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Homicídio Passional na Dogmática Jurídico-Penal

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SER EDUCACIONAL 
CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO FRANCISCO DE BARREIRAS – UNIFASB
CURSO DE DIREITO
JAMILLY DA CRUZ SANTOS 
VANESSA DA CRUZ DE FIGUEIREDO
HOMICÍDIO PASSIONAL NA ATUAL DOGMÁTICA JURÍDICO-PENAL
BARREIRAS-BA
2021
JAMILLY DA CRUZ SANTOS 
VANESSA DA CRUZ DE FIGUEIREDO
HOMICÍDIO PASSIONAL NA ATUAL DOGMÁTICA JURÍDICO-PENAL
Artigo Científico apresentado ao curso de Direito do Centro Universitário São Francisco de Barreiras -UNIFASB, como requisito para obtenção do título de bacharela em Direito, sob as orientações do professor de TC II, MSc. Aderlan Messias de Oliveira e do professor orientador Doutorando em Direito Marcus Vinícius Aguiar Faria.
Barreiras-BA
2021
SANTOS, Jamilly da Cruz. FIGUEIREDO, Vanessa da Cruz de. Homicídio Passional na Atual Dogmática Jurídico-Penal. 2021. Trabalho de Curso (Graduação em Direito) - Centro Universitário São Francisco de Barreiras – UNIFASB, Barreiras-BA, 2021. 
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JAMILLY DA CRUZ SANTOS
VANESSA DA CRUZ DE FIGUEIREDO
HOMICÍDIO PASSIONAL NA ATUAL DOGMÁTICA JURÍDICO-PENAL
Artigo Científico apresentado ao Centro Universitário São Francisco de Barreiras -UNIFASB, como exigência à obtenção do título de bacharelas em Direito, e considerado _____________.
Dada de defesa: ____/ ____ / 2021
Banca examinadora:
______________________________________________________________
Prof. Doutorando. Marcus Vinícius Aguiar Faria – orientador
Centro Universitário São Francisco de Barreiras – UNIFASB
_____________________________________________________________
Prof/ª – examinador/a
Centro Universitário São Francisco de Barreiras – UNIFASB
______________________________________________________________
Prof/ª – examinador/a
Centro Universitário São Francisco de Barreiras – UNIFASB
Barreiras-BA
2021
A Deus, o Senhor da minha vida, aos meus pais Josenilton e Mariene por todo incentivo para à realização desse sonho, que é nosso.
A Deus, o dono da vida e da sabedoria e a minha família e amigos.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, o Senhor da minha vida e da minha família que com sua infinita bondade me permitiu chegar até aqui. Toda honra e Glória seja dada ao meu eterno Deus.
Aos meus pais Josenilton e Mariene que com todo carinho e dedicação moldaram o meu caráter, me educando tão bem. Saibam que vocês são o meu maior orgulho e melhor exemplo de ser humano a seguir. Muito obrigada por tudo.
Meu amado pai, sempre batalhando incansavelmente com muito amor e esforço, para que hoje eu estivesse aqui concluindo essa etapa da minha vida, o senhor é inspiração para nossa família. Minha amada mãe, minha melhor amiga e intercessora do nosso lar, que desde o início fez parte desse sonho, sempre me motivando e ajudando. A senhora é um dos motivos para eu ter escolhido o Direito, essa realização também é sua.
Ao meu amado e querido esposo Michael Douglas por todo apoio e ânimo, sempre acreditando em mim. Obrigada por todo carinho e por está ao meu lado. É só o começo de uma caminhada que realizaremos juntos.
Jamilly da Cruz Santos
Agradeço primeiramente ao meu Deus pelo dom da vida, da sabedoria e pela capacidade que me deste para realizar meus objetivos, por fazer acreditar em suas promessas e cumpri-las todos os dias na minha vida. 
Agradeço também aos meus pais Emanuela e Valdivino por me proporcionar vivenciar meus sonhos e me ajudar na realização deles, aos meus irmãos Viviane, Erica, Eduardo e Edson que sempre me apoiaram.
Aos meus sobrinhos Enzo, Sofia, Isaque e Livia e aos demais familiares pelo apoio. 
Aos meus grandes amigos que sempre acreditaram nos meus sonhos e sempre me ajudaram em oração.
Ao nosso professor orientador Marcus Vinicius de Aguiar por todos os ensinamentos e atenção para o desenvolvimento desse trabalho. Agradecemos também, a todos os professores do curso de Direito que fizeram parte da nossa formação, pelos ensinamentos e experiências trocadas. 
Vanessa da Cruz de Figueiredo
 
Toda a humanidade aprende que, sendo todos iguais e independentes, ninguém deve lesar o outro em sua vida, sua saúde, sua liberdade ou seus bens.
John Locke
SANTOS, Jamilly da Cruz. FIGUEIREDO, Vanessa da Cruz de. Homicídio Passional na Atual Dogmática Jurídico-Penal. 2021. Trabalho de Curso (Graduação em Direito) - Centro Universitário São Francisco de Barreiras – UNIFASB, Barreiras-BA, 2021. 
RESUMO
O presente trabalho versa sobre o Homicídio Passional que possui grande relevância social, por tratar-se de um crime cruel que fere o maior bem jurídico existente, que é a vida de um ser humano. Escolheu-se a temática em análise, em virtude dos crescentes números de casos em nosso país, ganhando destaque por serem fatos cometidos por meio do exagerado sentimento de paixão, decorrente da grande emoção que são estabelecidos como motivação para a realização do crime. Este trabalho estuda a grande maioria de vítimas que se trata de mulheres, ressaltando o contexto histórico, época em que as mulheres não tinham valor social. A Lei Maria da Penha foi um avanço na legislação Brasileira regendo os crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher, como também o crime de Feminicídio, tendo em vista, o grande aumento de casos. Considerando os vastos números de acontecimentos, efetua-se a fundamental importância do estudo dos casos de homicídio passional que tiveram grande repercussão no Brasil. O objetivo do trabalho é analisar como atualmente estão sendo julgados esses crimes pelos tribunais, o desuso da tese de legítima defesa da honra para absolvição do criminoso, utilizada em defesas de advogados, que atualmente é considerada inconstitucional. Enfatizando como os crimes que vão perante o tribunal do júri estão sendo julgados.
Palavras-chave: Homicídio Passional. Emoção. Paixão. Violência Doméstica. Legítima Defesa.
ABSTRACT
The present study is about Passional Homicide, which has great social relevance, as it is a cruel crime that violates the greatest legal good that exists, which is the life of a human being. The subject under analysis was chosen, due to the increasing number of cases in our country, gaining prominence for being facts committed through the exaggerated feeling of passion, due to the great emotion that are established as motivation to perform the crime. This work studies the vast majority of victims who are women, highlighting the historical context, a time when women had no social value. The Maria da Penha Law was an advance in Brazilian 
legislation governing the domestic and family violence crimes against women, as well as Feminicide crime, considering the great increase of cases. Considering the vast numbers of events, is demonstrated the importance of the study of cases of passionate homicide that had great repercussion in Brazil. The goal of the study is to analyze how these crimes are currently being judged by the courts, the disuse of the thesis of self-defense of honor for absolution of the criminal, used in lawyers defense, which is currently considered unconstitutional. Emphasizing how the crimes that go before the jury court are being judged.
Key-words: Passional Homicide. Emotion. Passion. Domestic violence. Self-defense.
SUMÁRIO: Introdução, p.?; 1 Os crimes passionais na história do direito penal brasileiro, p.?; 1.1 A violenta emoção e a paixão nos Códigos Penais brasileiros, p.?; 1.2 Crimes passionais rumorosos no Brasil, p.?; 1.3 Aspectos criminológicos e político-criminais dos crimes passionais, p.?; 2. A violência doméstica e familiar contra a mulher, p.?; 2.1. Medidas Protetivas na Lei Maria da Penha, p.?; 2.3 O crime de feminicídio e as estatísticas nacionais, p.?; 3. A tese de legítima defesa da honra e sua (in)constitucionalidade, p.?; 3.1. O que é na verdade a tese de legítima defesa da honra?, p.?; 3.2 STF, ADPF 779, Rel. Min. Dias Toffoli, Liminar deferida em 26.02.2021,p.?; 3.3 Os limites do quesito "o jurado absolve o réu?" no Tribunal do Júri (art. 483, §2º, CPP), p.?; Considerações Finais, p. ?; Referências, p. ?.
INTRODUÇÃO
A violência humana sempre esteve presente na história da humanidade, bem diferente da espécie animal que mata por condições de sobrevivência, os humanos tem a decisão de ceifar a vida de qualquer outra pessoa ou até mesmo do seu(a) companheiro(a), pessoa que lhe foi jurado amor e proteção, como ocorre nos casos dos Homicídios Passionais. Os delitos não ocorrem por questões de defesa ou o ato de continuar vivo, mas por motivos torpes, maldade e muita frieza, demostrando o egocentrismo do sujeito em não se importar com a vida de outrem.
Os estudos foram direcionados ao entendimento do Homicídio Passional, crime que envolve sentimentos comuns no ser humano, independente de crença, cor ou raça, de modo que desperta o repúdio da sociedade por tratar-se de um ato delituoso tão cruel, devendo ser imposta a penalidade prevista no nosso Ordenamento Jurídico Brasileiro para o infrator da ação. 
O crime passional sempre esteve presente na sociedade, por possuir um aspecto tão bárbaro, obteve grande repercussão nas mídias do nosso país, o que abalou a sociedade brasileira com casos verídicos e cruéis que serão abordados, demonstrando como desenvolveram, bem como qual foi à penalidade do criminoso. Com ênfase ao grande destaque que tiveram, por se tratar de crimes passionais, que motivaram até mesmo a criação da Lei Maria da Penha nº 11.340/2006, ocasionada pelo assassinato da atriz Daniela Perez um dos casos de maiores rumores no Brasil. 
A análise dos fatores desencadeadores do crime determina a compreensão dos acontecimentos e as influencias que levam ao cometimento do ato, considerando a personalidade do agente e até mesmo do meio em que nasceu. Versando dessa maneira, sobre a forte emoção decorrente dos sentimentos de paixão, vingança e a defesa da honra do indivíduo, compreendendo os motivos que geram esse violento crime.
Pretendendo examinar sob uma evolução histórica os aspectos jurídicos, bem como a elevação e adequação das normas no Ordenamento Jurídico Brasileiro, acerca das leis e sua aplicação com relação aos crimes de violência doméstica e familiar contra as mulheres, através de um estudo aperfeiçoado referente aos casos que vão ao Tribunal do Júri e como são julgados cada caso concreto e suas divergências pelos tribunais.
1 CRIMES PASSIONAIS NA HISTÓRIA DO DIREITO PENAL BRASILEIRO
O crime de homicídio tem grande repercussão na sociedade, é significante o número de mulheres que sofrem esse tipo de violência todos os dias. Desde os tempos remotos já se ouvia falar acerca dessa modalidade de crime que está presente em nossa sociedade, não importando classe social, cor ou crença.
Segundo Capez (2020, p. 60) “Homicídio é a morte de um ser humano provocada por outro ser humano. É a eliminação da vida de uma pessoa praticada por outra. O homicídio é o crime por excelência”.
A vida é um bem jurídico resguardado por lei, a Constituição Federal de 1988 traz em seu art. 5º, caput, onde dispõe “[...] a inviolabilidade do direito à vida [...]”, que visa à preservação e a garantia da tranquilidade nas relações interpessoais. (BRASIL,1988, online).
O Código penal prevê punição a quem infringir tal tutela em seu art. 121, caput, que assim dispõe “in verbis” na sua forma simples: “Art. 121 – matar alguém: Pena – reclusão, de 06 (seis) a 20 vinte) anos”. (BRASIL,1940, online).
A conduta criminosa refere-se a uma ação ou omissão humana que lesiona o maior bem jurídico, que é a vida, a violência é um ato difuso e complexo, é influenciado pela cultura, e depende de medidas de valores conforme as normas vão evoluindo, essa conduta criminosa não é de natureza anormal do ser humano, mas está atrelada aos aspectos socioculturais. 
A história da mulher no Brasil, sempre foi cercada de grandes sofrimentos, desde a submissão até à obediência as normas patriarcais e moralistas, que só então estão sendo derrubadas por um processo muito doloroso e lento. 
A mulher era subjugada a permanecer no lar e viver sob controle de seu esposo, não tendo um mínimo de condições para uma vida digna, como acontecia no denominado patriarcalismo. As ordenanças Filipinas deram legalidade para que os esposos traídos pudessem ceifar a vida de suas esposas e até mesmo do amante, essa barbaridade funcionava como uma forma de fazer justiça. 
A Lei Penal das Ordenanças Filipinas foi extremamente severa, tornando-se uma conduta aceitável dentro da sociedade daquela época, era uma verdadeira hierarquia de gêneros e estrutura social, uma vez que as mulheres não possuíam nenhum valor na sociedade. 
Os aspectos sociais e culturais de desigualdade, permitiam que as mulheres fossem destinadas ao lar e o papel de trazer o sustento para casa ficava a cargo do homem, o que facilitava a dominação sobre a mulher. Os delitos nasciam dos sentimentos que surgiam do próprio individuo, como a ideia de vingança que se manifestava em uma relação afetiva obsessiva ou por culturas que existiam antigamente, como a defesa da honra. 
Com o passar dos anos, as mulheres foram ganhando voz dentro da sociedade, permitindo então, a criação de leis que resguardassem seus direitos, e apesar dos grandes avanços dentro da legislação brasileira quanto à efetivação desses direitos, das mudanças significativas nas posições da sociedade, as mulheres ainda sofrem esses tipos de violências todos os dias, principalmente crimes que lesionam a vida, como é o caso dos homicídios passionais. 
1.1 A VIOLENTA EMOÇÃO E A PAIXÃO NOS CÓDIGOS PENAIS BRASILEIROS
O Código Penal prevê em seu (artigo 28, I) acerca da aplicação de pena para os crimes cometidos dominados sobre a violenta emoção ou paixão, o estado desses sentimentos não exclui a imputabilidade penal, conforme aduz o referido artigo, ou seja, não excluem a responsabilidade do agente pelo cometimento do delito praticado. 
Consoante com o artigo 121, § 1º que trata do crime cometido sob a violenta emoção, trata-se de um estado de ânimo, caracterizado por um ato de confusão de sentimentos, visto que pode levar alguém a cometer um crime, sendo uma perturbação de caráter passageiro. (Brasil, 2021).
A paixão possui características psíquicas da emoção, o que diferencia uma da outra é a duração de cada uma, a paixão tem caráter duradouro, ou seja, trata-se de um sentimento que nasce de forma lenta, sendo que vai crescendo de forma gradativa até se tornar algo definitivo, a paixão possui um sentimento violento, ofende a integridade do corpo e também do espírito. Já a emoção trata-se de um sentimento que se caracteriza por estado de ânimo, ou seja, transitório, de forma que está atrelado ao equilíbrio psíquico do ser humano. 
O sentimento passional tende a se manifestar em pessoas que não estão preparadas psicologicamente a terem uma relação afetiva com outra pessoa, o homicídio passional na sua maior parte ocorre quando o agente é traído ou sofre alguma decepção amorosa, o egoísmo do agente não aceita a rejeição, não existindo a figura do amor quando ocorre o delito passional, pois o único sentimento que predomina nesses casos, é o ódio compelido pelo sentimento de obsessão de modo que, prefere matar a vítima do que assumir a perda da pessoa. 
Não há previsão legal expressa para o homicídio passional, a emoção e a paixão possuem um caráter patológico e nem tão pouco é regido sob a perturbação de saúde mental, nesse sentido, apesar de estarem caracterizadas ao desiquilíbrio psíquico, nem uma das modalidades de sentimentos excluem a imputabilidade, uma vez que o Código Penal Brasileiro adotou um sistema Biopsicológico, carecendo, portanto, que esteja presente a excludente de culpabilidade, conforme previsão legal. 
	No atual Código Penal, a paixão e a emoção não isentam de pena o agente (art. 28, I, CP), embora possam funcionar como atenuante (art. 65, III, c, CP) ou como causa de diminuição de pena (art. 121, §1º, CP), salvo se for uma situação de paixão doentia equiparada a doençamental ou perturbação da saúde mental que torne o agente inteiramente incapaz de compreender o caráter ilícito do fato ou de autodeterminar-se de acordo com esse entendimento (art. 26, caput, CP). 
	
1.2 CRIMES PASSIONAIS RUMOROSOS NO BRASIL: DOCA STREET (1976), LINDOMAR CASTILHO (1981), PIMENTA NEVES (2000), ELOÁ CRISTINA (2012) E VIVIANE ARRONENZI (2020)
O criminoso passional trata-se de um indivíduo capaz de prejudicar a si e outras pessoas, o terrível sentimento de vingança e o sentimento de honra ofendida destroem vidas todos os dias, são danos que jamais podem ser reparados. 
Apesar das mudanças dentro da nossa sociedade não se deve ter por normal o fato de mulheres serem vítimas de homicídio passional todos os dias, crimes esses que causam grande repercussão no País, como é o caso de crimes que tiveram grandes rumores na nossa sociedade, esse capítulo tem o intuito de expor alguns casos que ganharam destaque nos meios de comunicação.
1.2.1 CASO DOCA STREET E ÂNGELA DINIZ
O crime cometido por DOCA STREET, ocorreu no ano de 1976, em Búzios no Rio de Janeiro, onde sua companheira Ângela Diniz foi morta com três tiros no rosto e um na nuca, disparos que partiram de seu companheiro Doca Street, como era conhecido, a motivação para o crime foi o ciúme, depois de um longo dia entre discussões, conforme relataram amigos do casal, após o crime ele fugiu. 
A princípio as teses de defesa usadas por Docas foram as de violenta emoção e a injusta provocação da vítima, chamada pelo criminalista Evandro Lins e Silva de “legítima defesa da honra”, porém os peritos chegaram à conclusão que o mesmo não se achava traumatizado, e demostrava-se indiferente, conseguindo reverter o jogo, deixando Ângela como culpada e merecedora da sua morte, foi condenado a dois anos de reclusão, com direito a suspensão condicional.
 Os movimentos feministas não se conformaram com a decisão, e ganharam voz, em razão disso em 1981 ocorreu um novo julgamento, que o júri não acolheu a tese de legítima defesa usada por Doca, mas sim, homicídio qualificado, sendo condenado a quinze anos de reclusão. 
1.2.2 CASO LINDOMAR CASTILHO e ELIANE DE GROMMONT
O caso de LINDOMAR CASTILHO e ELIANE DE GROMMONT, ganhou destaque nos meios de comunicação, após o ex-marido da vítima, no dia 30 de março de 1981, dirigiu-se até um bar onde estava a vítima e disparou cinco tiros, um desses tiros atingiu o peito de Eliane, o outro atingiu Carlos Randall, que era primo de Lindomar e estava tendo um caso com a vítima, os outros dois tiros atingiram a parede e a quinta bala não foi encontrada. Após o crime Lindomar tentou fugir do local, mas, foi contido pelo público que o amarram até a chegada da polícia, ele foi julgado e recebeu pena de doze anos, sendo posto em liberdade em 1996. 
1.2.3 CASO PIMENTA NEVES E SANDRA GOMIDE 
Tomado de ciúmes e rancor PIMENTA NEVES alvejou com dois tiros sobre a colega de profissão e ex-namorada SANDRA GOMIDE, o crime ocorreu em 20 de agosto de 2000, os disparos atingiram as costas e o ouvido da moça. Pimenta Neves, foi condenando a doze anos, dois meses e doze dias de reclusão, mas por está aguardado o julgamento do processo em liberdade saiu livre do tribunal, somente onze anos após a prática do crime foi definitivamente julgado e preso em maio de 2011, sua pena foi reduzida para quinze anos de reclusão. 
1.2.4 CASO LIMDERBERG ALVES E ELOÁ CRISTINA 
Em 13 de outubro de 2008, na cidade de Santo André, depois de cem horas em cativeiro, ELOÁ CRISTINA de 15 anos, foi morta com um tiro na cabeça e outro na virilha por LINDEMBERG ALVES, de 22 anos, os dois viviam um relacionamento conturbado ciumento e possesivo. Após o fim do relacionamento, Lindemberg foi até a casa de Eloá para matá-la, ao chegar lá, encontrou três amigos de Eloá, não intimidado ele fez todos de refém, informando que iria matá-los, o crime foi acompanhado em tempo real por todos os meios de comunicação, o cárcere durou cinco dias e durante esse período ele libertou os demais reféns só ficando com Eloá. 
Lindemberg não aceitou nenhuma negociação e estava disposto a matá-la, Nayara amiga de Eloá voltou para o apartamento, após muito desgaste emocional Eloá pede para ser morta, a polícia decidiu invadir o local, com o barulho dos explosivos na porta, ele atirou em Nayara atingindo o resto que foi de raspão, e duas vezes em Eloá, Lindemberg não se matou, conforme ameaçava outrora, foi preso e condenado a cumprir 98 anos e 10 meses de reclusão, pelo assassinato de Eloá, e por duas tentativas de homicídio (Nayara e um sargento da Polícia Militar). 
1.2.5 CASO DA JUÍZA VIVIANE ARRONENZI 
Caso que ocorreu recentemente e ganhou destaque nas mídias foi o assassinato da Juíza VIVIANE ARRONENZI, morta na frente das filhas por seu ex-marido, na data de 24 de dezembro de 2020, a vítima foi esfaqueada com 16 facadas por PAULO ARRONENZI, que foi preso em flagrante como autor do crime. O delito foi registrado por vídeo e circula nas redes socias, as três filhas do casal presenciaram tudo, o caso está sob investigação policial.
1.3 ASPECTOS CRIMINOLÓGICOS E POLÍTICO-CRIMINAIS DOS CRIMES PASSIONAIS 
A criminologia trata-se de um conjunto de conhecimentos que estudam os fenômenos da criminalidade do delinquente, sua conduta delituosa e sua maneira de ressocialização, conforme a complexidade da delinquência, fazendo necessário o exame das causas naturalísticas de crime, a criminologia não versa sobre o ponto formal e jurídico, mas versa sobre os fenômenos humanos e sociais. 
Conforme preceituam Newton Fernandes e Valter Fernandes (2010) criminologia é a ciência para que se analise todo o fenômeno criminal, é o estudo da vítima, da conduta do delinquente e de todas as determinantes que atuam sobre as pessoas do crime.
É também uma ciência de fatos, natural, empírica e uma ciência do “ser”. O fenômeno criminal como abstração jurídica é objeto do Direito Penal, enquanto o fenômeno criminal como realidade humana e social é objeto da Criminologia.
Na visão mais abalizada da doutrina, a função prioritária da Criminologia é aportar um núcleo de conhecimentos seguros e fundamentados acerca do crime, do criminoso, da vítima e do controle social. Após a formatação desse núcleo de pensamentos e diretrizes, a Criminologia possibilita um diagnóstico acerca do fato criminal, de forma a fornecer respostas seguras para a solução do problema que se apresenta.
O ciúme, o amor e a paixão merecem destaque, de modo que são uma das principais justificativas utilizadas pelos criminosos, objetivando trazer esclarecimentos acerca do homicídio passional como elementos do crime em suas teses de defesa. Sentimentos ligados a fatos naturais do ser humano, o ciúme, o amor e a paixão são condutas utilizadas pelo criminoso para justificar a atuação no crime, nesse sentindo esses três aspectos requerem um estudo para chegarmos ao comportamento do Homicida passional.
1.3.1 CIÚME, AMOR E PAIXÃO
O ciúme gera um sentimento de proteção na relação conjugal que se estabelece pelo sentimento de medo ou perca, possui uma característica forte presente na personalidade do agente passional, de modo à recusa em não aceitar o término da relação, eleva a um sentimento de propriedade sobre a vítima. 
Conforme preceitua Souza (2010), o ciúme torna-se um fator potencial do homicídio passional quando a desconfiança do ciumento dá espaço à certeza infundada de que está mesmo sendo traído ou abandonado. Esse delírio muitas vezes toma conta de todo o psiquismo e acarreta situações intoleráveis, podendo culminar na morte da vítima do ciúme ou no suicídio do ciumento. 
O amor no que lhe concerne, trata-se de um sentimento que carrega cargas de qualidades, traz uma forte afeição por outra pessoa, fazendo com que um indivíduo deseje o bem de outro. No entanto, o amor afetivo se diferencia do amor possessivo, dois modos de amar de maneiras diferentes, o primeiro apresenta um sentimento construtivo, solidário e estável, já o segundo refere-se ao amor carregado pelo sentimento de posse, egocentrismo e obsessão. 
O amor quepredomina entre as características do homicídio passional diz respeito a tendências sexuais, possessivas, ou seja, o ego sobressai sobre os demais sentimentos, gerando ciúmes intensos, que em sua finalidade levam a relevantes consequências, até mesmo lesar a vida de alguém. 
A paixão por sua vez, nos crimes de homicídio passional, que tratam-se dos “crimes de paixão” e da legítima defesa da honra, que ganharam força e foram largamente popularizados pela retórica da defesa dos agentes desse delito, a paixão é o principal elemento que leva ao cometimento do crime, a terminologia paixão tem suas características relacionadas a um bom sentimento, que leva o agente a confundir com o sentimento de amor:
[...] a paixão que move a conduta criminosa não resulta do amor, mas sim do ódio, da possessividade, do ciúme ignóbil, da busca da vingança, do sentimento de frustração aliado à prepotência, da mistura de desejo sexual frustrado com rancor. (ELUF, p. 165, 2017).
A motivação do crime é construída pelo sentimento de paixão doentio, que se origina de um transtorno de personalidade, onde a capacidade de discernimento e domínio dos seus atos agem de forma violenta, o Crime Passional em si, está ligado a violência doméstica, no qual o infrator se motiva de profunda comoção para a execução do Crime, em relações que existem um grande sentimento de afeto, sexual ou não da parte do criminoso com a vítima.
Conforme explica Eluf (2017), não existe a figura do amor no delito de crime passional, o autor da ação assegura cometer o delito motivado pelo sentimento de “amor”, quando na verdade o que existe é um sentimento de posse e obsessão. 
Aduz ainda, a respeitada autora que a paixão não é suficiente para justificar um crime. Aliás, não deve ser usada para perdoar o assassino e, com isso, assegurar sua impunidade. Nesse sentido, leciona Eluf, “sua conduta, porém, não perde a característica criminosa e abjeta, não recebe a aceitação social” (ELUF, p.166,2017).
2 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER 
A mulher sempre foi vista como figura mais fraca em todos os meios, independentemente de ser rica ou pobre eram tidas como meras reprodutoras, educadoras dos filhos, que detinham o papel de cuidar da saúde física e espiritual deles. Já o papel de provedor ficava a cargo dos homens, os quais detinham o poder sobre as mulheres, colocando-as sempre como inferiores, de maneira que impulsionou os quadros de violência contra as mulheres no âmbito social.
Todos esses papéis deixados a cargo das mulheres resultaram no chamado patriarcalismo brasileiro, ele garantia a união entre os parentes, à obediência dos escravos e a grande influência política nos grupos familiares, ou seja, todos os membros de uma residência tinham o dever de obedecer ao chefe, forte e destemido que impunha suas leis de ordenança e todos tinham que curvar-se diante dele. 
Com isso, surge a necessidade de proteção às mulheres, assim instrumentos legais que visam garantir os direitos iguais delas, para que pudesse quebrar o paradigma de discriminação sofrida pelas mulheres ao longo dos anos. Os direitos fundamentais que preserva a proteção e dignidade da pessoa é assegurado pela Constituição Federal, foi um marco importante para à proteção das mulheres, as garantias constitucionais abarcam que a vida é liberdade pública, limitando o Estado de intervir na esfera individual. 
[...] a Lei n. 11.340/2006, denominada popularmente “Lei Maria da Penha”, foi promulgada com a missão de proporcionar instrumentos adequados para enfrentar um problema que afligem grande parte das mulheres no Brasil e no mundo, que é a violência de gênero. (FERRAZ, 2020)
A Constituição Federal marcou a importância da mulher dentro da sociedade, conforme está expresso em seu art.226, § 8º, por meio do qual “o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”. (BRASIL, 1988, online) 
No decorrer dos anos, as mulheres vêm ganhando um espaço significativo na sociedade, isso só foi possível através das buscas constantes pelos seus direitos e por esse espaço, a revolta da idade moderna possibilitou as mulheres a irem às ruas manifestarem seus anseios por liberdade e igualdade feminina. 
No Brasil a busca por esses direitos só começou a ocorrer nos meados de 1970, em que marcou o surgimento dos movimentos feministas que defendiam os direitos das mulheres, quebrando os conceitos patriarcais, garantindo uma grande mudança nas decisões judiciais, principalmente, as que dizem respeito aos delitos passionais. 
2.2 MEDIDAS PROTETIVAS NA LEI MARIA DA PENHA 
A Lei 11.340/06, também chamada de Lei Maria da Penha (LMP), em atendimento à recomendação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos ao Brasil (Caso 12.051, OEA, 2001), sancionou-se no dia 07 de agosto de 2006, e entrou em vigor no dia 22 de setembro de 2006, foi criada com o intuito de proteger à mulher, em relação a todo tipo de violência doméstica. Conforme preceitua legislação vigente: 
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8odo art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobrea Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. (BRASIL, 2006, online)
A Lei Maria da Penha é uma vitória para o grande processo trágico e triste sofrido por mulheres ao longo dos anos, a Lei 11.340/2006 possibilitou que os agressores possam ser responsabilizados por agressões contra suas parceiras. A lei prevê ainda medidas protetivas que garantem a segurança dessas mulheres vítimas de agressão (art. 7º, Lei 11.340/06: violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral), essas medidas protetivas abarcam tanto a remoção do agressor do meio familiar, quanto à proibição de sua aproximação da vítima. 
Durante o processo de violência doméstica e familiar, manifesta-se a necessidade de medidas protetivas específicas para as mulheres, como estabelece Fernandes (2010), o processo protetivo é composto das medidas destinadas à vítima e ao agressor e dos aspectos procedimentais, que lhe asseguram efetividade. 
Entre algumas políticas de proteção a mulher, existem alguns aliados ao combate à violência como a Ronda Maria da Penha que teve origem em 2015, em que consiste uma tropa especializada ao combate à violência contra o sexo feminino, acompanhando mulheres que tiverem a medida protetiva de urgência concedida pela justiça, bem como resguardando os Direitos humanos. 
Do mesmo modo, surge a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), que são entidades da Polícia Civil especializada na proteção das mulheres, nos requerimentos das medidas protetivas, como também na efetuação das investigações contra a violência doméstica e familiar. Essas medidas protetivas garantem que as mulheres possam viver livres da opressão de seus agressores, e estão elencadas no art. 22 da Lei nº 11.340/2006: (BRASIL, 2006, online). 
A Lei Maria da Penha surgiu com o intuito de trazer respeito e assistência às mulheres, sendo que essa está resguardada constitucionalmente, esses direitos garantem a legitimidade dos movimentos feministas que buscam o direito de igualdade de gênero entre homens e mulheres. Apesar da resistência por parte dos agressores, essa lei vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade, visando garantir a construção de uma sociedade sem desigualdades, pautadas nos direitos humanos e na igualdade de gênero. Essa sociedade justa, não depende apenas do Estado, mas, principalmente, da conscientização dos cidadãos em não se calar e não aceitar viver com esse tipo de violência. 
2.3 O CRIME DE FEMINICÍDIO E AS ESTATÍSTICAS NACIONAIS 
É fato que o crime de feminicídio é uma temática bastante abordadanos dias atuais ganhando cada vez mais força entre as mulheres, tem gerado grande repercussão por toda sociedade, visto que o número de vítimas cresce todos os dias em nosso país e em consequência disso, o aumento da luta da classe feminina no combate a esse crime. O feminicídio é o assassinato de mulheres pela circunstância de gênero, ou seja, uma desigualdade e desprezo quanto ao sexo feminino, que envolve a violência doméstica e a desvalorização da mulher na sociedade.
A justificativa para esse ato criminoso fundamenta-se no ódio e no sentimento de perda da posse que o companheiro acredita possuir sobre sua parceira, condições comparadas as que qualificam o Homicídio Passional, tais como o sentimento de propriedade sobre a vítima e o fato de não aceitar o término do relacionamento, gerando dessa maneira a morte de muitas mulheres. 
Outros motivos também se associam a causa do crime de feminicídio, como o desejo sobre a vítima, limitação de sua autonomia física, econômica, intelectual, social e principalmente por sua condição de gênero, o machismo na sociedade favorece as agressões sofridas pelas mulheres, outro fator que se torna bastante influenciável e a classe social da vítima, pois colocam as mulheres em situação de vulnerabilidade.
Dessa forma, com o índice de aumento de casos que assumiu o ranking mundial de crimes, foi criada a Lei de Feminicídio 13.104/15, que alterou o Código Penal Brasileiro, no sentido de que esse crime se enquadra nos crimes hediondos. Essa modalidade de infração resulta de fatores, no combate a violência doméstica e familiar, bem como, discriminação da mulher e a condição do sexo feminino, tornando-se necessária a criação desse dispositivo para amparar a mulher na sociedade. 
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a maioria das violências acontecem dentro do lar da mulher, no ano de 2019 o instituto mostrou o índice de 30,4% dos homicídios contra o sexo feminino, dando um maior destaque as mulheres negras e pardas que tiveram um índice ainda maior com 38,4% de violência sofrida dentro de casa. Estudo realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), apresentou um crescente número de 22% dos casos de Feminicídio, entre os meses de março e abril do ano de 2020, no período de início da Pandemia do Coronavírus (Covid 19), em que a maioria da população teve que ficar em isolamento em suas casas, aumentando dessa forma o número de casos de violência doméstica e consequentemente ocasionando a morte de várias mulheres.
3 TESE DE LEGÍTIMA DEFESA DA HONRA E SUA (IN)CONSTITUCIONALIDADE 
3.1 O QUE É NA VERDADE TESE DE LEGÍTIMA DEFESA? 
O art. 25 do Código Penal prevê: “Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.” 
A legítima defesa existente desde os primórdios, refere-se à autodefesa da vítima, como disposto no Código Penal Brasileiro, estabelecida como uma conduta moderada afastando injusta agressão, mediante meios necessários, a direito seu ou de outrem, atual ou iminente. A legítima defesa é algo natural. 
Conforme (CAPEZ, p. 389, 2020) “O Estado não tem condições de oferecer proteção aos cidadãos em todos os lugares e momentos, logo, permite que se defendam quando não houver outro meio”. Sendo assim, tal ação é uma forma do direito assegurar e proteger o indivíduo de não ser agredido injustamente, dando-lhe a possibilidade de defender-se sem o equívoco excesso, quando o Estado não estando presente a tempo, reconhece a sua insuficiência representado pela polícia, assegurando dessa forma a defesa do cidadão em resguardar o seu patrimônio e bens jurídicos.
A tese de legítima defesa da honra visava proporcionar a vítima o direito de proteção a sua honra ou reputação. Antigamente nas relações conjugais era muito comum a prática do crime na maioria das vezes cometido por homens que eram traídos ou que apenas suspeitassem de traição da sua companheira, tinham o direito de limpar a sua honra perante a sociedade matando-a, de maneira que as leis os resguardavam e permitiam essa possibilidade torpe. A tese aduzida era muito argumentada por advogados criminalistas, de modo que facilitou a absolvição de muitos acusados, alguns citados nos casos que chocaram o Brasil no presente trabalho, em específico os que praticaram os crimes passionais e os que seriam julgados pelo tribunal do júri.
No caso Doca Street, a tese legítima defesa da honra foi usada, de forma retórica, como a possibilidade de defender a honra do agressor em detrimento da vida da vítima, e, de forma técnica, como um artifício, consistente em pedir a desclassificação de homicídio privilegiado (art. 121, §1º, CP) para erro culposo na legítima defesa (art. 23, p. único, CP) decorrente da intensa perturbação dos sentidos logo após injusta provocação causada pelo adultério e, portanto, para homicídio culposo (art. 121, §3º, CP), cujas penas abstratas são de 01 a 03 anos, o que viabiliza, se a dosimetria da pena fixa a pena-final em até 02 anos, a suspensão condicional da pena (art. 77 e seguintes do CP). (BRASIL, 1940, online) 
Atualmente, a tese de legítima defesa da honra está em desuso no vigente Direito Brasileiro. Na atual Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental ADPF 779, o Ministro Dias Toffoli, deferiu Liminar em 26 de fevereiro de 2021, afirmando que a tese de legítima defesa da honra é inconstitucional por infringir os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da proteção à vida e da igualdade de gênero. 
3.2 STF, ADPF 779, REL. MIN. DIAS TOFFOLI, LIMINAR DEFERIDA EM 26.02.2021
Em decisão liminar fundamentada pelo Ministro Dias Toffoli, foi descartada a legítima defesa da honra do contexto da Legítima Defesa, a interpretação deu-se com base na Constituição Federal e nos Códigos Penal e Processo Penal. 
Em seu argumento Toffoli, veta a tese da Legítima Defesa da honra de forma que viola o princípio da dignidade da pessoa humana, dos direitos à vida, além de facilitar a discriminação contra a mulher. Como penalidade para o aproveitamento do argumento da legítima defesa da honra, ocorrerá à nulidade do ato e do julgamento diante o tribunal do Júri, nos casos em que fosse utilizada a tese como auxílio para os acusados. 
Para o Ministro a temática refere-se aos atos odiosos, desumanos e cruéis de modo que, privilegia a defesa dos culpados, favorecendo a violência contra as mulheres em nosso País. Agregando ao Código Penal em seu artigo 28, que os sentimentos que levam a causa do Homicídio Passional, citados pelo Ministro, tais como a emoção e o ciúme, não excluem a imputabilidade penal. 
Em decisão unânime Seis Ministros votaram com intuito de eliminar as lacunas, bem como analisando o aperfeiçoamento dos artigos 23, inciso III, 25, caput e parágrafo único do Código Penal, como também o artigo 65 do Código de Processo Penal, que discorrem sobre a matéria da Legítima Defesa. Compondo a votação os Ministros Gilmar Mendes, Rosa Weber, Luiz Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Fux e Cármen Lúcia.
 O Ministro Gilmar Mendes em seu voto impossibilitava a todos os envolvidos na Ação Penal, como os acusados, a autoridade policial ou o próprio juízo de sustentação da Legítima defesa da honra. O Ministro Luiz Edson Fachin, em seu voto procura impossibilitar a compreensão de que o recurso de apelação que revogue a tese da Legítima Defesa da honra, lesione o poder atribuído ao tribunal do Júri, predominando sempre a sua decisão. 
No voto do Ministro Luís Roberto Barroso, diante da observação feita por Fachin, ainda assim existiriam lacunas na aplicabilidade da Legítima Defesa da Honra, por meio da absolvição por clemência previsto no artigo 483, parágrafo 2° do Código de Processo Penal, que seria o sentimento de compaixão que os jurados do tribunal do júri absolveriam o acusado. 
Já o Ministro Fux ressalta que não há empecilho no recurso de Apelação em oposição a absolvição por clemência nos casos que houverem o crime de Feminicídio, quando de modoconsiderar oposto as provas no Processo Judicial. Por fim, a Ministra Cármen Lucia votou para impedir o uso da tese da Legítima defesa da honra, como também, qualquer manifestação que possui o mesmo sentido referindo-se à violência contra a mulher como argumento para o Feminicídio.
3.3 LIMITES DO QUESITO "O JURADO ABSOLVE O RÉU?" NO TRIBUNAL DO JÚRI (ART. 483, §2º, CPP)
O Tribunal do Júri comprova a respeitável importância do poder exercido pelos cidadãos comuns em ter permissão para julgar outro indivíduo que cometeu algum delito, bem como representar uma prática de cidadania entre a sociedade. Segundo ELUF, os crimes dolosos contra a vida: o homicídio, o infanticídio, o aborto e a instigação ao suicídio são julgados pelo Tribunal do Júri. Trata-se de uma categoria de crimes que não obedece à regra geral de julgamento por juízes togados (ELUF, 2017, p. 179). 
O cidadão convocado no dia do julgamento é sorteado para integrar o Júri e tem a função de decidir sobre um desses crimes citados, de acordo com a sua consciência, de maneira sigilosa, conforme o seu senso de justiça sem interferência da lei, se a pessoa que está sendo julgada cometeu ou não, o ato criminoso. 
Previsto no artigo 483, §2º, do Código de Processo Penal, o quesito de absolvição foi de forma considerável modificada pela Lei nº 11.689 de 2008 que trata dos procedimentos de competência do Tribunal do Júri. Nos quesitos presentes nos incisos I e II existem as possíveis respostas negativas, bem como positivas. O quesito do primeiro inciso dispõe da materialidade do fato, analisa os jurados se o crime atribuído ao acusado realmente existiu, ao mesmo tempo em que, busca no segundo inciso o quesito da autoria ou participação do réu na atuação do crime julgado. (BRASIL, 1941, online)
Os jurados podem reconhecer ou negar a materialidade do fato, como também a autoria ou a participação do acusado no referido caso, de modo que se apresenta concordando com as averiguações e provas presentes nos autos até o momento da sessão em plenário. Dessa forma, os jurados podem convencer-se em suas decisões e absolverem o réu por meio do senso de justiça ou por motivos que acreditam ser justos, mesmo se os quesitos dos incisos do referido artigo forem positivos. Como preceitua Campos (2015) O jurado analisa, sim, tanto o evento quanto a norma legal, seu significado e seu alcance. 
Em sua resposta de forma positiva para a pergunta “o jurado absolve o acusado?”. O jurado tem a ciência do desenvolvimento do delito em questão, ainda assim, pode escolher a não penalização do réu, de modo que surge à absolvição por clemência. Tese essa, permitida por lei, ligada a soberania do veredicto que é concedido ao jurado, mesmo que o réu seja absolvido reconhecendo os quesitos I e II da materialidade e autoria do crime. A vontade dos cidadãos é protegida pela competência do Júri, conforme o artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea “C” da Constituição Federal de 1988, devendo ser respeitadas as decisões. (Brasil,1988, online).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante o exposto, a temática abordada acerca do homicídio passional, trata-se de uma modalidade de delito cometido em decorrência de um relacionamento sexual ou amoroso, executado por pessoas que se dizem companheiro (a) ou ex- companheiros(as), que matam compelidos pelo sentimento de ódio e vingança que decorrem da imaturidade emocional do criminoso. 
A justificativa que os criminosos passionais alegam, nasce da necessidade de dominação sobre a vítima ou com a preocupação de honrar sua reputação diante da sociedade, quando esta está ligada a traição. 
A honra era utilizada para dar legalidade aos criminosos a matar suas companheiras, quando estes eram traídos ou ocorria separação, o ato de praticar o homicídio passional demonstrava um desejo de cicatrizar seus sentimentos atingidos. 
A análise dos casos de homicídio passional torna-se de difícil análise, uma vez que cada caso possui suas características próprias, além dos atributos próprios de cada indivíduo envolvido. 
O crime passional não se refere a uma modalidade nova de crime, mas está presente na sociedade, e o que mais assusta é que a cada dia vem ganhando notoriedade nos meios de comunicação. De um outro modo, nossa legislação e o ordenamento jurídico não possui ainda um rol específico para abordar a respeito do delito, podendo ser entendido de diversas formas, como é o caso dos homicídios qualificado ou privilegiado, ou até mesmo, o acolhimento da legítima defesa da honra. 
Por fim, conclui-se que a temática homicídio passional necessita ser tratada de forma específica por discorrer sobre uma infração de profunda complexidade, especialmente por tratar-se de relações amorosas, que carece de uma necessidade especial, uma vez que todos os dias milhares de pessoas na sua maioria mulheres, tem suas vidas ceifadas de forma brutal por seus(as) companheiros(as), e apenas serem mais um crime julgado de forma incoerente. 
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm> Acesso em 8 de mar, de 2021. 
BRASIL. Decreto-lei no 2.848, de 7 de novembro de 1940. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm Acesso em 8 de mar, de 2021. 
BRASIL, Decreto-lei nº 3.689 de 3 de outubro de 1941. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm Acesso em 8 de mar, de 2021. 
 
BRASIL, Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Diário Oficial da União, Brasília, 8 agosto 2006. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20042006/2006/lei/l11340.htm> Acesso em 8 mar, 2021.
BRASIL, Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm Acesso em 14 de abril de 2021. 
BRASIL, lei nº 13.104, de 9 de março de 2015. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13104.htm Acesso em 12 de abril de 2021. 
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 779. Brasília 13 de março de 2021. Acesso em 06 abril 2021.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, parte geral (arts. 01ª a 120). 24 ed. rev. e atualiz. São Paulo: Saraiva, 2020.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. volume 2: parte especial (arts. 121 a 212). 20 ed. rev. e atualiz. – São Paulo: Saraiva, 2020.
CAMPOS, Walfredo Cunha. Tribunal do Júri – Teoria e Prática. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2015.
ELUF, Luiza Nagib. A paixão no banco dos réus: casos passionais e feminicídio: de Pontes Visgueiro a Mizael Bispo de Souza. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
FERRAZ, Carolina Valença. Manual dos Direitos das Mulheres. Série IDP. São Paulo: Saraiva, 2013.
FERNANDES, Valéria Diez Scarance. Lei Maria da Penha: O Processo Penal no Caminho da Efetividade. São Paulo: Atlas, 2015.
FERNANDES, V; FERNANDES, N. Criminologia integrada. 3 ed - São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
GOMES, Christiano Gonzaga - Manual de Criminologia. 2 ed. - São Paulo: Saraiva, 2020.

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