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Tipos de diagnóstico: é a base da atuação de médicos e outros profissionais de saúde, sendo um propósito imperativo a ser alcançado. É definido, segundo Mason, “como uma série de procedimentos de ordem intelectual (cognitiva) e operacional (atitudes e habilidades) através dos quais se obtém uma resposta a um determinado problema clínico”. Diagnóstico O reconhecimento de uma doença com base na anamnese e no exame físico constitui o diagnóstico clínico, nem sempre factível sem o auxílio de outros métodos semióticos. Muitas doenças cursam com um conjunto de sintomas e sinais semelhantes, configurando uma síndrome. O reconhecimento de uma síndrome constitui o diagnóstico sindrômico, o qual é muito útil na prática médica, pois, mesmo não identificando a doença, reduz o número de possibilidades e orienta as investigações que devem ser realizadas. Síndrome: Grupo de sintomas e sinais indicativos de distúrbio funcional e relacionados entre si por uma particularidade anatômica, fisiopatológica ou bioquímica. O raciocínio diagnóstico é muito facilitado quando um determinado problema clínico se enquadra em uma síndrome bem definida Determinadas doenças produzem modificações anatômicas que podem ser identificadas no exame clínico, permitindo o diagnóstico anatômico. Paralelamente ao diagnóstico anatômico, coloca -se o diagnóstico funcional ou fisiopatológico, que traduz o distúrbio da função do órgão atingido pela enfermidade e se expressa principalmente por sintomas. A identificação das causas de muitas doenças é chamado de diagnóstico etiológico. Raciocínio diagnóstico: É o conjunto dos processos de pensamento pelos quais os profissionais de saúde selecionam, interpretam, analisam e combinam informações com o objetivo de tomar decisões sobre um paciente em uma determinada situação clínica. O raciocínio clínico é baseado mais em probabilidades do que em certezas. E a probabilidade é o conceito segundo o qual o valor preditivo de um teste ou achado clínico depende não apenas de sua sensibilidade e especificidade, mas também da probabilidade prévia (ou seja, da prevalência da doença na população estudada). O raciocínio clínico usa, na verdade, os princípios e as habilidades do pensamento crítico, que é o processo intelectualmente disciplinado para, ativa e habilmente, conceituar, aplicar, analisar, sintetizar e/ou avaliar uma informação, obtida ou gerada por observação, experiência, reflexão ou comunicação, como um guia para o aprendizado ou para a ação. O pensamento crítico é baseado em valores intelectuais que transcendem os conteúdos, tais como: clareza, precisão, consistência, relevância, sólida evidência, etc. Deborah Batista - M35 AES10 - Problema 1 Também conhecido como abordagem sindrômica, é o tipo de raciocínio que permite deduzir conclusões de premissas que são hipóteses ao invés de deduzir de fatos que tenham sido observados pelo sujeito. A experiência clínica e o conhecimento médico agregado durante os anos de prática vão aperfeiçoando esse modo de desenvolver e elaborar diagnósticos. Esse processo é extremamente dinâmico, e novas hipóteses vão sendo feitas com base nos dados obtidos. Mesmo durante a realização do exame clínico, esse processo não é interrompido, pois novas hipóteses podem ser feitas a partir de achados, suscitando novos caminhos diagnósticos. Essa abordagem diagnóstica deve basear-se em dois eixos principais: a) A exploração da queixa (ou queixas) inicial, com interrogatório detalhado. b) A utilização de um pensamento epidemiológico, em todos os momentos, considerando as doenças mais prevalentes no segmento populacional específico do paciente. O médico experiente tende a limitar o número de hipóteses a serem testadas. Três ajudas heurísticas contribuem para isto: (1) só evoque uma hipótese se houver dados clínicos suficientes para isto; (2) quando o conjunto de dados gerar várias hipóteses, aplique as informações epidemiológicas sobre a frequência e a prevalência da doença em suspeição, analisando as mais frequentes e prevalentes antes de pensar nas raridades e exceções; (3) use testes discriminadores (exames complementares) entre as hipóteses que permaneceram, escolhendo os de maior acurácia e especificidade. Raciocínio hipotético-dedutivo: Acertos e erros diagnósticos: Erros diagnósticos não intencionais podem ser causados por: Por ignorância ou desconhecimento da enfermidade e de sua história natural; Anamnese inadequada, inconsistente, superficial ou desconexa; Semiotécnica defeituosa: incompleta, apressada ou incorreta (Más condições do exame: local inadequado, iluminação e conforto prejudicados; Condições clínicas especiais: paciente sequelado, obeso mórbido, por exemplo.; Pacientes não colaborativos, agressivos, agitados; Valorização exagerada de detalhes); Má interpretação dos exames complementares ou valorização indevida; Solicitação irracional de exames complementares – compulsiva, sem a devida correlação com os achados clínicos e com o que se pretende evidenciar ou documentar; Manipulação do médico pelos pacientes, pelo medo, pela mídia e pelo bolso: pacientes incisivos, que ameaçam ou chantageiam o médico ou em alguns casos, profissionais que recebem “comissões” para solicitarem determinados exames (geralmente os da “moda”) sem necessidade ou validade científica Deborah Batista - M35 AES10 - Problema 1 Abordagem centrada na pessoa vs. abordagem centrada na doença: A abordagem centrada na doença, também chamada de modelo biomédico, se desenvolve buscando o entendimento de problemas de saúde objetivos, explicados por modelos biológicos, menosprezando a repercussão da subjetividade do paciente e tornando-se insuficiente para resolver a maioria das queixas referidas em consultas. Para a consulta ser bem-sucedida, o médico e a pessoa devem trabalhar juntos e chegar a um acordo, dividindo informações a respeito das possibilidades e das consequências. A afetividade na relação clínica faz a diferença para que a pessoa se sinta melhor e aderida ao tratamento, construindo um vínculo que, embora técnico, permita a cumplicidade do afeto, o que implica desenvolver habilidades apropriadas, ter embasamento teórico e basear-se nas necessidades e nas experiências individuais. Buscar somente por diagnóstico, também enrijece o processo e relação médico-paciente. Desse modo, o médico passa despercebido de outras possíveis doenças, e deixa de auxiliar o paciente a cerca do que é certo ou errado em sua vida A abordagem centrada na pessoa proporciona: a observação estendida entre o médico e a pessoa, permitindo a coleta e o processamento de informação ao longo do tempo, utilizando o conceito de demora permitida; o processo diagnóstico estendido, que pode ser desenvolvido e alterado ao longo do tempo e ao qual podem incorporar-se muitos níveis de informação, incluindo físico, psicológico e aspectos sociais; o cuidado compreensivo, o qual considera necessidades físicas, psicológicas e sociais da pessoa, da família, do trabalho e da comunidade; a continuidade do cuidado, o qual pode ser iniciado pela pessoa e flexibilizar-se para necessidades imprevistas, bem como as previstas; o cuidado preventivo, em que cada encontro é uma oportunidade para a promoção da saúde. Doença e problema: Doença é um conjunto de sinais e sintomas específicos que afetam um ser vivo, alterando o seu estado normal de saúde. Em geral, a doença é caracterizada como ausência de saúde, um estado que ao atingir um indivíduo provoca distúrbios das funções físicas e mentais. Pode ser causada por fatores exógenos (externos, do ambiente) ou endógenos (internos, do próprio organismo). Problemas de saúde são condições que afetam nosso bem-estar e qualidade de vida, pois geralmente são incapacitantes. Exemplo disso é uma pessoa jogar bola levar um pisão e machucar o pé. Vai trazer incômodo, vai incapacitar ele de andar, mas não possui uma sintomatologia complexa a ponto de ser comparado a uma doença. Deborah Batista - M35 AES10 - Problema 1 Sinal: É um dado objetivo notado pelo pacientee observado pelo examinador através do método clínico ou de exames complementares. Exemplos: tosse, edema, cianose, presença de sangue na urina (hematúria) ou condensação pulmonar na radiografia de tórax. Sintoma: Síndrome: Doença: É uma sensação subjetiva anormal percebida pelo paciente e não observada pelo examinador (inspeção, palpação, percussão e ausculta). Exemplos: dor, náuseas, dormência, insônia, má digestão. É um conjunto de sintomas e/ou sinais que ocorrem associadamente e que podem ter diferentes causas. Exemplos: síndrome febril (hipertermia, taquicardia, taquisfigmia, sudorese, tremores, mialgias, artralgias), podendo se relacionar com infecções bacterianas, virais, fúngicas, neoplasias malignas. Outros exemplos: síndrome diarreica, síndrome dolorosa, síndrome consumptiva Define-se como a ausência de saúde. Por ser algo muito subjetivo, podemos citar alguma alteração no organismo que leva à sintomas específicos e apresenta causas determinadas; Uma situação em que a doença está com sinal sem sintomas, é o caso de uma pessoa que testou positivo para COVID e está assintomática, ou seja, tem sinal, mas não tem sintomas. A outra situação seria o contrário, sintoma sem sinal, que poderia ser uma pessoa gripada com febre, dor no corpo, dor de garganta, mas não apresentar tosse produtiva, vômitos. A importância de uma boa anamnese para o sucesso diagnóstico: Por mais entusiasmo que se tenha com os refinados recursos laboratoriais e com os aparelhos modernos, a base principal da prática médica continua sendo o exame clínico. Daí se poder afirmar que medicina de excelência só é possível se o exame clínico for excelente. Quanto mais inadequada a anamnese, maior a dependência aos dados dos exames físico e complementares. Quando chegamos ao final da história clínica, sem elementos ou noção de qual síndrome ou nosologia é a mais provável, dificilmente iremos mais longe com os exames físico e complementares. Deborah Batista - M35 AES10 - Problema 1 A margem de acertos depende fundamentalmente da qualidade da anamnese, a qual responde por 80 a 85% dos acertos. O exame físico contribui com 8 a 10%; sendo que os exames complementares colaboram com uma pequena parcela de acertos A história clínica, portanto, não é o simples registro de uma conversa .É mais do que isso: é o resultado de uma entrevista com objetivo explícito, conduzida pelo examinador e cujo conteúdo foi elaborado criticamente por ele. É no primeiro contato que reside a melhor oportunidade para fundamentar uma boa relação entre o médico e o paciente. Perdida essa oportunidade, sempre existirá um hiato intransponível entre um e outro. Deborah Batista - M35 AES10 - Problema 1 Referências: Semiologia Médica, 8ª edição - Porto e Porto; Medicina Interna Ambulatorial, principais desafios com casos clínicos comentados - Medicina USP; Clínica Médica, volume 1 - Medicina USP; tratado de Medicina da família e comunidade, 2ª edição - susso, lopes e dias.