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A Sistemática e a Teoria Geral da Execução Civil no Cpc/15 A execução não mais incide sobre a pessoa do devedor, e sim sobre seu patrimônio, revestindo- se de caráter patrimonial. Principiologia do CPC/15 O Código de Processo Civil de 2015 foi instituído com a perspectiva de constituir um marco na superação das dificuldades contemporâneas enfrentadas pelo Poder Judiciário nas demandas judiciais, como a morosidade e a efetividade. Nesse cenário, a nova legislação processual foi estruturada com uma carga principiológica não presente no código anterior, buscando estabelecer uma verdadeira sintonia com a Constituição Federal de 1988 – CF/88. A Constituição, pois, torna-se o ponto de partida e o ponto de chegada para qualquer interpretação e argumentação jurídica, de forma a conferir-lhe eficácia dogmática e valoração na hora de decidir os casos submetidos ao Judiciário. O Código de Processo Civil de 2015 rende-se a tais premissas e passa a ter uma tessitura aberta, buscando concretizar os valores dispostos na Constituição, de modo a viabilizar e melhorar o acesso à justiça, a partir da positivação princípios que traduzem um catálogo de direitos fundamentais. Nessa linha, o legislador processual contempla uma variedade de princípios no código como o contraditório, vedação das decisões surpresas, o acesso à justiça, a cooperação e boa-fé, primazia da decisão de mérito, razoável duração do processo, ordem cronológica, menor onerosidade etc. Princípio da menor onerosidade da execução Como forma de equilibrar o interesse do exequente com os direitos do executado, permitindo que o exato adimplemento do crédito seja alcançado de modo equilibrado e razoável, a execução deve ser a menos onerosa possível ao devedor. Essa regra encontra-se prevista no art. 805 do CPC, que dispõe que: “Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado". O princípio da menor onerosidade auxilia na escolha do meio executivo pelo juiz, ou seja, da providência que levará ao cumprimento da prestação exigida pelo credor. Ele incide na análise da adequação e necessidade do meio, mas não pode prejudicar a obtenção do resultado. O devedor não pode invocar a menor onerosidade como fundamento para furtar-se ao cumprimento da prestação na forma específica ou, por exemplo, requerer a substituição da penhora de dinheiro, ou do faturamento de sua empresa, por outros, de mais difícil liquidação, sob o argumento de que essa forma é menos onerosa. Além disso, o princípio não autoriza a interpretação de que o valor da execução deve ser diminuído, para que o executado possa cumprir a obrigação, ou de que se deve tirar o direito do credor de escolher a prestação na obrigação alternativa. A Sistemática e a Teoria Geral da Execução Civil no Cpc/15 Enfim, tudo isso relaciona-se ao resultado da atividade executiva, que não sofre influência do princípio da menor onerosidade. O resultado a ser alcançado é o estabelecido pelo direito material. O modo de se chegar até esse resultado é que deve consistir na menos onerosa possível para o executado. Isto é, pressupõe a existência de vários meios equivalentes para alcançar a satisfação do exequente. Princípio da responsabilidade patrimonial O art. 789 do CPC determina que o devedor responda “com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei”. Com os bens, não com a sua pessoa. Isto é, atualmente é o patrimônio do devedor que responde por débitos. Contudo, o princípio não alcança a totalidade do processo executivo, por conta do princípio da efetividade. Nas execuções específicas – obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa certa, há nítida preferência pelo cumprimento in natura da prestação em um primeiro momento, somente se não for possível a essa execução específica que haverá a conversão em perdas e danos e, aí sim, incide a aplicação do princípio da patrimonialidade. Existe ainda outra particularidade quando envolve execução de obrigação alimentícia, na qual se admite a prisão cível com o objetivo de coagir o executado a adimplir a obrigação. A prisão, contudo, não substitui o pagamento da prestação de alimentos devida. Princípio do exato adimplemento Se a finalidade do processo de execução é a satisfação de uma obrigação não cumprida em prol do exequente, é justificável que ele se desenvolva com fundamento em seus interesses, isto é, o exato adimplemento da obrigação. A tutela jurisdicional deve propiciar ao credor o que ele teria com o cumprimento voluntário da obrigação pelo executado. É o que prevê o art. 797 do CPC ao dispor que: realiza-se a execução no interesse do exequente”. Além disso, o princípio do exato adimplemento proíbe que a execução abranja além daquilo que seja necessário para o cumprimento da obrigação. Tanto é que estabelece o art. 831 do CPC que serão penhorados tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal, dos juros, das custas e dos honorários advocatícios. Princípio da autonomia O princípio da autonomia do processo de execução determina que o processo executivo é autônomo ao processo de conhecimento. Enquanto este possui a finalidade de procurar o acertamento do direito material deduzido em juízo, aquele objetiva cumprir a obrigação do executado. Com o advento da Lei 11.232/2005, apenas a execução por título extrajudicial desencadeia a formação de um processo autônomo. E a de A Sistemática e a Teoria Geral da Execução Civil no Cpc/15 título judicial, quando este for sentença arbitral, estrangeira ou penal condenatória. Nos demais, existirá mera fase de cumprimento de sentença, e a execução constituirá um conjunto unitário com o processo antecedente, chamado processo sincrético. Isso não implica que ela tenha perdido a autonomia, pois a fase executiva não se confunde com a cognitiva. A autonomia persiste, se não com um processo novo, ao menos com o desenvolvimento de uma nova fase processual. Princípio da utilidade Não se justifica a execução se não trouxer alguma vantagem para o exequente. O processo é um instrumento que objetiva alcançar um fim certo. Especificamente, na execução, a busca é pela satisfação total ou parcial do exequente. Não se pode admitir que a execução prossiga quando somente trará prejuízos ao executado, sem reverter em proveito para o exequente. Formação da execução Por definição, o procedimento executivo é conjunto de atos praticados com a finalidade de alcançar a tutela jurisdicional executiva, ou seja, a efetivação, realização, satisfação da prestação devida, seja ela uma prestação de fazer, de não fazer, de pagar quantia ou de dar coisa distinta de dinheiro Essa execução pode ser buscada mediante processo autônomo de execução ou de uma fase instaurada dentro de um processo já em trâmite. Em ambas as situações, a execução tramita com observância de dado procedimento, que é o procedimento executivo. A depender do título que lhe serve de lastro, a execução pode ser classificada em execução fundada em título executivo judicial e execução fundada em título executivo extrajudicial. Ademais, de acordo com a natureza da prestação cuja satisfação se persegue, a execução pode ser classificada em execução de prestação de fazer, de não fazer, de pagar quantia e de dar coisa distinta de dinheiro. Ainda dentro de cada uma dessas categorias, é possível verificar a existência de procedimentos executivos especiais: Ocorre, por exemplo, com o procedimento para a execução de alimentos ou com o procedimento para pagamento de quantia instaurado pela ou contra a Fazenda Pública, que se diferencia do procedimentoexecutivo genérico para pagamento de quantia Elementos da demanda executiva A atividade executiva desenvolvida com o objetivo de cumprir obrigação reconhecida em título executivo judicial pode ter início de dois modos: Por provocação da parte interessada, que é o mais comum. De ofício, por provocação do magistrado, que é o que ocorre, ou pode ocorrer, por exemplo, na execução trabalhista e na execução das decisões fundadas nos arts. 536 e 538 do CPC. A Sistemática e a Teoria Geral da Execução Civil no Cpc/15 Nas situações em que a execução ocorre por mera fase que se abre no curso de um processo sincrético (execução judicial), ela deve materializar-se numa petição simples, que não necessita, obrigatoriamente, cumprir todos os requisitos de validade de uma petição inicial (art. 319 do CPC), mas deve satisfazer requisitos mínimos necessários à compreensão da demanda postulada em juízo. Nesses processos sincréticos, o credor deverá especificar, ao formular o seu pleito, de forma clara e compreensível, o demonstrativo do cálculo, devidamente atualizado (juros e correção monetária) e, desde que possível, indicar bens penhoráveis (artigo 524). Por sua vez, nos casos em que a execução se dá por meio de processo autônomo, como naquela fundada em título executivo extrajudicial, ela deve ser materializada numa petição inicial. Se a demanda tem por objetivo a satisfação de um direito já certificado (seja num título executivo judicial ou extrajudicial) e que até então não foi cumprido (inadimplemento), tem-se, então, na execução, uma chamada demanda executiva. Essa demanda executiva compõe-se de três elementos: Partes, Causa de pedir e Pedido Partes Em regra, são legitimados para a execução aqueles que figuram no título como credor e devedor. É o que se extrai dos arts. 778, caput, e 779, I, do CPC. Mas há legitimados que, embora não figurem no título executivo, podem promover a execução como os sucessores, a título inter vivos ou mortis causa, do credor ou do devedor, o sub-rogado, o fiador do débito, constante do título, o lesado individual, nas ações civis públicas para a defesa de interesses individuais homogêneos, e a vítima de crime, que queira executar civilmente a sentença penal condenatória transitada em julgado, proferida contra o ofensor. Por sua vez, há os casos de legitimidade extraordinária, em que a lei confere a alguém para que ir a juízo, em nome próprio, buscar a satisfação de direito que é alheio. Exemplo O exemplo mais importante é dado pelas ações civis públicas, em que se autoriza o Ministério Público e demais entidades legitimadas a promover, em nome próprio, a execução das condenações, cujo beneficiário é o lesado. Nesse caso, a legitimidade extraordinária não é exclusiva, nem afasta a possibilidade de a execução ser promovida pela própria vítima, em benefício próprio, caso em que haverá legitimidade ordinária. Na execução, é possível a formação de litisconsórcio ativo, passivo e misto, seja o título judicial ou extrajudicial. Ainda é possível a assistência. Não sendo cabível, contudo, chamamento ao processo. Causa de pedir e pedido A causa de pedir da demanda executiva necessita da prova de, pelo menos, dois fatos jurídicos: (i) a existência de um direito à A Sistemática e a Teoria Geral da Execução Civil no Cpc/15 efetivação do direito de prestação certo, líquido e exigível, que demanda ser provada por meio da exibição de um título executivo judicial ou extrajudicial; (ii) a existência da falta de cumprimento por parte do devedor, que cause lesão ao direito do credor. Em relação ao pedido, aplica-se, nesse momento, a noção de que ele abrange dois objetos: Objeto mediato Refere-se ao bem da vida que se pretende obter, por exemplo: o pagamento de uma quantia, o fazer, o não fazer, a entrega de uma coisa distinta de dinheiro. Objeto imediato Relaciona-se à pretensão de concessão da tutela jurisdicional executiva, com a consequente adoção de providências executivas. Nessa hipótese, dispõe a legislação que, quando por mais de um modo se puder efetuar a execução, compete ao exequente indicar aquele de sua preferência (art. 798, II, "a", CPC), observada a cláusula geral de proteção do executado contra o abuso do direito pelo credor (art. 805, CPC).