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Processo de Execução: Teoria e Prática

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Interdição parcial
Disposições comuns à tutela e à curatela (arts. 759 a 763)
Da organização e da fiscalização das fundações (arts. 764 e 765)
Elaboração, aprovação e alteração do estatuto
Extinção da fundação
Da ratificação dos protestos marítimos e dos processos testemunháveis
formados a bordo (arts. 766 a 770)
Noções gerais
Procedimento
Parte IV – Processo de Execução
Teoria geral da execução (arts. 771 a 796)
Introdução
Tutela executiva
Competência para a execução
Modificação ou prorrogação da competência
Prevenção do juízo executivo
Declaração de incompetência na execução
Conflito de competência na execução
A ação de execução
Requisitos processuais da ação executiva
Legitimidade para a execução
Interesse processual para a execução
Princípios da execução
Requisitos ou pressupostos processuais da execução
Pressupostos do processo executivo comuns aos do processo de
conhecimento
Pressupostos específicos do processo executivo
Títulos executivos
Cumulação de execuções
Atos do processo executivo
Partes na execução
50 
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4.3.1
4.3.2
4.3.3
4.3.4
Posição do cônjuge ou companheiro na execução
Sucessão processual na execução
Litisconsórcio na execução
Intervenção de terceiros no processo de execução
Responsabilidade patrimonial
Responsabilidade originária
Responsabilidade secundária
Responsabilidade envolvendo direito de superfície
Fraude à execução
Fraude à execução e bem não sujeito a registro
Efeitos da alienação
Fraude à execução e desconsideração da personalidade
jurídica
Fraude à execução x fraude contra credores
Atos atentatórios à dignidade da justiça
Execuções em espécie (arts. 797 a 913)
Introdução
Execução para entrega de coisa (arts. 806 a 813)
Execução para entrega de coisa certa
Execução para entrega de coisa incerta
Execução das obrigações de fazer e de não fazer (arts. 814 a 823)
Considerações gerais
Execução das obrigações de fazer
Execução das obrigações de não fazer
Execução por quantia certa (arts. 824 a 909)
Considerações gerais
Proposição da ação de execução
Averbação da execução nos registros públicos
Cognição preliminar, citação, pagamento, arresto e penhora
Impenhorabilidade
Aspectos importantes relativos ao bem de família
Indicação de bens à penhora
Penhora por termo nos autos
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6.
Penhora por meio eletrônico (“penhora on­line”)
Penhora sobre bem indivisível
Penhora de créditos
Penhora no rosto dos autos
Penhora de mão própria
Penhora das quotas ou ações de sociedades personificadas
Penhora de empresa, de outros estabelecimentos e de
semoventes
Penhora de percentual de faturamento de empresa
Penhora de frutos e rendimentos de coisa móvel ou
imóvel
Avaliação dos bens penhorados
Intimação da penhora
Substituição da penhora
Natureza e efeitos da penhora
Expropriação
Adjudicação
Alienação (por iniciativa particular e por leilão judicial)
Atos preparatórios
Do leilão
Do auto de arrematação, da entrega dos bens e
da expedição da carta de arrematação
Invalidação, ineficácia e resolução da
arrematação
Desfazimento da arrematação
Desistência unilateral do arrematante
Apropriação de frutos e rendimentos
Satisfação do crédito
Pagamento parcelado
Concurso de preferência
Pagamento pela adjudicação dos bens penhorados
Execução contra a fazenda pública (art. 910)
Embargos à execução contra a Fazenda Pública
Execução de alimentos (arts. 911 a 913)
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6.
4.
1.
Execução fiscal (Lei nº 6.830/1980)
Execução por quantia certa contra devedor insolvente (arts. 748 a 786­A
do CPC/1973)
Noções gerais
Caracterização da insolvência
Legitimação para a insolvência
Competência para a insolvência
Procedimento da insolvência
Etapa de conhecimento
Etapa da administração
Etapa da liquidação
Outros aspectos do processo de insolvência
Embargos do executado (arts. 914 a 920)
Noções gerais, conceito e natureza jurídica
Embargabilidade da execução
Legitimidade e prazo para os embargos do executado
Juízo competente
Embargos à execução
Matérias arguíveis nos embargos à execução
Procedimento dos embargos
Postulação
Cognição preliminar
Recurso cabível contra a decisão que rejeita liminarmente
os embargos
Atribuição de efeito suspensivo aos embargos
Impugnação aos embargos
Audiência e julgamento dos embargos
Parcelamento do objeto da execução
Exceção ou objeção de pré­executividade: meio de defesa
independentemente da oposição de embargos
Suspensão e extinção do processo de execução (arts. 921 a 925)
Suspensão e extinção do processo de execução
53 
1.
Teoria geral da execução (arts. 771 a
796)
INTRODUÇÃO
O  processo,  do  ponto  de  vista  intrínseco,  consiste  na  relação  jurídica  que  se
estabelece entre autor, juízo e réu, com a finalidade de acertar o direito controvertido
ou realizá­lo. Tal relação jurídica não comporta divisão.
Entretanto,  dependendo da  finalidade para  a qual  a  jurisdição  foi  provocada,  o
Código  estabelece  particularidades  procedimentais  tendo  em  vista  o  objetivo  da
atuação do Estado­Juiz. Essas particularidades definem o que se denomina processo
de conhecimento e de execução. Se o objetivo da parte é o acertamento do direito, a
jurisdição atuará segundo um dos procedimentos (comum ou especial) que compõem
o processo  de  conhecimento.  Se  o  fim  almejado  pela  parte  é  compelir  o  vencido  a
cumprir uma obrigação pactuada, deve­se utilizar um dos vários procedimentos que
integram o processo de execução.
Para entendermos a dinâmica do processo de execução, que é o objeto específico
deste ponto, vamos estabelecer um paralelo entre o processo de conhecimento e o de
execução.
Você, na qualidade de advogado, foi procurado por um cliente que lhe narrou ter
emprestado  a  quantia  de  R$  10.000,00  (dez  mil  reais)  a  uma  pessoa,  e  esta  não
honrou o compromisso na data aprazada. A única prova do crédito é uma declaração
1207 
feita pelo devedor no verso de um cartão de visita.
Você  sabe  que  o  documento  exibido  pelo  cliente  não  constitui  título  executivo
extrajudicial  (art.  784),  muito  menos  judicial,  o  que  o  obrigará  a  buscar
judicialmente  o  acertamento,  a  definição  do  direito  do  credor.  Para  tanto,  propõe
ação de conhecimento que segue o trâmite do procedimento comum.
De  modo  geral,  distribuída  a  petição  inicial,  seguem­se  a  citação  do  réu,  a
contestação, a produção de provas e a sentença. Proferida a sentença, pode o vencido
se conformar ou interpor recurso.
Acertado  o  direito  por meio  do  processo  de  conhecimento  e  não  cumprindo  o
devedor  voluntariamente  a  obrigação  que  lhe  foi  imposta,  a  atuação  jurisdicional
prossegue  no  sentido  de  efetivar  o  que  restou  decidido  na  sentença,  sem  que  para
tanto tenha que se instaurar o processo executivo. Todos os atos procedimentais (da
petição  inicial  ao  cumprimento  da  sentença)  desenvolvem­se  numa mesma  relação
processual, ou seja, dentro do processo de conhecimento.
Agora, suponha que o seu cliente, em vez de uma mera declaração, inserta num
cartão de visita,  tenha­lhe  exibido um contrato,  subscrito  pela  pessoa que  tomou o
empréstimo e duas  testemunhas. Embora do contrato conste a obrigação de pagar a
quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais) no dia 20 de dezembro de 2014, o devedor
não adimpliu a obrigação.
Vê­se  que  esse  contrato,  ao  contrário  da  simples  declaração,  contém  todos  os
requisitos necessários para caracterizá­lo como título executivo extrajudicial. Trata­
se  de  título  quecontém os  requisitos  da  certeza,  liquidez  e  tipicidade  (previsão  no
art. 784, II, como título executivo extrajudicial).
Ora,  a  existência  do  título  executivo  extrajudicial,  somada  à  exigibilidade
(inadimplemento) da obrigação, habilita o credor a manejar o processo de execução
previsto no Livro II da Parte Especial do CPC/2015. Nesse caso, porque o direito já
se encontra acertado por meio do título, desnecessária é a atividade cognitiva do juiz,
por meio do processo de conhecimento. Assim, o processo (de execução) instaurado
com vistas à satisfação do crédito fica mais encurtado.
Em vez de ajuizar ação de conhecimento, na qual se requer a citação do réu para
se  defender  e,  ao  final,  a  condenação  deste  (em  sentença)  a  pagar  a  importância
devida, o credor que detém título executivo parte logo para a execução.
No processo executivo, a atividade  jurisdicional  restringe­se a atos necessários
à  satisfação  do  direito  do  credor  e,  consequentemente,  a  compelir  o  devedor  a
adimplir  a  obrigação,  seja  de  pagar  quantia,  de  entregar  coisa,  de  fazer  ou  de  não
1208 
2.
fazer.
No  exemplo  dado,  o  devedor  é  citado  para,  no  prazo  de  três  dias,  pagar  a
quantia  de  R$  10.000,00  (dez  mil  reais),  mais  juros,  correção  monetária  e
honorários do advogado do exequente (art. 829). Não efetivando o pagamento, afora
a  hipótese  de  desconstituição  do  título  por  meio  de  embargos  à  execução,  a
jurisdição  vai  atuar  no  sentido  de  excutir  bens  do  devedor  a  fim  de  efetivar  o
pagamento ao credor.
Nas Partes II e III discorremos sobre o processo de conhecimento, ministrando
subsídios  que  permitem  provocar  a  jurisdição  com  vistas  a  obter  uma  declaração,
condenação  ou  constitutividade  acerca  do  direito  da  parte.  Vamos  agora  discorrer
sobre  as  peculiaridades  do  processo  de  execução,  o  qual  contempla  diversos
procedimentos, todos caracterizados por um fim: obter judicialmente a satisfação do
direito  constante  do  título  extrajudicial  e  de  alguns  títulos  que,  não  obstante
originarem­se  de  declaração  judicial,  ainda  devem  ser  executados  em  processo
autônomo.
TUTELA EXECUTIVA
A tutela executiva busca a satisfação ou realização de um direito já acertado ou
definido  em  título  judicial  ou  extrajudicial,  com  vistas  à  eliminação  de  uma  crise
jurídica de adimplemento. Consiste, dessa maneira, “na atuação de um direito a uma
prestação, ou seja, na atuação de uma conduta prática do devedor”.1
Impende  ressaltar  que  essa  espécie  de  tutela  jurisdicional  exercida  mediante
execução forçada atua unicamente em favor do credor, diferentemente, portanto, do
que  ocorre  com  as  tutelas  cognitiva  e  provisória,  que  podem  ser  concedidas  em
benefício do autor ou do réu. Assim, não há como admitir que a execução tenha fim
com  a  satisfação  de  um  direito  do  executado;  o  máximo  que  pode  ocorrer  é  a
extinção  do  processo  executivo  por  causas  anômalas,  tais  como  a  ausência  de
1209 
pressuposto processual ou de renúncia ao crédito pelo exequente, entre outras.
Por  ser  exercida  exclusivamente  em  prol  do  exequente,  poder­se­ia  esperar  da
tutela executiva uma eficácia total, consistente na produção inequívoca e  inafastável
dos  resultados  satisfativos  almejados.  Ocorre  que,  como  lembra  Cândido  Rangel
Dinamarco,  existem  “certos  óbices  legítimos  e  ilegítimos  que  os  princípios  e  a
própria  vida  antepõem  à  plenitude  da  tutela  jurisdicional  executiva”,  reduzindo
“legitimamente a potencialidade satisfativa da execução forçada”.2
Os limites ou óbices à potencialidade satisfativa da tutela jurisdicional executiva
podem ser de natureza política ou física.
Por  questões  políticas,  em  regra  a  execução  não  incide  sobre  a  pessoa  do
devedor,  não  se  admitindo,  portanto,  a  prisão  por  dívida,  salvo  nos  casos  de
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia (art. 5º, LXVII, da
CF).
O patrimônio do devedor, em alguns casos, também representa óbice legítimo à
ampla atuação da execução  forçada, pois  existem certos bens  indispensáveis  à vida
digna do executado que não podem ser objeto de penhora, sob pena de se frustrarem
direitos fundamentais em prol de direitos patrimoniais do credor. Por fim, embora a
satisfação do crédito exequendo não deva ceder perante atitudes protelatórias do mau
pagador, não se pode alcançar tal objetivo a todo custo. Também na execução faz­se
necessária a observância do devido processo legal, devendo os meios processuais ser
empregados, quando possível, do modo menos gravoso ao devedor (art. 805).
Quanto aos  limites físicos ou naturais à  tutela executiva, pode­se citar, à guisa
de  exemplo,  a  ausência  de  bens  penhoráveis,  que  implica  a  suspensão do processo
(art. 921, III) e a perda ou destruição da coisa devida pelo obrigado, que importa na
conversão da obrigação em perdas  e danos  (arts.  499, caput,  e  809). A  eficácia  da
tutela  executiva  também  pode  ser  restringida  pela  vontade  do  devedor,  que,  por
exemplo,  se  recusa  a  cumprir  aquilo  que  se  obrigou  a  fazer,  o  que  permite  a
conversão da obrigação em pecúnia (arts. 499, 816 e 821).
Voltando  ao  tema da menor onerosidade da  execução,  cumpre  salientar  que  se
trata  de  princípio  que  ao  longo  dos  anos  teve  sua  aplicação  significativamente
ampliada, de modo a conferir proteção substancial ao devedor. Tanto é assim que o
CPC/1973 e o Novo CPC, a par dos arts. 620 (CPC/1973) e 805 (CPC/2015), que
positivam  genericamente  o  princípio  em  comento,  estabelecem  algumas  hipóteses
específicas a respeito da realização da execução do modo menos oneroso possível ao
devedor,  tais  como  a  preferência  da  adjudicação  como  meio  de  expropriação  (art.
1210 
647,  I,  do CPC/1973;  art.  825,  I,  do CPC/2015)  e  a  possibilidade de  alienação de
parte  do  imóvel  penhorado,  quando  este  for  passível  de  divisão  e  uma  fração  for
suficiente para pagar o credor (art. 702 do CPC/1973; art. 894 do CPC/2015).
Deve­se  ter  em  mente,  contudo,  que  o  princípio  da  menor  onerosidade  ao
devedor  deve  ser  aplicado  harmonicamente  com  o  princípio  da  efetividade  da
execução.  O  fim  da  execução  consiste,  antes  de  tudo,  na  satisfação  do  direito  do
credor.  Como  freio  ou  limite  a  essa  finalidade,  aplica­se  o  princípio  da  menor
onerosidade, de forma a impedir que direitos patrimoniais assolem direitos de maior
significância,  como  é  o  caso  da  dignidade  da  pessoa  humana  (art.  1º,  III,  da CF).
Há,  porém,  um  limite  também  ao  princípio  da menor  onerosidade,  cuja  incidência
não pode servir de amparo a calotes de maus pagadores.
Em síntese, “é preciso distinguir entre o devedor infeliz e de boa­fé, que vai ao
desastre  patrimonial  em  razão  de  involuntárias  circunstâncias  da  via,  e  o  caloteiro
chicanista,  que  se  vale  das  formas  do  processo  executivo  e  da  benevolência  dos
juízes  como  instrumento  a  serviço  de  suas  falcatruas.  Infelizmente,  essas  práticas
são  cada  vez  mais  frequentes  nos  dias  de  hoje,  quando  raramente  se  vê  uma
execução civil chegar ao fim, com a satisfação do credor. Quando não houver meios
mais amenos para o executado, capazes de conduzir à satisfação do credor, que se
apliquem os mais severos”.3
O  Novo  Código  de  Processo  Civil,  atento  à  necessidade  de  se  criarem
mecanismos para minimizar os conflitos entre o princípio da efetividade da execução
e  o  da  menor  onerosidade  ao  devedor,  promoveu  algumas  alterações  no
procedimento  executivo. O  art.  805,  por  exemplo  –  correspondente  ao  art.  620  do
CPC/1973  –,  traz,  em  seu  parágrafo  único,  regra  destinada  ao  executado  que
eventualmente alegar maior gravosidade da medida executiva. Eis os termos:
Art. 805. […]
Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medidaexecutiva mais gravosa incumbe
indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos
executivos já determinados.
A  inclusão  do  disposto  no  parágrafo  único  suaviza  a  aplicabilidade  desse
princípio  e,  ao  mesmo  tempo,  valoriza  a  efetividade  da  execução.  Isso  porque,
apesar de o legislador possibilitar a substituição da medida executiva mais gravosa,
determina  que  o  próprio  executado  (devedor)  indique  meio  equivalente  para  a
satisfação  do  crédito.  Em  suma,  não  há mais  espaço  para  alegações  sem  a  devida
indicação da medida igualmente eficaz à efetivação do direito do credor.
1211 
3.
JURISPRUDÊNCIA TEMÁTICA
Os princípios da efetividade da execução e da menor onerosidade ao devedor
“Agravo  regimental  no  agravo.  Penhora  em  dinheiro.  Princípio  da  menor  onerosidade.
Ofensa.  Não  ocorrência.  Verbete  83  da  Súmula  do  STJ.  Verificação.  Reexame  fático
probatório.  Enunciado  7  da  Súmula  do  STJ. Não  provimento.  1. A  jurisprudência  desta
Corte  tem  admitido  que  a  penhora  sobre  dinheiro  não  acarreta  ofensa  ao  princípio  da
menor  onerosidade  para  o  devedor.  Precedentes.  2.  O  Tribunal  de  origem  julgou  nos
moldes da  jurisprudência pacífica desta Corte.  Incidente o Enunciado 83 da Súmula do
STJ. 3. A análise das alegações quanto à maior ou menor onerosidade da execução impõe
sejam feitas incursões no conjunto fático­probatório dos autos. Aplicação do verbete 7 da
Súmula/STJ.  4.  Agravo  regimental  a  que  se  nega  provimento”  (STJ,  AgRg  no  AREsp
345.294/MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 19.09.2013).
“Direito  processual  civil.  Possibilidade  de  penhora  sobre  honorários  advocatícios.
Excepcionalmente é possível penhorar parte dos honorários advocatícios – contratuais ou
sucumbenciais  –  quando  a  verba  devida  ao  advogado  ultrapassar  o  razoável  para  o  seu
sustento e de sua  família. Com efeito,  toda verba que ostente natureza alimentar e que
seja destinada ao sustento do devedor e de sua família – como os honorários advocatícios
–  é  impenhorável.  Entretanto,  a  regra  disposta  no  art.  649,  IV,  do  CPC  não  pode  ser
interpretada  de  forma  literal.  Em  determinadas  circunstâncias,  é  possível  a  sua
relativização,  como  ocorre  nos  casos  em  que  os  honorários  advocatícios  recebidos  em
montantes  exorbitantes  ultrapassam  os  valores  que  seriam  considerados  razoáveis  para
sustento próprio e de sua família. Ademais, o princípio da menor onerosidade do devedor,
insculpido no  art.  620 do CPC,  tem de  estar  em equilíbrio  com a  satisfação do  credor,
sendo  indevida  sua  aplicação  de  forma  abstrata  e  presumida.  Precedente  citado:  REsp
1.356.404­DF,  Quarta  Turma,  DJe  23/8/2013”  (STJ,  REsp  1.264.358/SC,  Rel.  Min.
Humberto Martins, j. 25.11.2014).4
COMPETÊNCIA PARA A EXECUÇÃO
Dispunha  o  art.  576  do  CPC/1973  que  a  execução  fundada  em  título
extrajudicial  seria  processada  perante  o  juízo  competente,  conforme  determinado
pelas  regras  relativas  ao  processo  de  conhecimento.  A  jurisprudência,  então,  com
fundamento no art. 100,  IV, “d”, do CPC/1973, estabeleceu que o  foro competente
para  a  execução  de  título  extrajudicial  era  o  do  lugar  do  pagamento  do  título.  O
exequente poderia, no entanto, optar pelo  foro de eleição ou pelo  foro de domicílio
do réu.5
De acordo com o Novo Código, a depender da situação, a execução poderá ser
1212 
•
a)
b)
c)
d)
•
a)
b)
c)
3.1
proposta em locais diversos daqueles previstos no Código de 1973. Veja (art. 781):
Regras gerais: o exequente poderá propor a ação em qualquer dos seguintes
foros:
de domicílio do executado;
de eleição;
de situação dos bens sujeitos à execução;
do  lugar  em  que  se  praticou  o  ato  ou  em  que  ocorreu  o  fato  que  deu
origem ao título, mesmo que nele não resida o executado.
Especificidades:
devedor  com  mais  de  um  domicílio:  a  ação  pode  ser  proposta  em
qualquer deles;
devedor com domicílio incerto: a ação pode ser proposta no local em que
ele for encontrado ou do domicílio do exequente;
pluralidade  de  devedores  com  domicílios  distintos:  o  exequente  pode
escolher o foro de domicílio de qualquer um deles.
O CPC/2015 não estabelece nenhuma ordem de preferência, podendo a execução
ser promovida no foro que melhor atenda aos interesses do exequente.
Modificação ou prorrogação da competência
Dá­se  o  nome  de  modificação  ou  prorrogação  da  competência  ao  fenômeno
processual que consiste em atribuir competência a um juízo que originariamente não
a possuía.
A distribuição do serviço judiciário entre os diversos órgãos, ou seja, a fixação
da  competência,  é  feita  tendo  em vista o  interesse público ou o privado. Quando a
atribuição de competência é determinada pelo  interesse privado, em geral, pode ser
modificada, ocorrendo, então, o que se denomina prorrogação da competência.
A  competência  será  relativa,  ou  seja,  passível  de modificação  ou  prorrogação,
quando  determinada  em  razão  do  território  ou  do  valor  da  causa.  Será  absoluta,
imodificável, quando  fixada em  razão da matéria, da pessoa e do critério  funcional
(incluindo­se a competência hierárquica).
Tratando­se de  títulos executivos extrajudiciais, pode ocorrer a prorrogação da
competência executiva, porquanto fixada, em maior ou menor grau, pelo critério da
1213 
3.2
territorialidade.
Sendo  possível  a  prorrogação  da  competência  executiva,  pode  ela  ocorrer  por
disposição  legal, nas hipóteses de conexão (art. 54) ou por vontade das partes, que
podem eleger foro (art. 63) ou deixar de alegar a incompetência relativa (art. 65).
Imagine­se,  por  exemplo,  situação  em  que,  em  um  único  processo  executivo,
reúnam­se obrigações que deveriam ser cumpridas em lugares diversos. Escolhendo
o  credor  um  dos  foros  competentes  para  processamento  da  demanda  executiva,
prorroga­se  a  competência  de  tal  foro  de  modo  a  alcançar  a  execução  das  demais
obrigações que deveriam ser realizadas em outros foros. Trata­se da prorrogação por
conexidade.
No caso de o título exequendo conter cláusula eletiva de foro diverso daquele de
regra  competente  para  processar  a  execução,  também  ocorre  a  modificação  da
competência,  desde  que,  obviamente,  a  demanda  executiva  seja  proposta  no  foro
escolhido contratualmente.
A  eleição  de  foro  não  deve  ser  confundida  com  a  indicação,  em  títulos  de
crédito, da praça de pagamento da cambial. É que, neste último caso, a indicação do
local de cumprimento da obrigação é efetuada com base em disposições  legais, não
se tratando, portanto, de ato de livre escolha de foro diverso do previsto legalmente.
Dessa  maneira,  não  há  que  falar  em  prorrogação  ou  modificação  de  competência
quanto à indicação de praça de pagamento em títulos de crédito.
Prevenção do juízo executivo
Prevenção  significa  definição  prévia  de  competência  de  determinado  órgão
jurisdicional  (vara  ou  tribunal)  em  razão  de  circunstâncias  relativas  à  demanda  ou
recurso anteriormente a ele distribuído.
Suas  consequências práticas  são  as  seguintes:  define o  juízo para o qual  serão
distribuídas, por dependência, novas ações, unidas à demanda anteriormente ajuizada
por  um  dos  vínculos  previstos  no  art.  286;  determina  o  juízo  que  terá  sua
competência prorrogada em razão da conexão ou continência. Assim, proposta ação
executiva em determinado juízo e ocorrida a prevenção, será ele competente para os
atos  executivos  em  geral,  bem  como  para  processar  e  julgar  outras  demandas
vinculadas  à  execução  por  uma  das  hipóteses  descritas  no  art.  286,  tais  como
embargos à execução e embargos de terceiro.
Pois  bem.  O  registro  ou  a  distribuição  da  demanda  executiva  determinará  o
juízo  prevento  (art.  59).  Ambos  os  atos  (registro  e  distribuição)  referem­se  ao
1214 
3.33.4
momento do ajuizamento  (do protocolo). No processo  físico, procede­se à seguinte
sequência  de  atos:  distribuição,  registro  e  autuação.  No  processo  virtual,  a  parte
procede  ao  ajuizamento,  que  gera  um  registro  no  sistema;  a  distribuição  é  feita
automaticamente.  Vale  ressalvar  que  a  prevenção  do  juízo  da  execução  não  tem  o
condão  de  alcançar  atos  constritivos  a  serem  efetuados  em outro  foro  ou  comarca,
exceto quando  se  tratar  de  comarcas  contíguas,  de  fácil  comunicação,  e  nas que  se
situem na mesma região metropolitana (art. 782, § 1º)6.
Declaração de incompetência na execução
Na  execução  de  títulos  extrajudicial,  a  incompetência  absoluta  ou  relativa  do
juízo da execução deve ser alegada em sede de embargos (art. 917, V).
No que diz respeito à incompetência absoluta, pode­se citar, à guisa de exemplo,
situação na qual a demanda executiva seja ajuizada contra a União Federal na Justiça
estadual,  em desrespeito,  portanto,  ao  art.  109,  I,  da CF/1988. Poderá o  executado
arguir  a  incompetência  absoluta  nos  embargos  à  execução  ou  mesmo  por  simples
petição em qualquer momento, nos termos do art. 64, § 1º.
Tratando­se  de  incompetência  relativa,  decorrido  o  prazo  sem  alegação  do
executado, tem­se o fenômeno da prorrogação da competência.
Conflito de competência na execução
Tal  como  no  processo  de  conhecimento,  pode  surgir  na  execução  conflito  de
competência entre juízes. Verificando­se tal ocorrência, aplicam­se, com fundamento
no art. 771, as normas do processo de conhecimento sobre conflito de competência,
razão pela qual remetemos o leitor ao item 9, Capítulo VI, Parte I, desta obra.
JURISPRUDÊNCIA TEMÁTICA
Conflito de competência na execução
“Conflito  de  competência.  Processo  civil.  Execução  de  sentença  proferida  pela  Justiça
Estadual.  Art.  575,  II,  do  CPC.  Intervenção  da  União  no  feito.  Deslocamento  da
competência para a Justiça Federal.
1. Estatui o art. 575, II, do CPC que a competência para conhecer de execução fundada em
título judicial é do Juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição. 2. Todavia,
depreende­se que a intervenção da União no feito executivo, como sucessora processual da
1215 
4.
extinta RFFSA (Rede Ferroviária Federal S/A), enseja o deslocamento da competência
para a Justiça Federal (art. 109, I, da Constituição da República). 3. Conflito conhecido
para  declarar  a  competência  do  Juízo  Federal  da  3ª  Vara  e  Juizado  Especial
Previdenciário  de Santo Ângelo  –  SJ/RS,  o  suscitante”  (STJ, CC 54.762/RS,  1ª  Seção,
Rel. Min. Eliana Calmon, j. 14.03.2007, DJU 09.04.2007, p. 219).
“Conflito negativo de competência. Execução. Carta precatória. Embargos de terceiro.
1. O pedido de  retenção por benfeitorias contém discussão ampla, envolvendo a própria
ordem, do Juízo deprecante, de apreensão do bem, ao final, adjudicado. Embora o Juízo
deprecado  tenha praticado atos decisórios,  a determinação quanto  à  constrição do bem,
sobre o qual se pretende a retenção por benfeitorias, partiu do Juízo deprecante, suscitante.
Nessa  hipótese,  a  análise  de  questões  relativas  à  retenção  de  benfeitorias  no  imóvel
adjudicado compete ao  Juízo deprecante, mormente porque o  Juiz Estadual,  ao cumprir
carta  precatória  expedida  por  Juiz  Federal,  não  age  investido  de  jurisdição  federal.  2.
Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 1ª Vara de Criciúma –
SJ/SC”  (STJ,  CC  54.682/SC,  2ª  Seção,  Rel.  Min.  Carlos  Alberto  Menezes  Direito,  j.
22.11.2006, DJU 01.02.2007, p. 390).
A AÇÃO DE EXECUÇÃO
A ação constitui o direito a um pronunciamento estatal que solucione o  litígio,
fazendo  desaparecer  a  incerteza  ou  a  insegurança  oriunda  do  conflito  de  interesses
submetido à apreciação do Judiciário. Pouco importa a solução dada pelo juiz; o que
interessa unicamente é o provimento jurisdicional acerca da lide.
Na execução, o  conceito de  ação mantém os mesmos atributos,  isto  é,  trata­se
de  direito  público  subjetivo,  autônomo  e  abstrato,  porém  destinado  não  ao
acertamento da lide, mas sim à satisfação do direito de crédito já acertado em título
executivo. Direito  público  porque  se  dirige  contra  o Estado­juiz;  subjetivo,  porque
se faculta ao lesado, em seu direito, pedir a manifestação do Estado para provocar a
realização  do  direito  de  crédito,  por  atos  de  coerção  e  sub­rogação;  autônomo  e
abstrato,  devido  à  circunstância  de  não  ter  sua  existência  vinculada  à  do  direito
material.
Também  a  ação  de  execução  subordina­se  à  existência  de  requisitos  para  seu
legítimo  exercício  (interesse  processual  e  legitimidade  ad  causam),  as  quais,
todavia,  sofrem  tratamento  diferenciado  em  razão  das  peculiaridades  do  processo
executivo. É que, nessa modalidade de processo, não há que  falar  em  resolução de
mérito, haja vista que a execução forçada tem por escopo a prática de atos tendentes
à  satisfação  do  direito  de  crédito  já  definido  em  título  executivo.  Não  há,  pois,
1216 
4.1
solução de conflito de interesses ou acertamento de lide, mas tão somente realização
de direito;  por  conseguinte,  eventual  ausência de  interesse ou  legitimidade  levará  à
simples  extinção  do  processo  executivo  –  não  sendo  cabível,  frise­se,  a  distinção
entre extinção com ou sem resolução do mérito.
A par disso, a  legitimidade e o  interesse de agir  (art. 17) serão analisados sob
uma ótica diferenciada, visto que o provimento final, como aludido, é a realização do
direito  de  crédito  consubstanciado  em  título  executivo.  A  utilidade  do  provimento
postulado, por exemplo, que manifesta uma faceta do interesse de agir, evidencia­se
pela exigibilidade do crédito exequendo; vale dizer, se o crédito é inexigível, não há
interesse para o processo de execução que legitime a ação executiva.
Delimitado o conceito de ação executiva, que,  como dito,  consiste no direito a
um  pronunciamento  estatal  destinado  à  satisfação  do  direito  de  crédito  já  acertado
em título executivo, solucionando uma crise jurídica de adimplemento, cumpre tratar
com maiores minúcias do tema dos requisitos processuais da ação executiva.
Requisitos processuais da ação executiva
Para  parte  da  doutrina,  a  ação  executiva  não  se  submete  a  qualquer  condição.7
Contudo,  sempre  preferimos  seguir  a  linha  da  admissibilidade  das  “condições  da
ação”8  também  no  que  diz  respeito  à  ação  executiva,  entendidas,  todavia,  como
requisitos  para  o  provimento  final,  conforme  destacamos  na  primeira  parte  desta
obra e tendo em vista as modificações trazidas pelo CPC/2015.
Sendo assim, submete­se o  legítimo exercício do direito de ação executiva aos
mesmos  requisitos  do  processo  de  conhecimento,  a  saber:  a  legitimidade  e  o
interesse  de  agir,  que  devem  ser  identificados  com  os  elementos  da  demanda
executiva.
Os  elementos  da  demanda  executiva  são  a  causa  de  pedir  (inadimplemento),  o
pedido  (execução  de  um  fazer,  de  um  não  fazer,  de  entregar  coisa  ou  de  pagar
quantia)  e  as  partes  (exequente  e  executado). Os  requisitos  da  ação  executiva,  por
conseguinte, consistem em mero reflexo dos elementos citados.
No  que  tange  ao  interesse  de  agir  na  execução,  podem­se  identificar  tais
requisitos  de  duas  maneiras  diversas.  Sob  o  prisma  da  necessidade­utilidade  do
provimento  executivo,  consiste  o  interesse  de  agir  na  exigibilidade  do  crédito
exequendo,  que  se  faz  presente  quando  verificado  o  inadimplemento  pelo  devedor;
ausente  o  inadimplemento,  desnecessária  se  afigura  a  execução.  Sob  a  ótica  da
adequação  da  via  eleita,  deve  o  procedimento  executivo  ser  escolhido  quando  se
1217 
4.1.1
buscar  a  realização  de  direito  consubstanciado  em  título  judicial  ou  extrajudicial
tipificado  em  lei;  valedizer,  sem  a  asserção  de  que  a  demanda  se  fundamenta  em
título executivo, poderá ser admissível alguma tutela, mas não a executiva.
Quanto  à  legitimidade  para  a  causa,  vale  dizer  que  a  execução  só  pode  ser
promovida  pelo  credor  ou  pelas  pessoas  legitimadas.  Por  outro  lado,  somente  o
devedor ou quem tenha responsabilidade executiva pode figurar como executado.
Dada  a  importância  do  interesse  de  agir  e  da  legitimidade  para  a  execução,
trataremos de tais temas com maiores detalhes nos subtópicos seguintes.
Legitimidade para a execução
Em  primeiro  lugar,  cumpre  lembrar  que  a  legitimidade  para  a  causa  não  se
confunde  com  a  legitimidade  para  o  processo  (legitimatio  ad  processum).  Esta  se
relaciona  com a  capacidade para  estar  em  juízo,  isto  é,  para praticar  e  receber  atos
processuais de  forma eficaz. O menor de 16 anos  (art. 3º do CC)  tem legitimidade
ad causam para propor ação de execução, mas não  tem legitimidade ad processum,
por não ter capacidade para estar em juízo, devendo ser representado. Acrescente­se
que, em regra, exige­se para o processo a mesma capacidade que se reclama para a
prática dos atos da vida civil.
Os  arts.  778  e  779  tratam  da  legitimidade  ad  causam  ativa  e  passiva  para  o
processo  de  execução.  Este  só  pode  ser  promovido  pelo  credor  ou  pelas  pessoas
legitimadas.  Por  outro  lado,  somente  o  devedor  ou  quem  tenha  responsabilidade
executiva  pode  figurar  como  executado.  Destaque­se  que,  segundo  a  teoria  da
asserção, o que  importa é que o credor afirme possuir direito de crédito – ou estar
autorizado por  lei a postular direito de outrem em nome próprio – consubstanciado
em  título  executivo  em  face  do  devedor  ou  dos  demais  sujeitos  indicados  no  art.
779.
Assim, não se exige que a pertinência com o direito material  seja  real, basta a
mera  afirmação.  Se  o  credor  propõe  execução  argumentando  que  o  crédito
representado no  título executivo  lhe pertence, diz­se que ele é parte  legítima para a
causa; se, porém, argumenta que o crédito pertence a outrem, e, não sendo o caso de
legitimação  extraordinária  ou  sucessiva,  deverá  o  julgador  extinguir  o  processo  de
execução, por ilegitimidade ativa ad causam.
O  mesmo  ocorre  com  relação  ao  polo  passivo.  Suponha­se  que  o  credor  X
proponha  execução narrando  a  existência  de  crédito  em  relação  ao devedor Y, mas
nomeia Z como devedor. O caso é de ilegitimidade passiva ad causam. Ao contrário,
1218 
4.1.2
se  os  fatos  narrados  tiverem  pertinência  com  o  devedor  Y,  ainda  que  este
desconstitua  o  crédito  por  meio  de  embargos  ou  impugnação,  haverá  legitimidade
passiva.
Ressalve­se  por  fim  que,  conforme  a  teoria  da  exposição,  as  partes  somente
seriam legítimas nas situações narradas se provassem sua pertinência subjetiva com
o direito material. Assim, não bastaria a alegação; a legitimidade ad causam somente
poderia ser verificada com a análise do título executivo.
Interesse processual para a execução
Conforme explicado alhures, o interesse de agir na execução pode ser enfocado
conforme  a  necessidade­utilidade  do  provimento  executivo,  que  se  evidencia  pela
exigibilidade do crédito exequendo, ou consoante a adequação da via eleita, quando
se exige a indicação de título judicial ou extrajudicial tipificado em lei.
No que tange à necessidade­utilidade do provimento executivo, cumpre salientar
que  a  exigibilidade ocorrerá quando o  cumprimento da obrigação prevista no  título
executivo  não  se  submeter  a  termo,  condição  ou  qualquer  outra  limitação.  Não
cumprida a obrigação no seu termo ou condição, diz­se que o devedor está em mora.
Na realidade, a mora pode ser ex persona (relativa às obrigações sem termo de
vencimento)  ou  ex  re  (referente  às  obrigações  positivas  e  líquidas  com  termo  de
vencimento, às obrigações provenientes de ato ilícito e às obrigações negativas).
Na  hipótese  de  mora  ex  persona,  em  virtude  da  inexistência  de  termo  de
vencimento,  não  se  pode  falar  em mora  automaticamente  constituída,  motivo  pelo
qual  se  faz  imprescindível  que  o  interessado  promova  a  interpelação,  judicial  ou
extrajudicial daquele que assumiu determinada obrigação (art. 397, parágrafo único,
do CC).
A citação para o processo – executivo ou não –, ainda quando ordenada por juiz
incompetente,  tem  o  efeito  de  suprir  a  falta  de  interpelação  e,  por  conseguinte,
constituir  em mora o devedor  (art. 240). Aliás,  “o executado é  sempre citado para
fazer  alguma  coisa  e  essa  conduta  à  qual  ele  é  exortado  será  sempre  um
adimplemento. Essa é a razão que legitima a outorga legal de efeito interpelatório à
citação  e  que  deve  tranquilizar  os  espíritos  quanto  à  realidade  da  exigência
efetivamente comunicada ao obrigado”.9
Já  no  caso  de  mora  ex  re  prevalece  a  regra  dies  interpellat  pro  homine  –
positivada  no  art.  397,  caput,  do  CC  –,  o  que  significa  que  o  próprio  termo  da
dívida  faz  as  vezes  da  interpelação,  não  sendo  necessária  qualquer  provocação  por
1219 
parte do  interessado na constituição da mora. No caso de obrigação proveniente de
ato ilícito, por exemplo, o devedor incorrerá em mora desde a prática do ato, sendo
desnecessária qualquer providência adicional. O resultado prático para a execução é
que, se promovida antes do vencimento da dívida, faltará interesse de agir ao credor,
ante a inutilidade do provimento executivo.
Contudo,  deve­se  ressalvar  que  a  regra  mencionada  comporta  exceções,
porquanto  há  casos  em  que,  conquanto  se  trate  de  mora  ex  re,  a  completa
configuração da mora depende de prévia  constituição do devedor,  como ocorre nas
obrigações de natureza quesível  (aquelas  em que o  credor deve procurar o devedor
para receber). Conforme leciona Caio Mário da Silva Pereira:
“Mas  esta  regra  [dies  interpellat  pro  homine]  não  deve  ser  levada  ao  extremo  de  ser
tratada  como  absoluta,  pois  há  casos  em  que,  mesmo  então,  é  necessário  interpelar  o
devedor se a execução demanda a prática de atos indeterminados, como por exemplo nas
promessas de compra e venda em que, não obstante o prazo estipulado, o credor terá de
interpelar o devedor, indicar o cartório onde será passada a escritura definitiva, apresentar
documentos  etc.,  sem  o  que  a  mora  não  existe.  Também  deve  alinhar­se  na  rota  das
exceções ao princípio dies interpellat pro homine a natureza quesível da prestação (dívida
quérable ou chiedibile), pois que, se o credor tem a obrigação de vir ou mandar receber, é
claro que não pode o devedor  incidir de pleno direito em mora, e sofrer os seus efeitos,
enquanto não se positivar a atitude do credor, procurando a res debita”.10
Nesses casos, portanto, de mora ex re que não dispensa prévia constituição do
devedor  em  mora,  a  citação  é  obrigatória  para  o  processo  executivo  preencher  o
requisito da exigibilidade da dívida executada.
No que diz  respeito ao  interesse de agir sob a perspectiva da adequação da via
executiva ao provimento postulado, não se aplica a  teoria da asserção, ou  seja,  não
basta afirmar que é detentor do  título, obrigatoriamente há que apresentá­lo,  isto é,
aparelhar a execução com o título executivo.
Pressuposto  processual  ou  “condição  da  ação”  (categoria  abolida  do  novo
Código),  pouco  importa  o  nome  que  se  dê.  O  título  tipificado  em  lei  constitui
requisito  indispensável  para  o  início  e  desenvolvimento  da  atividade  executiva.  A
teoria da asserção, ou seja, a mera afirmação da existência do  título executivo, não
se  aplica  ao  processo  executivo.  É  preciso  comprovar  o  que  atrai  a  aplicação  da
denominada teoria da exposição ou comprovação.
Resumindo: o título executivo constitui pressuposto processual. A consequência
da sua ausência é a extinção do processo executivo.1220 
4.2 Princípios da execução
Como  se  sabe,  à  execução  forçada  aplicam­se  os  mesmos  princípios  do
processo de conhecimento, por exemplo, o devido processo legal, o contraditório e a
isonomia  das  partes.  Entretanto,  é  de  ressaltar  que  existem  princípios  próprios  da
tutela jurisdicional executiva, devendo­se destacar os seguintes:
a) Princípio da patrimonialidade:  como  se  extrai  do  art.  789,  a  execução  será
sempre real, ou seja, incide exclusivamente sobre o patrimônio do executado, e não
sobre sua pessoa. Nos casos de não pagamento injustificado de pensão alimentícia, o
Código prevê a prisão como meio de coerção do devedor (art. 911 c/c o art. 528, §
3º). Mesmo nesses casos, não obstante a possibilidade de prisão, não se pode falar
em  execução  pessoal,  tanto  que  o  cumprimento  da  pena  não  exime  o  devedor  do
pagamento da prestação ou o equivalente em dinheiro (arts. 528, § 5º).
b)  Princípio  da  efetividade  da  execução  ou  do  resultado:  pelo  processo  de
execução  ou  cumprimento  da  sentença  deve­se  assegurar  ao  credor  precisamente
aquilo a que tem ele direito, nada mais, “no resultado mais próximo que se teria caso
não  tivesse  havido  a  transgressão  de  seu  direito”.11  Exemplo  da  aplicação  de  tal
princípio pode ser encontrado no art. 831, caput, segundo o qual “a penhora deverá
recair  sobre  tantos  bens  quantos  bastem para  o  pagamento  do  principal  atualizado,
dos juros, das custas e dos honorários advocatícios”.
Embora  se deva garantir  ao  credor  tudo  aquilo  a  que  tem direito,  nem  sempre
isso se faz possível. Nas obrigações de fazer e não fazer, por exemplo, há um limite
à execução, segundo o qual ninguém pode ser coagido a prestar um fato; vale dizer,
por meio de atos  coercitivos,  impele­se o cumprimento da obrigação pelo devedor,
porém,  inobservada  a  determinação  judicial,  não  pode  o  Estado  compelir
materialmente o devedor à prática ou à abstenção do ato.
Sendo  assim,  admite­se  certo  abrandamento  do  princípio  da  efetividade  da
execução, no sentido de se admitir, excepcionalmente, “a execução genérica, em que
o credor é levado a se contentar com um substitutivo pecuniário, em vez de receber
aquilo  a  que  faria  jus  conforme  os  ditames  do  direito  substancial”.12  Trata­se  da
possibilidade de conversão em perdas e danos nas execuções de obrigações de fazer,
não fazer e entrega de coisa diversa de dinheiro.
c) Princípio da menor onerosidade ao devedor: conquanto a figura do devedor
seja  usualmente  equiparada  à  de  um  vilão,  que  se  furta  de  todas  as  maneiras  ao
1221 
5.
cumprimento  da  obrigação,  nem  sempre  isso  é  verdade. Maus  pagadores  existem,
contudo  não  é  difícil  a  ocorrência  do  inadimplemento  involuntário,  ou  seja,  o
inadimplemento  resultante  do  fracasso  econômico­financeiro  do  devedor,  que
realmente não detém recursos suficientes para cumprir aquilo a que se obrigou.
Em  face dessa  constatação  é  que  se  entende que o processo  executivo deve  se
desenvolver  de  forma  que,  atendendo  especificamente  o  direito  do  credor,  seja
menos oneroso e prejudicial ao devedor.
Tal  princípio  encontra­se  consubstanciado  no  art.  805,  tratando­se  de
desdobramento  do  princípio  da  proporcionalidade.  Exemplo  de  aplicação  da menor
onerosidade ao devedor é a proibição da arrematação de seus bens por preço vil, nos
termos do art. 891.
d)  Princípio  da  disponibilidade  da  execução:  o  credor  não  está  obrigado  a
promover a execução do crédito do qual é  titular e, uma vez  instaurado o processo
executivo, pode “desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva”
(art.  775),  mesmo  após  a  oposição  de  embargos  pelo  devedor  (executado),
independentemente  da  aquiescência  deste.  A  desistência  da  execução  terá  efeitos
distintos  nos  embargos,  a  depender  da  matéria  tratada  pelo  devedor.  Se  versarem
unicamente sobre questões de natureza processual, a extinção da execução implicará
a  extinção  dos  embargos,  arcando  o  credor  com  as  custas  e  os  honorários
advocatícios  (art.  775,  parágrafo  único,  I).  Quando,  porém,  cuidarem  de  questões
relativas  ao  direito  material,  ou  seja,  à  própria  relação  creditícia,  embora  possa  o
exequente  dispor  da  execução,  a  extinção  dos  embargos  dependerá  da  aquiescência
do devedor  (art.  775,  parágrafo  único,  II),  à  semelhança do que ocorre  no  caso de
desistência da ação principal  e  a  subsistência da contestação e/ou  reconvenção  (art.
343, § 2º). Nesse sentido é a lição de Pontes de Miranda:
“Se  o  devedor  já  opôs  os  embargos,  houve  outra  ação  (embargos  do  devedor  são  ação),
seria  e  é  de  afastar­se  que  se  extinga  a  contra­ação  pela  extinção  da  ação. Há  a  regra
jurídica, que serve à analogia: a do art. 317,13 onde se diz que ‘a desistência da ação, ou a
existência  de  qualquer  causa  que  a  extinga,  não  obsta  ao  prosseguimento  da
reconvenção’”.
REQUISITOS OU PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS DA
EXECUÇÃO
A natureza do processo,  já  frisamos, é de  relação  jurídica de direito público, a
1222 
5.1
qual  se  estabelece  por  intermédio  de  atos  processuais,  principalmente  pela  petição
apta  e  citação  válida. Aliás,  do  ponto  de  vista  estático,  o  processo  nada mais  é  do
que uma relação jurídica de direito processual; porém, sob um enfoque dinâmico, o
processo  é  constituído  por  uma  série  de  atos  processuais,  que  constituem  espécies
dos atos jurídicos.
Ora,  sendo  o  processo  formado  por  uma  série  de  atos  jurídicos  (atos
processuais), nada mais evidente que sua instauração ou desenvolvimento válido seja
condicionado a certos requisitos, que, em última análise, são os mesmos requisitos
de validade do ato jurídico, isto é, agente capaz, objeto lícito, possível, determinado
ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei (art. 104 do CC).
No  Direito  Processual,  a  tais  requisitos  dá­se  o  nome  de  pressupostos
processuais, elementos necessários para a constituição e o desenvolvimento  regular
do processo. O processo executivo, a par dos pressupostos comuns ao processo de
conhecimento,  possui  pressupostos  específicos  de  constituição  e  desenvolvimento.
Vejamos, então, primeiramente, os requisitos comuns ao processo de conhecimento,
para,  depois,  analisar mais detidamente os pressupostos processuais  específicos da
execução.
Pressupostos do processo executivo comuns aos do processo
de conhecimento
Os pressupostos de instauração e desenvolvimento regular do processo refletem
os  requisitos  de  validade  do  ato  jurídico,  quer  na  execução,  quer  no  processo  de
conhecimento.  Sendo  assim,  haverá  pressupostos  subjetivos,  atinentes  aos  agentes
processuais, e objetivos, que aludem ao objeto e à forma do processo.
Com  relação  à  capacidade do agente,  é  de  se  lembrar  que o processo  constitui
uma  relação  trilateral,  que  se  desenvolve  entre  autor  (exequente),  juízo  (órgão
jurisdicional)  e  réu  (executado),  que  são  os  sujeitos  (ou  agentes)  da  relação
processual. Assim, a capacidade deve ser verificada com relação a todos eles.
No  que  tange  ao  juízo,  deve  ser  competente,  isto  é,  ter  atribuição  legal  para
julgar a causa, e  também não pode pender contra os agentes que o  integram (juiz e
escrivão, entre outros), fato que os tornem impedidos ou suspeitos (arts. 144 e 145).
No que respeita às partes, devem ter capacidade processual (art. 70) ou estarem
representadas  ou  assistidas  por  seus  representantes  legais.  Indispensável  também
que a causa seja patrocinada por advogado, salvo os casos expressos em lei.14 Fala­
1223 
5.2
se, portanto, em tríplice capacidade, isto é, capacidade de ser parte, de estar em juízo
e postulatória.
Afora os pressupostos subjetivos (que dizem respeito aos sujeitos do processo),
a  constituição  e  o  desenvolvimento  válidos  subordinam­seainda  a  pressupostos
processuais  objetivos,  que  se  relacionam  com  a  forma  procedimental  e  com  a
ausência de  fatos que  impeçam a  regular constituição do processo. São eles:  forma
procedimental  adequada,  inexistência  de  litispendência,  de  coisa  julgada  e  petição
apta (não inepta). Sem muito rigor  técnico, podemos dizer que tais pressupostos se
assemelham ao requisito da forma do negócio jurídico, prevista no art. 104 do CC.
Quanto  ao  requisito  da  licitude  do  objeto,  exigido  pela  norma  civil,  o Direito
Processual  o  contempla  como  pressuposto  processual,  uma  vez  que  o  Código  já
obsta a utilização do processo para fins ilícitos (art. 142).
Pressupostos específicos do processo executivo
A  par  dos  pressupostos  genéricos,  presentes  tanto  na  execução  quanto  no
processo de conhecimento, podem­se extrair  requisitos ou pressupostos específicos
do processo executivo. O art.  786 arrola os  requisitos ou pressupostos necessários
para promover a execução do  título extrajudicial: o  inadimplemento do devedor e a
existência de título executivo.
Os títulos executivos (judiciais ou extrajudiciais) podem estabelecer obrigações
para  uma  das  partes  ou  para  ambas.  No  primeiro  caso,  vencida  e  não  satisfeita  a
obrigação,  pode  o  credor,  exibindo  o  título,  promover  a  execução.  Todavia,  se  o
título  criou  obrigações  para  ambas  as  partes,  uma  delas  não  pode  proceder  à
execução  antes  de  adimplir  a  contraprestação  (art.  787).  Trata­se  da  aplicação  da
cláusula  exceptio  non  adimpleti  contractus  (exceção  de  contrato  não  cumprido),
inserta em qualquer negócio bilateral, conforme previsão do art. 476 do CC.
Além do  inadimplemento,  a  execução  tem  como pressuposto  a posse do  título
executivo  pelo  credor.  Sem  título  executivo,  ou  seja,  título  previsto  na  lei
(tipicidade) e de obrigação certa, líquida e exigível, não há execução. A ausência de
um dos requisitos conduz à extinção do processo.
O  não  preenchimento  dos  requisitos  para  a  execução  acarreta  a  nulidade  do
processo executivo. A propósito, dispõe o art. 803 que é nula execução se:
I – o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível;
II – o executado não for regularmente citado;
1224 
6.
III – for instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrer termo.
Cumpre acrescentar que no sistema brasileiro todo título executivo tem previsão
na  lei.  Os  títulos  extrajudiciais  estão  previstos  no  art.  784  e  na  legislação
extravagante. Não há título judicial sem o requisito formal da previsão legal, isto é,
da tipicidade.
Além  da  previsão  na  lei,  o  título  extrajudicial,  ou  melhor,  o  crédito  nele
estampado,  deve  ser  certo.  Por  certeza  do  direito  do  exequente  entende­se  a
necessidade de que do título executivo transpareçam todos os seus elementos, como
a natureza da obrigação, seu objeto e seus sujeitos. Dessa forma, diz­se que o título
é certo quando não deixa dúvida acerca da obrigação que deva ser cumprida, quem é
devedor e quem é credor. Tal requisito sofre certa atenuação nos casos de obrigação
de dar coisa incerta e nas obrigações alternativas, uma vez que em tais casos não há
a exata previsão do objeto da prestação.
A liquidez,  a  par  da  tipicidade  e  da  certeza,  também  figura  como  requisito  do
título  executivo  extrajudicial.  A  liquidez  ocorre  quando  o  título  permite,
independentemente de qualquer outra prova, a exata definição do quantum debeatur.
Assim,  deve  o  título  conter  todos  os  elementos  necessários  para  que  se  possa
determinar a quantia a ser paga ou a quantidade da coisa a ser entregue ao titular do
direito.  Tal  determinação  pode  ser  direta  ou  pode  depender  de  meros  cálculos
aritméticos (art. 786, parágrafo único).15
Por  fim,  a  exigibilidade,  que  constitui  requisito  para  se  promover  a  ação
executiva, ocorrerá quando o cumprimento da obrigação prevista no título executivo
não se submeter a termo, condição ou qualquer outra limitação. Exigível é o crédito
se o devedor encontra­se inadimplente.
TÍTULOS EXECUTIVOS
Conforme já salientado, título executivo é o documento previsto na lei como tal
e que representa obrigação certa e líquida, a qual, uma vez inadimplida, possibilita o
manejo da ação executiva (art. 783).
Os  títulos  executivos,  além  de  outros  previstos  na  legislação  especial,  são
apenas os enumerados nos arts. 515 e 784.
Os títulos executivos judiciais são aqueles formados em processo judicial ou em
procedimento arbitral. Tais títulos, em razão de sua posição topográfica no Código,
são tratados na Parte II deste livro, para a qual remetemos o leitor.
1225 
Os  títulos  executivos  extrajudiciais  representam  relações  jurídicas  criadas
independentemente  da  interferência  da  função  jurisdicional  do Estado,  do  processo
de conhecimento; representam direitos acertados pelos particulares.
São  os  seguintes  os  títulos  executivos  extrajudiciais  previstos  no  Código  de
Processo Civil (art. 784):
I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;
Nas  hipóteses  aventadas  neste  inciso,  é  imprescindível  que  a  inicial  da  ação
executiva  seja  instruída  com  o  original  do  título  executivo.  A  jurisprudência,
entretanto, tem admitido a apresentação da cópia da cártula quando comprovado pelo
exequente que o original não está circulando, o que ocorre, por exemplo, quando este
está instruindo outro processo (REsp 712.334). A ausência do original não implica o
automático  indeferimento  da  execução,  devendo  o  juiz  determinar  a  intimação  do
exequente  para  que  este  supra  a  falta  de  documentos  (REsp 924.989). Tratando­se
de  títulos  virtuais/eletrônicos,16  o  STJ  entende  que  os  boletos  de  cobrança  a  eles
vinculados, devidamente acompanhados dos  instrumentos de protesto por  indicação
e dos comprovantes de entrega de mercadoria ou da prestação de serviços, suprem a
ausência  física  do  título  (STJ,  REsp  1.024.691/PR,  Rel.  Min.  Nancy  Andrighi,
julgado em 22.03.2011).
II – a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor;
Qualquer que seja a obrigação (de dar coisa certa, de fazer e de não fazer) que
conste de  tal documento, desde que satisfaça os  requisitos da  liquidez, da certeza e
da exigibilidade, pode ser exigida pela via executiva.
Um  exemplo  do  que  a  lei  chama  de  “outro  documento  público”  é  o  termo  de
acordo de parcelamento subscrito pelo devedor e pela Fazenda Pública.17
III  –  o  documento  particular  assinado  pelo  devedor  e  por  2  (duas)
testemunhas;
No que se refere a esse  título, pertinente observar que o entendimento pacífico
do STJ é no sentido de que as testemunhas podem ser instrumentárias, isto é, podem
assinar o documento em momento posterior ao ato de sua criação. Não se admite, no
entanto, a assinatura de testemunha interessada no negócio jurídico.18
Aqui  também  se  inclui  o  instrumento  de  confissão  de  dívida  firmado  entre
credor e devedor, assinado por duas testemunhas. Nos termos da Súmula nº 300 do
STJ,  ele  constitui  título  executivo  extrajudicial  ainda  que  originário  de  contrato  de
1226 
abertura  de  crédito  (cheque  especial).  Entretanto,  importante  esclarecer  que  o
contrato de abertura de crédito não constitui, por si só, título executivo extrajudicial,
pois trata­se de documento unilateral, desprovido dos requisitos de liquidez, certeza
e exigibilidade.
Interessante notar que o “poder executivo” desse título pode ser invocado ainda
que  no  documento  particular  conste  cláusula  que  determine  a  instituição  de  juízo
arbitral no caso de eventual controvérsia. Transcreve­se o  seguinte excerto do voto
da  Ministra  Nancy  Andrighi  no  REsp  944.917,  que  bem  demonstra  essa
compreensão:
“[…]  Deve­se  admitir  que  a  cláusula  compromissória  possa  conviver  com  a  naturezaexecutiva  do  título.  Não  se  exige  que  todas  as  controvérsias  oriundas  de  um  contrato
sejam  submetidas  à  solução  arbitral. Ademais,  não  é  razoável  exigir  que  o  credor  seja
obrigado  a  iniciar  uma  arbitragem  para  obter  juízo  de  certeza  sobre  uma  confissão  de
dívida que, no seu entender, já consta do título executivo. Além disso, é certo que o árbitro
não  tem  poder  coercitivo  direto,  não  podendo  impor,  contra  a  vontade  do  devedor,
restrições a seu patrimônio, como a penhora, e nem excussão forçada de seus bens”.
Em suma, ainda que possua cláusula compromissória, o contrato assinado pelo
devedor  e  por  duas  testemunhas  pode  ser  levado  a  execução  judicial.  Se,  por
exemplo,  se  tratar  de  contrato  de  confissão  de  dívida  líquida,  certa  e  exigível,
desnecessária é a instituição de juízo arbitral.19
IV  –  o  instrumento  de  transação  referendado  pelo  Ministério  Público,  pela
Defensoria  Pública,  pela  Advocacia  Pública,  pelos  advogados  dos  transatores  ou
por conciliador ou mediador credenciado por tribunal;
O  novo  CPC  acresce  aos  títulos  executivos  extrajudiciais  o  instrumento  de
transação  referendado  por  conciliador  ou  mediador  credenciado  pelo  tribunal,  na
forma regulamentada pelo art. 167 e parágrafos, bem como o acordo referendado por
advogado público. Antes,  somente a chancela do Ministério Público, da Defensoria
Pública ou dos advogados dos transatores tinha esse condão (art. 585, II, parte final,
do  CPC/1973).  Ressalte­se  que,  caso  o  acordo  proveniente  da  autocomposição
extrajudicial  for  homologado  em  juízo,  passará  a  ter  caráter  de  título  executivo
judicial (art. 515, III, do CPC/2015), e não mais de extrajudicial.
V – o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real
de garantia e aquele garantido por caução;
1227 
Hipoteca  é  direito  real  de  garantia  que  recai  sobre  direitos  reais  imobiliários,
incluindo­se  nestes  as  vias  férreas,  os  navios  e  as  aeronaves  (art.  1.473  do  CC).
Pode  ser  convencional,  legal  ou  judicial. Como garantia  de  obrigações  contratuais,
constitui­se por meio de cláusula acessória com a finalidade de garantir a obrigação
pactuada.  Uma  vez  constituída,  sujeita  o  bem  ao  pagamento  da  dívida,
acompanhando­o onde quer que se encontre (direito de sequela).
Penhor, tal como a hipoteca, também é direito real de garantia, que se constitui
por meio de cláusula acessória com a finalidade de garantir uma determinada dívida.
Há, entretanto, algumas diferenças que distinguem os dois institutos. O penhor recai
sobre bem móvel, cuja posse é  transferida ao credor. O penhor pode ser  legal  (art.
1.467  do  CC)  ou  convencional.  No  caso  sob  análise  interessa  apenas  o  penhor
convencional.
Anticrese  é o direito  real  de garantia,  pelo qual  o devedor ou outrem, por  ele,
entrega bem imóvel ao credor, a fim de que este receba os frutos e rendimentos do
bem anticrético para compensação da dívida (art. 1.506 do CC).
Caução  é  termo  genérico  que  significa  garantia.  Temos  caução  real  (hipoteca,
penhor e anticrese) e fidejussória (fiança). Afora as garantias reais  já mencionadas,
interessa  ao  ponto  estudado  a  fiança  formalizada  em  instrumento  público  ou
particular.
Dispensável,  para  eficácia  executiva  do  contrato  de  caução  (real  ou
fidejussória), é a existência de duas testemunhas, a que se refere o inciso III do art.
784.
VI – o contrato de seguro de vida em caso de morte;
Anteriormente  à  alteração  promovida  pela  Lei  nº  11.382/2006,  o  Código  de
1973  contemplava  como  título  executivo  extrajudicial  o  “seguro  de  vida  e  de
acidentes pessoais de que resulte morte ou incapacidade”. Posteriormente, de acordo
a  redação  do  art.  585,  III  –  alterada  pela  referida  lei  –,  o Código  passou  a  prever
como título executivo “o contrato de seguro de vida”.
A jurisprudência e a doutrina tiveram, então, que solucionar a seguinte questão:
o  contrato  de  seguro  de  acidentes  pessoais  de  que  não  resulte  morte,  mas  tão
somente incapacidade, pode embasar ação executiva, ou, ao revés, terá o beneficiário
de  se valer do procedimento  comum? Prevaleceu o  entendimento  segundo o qual o
beneficiário do seguro de acidente cujo sinistro acarretou a morte do segurado tem o
direito  de  exigir  o  pagamento  da  respectiva  indenização  por  meio  da  execução
forçada.
1228 
O  novo  CPC,  alinhando­se  a  esse  entendimento,  esclareceu  que  somente  se
constitui  o  título  executivo  se  do  sinistro  advier  o  evento morte. Nem  poderia  ser
diferente, uma vez que o seguro garante a vida e, portanto, cobre tão somente o risco
morte.  Outros  danos  pessoais  –  como  a  perda  de  um  membro,  por  exemplo  –
dependem de ação de conhecimento.
VII – o crédito decorrente de foro e laudêmio;
Foro, também denominado pensão, é o valor pago anualmente pelo enfiteuta ou
foreiro ao senhorio direto, em decorrência do contrato de enfiteuse, pelo uso, gozo e
disposição do domínio útil da coisa emprazada.
Laudêmio  consiste  na  compensação  devida  pelo  enfiteuta  ao  senhorio  direto
quando  este  não  usar  o  direito  de  preferência  na  aquisição  do  domínio  útil  da
propriedade (art. 683 do CC/1916).
Dá­se a enfiteuse, aforamento, ou emprazamento quando por ato entre vivos, ou
de última vontade, o proprietário atribui a outrem o domínio útil do imóvel (art. 678
do CC/1916).
Nos termos do art. 2.038 do atual CC, fica proibida a constituição de enfiteuses
e subenfiteuses, subordinando­se as existentes, até sua extinção, à disposição do CC
anterior.
A execução deverá ser instruída com o contrato de enfiteuse.
VIII  –  o  crédito,  documentalmente  comprovado,  decorrente  de  aluguel  de
imóvel,  bem  como  de  encargos  acessórios,  tais  como  taxas  e  despesas  de
condomínio;
Aluguel  é  a  quantia  paga  ao  locador,  em  decorrência  do  contrato  de  locação.
Quanto  aos  encargos  acessórios,  referem­se  aos  fixados  no  contrato  como  de
responsabilidade do locatário. Constituem exemplos de tais encargos os impostos, a
taxa de  incêndio, de água e  luz. Essas verbas podem ser cobradas pelo  locador por
meio  de  processo  de  execução,  desde  que  previstas  no  contrato  de  locação,
independentemente da assinatura de duas testemunhas.
IX – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma
da lei;
Trata­se do título que embasa execução fiscal, regulada pela Lei nº 6.830/1980,
à qual dedicaremos um capítulo especial.
1229 
X  –  o  crédito  referente  às  contribuições  ordinárias  ou  extraordinárias  de
condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia
geral, desde que documentalmente comprovadas;
A  possibilidade  de  executar  as  cotas  condominiais  não  estava  expressamente
prevista no CPC/1973, o qual apenas permitia a cobrança dos créditos condominiais
por meio do processo de conhecimento. A tramitação deveria seguir o rito sumário,
nos termos do art. 275, II, “b”, do referido Código.
No CPC/2015 houve uma elevação do status desse crédito. Agora não há mais
necessidade de trilhar o demorado caminho do processo de conhecimento e aguardar
uma  sentença  para,  então,  receber  a  contribuição  destinada  a  cobrir  as  despesas  de
condomínio  (ordinárias  ou  extraordinárias).  Assim,  o  condômino  que  deixar  de
liquidar  as  despesas  de  condomínio  na  proporção  de  suas  frações  ideais  poderá  se
sujeitar  à  execução  forçada  e,  consequentemente,  aos  meios  expropriatórios  dela
decorrentes. Essa ideia já era defendida por alguns doutrinadores, especialmente em
virtude do disposto no art. 72 da Lei nº 11.977/2009:
Art. 72. Nas ações judiciais de cobrança ou execução de cotas de condomínio, de imposto
sobre  a  propriedade  predial  e  territorial  urbanaou  de  outras  obrigações  vinculadas  ou
decorrentes  da  posse  do  imóvel  urbano,  nas  quais  o  responsável  pelo  pagamento  seja  o
possuidor  investido  nos  respectivos  direitos  aquisitivos,  assim  como  o  usufrutuário  ou
outros titulares de direito real de uso, posse ou fruição, será notificado o titular do domínio
pleno ou útil, inclusive o promitente vendedor ou fiduciário.
Para parte da doutrina, ao mencionar execução de quotas de condomínio, a Lei
nº  11.977/2009  teria  atribuído  a  força  executiva  a  esse  tipo  de  crédito,  o  que,
inclusive, seria permitido pelo art. 585, VIII, do CPC/1973.
Apesar  dos  argumentos,  a  interpretação  dominante  sempre  foi  a  de  que  os
créditos  condominiais  deveriam  ser  cobrados  pelo  rito  sumário.  Com  a  reforma
processual de 2015, a ação cognitiva de cobrança dará lugar ao ajuizamento da ação
executiva, desde que as despesas devidas pelo condômino estejam documentalmente
comprovadas.
O documento comprobatório do crédito, ao qual a lei atribui os requisitos que o
caracterizam  como  título  executivo  (certeza,  liquidez  e  taxatividade),  em  regra,  é  a
ata  da  assembleia. O  art.  1.336,  I,  do Código Civil  estabelece  que  é  obrigação  de
cada  condômino  contribuir  para  o  pagamento  das  despesas  condominiais.  Em
assembleia  geral  são  apreciadas  as  despesas  para  conservação  e  manutenção  do
condomínio  no  ano  seguinte  (despesas  ordinárias),  bem  como  os  gastos  com
1230 
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eventuais obras, indenizações ou outras despesas extraordinárias. Excepcionalmente,
pode­se  dispensar  a  realização  de  assembleia  geral  para  se  fixar  a  contribuição
condominial. Por exemplo, quando a convenção de condomínio, a priori, estabelece
um  indexador  para  a  contribuição.  Nesse  caso,  o  título  executivo  será  a  própria
convenção.  Caso  necessário,  os  dois  títulos  (ata  e  convenção)  podem  aparelhar  a
execução.
Ressalte­se  que,  por  força  do  §  1.º  do  novo  art.  833  do CPC/2015,20  os  atos
constritivos da execução de cotas condominiais podem recair sobre o bem imóvel do
devedor, ainda que se trate de bem de família.
XI  –  a  certidão  expedida  por  serventia  notarial  ou  de  registro  relativa  a
valores  de  emolumentos  e  demais  despesas  devidas  pelos  atos  por  ela  praticados,
fixados nas tabelas estabelecidas em lei;
As  certidões  cartorárias  também  terão  força  executiva  sempre  que  dispuserem
acerca  do  valor  dos  emolumentos  e  de  outras  despesas  decorrentes  dos  atos
praticados  por  notários  e  registradores.  A  certidão  deve  ser  detalhada  de  forma  a
permitir a verificação do que deveria ter sido recolhido e não o foi. Trata­se de título
formado unilateralmente, tal como se passa com a certidão de dívida ativa.
XII – todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir
força executiva.
O rol constante no art. 784 é taxativo, ou seja, somente a lei, em sentido estrito,
pode  criar  outros  tipos  de  documentos  dotados  de  força  executiva.  Em  outras
palavras,  o  elenco  dos  títulos  executivos  é  obra  exclusiva  do  legislador,  sendo
vedado  aos  juízes  retocá­lo,  alterá­lo  ou  ampliá­lo.21  Como  exemplos  de
dispositivos legais podemos citar:
O contrato escrito de honorários advocatícios (art. 24 da Lei nº 8.906/1994);
As  decisões  do  Tribunal  de  Contas  de  que  resulte  imputação  de  débito  ou
multa terão eficácia de título executivo (art. 71, § 3º, da CF);
As cédulas de crédito rural (art. 41 do Decreto­lei nº 167/1967);
A cédula de produto rural (art. 10 da Lei nº 8.929/1994);
A cédula de crédito bancário (art. 28 da Lei nº 10.931/2004);
O termo de compromisso de ajustamento de conduta, ao qual se refere o art.
211 da Lei nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente);
O compromisso de cessação de prática antitruste e a decisão do plenário do
1231 
•
•
•
7.
a)
b)
CADE cominando multa ou impondo obrigação de fazer ou não fazer, ambos
previstos na Lei nº 12.529/2011, respectivamente nos arts. 85, § 8º, e 93;
O  Certificado  de  Recebíveis  Imobiliários,  definido  no  art.  6º  da  Lei  nº
9.514/1997;
Os  créditos  dos  órgãos  de  fiscalizações  profissionais  (art.  2º  da  Lei  nº
6.206/1975).
Importante:
Mesmo aquele que possui documento capaz de desencadear atos executivos, poderá optar por
ajuizar processo de conhecimento em detrimento do processo de execução e, assim, obter um
título judicial com fundamento da mesma obrigação (art. 785). Exemplo: credor que possui
cheque ainda não prescrito e opta por cobrar o título por meio de ação de cobrança (processo de
conhecimento), em vez de ação executiva. Nesse caso, não há se falar em ausência de interesse
de agir, pois a própria lei confere ao credor a possibilidade de escolher o procedimento que
melhor lhe convém.
JURISPRUDÊNCIA TEMÁTICA
Súmula  nº  233  do STJ:  “O  contrato  de  abertura  de  crédito,  ainda  que  acompanhado  de
extrato da conta­corrente, não é título executivo”.
Sumula  nº  300  do STJ:  “O  instrumento  de  confissão  de  dívida,  ainda  que  originário  de
contrato de abertura de crédito, constitui título executivo extrajudicial”.
CUMULAÇÃO DE EXECUÇÕES
Nos termos do art. 780, “o exequente pode cumular várias execuções, ainda que
fundadas  em  títulos diferentes,  quando o  executado  for  o mesmo e desde que para
todas elas seja competente o mesmo juízo e idêntico o procedimento”.
Desse modo,  poderá ocorrer  a  cumulação de  execuções,  desde que observados
os seguintes requisitos:
identidade  do  credor  nos  diversos  títulos:  não  se  permite  a  chamada
coligação  de  credores,  ou  seja,  a  reunião  em um  só  processo  de  diferentes
credores com base em diferentes títulos executivos;
identidade  do  devedor:  as  execuções  que  se  pretende  cumular  devem  ser
1232 
c)
d)
8.
dirigidas contra o mesmo devedor;
competência  do  mesmo  juízo  para  todas  as  execuções:  não  se  poderá
cumular,  por  exemplo,  a  execução  de  um  cheque,  cuja  competência  é  da
justiça  estadual  de  primeiro  grau,  com  uma  certidão  de  dívida  ativa  da
Fazenda Nacional, cuja competência, em regra, é da justiça federal;
identidade de procedimento:  os  procedimentos  devem  ser  idênticos  para  as
execuções  cumuladas,  ou  seja,  não  se  pode  cumulativamente  pretender  a
execução de uma obrigação de pagar com outra de não fazer.
A cumulação  indevida de  execuções pode  ser  arguida por meio de  embargos  à
execução ou via exceção de pré­executividade.
ATOS DO PROCESSO EXECUTIVO
Já foi dito que, sob uma perspectiva dinâmica, o processo constitui­se por uma
série  de  atos  processuais,  entre  os  quais  a  petição  inicial,  a  citação,  as  decisões
judiciais, entre inúmeros outros.
Mas quais são os atos típicos do processo executivo?
Para responder tal pergunta, deve­se lembrar que, no processo de conhecimento,
os principais atos processuais são os postulatórios, praticados pelas partes, e os de
pronunciamento (decisórios ou não), praticados pelo juiz. Na execução, a par dessas
espécies  de  atos  processuais,  são  de  inegável  importância  os  atos  de  constrição
judicial,  entendidos  como  aqueles  que  invadem  o  patrimônio  do  devedor  para
assegurar a eficácia da execução, a realização do direito do credor.
Entre os atos postulatórios praticados na execução merecem destaque a petição
ou requerimento  inicial  –  obviamente,  visto  que  o Estado  deve  ser  provocado  para
prestar a tutela executiva – e a indicação de bens à penhora. A rigor, tais atos seriam
suficientes  para  que  o  Estado  desencadeasse  toda  a  atividade  executiva,
impulsionando  o  processo  até  a  satisfação  do  direito  do  exequente.  Todavia,  as
situações vivenciadas em cada caso são mais diversas do que a simples propositura
da  demanda  e  a  indicação  de  bens  para  penhora,  daí  por  que  pode  o  exequente
desistir  da  ação  executiva,  formular  requerimentode  reforço da penhora,  de prisão
do devedor de alimentos, entre outros inúmeros atos postulatórios previstos ou não
no ordenamento jurídico; de outro lado, pode o executado apresentar objeção de pré­
executividade,  requerer a  redução da penhora ou a  substituição de bens penhorados
em desconformidade com a ordem legal etc.
1233 
9.
Provocada a  jurisdição,  incumbe ao  juiz  impulsionar o processo até o seu  fim,
por  meio  de  despachos,  decisões  interlocutórias  e  sentenças.  Também  os  atos
ordinatórios contribuem para esse mister, porém devem ser praticados de ofício pelo
servidor e apenas revistos pelo juiz quando for necessário (art. 203, § 4º).
Na  execução,  assumem  especial  relevo  os  despachos  e  as  decisões
interlocutórias. Os primeiros  referem­se  às  determinações de  citação  e  penhora,  de
expedição do edital de alienação em hasta pública, entre outros; as decisões, por sua
vez,  referem­se  a  todas  as  questões  resolvidas  no  curso  do  processo,  como  o
simples  indeferimento  de  bem  nomeado  à  penhora.  Quanto  à  sentença,  importa
anotar que sua função na execução é unicamente a de pôr fim no processo, uma vez
que não há mérito a ser solucionado pelo órgão judicial. Nesse sentido:
“A  sentença  que  tem  lugar  no  processo  executivo  não  traz  julgamento  algum  sobre  a
existência, inexistência ou valor do crédito do exequente, limitando­se a ditar a extinção
do processo; qualquer que seja a causa extintiva deste, só se consuma a extinção por força
da  sentença  que  o  juiz  proferir,  a  qual  só  tem  efeitos  sobre  o  processo,  não  sobre  o
direito”.22
Além dos atos postulatórios e dos pronunciamentos judiciais, merecem destaque
na execução os já mencionados atos constritivos, cujo fim é preparar a satisfação do
credor  por  meio  da  invasão  e  subsequente  afetação  do  patrimônio  do  devedor.  O
exemplo  clássico  de  constrição  judicial  é  a  penhora,  mas  existem  outros  atos
destinados a essa mesma finalidade, tais como o arresto cautelar (art. 830, caput) e,
na  execução  de  obrigação  de  entrega  de  coisa  certa,  a  busca  e  apreensão  de  bens
móveis e a imissão na posse de imóvel (art. 806, § 2º).
O  novo  Código  de  Processo  Civil,  além  das  medidas  ditas  propriamente
executivas,  prevê,  nos  §§  3º  e  4º  do  art.  782,  a  possibilidade  de  o  juiz,  a
requerimento da parte, determinar a inclusão do nome do executado em cadastros de
inadimplentes  (SPC  e  SERASA,  por  exemplo).  Essa  medida  configura  uma
restrição de acesso ao crédito por parte do executado, que apenas complementa – e
não substitui – as demais medidas executivas.
Na  prática,  a  “negativação”  prevista  nos  §§  3º  e  4º  do  art.  782  só  será  eficaz
para  o  credor  se  o  executado  não  estiver  com  o  nome  inserido  nos  órgãos  de
proteção ao crédito por outro motivo.23
PARTES NA EXECUÇÃO
1234 
Os  arts.  778  e  779  tratam  da  legitimidade  ad  causam  ativa  e  passiva  para  a
execução.  A  execução  só  pode  ser  promovida  pelo  credor  ou  pelas  pessoas
legitimadas.  Por  outro  lado,  somente  o  devedor  ou  quem  tenha  responsabilidade
executiva pode figurar como executado. A ilegitimidade, ativa ou passiva, dá ensejo
à oposição de  embargos  à  execução  (art.  917). Reconhecida  a  ilegitimidade,  o  juiz
acolhe os embargos, extinguindo a execução.
A legitimidade ativa pode ser ordinária, extraordinária ou sucessiva.
O  art.  18,  de  forma  genérica,  estabelece  a  legitimação  ativa  ordinária  para
qualquer  ação  nos  seguintes  termos:  “Ninguém  poderá  pleitear  direito  alheio  em
nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico”. Para a execução,
especificamente, há previsão no art. 778, caput, segundo o qual legitimado ativo é o
credor  a quem a  lei  confere  título  executivo. Assim,  legitimado ordinário  (também
denominado originário) é quem figura como credor no título executivo.
Conforme  estatuído  no  art.  23  da  Lei  nº  8.906/1994  (Estatuto  da  OAB),  os
honorários incluídos na condenação pertencem ao advogado do vencedor, tendo este
direito autônomo para executar a sentença nesta parte. Vê­se que, embora não figure
como  parte  da  relação  jurídica,  de  direito  material  e  processual,  a  lei  confere  ao
advogado  do  vencedor  legitimação  ordinária  para  promover  a  execução  dos
honorários.
A legitimação ativa extraordinária dá­se excepcionalmente quando a lei autoriza
alguém  a  pleitear,  em  nome  próprio,  direito  alheio.  É  o  que  ocorre,  por  exemplo,
quando  o Ministério  Público  promove  ação  de  alimentos  (art.  201,  III,  da  Lei  nº
8.069/1990  –  Estatuto  da  Criança  e  do  Adolescente)  ou  promove  a  “execução”
(cumprimento  de  sentença)  de  ação  civil  pública  (art.  97  do CDC). Nesse  caso,  o
órgão ministerial é parte somente no sentido processual.
A  legitimação  ativa  sucessiva,  também  denominada  derivada,  secundária  ou
superveniente,  consiste  na  possibilidade  de  outras  pessoas,  que  não  o  credor,
promoverem a execução ou nela prosseguirem, em face de sucessão causa mortis ou
inter vivos.
As  hipóteses  de  legitimação  sucessiva,  previstas  no  art.  778,  §  1º,  são  as
seguintes:
I) O Ministério Público. Pouco  importa se no processo de conhecimento ou na
execução,  o  Ministério  Público  tem  legitimidade  extraordinária,  que  pode  ser
exclusiva  ou  concorrente  e,  sob  outro  enfoque,  originária,  também  denominada
primária ou sucessiva. A legitimidade extraordinária originária do órgão ministerial
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se dá quando a lei o autoriza a propor e obviamente executar a sentença proferida na
ação civil pública (art. 97 do CDC) ou na ação ajuizada contra o loteador, visando a
condenação na obrigação de fazer a regularização do loteamento (art. 38, § 2º, da Lei
nº 6.766/1979). Sobre a legitimação extraordinária originária já falamos linhas atrás.
Agora,  seguindo  a  ordem  do  art.  778,  cumpre­nos  mencionar  a  legitimação
extraordinária sucessiva, que se verifica, por exemplo, quando o Ministério Público
executa  sentença  de  ação  proferida  em  ação  popular,  porque  o  autor  cidadão
permaneceu inerte durante o prazo estabelecido para o cumprimento da sentença (art.
16 da Lei nº 4.717/1965).
II)  O  espólio,24  os  herdeiros  ou  os  sucessores  do  credor,  sempre  que,  por
morte deste, lhes for transmitido o direito resultante do título executivo: o espólio é
uma  massa  patrimonial  que,  embora  não  seja  pessoa  (natural  ou  jurídica),  tem
capacidade  para  figurar  como  parte  na  relação  processual.  É  representado  pelo
inventariante (art. 75, VII) ou pela totalidade dos sucessores quando o inventariante
for dativo (art. 75, § 1º).
Com o trânsito em julgado da partilha, extingue­se o espólio. A partir de então,
a  legitimidade  para  propor  a  execução  passa  a  ser  do  herdeiro  (ou  herdeiros)  que
recebeu o crédito representado pelo título executivo.
Quanto  aos  sucessores,  podem ser  a  título universal ou singular.  Podem  ainda
ser  causa  mortis  ou  inter  vivos.  O  art.  778,  II,  trata  do  sucessor  causa  mortis.
Sucessor  a  título  universal  corresponde  ao  herdeiro,  o  qual  recebe  a  totalidade  da
herança ou parte  ideal dela. Sucessor a  título singular  (causa mortis)  é o  legatário,
ou  seja,  a  pessoa  contemplada  pelo  de  cujus,  no  testamento,  com  um  bem
determinado  (por  exemplo,  o  direito  de  crédito  representado  em  um  título
executivo).  A  admissão  de  sucessor  no  curso  do  processo  de  execução  faz­se  por
meio do  incidente de sucessão de parte previsto no art. 110 ou, se necessário, pelo
procedimento da habilitação (arts. 687 a 692).
III)  O  cessionário,  quando  o  direito  resultante  do  título  executivo  lhe  foi
transferido por ato entre vivos: diferentemente da hipótese anterior, a sucessão aqui
decorre  de  ato  negocial,  por  exemplo,  o  endosso  dos  títulos  cambiais  e  a

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