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O pensamento grego e a igreja cristã (Parte 27)

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Home  Vida Cristã  Pensamento Cristão 
O pensamento grego e a igreja cristã (Parte 27)
A Sabedoria do Espírito em nossa cotidianidade
Por Hermisten Maia em 24 jun, 2021
A sabedoria que procede de Deus tem virtudes próprias que não a
confundem. Vejamos o tratamento instrutivo que apresenta Tiago:
Quem entre vós é sábio (sofo/j) e inteligente (e)pisth/mwn)? Mostre em
mansidão de sabedoria (so�/a), mediante condigno proceder, as suas obras.
 Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e
sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade. 
Esta não é a sabedoria (so�/a) que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e
demoníaca. Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e
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https://voltemosaoevangelho.com/blog/assunto/vida-crista/
https://voltemosaoevangelho.com/blog/assunto/vida-crista/pensamento-cristao/
https://voltemosaoevangelho.com/blog/
https://voltemosaoevangelho.com/blog/autor/hermisten-maia/
https://fiel.in/3aJBHzG
toda espécie de coisas ruins. A sabedoria (so�/a), porém, lá do alto é,
primeiramente, pura (a(gno/j = santa, honesta);[1] depois, pací�ca
(ei)rhniko/j),[2] indulgente (e)pieikh/j[3] = moderada, cordata, tolerante,
gentil), tratável (*eu)peiqh/j = simpática, razoável), plena de misericórdia
(mesto/j e)/(leoj) e de bons frutos (karpo/j a)gaqo/j), imparcial (*a)dia/kritoj
= inabalável, resoluta, isenta de duplicidade), sem �ngimento
(a)nupo/kritoj[4] = não hipócrita, real, verdadeira). Ora, é em paz que se
semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz. (Tg 3.13-18).
A sabedoria bíblica consiste não no acúmulo de conhecimento, antes, em um
modo de vida que re�ita a sabedoria de Deus revelada em Cristo Jesus, em
quem temos o modelo encarnado da plenitude de sabedoria. A sabedoria é
decorrente de nossa comunhão com Cristo e a partir dessa realidade, no
modo como edi�camos a nossa vida.[5]
Ser sábio é aplicar o conhecimento adquirido à arte de viver em comunhão
com Deus re�etindo isso em todas as dimensões de nossa existência.
Sabedoria é a associação teórica e prática entre conhecimento e santidade
que se manifesta em piedade.
De acordo com a nossa nova natureza, devemos andar com sabedoria, de
forma distinta de nossa antiga vida, procurando compreender a vontade de
Deus, tendo o cuidado para não sermos enganados por falsos ensinamentos
que cultivam uma mera e vazia aparência de verdade:
Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas coisas, vem a ira
de Deus sobre os �lhos da desobediência. Portanto, não sejais participantes
com eles. Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai
como �lhos da luz (porque o fruto da luz consiste em toda bondade, e
justiça, e verdade), provando sempre o que é agradável ao Senhor. E não
sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as.
 Porque o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha. Mas todas as
coisas, quando reprovadas pela luz, se tornam manifestas; porque tudo que
se manifesta é luz. Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de
entre os mortos, e Cristo te iluminará. Portanto, vede prudentemente como
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andais, não como néscios (*a)/sofoj), e sim como sábios (sofo/j), remindo o
tempo, porque os dias são maus. Por esta razão, não vos torneis insensatos,
mas procurai compreender qual a vontade do Senhor. (Ef 5.6-17).
A Palavra, por nos revelar Jesus Cristo, o Deus Encarnado e, por
decorrências, suas instruções, torna-nos sábios para a salvação preparada
por Deus para nós desde a eternidade.
As Escrituras nos capacitam a ter um padrão uni�cador da realidade, indo
além da mera aparência ou de verdades fragmentadas. Com o coração
puri�cado pela Palavra temos maior sensibilidade e discernimento para ver
na Criação e em nossa vida, o agir de Deus, a ação de Jesus Cristo o seu Filho,
a sua direção, cuidado e proteção. Aquilo que pode parecer banal ao homem
natural, para nós, há, ainda que muitas vezes por meios naturais, a
manifestação sobrenatural do cuidado, da preservação e, até mesmo, da
disciplina de Deus (Hb 12.6-7).
Nós só vemos o que somos capazes de ver.[6] Deste modo, onde alguns
ouvem um ruído, poderemos perceber uma sinfonia.[7] Em lugar de variadas
cores, talvez desconexas para muitos, enxerguemos o arco-íris. Onde outros
veem com admiração um céu estrelado, veremos a manifestação da glória de
Deus (Sl 8.1; 19.1).[8]
MacArthur escreve com agudez bíblica: “Aquele cujo coração é puri�cado por
Jesus Cristo vê frequentemente a glória de Deus. (…) A pureza de coração
puri�ca os olhos da alma para que Deus seja visível”.[9]
Aprendizagem bem-aventurada desde a infância
Paulo exorta Timóteo a permanecer naquilo que aprendeu desde a infância.
Como é um alto privilégio poder ter usufruído desde a mais tenra idade de
uma formação bíblica.[10] Por outro lado, os pais e avós nem sempre
percebem de imediato os frutos de seus ensinamentos, porém, devemos
perseverar em ensinar as Sagradas letras deixando com Deus os resultados
que certamente aparecerão:
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Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassados, sirvo com
consciência pura, porque, sem cessar, me lembro de ti nas minhas orações,
noite e dia. Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que
eu transborde de alegria pela recordação que guardo de tua fé sem
�ngimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Lóide e em tua
mãe Eunice, e estou certo de que também, em ti. (2Tm 1.3-5).
Tu, porém, permanece (me/nw = continuar, �car, morar) naquilo que
aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que,
desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio
(so�/zw) para a salvação pela fé em Cristo Jesus. (2Tm 3.14-15).
A sabedoria concedida por Deus deve nos tornar sábios para o bem, como
indica Paulo:
Pois a vossa obediência é conhecida por todos; por isso, me alegro a vosso
respeito; e quero que sejais sábios (sofo/j) para o bem e símplices
(a)ke/raioj[11] = puro, sem mistura, sem mescla, não adulterado, intacto)[12]
para o mal. (Rm 16.19).
A palavra (a)ke/raioj) é aplicada ao leite e ao vinho que não foram misturados
com água; à pureza do metal e à muralha de uma fortaleza que se manteve
intacta. Portanto, a sabedoria do Espírito é pura, sem dissimulação nem
segundas intenções.
Jesus Cristo nos instrui: “Eis que vos envio como ovelhas para o meio de
lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices (a)ke/raioj)
como as pombas” (Mt 10.16).
A sabedoria cristã dos �lhos de Deus se revela no seu uso para o bem. A
sabedoria que procede de Deus (Tg 1.17) não é empregada para o mal, para
destruir ou satisfazer os nossos desejos egoístas.
Deus, descrevendo a insensibilidade espiritual de Judá, diz: “…. o meu povo
está louco, já não me conhece; são �lhos néscios, e não entendidos; são
sábios para o mal, e não sabem fazer o bem” (Jr 4.22).
A sabedoria cristã é o oposto disso. Ela se dispõe a ajudar, socorrer, edi�car.
O seu planejamento é para o bem, nunca para o mal.
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Judá estava tão distante de Deus que desaprendera a fazer o bem, os seus
pensamentos eram ligeiros, ágeis para o mal. No entanto, o desa�o de Deus
para nós é para que nos exercitemos na prática do que é justo. E quanto ao
mal? Que sejamos puros quanto a ele, não tendo ideias para executá-lo. No
entanto, quando nos desa�arem a fazer o bem, que sejamos argutos, prontos,
tendo uma visão perspicaz e penetrante. Até para fazer o bem precisamos ter
discernimento.
Há, por exemplo, um tipo de assistencialismo que longe de ajudar, cria um
espírito de dependência que não se con�gura como ajuda. Ser sábio para o
bem não signi�ca conceder tudo o que nos pedem, mas, saber administrar
com discernimento os recursos disponíveis, de forma criativa e fraterna
visando uma contribuição individual e social. Assim,Deus será glori�cado.
Portanto, devemos utilizar a inteligência que Deus nos deu, para edi�car,
construir, socorrer, nunca para destruir, lucrar desonestamente: isto seria
esperteza, que nada tem a ver com o Cristianismo e a pureza que deve
caracterizar os �lhos de Deus.
Um exemplo prático desta sabedoria está na orientação de Paulo no que se
refere, ainda que não exclusivamente, à evangelização. Devemos aproveitar
as oportunidades, falando com graça e com o sal que Deus nos deu, fruto de
nossa transformação espiritual e evidência de nosso discipulado,[13] para
que não sejamos insípidos: “ Portai-vos (peripate/w) com sabedoria (so�/a)
para com os que são de fora; aproveitai as oportunidades (kairo/j). A vossa
palavra seja sempre agradável, temperada com sal [com graça e integridade],
para saberdes como deveis responder a cada um” (Cl 4.5-6).
A oração de Paulo é no sentido de que Deus, pelo Espírito, nos dê sabedoria,
nos conduzindo à maturidade espiritual (1Co 2.6) para que entendamos a sua
revelação em Jesus Cristo mediante o conhecimento intenso de sua Pessoa.
Somente pela Sabedoria do Espírito (1Co 2.6-16),[14] tendo como padrão a
cruz de Cristo, podemos avaliar toda a realidade, envolvendo a grandeza e a
miséria, a sabedoria e a loucura, e, o que de fato é relevante.
A sabedoria do Espírito nos concede discernimento e um critério absoluto
para enxergar todas as coisas. Dizendo de outro modo, Paulo roga a Deus
para que os efésios fossem cheios do Espírito Santo.
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A profundidade da sabedoria de Deus revelada na Criação e em seus atos (Rm
11.33-36) não é para ser alvo de especulações, antes, de contemplação
adoradora e de nossa vivência na história como povo de Deus.
Sem o Espírito de sabedoria jamais entenderíamos as maravilhas do
Evangelho que consistem no conhecimento não de uma doutrina, mas de
uma Pessoa (Jo 17.3).[15]
Aqui nesta oração temos uma súplica retroalimentadora: pela sabedoria
concedida por Deus podemos entender a revelação. Na compreensão
progressiva desta revelação vamos adquirindo, por graça, maior sabedoria. O
conhecimento de Deus não se esgota. Devemos prosseguir e nos desenvolver
neste conhecimento.
Esta oração se torna concreta em nós na medida em que sinceramente
desejamos a sabedoria do alto. A nossa súplica sincera por sabedoria (Tg 1.5)
[16] deve vir acompanhada pela leitura e meditação da Escritura.
Mesmo sabendo da real necessidade que temos da sabedoria espiritual
concedida por Deus, isso não signi�ca que devamos abdicar de nossa
capacidade de pensar conforme Deus nos concedeu. O pensamento e a fé
devem caminhar juntos. Não estamos estabelecendo paradoxos. Antes, o que
estou a�rmando é que o pensar é um imperativo fundamental de nossa
condição de imagem de Deus. Como homens e mulheres criados à imagem
de Deus devemos nos valer dessa capacidade tão cara concedida a nós. Não
estamos estabelecendo paradoxos. Antes, o que estou a�rmando é que o
pensar é um imperativo fundamental de nossa condição de imagem de Deus.
Como homens e mulheres criados à imagem de Deus devemos nos valer
dessa capacidade tão cara concedida a nós. O pensamento e a fé devem
caminhar juntos.
Precisamos aprender que a fé não elimina a nossa responsabilidade de
pensar. Pensar não exclui a nossa fé. Ambas as atitudes devem caracterizar a
vida do cristão a �m de que a nossa fé seja compreensível e a nossa razão seja
guiada pela fé. A nossa fé e a nossa inteligência devem caminhar de mãos
dadas em submissão a Deus.
O pensar confuso, destituído de fundamento, leva-nos à confusão. O seu
repetir e propagar cria uma estagnação social em todos os níveis. A confusão
intelectual é uma das raízes de repetições in�ndáveis que sufoca a
possibilidade de crescimento, ajudando a perpetuar o erro, o equívoco e o
que é obsoleto em sua constituição e prática.
Calvino (1509-1564), um grande expoente da Reforma Protestante, escreveu
com propriedade:
Não vivemos em um mundo de aparências. A realidade é acessível e Deus
deseja que a conheçamos. O mundo real foi revelado a nós. Deus nos
concedeu meios para conhecê-lo dentro do palco maravilhoso de sua glória
revelado na Criação.
Chamo serviço não somente o que consiste na obediência à
Palavra de Deus, mas também aquele pelo qual o
entendimento do homem, despojado dos seus próprios
sentimentos, converte-se inteiramente e se sujeita ao Espírito
de Deus. Essa transformação, que o apóstolo Paulo chama
renovação da mente [Rm 12.2], tem sido ignorada por todos os
�lósofos, apesar de constituir o primeiro ponto de acesso à
vida. Eles ensinam que somente a razão deve reger e dirigir o
homem, e pensam que só a ela devemos ouvir e seguir; com
isso, atribuem unicamente à razão o governo da vida. Por
outro lado, a �loso�a cristã pretende que a razão ceda e se
afaste, para dar lugar ao Espírito Santo, e que por Ele seja
subjugada e conduzida, de modo que já não seja o homem que
viva, mas que, tendo sofrido com Cristo, nele Cristo viva e
reine.[17]

O Senhor nos dá compreensão, nos faz ter entendimento de toda a realidade.
O real não é uma mera utopia, antes, é acessível e, portanto, conhecível. Se
não tivéssemos acesso à realidade, seria, por exemplo, impossível escrever
história e, da mesma forma, estudá-la. Qual seria o sentido disso além de um
exame psicológico do historiador?[18]
Não vivemos num mundo de imagens, mas, de realidade, por mais
desagradável que essa possa se con�gurar a nós em determinadas
circunstâncias. No entanto, precisamos re�etir a respeito. Não basta ler, é
preciso re�etir. O que me faz pensar que o caminho para a compreensão das
coisas é um pensar intenso, humilde e submisso a Deus. Nem sempre as
coisas se mostram a nós de forma clara e evidente. Precisamos pensar a
respeito. O pensar e o repensar podem fazer parte de um processo cognitivo
abençoador de considerar, compreender e viver de acordo com o propósito
de Deus.
Todo conhecimento parte de um pré-conhecimento que é-nos fornecido
pela nossa condição ontologicamente �nita e pelas circunstâncias temporais,
geográ�cas, intelectuais e sociais dentro das quais construímos as nossas
estruturas de conhecimento. A�nal, a humanidade atesta a sua humanidade;
a criatura demonstra a sua condição. Não existe neutralidade existencial
porque de fato, não há neutralidade ontológica. Esta realidade
prejulgadora na maioria das vezes é-nos imperceptível. O que pensamos
determina a nossa visão e compreensão do objeto. Numa relação de
conhecimento, o cérebro in�uencia mais o olho do que o olho ao cérebro.
É por isso que a visão que tenho, ainda que respaldada por forte elemento
referente, é minha visão, com suas particularidades. Em geral, o que me
privilegia, me delimita. Em outras palavras: o que me possibilita uma visão
mais adequada de um ponto, é justamente o que di�culta a visão mais ampla
de outros. É por esse, entre outros motivos, que a ciência é um saber social,
constituído de várias visões, de diversos saberes que se completam,[20] se
transformam e se aperfeiçoam.
A realidade se mostra a nós com contornos próprios delineados não
simplesmente pelo que ela é, mas, também, pelos nossos olhos que a
enxergam e pinçam fragmentos desta realidade conferindo-lhes novas
[19]
con�gurações com cores mais ou menos vivas, atribuindo-lhes valores
muitas vezes bastante distintos dos reais.
Desta forma, a avaliação cristã de todas as coisas deverá ser crítica e
construtiva. A cosmovisão do ser pensante, por mais apaixonante e intensa
que seja, não pode estar acima de uma avaliação. O seu produto não é
simplesmente produto de seu gênio autônomo, desejado, porém, inexistente.
Aliás, inclino-me a crer que o seu gênio é profundamente modelado pelo
“clima” ou “atmosfera” de sua época, pelas cores com as quais a realidade é
pintada e os acordes que dão o tom aos valores hodiernos, ainda que isso não
determine uma única forma de apreensão e expressão, como sublinha
Wölf�in (1864-1945). Aliás, nem um de nós pode ser separado da história e
da sua história.[23]
O perigo de sacrificar princípios
Contudo,uma tentação para todos nós é sacri�car princípios que
consideramos absolutos, os relativizando a �m de sermos aceitos pelos
nossos pares, ou, nos considerar atualizados. Os viúvos intelectuais de hoje,
foram, em geral, casados com a moda tortuosa de ontem. O consórcio
intelectual motivado por desejos estranhos à busca da verdade e instrução a
�m de uma vida digna, em geral é decepcionante e o seu �m pode ser
trágico.[24] A mudança inconsistente de referência é, em geral deprimente,
revelando a fraqueza moral de seus praticantes.
Henry (1913-2003), pontua bem a questão:
[21]
[22]
É extremamente fácil e perigoso nos deixarmos seduzir pelos nossos
próprios pensamentos a respeito do pensamento vigente e aparentemente
de�nitivo. O nosso amanhã poderá re�etir tragicamente o nosso consórcio
intelectual e moral de hoje.
Por sua vez, as sínteses que por vezes fazemos, tendem a ignorar as reais
antíteses de nosso pensamento – ora as minimizando, ora as ocultando –,
demonstrando, a inconsistência de nossa percepção ou, talvez de nosso
caráter, o que é bem pior.
Beeke e Jones escrevem com pesar: “Seja em virtude da ignorância das
Escrituras, seja em virtude de uma distorção das Escrituras para que estas se
adaptem aos nossos desejos, perdemos nossas convicções antitéticas acerca
do mundo ímpio ao nosso redor”.[27]
Somos chamados a vivenciar a nossa fé em todos os desa�os que se
apresentam em nossa cultura. Portanto, não estamos propondo uma
alienação da cultura, nem, simplesmente, uma identi�cação cultural
irresponsável, imaginando que a força da igreja esteja em sua semelhança e
não na sua diferença genética e, portanto, naturalmente sobrenatural. Fomos
Sancionar a “credibilidade” da investigação cristã, exibindo em
primeiro lugar sua compatibilidade com teorias estranhas,
signi�ca apenas mercadejar a singularidade do cristianismo.
(…) De modo similar, os cristãos devem apresentar sua
distintiva maneira de ver a verdade, que engloba o Deus que
cria e  ilumina nossos mecanismos formadores de crença. Os
cristãos não devem sentir compulsão alguma para a�nar sua
epistemologia teística transcendente para coincidir com as
preferências de �lósofos hostis.[25]

[26]
gerados de novo para uma nova vida caracterizada por uma nova esperança,
fundamentada na historicidade da ressurreição de Cristo, que perpassa e
confere sentido à nossa existência hoje (1Pe 1.3,13,21; 3.15/1Tm 4.10).
O equilíbrio aqui é necessário. Estamos no mundo, mas, não somos deste
mundo. Somos peregrinos, estrangeiros e hóspedes.[29]
Valendo-me de uma expressão de Tchividjian, diria que somos “estrangeiros
residentes”.[30] É natural que haja uma tensão em nós. Somos imperfeitos,
limitados, temos nossos anseios que, por vezes, tendem a ser maximizados
em meio a aspectos da nossa cultura tão convidativos e, em certo sentido,
confortáveis. É necessário discernimento para que não caiamos no
mundanismo intelectual e vivencial, o que inviabilizaria totalmente a nossa
possibilidade de in�uência em nosso meio. Não podemos permitir que a
nossa mente e o nosso comportamento sejam regidos pela forma mundana e
pagã de pensar e agir. Ingressaríamos, assim, num ateísmo prático ou
funcional, que se caracteriza pela direção de sua vida como se Deus não
existisse.[31]
Veith usa um exemplo pertinente:
[28]
O desejo de ser intelectualmente respeitável pode produzir
híbridos de secularismo e Cristianismo, como visto na teologia
liberal, ou levar à total incredulidade. O desejo de ser
socialmente respeitável pode corroer a severidade da
moralidade bíblica para uma tolerância livre e fácil que pode
chegar a justi�car, tanto em outros como em si mesmo, a
imoralidade mais chocante. O desejo de ser popular pode se
tornar um pretexto para atenuar ou abandonar verdades
bíblicas em favor de crenças que estejam mais em voga.[32]

Deus opera ordinariamente em nossa vida por meio da Palavra. E é esta
operação do Espírito em nossos corações que nos transforma concedendo-
nos uma visão diferente da realidade e, também, um modo de agir
condizente com a nossa nova natureza. Neste sentido, é que Jesus Cristo
disse que o mundo odiou os seus discípulos e, acrescentou: “Eles não são do
mundo” (Jo 17.14). “A primeira coisa que verdadeiramente caracteriza o cristão
é que ele não é deste mundo, e não lhe pertence”.[33]
Na República, Platão (427-347 a.C.) referindo-se àqueles que adquiriram o
conhecimento verdadeiro, demonstra como os demais saberes tornaram-se
secundários: “Os que ascenderam àquele ponto não querem tratar dos
assuntos dos homens, antes se esforçam sempre por manter a sua alma nas
alturas”.[34]
Acreditamos que podemos conhecer a verdade – ainda que não
exaustivamente ‒ porque nenhuma cosmovisão está acima de uma avaliação
bíblica. Os bereanos se constituem em exemplo de uma avaliação criteriosa
do que ouviram, primariamente, com atenção e interesse, independente de
quem lhes ensinava, conforme narra Lucas: “Ora, estes de Beréia eram mais
nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez,
examinando (a)nakri/zw) (“fazer uma pesquisa cuidadosa”, um “exame
criterioso”, “inquirir”) as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram,
de fato, assim” (At 17.11).
O nosso desejo de servir a Deus nos valendo, inclusive, de ferramentas
variadas, com o propósito de melhor conhecer a realidade e de servir ao
nosso próximo na melhor compreensão da verdade, não nos deve tornar
presas fáceis de qualquer ensinamento ou doutrina.
Precisamos cienti�car-nos se aquilo que é-nos transmitido procede ou não
de Deus. Para este exame, temos as Escrituras Sagradas como fonte de todo
conhecimento revelado a respeito de Deus e do que Ele deseja de nós. O não
investigar (Sl 10.4) é um mal em si mesmo. Um bom princípio é examinar o
que se nos apresenta como realidade dentro de suas multifárias percepções,
 não nos deixando seduzir e guiar por nossas inclinações ou pelas
tendências massi�cantes.
[35]
Em geral, quando nos faltam critérios objetivos, apelamos para o gosto como
critério de�nitivo e solitário. Desse modo, somos conduzidos simplesmente
por princípios que nos agradam sem veri�car a sua veracidade. O �m disso
pode ser trágico. Assim sendo, por mais autoeloquentes que possam se
con�gurar aspectos da chamada realidade, precisamos examiná-los antes de
os tomarmos como pressupostos para a aceitação de outras declarações
também reivindicatórias. Quando nos omitimos deste exame, deste juízo
crítico, sem percebermos, estamos contribuindo para que os ensinamentos
hoje aceitos inconsistentemente, amanhã se tornem pressupostos que
determinarão as nossas escolhas e avaliações.
As hipóteses de hoje poderão se tornar nas teorias de amanhã e as futuras
leis do pensamento e da moral.[37] Neste caso, já estarão acima de qualquer
suspeita e discussão: tornaram-se verdade. A ciência é, com frequência, um
re�namento das observações cotidianas.
Como escreveu Pearcey: “A questão importante é o que aceitamos como
premissas básicas, pois são elas que moldam tudo o que vem depois”. Há o
perigo de, sem nos darmos conta, formar a nossa cosmovisão baseados em
um mosaico de peças promíscuas, contraditórias e excludentes.[40]
O homem não é a medida de todas as coisas como queria Protágoras (c. 480-
410 a.C.) e os Renascentistas ao revisitarem a sua frase. No entanto, isto
não signi�ca a admissão de falta de um referencial, antes, na a�rmação de
que Jesus Cristo é a medida, o cânon da verdade e, portanto, de toda
avaliação que �zermos da realidade que nos circunda.
Os bereanos tinham um padrão de verdade. Eles criam na sua existência e
acessibilidade. Examinaram o que Paulo dizia à luz das Escrituras, ou seja: o
Antigo Testamento. Se não tivermos um referencial teórico claro, como
poderemos analisar de modo coerente a realidade? Sem referências, tudo é
possível dentro de um quadro interpretativo forjado conforme as
circunstâncias e meus interesses. Todo absoluto envolve antíteses. A fé cristã
em sua essência é antitética a todo pensamento autônomo.[43]Talvez, mesmo para nós cristãos, esteja faltando hoje, ainda que não de hoje,
um pensamento cristão, uma mente cativa a Cristo que nos propicie o
desenvolvimento de uma cosmovisão cristã.
[36]
[38]
[39]
[41] [42]
[44]
Cosmovisão é um compromisso de fé e prática. Por isso, o nosso trabalho
pastoral consiste na aplicação de nossa fé – criticamente avaliada a partir das
Escrituras – às condições concretas de nossa existência. A fé é chamada a se
materializar nos desa�os que se con�guram diante de nós em nossa história
de vida. E, como diz Lloyd-Jones (1899-1981): “A fé cristã não é algo que se
manifeste à superfície da vida de um homem, não é meramente uma espécie
de camada de verniz. Não, mas é algo que está sucedendo no âmago mesmo
de sua personalidade”.[45]
Por conseguinte, o ministério pastoral é um serviço que prestamos a Deus
por meio da igreja, do povo que Ele mesmo nos concedeu o privilégio de
pastorear. Em �delidade a nossa vocação não podemos perder de vista o
nosso propósito: servimos a Deus dentro de nossas limitações e expectativas.
A graça de Deus tão necessária é abundante e, por isso, su�ciente.
Tomemos a orientação de Paulo: “Pondera (noe/w) (= atentar, compreender,
pensar, entender) o que acabo de dizer, porque o Senhor (ku/rioj) te dará
compreensão (su/nesij) (= entendimento, inteligência, discernimento) em
todas as coisas” (2Tm 2.7).
O que Paulo instrui a Timóteo é no sentido de que ele re�ita sobre o que o
Apóstolo lhe escreveu buscando a compreensão no Senhor. Pensamento e
oração caminham juntos. “Um ministro que ora está no caminho de ter um
ministério bem-sucedido”. Contrariamente, a ausência de oração
determinará de forma trágica a morte de toda a sua vitalidade espiritual.
A piedade e sua praticidade
Não podemos excluir Deus de nossas pesquisas. A piedade para tudo é
proveitosa (1Tm 4.8). Não permitamos que a nossa fé nos afaste de uma
pesquisa séria. A nossa fé deve ser o transpirar de nossa teologia. “A fé
cristã não é uma fé apática, uma fé de cérebros mortos, mas uma fé viva,
inquiridora. Como Anselmo a�rmou, a nossa fé é uma fé que busca
entendimento”, resume Craig.
A nossa fé nunca pode ser algo ocioso. Devemos, portanto, pensar sobre o
pensar rogando a Deus a sua iluminação. As nossas mãos devem ser agentes
daquilo que, por graça temos percebido. Deus mesmo, por graça, nos dará o
[46]
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[50]
discernimento sobre todas as coisas. Pense sobre isso. Ore, persevere em
orar a respeito.  Aos ministros de modo especial: Pregue a Palavra com
�delidade, profundidade, integridade e simplicidade. Cumpra a sua
vocação. Ouça o Espírito falando por meio da sua Palavra. Viva esta Palavra.
Ensine à Igreja a Palavra do Espírito. Assim Deus será glori�cado. Ele mesmo,
o Senhor da Glória, haverá de abençoá-los suprindo todas e cada uma de
suas necessidades.
[1] *2Co 7.11; 2Co 11.2; Fp 4.8; 1Tm 5.22; Tt 2.5; Tg 3.17; 1Pe 3.2; 1Jo 3.3.
[2] *Hb 12.11; Tg 3.17.
[3] *Fp 4.5; 1Tm 3.3; Tt 3.2; Tg 3.17; 1Pe 2.18.
[4] *Rm 12.9; 2Co 6.6; 1Tm 1.5; 2Tm 1.5; Tg 3.17; 1Pe 1.22.
[5] Veja-se: Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor
o tempo todo, em toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.:
Monergismo, 2019, p. 53.
[6]Hendriksen e especialmente Barclay (1907-1978) desenvolvem este
conceito com variações estimulantes. Vejam-se: William Hendriksen, Mateus,
São Paulo: Cultura Cristã, 2001, v. 1, (Mt 5.8), p. 387-388; William Barclay, El
Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1973, v. 1, (Mt 5.8), p.
116-117.
[7]Veja a �gura em Polanyi, citada por McGrath (Alister E. McGrath,
Surpreendido pelo sentido: ciência, fé e o sentido das coisas, São Paulo:
Hagnos, 2015, p. 24).
[8]“Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magní�co em toda a terra é o teu nome!
Pois expuseste nos céus a tua majestade” (Sl 8.1). “Os céus proclamam a glória
de Deus, e o �rmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1).
[9] John MacArthur Jr., O Caminho da Felicidade, São Paulo: Cultura Cristã,
2001, p. 148.
[51]
[10]“Se porventura alguém tenha adquirido desde sua tenra juventude um
sólido conhecimento das Escrituras, o mesmo deve considerar tal coisa
como uma bênção especial da parte de Deus” (João Calvino, As Pastorais, São
Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 3.15), p. 261).
[11] *Mt 10.16; Rm 16.19; Fp 2.15.
[12] Tem o sentido �gurado de pureza, inocência, integridade.
[13]“Bom é o sal; mas, se o sal vier a tornar-se insípido, como lhe restaurar o
sabor? Tende sal em vós mesmos e paz uns com os outros” (Mc 9.50/Mt 5.13).
[14]“ Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém,
a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem
a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual
Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória; sabedoria essa
que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem
conhecido, jamais teriam cruci�cado o Senhor da glória; mas, como está
escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em
coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas
Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas
perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens
sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,
também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. 
Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem
de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. 
Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana,
mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. 
Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe
são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele
mesmo não é julgado por ninguém. Pois quem conheceu a mente do
Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo” (1Co 2.6-
16).
[15]“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a
Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3).
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[16]“Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a
todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida” (Tg 1.5).
[17] João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas
para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, (IV.17), p. 184
(Veja-se a nota 5 in loc.).
[18] Sei que a narrativa histórica não é objetiva e que o historiador é
fundamental no diálogo com os “fatos”. Para uma abordagem mais detalhada
sobre o assunto, veja-se: Hermisten M. P. Costa, Introdução à Metodologia
das ciências teológicas, Goiânia, GO.: Editora Cruz, 2015, p. 155-208.
[19]Vejam-se: H.R. Rookmaaker, A Arte não precisa de justi�cativa, Viçosa,
MG.: Editora Ultimato, 2010, p. 39; H.R. Rookmaaker, Arte Moderno y la
Muerte de una Cultura, Barcelona: CLIE; Publicaciones Andamio, 2002, p.
285-286; L. Kalsbeek, Contornos da Filoso�a Cristã,  São Paulo: Cultura
Cristã, 2015, p. 38.
[20] “A ciência é obra coletiva, porquanto supõe vasta cooperação de todos
os sábios, não somente de dada época, mas de todas as épocas que se
sucedem na história” (Émile Durkheim, Educação e Sociologia, 5. ed. São
Paulo: Melhoramentos, (s.d.) p. 35).
[21]“Cosmovisão é um compromisso, uma orientação fundamental do
coração que pode ser expresso como uma estória ou num conjunto de
pressuposições (suposições que podem ser verdadeiras, parcialmente
verdadeiras ou totalmente falsas) que sustentamos (consciente ou
subconscientemente, consistente ou inconsistentemente) sobre a
constituição básica da realidade, e que fornece o fundamento no qual
vivemos, nos movemos e existimos” (James W. Sire, Dando nome ao elefante:
Cosmovisão como um conceito. Brasília, DF.: Monergismo, 2012, p. 179). “A
essência de uma cosmovisão reside profundamente nos recônditos interioresdo eu humano” (Ibidem., p. 180). “Cosmovisões são uma questão do coração”
(Ibidem., p. 181). “Se havemos de ter uma cosmovisão cristã, buscaremos
eliminar as contradições em nossa cosmovisão” (Ibidem., p. 193). “Vivemos a
nossa cosmovisão ou ela não é a nossa cosmovisão” (Ibidem., p. 195).
[22] Heinrich Wölf�in, Conceitos Fundamentais da História da Arte, 4. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2000, (2ª tiragem) 2006, p. 331ss. No campo da
história, tempos percepções semelhantes. Destaco dois autores: Jacob
Burckhardt (1818-1897) – um dos maiores historiadores do século XIX –
referindo-se à sua obra magna sobre o Renascimento (1855), admitiu que:
“….os mesmos estudos realizados para este trabalho poderiam, nas mãos de
outrem, facilmente experimentar não apenas utilização e tratamento
totalmente distintos, como também ensejar conclusões substancialmente
diversas” (Jacob Burckhardt, A Cultura do Renascimento na Itália: Um Ensaio,
São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 21). Do mesmo modo, um
historiador contemporâneo, Delumeau: “Identi�car um caminho não implica
achá-lo sempre belo, como não implica que não haja outro possível” (Jean
Delumeau, A Civilização do Renascimento, Lisboa: Editorial Estampa, 1984, v.
1, p. 21).
[23]“Por mais que lutemos arduamente para evitar os preconceitos
associados à cor, credo, classe ou sexo, não podemos evitar olhar o passado
de um ponto de vista particular. O relativismo cultural obviamente se aplica,
tanto à própria escrita da história, quanto a seus chamados objetos. Nossas
mentes não re�etem diretamente a realidade. Só percebemos o mundo
através de uma estrutura de convenções, esquemas e estereótipos, um
entrelaçamento que varia de uma cultura para outra” (Peter Burke, Abertura:
a nova história, seu passado e seu futuro: in: Peter Burke, org. A Escrita da
História: novas perspectivas, São Paulo: UNESP., 1992, p. 15.).
[24] “Os �lósofos cristãos não deveriam ser tão rápidos na adoção de ideias e
modas �losó�cas históricas ou contemporâneas a não ser que elas se
ajustem bem aos nossos compromissos cristãos” (David K. Naugle, Filoso�a:
um guia para estudantes, Brasília, DF.: Monergismo, 2014, p. 140).
[25]Carl F.H. Henry, O Resgate da Fé Cristã,  Brasília, DF.: Monergismo, 2014,
p. 54-55.
[26] Vejam-se: Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência
intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 59; W.
G. Tullian Tchividjian, Fora de Moda, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 31.
[27] Joel Beeke; Mark Jones, Teologia Puritana: Doutrina para a vida, São
Paulo: Vida Nova, 2016, p. 1196.
[28]“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua
muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1.3). “Por isso, cingindo o
vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos
está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo” (1Pe 1.13). “Que, por meio
dele (Jesus Cristo), tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos
e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus” (1Pe
1.21). “Antes, santi�cai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando
sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da
esperança que há em vós” (1Pe 3.15). “Ora, é para esse �m que labutamos e
nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no
Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos �éis” (1Tm 4.10).
[29]Vejam-se:  D.M. Lloyd-Jones, O Supremo Propósito de Deus, São Paulo:
Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 367; John Calvin, Calvin’s
Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1996 (Reprinted),
v. 22, (1Pe 2.11), p. 78; João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Edições
Paracletos, 1997, (Hb 13.14), p. 391-392.
[30]W. G. Tullian Tchividjian, Fora de Moda, São Paulo: Cultura Cristã, 2010,
p. 93.
[31] “Uma grande porcentagem das pessoas de hoje diria que crê em Deus,
mas raramente lhe dedica um pensamento e rotineiramente tomam suas
decisões como se Ele não existisse” (John M. Frame, A Doutrina de Deus, São
Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 23).
[32]Gene Edward Veith, Jr, De Todo o Teu Entendimento, p. 88.
[33]D. M. Lloyd-Jones, Seguros Mesmo no Mundo, São Paulo: Publicações
Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 2), p. 25. À frente,
continua: “Ser do mundo pode ser assim resumido – é vida, imaginada e
vivida, separadamente de Deus. Noutras palavras, o que decide de�nitiva e
especi�camente se eu e vocês somos do mundo ou não, não é tanto o que
podemos fazer em particular como a nossa atitude fundamental. É uma
atitude para com todas as coisas, para com Deus, para com nós mesmos, e
para com a vida neste mundo; em última análise, ser do mundo é ver todas
estas coisas separadamente de Deus […]
“Ser do mundo – e isso é repetido pelos apóstolos – signi�ca que somos
governados pela mente, pela perspectiva e pelos procedimentos deste
mundo no qual vivemos” (D. Martyn Lloyd-Jones, Seguros mesmo no Mundo,
p. 28-29).
[34]Platão, A República, 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, (1993),
517c-d.
[35] “A prova de que as coisas são apenas valores é óbvia; pegue-se uma coisa
qualquer, transmita-lhe diferente sistema de valoração, e se terá outras
tantas coisas diferentes em lugar de apenas uma. Compare-se o que é a terra
para um lavrador e para um astrônomo: para o lavrador é su�ciente pisar a
rubra pele do planeta e arranhá-la com o arado; sua terra é um caminho, uns
sulcos e umas messes. O astrônomo necessita determinar exatamente o
lugar que o globo ocupa em cada instante dentro da enorme suposição do
espaço sideral: o ponto de vista da exatidão o obriga a convertê-la em uma
abstração matemática, em um caso da gravitação universal. O exemplo
poderia continuar inde�nidamente.
“Não existe, portanto, essa suposta realidade imutável e única com a qual se
pode comparar os conteúdos das obras artísticas; há tantas realidades
quanto pontos de vista. O ponto de vista cria o panorama. Há uma realidade
de todos os dias formada por um sistema de laxas relações, aproximativas,
vagas o su�ciente para os usos da vida cotidiana. Há uma realidade cientí�ca
forjada em um sistema de relações exatas, impostas pela necessidade de
exatidão. Ver e tocar as coisas não são, no �m das contas, senão maneiras de
pensá-las” (Ortega y Gasset, Adão no Paraíso: In: Juan Escárnez Sánchez,
Ortega y Gasset, Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana,
2010, p. 127).
[36]Veja-se: C.S. Lewis, A Abolição do Homem, São Paulo: Martins Fontes,
2005, p. 5. ”Os meio-deuses de uma geração logo passam a ser o objeto do
ridículo da geração seguinte” (Carl F.H. Henry, O Resgate da Fé Cristã,
 Brasília, DF.: Monergismo, 2014, p. 45).
[37] “Aquilo que começa hoje como uma especulação �losó�ca acaba
movendo exércitos e construindo impérios amanhã” (Michael S. Horton, O
Cristão e a Cultura, 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 154).
[38]Julgo ser interessante ler o artigo: Taylor B. Jones, Por que uma visão
bíblica da Ciência?: In: John MacArthur, ed. ger., Pense Biblicamente!:
recuperando a visão cristã do mundo, São Paulo: Hagnos, 2005,
especialmente, p. 337-363.
[39]Nancy Pearcey, Verdade Absoluta: libertando o cristianismo de seu
cativeiro cultural, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus,
2006, p. 44.
[40]Veja-se: Nancy Pearcey, Verdade Absoluta: libertando o cristianismo de
seu cativeiro cultural, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de
Deus, 2006, p. 48. Creio que de certa forma foi isso o que disse Gramsci
(1891-1937), obviamente com referencial totalmente distinto do nosso:
“Quando a concepção do mundo não é crítica e coerente, mas ocasional e
desagregada, pertencemos simultaneamente a uma multiplicidade de
homens-massa, nossa própria personalidade  é compósita, de uma maneira
bizarra….” (Antonio Gramsci, Cadernos do cárcere, 12. ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2020, v. 1, p. 94).
[41]Apud Platão, Teeteto,152a: In: Teeteto-Crátilo, 2. ed. Belém: Universidade
Federal do Pará, 1988, p 15. Citado também em Platão, Crátilo, 385e.
Aristóteles, diz: “O princípio (…) expresso por Protágoras, que a�rmava ser o
homem a medida de todas as coisas (…) outra coisa não é senão que aquilo
que parece a cada um também o é certamente. Mas, se isto é verdade,
conclui-se que a mesma cousa é e não é ao mesmo tempo e que é boa e má
ao mesmo tempo, e, assim, desta maneira, reúne em si todos os opostos,
porque amiúde uma cousa parece bela a uns e feia a outros, e deve valer
como medida o que parece a cada um” (Metafísica, XI, 6. 1 062. Veja-se
também, Platão, Eutidemo, 286). Platão diferentemente de Protágoras,
entendia que a medida de todas as coisas estava em Deus. “Aos nossos olhos
a divindade será ‘a medida de todas as coisas’ no mais alto grau” (Platão, As
Leis, Bauru, SP.: EDIPRO, 1999, IV, 716c. p. 189).
[42] “Vivemos em uma cultura que procura nos convencer de que o homem é
a medida de todas as coisas ‒ cada um é o próprio capitão de seu destino e o
senhor de sua alma” (W. G. Tullian Tchividjian, Fora de Moda, São Paulo:
Cultura Cristã, 2010, p. 44).
[43] Veja-se: Vern S. Poythress, Redimindo a �loso�a: uma abordagem
teocêntrica às grandes questões, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 79ss.
[44] “Nossas igrejas estão cheias de pessoas que são espiritualmente nascidas
de novo, mas que ainda pensam como não cristãs” (William L. Craig,
Apologética Cristã para Questões difíceis da vida, São Paulo: Vida Nova, 2010,
p. 14).
[45] David M. Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, São Paulo: Editora
Fiel, 1984, p. 89.
[46]John Shaw, The Character of a Pastor According to God’s Considered,
Morgan, Pa.: Soli Deo Gloria, 1992, p. 10. Apud Alistair Begg, Pregando para a
Glória de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2014, p. 63.
[47] “A oração é a conversa da alma com Deus. (…) Um homem sem oração é
necessária e totalmente irreligioso. Não pode haver vida sem atividade. Assim
como o corpo está morto quando cessa sua atividade, assim a alma que não
se dirige em suas ações a Deus, que vive como se não houvesse Deus, está
espiritualmente morta” (Charles Hodge, Systematic Theology, Grand Rapids,
Michigan: Eerdmans,1986 (Reprinted), v. 3, p. 692).
[48] “Torne sua vida ‒ especialmente sua vida de estudos ‒ uma vida de
constante comunhão com Deus em oração. O aroma de Deus não permanece
por muito tempo sobre uma pessoa que não se demora em sua presença (…).
Somos chamados ao ministério da Palavra e da oração, porque sem oração o
Deus de nossos estudos será o Deus que não assusta, que não inspira,
oriundo de uma prática acadêmica ardilosa” (John Piper, A Supremacia de
Deus na Pregação, São Paulo: Shedd Publicações, 2003, p. 57).
[49]William L. Craig, Apologética Cristã para Questões difíceis da vida, São
Paulo: Vida Nova, 2010, p. 29. De igual modo: Garrett J. DeWeese; J.P.
Moreland, Filoso�a Concisa, São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 158.  Veja-se
 O pensamento grego e a igreja cristã Reflexões Comprometidas TeoBrasil
também: Leo Strauss; Eric Voegelin, Fé e �loso�a política: a correspondência
entre Leo Strauss e Eric Voegelin, São Paulo: É Realizações, 2017, p. 169.
[50]Veja-se: João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Monergismo,
2009, p. 134.
[51] “O uso de uma linguagem mais difícil pode ser a forma correta em
determinadas situações, mas não é a forma correta na pregação. Pregações
são feitas verbalmente. Têm como objetivo o ser compreendido. Se,
ocasionalmente, é necessário o uso de palavras incomuns, elas são
explicadas. Pregadores que não usam palavras do dia-a-dia em suas
mensagens não estão ministrando como o seu Mestre” (Stuart Olyott,
Ministrando como o Mestre: Aprendendo com os métodos de Jesus, São José
dos Campos, SP.: Fiel, © 2005, 2010 (Reimpressão), p. 12). “A pregação de hoje
deve ser feita em uma linguagem de comunicação social; caso contrário,
haverá um obstáculo ao entendimento” (Francis A. Schaeffer, A Arte e a
Bíblia, Viçosa, MG.: Editora Ultimato, 2010, p. 63).
Hermisten Maia
Hermisten Maia é ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, integrando a Equipe de
Pastores da Primeira IP de São Bernardo do Campo, SP. É formado em Teologia,
Filoso�a e Pedagogia. É Mestre e Doutor em Ciências da Religião. Leciona em diversos
Seminários ininterruptamente desde 1980. Tem experiência na área de Teologia
Sistemática, lecionando há 40 anos, e História da Reforma Protestante, atuando
principalmente nos seguintes temas: João Calvino e Teologia Reformada e Cosmovisão
Reformada. Faz parte de diversos Conselhos Editoriais de Revistas de Teologia e de
Ciências da Religião. Tem 40 livros escritos e mais de 1.500 artigos publicados. Leciona
em diversas Instituições de Ensino Superior no Brasil. Publica diariamente em suas
redes sociais um artigo e um vídeo.
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Por Alberto Felipe
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