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Autor: Prof. Maurício Felippe Manzalli Colaboradora: Profa. Ivy Judensnaider Elementos de Economia CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Professor conteudista: Maurício Felippe Manzalli Economista pela Universidade Paulista – UNIP e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração e também é coordenador do curso de Ciências Econômicas na mesma Universidade, tanto na modalidade presencial quanto a distância. Tem experiência em administração e finanças, notadamente naquelas ligadas ao setor de transporte de passageiros, atuando há 29 anos no ramo. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M296e Manzalli, Maurício Felippe Elementos de economia. / Maurício Felippe Manzalli. – São Paulo: Editora Sol, 2015. 192 p. il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXI, n. 2-066/15, ISSN 1517-9230. 1. Economia. 2. Teoria microeconômica. 3. Teoria macroeconômica. I. Título. CDU 33 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice‑Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice‑Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice‑Reitor de Pós‑Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice‑Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Cristina Fraracio Giovanna Oliveira Juliana Mendes Rose Castilho CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Sumário Elementos de Economia APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CIÊNCIA ECONÔMICA .........................................................................9 1.1 Conceitos e definições...........................................................................................................................9 1.2 Necessidades e escolhas .................................................................................................................... 12 1.3 A lei da escassez .................................................................................................................................... 15 1.4 O problema econômico fundamental .......................................................................................... 17 1.5 E quanto aos bens? .............................................................................................................................. 20 1.6 Curva de possibilidade de produção ............................................................................................. 21 1.7 Fluxo circular da renda ....................................................................................................................... 26 1.8 Organização da atividade econômica .......................................................................................... 29 2 AVANÇOS DA TEORIA ECONÔMICA E DIVISÃO DE SEU ESTUDO ................................................. 34 2.1 Evolução da teoria econômica a partir da história do pensamento econômico ....... 37 2.2 Divisão do estudo da Ciência Econômica ................................................................................... 48 2.3 Métodos de investigação da Ciência Econômica .................................................................... 49 Unidade II 3 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MICROECONÔMICA .......................................................... 56 3.1 Questionamentos centrais da Teoria Microeconômica ......................................................... 56 3.2 Teoria do Consumidor ........................................................................................................................ 57 3.2.1 Utilidade e escolha ................................................................................................................................. 57 3.2.2 Teoria da Demanda ................................................................................................................................ 60 3.3 Teoria da Oferta .................................................................................................................................... 74 3.4 Funcionamento do mercado ............................................................................................................ 86 3.5 Equilíbrio de mercado ......................................................................................................................... 87 4 ELASTICIDADES ................................................................................................................................................ 94 4.1 Elasticidade-preço da demanda ..................................................................................................... 94 4.2 Elasticidade-preço da oferta .........................................................................................................100 4.3 Elasticidade-renda da demanda ...................................................................................................103 4.4 Elasticidade-preço cruzada da demanda .................................................................................105 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Unidade III 5 TEORIA DA FIRMA ......................................................................................................................................... 112 5.1 Teoria da Produção ............................................................................................................................ 112 5.2 Teoria dos Custos ................................................................................................................................1286 ESTRUTURAS DE MERCADO ......................................................................................................................133 6.1 Concorrência perfeita .......................................................................................................................133 6.2 Monopólio .............................................................................................................................................136 6.3 Oligopólio ..............................................................................................................................................140 6.4 Concorrência monopolista .............................................................................................................143 Unidade IV 7 INTRODUÇÃO À TEORIA MACROECONÔMICA ...................................................................................149 7.1 Questionamentos centrais da Teoria Macroeconômica .....................................................149 7.2 Evolução da Teoria Macroeconômica a partir da história .................................................152 7.3 Medidas de atividade econômica ................................................................................................155 7.3.1 Identidade entre renda e produto................................................................................................. 155 7.3.2 Valor bruto da produção e valor agregado ............................................................................... 158 7.3.3 Demais medidas agregadas ..............................................................................................................161 8 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA TEORIA MONETÁRIA .......................................................................163 8.1 Funções e histórico da moeda ......................................................................................................163 8.2 Da moeda aos meios de pagamento ..........................................................................................168 8.3 Política monetária ..............................................................................................................................168 8.4 Política fiscal ........................................................................................................................................171 8.5 Política cambial ...................................................................................................................................174 8.6 Política de rendas ...............................................................................................................................175 8.7 Inflação ...................................................................................................................................................176 7 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 APRESENTAÇÃO O livro-texto que ora apresentamos destina-se aos que estão iniciando seus estudos sobre a Ciência Econômica. Procurando distanciar-se dos jargões muito específicos da área, mas não incorrendo na questão da simplicidade, apresentamos os principais conceitos, abordagens e desdobramentos desta ciência social para que se possa entender o mundo em que vivemos. Trata-se também de material de apoio à disciplina Elementos de Economia. Como o objetivo é introduzir o conhecimento com as questões econômicas, nossa preocupação não é a de aprofundar demasiadamente cada assunto relacionado, mas apresentá-los de forma mais geral, ficando ao leitor a incumbência do aprofundamento, quando necessário. Note que o livro-texto está dividido em quatro unidades. Em cada uma delas você encontrará: a) textos explicativos que elucidam a matéria; b) resumos do conteúdo estudado; c) exercícios comentados; d) tópicos para refletir, em que convidamos você a pensar sobre assuntos da atualidade; e) saiba mais – seção em que indicamos filmes e livros que, de alguma forma, complementam os temas investigados. Não deixe de explorar essas sugestões. Garantimos que você irá ampliar seu conhecimento sobre os temas apresentados e que isso será extremamente útil, não apenas na questão específica da disciplina, mas também em sua vida profissional. f) os lembretes (anotações pontuais que remetem a alguma informação já conhecida) e as observações (apontamentos que chamam sua atenção para algum ponto destacado sobre o assunto em desenvolvimento) são recursos que reforçam algumas questões que quisemos salientar. g) exemplos de aplicação, em que você será convidado a refletir sobre um tema proposto. INTRODUÇÃO Na unidade 1 abordaremos o problema econômico fundamental, o método de investigação da Ciência Econômica e a organização da atividade econômica. A unidade trata, ainda, da evolução da Teoria Econômica, notadamente as abordagens da economia política e da marxista. Na unidade 2 estudaremos a Teoria Microeconômica, abordando a teoria do consumidor e os princípios da utilidade e da escolha. O conhecimento do assunto elasticidade também está presente nesta unidade. A Teoria da Firma – produção e custos – e as diferentes estruturas de mercado, bem como seu funcionamento, é a abordagem da unidade 3. 8 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Por fim, a unidade 4 tratará da Teoria Macroeconômica com a introdução do papel do governo na economia, bem como as medidas da atividade econômica, a exemplo do PIB (Produto Interno Bruto). Segue com a apresentação de um esboço da Teoria Monetária pela abordagem da moeda – funções, histórico, intermediários bancários e política monetária. A unidade finaliza com o estudo da inflação (seus conceitos, suas causas e as políticas de combate). 9 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 ELEMENTOS DE ECONOMIA Unidade I 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CIÊNCIA ECONÔMICA As necessidades da vida cotidiana tornam obrigatório o conhecimento sobre economia, independentemente da área profissional ou da formação acadêmica. Assim, qualquer indivíduo tem noções de microeconomia e de macroeconomia, mesmo que não saiba exatamente do que tratam esses saberes. Em outras palavras, todos nós nos deparamos com aspectos relacionados à formação de preços, às estruturas de mercado, às questões de escassez de bens e serviços, à inflação, ao desempenho de determinados setores da economia e aos níveis de desenvolvimento e crescimento das nações. A Ciência Econômica é a ciência que estuda a atividade produtiva. Economia, palavra derivada do grego oikosnomos (oikos = casa; nomos = lei), representa a administração de uma casa, entendida como um patrimônio particular, uma empresa ou um Estado. De acordo com Sandroni (1996, p. 129), a Ciência Econômica “focaliza estritamente os problemas referentes ao uso mais eficiente de recursos materiais escassos para a produção de bens”. De outra forma, é a ciência que trata dos fenômenos relativos à produção, à distribuição, à acumulação e ao consumo de bens. É disto então, que passaremos a tratar. 1.1 Conceitos e definições A Ciência Econômica estudaas relações entre famílias, empresas e governo para compreender os fenômenos que norteiam o funcionamento do mundo em que vivemos. A preocupação central desta ciência social é a análise da produção de bens e distribuição da renda, diante do problema da escassez de recursos e das necessidades ilimitadas dos indivíduos. Um curso de Elementos de Economia pretende apresentar ao estudante os primeiros pensamentos diante de alguns problemas econômicos básicos de nosso cotidiano, como a forma como distribuímos nossa renda, proveniente de nosso salário, diante da grande quantidade de mercadorias e de serviços dos quais necessitamos para manutenção da vida. Apresentado desta forma parece bastante simples, pois sabemos o quanto ganhamos, ou seja, qual o nosso salário, e o que necessitamos durante uma semana, um mês, um ano e assim por diante. Mas, se pensarmos com um pouco mais de calma, para que tenhamos algum salário, torna-se necessária nossa participação em alguma atividade produtiva, seja trabalhando em alguma indústria, em uma loja de comércio ou prestando algum serviço, seja ele financeiro, por meio de bancos, seja ele por uma rede de lavanderias, por exemplo. 10 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Unidade I Como ilustração, listamos a seguir alguns problemas econômicos de que a Ciência Econômica está preocupada em explicar: • Como a taxa de câmbio interfere na vida das empresas e na vida do cidadão comum? • O que ocorre com a renda da população diante de anúncio do governo por elevação nas taxas de juros? • Por que o preço da gasolina sobe quando um determinado país não tem capacidade suficiente para produzi-la? • Por que a renda da região norte-nordeste do Brasil tende a ser menos concentrada do que a renda da região sul-sudeste? • Por que o Produto Interno Bruto (PIB) de um país cresce conforme a sociedade consome maior quantidade de mercadorias? • Quais são os fatores explicativos da subida dos preços dos chocolates nas proximidades da Páscoa? • Por que um governo que gasta mais do que arrecada tem dificuldades de financiar seus déficits? • Qual a importância para a vida de cada um dos brasileiros quando um país vende uma empresa estatal ao capital internacional? • O que significa inflação? • O que é desemprego? Aparentemente, cada uma dessas questões em nada impacta nossa vida individual, mas vejamos o seguinte exemplo: em um determinado período, em alguma manchete de jornal impresso ou pelos telejornais, é anunciada a informação de que o balanço de pagamentos brasileiro do ano de 2013 apresentou déficit de um valor X, e este déficit é proveniente de saldos negativos da balança comercial, demonstrando que as exportações da economia brasileira foram menores do que suas importações, mesmo que a balança de serviços tenha sido positiva. Espere um pouco: o que é déficit? O que é balanço de pagamentos? Balança comercial? Exportações? Importações? Balança de serviços? Vamos mais adiante. No exemplo anteriormente proposto, as exportações foram menores do que as importações. Mas, por quê? Assim, de bate-pronto, não conseguiremos chegar a uma resposta exata, mas analisando dados da realidade concreta poderíamos responder à pergunta utilizando os seguintes argumentos: 1 – as exportações brasileiras foram menores em 2013, pois neste ano as empresas nacionais produziram uma quantidade menor de mercadorias do que no ano anterior; 11 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 ELEMENTOS DE ECONOMIA 2 – as exportações brasileiras foram menores em 2013, pois neste ano o consumo por parte dos brasileiros foi maior, então, uma forma de não permitir a escassez de mercadorias no mercado interno foi não exportar; 3 – as exportações brasileiras foram menores em 2013, pois neste ano o governo brasileiro adotou medidas em favorecimento às importações, valorizando a taxa de câmbio, por exemplo. Observamos que, para apenas uma pergunta, elaboramos três possíveis respostas que somente poderão ser efetivamente consideradas como certas e verdadeiras ao observarmos os números da realidade concreta. É disto que se ocupa a Ciência Econômica. Por meio de suas teorias, conjuga-se uma série de ideias e definições do objeto a ser investigado, verificam-se as condições em que cada uma das teorias se sustenta para, a partir de argumentos, dar respostas sobre o comportamento dos objetos de investigação, ou seja, construir hipóteses sobre o funcionamento da realidade concreta. Poderíamos, por uma primeira aproximação, ilustrar o campo de observação desta ciência: • estuda atividades econômicas que envolvem o emprego de moeda e troca entre indivíduos, empresas e governo; • observa o comportamento das empresas, que produzem de modo eficiente, reduzindo custos para obter lucros; • observa o comportamento do consumidor, tendo em vista os preços, a renda de que dispõem e a oferta de bens e serviços. Utilizando-se da contribuição de um renomado economista, Samuelson (1979, v. I, p. 3), chegamos ao seguinte conceito: Economia é o estudo de como os homens e a sociedade decidem, com ou sem a utilização do dinheiro, empregar recursos produtivos escassos, que poderiam ter aplicações alternativas, para produzir diversas mercadorias ao longo do tempo e distribuí-las para consumo, agora e no futuro, entre diversas pessoas e grupos da sociedade. Ela analisa os custos e os benefícios da melhoria das configurações de alocação de recursos. Pois bem: eis aqui uma boa definição do que seria a economia, mas vamos traduzi-la para uma linguagem mais cotidiana. Como ciência, a economia estuda o emprego de recursos escassos entre usos alternativos, com o fim de obter os melhores resultados. Vamos entender o significado de emprego de recursos escassos e de usos alternativos, mas, para isso, voltemos a uma das primeiras noções do que a economia estuda e que deve ser absorvida por um estudante desta área. O exemplo será você mesmo. 12 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Unidade I 1.2 Necessidades e escolhas Pense, primeiro, em sua renda. Se você trabalha, ou seja, se participa de alguma atividade produtiva, recebe um salário, que chamaremos de renda. Este seu salário, seja ele qual for, será distribuído entre todas as suas necessidades de consumo. Salário é a sua renda e suas categorias de consumo dizem respeito às suas despesas, portanto estamos descrevendo seu orçamento particular. Vamos supor que sua renda esteja destinada para pagamento de contas de luz, água e telefone, alimentação, moradia, transporte, lazer, vestuário etc. Após alocar sua renda entre todas essas categorias de despesas, ainda sobrou uma parcela da qual você poupará para consumo futuro. Bacana! Mas, você está agora cursando uma Universidade e as mensalidades serão incorporadas à sua cesta de consumo, ou seja, o valor das mensalidades concorrerá por uma parcela de sua renda, assim como concorre o quanto você gasta com alimentos, moradia, transporte, lazer etc. Neste caso, você introduziumais uma categoria de gasto para uma mesma renda. Sem pensar muito, para que você consiga dar conta de efetuar todos os seus pagamentos, você deverá distribuir cada parcela de sua renda para cada um de seus gastos. Observação Esse simples exemplo ilustra uma parte do conceito oferecido por Samuelson (1979), ou seja, a economia estuda o emprego de recursos escassos entre usos alternativos, com o fim de obter os melhores resultados. Nesse exemplo bastante simples, que vale também uma grande quantidade de brasileiros, o emprego de recursos escassos é ilustrado por nossa renda e os usos alternativos são ilustrados pela nossa cesta de consumo ou por tudo aquilo em que gastamos nossa renda. Pensemos agora não mais no ponto de vista individual, mas, sim, nos limites de uma família formada por pai, mãe e filhos, ou seja, uma unidade familiar. Essa família precisa ser mantida. Precisa vestir-se, alimentar-se, morar e se locomover. Essa família tem, conjuntamente, uma cesta de consumo que deve ser atendida por meio de uma renda, a renda familiar, já que em nosso exemplo cada um dos membros desta família participa de alguma atividade produtiva. Portanto, a renda familiar deve dar conta de responder a toda e qualquer categoria de gastos desta família. Para cada entrada de dinheiro, recursos então, chamaremos de renda e para cada saída de dinheiro, despesas, os pagamentos que serão efetuados por esta família. Eis então o orçamento familiar. Pensemos agora não mais individualmente, tampouco em termos de famílias, mas, sim, nas dimensões de uma empresa. Uma empresa pode produzir mercadorias e vendê-las diretamente aos seus consumidores. Pode apenas ser uma empresa comercial, comprando mercadorias produzidas por outras empresas e vendendo diretamente aos consumidores ou ainda pode ser prestadora de algum serviço. 13 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 ELEMENTOS DE ECONOMIA Quando uma empresa produz alguma mercadoria, mesas, por exemplo, ela necessita de meios de produção, bens necessários à execução de sua atividade produtiva. Para produzir determinada mercadoria, necessita então adquirir meios de produção e pagará por esta aquisição. No nosso exemplo simples da produção de mesas, essa empresa hipotética necessita adquirir fórmica, madeira, ferro, parafusos, colante, além de dispor de grande quantidade de máquinas e ferramentas, como furadeiras, lixadeiras, serra de corte, assim por diante. Lembrete Além disso, a empresa precisa contratar pessoas para trabalhar, pois esses meios de produção não trabalham sozinhos! Quando a empresa adquire meios de produção, incorre em custos com a produção. Esse custo será conhecido pela multiplicação de duas variáveis: preço de cada um dos fatores adquiridos e quantidades das mercadorias adquiridas. Portanto, ela tem um custo de produção, ou seja, uma despesa com sua produção. Imaginando que as empresas não produzem mercadorias para satisfazer suas próprias necessidades de consumo, cada empresa empreenderá todos os seus esforços para vender sua produção. Quando as empresas vendem sua produção, recebem uma quantidade de dinheiro proveniente da venda. A esta quantidade de dinheiro denominaremos receita de vendas, que nada mais será do que a multiplicação de duas variáveis: preço da mercadoria e quantidade das mercadorias vendidas. Observação Quando mencionamos as receitas e as despesas empresariais, estamos falando do orçamento empresarial. É lugar comum afirmar que, em regimes capitalistas de produção, as empresas existem não para satisfazer as necessidades de consumo da sociedade, mas, sim, para valorizar o capital investido pelo empresário. Portanto, existem para gerar lucros. Desta forma, seu empenho será pelo aumento das quantidades vendidas de suas mercadorias, o que requer duas coisas: aumento da produção e uso de menor quantidade de recursos. Desta forma, procurará gastar cada vez menos com a quantidade de meios de produção que adquire para, muitas vezes, aumentar a quantidade de lucros que obtém. Portanto, as empresas também sofrem com a limitação de recursos à sua disposição diante de suas categorias de despesas. 14 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Unidade I Saiba mais Até o momento, tratamos das empresas inseridas no sistema capitalista de produção. Queremos, então, indicar dois livros que são extremamente interessantes sobre o assunto: CATANI, A. M. O que é capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2011. Coleção Primeiros Passos. RICHERS, R. O que é empresa. São Paulo: Brasiliense, 1986. Coleção Primeiros Passos. Já ilustramos o cidadão individual, as famílias, e as empresas. Agora pense no governo. O governo de um país, de uma forma muito simplificada, tem algumas obrigações e também alguns direitos. Por obrigações, deve prover bens públicos, como energia, transporte e saneamento básico; construir escolas, estradas e hospitais; pagar aposentadorias e pensões; e mais uma série de obrigações sobre as quais não nos estenderemos neste momento. Por seus direitos, legisla questões trabalhistas e contratuais e também arrecada recursos da população na forma de impostos. Portanto, o governo, por meio de sua arrecadação, aufere uma receita. Mas para prover bens públicos à sociedade, também tem custos com essa provisão, ou seja, gasta, tem despesa com sua atividade. Falamos então do orçamento do governo, orçamento do setor público, representado por suas receitas e suas despesas. Figura 1 – Infraestrutura portuária: uma das fontes de gasto do governo 15 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 ELEMENTOS DE ECONOMIA Observação Com o governo não será diferente do que ocorre com os indivíduos, as famílias e as empresas. Ele procurará alocar eficientemente seus recursos diante dos itens de gasto que têm à frente. Salvo algumas exceções, não podemos afirmar que nossa família tradicional adquire tudo aquilo que tem vontade. Por que não podemos afirmar isto? Pelo simples fato da escassez. Qual escassez? Escassez de recursos necessários para aquisição de todas as mercadorias disponíveis ao consumo. É dela que passaremos a tratar. 1.3 A lei da escassez Pois bem: deixando de lado os exemplos, a Ciência Econômica existe para dar conta de responder a um grande problema: a escassez de recursos frente à grande quantidade de mercadorias e diante da ilimitada necessidade de consumo dos indivíduos. Portanto: RECURSOS LIMITADOS NECESSIDADES ILIMITADAS X Figura 2 – Estudo da Ciência Econômica De quais recursos estamos nos referindo? Dos recursos produtivos ou também denominados fatores de produção, elementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais, que conceituaremos como: • terra; • trabalho; • capital; • tecnologia; • capacidade empresarial. Pelo recurso econômico terra, entende-se as terras destinadas à agricultura e pecuária, ou seja, terras cultiváveis, florestas, minas disponíveis àquelas produções de mercadorias provenientes da utilização do solo.Pelo fator de produção trabalho, entende-se a mão de obra empregada na produção de mercadorias ou na prestação de serviços. Portanto, o homem. 16 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Unidade I Pelo fator de produção capital, entenderemos inicialmente o capital financeiro, ou seja, o dinheiro necessário para dar impulso a qualquer empreendimento industrial, comercial ou qualquer outro que seja. Mais do que exemplificar o dinheiro enquanto recurso produtivo, há também o capital representado pelas máquinas, pelos equipamentos, pelas instalações e pela matéria-prima. Já o fator de produção tecnologia compreende as técnicas de produção utilizadas pelas empresas, que também podemos chamar de know how ou knowlege, voltados à técnica de produção e ao conhecimento científico, respectivamente. Por fim, ao fator de produção capacidade empresarial dá-se importância aos empresários ou simplesmente àquelas pessoas disponíveis a empreender um novo investimento ou aptas a abrir uma empresa. Saiba mais Sobre a importância do empreendedorismo no Brasil, vale a leitura do relatório da pesquisa realizada pela Endeavor Brasil, Empreendedores Brasileiros: Perfis e Percepções 2013. Desbravado, empolgado, provedor, apaixonado, antenado, independente, arrojado, pragmático e lutador são alguns dos perfis traçados na pesquisa. ENDEAVOR Brasil. Empreendedores brasileiros: perfis e percepções 2013. Disponível em: <http://www.endeavor.org.br/pesquisas/ empreendedores_brasileiros_perfis_percepcoes_relatorio_completo. pdf>. Acesso em: 13 fev. 2014. Cada fator de produção tem uma remuneração diferente em termos de denominação. Conforme Nogami e Passos (2003), a remuneração do fator de produção terra terá o nome de aluguel. Ao fator de produção trabalho, daremos a denominação de salário enquanto remuneração. Quanto ao capital, este recebe sua remuneração na forma de juros. A tecnologia utilizada na produção de mercadorias recebe a remuneração em forma de direito à propriedade e, por fim, mas não menos importante, a capacidade empresarial recebe lucros na forma de remuneração. O quadro a seguir ordena fatores e respectivas remunerações: Quadro 1 – Fatores de produção e remuneração Fatores de produção Remuneração dos fatores de produção Terra Aluguel Trabalho Salário Capital Juros Tecnologia Direito à propriedade Capacidade empresarial Lucros 17 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 ELEMENTOS DE ECONOMIA Lembrete Lembre-se que os fatores de produção utilizados na economia são remunerados e a esta remuneração daremos o nome mais amplo de renda. 1.4 O problema econômico fundamental Pois bem. Já temos condições para afirmar que a renda de uma sociedade é limitada diante da quantidade de categorias de consumo que esta sociedade enfrenta. Ademais, as empresas procuram criar mercadorias novas que chamam a atenção de novos consumidores, criando novos hábitos de consumo, ou pelo simples fato de produzir de forma diferente antigas mercadorias. Exemplo de aplicação Veja que indagação interessante há aqui: as empresas produzem bens para dar atendimento às necessidades de consumo da sociedade e, desta forma, também podem gerar novas necessidades até então não existentes ou é a sociedade que dá sinais para as empresas do que elas devem produzir? Já parou para pensar desta forma? Está aqui aberto um excelente debate. Assim, estamos diante de um dilema, que será ilustrado por meio de um problema: o problema econômico fundamental. Ele consiste em dar respostas às seguintes questões: • O que e quanto produzir? • Como produzir? • Para quem produzir? Estas três perguntas básicas, que à primeira vista são bastante simples, nos remetem às noções de recursos escassos e necessidades ilimitadas. Observação Podemos dizer que o problema econômico fundamental origina-se da escassez de recursos, que é o objeto de investigação da Ciência Econômica. De acordo com Heilbroner (1987, p. 19), “o problema econômico é, simplesmente, o processo de prover o bem-estar material da sociedade. Em seus termos mais simples, a economia é o estudo de como o homem ganha o pão de cada dia”. 18 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Unidade I Para Heilbroner (1987), a questão que se coloca é que a maioria dos problemas econômicos das sociedades – e que estão acima do nível de subsistência – são derivados do próprio homem e não da natureza. Pelas suas palavras, As tarefas da sociedade econômica são (1) organizar um sistema que assegure a produção de bens e serviços suficientes para sua própria sobrevivência; e (2) ordenar a distribuição dos frutos de sua produção, de modo que mais produção possa ter lugar. Estas duas tarefas envolvem (i) mobilização de esforços, (ii) alocação de esforços, (iii) distribuição do produto. (HEILBRONER, 1987, p. 23) Vejamos. Se as empresas precisam produzir mercadorias como uma forma de remunerar o capital que é investido, e isto passa pela venda das mercadorias que são produzidas, e se os consumidores, dada sua renda escassa ou limitada, precisam alocar de forma eficiente as suas categorias de despesas, então resta às empresas produzirem mercadorias que são procuradas. Estão postas então as três questões anteriormente apresentadas, representando o problema econômico fundamental: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? A primeira questão, o que e quanto produzir, diz respeito a quais os tipos de mercadorias que devem ser produzidas pelas empresas de um país e em quais quantidades. Responder a este questionamento implica conhecer o tipo de mercadoria que é procurada por uma coletividade, bem como conhecer as quantidades desta mercadoria que são consumidas. Para Heilbroner (1987, p. 24, adição nossa), [...] o que produzir diz respeito à mobilização de esforços, pois, como a natureza é restrita, parece que o problema da produção deve ser essencialmente o de aplicar proficiência técnica e engenharia aos recursos existentes, evitar desperdícios e utilizar o esforço social, de modo tão eficaz quanto possível. [A produção], tarefa importante para qualquer sociedade, dedicada ao ato de economizar. Entretanto, antes de a sociedade poder sequer preocupar-se a respeito de usar suas energias “economicamente”, ela deve reunir energias para realizar o próprio processo produtivo. Ou seja, o problema básico da produção consiste em criar instituições sociais que mobilizem a energia humana para fins produtivos. Fazer com que os homens encontrem trabalho. Para Passos e Nogami (2003), a questão referente ao o que e quanto produzir diz respeito a quais mercadorias devem ser produzidas pelas empresas de um país e em quais quantidades. Responder a esse questionamento significa conhecer o tipo de mercadoria que é procurada por uma coletividade e conhecer as quantidades dessa mercadoria que são (ou serão) consumidas. É mais importante produzir alimentos ou é mais importante investir em produção energética? A segunda questão, como produzir, dizrespeito a qual técnica de produção utilizar na produção de determinadas mercadorias. Responder a este questionamento implica conhecer as tecnologias disponíveis às empresas para utilização na produção das mais diversas mercadorias. 19 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 ELEMENTOS DE ECONOMIA Cada mercadoria possui uma técnica de produção diferenciada das demais. Umas necessitam de maior quantidade de matéria-prima, outras, de uma maior quantidade de máquinas e equipamentos, ou seja, são capital-intensivas, e outras ainda demandam grande quantidade de mão de obra em seu processo de produção. Imaginemos, por exemplo, a diferença entre os processos de produção de automóveis e o processo de produção daquele pão francês que compramos na padaria mais próxima de nossa casa. Devem ser diferentes. São diferentes! Uma utiliza grande quantidade de robô, tecnologia, enquanto a outra é mais intensiva na utilização de mão de obra. O como produzir diz respeito à alocação de esforços. Sobre isto, Heilbroner (1987, p. 25) diz que [...] não basta que homens e mulheres sejam postos a trabalhar; devem trabalhar nos lugares certos a fim de produzirem os bens e serviços de que a sociedade necessite. Assim, além de assegurarem uma quantidade suficientemente grande de esforço social, as instituições econômicas da sociedade devem garantir uma alocação viável desse esforço social. Afinal, quanto usar de cada recurso disponível, de forma a obter o máximo, evitar desperdícios e ter garantida a sustentabilidade da produção? Deve-se preferir usar mão de obra intensiva ou é preferível utilizar máquinas para aumentar a produtividade? (BESANKO; BRAEUTIGAM, 2004). A última questão, referente ao para quem produzir, diz respeito às opções políticas que, necessariamente, devem ser feitas. A quem priorizar? A qual segmento da sociedade devemos atender? De todas as demandas feitas por uma sociedade, qual deve ser prioritária e qual deve ser postergada? Quem precisa de mais serviços de saúde: a população dos centros urbanos ou da periferia? Devemos construir escolas de primeiro ou de segundo grau? Quais são, afinal, as necessidades mais prioritárias e a quem devemos atender primeiro? Dessa forma, a pergunta referente ao para quem produzir diz respeito à distribuição do produto (PASSOS; NOGAMI, 2003). Nem sempre as sociedades obtêm êxito na alocação adequada de seus esforços. Ela pode produzir carros a mais ou a menos; ela pode dedicar suas necessidades/energias à produção de artigos de luxo, enquanto uma grande quantidade de pessoas necessita de alimentos. Esses fracassos podem afetar o problema da produção de modo tão sério quanto o fracasso em mobilizar uma quantidade adequada de esforços, pois uma sociedade viável deve produzir não apenas bens, mas os bens certos. Não apenas deve produzir, mas produzir da maneira correta. Não apenas atender às necessidades, mas atender àquelas mais urgentes e socialmente prioritárias. O ato de produzir, em si e por si mesmo, não responde aos requisitos para a sobrevivência. Além disso, a sociedade deve distribuir esses bens para que o processo de produção possa ter continuidade. Em outras palavras, se uma sociedade quiser assegurar seu constante reaproveitamento material, deverá distribuir sua produção de modo a manter não só a capacidade, mas também a disposição de se continuar trabalhando. A questão para quem produzir diz respeito a que tipo de público deve ser atendido com determinada produção. Implica conhecer o público-alvo para determinada mercadoria, e, portanto, implica conhecer que tipo de consumidor tem a renda correspondente ao consumo de determinada mercadoria. 20 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Unidade I Assim, reencontramos o foco da investigação econômica dirigido ao estudo das instituições humanas dedicadas à produção e à distribuição de riqueza. É disso que se ocupa a Ciência Econômica: do estudo da produção e da distribuição de bens. 1.5 E quanto aos bens? Quando mencionamos produção, lembramos-nos de produto. Por definição, trocaremos a palavra produto pela palavra bem. Mas, também por definição, quando utilizamos a palavra bem, estamos querendo nos referir a serviços. Portanto, da produção nasce um produto chamado bem, que será por nós identificado como bem ou serviço. Enquanto os bens representarão algo material, os serviços representarão o intangível. Precisaremos agora efetuar algumas distinções. Os bens serão divididos entre livres e econômicos. Os bens livres são aqueles que, ao serem consumidos, não ensejam qualquer contraprestação como pagamento por sua utilização. Vamos exemplificar: o ar que respiramos, o sol que nos aquece, a chuva que irriga nossas plantações, o vento que movimenta as nuvens e assim por diante. Há uma infinidade de bens que são livres e que, de alguma forma, auxiliam na produção de determinadas mercadorias, bem como na manutenção da vida das pessoas. Com estes bens, a Ciência Econômica não se preocupa, justamente pelo motivo de não ensejarem a contraprestação por seu pagamento. Já os bens econômicos terão atenção especial por nossa ciência, pois requerem contraprestação de pagamento por sua utilização. Vamos definir as diversas categorias de bens econômicos. Eles podem ser de consumo, intermediários e também podem ser classificados como de capital (PASSOS; NOGAMI, 2003). Os bens de consumo podem ser classificados como duráveis e não duráveis. Um aparelho televisor, por exemplo, é categorizado como bem de consumo durável, assim como um automóvel ou um computador. Figura 3 – Bem de consumo durável: televisão 21 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 ELEMENTOS DE ECONOMIA Serão considerados bens de consumo não duráveis aqueles bens que se destroem enquanto são utilizados, ou seja, o seu consumo os leva à destruição. É o caso dos alimentos. Na medida em que são consumidos, são destruídos. Podemos exemplificar também com roupas, calçados, canetas, entre outros. Desta forma, os bens de consumo duráveis ou não duráveis atendem diretamente às necessidades de consumo da sociedade, pois já estão prontos ao consumo. Figura 4 – Bem de consumo não durável: alimento Outra categoria de bens são os intermediários. Estes serão transformados em bens de consumo por meio do processo de produção. São exemplo as matérias-primas utilizadas nas mais diferentes produções de mercadorias. Pense no processo de produção de um pão francês, aquele mesmo que demos de exemplo anteriormente. Trata-se de um bem de consumo não durável, pois na medida em que é consumido, é destruído. Mas, para produzir este pão francês é necessária a utilização de meios de produção, de matérias-primas, de bens intermediários. A farinha, juntamente com outros ingredientes, outros bens intermediários, será transformada em pão. Desta forma, os bens intermediários são utilizados para satisfazer indiretamente às necessidades de consumo da sociedade, pois passarão por um processo de transformação até chegarem à categoria de bens de consumo, durávelou não. Há ainda outra categoria de bens, os de capital. São máquinas e equipamentos utilizados para produzir outros bens, e, desta forma, também atendem indiretamente as necessidades da sociedade. Neste momento você deve estar se perguntando de que forma estão relacionados os bens e serviços com as necessidades de consumo da sociedade, bem como com o problema econômico fundamental. Vamos avançar, então. 1.6 Curva de possibilidade de produção Efetuadas as distinções entre bens de consumo, intermediários e de capital, é momento de retornarmos nossa investigação quanto ao problema econômico fundamental, ou seja, retomarmos aquelas três questões básicas elencadas anteriormente: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? 22 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Unidade I Para podermos avançar em nossa análise, é necessário também retornar ao objeto de estudo da ciência econômica, ou seja, a diferença entre os recursos limitados e as necessidades ilimitadas. Portanto, tendo que as necessidades dos indivíduos são renovadas a cada momento, são ilimitadas, mas os recursos pertencentes a um sistema econômico são escassos, ou seja, limitados. A partir desse contraponto surge o problema de escolha em atenção à resposta àquelas três perguntas básicas: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? Diante disso, temos que a Ciência Econômica é uma ciência ligada a problemas de escolha, por conta da questão da escassez. De acordo com Wessels (2002), escassez significa que não podemos satisfazer todos os nossos desejos. Ela nos obriga a escolher quais necessidades iremos satisfazer e quais não. Mas como fazemos esta escolha? Para responder a este questionamento, utilizaremos um instrumental analítico, representado pela curva de possibilidade de produção (CPP). Y x Figura 5 – Curva de possibilidade de produção Vamos examinar este instrumental a partir de um simples exemplo. Suponhamos que num sistema econômico exista somente a produção de duas mercadorias: aviões e sapatos. Vamos assumir que os aviões sejam representados pelo eixo Y e os sapatos, pelo eixo X. Portanto: Y = unidades de aviões. X = pares de sapatos. Esta curva de possibilidade de produção, também chamada de curva de transformação, mostra as quantidades máximas que podem ser produzidas das duas mercadorias em um sistema econômico, dadas as combinações ótimas entre todos os seus fatores de produção disponíveis. Dito de outra forma, ao simplificarmos demasiadamente a realidade, estamos supondo que para a produção de sapatos e de aviões seja necessária a utilização de quantidades de fatores de produção, e que, neste caso, todos os recursos disponíveis a esta economia estão sendo utilizados na produção destas duas mercadorias. Estamos afirmando que todas as quantidades disponíveis de terra, de trabalho, de capital, de tecnologia e de capacidade empresarial foram destinadas à produção das máximas quantidades de cada uma dessas mercadorias em atendimento às necessidades de consumo de sua população. 23 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 ELEMENTOS DE ECONOMIA Vejamos outra forma de apresentar a CPP para derivarmos novos conceitos. Y e d b f a c x Figura 6 – Curva de possibilidade de produção O que representa cada um destes pontos? • Os pontos a, b e c representam as quantidades máximas das duas mercadorias que essa economia pode produzir. • O ponto a mostra que todos os recursos disponíveis nessa economia foram destinados à total produção da mercadoria Y e nenhuma produção da mercadoria X. • O ponto b mostra que há produção das duas mercadorias, tanto de aviões quanto de sapatos. • O ponto c mostra que há produção das duas mercadorias, tanto de aviões quanto de sapatos, e mostra também que uma maior quantidade de X é produzida em detrimento às quantidades de Y. • Quanto ao ponto e, como ele está posicionado na origem dos dois eixos, representando também o número zero, mostra que não há qualquer produção, nem de aviões e muito menos de sapatos. Desta forma, ele representa o total desemprego de recursos. • O ponto d representa o conceito de capacidade ociosa ou desemprego de recursos produtivos, pois seria como se por ele passasse uma CPP imaginária, ou seja, um ponto para dentro daquela CPP que representa as quantidades máximas que esta economia pode produzir diante da disponibilidade total de fatores de produção. • Por fim, temos o ponto f, posicionado à direita da curva de possibilidade de produção. Este ponto seria alcançado em uma situação de longo prazo, quando fossem aumentadas as quantidades de fatores de produção disponíveis na economia. O ponto f demonstra que houve um deslocamento das possibilidades de produção da economia em um sentido para um aumento nas quantidades produzidas das duas mercadorias, tanto em Y quanto em X, conforme representação adiante. 24 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Unidade I Y x f Figura 7 – Deslocamento da curva de possibilidade de produção Exemplificando com números o exemplo aplicado anteriormente, consideremos a seguinte tabela: Tabela 1 – Possibilidades alternativas de produção Pontos Aviões (Unidades) Sapatos (Pares) A 0 14 B 1 12 C 2 10 D 3 7 E 4 0 A tabela mostra que podemos produzir tanto aviões quanto sapatos. Mudando alguns pontos de lugar, pois eles são meramente ilustrativos do que representam em termos de conceito, teremos que no ponto A, enquanto esta economia hipotética produz 14 unidades de pares de sapatos, nenhuma produção de aviões é possível, pois todos os fatores de produção (terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial) foram empregados para a produção de sapatos. No ponto B, temos uma diminuição na quantidade produzida de pares de sapatos para ocorrer um aumento na quantidade produzida de aviões. Neste caso, a produção de pares de sapatos foi diminuída em duas unidades para que fosse aumentada uma unidade da produção de aviões. Na passagem do ponto B para o ponto C, uma nova situação é verificada. Em B temos um avião sendo produzido e 12 pares de sapatos. Em C, temos a produção de 2 aviões e 10 pares de sapatos. Ao passarmos a economia para o ponto D, temos uma nova combinação da produção dessas duas mercadorias. Agora são três aviões para a produção de sete pares de sapatos. Finalmente, em E, teremos quatro aviões para nenhum sapato, situação contrária à do ponto A, ou seja, em E, todos os fatores de produção foram destinados à produção de aviões e nenhum para a produção de sapatos. 25 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 ELEMENTOS DE ECONOMIA Observação Ao olharmos novamente para a tabela anterior percebemosque, à medida que aumentamos a produção de uma das mercadorias, necessariamente diminuímos a produção de outra. Conforme aumentamos a produção de aviões, deixamos de utilizar fatores de produção na produção de sapatos e, portanto, uma menor quantidade de sapatos deve ser produzida. Dito de outra forma, quando aumentamos a produção de aviões, mostramos que uma maior quantidade de fatores de produção foi empregada na produção de aviões e que, desta forma, restam poucos fatores disponíveis à produção de sapatos. Logo, a produção de sapatos diminui. Com relação à tabela, ao passarmos do ponto A para o ponto B, aumentamos em uma unidade a produção de aviões, porém diminuímos em duas unidades a produção de pares de sapatos. Algo parecido acontece quando a economia passa do ponto B para o ponto C. Agora, para produzir dois aviões, torna-se necessário diminuir em mais duas unidades a produção de pares de sapatos, passando então de uma produção de 12 para 10. Continuando a observar os dados da tabela, percebemos que a passagem do ponto C para o ponto D requer sacrificar ainda mais a produção de pares de sapatos para que a produção de aviões aumente. A relação agora é que, para poder produzir 3 unidades de aviões, é necessário diminuir em três unidades a produção de pares de sapatos. Em E então, anula-se a produção de sapatos e todos os fatores de produção disponíveis na economia foram destinados à produção de aviões. Da curva de possibilidade de produção e da tabela anteriormente apresentada, chegamos a mais um conceito importante para a Ciência Econômica, o conceito de custo de oportunidade. De acordo com Wessels (2002, p. 11), [...] o custo de qualquer recurso (incluindo dinheiro, tempo, energia e bens) é o que os economistas chamam de custo de oportunidade: o valor mais alto daquilo que os mesmos recursos poderiam ter se produzidos em outro lugar. Distanciando-se um pouco do economês, o conceito de custo de oportunidade diz respeito às quantidades de uma mercadoria que são deixadas de serem produzidas para que sejam produzidas maiores quantidades de outra mercadoria. O custo de oportunidade pode ser entendido também como uma taxa de sacrifício, que pode ser explicada da seguinte forma: para satisfazer às necessidades de consumo da sociedade por uma maior quantidade de uma mercadoria, devemos sacrificar esta mesma sociedade com a menor produção de alguma outra mercadoria. 26 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Unidade I Retirado do exemplo anterior, podemos dizer que quando aumentamos em uma unidade a produção de aviões, ou seja, quando passamos do ponto A para o ponto B, sacrificamos a sociedade em duas unidades de pares de sapatos. Há, portanto, um custo de oportunidade de dois pares de sapatos para a produção de uma unidade de avião. Quando essa economia passa do ponto C para o ponto D, o custo de oportunidade de se produzir aviões aumenta. Passa agora a ser de três unidades de pares de sapatos, ou seja, foram aumentadas as taxas de sacrifício ao se trocar a produção de pares de sapatos pela de aviões. Ainda para Wessels (2002, p. 11), [...] devido à escassez, não podemos fazer tudo o que queremos nem podemos resolver todos os nossos problemas. Em outras palavras, estamos diante de compensações ou, no jargão econômico, de trade-offs. Podemos fazer alguma coisa, mas não outras. O custo de oportunidade é uma medida daquilo que poderia ter sido feito de outra maneira. Ele nos orienta na realização das compensações corretas. Lembrete Para efeito de nosso estudo, o custo de oportunidade é tratado como o que deixamos de produzir de uma mercadoria para que seja aumentada a quantidade produzida de alguma outra. 1.7 Fluxo circular da renda Conforme afirmamos em algum dos parágrafos anteriores, a Ciência Econômica, por se preocupar com a escassez de recursos diante do fato de as necessidades serem ilimitadas, também é uma ciência voltada a problemas de escolha, ou seja, procura explicar que tipos de mercadorias devem ser produzidas, e, portanto, escolhidas, em atendimento às necessidades da sociedade. Não é por outro motivo que foi enunciado o problema econômico fundamental: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? Agora, como decidir qual a quantidade de aviões deve ser produzida ou qual a quantidade de sapatos deve ser produzida? Só de aviões e sapatos vive uma sociedade? Sabemos que não. Então, como isso é resolvido? A resolução deste problema passa pela organização da atividade econômica. Lembrete Antes de explicarmos como a atividade econômica é organizada, é importante lembrar as relações entre a produção de mercadorias e o seu consumo. 27 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 ELEMENTOS DE ECONOMIA Afirmamos, em passagens anteriores, que as empresas produzem bens para comercialização e, a partir da venda destes, tirar algum proveito de lucro. Para que as empresas consigam vender sua produção, é necessária a existência de consumidores com capacidade de aquisição. Isso somente é possível se tiverem recursos. A estes recursos, já denominamos de renda. Portanto, vejamos o fluxo circular da renda que representa o funcionamento de uma economia de mercado. Empresas Famílias A D C B Figura 8 – Fluxo circular da renda O fluxo circular da renda apresentado na figura representa, de forma muito simplificada, o funcionamento de uma economia de mercado. O movimento representado pela seta A mostra que as empresas destinam bens e serviços às famílias. Desta forma, as empresas são representadas por todos os produtores ou vendedores de bens e as famílias representam os consumidores de tais bens. Como as famílias consomem os bens e serviços que são destinados pelas empresas, elas também destinam algo às empresas. Neste caso, gerando as receitas das empresas. As receitas representam o pagamento dos bens e serviços, que é efetuado pelas famílias e está representado pela seta B. Para que as empresas produzam bens e serviços que serão destinados às famílias, necessitam empregar fatores de produção. Portanto, precisam adquirir terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial que são destinadas pelas famílias. Desta forma, a seta representada pela letra C mostra as famílias destinando fatores de produção às empresas e, como as empresas precisam remunerar a utilização desses fatores de produção, também há a contrapartida. A seta D representa então as empresas remunerando os fatores de produção que foram destinados às famílias. Ao total desta remuneração, já denominamos de renda. O quadro a seguir ordena tais movimentações. 28 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Unidade I Quadro 2 – Relacionamento do fluxo circular da renda Sentido Movimento A Empresas destinam bens e serviços para consumo das famílias. B Famílias geram receitas provenientes do consumo de bens e serviços às empresas. C Famílias destinam fatores de produção às empresas. D Empresas geram receitas provenientes da utilizaçãode fatores de produção às famílias. É possível observar que, na parte de cima do fluxo circular da renda, há o destino de bens e serviços das empresas às famílias (A), ao mesmo tempo em que há também o destino de fatores de produção das famílias às empresas (C). A estes movimentos chamaremos de fluxo real. Na parte de baixo do fluxo da renda há a geração de receitas, por parte das famílias, às empresas (B), ao mesmo tempo em que há a geração de rendas, por parte das empresas, às famílias (D). A estes movimentos chamaremos de fluxo monetário. Observação Observe que como se trata de um fluxo, tanto faz o fluxo real estar desenhado na parte de cima como na parte de baixo. O mesmo vale para o fluxo monetário. Percebemos então que o fluxo monetário complementa o fluxo real e vice-versa. Neste fluxo circular da renda, apresentamos o relacionamento monetário e real entre empresas e famílias, encarando as empresas como produtoras e/ou vendedoras e as famílias como consumidoras. Mas temos que pensar também de outra forma. As empresas, para produzirem suas mercadorias, necessitam, muitas vezes, adquirir bens intermediários ou de capital de outras empresas. Portanto, as empresas, além de serem vendedoras, também são compradoras, empreendendo então um relacionamento entre os fluxos monetários e reais entre as próprias empresas. Às famílias, também vale outro raciocínio, pois elas destinam fatores de produção a outras famílias, empreendendo relação tanto monetária quanto real entre elas. Portanto, no fluxo circular da renda temos relacionamento empresa-família, empresa-empresa, família-empresa e família-família. No relacionamento empresa-família, as empresas utilizam os fatores de produção das famílias e as remuneram por isto. No relacionamento família-empresa, as famílias utilizam-se dos bens e serviços que são produzidos pelas empresas e as remuneram por isto. No relacionamento empresa-empresa, as empresas adquirem bens e serviços de outras empresas, gerando receitas umas às outras. Por fim, no relacionamento família-família, as famílias adquirem e destinam seus fatores de produção a outras, ensejando então fluxos real e monetário entre esses agentes econômicos. O fluxo circular da renda, apresentado pela figura 8, representa o funcionamento de uma economia de mercado, mas essa representação está bastante simplificada, ainda. Para Hubbard e O’Brien (2010, p. 106), nosso modelo deixa de fora alguns elementos: 29 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 ELEMENTOS DE ECONOMIA [...] a figura deixa de fora o importante papel do governo na compra de bens das empresas e na realização de pagamentos, como os de seguridade social ou seguro-desemprego para as famílias. A figura também deixa de fora os papéis exercidos pelos bancos, pelos mercados de ações e de títulos de dívida, e por outras partes do sistema financeiro, de ajudar o fluxo de fundos dos credores para os mutuários. Ainda a figura não mostra que alguns bens e serviços comprados são produzidos em países estrangeiros e que alguns bens e serviços produzidos por empresas domésticas são vendidos para famílias estrangeiras. Outra questão de vital importância: nosso modelo pressupõe uma economia a dois setores, ou seja, considerando somente o relacionamento de empresas e famílias. Essa é uma simplificação que deve ser levada em consideração já que, conforme afirma Schwarz (2009, p. 41), a economia deve ser vista como um sistema aberto: [...] embutido na sociedade e no ambiente natural, que depende para o seu funcionamento e evolução da existência não só de um quadro organizacional, como de fluxos permanentes de materiais, de energia e de informação: matérias-primas, combustíveis fósseis, água, ar etc., são por ela capturados, depois transformados em bens e serviços aptos a satisfazerem as necessidades humanas e, por fim, devolvidos à origem na forma de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. Passemos então a analisar as formas de organização da sociedade econômica ou então de que forma as sociedades se organizam para poder cumprir o fluxo circular da renda. 1.8 Organização da atividade econômica Estabeleceremos aqui que há duas formas de organização da atividade econômica: uma forma descentralizada, predominante nas economias ocidentais, e uma forma centralizada, predominante no caso cubano. Observação Vamos explorar com maior preocupação a forma descentralizada que é a predominante nas economias modernas. A forma descentralizada, também chamada de economia de mercado, reúne três elementos principais: livre iniciativa, presença do Estado e elementos de uma economia capitalista. Vamos examinar detidamente cada um destes elementos. No caso da livre iniciativa, nenhum agente econômico – seja empresas, como produtoras ou vendedoras de mercadorias, ou famílias, como fornecedoras de fatores de produção e consumidores de mercadorias – se preocupa em desempenhar o papel de gerenciar o bom funcionamento do sistema de preços. Preocupa-se 30 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Unidade I em resolver isoladamente seus próprios negócios. Procura sobreviver apenas na concorrência imposta pelos mercados, tanto na venda e compra de produtos finais como na dos fatores de produção. Trata-se de um jogo econômico, baseado em sinais dados por preços formados nos diversos mercados. Trata-se de um agir egoísta que, no conjunto, resolve inconscientemente os problemas básicos da coletividade. Há uma espécie de mão invisível agindo sobre os mercados, e ela opera como algo coordenador das atividades econômicas e sociais. A ação conjunta dos indivíduos e empresas permite que centenas de milhares de mercadorias sejam produzidas como um fluxo constante, mais ou menos voluntariamente, sem uma direção central. A livre iniciativa ajuda a responder ao problema econômico fundamental, ou seja, resolve as questões principais – o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? – da seguinte forma: O que e quanto produzir é resolvido pela procura dos consumidores no mercado, ou seja, são eles que dão sinais de mercado às empresas do que elas precisam produzir. Portanto, o agente principal neste processo é o consumidor, pois sua atuação determinará quais produtos serão produzidos. A questão sobre como produzir é determinada pela concorrência entre os produtores, pelo emprego do método de fabricação mais eficiente ou mais barato. No caso, aquele produtor mais eficiente derrotará o produtor mais ineficiente. Por fim, a questão sobre para quem produzir será respondida pela oferta e demanda no mercado de fatores de produção, ou seja, pelo montante de renda individual. Esquematizando, voltamos ao fluxo circular da renda. Gastos ($) (=PIB) Receitas ($) (=PIB) Bens e serviços comprados Terra. capital, trabalho e empreendedorismo Salários, aluguéis, juros e lucros ($) (PIB) Renda ($) (PIB) Insumos para a produção Bens e serviços vendidos Fluxo de bens e serviços Fluxo de dinheiro Mercado de fatores de produção Famílias Empresas Mercado de produtos Modelo de fluxo circular da renda e do produto Figura 9 – Fluxo circular da renda 31 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv eira , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 ELEMENTOS DE ECONOMIA A livre iniciativa opera conforme demonstrado pelo fluxo circular da renda, ou seja, as famílias dão sinais de mercado às empresas do que elas necessitam consumir, sinalizando a elas o que devem produzir. Para tanto, as empresas também dão sinais de mercado de que é necessário empregar fatores de produção (terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial) e em quais quantidades. Desses sinais de mercado, do que produzir e quanto empregar de fatores de produção, temos a determinação dos preços das mercadorias e a determinação dos preços dos fatores de produção. Portanto, a livre iniciativa também pode ser chamada de sistema de preços, ou seja, o fluxo circular da renda ou o sistema de preços coordena as decisões de milhões de unidades econômicas. Então, além do fluxo circular da renda demonstrar os fluxos monetário e real, ele também demonstra a existência de um mercado de bens e de um mercado de fatores. Quando as empresas destinam bens e serviços às famílias, estamos trabalhando com um mercado de bens no qual serão estabelecidos os preços das mercadorias transacionadas, bem como suas quantidades. Quando as famílias destinam fatores de produção às empresas, estamos trabalhando com um mercado de fatores de produção e, neste mercado, são estabelecidos tanto os preços quanto as quantidades desses fatores. O sistema de preços determina preços e quantidade de equilíbrio, pois os consumidores estabelecem os preços máximos que desejam pagar pelo consumo das mercadorias e os produtores estabelecem os preços mínimos que desejam remunerar pela utilização dos fatores de produção. No que diz respeito à presença do Estado, dadas as imperfeições apresentadas pelo sistema de preços da livre iniciativa, ele surge para regulamentar essas atividades. Lembrete A introdução do governo nesse modelo simplificado não o modifica, pois o governo exerce funções normativas e regulatórias ao participar dos fluxos econômicos fundamentais. Como o governo também se apresenta como agente econômico, desempenha algumas funções na economia: de um lado, pela arrecadação de impostos, retira do fluxo circular parcela da renda da sociedade que, desta forma, financia o gasto público. De outro lado, o governo utiliza a renda que foi retirada da sociedade e a devolve na forma de gastos públicos, oferecendo para a sociedade aquilo que a iniciativa privada não teria condições de produzir (ou que a iniciativa privada produziria a um custo social muito elevado). Tem ainda a função de adquirir produtos das empresas. Quanto aos elementos de uma economia capitalista, este sistema caracteriza-se por uma organização econômica com base na propriedade privada dos meios de produção, isto é, os bens de produção ou de capital. Os elementos são: 32 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 Unidade I • capital; • propriedade privada dos meios de produção, dada a existência do capitalista; • divisão do trabalho por meio da especialização do trabalho e da mecanização da produção; • moeda. Saiba mais Leitura de extrema importância para que se possa entender os elementos de um sistema de capital é o seguinte livro: DOWBOR, L. O que é capital. São Paulo: Brasiliense, 1982. Coleção Primeiros Passos. Acreditamos que a leitura muito lhe agradará. Revisando o que foi apresentado anteriormente, vivemos em uma sociedade baseada nas trocas, que ocorrem através do mercado. Nessa sociedade, por meio das trocas, o agente busca individualmente solucionar o seu problema econômico. Para isso, ele, de forma racional, dá à sociedade, no mercado, o que detém, recebendo em troca, também no mercado, o que necessita e não detém. Ou seja, nessa sociedade, [...] não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse. Dirigimo-nos não à sua humanidade, mas à sua autoestima, e nunca lhes falamos das nossas próprias necessidades, mas das vantagens que advirão para eles (SMITH, 1983, p. 50). Portanto, nessa sociedade, de forma anárquica – afinal, cada agente cuida de si –, emergiria o bem-estar coletivo. Portanto, uma vez que cada um cuida de si, vemos que a competição é um fator inerente e determinante numa economia de mercado: todos os agentes se movimentam pelo interesse próprio, fazendo escolhas racionais no intuito de obter mais poder de mercado que os demais agentes e, com isso, minimizando as suas restrições na busca da maximização do seu benefício individual. Assim sendo, na economia de mercado, vemos que a relação de troca das mercadorias é peça-chave na solução do problema econômico individual e coletivo. Nas economias modernas, por uma questão de eficiência e necessidade, as trocas são intermediadas pela moeda. Por exemplo, no mercado, não trocamos trabalho por uma geladeira. De fato, primeiro vendemos trabalho no mercado e, com o dinheiro apurado nessa venda, compramos no mercado a geladeira que desejávamos. Portanto, na economia de mercado em que vivemos, as trocas, de fato, ocorrem, não mercadoria por mercadoria, mas sim mercadoria por dinheiro (vendas) e dinheiro por mercadoria (compras). 33 CE CO _G EO _H IS - R ev isã o: C ris tin a Fr ar ac io , G io va nn a Ol iv ei ra , J ul ia na M en de s, Ro se C as til ho - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a 21 -0 2- 20 14 ELEMENTOS DE ECONOMIA De forma nítida, estamos tratando de trocas: empresas produzindo mercadorias para consumo da sociedade em troca de recursos, no caso, monetário, para ser aplicado novamente na produção de mais mercadorias e assim em diante. Pessoas trabalhando para empresas que, em troca de sua força de trabalho, recebem salário na forma de dinheiro para destinar ao consumo de mais mercadorias. Para Jorge e Moreira (1990, p. 27), [...] qualquer que seja a forma de organização da atividade econômica de uma comunidade, [...] os seus objetivos são muito semelhantes: busca-se otimizar a satisfação do indivíduo, de um lado e, de outro, maximizar a eficiência produtiva. Ademais, em um sistema de livre iniciativa empresarial, [...] impera a propriedade privada dos bens de produção ao lado das decisões sobre o que e quanto produzir fundamentadas no mercado e nos preços. As atividades econômicas são, portanto, dirigidas e controladas unicamente por empresas privadas, que competem entre si. Daí a alcunha de ‘economia de mercado’, porque o mercado é o habitat natural das empresas (JORGE; MOREIRA, 1990, p. 29). Quanto à segunda forma de organização da atividade econômica, ou seja, a forma centralizada, quem responde ao problema econômico fundamental é um órgão planejador central (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2010). Apenas para dar um exemplo: desde a revolução que destituiu Batista e levou Fidel Castro ao poder cubano, é o governo quem decide o que cada um deve produzir e o que cada agente deve consumir. O princípio que norteia essas decisões é o socialista, que prevê que cada um deve contribuir/ consumir de acordo com sua capacidade e com seu trabalho. Do ponto de vista prático, as vendas são realizadas por meio de libretas, criadas em 1962, e que representam o conjunto de mercadorias que podem ser consumidas por cada pessoa. A quantidade
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