredita-se que ocorra devido à ruptura de bolhas apicais subpleurais em resposta a pressões intrapleurais fortemente negativas. Antecedentes familiares e tabagismo talvez sejam fatores importantes. O pneumotórax é dito secundário quando ocorre como uma complicação de DPOC, asma, fibrose cística, tuberculose, pneumonia por Pneumocystis, menstruação (pneumotórax catamenial) e uma ampla variedade de doenças intersticiais pulmonares, incluindo sarcoidose, linfangioleiomiomatose, histiocitose de células de Langerhans e esclerose tuberosa. Uso de pentamidina em aerossol e antecedentes de pneumonia por Pneumocystis são considerados fatores de risco para o desenvolvimento de pneumotórax. Cinquenta por cento dos pacientes com pneumotórax em casos de pneumonia recorrente (mas não na primária) por Pneumocystis desenvolverão pneumotórax contralateral. A taxa de mortalidade para o pneumotórax da pneumonia por Pneumocystis é alta. S i n a i s e S i n t o m a s Dor torácica do lado afetado variando de mínima a intensa e dispneia ocorrem em quase todos os pacientes. Os sintomas normalmente se iniciam durante o repouso e costumam se resolver em 24 horas, mesmo se o pneumotórax persistir. Alternativamente, o pneumotórax pode se apresentar com insuficiência respiratória potencialmente letal caso o paciente seja portador de DPOC ou asma. Se o pneumotórax for pequeno (< 15% do hemitórax), os achados ao exame físico, exceto taquicardia leve, são normais. Se o pneumotórax for volumoso, com frequência observa-se redução do frêmito toracovocal e dos movimentos do tórax. Deve-se suspeitar de pneumotórax hipertensivo quando houver taquicardia importante, hipotensão e deslocamento do mediastino ou da traqueia. Os principais sintomas do pneumotórax espontâneo são dor torácica pleurítica de início súbito, aguda e com dispneia. Os fatores de risco para pneumotórax espontâneo incluem tabagismo e doenças pulmonares crônicas, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica. Aproximadamente 1 a 3% dos pacientes com pneumotórax espontâneo evoluem para pneumotórax hipertensivo. A ausculta pode revelar sons respiratórios diminuídos e hiper-ressonância à percussão no lado ipsilateral. A taquicardia sinusal é o achado mais comum no exame físico e enfisema subcutâneo pode estar presente. Outros achados clássicos ao exame físico, como murmúrio vesicular diminuído, hipertimpanismo à percussão e ausência de frêmito toracovocal são dependentes da extensão do pneumotórax e não costumam estar presentes em pneumotórax pequeno. No pneumotórax traumático, o valor preditivo positivo da ausência de murmúrio vesicular ipsilateral é de 86 a 97% para o diagnóstico. Deve-se lembrar que os achados do exame físico de um pneumotórax simples são inconstantes e não podem ser usados para excluir a presença, com o diagnóstico feito por radiografia de tórax. TROMBOESBOLISMO PULMONAR O tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma síndrome clínica e fisiopatológica que resulta da oclusão da circulação arterial pulmonar por um ou mais êmbolos. Embolia pulmonar (EP) refere-se a uma obstrução de uma artéria pulmonar, por um material que se deslocou de uma parte do corpo até os pulmões, levado pela corrente sanguínea.Os trombos de veias profundas das pernas ou braços representam o tipo mais comum de material que emboliza os pulmões – um processo conhecido como tromboembolismo venoso (TEV). Além dos êmbolos pulmonares trombóticos, o material não trombótico também pode embolizar os pulmões. Esse material inclui gordura, líquido amniótico, células de tumores, talco em usuários de drogas intravenosas e vários dispositivos médicos. Independentemente do tipo de material embólico, o bloqueio do fluxo sanguíneo pelos pulmões e o aumento resultante na pressão do ventrículo direito são responsáveis pelos sintomas e sinais de EP. A insuficiência respiratória acontece essencialmente em consequência do quadro circulatório. O baixo débito do VD e a presença de áreas mal perfundidas e normalmente ventiladas (efeito espaço morto) são os principais mecanismos que levam a hipoxemia. Hemorragia e edema alveolar, shunt intracardíaco, redução na produção do surfactante pulmonar, atelectasia e broncoconstrição podem estar associados e também comprometem a oxigenação. O infarto pulmonar é menos frequente, dada a irrigação dupla (artéria pulmonar e artérias brônquicas) do tecido pulmonar. Acontece geralmente quando há pequenos êmbolos distais ou baixo fluxo nas artérias brônquicas (ex. aterosclerose grave). Os eventos tromboembólicos estão relacionados, em mais de 90% dos casos, com êmbolos originados em sítios de trombose venosa profunda (TVP), principalmente dos vasos da coxa e pelve. Raramente, os êmbolos podem ser procedentes das veias renais, membros superiores ou do ventrículo direito (VD). Virchow descreveu três condições capazes de iniciar o processo de trombogênese: lesão do endotélio venoso, alterações dos mecanismos plasmáticos da coagulação e estase sanguínea. A estase venosa é o principal fator na gênese da TVP. A imobilização prolongada devido a condições de incapacidade temporária, como por exemplo o período pós-operatório, portadores de fraturas principalmente aquelas que acometem os ossos dos membros inferiores e pelve ou, então, associada a doenças crônicas e debilitantes é a causa mais frequente de TEP. A imobilização impede a atividade muscular, prejudicando o retorno venoso. A rede venosa dos músculos sóleo e gastrocnêmio constitui o local de maior lentidão de fluxo, originando, assim, grande parte dos trombos. Q u a d r o C l í n i c o O quadro clínico é variável e dependerá paciente, tamanho do êmbolo, número de episódios embólicos e da resposta neuro- humoral. Os pacientes com EP frequentemente apresentam histórico de dispneia, que pode ter início repentino e tende a progredir em gravidade com o passar do tempo. A dispneia pode ser associada a 15 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 uma dor torácica pleurítica, tosse e hemoptise, particularmente nos pacientes com infarto pulmonar. Embora os sintomas e sinais de EP possam ser inespecíficos, o diagnóstico é suspeito em pacientes com fatores de risco de TEV, como imobilidade prolongada, cirurgia recente ou malignidade ativa. Os pacientes com TEV associado podem apresentar início recente de dor na perna ou edema e dor à palpação ao longo do curso das veias profundas. As veias superficiais da perna podem estar dilatadas e a perna afetada pode estar quente ao toque, com a pele vermelha ou azul parda. A maioria dos pacientes com EP têm taquipneia e taquicardia associadas à hipoxemia, mas esses achados também podem ocorrer em distúrbios como insuficiência cardíaca, pneumonia ou doença pulmonar obstrutiva crônica. Outros sintomas inespecíficos incluem palpitação, ansiedade e tontura. Os pacientes com EP grave aguda muitas vezes se queixam de dispneia em repouso ou com esforço mínimo e podem apresentar síncope por causa da hipoxemia e do débito cardíaco baixo. A combinação entre hipotensão, hipoxemia e carga de trabalho cardíaco elevada pode desencadear a angina ou o infarto de miocárdio evidente. A cianose central e periférica pode ocorrer e o ritmo de galope pode se desenvolver como consequência da insuficiência cardíaca. As veias jugulares podem ficar distendidas se a insuficiência cardíaca direita se desenvolver. O segundo som cardíaco pode se dividir amplamente, com um alto componente pulmonar devido ao esvaziamento atrasado do ventrículo direito. A dilatação do ventrículo direito pode estar presente na EP massiva e na hipertensão pulmonar aguda. Hemoptise, dor e atrito pleural, febre, flebite e taquicardia ocorrem com frequência. A tríade dor torácica, hemoptise e doença venosa periférica é encontrada em apenas 13% dos casos. Nos pacientes com TEP agudo e maciço (área arterial pulmonar acometida em mais de 50%), pode ocorrer síncope e colapso cardiovascular, devido a súbita redução do débito cardíaco e do fluxo sanguíneo cerebral. Cerca de 30% desses pacientes evoluem com instabilidade hemodinâmica. A presença de dor retroesternal está presente em 30% dos casos, provavelmente relacionada a hipoperfusão coronariana, podendo, também, ser originada do pericárdio parietal, da distensão súbita da artéria pulmonar ou, ainda, de isquemia da parede do VD. Os sinais clínicos do TEP agudo e maciço devem-se principalmente a falência aguda do VD, baixo débito cardíaco e distúrbio da relação ventilação/perfusão. Cianose, taquicardia, pressão venosa central elevada e ritmo de galope audível no bordo esternal esquerdo são encontrados em 75% dos casos. A hipoxemia é achado frequente, mas inespecífico, em portadores de TEP sem doença cardiopulmonar prévia. As principais causas de hipoxemia são a presença de espaço morto alveolar, vaso e broncoconstrição reflexa e deficiência de produção de surfactante, com consequente colapso alveolar. A presença de áreas hipoperfundidas, mas com ventilação normal, causa desequilíbrio na relação ventilação/perfusão (efeito espaço morto), além disso, pode haver desvio de fluxo sanguíneo para áreas não embolizadas, promovendo predomínio da perfusão sobre a ventilação (efeito shunt). A constrição de ductos alveolares pode reduzir o volume pulmonar com elevação da cúpula diafragmática e atelectasias. EFEITO ESPAÇO MORTO → À esquerda observamos o funcionamento esquemático do lóbulo pulmonar. O sangue (setas) chega até o alvéolo (semicírculos), onde é oxigenado. Em situações em que há TEP ocorre o chamado efeito espaço morto (direita), com alvéolos ventilados e não perfundidos devido à presença de trombos na luz do vaso (elipses). Este efeito prejudica a oxigenação sanguínea e pode levar à hipoxemia grave. F i s i o p a t o l o g i a A EP e a TVP são parte do espectro do TEV e compartilham os mesmos fatores genéticos e de risco adquiridos, que determinam o risco intrínseco de TEV para cada indivíduo. Os fatores de risco genético incluem anormalidades associadas à hipercoagulabilidade do sangue, a mais comum sendo o fator V Leiden e a mutação do gene 20210 da protrombina. Os fatores adquiridos incluem idade avançada, histórico de TEV prévio, obesidade e câncer ativo, todos os quais limitando a mobilidade e podendo ser associados à hipercoagulabilidade. Sobreposto a este risco secundário, o TEV frequentemente ocorre na presença de um fator desencadeante, que aumenta o risco acima do limiar crítico. Os fatores desencadeantes, que incluem cirurgia e gravidez ou terapia com estrogênio, levam a danos vasculares, estase e hipercoagulabilidade, que são os componentes da tríade de Virchow. 1. Alterações das paredes vasculares 2. Alterações do fluxo sanguíneo 3. Anormalidades da coagulação 16 Kalina Carvalho Vieira | Medicina/Pitágoras II | 2022.1 Como alterações nas paredes venosas, podemos
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