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A Eneida: Clássico Romano

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explicitação do quadro teórico
luciano vieira francisco
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Universidade federal de viçosa
LET 147 – INTRODUÇÃO À CULTURA CLÁSSICA
o labor litterarius: do pio enéias ao pio virgílio
edson ferreira martins
INTRODUÇÃO
Segundo Edson Ferreira Martins
“ [...] dentre as várias definições reelaboradas do que seja um clássico, Ítalo Calvino (1993, p.15) nos apresenta esta: ‘É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível’. (p.13)
 [...] O que faz da Eneida um clássico? [...] Buscarei responder à indagação proposta influenciado por outra ideia de Calvino: a de que o clássico é definido, também, pela nossa relação subjetiva com o texto, daí podermos nos referir a estas obras de forma dêitica, elegendo os nossos clássicos. (p.14)
Segundo Ettore Paratone (1983, p.344), a época da poesia augustana, na qual está contida toda a produção literária de Virgílio, ‘representa um dos raros momentos, na literatura mundial, em que o esplendor das letras e a imponência dos acontecimentos políticos não são apenas coevos, mas interferem e mutuamente se comenta’. (p. 14)
CONDICIONAMENTOS POLÍTICOS
Segundo Edson Ferreira Martins
“[...] quando falamos do século I antes de Cristo, situamo-nos no momento em que Roma era não mais o nome de uma cidade, mas o capus mundi de uma complexa organização política.” (p. 14-15)
“Esse momento, crucial para a história romana será marcado por intensas lutas políticas que culminarão com o fim da República e o início do Imperium. Depois de muito guerrear contra as nações vizinhas, os romanos se voltarão contra si mesmos numa série de guerras civis. A primeira delas foi travada entre Mário e Sula, em que a vitória do segundo trará como conseqüência uma ditadura e o aumento do poder do Senado em detrimento do poder do povo e de seus tribunos. A segunda será decidida na Batalha de Farsalos, em 48 a.C., quando Júlio César derrota Pompeu; quatro anos depois, nos idos de março, o tio de Otaviano, homem de armas e de letras, será assassinado em pleno o senado romano. Por fim, no estagio derradeiro da guerra civil, Otasviano e Marco Antônio, em princípio dois chefes cesarianos que chegam a fazer um acordo de paz, entrarão em conflito; o desfecho se dará favorável a Otaviano na Batalha de Ácio, em 31 a.C. Com o suicídio de Marco Ant6onio em Alexandria um ano depois, Otaviano se tornará o governante único, aquele que instaurará a Pax Romana.” (p.15) 
“O breve resumo que traçamos da história romana determina de forma direta a produção da Eneida” (p.15)
CONDICIONAMENTOS LITERÁRIOS
Segundo Edson Ferreira Martins
“Quando Virgílio começa a compor Eneida ele já havia escrito Bulcólicas e as Geórgicas. Após os pedidos reiterados do imperador, o mantuano resolve finalmente se dedicar a cantar o passado e o presente glorioso de Roma. Em se pensando particularmente a questão do gênero épico, para a composição da Eneida, havia dois condicionamentos literários que se impunham ao seu labor litterarius: de um lado a experiência literária grega, com Homero; de outro, a tradição fundada em Roma por Lívio Anronico, Névio e, finalmente, Ênio.” (p.25)
“A estruturação formal da Eneida denuncia claramente denuncia claramente a imitação de Homero. A Ilíada e a Odisséia têm cada uma delas vinte e quatro cantos. [...] A Eneida, por sua vez, tem doze cantos – a metade de cada uma das epopéias homéricas.” Os seis primeiros cantos são influenciados por Odisséia e, os seis últimos, por Ilíada. (p.26)
“A simetria sugerida pelos números ganha forca nas palavras que abrem o poema, exemplares para a compreensão de que Virgílio buscou fazer uma síntese dos dois poemas homéricos. Assim é que entendemos a proposição, quando Virgílio, em dois sintagmas nominais, resume o objeto de seu canto: as guerras (‘arma’) e o varão (‘virum’). A Eneida se propõe, então, em forma de amálgama, como uma contrapartida aos poemas homéricos. O paralelo com Homero será desenvolvido ao longo de todo o poema[...].” (p.26)
“ Os romanos, no entanto, não viram em Virgílio o primeiro a ter em Homero o seu mestre e autor a ser imitado. Antes dele, Lívio Andronico (284-204 aC.) havia fundado a tradição épica latina, ao fazer a tradução da Odisséia utilizando o verso saturnino, próprio do latim, em que substituição ao haxâmetro dactílico utilizado no original grego. Segundo Harvey (1987, p.309), este momento é importante em termos de historiografia literária, pois Andronico representa o primeiro impacto da Grécia sobre Roma. A literatura latina nasce, portanto, de forma emblemática sob a tradução de Homero, o maior poeta Hélade.” (p.27)
DO PIO ENÉIA AO PIO VIRGÍLIO
Segundo Edson Ferreira Martins
“ Citando o próprio Virgílio, poderíamos dizer que ‘o trabalho tudo venceu’ (Labor omnia vicit – Geórgicas, I.145-146). [...] Em carta, a Augusto, segundo registra Macróbio, Virgílio dá conta ao ansioso e especial leitor que estava estudando arduamente para a elaboração do poema, e que lhe mandaria algo sobre o seu [Del Virgílio] Enéias. Somente esta obsessão pelo perfeccionismo literário pode explicar seu pedido no leito de morte de que a obra fosse destruída, porque não revista uma última vez.” (p.29)
“O adjetivo que Virgílio mais utiliza como qualificativo do substantivo Aenas é pius. Se os heróis homéricos se distinguiam uma pela astucia (Ulisses) e outro pelo valor guerreiro (Aquiles), o Enéias de Virgílio é também um grande guerreiro (equiparável a Heitor), mas antes de mais nada é o que sobrepuja a todos pela pietas (as pietas pode ser definida como ‘um sentimento de obrigação para com aqueles a quem o homem está ligado por natureza [pais, filhos, parentes].’ Cf. Pereira – 1989, p.328), conforme sua autodefinição: ‘Eu sou o piedoso Enéias [...] cuja fama ascendeu ao mais alto dos céus’. ” (p.29-30)
“ A pietas de Enéias em relação ao pai se mostrará ainda uma vez, numa das mais fantásticas viagens produzidas pela literatura.” Virgílio subverte, mais uma vez, à Homero, em Odisséia. (p.31)
“ Clássicos são também aqueles livros que exercem influencia particular quando se impõe como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, dirá outra vez Calvino (1993). Quem se deixa conduzir pela poesia da Eneida há de se comover com a resignação de Enéias diante das dores da vida [...].” (p.32)
“Sobre o desafio de se propor a imitar Homero, basta lembra que o famigerado autor – sobre cuja existência se sabe concretamente tão pouco – ‘serviu de modelo a todos os poetas subseqüentes, e os gregos viram nele, desde então, a base de sua educaco e o ponto de partida de toas as suas reflexões’ (ROMILLY, 1984, p. 17). [...] Virgílio soube adaptar com grande habilidade poética os motivos homéricos ao mundo da romanidade, criando uma obra original, enfim, a epopéia dos latinos.” (p.33)
“[...]Virgílio escrevia num momento em que a literatura latina já conhecera um desenvolvimento notável, bem diferente da situação vivenciada por seus primeiro escritores. Por outro lado, isso não impede de reconhecer que, no conjunto das suas obras que formam a história da literatura latina, a Eneida representa o resultado final não apenas de uma obra uma e bem construída, mas também uma arte da palavra, Roma chega à plenitude de seu classicismo literário, à fase em que os historiadores denomina ‘ a idade de ouro’. E tem seu ‘Homero’, melhor que a reencarnação eniana, o Virgílio romano.
Esta última expressão que usamos não é gratuita. Virgílio não era romano de nascimento. Nasceu em Mântua, na Gália Cisalpina, que só vira a se tornar província romana durante o segundo triunvirato.” (p.33)
“ [...] no belíssimo Pro Archia, Cícero faz o elogio da função do poeta: ‘Todos os livros estão cheios, as palavras dos sábios cheias, a antiguidade cheia de exemplos que jazeriam nas trevas se não aparecesse o esplendor das letras’. Enéias, Augusto, numa palavra, Romãs são todos agradecidos a Virgílio”. (p.34-35)�PAGE �6�
2007 by Edson Ferreira Martins, Gerson Luiz Roani e Maria Cristina Pimentel Campos

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